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IMPLANTAÇÃO DA MANUFATURA
ENXUTA - O CASO TRAFO
Rafael Dicena Filho (TRAFO)
rafael.filho@trafo.com.br
Tiago Luiz Do Nascimento (FAC)
tem_nascimento@yahoo.com.br
Gabriel Fassina Balbino (USF)
gfbalbino@yahoo.com.br
1. Introdução
Após um esforço que durou 70 anos, a Toyota, com o seu sistema de produção enxuta superou
a General Motors, a idealizadora do sistema de produção em massa, em termos de
produtividade, lucratividade e resultados. Após a superação a Toyota seguiu sua trajetória
como modelo industrial de empresa bem sucedida, galgando os primeiros postos em termos
de participação de mercado e rentabilidade. A idéia fundamental da produção enxuta e seus
princípios básicos não são novidades. Eles evoluíram em ciclos, ou eras ao longo de diversas
etapas, num processo que iniciou no século passado, justamente com Henry Ford. Em 1914
ele idealizou um processo de produção, a qual chamou de produção em fluxo em suas
instalações em Detroit. Numa condição de pouca variabilidade e de um mix reduzido Ford
pode ser considerado com justiça o primeiro idealizador de processos sistematizados
(WOMACK, 2007).
A gênese do just-in-time (JIT) e do control quality total (CQT), no entanto foram levados ao
estado de perfeição pelos japoneses. Com seus limites territoriais extremamente reduzidos,
densamente habitado e desprovido de muitos recursos, o Japão precisava fazer as coisas a
partir de pouco, com pouco e evitando todo tipo de desperdício. O propósito deste sistema era
colocar sob controle os estoques ociosos, a armazenagem e os trabalhos de não qualidade,
fontes de desperdícios altamente dispendiosas (SCHONBERGER, 1993).
O sistema de entrega (fulfillment) analisado através de uma linha temporal, da entrada do
pedido analisando os focos de desperdícios da entrada do pedido até o recebimento da fatura
foi estabelecido por Taichii Ohno, executivo da Toyota na época, reconhecido como o criador
do Sistema Toyota de Produção (STP).
O sistema de puxar a produção a partir da demanda por determinados produtos, produzindo
somente as quantidades demandadas, no momento exato e com a qualidade esperada ficou
conhecido com kanban no ocidente. O JIT, portanto é muito mais que uma técnica, ou um
apanhado delas como modelo de administrar a produção, ela é considerada uma filosofia, a
qual contempla aspectos de administração de materiais, gestão da qualidade, arranjo físico,
projeto do produto, organização do trabalho e gestão dos recursos humanos (CORRÊA &
GIANESI, 1996).
2. Revisão bibliográfica
2.1 Aspectos conceituais
Enquanto kanban é uma palavra genuinamente japonesa, que significa “cartão”, a expressão
inglesa just-in-time foi simplesmente adotada pela indústria no Japão e talvez não possua um
correspondente apropriado naquele país, não sendo conhecido quando a expressão ou pelo
menos a idéia nela contida adquiriram relevância entre as organizações japonesas, embora
seja sabido que foi no final dos anos 60, principalmente na indústria da construção naval, que
o termo foi disseminado. A capacidade produtiva das indústrias japonesas era tamanha que os
estaleiros podiam se dar ao luxo de pegar as encomendas “apenas a tempo” numa tradução
livre. O JIT foi então encampada por outras Original Equipment Manufacturing (OEM´s),
fábricas montadoras em tradução livre, que levaram o princípio ao estado da arte. De 1970 em
diante Taichii Ohno, um dos vices-presidentes da Toyota se propôs a explicar como a
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aplicação dos princípios enxutos tinha levado a Toyota a superar o com seu sistema de
produção, o modelo americano de produção de acordo com (SCHONBERGER, 1993).
Womack, J. P.; JONES, D. & ROSS, D. (1992), propuseram pela primeira vez o termo
produção enxuta (lean production), que consistia numa leitura particular sobre os métodos
eficazmente empregados pelas empresas japonesas. Mais tarde numa abordagem mais ampla
Womack & Jones (2004) propuseram a mentalidade enxuta, uma maneira sistêmica de
produzir cada vez mais com cada vez menos, os seus pilares fundamentais são: a
especificação do valor, a identificação da cadeia de valor, a definição do fluxo, o emprego da
produção puxada, e a perfeição, alcançada com a eliminação total dos desperdícios.
É consenso que há atualmente uma infinidade de nomes para se referir ao modelo de gestão
delineado pelo Sistema Toyota de Produção (STP) entre os mais solicitados estão: manufatura
enxuta, manufatura de fluxo continuo, manufatura de alto valor agregado, produção sem
estoques, guerra ao desperdício, manufatura veloz e manufatura de tempo de ciclo reduzido
(SLACK, N.; CHAMBERS, R. & JOHNSTON, R., 2008).
Mais do que a singularidade da filosofia, são os resultados alcançados com emprego da
técnica de produção enxuta que tem sido o motivo de sua disseminação no universo
corporativo. Hoje o conceito de manufatura enxuta é a uma das principais ferramentas para
atingir o objetivo principal das organizações. Levada ao estado da arte pela indústria
automobilística esta filosofia cada vez mais avança nos demais setores produtivos. Corrêa &
Gianesi (1996), estabelecem que para implementar a filosofia japonesa de gestão é preciso um
série de mudanças culturais, organizacionais e gerenciais.
Para Slack et al (2008) o universo da manufatura enxuta pode ser dividido em três níveis. No
primeiro nível tem-se a metodologia como filosofia de produção. No segundo nível tem-se a
produção enxuta como um conjunto de técnicas para gestão da produção e no terceiro nível
como método de planejamento e controle. Womack (2007), complementa que a contribuição
específica da mentalidade enxuta (lean thinking) é redirecionar o foco das organizações
conforme elas fornecem bens e serviços para o consumidor.
Ohno (1997), estabelece que o passo inicial para aplicação do Sistema Toyota de Produção é
identificar e eliminar completamente os desperdícios ocasionados por: superprodução,
esperas, estoques, movimentações, desvios de projetos e da realização do produto. Womack
(2007), cita que a Toyota primeiramente concentrou os esforços na implementação de seu
sistema de gestão, só depois pensou nas técnicas enxutas, segundo ele esta ênfase foi a
responsável pela sua redenção face ao modelo americano de gestão da produção. A maioria
esmagadora das organizações que estão tentando implantar a manufatura enxuta faz o oposto
sem mapas claros da organização, os esforços ficam insustentáveis a médio e longo prazo,
demanda daí a necessidade de assegurar que as mudanças implantadas sejam perenes e não
passageiras.
De acordo com Slack et al (2008), são três os motivos fundamentais da JIT como filosofia de
produção, são eles:
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b. Envolvimento de Todos: A filosofia enxuta visa fornecer diretrizes que incluem todos
os funcionários e todos os processos na organização. Uma cultura adequada tem sido
vista como importante fator para a sustentabilidade do processo.
De acordo com Slack et al (2008), no segundo nível dentro do universo da manufatura enxuta
estão os maiores esforços, dentro dos seguintes aspectos:
a. Práticas Básicas de Trabalho: mais do que normas de conduta para as organizações e
para os colaboradores, estes parâmetros visam assegurar um ambiente saudável e
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b. Projeto para Manufatura: Slack et al (2008), citam que o projeto especialmente para
empresas automobilísticas e aeronáuticas demanda entre 70% a 80% dos custos totais,
segundo o autor aprimoramentos do projeto podem reduzir dramaticamente o custo do
produto por meio de redução no número de componentes e submontagens, além de
melhorar uso de materiais e métodos.
c. Foco na produção: Segundo Womack (2006, 2007) a abordagem que a Toyota fez ao
focar primeiramente no seu sistema de gestão, antes de partir para as ferramentas
parece ter sido o grande seu grande diferencial. Antes de aplicar as ferramentas é
preciso segundo Slack et al (2008) aprender a focalizar cada fábrica num conjunto
limitado e gerenciável de produtos, tecnologias, volumes e mercados.
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h. Envolvimento total das pessoas: Segundo Danni & Tubino (1996), a manufatura
enxuta é uma filosofia apoiada no envolvimento total das pessoas. Os autores ratificam
que o sistema tenderá ao fracasso se não estiver totalmente apoiado no envolvimento
total das pessoas.
No universo mais intrínseco das técnicas enxutas está a realização dos produtos ou a prestação
dos serviços. Neste nível, o terceiro, estão concentrados os fatores de produção. Seus marcos
principais são:
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d. Modelos misturados: de acordo com Womack (1992, 2004, 2007); Slack (2002); Slack
et al (2008), na composição da programação nivelada, as diferenças nos lead times dos
produtos podem ser significativas, mesmo com o balanceamento, a realização de
modelos mesclados podem causar seqüências inapropriadas sanar estas
inconveniências somente é possível com lotes pequenos. Asseguram que somente com
flexibilidade é possível assegurar rapidez com tantas trocas.
3. Estudo de Caso
3.1 A organização
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A organização iniciou um processo piloto nas suas duas unidades fabris. Em decisões de
primeiro nível de acordo com a divisão feita por Slack et al (2008), seus processos foram
redefinidos e reestruturados, o modelo adotado foi o de gestão por processos. Foi realizado
um mapeamento dos processos produtivos da organização, onde as atividades que não
agregavam valor foram claramente identificadas.
Pela própria constituição de mix dos produtos realizados, as unidades fabris têm ritmos de
produção (takt-time) diferentes, notadamente a unidade de Gravataí por produzir peças com
grau de complexidade maior, demanda um valor agregado diferenciado do que em relação à
unidade de Hortolândia que produz peças menores comparativamente.
Com o mapeamento do processo e a redefinição de seu sistema de gestão foram então
definidas as ferramentas que iriam ser empregadas na realização enxuta. No terceiro nível,
tendo a manufatura enxuta como um método de planejamento e controle as principais foram:
programação e produção puxada e nivelada a fim de evitar os estoques intermediários de
bobinas que se formavam até a conclusão do empilhamento do silício.
O nivelamento da produção é realizado através de reuniões de sincronismo de insumos e de
materiais. Neste fórum é discutida com os líderes do chão de fábrica a evolução dos processos
nas unidades, e realizado o nivelamento das informações. O balanceamento exato das células,
em alguns casos lançando mão da multifuncionalidade da mão de obra, permite suportar as
diferenças de tempos de ciclos dos modelos misturados. Nesta fase inicial no segundo nível
destacam-se principalmente as ações de boas práticas de fabricação (BPF´S), casos de gemba
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Um dos itens mais caros ao cliente é a questão dos prazos acordados, no mercado de energia o
atraso ou a postergação de data, significam na maioria dos casos multas elevadas. Este item
tem ficado sempre acima dos 90% estipulados como meta, contra uma media aquém a 75%
antes da implantação. A diluição dos prazos e a pontualidade nas entregas qualifica a
organização em mercados mais exigentes, sendo um dos fatores de desequilíbrio em alguns
dos casos.
4. Conclusões
Há sem sombra de dúvidas um surto pelo emprego da metodologia enxuta. Implantar com
efetividade a mentalidade enxuta tem sido o desafio dos engenheiros de produção e de outros
profissionais ligados a gestão da produção. A taxa de letalidade das organizações que
fracassam nesta jornada é elevadíssima, beira impressionantes 90% segundo Womack (2007).
Uma parcela considerável se deve a priorização das ferramentas em detrimento da
remodelação dos sistemas de gestão. Os conceitos fundamentais não são novos, eles são frutos
de uma evolução da própria história industrial. Não há, contudo uma receita pronta de
sucesso, cada organização têm uma cultura e peculiaridades inerentes ao próprio negócio, o
que exige dos especialistas uma abordagem caso a caso da filosofia.
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Referências
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OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. 2.ed. Porto Alegre: Bookman.
1997.
SHINGO, S. & DILLON, A. P. Zero Quality Control: Source Inspection and the Poka-yoke System.
Cambridge: Productivy. 1986.
SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção do Ponto de vista da Engenharia de Produção. 2.ed. Porto Alegre:
Bookman. 1997.
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SHINGO, S. Sistema de Troca Rápida de Ferramentas: uma evolução nos sistemas produtivos. 2.ed. Porto
Alegre: Bookman. 2000.
SLACK, N.; CHAMBERS, R. & JOHNSTON, R. Administração da Produção. 2.ed. São Paulo: Atlas. 2008.
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WOMACK, J. P.; JONES, D. T. & ROOS, D. A Máquina que Mudou o Mundo. Rio de Janeiro: Campus.
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WOMACK, J. Preparing Your Home Base for Global Sucess. 2006 AME Canadian Lean Conference. Lean
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em: 16 mar. 2008.
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Acessado em: 15 mar. 2008.
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