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Comunicação e Participação em Rede: a Participação em

Sociedades em Transição

GUSTAVO CARDOSO, PEDRO PEREIRA NETO

COMUNICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E TRANSIÇÃO

Nas sociedades informacionais em transição a mudança constitui um fenómeno


cuja totalidade, jogando-se a vários níveis, se traduz igualmente em mutações na
Participação dos cidadãos, não apenas na sua caracterização mas também na sua
amplitude (MAUSS, 1968; CASTELLS, 2004; CARDOSO, 2006). Assumindo a dinâmica
de mudança no campo específico da Comunicação, a Participação dos cidadãos no
quadro das sociedades informacionais tem de ser analisada sob uma perspectiva de
Comunicação em Rede e já não apenas segundo os paradigmas da Comunicação de
Massa (CARDOSO, 2008).
Se reconhecemos nações como os Estados Unidos, a Finlândia e Singapura o
epíteto enquanto “informacionais”, como podemos caracterizar aquelas consideradas “em
transição”, isto é, sociedades nas quais a organização social em rede é já uma realidade
em vários dos seus segmentos? Uma análise dos diversos modelos de sociedade
informacional pode partir da identificação de quatro dimensões – tecnologia, economia,
bem-estar social, e valores – através das quais é possível compreender a posição relativa
de cada sociedade no panorama global neste domínio. Neste sentido, podemos
considerar como informacional a sociedade que possua sólidas tecnologias de
informação, ao nível infra-estrutural, produtivo, e de conhecimento (CASTELLS,
HIMANEN, 2002).
As sociedades em transição são, por seu turno, caracterizadas por uma passagem
de populações com reduzidos níveis de instrução para populações – sobretudo jovens –
que revelam já competências educacionais consolidadas. Nesta categoria são ainda
incluídas as sociedades que, apesar de desenvolverem esforços no campo do
conhecimento, se encontram ainda perante grandes desafios nos campos infra-estrutural
e de produção. Por outro lado, a transição aqui em debate assume igualmente uma
natureza socio-política: de regimes ditatoriais para instituições democráticas e, mais tarde,
para a rotinização da Democracia, num processo que combina um cepticismo crescente
relativamente a partidos políticos e instituições governamentais com um aumento do
empenho cívico, mediante a utilização de formas de expressão autónomas e, a espaços,
individualizadas. É neste contexto que se verifica outra transição fundamental nestas
sociedades: uma transição tecnológica, ilustrada pela difusão da Internet e pela
emergência de estruturas e práticas sociais em rede (CARDOSO, 2006).
Neste sentido, argumenta-se neste artigo que a análise da Participação dos
cidadãos na esfera pública em sociedades informacionais em transição tem, ao longo das
últimas décadas, sofrido um viés para o qual concorrem três factores: 1) uma exclusão e
desvalorização das possibilidades (e reais apropriações) das Tecnologias de Informação;
uma visão redutora do âmbito da Participação, confinada às actividades de carácter
associativo e partidário; e 3) uma percepção da Participação confinada, enquanto
autonomia, à esfera da intervenção política, sem levar em conta que a mediação é, nas
sociedades contemporâneas, tão importante como a Participação (SILVERSTONE, 2006).

A CIDADANIA POLÍTICA, DO SÉC. XIX AO FINAL DO SÉC. XX

Vivemos hoje num mundo no qual algumas das esferas tradicionais de pertença
que serviam de cobertura ao activismo e à Participação Política se encontram, senão em
declínio, pelo menos num estado de aparente estagnação, mercê da emergência
concomitante de tabuleiros vários onde passaram a jogar-se as identidades e as
trajectórias individuais e colectivas. Paralelamente, assistimos à intensificação da
apropriação e utilização das TIC, quer na esfera do trabalho, quer na esfera do lazer.
Ambos sinais de mutações sociais sobre cujo verdadeiro alcance apenas podemos
especular, sendo no entanto seguro afirmar que as estratégias que lhes estão associadas
resultam do necessário encontro entre um universo político, um universo social e um
universo técnico, cada um com as suas lógicas estruturais e conjunturais.
Com a Modernidade e a emergência dos Estados-nação emerge igualmente uma
necessidade de legitimidade política e de sustentabilidade económica e social que se
traduz na criação de uma Cidadania de base nacional. Esta, afirmando-se por contraste
com vários tipos de identidade (religiosa, regional, étnica, aristocrática, entre outros),
pretendeu conjugar direitos universais formais com o espaço territorial da nação,
introduzindo os princípios da liberdade e da igualdade perante a lei.
No entanto, somente com o desenvolvimento dos movimentos e dos grandes
partidos de massas já no decorrer do século XX se completa e afirma a ideia de
Cidadania activa e dos direitos que lhe estão associados, ou seja, o conjunto de direitos
de que gozam os membros da comunidade (DELLA PORTA, 2003: 59). Três tipos de
direitos compõem, segundo T.H. Marshall, os direitos de Cidadania, elemento da definição
moderna de Democracia: os direitos civis, necessários à liberdade individual; os direitos
políticos, ou seja, o direito a participar como membro de um corpo investido de autoridade
política ou como eleitor desse corpo; e os direitos sociais, isto é, o direito ao bem-estar e
a participar da sociedade segundo os seus padrões (MARSHALL, citado em DELLA
PORTA, 2003: 61).
Considerada um dos territórios por excelência da análise do funcionamento e da
vitalidade dos regimes democráticos, e confundindo-se com a própria génese do Político
enquanto intervenção na gestão da res publica, o exercício da Cidadania e da
Participação Políticas conheceu nos últimos quarenta anos transformações significativas,
quer ao nível da sua prática, quer ao nível do seu estudo. Definida como o envolvimento
do cidadão em comportamentos orientados para influenciar o processo político, a análise
neste domínio começou por centrar-se, em meados dos anos 60, nas denominadas
formas convencionais de Participação Política, que compreendiam práticas tão díspares
como a manutenção de uma discussão de natureza política com outros indivíduos, a
presença em comícios de igual índole, a manifestação de uma preferência no âmbito de
uma eleição, ou a própria ocupação de cargos de responsabilidade associativa ou
partidária (DELLA PORTA, 2003: 86-88). A partir dos anos 70, outras formas de
Participação Política, consideradas não-convencionais, são postas em prática: emergindo
no quadro de um novo paradigma político e situando-se para além daquelas que se
manifestam, por exemplo, através do voto, rejeitam as práticas convencionais e assumem
alternativas, remetendo para finalidades, objectivos e temáticas culturais e de bem-estar
habitualmente associadas à chamada "pós-Modernidade".
O exercício da Participação Política, fluida, feita de trajectos e subjectividades que
se jogam e recompõem em diversos tabuleiros, já não significa, hoje, acção na esfera
exclusiva da política em sentido estrito: prescindindo da exigência dos vínculos
comunitários tradicionais, não se reduz à pura afirmação da liberdade em face do Estado,
apelando à Participação fora de contextos necessariamente comunitários e, porque,
agindo na esfera da liberdade, supõe uma visão participada de cultura política. A ideia de
comunidade presente na Cidadania moderna é antes de tipo ideal e temático, remetendo
para um consenso mínimo em torno de valores. O conceito de Participação Política tem
aqui um concreto campo de aplicação.
Daí que no domínio da chamada crise da Democracia importe não ceder à tentação
de a tomar na sua totalidade, sendo antes mais sensato perspectivá-la precisando a
vertente a que essa crise deve, com efeito, ser apontada. Na realidade, existe um défice
de apetência dos cidadãos pelos mecanismos tradicionalmente consagrados para a forma
mais ortodoxa de Participação Política, aliado a um desencanto pela função de
representação política tradicional, que se traduz no aumento da abstenção nos actos
eleitorais e no alheamento dos cidadãos face à política em geral, entre outros. As
sociedades e as democracias contemporâneas, na sua complexidade e heterogeneidade,
não apenas aparentam recusar ficar reféns de concepções totalizantes ou reproduzir
mecanicamente princípios garantidos por via externa, como praticam, na realidade, uma
relativização da política que provoca mutações radicais no próprio conceito de Cidadania.

O LUGAR DA INTERNET: CENTRAL OU PROMOTOR DE CENTRALIDADES?

De há sessenta anos a esta parte, e com particular incidência nas duas últimas
décadas, muito tem sido alegado relativamente ao papel desempenhado pelas
Tecnologias de Informação e Comunicação nas nossas sociedades. Apesar da natureza
total de que as TIC se revestem e de que, por essa razão, deve revestir-se igualmente a
sua abordagem, a profusão bibliográfica sobre elas produzida até meados dos anos 70
revelava a persistência de alguns equívocos, avaliando incorrectamente o papel de
variáveis como as condições de produção dos conteúdos transmitidos e os contextos de
recepção (BRETON, PROULX, 2000; p.196).
Ainda hoje subsistem - e prosperam - ecos desse hipodermismo em enunciados
com preconceitos ideológicos, quer de sentido progressista quer de sentido apocalíptico,
bem como posicionamentos que generalizam fenómenos a partir da desconsideração da
sua especificidade contextual. Em comum entre uns e outros encontra-se o facto de
assumirem, em grande medida, o redutor prisma do objecto, neutralizando o papel das
características do sujeito que o opera e da pluralidade de dimensões de contexto nas
quais se joga o quotidiano das práticas das populações e das instituições. Partindo de
uma lógica de ruptura e descontinuidade social, as TIC são frequentemente concebidas
como promotoras de uma nova sociedade (ATTON, 2002: p.134/135). Em resumo, é
estabelecido um nexo de causalidade entre a mudança e a acção das TIC,
designadamente 1) ao nível da Economia, com ênfase em novas mercadorias e referência
a uma nova Economia, 2) ao nível da Política, com uma tónica na emergência de novas
formas de dominação e de exercício do poder, 3) ao nível da Sociedade, com alusão a
novas formas de organização social, 4) ao nível da Comunicação, com menção a novas
práticas comunicativas. Perpassa essas alegações o primado do canal sobre o conteúdo,
do meio sobre a mensagem, associando-se uma simplificação da inteligibilidade do
segundo à simplificação associada à utilização do primeiro.
Mas não constituirão estes argumentos uma forma de descolagem da dimensão
normativa do poder político e económico face aos valores e sentidos do mundo da vida
habermasiano? Assim sendo, é imprescindível ter em consideração a provável
prevalência de traços de continuidade social, nomeadamente a distribuição desigual de
poder e de acesso à tecnologia (ATTON, 2002: p.134/135). Neste sentido, quaisquer
avaliações do papel desempenhado pelas TIC nas sociedades modernas necessitam de
uma legitimidade analítica que só pode advir de uma abordagem que as contextualize
política, económica, cultural e tecnicamente.
Ao longo das próximas páginas procederemos à análise de um conjunto de dados
referentes às práticas e representações dos portugueses sobre a Participação no início do
século XXI. Com base nessa análise procuraremos dar corpo às interrogações
inicialmente colocadas sobre as limitações a que a análise da Participação se tem
remetido, bem como discutir até que ponto o facto de a sociedade portuguesa se
encontrar, neste momento histórico, a viver uma transição para uma sociedade
informacional promove também a necessidade de olhar a Participação em moldes
diferentes dos tradicionais.

REPRESENTAÇÕES DO PAPEL DA INTERNET NO EMPOWERMENT DA CIDADANIA POLÍTICA

A maioria dos cidadãos portugueses parece minimizar o impacto da Internet sobre


a Política: apenas 12.6% das respostas dos inquiridos afirmam que a utilização desta TIC
permite compreender melhor a segunda, descendo para 11.2% o contingente dos que
afirmam que permite aos cidadãos ter outra palavra a dizer sobre a acção do Governo, e
para 8.6% o parcial dos que acreditam conferir-lhes maior poder político.
Verifica-se, aliás, não apenas uma redução paulatina dos valores de concordância
geral com a tese do empowerment político por instrumentalização da Internet, mas
igualmente um desaparecimento progressivo da concordância total com essa tese, de 3%
no caso da compreensão para 1,7% no caso do exercício de poder.
Quadro nº 1 - Concordância com a tese do empowerment político suscitado pela instrumentalização da
Internet

Compreender melhor Ter palavra a dizer Ter maior poder


Discordo totalmente 30,8% 32,4% 39,9%
Discordo em parte 11,7% 11,7% 12,6%
Não concordo nem 16,1% 15,3% 10,3%
discordo
Concordo em parte 9,6% 8,9% 6,9%
Concordo totalmente 3% 2,3% 1,7%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

A análise do perfil dos inquiridos revela, nestas três dimensões, um posicionamento


menos negativo por parte do Género masculino face ao feminino: 13.9% para 11.2 % ao
nível da compreensão da Política, 12.4% para 10.2% ao nível da palavra/opinião sobre
Política, e 9.5% face a 8% ao nível do poder político.
Já a Idade dos inquiridos revela que a tese do impacto positivo da Internet sobre as
três dimensões consideradas colhe sobretudo entre os mais jovens, decrescendo à
medida que aumenta a faixa etária do inquirido.
Com o aumento da Escolaridade dos inquiridos aumenta igualmente a
representação positiva do impacto da Internet sobre o empowerment da Cidadania nas
três dimensões consideradas, ainda que com ênfase superior na dimensão da
compreensão (23.8% entre os que possuem formação superior face a 9.1% entre os que
não possuem qualquer formação) em comparação com o verificado para a dimensão do
poder (11.1% face a 9.5%, respectivamente).
Repartindo a amostra em função da utilização da Internet, os dados junto dos
utilizadores apontam para uma representação menos inócua do contributo desta para as
três dimensões de empowerment consideradas, que é bastante superior ao nível da
compreensão (18.1% de concordância em utilizadores, face a 9.9% em não-utilizadores) e
da opinião (15.4% para 9.3%) quando comparada com a dimensão do poder, na qual a
diferença entre as duas populações é marginal (9.7% para 8.1%).

PRÁTICAS: O CONTACTO POLÍTICO DIRECTO

Apenas uma minoria (3.6%) dos inquiridos afirma ter estabelecido contacto com
representantes políticos nacionais ou membros do Governo durante o ano de 2006, dado
para o qual talvez contribua a má representação dos políticos enquanto classe – apenas
0,2% a considerou como a mais estimada – e que não pode deixar de assinalar um grave
e preocupante défice de relacionamento este eleitores e eleitos, com consequências
previsíveis ao nível do progressivo alheamento dos cidadãos face à actividade
político-partidária e legislativa mais institucionalizada. Paralelamente, observa-se neste
domínio alguma clivagem de Género: se entre os inquiridos ascende a 5.6% da amostra o
parcial que reconhece o estabelecimento deste tipo de contacto, já entre as inquiridas o
mesmo parcial se fica por 1.8%.
Máxima no escalão 25-34 anos (5.4%) e nula entre os jovens com idade inferior a
17 anos, a incidência desta prática segue uma tendência de crescimento até ao escalão
55-64 anos, decrescendo a partir daí. O facto de os extremos desta escala constituírem
os pontos de contacto mais débil assinalará, provavelmente, um efeito geracional no
alheamento já referido dos cidadãos face à actividade político-partidária e legislativa mais
institucionalizada.

Quadro nº 2 – Contacto directo com representantes políticos nacionais, por Escalão Etário

8 A 17 18 A 24 25 A 34 35 A 44 45 A 54 55 A 64 65 A 74 75 E MAIS
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS
0,00% 1,80% 5,40% 2,60% 4,80% 4,30% 4,30% 2,70%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

No plano da instrução, os dados apontam para uma prática de contacto directo com
representantes políticos que varia positivamente à medida que aumenta a Escolaridade
dos inquiridos, inferior a 3% junto dos que possuem formação de nível Básico ou
inexistente, e superior a 6% junto dos que possuem formação de nível Secundário,
atingindo 10.2% junto dos que possuem formação superior. Torna-se, desta forma, mais
claro que a acção conjunta do efeito geracional com a posse de formação superior mais
frequente em determinadas faixas etárias a meio da escala contribui para a intensificação
– ainda que relativa – deste tipo de acção política.

Gráfico nº 1 - Contacto político directo, por Escolaridade


11,00%

10,00%

9,00%

8,00%

7,00%

6,00% Sem
qualificações
5,00% Ensino Básico
Ensino
4,00%
Secundário
3,00% Ensino Superior

2,00%

1,00%

0,00%
CONTACTOU ALGUM
POLÍTICO OU MEMBRO DO
GOVERNO

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

Já o eixo de utilização da Internet permite caracterizar a população portuguesa


neste capítulo, revelando uma incidência de contacto junto de 5.6% dos utilizadores desta
TIC, face a 2.7% junto dos não-utilizadores. Assim sendo, e ainda que com valores
absolutos relativamente baixos, a verdade é que a literacia, quer genérica quer
informática, contribui para intensificar ligeiramente o contacto directo dos cidadãos com os
seus representantes políticos.

Gráfico nº 2 - Contacto político directo, por perfil de Utilização da Internet


6,00%

5,50%

5,00%

4,50%

4,00%

3,50%

3,00%

2,50%

2,00%

1,50%

1,00%

0,50%

0,00%
Utilizador Não-utilizador

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

PRÁTICAS: A PARTICIPAÇÃO DIRECTA INTEGRADA


Relativamente ao que podemos considerar formas de Cidadania Política directa, os
dados recolhidos revelam uma Participação Política extremamente débil dos cidadãos
portugueses. Com efeito, apenas 1.7% das respostas seguem no sentido da Participação
em partidos políticos, face a 0.9% em grupos activistas e 2.2% em organizações de
voluntariado. Assim sendo, sem prejuízo da razoabilidade dos posicionamentos teóricos
que defendem uma análise da Participação e Cidadania Política não limitada à que diz
respeito a organizações políticas cristalizadas – partidos e sindicatos, essencialmente – a
verdade é que estes números indiciam que mesmo o associativismo em Portugal parece
colher pouco entusiasmo junto dos cidadãos.
Ainda neste domínio, assumem alguma expressão entre os inquiridos as diferenças
de Género (2.4% de inquiridos para 1.1% de inquiridas ao nível dos partidos, 1% para
0.9% ao nível dos grupos, e 2.5% para 1.9% ao nível das organizações de voluntariado),
de Idade (Participação crescente até ao escalão 45-54 anos), e de Escolaridade
(Participação crescente à medida que aumenta a formação dos inquiridos).

Quadro nº 3 – Participação política integrada em organizações, por Escolaridade

Sem qualificações Ensino Básico Ensino Ensino Superior


Secundário
PARTIDO 1,10% 1,50% 1,40% 7,30%
POLÍTICO
GRUPO ACTIVISTA 1,10% 0,70% 0,70% 3,70%
VOLUNTÁRIO EM 1,10% 1,80% 3,10% 7,30%
ORGANIZAÇÃO
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

No âmbito do eixo de utilização da Internet, verifica-se que os utilizadores


apresentam valores de Participação superiores, quer em partidos (2.5% para 1.4%), quer
em organizações de voluntariado (2.9% para 1.9%), apresentando incidência
praticamente igual em grupos activistas (0.8% para 1%). Este dado vem, desta forma,
alinhar-se com o já indiciado compromisso e empenho político ligeiramente superiores
entre os utilizadores da Internet.

Quadro nº 4 - Participação política integrada em organizações, por perfil de Utilização da Internet

Utilizador Não-utilizador
Partido 2,5% 1,4%
Grupo 0,8% 1%
Voluntariado 2,9% 1,9%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

PRÁTICAS: A PARTICIPAÇÃO DIRECTA NÃO-INTEGRADA

Também o envolvimento em eventos de natureza política assume valores


reduzidos, na ordem dos 2.1% em campanhas eleitorais (0.9% quando especificamente
através da Internet), 3% em manifestações, 1.6% em greves, e 4.6% em petições (1.3%
quando especificamente através da Internet). A preferência neste âmbito parece, pois,
residir na adesão – ainda que com valores extremamente baixos – a manifestações de
opinião (petições) que não constranjam a actividade regular dos cidadãos mas que podem
sobre ela produzir efeitos.
Novamente, resulta da observação dos dados alguma distinção entre os inquiridos
ao nível do Género (3% para 1.4% em campanhas, 3.9% para 2.2% em manifestações,
1.9% para 1.3% em greves, e 6.3% para 3.1% em petições), da Idade (Participação
crescente até aos 54 anos), e da Escolaridade (Participação consideravelmente crescente
à medida que aumenta a instrução dos inquiridos).

Quadro nº 5 - Participação política não-integrada, por Escolaridade

Sem qualificações Ensino Básico Ensino Ensino Superior


Secundário
Campanhas 1,10% 1,50% 3,80% 6,40%
eleitorais
Manifestações 1,10% 2,10% 6,30% 8,30%
Petições 0,50% 3,20% 9,40% 14,70%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

No âmbito do eixo de utilização da Internet, os dados revelam mais uma vez um


envolvimento superior por parte dos utilizadores, quer em campanhas eleitorais (2.5%
para 2%), quer em manifestações (4.6% para 2.2%), quer em petições (7.3% para 3.3%).
Não deixa, no entanto, de causa alguma perplexidade o facto de a incidência de
Participação em petições por parte dos utilizadores de Internet ser superior fora dela
(7.3% para 2.7%).

Quadro nº 6 – Participação política não-integrada, por perfil de Utilização da Internet

Utilizador Não-utilizador
Campanhas eleitorais 2,5% 2%
Manifestações 4,6% 2,2%
Petições 7,3% 3,3%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

PRÁTICAS: A PARTICIPAÇÃO INDIRECTA

Relativamente a formas de Participação indirecta, é possível constatar que os


hábitos de consumo dos portugueses são apenas residualmente influenciados pelas suas
posições políticas: o parcial de respostas que revelam um comportamento de compra por
razões ideológicas reduz-se a 2%, e somente 1.6% da amostra afirmou ter optado pelo
boicote de compra como manifestação de posicionamento ideológico.
A análise do perfil dos inquiridos revela, em primeiro lugar, e ainda que por uma
reduzida margem, serem sobretudo as inquiridas (2.3% face a 1.6% junto dos inquiridos)
a adquirir produtos/serviços por razões ideológicas, invertendo-se esta dinâmica quando
se trata de boicotar produtos/serviços por essas razões (1.1% para 2.2%). Em segundo
lugar, se a compra com esta motivação decresce com a Idade, o mesmo não se verifica
com o boicote – o qual aumenta até ao escalão 45-54 anos. Finalmente, e no que diz
respeito à Escolaridade, a prática de compra e de boicote aumenta significativamente à
medida que aumenta a instrução dos inquiridos.

Quadro nº 7 – Participação indirecta, por Escolaridade

Sem qualificações Ensino Básico Ensino Ensino Superior


Secundário
Compra 1,10% 1,00% 4,20% 8,30%
Boicote 1,10% 0,80% 2,40% 9,30%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

No âmbito do eixo de utilização da Internet, os dados revelam hábitos de compra


(3.6% para 1.2%) e de boicote (2.9% para 1%) superiores entre os utilizadores, em
consonância com os dados de Cidadania Política já apontados.

Quadro nº 8 – Participação indirecta, por perfil de Utilização da Internet

Utilizador Não-utilizador
Compra 3,6% 1,2%
Boicote 2,9% 1%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES
PRÁTICAS: A SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA INTERACIONAL

A prática de debate de natureza política com amigos, colegas ou familiares revela-


se, entre os cidadãos portugueses, de expressão considerável quando comparada com as
restantes práticas enunciadas até agora, apontando neste sentido 27.4% das respostas
dos inquiridos.
Analisando esta prática a partir do seu perfil verificamos ser superior entre os de
Género masculino face ao feminino (33.6% face a 21.7%), crescente até ao escalão etário
35-44 anos (no qual atinge o seu valor máximo, 35.4%) e aumentando à medida que
aumenta a Escolaridade dos inquiridos, a ponto de a maioria (55.6%) dos que possuem
formação superior a praticar.
No âmbito do eixo de utilização da Internet, os dados revelam novamente um
empenho político diferente por parte dos utilizadores de Internet, com uma prática de
debate significativamente superior à verificada entre os não-utilizadores (38% para
22.4%).

Gráfico nº 3 - Socialização política interaccional, por perfil de Utilização da Internet


40,00%
37,50%
35,00%
32,50%
30,00%
27,50%
25,00%
22,50%
20,00%
17,50% Utilizador
15,00% Não-utilizador
12,50%
10,00%
7,50%
5,00%
2,50%
0,00%
DISCUTIU COM AMIGOS,
COLEGAS OU FAMILIARES
QUESTÕES DA POLÍTICA

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

PRÁTICAS: A SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA MEDIADA

Os dados relativos às fontes utilizadas pelos inquiridos para recolha de informação


política ilustram, por um lado, a preponderância mantida pela Televisão enquanto veículo
fundamental de informação e socialização política: 73% dos inquiridos apontam-na como
fonte preferencial, a grande distância da preferência manifestada pela Imprensa (7.2%),
pela Rádio (4.1%) ou a própria Internet (1.7%), surpreendendo a capacidade de
penetração revelada pela Propaganda Eleitoral (8.5%). O contexto de socialização
familiar/afectiva assume, por seu turno, um parcial de importância a ter em conta (11.1%).

Gráfico nº 4 - Socialização política mediada

Televisão

Rádio

Jornais

Revistas

Internet

Propaganda
Eleitoral

Comícios ou
Reuniões

Pessoas próximas

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

A partir do perfil dos inquiridos é possível constatar que apenas neste último
contexto de socialização se verifica uma preferência do Género feminino face ao seu
congénere masculino, predominante em todos os outros media considerados.

Gráfico nº 5 - Socialização política interaccional, por Género

Rádio

Jornais

Revistas

Internet
Masculino
Propaganda Feminino
Eleitoral

Comícios ou
Reuniões

Pessoas próximas

Televisão

0,00% 25,00% 50,00% 75,00% 100,00%


Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

Paralelamente, ao nível de uma distribuição por escalões etários, observa-se um


crescendo de relevância da Televisão junto dos inquiridos com idades até 54 anos, o
mesmo se verificando com a Imprensa e com a Propaganda Eleitoral. A Internet colhe
sobretudo, neste particular, adeptos junto dos jovens, diminuindo o recurso a esta TIC à
medida que aumenta a Idade do inquirido.
Sem surpresa, é junto dos mais escolarizados que o recurso à Internet enquanto
fonte para recolha de informação política surge mais frequente, mantendo-se no entanto
apenas como quarto suporte mais utilizado. Junto dos inquiridos com formação mais débil
é sobretudo a Televisão e o círculo de familiares e amigos a constituir esfera de referência
política, diminuindo ambas com o aumento da Escolaridade.

Quadro nº 10 – Socialização política Mediada, por Escolaridade

Sem qualificações Ensino Básico Ensino Ensino Superior


Secundário
Rádio 3,20% 4,00% 4,00% 6,50%
Jornais 1,10% 7,10% 9,20% 13,90%
Revistas 0,00% 0,50% 1,10% 2,80%
Internet 0,00% 1,00% 3,70% 8,30%
Propaganda 2,70% 8,00% 10,30% 19,40%
Eleitoral
Comícios ou 0,00% 1,30% 1,80% 0,00%
Reuniões
Pessoas próximas 18,20% 9,70% 14,70% 4,60%
Televisão 69,50% 75,60% 65,20% 70,40%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

Considerando a amostra dividida por utilização da Internet constatamos, em


primeiro lugar, manter-se entre os utilizadores uma relativa desvalorização desta TIC
enquanto suporte de consulta de informação desta natureza: apenas 6% destes inquiridos
responderam neste sentido. Paralelamente, esta população apresenta valores superiores
à de não-utilizadores ao nível do recurso à Rádio (4.4% para 3.8%), Imprensa (10.7%
para 5.2%), e Propaganda Eleitoral (13.2% para 6.7%), mas inferiores em termos do
recurso à Televisão (69.7% para 74.3%) e família/amigos (9.8% para 11.9%).

Quadro nº 11 - Socialização política Mediada, por perfil de Utilização da Internet

Utilizador Não-utilizador
Rádio 4,4% 3,8%
Jornais 10,7% 5,2%
Revistas 1,5% 0,3%
Internet 6% 0,1%
Propaganda Eleitoral 13,2% 6,7%
Comícios ou Reuniões 1,5% 1,1%
Pessoas próximas 9,8% 11,9%
Televisão 69,7% 74,3%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

PRÁTICAS: A INTERNET ENQUANTO ESFERA DE CONSULTA DE INFORMAÇÃO POLÍTICA PROGRAMÁTICA

Apenas 5.7% dos portugueses consultaram sites sobre os programas eleitorais de


todos os partidos políticos que se apresentaram a eleições em 2006, tendo o site do
candidato preferido por cada inquirido sido visitado apenas em 6.8% dos casos. Significa
este dado que uma significativa maioria da população – 70.7% – não visitou qualquer site
desta natureza com vista a esse propósito.

Gráfico nº 6 - Consulta de informação política programática na Internet


75
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Todas as Algumas Seu Nenhuma
candidaturas candidaturas candidato candidatura

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

O perfil dos inquiridos permite perceber que a procura desta instância de


disponibilização de informação se encontra com uma abrangência relativamente maior
entre os do Género masculino: 7.7% visitaram sites de todas as candidaturas face a 4%
das inquiridas, e 13.4% face 8.4% visitaram algumas, ao passo que as inquiridas
apresentam valores superiores para consultas apenas do seu candidato (7.3% para 5.7%
dos inquiridos) e de nenhuma candidatura (73.7% face a 67.4%).
A distribuição por escalões etários revela, por seu turno, que a ausência de
consulta destes espaços aumenta com a idade dos inquiridos, sendo a consulta daqueles
relativos a todas ou meramente a algumas candidaturas apanágio dos mais jovens.

Gráfico nº 7 - Consulta de informação política programática na Internet, por Escalão Etário


80,00%
75,00%
70,00%
65,00%
60,00%
55,00%
50,00%
45,00%
40,00% Todas as candidaturas
35,00% Algumas candidaturas
30,00% Seu candidato
25,00% Nenhuma candidatura

20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
18 A 24 25 A 34 35 A 44 45 A 54 55 A 64 65 A 74 75 E
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS MAIS
ANOS

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

Relativamente à Escolaridade dos inquiridos, os dados não revelam tendências


claras quanto à consulta dos sites de todas as candidaturas, mas permitem constatar que
a consulta dos espaços de pelo menos algumas ou menos exclusivamente do seu
candidato aumenta com o aumento da formação. Inversamente, a ausência de consulta
grassa sobretudo junto daqueles com Escolaridade mais débil.

Quadro nº 12 – Prática de consulta de sites de candidaturas, por Escolaridade

Sem qualificações Ensino Básico Ensino Ensino Superior


Secundário
Todas as 6,40% 5,50% 6,60% 5,50%
candidaturas
Algumas 4,30% 9,80% 13,60% 24,80%
candidaturas
Seu candidato 7,50% 5,60% 8,80% 10,10%
Nenhuma 76,50% 72,60% 65,20% 55,00%
candidatura
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES
REPRESENTAÇÕES: O VOTO ELECTRÓNICO

A maioria dos inquiridos manifesta-se, por outro lado, céptica quanto à


aplicabilidade de novas tecnologias ao exercício do seu direito de voto: 50.3% das suas
respostas segue no sentido de não considerar o voto electrónico uma opção de confiança.
Entre os restantes, um outro dado aponta para a subsistência de um mindset de voto
tradicional, ilustrado pela preferência manifestada por mesas de voto electrónicas em
cabinas tradicionais em cerca de 24.4% das respostas. Pouco mais de 20% das respostas
afirma que optaria pelo voto à distância se tal fosse possível, 12.5% através de SMS e
apenas 7.8% através da Internet.
O perfil dos inquiridos nesta questão revela que a confiança na aplicação das
novas tecnologias colhe sobretudo entre os do Género masculino, surgindo o feminino
como o mais céptico quanto à segurança da sua utilização para este fim (53.4% para
47%).
A análise da divisão dos inquiridos por escalões etários permite observar um
aumento significativo desta desconfiança à medida que aumenta a sua Idade, de 31.6%
entre os jovens até 24 anos (valor muito próximo da preferência por eles manifestada pelo
voto por SMS – 29%) para 75% entre os inquiridos com 75 anos ou mais.

Quadro nº 13 – Confiança em tecnologias de voto, por Escalão Etário

18 A 24 25 A 34 35 A 44 45 A 54 55 A 64 65 A 74 75 E MAIS
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS
SMS 29,00% 20,20% 15,00% 9,20% 5,50% 1,90% 0,70%
Site 18,20% 13,70% 8,30% 4,40% 4,30% 1,90% 0,70%
Mesa de 27,10% 26,50% 27,40% 26,90% 25,10% 18,70% 12,20%
voto
electrónico
Sem 31,60% 38,20% 45,70% 53,10% 57,30% 64,60% 75,00%
confiança
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

Com o aumento da Escolaridade aumenta igualmente a confiança depositada


nestes novos métodos de exercício de voto, assumindo a urna electrónica entre os
inquiridos com formação superior um valor de confiança muito próximo do observado para
a desconsideração destes métodos (28.4% para 28.7%).
Quadro nº 14 - Confiança em tecnologias de voto, por Escolaridade

Sem qualificações Ensino Básico Ensino Ensino Superior


Secundário
SMS 1,10% 12,30% 17,60% 21,10%
Site 0,00% 4,80% 19,10% 25,00%
Mesa de voto 10,20% 24,90% 30,40% 28,40%
electrónico
Sem confiança 70,10% 52,80% 35,20% 28,70%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

PRÁTICAS: SOLIDARIEDADE

Ao nível das práticas de solidariedade, a população portuguesa apresenta uma


marcada preferência pela adesão a causas relacionadas com os pobres e/ou indigentes,
traduzida pelos valores revelados para o apoio ao Banco Alimentar Contra a Fome e à
ajuda dada através de IPSS ou igrejas, com parciais respectivos de 16.5% e 7,5%.
Já o apoio a vítimas de maus-tratos em Portugal – país no qual as estatísticas no
domínio da violência familiar estão longe de evoluir positivamente – surge como uma
realidade menor, revelada por apenas 1,8% da população.
Por outro lado, não parece existir grande diferença no apoio dado a vitimas de
catástrofes em função da língua da região afectada: a percentagem de inquiridos que
revelaram ter apoiado vítimas de situações dessa natureza não se altera quando a região
afectada se insere no contexto de um PALOP.

Gráfico nº 8 – Práticas de Solidariedade


VÍTIMASDOSFOGOS

VÍTIMASDEMAUS-TRATOS

CRIANÇASSEM LAR

VÍTIMASDECATÁSTOFREEM
PALOP

VÍTIMASDECATÁSTROFEEM
OUTROSPAÍSES

CRIANÇASDEPALOP

CRIANÇASDEOUTROSPAÍSES

BANCOALIMENTAR CONTRAA
FOME

PESSOASPOBRES

0 2,5 5 7,5 10 12,5 15 17,5

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

À excepção do previsível apoio sob a forma de donativo de alimentos no caso do


Banco Alimentar Contra a Fome, os portugueses optam pela ajuda monetária em
detrimento da doação de vestuário, bens materiais ou alimentos. Vítimas de fogos, de
maus-tratos, de catástrofes ou crianças sem lar são as causas nas quais esta preferência
mais é visível – com valores superiores a 64% –, surgindo o apoio monetário a crianças
de outros países e aos cidadãos portugueses mais pobres com valores na ordem dos
20%, ainda superiores aos das restantes causas.
Na base desta preferência por apoio monetário pode encontrar-se a flexibilidade
que permite às organizações responsáveis pela materialização, no terreno, dessa ajuda,
podendo estar-lhe ainda associada a maior facilidade de concretização (em detrimento da
recolha ou transporte dos restantes bens indicados) ou o facto de configurar um apoio
mais distanciado e impessoal, cuja extensão os dados não permitem compreender.

Gráfico nº 9 - Práticas de Solidariedade


D inheiro

VÍTIM AS DOS F OGOS


R oupas VÍTIM AS DE M AU S-T R AT OS
C R IAN Ç AS SEM LAR
VÍTIM AS DE CATÁST OFR E EM
PALOP
Alim ento
VÍTIM AS DE CATÁST R OFE EM
s
OU TR OS PAÍSES
C R IAN Ç AS DE PALOP
Bens C R IAN Ç AS DE OU TR OS PAÍSES
m at eriai BAN CO ALIM EN TAR C ON TR A A
s FOM E
PESSOAS POBR ES

Pes soal
m ente

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES

Partindo da utilização da Internet como eixo de caracterização, os dados revelam


ainda que a população portuguesa de utilizadores da Internet apresenta uma prática de
solidariedade sempre superior à observada junto dos não-utilizadores, sobretudo o que se
refere às vítimas de maus-tratos e a crianças de outros países.
Por outro lado, acentua-se entre os utilizadores desta TIC a preferência pelo apoio
a causas nacionais em detrimento de causas internacionais, mesmo considerando
aquelas que linguisticamente se encontram mais próximas.

Quadro nº 15 – Preferências por causas de solidariedade, por perfil de Utilização da Internet

Utilizador Não-utilizador
VÍTIMAS DOS FOGOS 4,8% 4,8%
VÍTIMAS DE MAUS-TRATOS 3,1% 1,2%
CRIANÇAS SEM LAR 5,9% 4,4%
VÍTIMAS DE CATÁSTOFRE EM 4,2% 2,8%
PALOP
VÍTIMAS DE CATÁSTROFE EM 4,1% 2,8%
OUTROS PAÍSES
CRIANÇAS DE PALOP 5,8% 2,7%
CRIANÇAS DE OUTROS PAÍSES 4,4% 2%
BANCO ALIMENTAR CONTRA A 21,9% 14%
FOME
PESSOAS POBRES 10,8% 5,9%
Fonte: CARDOSO, G., ESPANHA, R., GOMES, C. (2006), Sociedade em Rede, CIES
CONCLUSÃO: A PARTICIPAÇÃO NUM MUNDO MEDIADO

A pergunta “São as minhas redes diferentes das vossas?” explicita de algum modo
como a Participação deve ser analisada no quadro da Sociedade em Rede. Que desafios
coloca a Comunicação em Rede à Participação e sua análise no quadro das Ciências
Sociais? Estas questões passam a colocar-se uma vez que os Media deixaram de ser
exclusivamente Mass Media, tornando-se Media em Rede (CARDOSO, 2008).
Num ambiente de Comunicação em Rede transformam-se a mediação
(SILVERSTONE, 2006), as dietas de Media (COLOMBO & AROLDI, 2003), as matrizes de
Media (MEYROVITZ, 1985) e o próprio sistema dos Media (ORTOLEVA, 2004). Estas
transformações nas relações estabelecidas entre os diferentes Media, agora mais
articulados em Rede do que convergentes, seja em hardware, serviço ou redes, tornam a
mediação uma experiência integrada, combinando o uso de diferentes Media, do telefone
à televisão, do jornal ao jogo de vídeo, da Internet à rádio, do cinema ao telemóvel,
recolocando o utilizador, as suas práticas e as literacias de que necessita no centro da
análise (LIVINGSTONE, 2006; CARDOSO, 2006; CARDOSO, 2008).
A Comunicação no contexto das sociedades contemporâneas informacionais
organizadas em rede possui, cada vez mais, contornos de Comunicação em Rede dado
assistirmos 1) à disseminação de novas retóricas, 2) à emergência de novos modos de
acesso à informação (da disponibilidade à mobilidade), 3) à valorização do conteúdo
gerado pelo utilizador, 4) à coexistência de diferentes tipos de notícias, em termos do seu
modelo e destinatários, e 5) a inovação nos modelos de entretenimento. Perante estes
fenómenos, é possível afirmar que nos encontramos perante um novo sistema de Media,
organizado em torno de duas redes e dos seus respectivos nós centrais, a Televisão e a
Internet: a primeira destinada ao exercício de baixa interactividade, e a segunda destinada
aos momentos de busca de alta interactividade (KIM, SHAWNEY, 2002). Todas as
restantes tecnologias se ligam a (e interagem com) essas redes. Ainda que essa relação
seja, por vezes, estabelecida entre tecnologias que partilham os mesmos ambientes
técnicos (como quando alguém estabelece um link entre duas páginas), o figurino que
assume depende das escolhas dos utilizadores: quanto alguém vota através de SMS
(para uma rádio ou para um jornal) e essa escolha é lida ou publicada em papel, estamos
perante comunicação que se estabelece entre diferentes Media numa rede formada a
partir das interacções entre utilizadores, companhias de Mass Media e, eventualmente,
reguladores do sector Público. Este exemplo ilustra o que é a Comunicação em Rede:
uma reformulação permanente das relações entre Media, articulando aqueles de
comunicação interpessoais (como o SMS, telemóvel ou o e-mail) com aqueles de massa
(como a TV, rádio, jornais online ou fora da Internet).
Que desafios coloca, então, a Comunicação em Rede à Participação? Como
pudemos verificar pelos dados atrás enunciados, entre 2004 e 2006 aproximadamente
81% dos portugueses não havia realizado qualquer actividade que possa ser considerada
Cidadania Política, quer na sua acepção tradicional, quer na sua acepção
contemporânea. Mas essa prática não pode deixar de ser lida à luz da mediação: a
socialização política mediada, uma constante do dia-a-dia das sociedades (CASTELLS,
2006), traduz-se em Portugal na definição clara de matrizes de Media por parte da
população, com implicações ao nível das suas preferências de socialização mediatizável,
surgindo a televisão em primeiro lugar das escolhas (73%, face a aproximadamente 2%
da Internet).
O papel central da informação continua a caber à Televisão, pelo que sem esta e
sem os restantes Media o efeito da Internet é reduzido. No entanto, embora a Internet
enquanto plataforma de socialização política não pudesse estar mais distante de
destronar a televisão (que continua a ser a principal fonte de informação dos
portugueses), a verdade é que o papel desempenhado por essa tecnologia nos últimos
anos em contextos de ruptura ou intervenção social – como o encontro da OMC em
Seattle em 1999 (RODOTÀ, 2000; WIEVIORKA, 2003; CASTELLS, 2006), os eventos de
1999 em Timor Leste (CARDOSO, NETO, 2003), e de 11 de Março de 2004 em Espanha
(ECO, 2004; CASTELLS, 2006) – conduz a considerar que contribuiu para condicionar as
dinâmicas de Participação, demonstrando que a Internet não se reduz a uma fonte de
informação. Ela é, para além disso, comunicação, organização, e acção directa. Analisar a
Participação no contexto contemporâneo implica, pois, analisar a integração das suas
possibilidades e reais apropriações, recusando visões redutoras da Participação enquanto
autonomia confinada apenas à esfera da intervenção política sem levar em conta que, nas
sociedades contemporâneas, tão importante quanto a Participação é a mediação
(SILVERSTONE, 2006). Nas sociedades contemporâneas, a informação mediada precede
qualquer tipo de Participação, seja ela comunicar, organizar ou agir. Mas é fundamental
compreender também que, ao falar de Comunicação em Rede, estamos a falar de todos
nós enquanto indivíduos uma vez que quem cria a rede somos nós: nós somos o
hipertexto que articula Media para atingir objectivos pessoais e/ou colectivos.
O que é então participar na Sociedade em Rede? Participar é aderir a algo,
partilhando uma ideia ou uma filiação (permanente ou episódica, de carácter formal ou
informal). Como já analisamos, a Participação é tanto mediada quanto não mediada. E
pode ser realizada de diferentes formas, seja por acção directa dos indivíduos envolvidos,
seja através de um representante eleito a quem se solicita algo, ou um representante
junto de uma qualquer organização com o qual se interage. Quanto à acção directa, ela
tanto passa por transacções monetárias através de compras, pela oferta de bens com um
qualquer fim destinado, ou prestar serviços (estar presente um evento, dar horas para um
dado fim, etc.). Mas Participação é, como também já referimos, expressar opiniões. E
expressar opinião pode tomar diferentes formas, pode tratar-se de opinião nos media, isto
é, escrever num jornal ou num blogue, falar na TV ou no YouTube, enviar SMS, etc). A
expressão de opiniões pode também ocorrer através do assinar de petições ou comunicar
nas nossas redes sociais, isto é, família, emprego e Web 2.0.
A Participação no quadro da Sociedade em Rede é assim o somatório de todas as
formas de Participação enunciadas. Mas o contexto cultural das sociedades também pode
determinar que dadas possibilidades no quadro da Participação se sobreponham a outras.
Assim, a hipótese que aqui se levanta é a de que em sociedades em transição para
sociedades informacionais, como a portuguesa, onde fenómenos como o “pós-lua-de-mel”
participativo (INGLEHART & CATTERBERG, 2001; PUTNAM, 1993) se juntam a estruturas
sociais de competências educacionais muito diferenciadas (CARDOSO, 2006), baixa
Participação associativa (CARDOSO, 2005) e baixa cultura de confiança nos outros,
devemos recusar uma visão redutora do âmbito da Participação, confinada apenas às
actividades de carácter associativo e partidário.
O que se privilegia em termos de cultura de Participação em Portugal? Em
Portugal, a interpretação das tendências detectadas parece indicar que a Participação é
essencialmente motivada pela solidariedade de grupo para com terceiros, a qual se
encontra dependente da confiança neles depositada. Habitualmente, organizações cujos
objectivos se jogam em torno da solidariedade para com grupos ou indivíduos
necessitados, seja no campo da alimentação, habitação, auto-estima e reconhecimento,
enquadramento familiar, agentes de protecção do ambiente, ou competências
educacionais. Mais que um envolvimento directo através de uma militância permanente
ou intermitente, o modelo central de Participação em Portugal parece ser delegar, ou seja,
doar dinheiro, bens ou serviços a terceiros: fornecer os meios para representantes de
intervenção solidária poderem agir, ou dar opinião, apostando nas suas redes sociais.

Gustavo Cardoso e Pedro Pereira Neto


BIBLIOGRAFIA

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