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05 DE JULHO
A poetisa Adélia Prado, uma das mais renomadas escritoras brasileiras da atualidade,
em recente encontro sobre canto e liturgia realizado em Aparecida, falou sobre a
linguagem poética e linguagem litúrgica, propondo um resgate da beleza na celebração
litúrgica. Sua participação foi de significativa relevância e, por isso, acreditamos ser
interessante repassar aos leitores alguns pontos principais de sua exposição.
Ao defender o esmero nas celebrações litúrgicas e a beleza, como uma necessidade
vital que deve permeá-las, a poetisa afirmou que “a missa é como um poema. Não
suporta enfeite nenhum”. A missa é a coisa mais absurdamente poética que existe. É o
absolutamente novo sempre. É Cristo se encarnando, tendo a sua paixão, morrendo e
ressuscitando. Nós não temos de botar mais nada em cima disso, é só isso. Como cristã
de confissão católica, acredito que tenho o dever de não ignorar a questão.
Olha, gente, comentou, com um tom de humor e lamento, tem algumas celebrações
que a gente sai da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar. Falando
especialmente sobre o canto que tem um novo significado quanto à participação
popular, diz que ele muitas vezes não ajuda a rezar. O canto não é ungido, ele é feito,
fabricado. É indispensável redescobrir o canto-oração. O canto barulhento, com
instrumentos ruidosos, os microfones altíssimos, não facilita a oração, mas impede o
espaço de silêncio, de serenidade contemplativa. É só depois que ela se cala que a gente
ouve. A beleza de uma celebração e de qualquer coisa, a beleza da arte, é puro silêncio e
pura audição. Nós não encontramos mais, em nossas igrejas, o espaço do silêncio.
Parece que há um horror ao vazio. Não há silêncio. Não havendo silêncio, não há
audição. Eu não ouço a palavra, porque não ouço o mistério, e eu estou celebrando o
mistério.