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A Psicomotricidade e as suas diversas nuanças foram tomadas como objeto de reflexão e de estudo
neste ensaio. O presente estudo é produto da dedicação e envolvimento dos autores desde larga data em relação ao
conhecimento e a práxis da Psicomotricidade. De um lado como professor universitário e pesquisador contínuo da
área da Psicomotricidade como prática educativa com crianças de diferentes níveis de desenvolvimento e, por outro
lado, na posição de acadêmica do Curso de Educação Física, em exercício intenso de iniciação científica em nível de
graduação.
A dinâmica história da Psicomotricidade e as suas contribuições teóricas para diferentes práticas e
diferentes formações3 constituíram-se de um componente instigador para o desenvolvimento de um estudo que
possibilita a análise e a reunião destas distintas faces da Psicomotricidade e as suas repercussões ao conhecimento
produzido nas diferentes formações acadêmicas iniciais.
A problematização deste estudo pode ser iniciada citando Negrine (1998) estudioso do tema da
Psicomotricidade, que assinala esta área como um verdadeiro mosaico de práticas e vertentes teóricas. Em virtude
disso, podemos compreender que é natural poder ocorrer dificuldades na compreensão e na exatidão de suas
informações e contextualizações históricas entre os acadêmicos de cursos que se aproximam desta necessidade teórica
e que dão os seus primeiros passos na formação inicial.
Por compreender que a Educação Física não é constituída somente por exercícios e gestos esportivos
técnicos, mas também por movimentos que representam as manifestações do comportamento humano, buscamos
estudar o processo da evolução histórica da Psicomotricidade, tentando dar conta das principais correntes, desde o
surgimento dos primeiros estudos biomédicos da Psicomotricidade até as concepções mais integralizadoras do
movimento.
Adotar a Psicomotricidade como tema de estudo trata-se de uma atividade extremamente complexa e
exaustiva. Não queremos repetir o exercício denso e minucioso de Le Camus (1986) ao investigar e descrever
detalhadamente a história e as influências da Psicomotricidade nas intervenções corporais com fins reeducativos e
terapêuticos. Porém desejamos introduzir o presente ensaio com um sucinto histórico da Psicomotricidade, apresentar
as concepções que originaram o termo Psicomotricidade, bem como as suas vertentes atuais. Na seqüência, o estudo
procura analisar as características das diferentes abordagens da Psicomotricidade a partir de três grandes vertentes: a
Reeducação Psicomotora, a Terapia Psicomotora e a Educação Psicomotora. Finalmente nos propomos em organizar
uma reunião de conhecimentos respectivos às três grandes vertentes citadas, como uma contribuição de síntese nesta
complexa área.
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Licenciada em Educação Física pela Faculdade Metodista IPA – Porto Alegre.
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Doutor em Ciências do Movimento Humano – UFRGS, Professor-Coordenador do Curso de Educação Física da
UNIVATES Centro Universitário e Professor do Curso de Educação Física da Faculdade Metodista IPA.
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Atualmente a Psicomotricidade, como disciplina de Cursos de Formação Superior tem espaço garantido nas áreas da
Fisioterapia, Educação Física, Pedagogia e suas diferentes habilitações, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia.
Podem haver ainda outros Cursos de Formação Superior que se utilizam das contribuições da Psicomotricidade e que
não estão citados aqui.
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René Descartes, filósofo francês, nascido em 1596 e falecido em 1650.
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Atualmente o neurologista António Damásio busca compreender a fisiologia do pensamento no seu livro “O
mistério da consciência” editado no Brasil em 2000 pela Companhia das Letras.
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A partir da compreensão de que as estruturas e a qualidade das comunicações estabelecidas na primeira infância
condicionam todo o desenvolvimento harmonioso da personalidade, os psicomotricistas Lapierre e Aucouturier
(1984) buscaram compreender o comportamento relacional da criança desde a mais tenra idade.
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psicopedagógica pode favorecer uma diversidade de estratégias que visam o avanço da comunicação, da exploração
corporal e do vivenciamento simbólico.
Atualmente existem dois eixos pelos quais a Educação Psicomotora avança: a Psicomotricidade
Funcional e a Psicomotricidade Relacional. A primeira toma como referência inicial o perfil psicomotriz da criança
avaliada a partir de testes padronizados, e que se serve de famílias de exercícios como atividade-meio. A segunda
utiliza como atividade-meio a ação de brincar, a representação mental que move 7 e que acompanha a ação da criança,
isto é, utiliza-se do jogo como elemento pedagógico (NEGRINE, 2002).
Baseado nestas premissas e com o objetivo de aprofundar o conhecimento acerca da Psicomotricidade
e das concepções de suas vertentes, o presente estudo é proposto. Acreditamos que, ao estudar e refletir sobre sua
origem e sobre suas principais vertentes, uma base de compreensão sintética sobre esta complexa área de
conhecimento se concretiza. Neste sentido o presente estudo é uma contribuição com a comunidade acadêmica com
os conhecimentos aqui desenvolvidos.
Desejamos, também, que o estudo possa contribuir com bases históricas e metodológicas a respeito da
prática da Psicomotricidade para a Educação Física, assim como apresentar de forma didática a descrição, a análise e
a categorização das características das principais vertentes da Psicomotricidade.
Na sequência refletimos os tópicos que são abordados em cada uma das vertentes da
Psicomotricidade: a) finalidade; b) área de base; c) autores de base; d) principais autores; e) obras e publicações; f) a
relação adulto/criança; g) a composição dos grupos; h) a organização e proposição da prática; i) desenvolvimento das
rotinas; j) avaliação/acompanhamento; e h) postura corporal diante da criança.
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Lev Vygotsky (1896-1934), psicólogo soviético, explica que o brincar da criança é muito mais memória em ação do
que a sua experiência criadora, neste sentido, o jogo que a criança realiza é movido pelas imagens que convive.
Nestes jogos a criança aprende e conceitua, por exemplo, o papel da mamãe na família, o serviço de um cobrador de
ônibus, ou ainda, aprende sobre os papéis de liderar ou de ser liderado. É fato assinalar que os papéis referidos pela
criança em suas representações são as referências do cotidiano de suas relações.
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Em suas diferentes vertentes, esteve alicerçada no modelo biomédico (neuropsiquiatria), passando depois para a
psicologia e psicanálise e, por último na psicopedagogia, sem contar que utiliza meios da Educação Física para a
realização de sua prática.
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adulto/criança; a composição dos grupos; a organização e proposição da prática; o desenvolvimento das rotinas;
avaliação/acompanhamento e postura corporal diante da criança.
A vertente denominada Reeducação Psicomotora destina-se a crianças que apresentam déficit em seu
funcionamento motor. Essa abordagem tem por finalidade ajudar a criança a reaprender como se executam ou se
desenvolvem determinadas funções motoras. Para isso, avalia-se o perfil psicomotor da criança, utilizando métodos
que consistem na aplicação de baterias de testes psicomotores (PICQ e VAYER, 1985). Após o diagnóstico, a criança
é submetida a um programa de sessões que tem como objetivo suprir as dificuldades aparentes (NEGRINE, 2002).
Esta abordagem tem como base estudos da neuropsiquiatria infantil. Com abordagem centrada no
desenvolvimento motor e entende o ser humano como um corpo instrumental, isto é, uma “máquina de movimento”,
que, caso não estiver funcionando, deve ser reparada (LEVIN, 1995).
Le Camus ao analisar os estudos de Guilmain 9 explica que a sessão de reeducação psicomotora
destina-se,
a três propósitos principais: reeducar a atividade tônica (com exercícios de atitude, de
equilíbrio e de mímica); melhorar a atividade de relação (com os exercícios de
dissociação e de coordenação motora com apoio lúdico); desenvolver o controle motor
(com exercícios de inibição para os instáveis e de desinibição para os emotivos) (1986,
p. 27).
Um aspecto importante a destacar é que Guilmain deu início à tentativa de acoplar a psicologia à
educação física, devido ao fato de ter como base teórica os estudos de Wallon (1995), que relacionam motricidade e
caráter. Com isso, surge um paralelismo entre fenômenos psicológicos e fenômenos motores (LE CAMUS, 1986).
O início da reeducação psicomotora esteve centrado em uma prática focada no desempenho da criança
frente aos seus métodos. Tratava-se de uma prática diretiva, mecanicista e dualista, com controles em relação aos
sentimentos e emoções da criança em suas ações.
Aucouturier (1986), em conjunto com outros estudiosos do tema, começou a sentir a necessidade da
evolução de seus ensinamentos e de suas práticas. O grupo estava preocupado em trabalhar com uma abordagem
relacional. A respeito disso, Aucouturier destaca que:
Quando falo de globalidade da criança, falo de respeitar sua senso-motricidade, sua
sensorialidade, sua emocionalidade, sua sexualidade, tudo ao mesmo tempo, falo de
respeitar a unidade de funcionamento da atividade motora, da afetividade e dos
processos cognitivos; falo de respeitar o tempo da criança, sua maneira totalmente
original de ser no mundo, de viver, de descobrir, de conhecê-lo, tudo simultaneamente
(1986, p. 17).
A principal mudança na evolução da reeducação psicomotora está na compreensão do corpo como
uma unidade e cujo movimento possui significado. Com isso a postura do reeducador frente à criança toma outra
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Edouard Guilmain (1901-1983) médico que preconizou o uso do movimento humano com fins reeducativos em
1935.
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direção: ele passa a entendê-la como um ser de expressividade psicomotora. Sua relação com a criança passa a ser de
empatia, de escuta, de interação e de ajustamento constante (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986).
Outro aspecto importante que é citado nesta nova fase da reeducação psicomotora é que a formação
do reeducador é composta por uma trilogia efetuada simultaneamente: a formação pessoal, a formação teórica e a
formação prática. Ambas completam-se e enriquecem-se umas às outras (AUCOUTURIER, DARRAULT e
EMPINET, 1986).
A formação pessoal tem como objetivo melhorar a disponibilidade corporal do adulto a partir de
vivências corporais. Mobiliza as áreas da afetividade, da sexualidade e dos “fantasmas”, proporcionando mudanças de
atitude e de tomadas de consciência. A formação teórica surge da necessidade que o psicomotricista tem em justificar,
analisar e refletir sobre as principais teorias que baseiam seus procedimentos. E a formação prática oportuniza a
vivência concreta de seus estudos com as crianças (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986).
Esses mesmos autores determinam que a reeducação psicomotora é destinada a crianças com idade até
oito anos, pois entendem que, após essa idade, a prática psicomotora passa a ser uma prática corporal composta de
atividades físicas com outras finalidades e não mais reeducativas.
A evolução que a reeducação psicomotora passou foi o primeiro passo de uma trajetória que a
Psicomotricidade ainda percorre, isto é, o desenvolvimento de uma abordagem cada vez mais preocupada com o ser
humano em sua totalidade inserido em um contexto sócio-cultural.
A formação do terapeuta é composta pela mesma trilogia que foi citada e explicada na reeducação
psicomotora, adicionando-se, ainda, formação continuada e supervisão permanente, pois estas é que lhe possibilitam
bases para o desenvolvimento de sua prática (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986).
A sessão de terapia psicomotora se desenvolve de forma individualizada. A relação que o terapeuta
estabelece com a criança é de sintonia, escuta, empatia e o seu corpo é o depósito das emoções da criança. Neste caso
o tempo da sessão é de acordo com a disponibilidade da criança (AUCOUTURIER e LAPIERRE, 1977).
Levin (1995) explica que a terapia psicomotora centra o seu olhar a partir da comunicação e da
expressão do corpo, no intercâmbio e no vínculo corporal, na relação corporal entre a pessoa do terapeuta e a criança
em diálogo de empatia tônica.
Na forma de pensar de Negrine (2002) 10, o trabalho terapêutico, a partir da perspectiva lúdica, requer
disponibilidade corporal do psicomotricista com a criança com necessidades especiais, pois através dos estímulos e
intervenções sistemáticos, tem a possibilidade de criar atitudes comportamentais na criança. Este nível de intervenção
do psicomotricista é que diferencia a Psicomotricidade terapêutica da educativa.
Nesta abordagem cabe ao terapeuta uma constante adaptação à evolução da criança, um domínio na
trilogia da formação, uma forte capacidade de escuta e o mais importante, não impor às crianças os seus desejos e sim
ajudá-las na evolução e na criação de seus próprios desejos.
A vertente denominada Educação Psicomotora surge embalada pela dinâmica evolução das vertentes
reeducativa e terapêutica. A Educação Psicomotora vem com a finalidade de ocupar os espaços educativos com
grupos de crianças. Os psicomotricistas perceberam que esta vertente poderia vir a se constituir no processo inicial da
educação da criança, justamente por compreender o período da infância como aquele que constitui e alicerça as bases
emocionais e afetivas do ser humano.
As bases educativas empreendidas pela Educação Psicomotora são as mais diversas, porém vamos
apresentar duas concepções contemporâneas, a partir de dois estudiosos da temática, que ilustram o desdobramento
que se seguiu nesta vertente. De um lado Le Boulch (1983) que explica que a Educação Psicomotora é formadora de
uma base indispensável a toda criança, pois tem como objetivo assegurar o desenvolvimento funcional, de outro lado
Negrine (2002) compreende a Educação Psicomotora como o meio lúdico-educativo para a criança expressar-se por
intermédio do jogo, do exercício e da comunicação entre crianças por intermédio da expressividade motriz.
A Educação Psicomotora atualmente se divide em dois eixos: a Psicomotricidade Funcional e a
Psicomotricidade Relacional. Negrine define o aspecto que diferencia as duas práticas, elucidando-nos que “(...) o
ponto fundamental da passagem da Psicomotricidade Funcional à Relacional é a utilização do jogo 11 (brincar da
criança) como elemento pedagógico” (1995, p. 74).
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O Prof. Dr. Aírton Negrine orientou inúmeras dissertações e teses na área da terapia psicomotora. Em relação ao
trabalho terapêutico com crianças com necessidades especiais destacamos a orientação de dissertação de Mestrado
que realizou com a Professora Mara Lúcia Salazar Machado de título “Educação e terapia da criança autista: uma
abordagem pela via corporal” em 2001.
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É importante destacar que a compreensão de Negrine sobre o jogo que a criança realiza segue os fundamentos de
Lev Vygotsky, que prediz que há jogo quando há a presença do componente simbólico.
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seguido por professores de Educação Física, mas o desenvolvimento dessa prática se assemelha muito a forma
tradicional de uma aula de ginástica.
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Um trabalho extremamente rico da Psicomotricidade Relacional com as crianças é ilustrado por Paulette Maudire
na obra “Exilados da infância: relações criativas e expressão pelo jogo na escola” em 1988.
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Enquanto Winnicott forneceu a base psicanalítica dos estudos de Lapierre e Aucouturier, Vygotsky foi um autor de
base amplamente destacado nas reflexões de Negrine.
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REFERÊNCIAS
LAPIERRE, André. Apresentação da coleção. In MAUDIRE, Paulete. Exilados de infância: relações criativas e
expressão pelo jogo na escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. p. 9-13.
LE BOULCH, J. A educação pelo movimento: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
LE CAMUS, Jean. O corpo em discussão: da reeducação psicomotora às terapias de mediação corporal. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1986.
LEVIN, Esteban. A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. Petrópolis: Vozes, 1995.
MARTÍNEZ, Marta R; PEÑALVER, Iolanda V; SANCHES, Pilar A. A psicomotricidade na educação infantil:
uma prática preventiva e educativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.
MAUDIRE, Paulete. Exilados de infância: relações criativas e expressão pelo jogo na escola. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1988.
NEGRINE, Airton. Educação psicomotora: lateralidade e orientação espacial. Porto Alegre: Pallotti, 1986.
______ . Aprendizagem e desenvolvimento infantil: psicomotricidade, alternativas pedagógicas. Porto Alegre:
Prodil, 1995 v. 3.
______ . Terapias corporais: a formação pessoal do adulto. Porto Alegre: Edita, 1998.
______ . O corpo na educação infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.
PICQ, Louis; VAYER, Pierre. Educação psicomotora e retardo mental: aplicação aos diferentes tipos de
inadaptação. 4. ed. São Paulo: Manole, 1985.
WALLON, Henry. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.
Bibliografia de consulta