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de AVC para
fonoaudiólogo
PARA VOCÊ, QUE DESEJA ATENDER, COM
EXCELÊNCIA, PACIENTES QUE SOFRERAM
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC).
CRFa: 2-17855
Copyright © 2020, PAOLA PUCCI,
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por escrito do autor, poderá ser reproduzida ou
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eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou
quaisquer outros.
Por isso, decidi te presentear com esse livro digital, que, espero,
abra sua mente para uma nova abordagem terapêutica.
Cabe dizer que AVC é a sigla mais popular e mais antiga para o
acidente vascular encefálico (AVE). Eu criei o hábito de falar AVC,
porque é assim que os pacientes e as famílias estão mais habituados.
Enfim, nós sabemos que é a mesma coisa, então você usa a que achar
melhor, combinado?
Mas não são só esses. A população mais jovem tem sido acometida
também por AVC e acaba apresentando mais fatores de risco além
daqueles, como:
- Vasculites do sistema nervoso central (SNC);
- Arterites (infecciosas ou por uso de drogas).
Muito triste essa história, né? Mas vamos focar agora no AVC dele.
A primeira coisa que você conta para o seu colega é como está o
paciente, o que aconteceu com ele, onde ele estava, e com quem ele
estava. E, claro, a situação visível do paciente. Tudo isso é
extremamente importante para sabermos quem é a pessoa que vamos
atender, pelo que ela está passando.
Rubens já tinha 63 anos, não era um paciente idoso, mas também não
era jovem. Qual seria a sua atitude ao entrar no quarto de um paciente
grave de AVC?
Uma das minhas maiores preocupações era com a visão dele, já que a
lesão atingiu região occipital, onde acontece o processamento visual.
Com essa resposta dele, notei que, visualmente, aparentemente,
estava tudo ok. Ele estava entendendo qual mímica facial era aquela
que eu estava fazendo (sorriso).
Portanto, não sabemos se na hora que ele sorriu, ele entendeu o som ou
só entendeu o visual, a mímica. E agora é a hora de você matar todas
essas curiosidades! Será que ele está ouvindo? Será que ele está
entendendo? Como está a compreensão?
Como saber?
Poderia avaliar a atenção, para saber se ele localiza uma fonte sonora,
para ver se ele viraria em direção à fonte, se ele ouve sua voz, se ele tem
hemianopsia (enxerga de um lado, mas não enxerga do outro). Testar se
está vendo, ouvindo, sentindo cheiro e gosto, é muito importante.
Para avaliar tudo isso, você precisa ter em mente que toda a nossa
cognição foi formada através das nossas experiências de vida. Então, o
que eu lembro quando eu vejo um abacaxi não é o mesmo que você
lembra, olhando o mesmo abacaxi.
Ele fez que sim com a cabeça, mas não sabemos se ele entendeu o que
eu falei ou o que eu fiz. Peguei dois nomes desse amigo e escrevi. Veja
como as coisas são muito interligadas: eu estou avaliando se ele está
enxergando, mas acabei fazendo uma tarefa de avaliação de linguagem
(leitura).
Apesar de ter feito uma prova visual, se ele bateu o olho e lembrou o
nome dos amigos, temos um indício de que a memória está legal. Mas
eu precisava avaliar mesmo assim, para confirmar. Então, terminei a
prova com o nome de todos os amigos e depois eu falei:
Exemplo: dar uma pasta de dente e uma escova para o paciente, sem
dixer nada; apenas entregar. Espera-se que ele consiga colocar a pasta
na escova, certo? O Rubens estava com hemiparesia. Se eu peço uma
coisa complicada dessas para um paciente com AVC, ele pode não
conseguir, motoramente falando, não por inabilidade cognitiva. Então,
precisa tomar cuidado com o tipo de ação que você vai pedir ao
paciente.
Nesse caso, precisava ser uma ação que utilizasse apenas uma das
mãos. Eu sempre peço ao paciente que escreva. Segurei a folha e dei a
caneta nas mãos dele. Ele estava com uma hemiparesia do lado
predominante, mas quase achei que ele fosse tetra, de tão poucos
movimentos que ele tinha de corpo, quase foi uma lesão cruzada, tinha
muita lesão no hemisfério direito, apesar da lesão principal ter sido no
hemisfério esquerdo (por isso, a paresia era muito pior no hemicorpo
direito). Como Rubens era destro, teria que usar a mão esquerda, por
isso pedi para ele fazer uma bola, em vez de escrever (ninguém merece
escrever com a mão não-dominante, até quando não passou por um
AVC).
Ele começou fazendo uma reta primeiro, pra depois fazer uma curva.
Ele errou o plano, certo? Porque quando planejamos fazer um círculo, já
começamos fazendo o círculo. Pode começar de cima, de baixo, do
lado, mas já fazendo o círculo. No plano de fazer o círculo, não tem linha
reta, concorda? O legal é testar o planejamento de um paciente com
algo que não tenha outro jeito de fazer.
Exemplo: quando o paciente não é muito grave, você pede pra fazer um
café. Aí, você vê que ele está meio perdido. Ele começa ligando o fogo,
para depois procurar onde está o pó, os utensílios. Você percebe que a
pessoa não se planeja, está meio atrapalhada. São nessas pequenas
tarefas que você vai analisar o planejamento. É claro que a tarefa vai sair
meio esquisita, a execução será ruim, porque o plano saiu errado.
Sem planos, as ações ficam mal feitas, gastam mais energia, o paciente
fica mais confuso e demora mais.
Recapitulando...
- Avaliar os 5 sentidos;
- Avaliar a cognição (atenção, memória, planejamento e execução);
- Sempre com um paciente neurológico, olhar: mímica facial, deglutição,
fala, linguagem e cognição.
Quando chegar um paciente muito grave, seja capaz de olhar para ele
sem se distrair com a sialorréia que está demais, com a gastro, com a
traqueo. Você tem algo muito maior pra ver agora, porque você não é
mais um avaliador de disfagia. Você é um avaliador da neuro. Já tem
jogo de cintura, fala com a família antes, descola umas fotos, um copo,
algo que seja próximo do paciente, já entende que o quanto e como ele
levou a vida vai interferir na avaliação.
Se você já fez algum dos meus cursos, sabe que eu gosto que os casos
sejam raciocinados, para que a gente consiga bolar os próprios exercícios
e não fique fazendo sempre a mesma coisa com vários pacientes.
Se quando nós vamos avaliar um paciente, temos que olhar para todo
esse quadro, na hora de seguir o planejamento terapêutico faremos
exatamente a mesma coisa: reabilitar mímica facial, deglutição,
linguagem/cognição e fala.
Quanto mais exercícios você indicar para o seu paciente (em quantidade
mesmo), menos ele vai aderir ao tratamento.
Vamos pensar que tudo isso é novo pra ele, nem todos vão achar legal,
porque a terapia tira o paciente da zona de conforto.
Tem paciente que fala: “Eu não vou ficar mandando beijinho pro espelho,
colocando a língua pra fora, não tenho mais idade pra isso”.
Mas a gente sabe que a vida real não é perfeita, não são todos da equipe
multi que se especializaram em neuro, não é todo mundo da família que
colabora, não é todo paciente que está de bom humor, não é mesmo?
Sabendo que temos muitas questões para avaliar, vamos traçar um plano
que englobe todas as alterações.
Quando ele foi comer, ele misturou as 3 coisas numa colherada. Então,
ele colocou arroz, feijão, carne, uns legumes cozidos. Ele comeu umas 2
ou 4 colheradas e deu uma parada, disse que não queria mais, e
começou a tossir. Ele teve uma tosse tardia.
É nessa hora que a gente anota que com essa dieta ele teve tosse tardia.
Agora, eu preciso descobrir qual dos alimentos que ele pegou que está
dando problema, qual está deixando resíduos na valécula ou em seios
piriformes, fazendo ele tossir depois. Então, eu pedi para ele comer
separadamente cada alimento, para ver se o desempenho era igual e
qual não estava indo bem.
Pedi para ele comer o arroz novamente; ele teve um tempo de trânsito
oral elevadíssimo e, quando engoliu, quase não dava pra ver a
elevação da laringe. Na ausculta, percebi um ruído, um barulhinho.
Vamos pensar: o que tem no arroz que não tem no feijão? O feijão tinha
muito caldo, quase líquido. O arroz era mais seco que o feijão.
Pedi para ele comer a carne, que era desfiada e com molho. O
paciente mastigou bastante e quando foi engolir fez uma super
elevação da laringe, engoliu e nada de ruído. O paciente estava com a
voz limpinha. Entendi que a dieta talvez não estivesse tão adequada
pra ele, ou foi prescrita uma dieta no hospital, mas quando chegou em
casa mudou.
Ele engoliu; ausculta ok, paciente ok. Fiz isso até o final do copo.
Quando falei “não engole”, ele foi obrigado a organizar esse líquido
dentro da boca, ou seja, o que a vida toda foi involuntário, neste
momento se tornou voluntário. O paciente precisou prestar atenção,
ele precisou usar outras células.
Peguei uma água bem gelada, ele tomou uns 3 goles e já deu uma
tossidinha. Testei água com gás, gelada. Ele demorou mais para
deglutir, ficou mais atento, engoliu e não tossiu. A água gelada com gás
funcionou pra ele. Então, prescrevi que tudo que ele fosse tomar
precisava ser gaseificado.
Perguntei como era o café da manhã. A família relatou que era uma
papinha de café com leite. Ele colocava o pão, que amolecia nesse
leite, e comia o pão amolecido. Isso é uma coisa super perigosa:
misturar consistências (um líquido muito fino com um sólido), porque o
paciente tem que controlar a mastigação e mais a deglutição desse
líquido.
Mas nossa avaliação ainda não acabou, hein? Faltam mais 3 áreas.
Vamos à avaliação da linguagem agora.
Sobre a compreensão:
Sobre a expressão:
A família disse que é muito difícil entender o que ele quer e ele ficava
chateado. Então, deixei umas fotos de coisas importantes pra ele, com
o nome escrito embaixo. Pedi para usar o álbum de figura; quando
quisesse chamar alguém, ele apontava na foto. Foto das coisas de
comer que ele mais gostava, pra ele poder escolher; fotos de roupas
que ele gostava de vestir, pois ele não conseguia ir caminhando
sozinho até o quarto etc.
Percebi que esse paciente tinha uma voz rouca, hipernasal e a família
relatou que a voz mudou completamente após o AVC, estava mais
grossa e mais baixa.
Sobre a mímica facial, esse paciente tinha uma paralisia facial central,
ou seja, só no terço inferior, no lado esquerdo, no mesmo lado da lesão
do paciente.
Se ele tem paralisia facial e alteração para deglutir o líquido, faz sentido
que ele não tenha um controle oral tão bom assim, né?
Então, como esse paciente volta a sentir? Ele precisa estar com uma
pressão intraoral bacana, lábios vedados, sensibilidade intraoral
perfeita e o cognitivo funcionando bem.
Para ejeção oral com mais força, podemos treinar deglutição com
esforço, que é uma manobra da Logemann. Ajudaria e você ainda
poderia colocar a deglutição com esforço no mesmo exercício da ETTG;
quando for engolir, abaixa a cabeça, pois o esforço da língua é muito
maior, e associa a força pra engolir com o sorriso. Englobei todos os
problemas que ele tem, inclusive a paralisia facial, no mesmo exercício.
Masako, neste caso, não seria o ideal, pois a língua pra fora tira o
entendimento do cérebro de vedamento labial. Exercício que mantém o
lábio aberto, nesse caso, não é bom.
Para paralisia facial, dá pra colocar metas: faz uma marquinha no rosto e
ele tem que alcançar com o músculo, como uma aula de yoga. No
primeiro dia de yoga, abaixamos e a mão chega no joelho, mas o foco é
a mão alcançar os pés, sem dobrar as pernas. A paralisia facial é isso,
estimular com o pensamento, com as intenções, pois as intenções são
os movimentos neurológicos, os comandos musculares. Além disso,
acordamos a região com estimulação sensorial, por dentro e por fora,
com gaze, escovinha, alternando objetos táteis durante as sessões.
Bom, você fez tudo isso, toda essa estimulação, e o paciente está
trabalhando a fala, enquanto ele está trabalhando a motricidade.
Maravilha. Aí você pensa: “ele tem a voz muito fraca e grossa, o que vou
fazer com isso?”.
Tem gente que faz MO pra apraxia, MO pra disfagia, pra dor de ouvido,
dor de dente. Não é assim! Esquece MO, quando estiver atendendo
neuro.
Todo esse raciocínio é pra você tentar sair da casinha. Pegue seus
casos e reveja os exercícios que você está passando para seus
pacientes.
Você pode dizer: “ah, mas você não trabalhou a compreensão com ele”.
Pois é, mas enquanto ele está fazendo o exercício, você pode dizer
frases longas pra ele; quando ele terminar o exercício, você faz uma
pergunta sobre essas frases. Você vai acomodar as alterações do
paciente dentro do seu treino, pra não ficar aquela coisa chata,
monótona. Alterne muito as coisas que você está fazendo, para o
paciente não te achar a(o) fono chata(o).
Tudo o que o paciente não faz você tem que treinar, porque são
habilidades que ele sempre teve, o cérebro é capaz de reaprender.
Não tem mistério, o que tem é pre-gui-ça! E você não é uma pessoa
preguiçosa, porque se fosse, não teria chegado até essa parte do livro
digital. Você leu tudo até aqui, estudou, está com disposição para
aprender e fazer um trabalho melhor. Então, agora é só colocar em
prática.
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