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Jares
1. Os marcos da convivência
Conviver significa viver uns com os outros com base em certas relações sociais e
códigos valorativos, forçosamente subjetivos, no marco de um determinado
contexto social. Estes pólos, que marcam o tipo de convivência, estão
potencialmente cruzados por relações de conflito, o que de modo algum significa
ameaça à convivência. Conflito e convivência são duas realidades sociais
inerentes a toda forma de vida em sociedade.
A família
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ou menos consciente de assumir a paternidade ou a maternidade etc. Todas
estas variáveis determinam certas orientações no modelo de convivência. Assim,
mais que falar da família, há que se falar de famílias, diferentes em sua
composição, situação, relações entre seus membros etc.
O sistema educacional
O grupo de iguais
Os meios de comunicação
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internet, determinadas letras de músicas etc. Boa parte deles transmite práticas
e valores consumistas, violentos, discriminatórios etc.
São cada vez mais escassos os espaços para exercer o direito a uma autêntica
cidadania, a uma convivência democrática, conduzindo-nos a um sistema de
democracia formal mercantilizada e televisionada, com claras diferenças sociais
e com setores da população vivendo totalmente excluídos do Estado de Direito e
da convivência democrática. Neste cenário, ao invés de cidadãos, querem nos
converter em meros espectadores-clientes, substituindo o viver pelo consumir, o
decidir, pelo delegar2.
Tudo isso nos leva a considerar que a convivência faz referência a conteúdos de
natureza bem distinta: morais, éticos, ideológicos, sociais, políticos, culturais e
educativos, fundamentalmente.
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Condições que nem são homogêneas, nem não conflituosas.
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Evidentemente, frente a esta ideologia e sistema econômico dominantes, contestações e formas de convivência
contra-hegemônicas são produzidas. Daí a importância da luta social e política emancipadora.
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transmitido, como já destacamos, a partir de diferentes instâncias sociais –
família, escola, meios de comunicação, sistema judicial, estratégias políticas,
confissões religiosas etc. Pois bem, para todos estes âmbitos e como critério
geral de convivência, propomos partir do conjunto dos direitos e deveres
integrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por que?
Porque os direitos humanos significam o pacto mais sólido para uma convivência
democrática, além de representar o consenso mais abrangente jamais
conseguido na história da humanidade sobre valores, direitos e deveres para
viver em comunidade. Com efeito, ao indagar acerca dos pilares sobre os quais
queremos construir a convivência, os direitos humanos representam opção
idônea e legítima. A idéia central na qual se assenta o conceito de direitos
humanos é a de dignidade, inerente a todo ser humano. E é a partir deste ponto
que devemos construir a convivência em todos os âmbitos sociais. Dignidade
que se situa entre três qualidades essenciais: liberdade, justiça e plena
igualdade de todos os seres humanos.
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Crítica reiterada no Relatório Anual de Direitos Humanos da Anistia Internacional de 2006.
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haver segurança nem democracia. A defesa da segurança não pode acarretar
mais insegurança para todos, e menos liberdade. É um contra-senso inaceitável
que os atentados contra a liberdade tenham de ser combatidos com menos
liberdade.
Junto aos direitos, não podemos esquecer que toda convivência sempre acarreta
determinados deveres para com os demais, aspecto que às vezes se descuida. O
cumprimento dos direitos é acompanhado de limitações e deveres para que
aqueles possam ser exercidos. O sentido do dever para com os membros da
família, da comunidade educacional, do país, assim como dos valores da justiça,
liberdade, paz etc., é um sentimento necessário que devemos inculcar desde
pequenos. Os deveres são a outra face dos direitos, uns e outros estão
indissoluvelmente unidos.
2.2 O respeito
E, ainda mais, em muitos casos esta situação é aceita como algo irremediável,
que não tem volta. A situação exige que as formas respeitosas de relação nos
âmbitos familiar, escolar, laboral, político etc., sejam observadas com muita
delicadeza. Neste sentido, a alta visibilidade social que os políticos têm agrava o
problema quando contemplamos atônitos e indignados comportamentos de
“bandalheira política” ou de corrupção.
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tornar-se efetivo em relação aos demais seres vivos e, por extensão, ao planeta
Terra. Não esqueçamos que os seres humanos se relacionam e convivem
consigo mesmos, com os outros e com os elementos do entorno natural. Daí a
necessidade de estimular o respeito ao meio ambiente.
2.3 O diálogo
2.4 A solidariedade
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necessidade de humanização, possibilidade de realização e felicidade, além de
instrumento para melhorar a qualidade da convivência.
A solidariedade também é uma qualidade que deve fazer parte de todo processo
educacional, não apenas para dotá-lo de melhor qualidade, como também para
aumentar as possibilidades de realização e felicidade. Ou seja, a solidariedade
não é apenas um princípio ético ou um imperativo categórico, como afirma Kant,
que exige nossa implicação pessoal, mas também é uma forma de nortear a vida
e ser mais feliz por isso. É evidente que, em determinados momentos, uma
aposta solidária pode trazer consigo determinados sacrifícios, mas discordo dos
que pensam que esta é a característica fundamental da solidariedade. Nós a
consideramos mais como compartilhar e desfrutar com o outro e,
definitivamente, como exigência de nossa plena realização.
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–, devendo ser um elemento presente nos diferentes âmbitos de convivência.
Em outras palavras, que a solidariedade seja parte da cultura. E, em sentido
contrário, para que a cultura da solidariedade seja viável é necessário impregnar
os tecidos social e cultural nos quais nos desenvolvemos, para que torne-se um
elemento consubstancial deles.
2.5 A não-violência
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A violência como ideologia ou a violência terrorista como estratégia de luta social
devem ter um lugar especial no currículo das escolas, tendo em vista que viola o
princípio básico do direito à vida. Neste sentido, o primeiro conteúdo que
devemos abordar é a violência como forma de encarar os conflitos, mas não de
resolvê-los. A violência anula ou protela o conflito matando ou anulando a outra
parte, mas não resolve o problema. E, tal como nos mostra a história, mais cedo
ou mais tarde volta a brotar novamente em um cenário mais complicado para a
resolução dos conflitos. Se realmente queremos sair da pré-história das relações
sociais, devemos romper com a violência como forma de enfrentar os conflitos.
As guerras, o terrorismo, assim como qualquer forma de violência devem ser
evitados porque contradizem os princípios básicos de resolução não-violenta de
conflitos, da convivência democrática e da moral.
2.6 O laicismo
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Euskadi ta askatasuna (ETA), “Pátria basca e liberdade”, em basco. Organização nacionalista de ideologia
marxista-leninista que utiliza o terrorismo como via para obter a unificação dos chamados territórios bascos e
sua independência dos Estados da Espanha e da França. Fundada em 1959, durante a ditadura franquista, tem o
apoio de setores nacionalistas bascos.
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autônomo da consciência livre como valor supremo do processo de humanização
e civilização dos povos. Estes valores não apenas impõem uma elaboração
teórica, mas também uma estratégia” (PUENTE OJEA, G. “El laicismo principio
indisociable de la democracia”. www.inisoc.org/ojea65.htm, 2002).
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A ternura é uma necessidade vital dos seres humanos e, conseqüentemente,
deve sê-lo também em todo processo educativo. A afetividade é uma
necessidade fundamental de todos os seres humanos. É a necessidade que nos
torna humanos, indispensável à construção equilibrada da personalidade. Mas,
além de sua influência no processo vital e de amadurecimento das pessoas, a
afetividade tem, em segundo lugar, uma inequívoca relação com a convivência,
sendo um de seus traços de identidade, tanto em sua acepção de conteúdo
quanto de expressão. E isso porque sua ausência pode provocar problemas de
convivência tendo em vista que, no plano positivo, as relações de boa
convivência sempre levam consigo, em maior ou menor medida, a afetividade.
Por isso, a alfabetização em afetividade e ternura deve ser um objetivo
prioritário de todo processo educacional.
Pois bem, a recuperação do interpessoal e do afetivo – que, por outro lado, foi e
é um dos sinais de identidade da educação para a paz5 – não deve nos levar a
uma postura de ensimesmamento, de canalizar todas as potencialidades como
chave de desenvolvimento pessoal, de buscar as explicações e alternativas nesta
perspectiva. A pós-modernidade teve a virtude de resgatar a importância do
5
De fato, consideramos a educação para a paz como a encruzilhada de uma educação afetiva, política e
ambiental (JARES, 1983). Neste mesmo sentido está a importância que outorgamos à “criação de grupo”
(JARES, 1999a, 1999b, 2001a e 2001b).
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pessoal, a subjetividade e a afetividade, mas, em contrapartida, cometeu o erro
de centrar sua análise e explicação da realidade neste único plano, desprezando
o social e o político.
É preciso ter muita paciência, mas uma paciência ativa, vigilante, criativa e se
há um professorado que acredita em um determinado modelo de educação, em
um determinado projeto de escola, muitas destas crianças acabam por encontrar
seu lugar e sua estabilidade, dentro do possível”.
Sob outra ótica, em educação, como no que concerne à saúde, os afetos ajudam
a curar. A ternura e o amor nem sempre são curativos, mas na maioria dos
casos, sim. As palavras doces e respeitosas, as mãos sensíveis que sustentam e
acariciam, os abraços que transmitem energia, amor, são formas de relação que
denotam um modelo de convivência salutar, tão necessário à vida em sociedade
quanto ao desenvolvimento harmônico e equilibrado das pessoas.
2.9 O perdão
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estritamente secular” (ARENDT, HANAH. La condición humana. Barcelona:
Paidós, 1993, p.258. [Edição brasileira: A condição humana. São Paulo: Forense,
2005]).
Perdão nada tem a ver com esquecimento, nem com desculpa ou justificação.
Perdão que não significa impunidade – a condição do perdão para quem o
solicita é o reconhecimento da falta, o arrependimento e o compromisso de que
não voltará a cometer a mesma ação –, nem muito menos esquecimento.
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uma atividade exclusivamente técnica e o ato de aprender, como algo que
compete exclusivamente à inteligência e vontade de cada indivíduo. Assim, tudo
o que sucede no interior do sistema educacional é apresentado como algo
“blindado” das contingências sociais, pedagógicas e dos interesses ideológicos
que, através dele, são transmitidos. No entanto, há várias décadas têm sido
realizados numerosos estudos que provam a desigual distribuição tanto de
benefícios quanto de fracassos nos sistemas educacionais. Estas desigualdades
sociais e escolares são as que exigem, precisamente, um maior compromisso
por parte do professorado e das administrações educacionais para remediá-las.
2.11 A felicidade
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A felicidade está impregnada de cultura e de relações sociais, e que estas sejam
justas. Sendo estas duas condições muito importantes, para nós a felicidade
está marcada especialmente por outras duas circunstâncias: a capacidade de
encantar-se, de ter entusiasmo pela vida, e pela capacidade de amar e ser
amado.
2.12 A esperança
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ao mesmo tempo, estratégias muito importantes para gerá-la. Em suma, viver a
profissão como um exercício contínuo de esperança.
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