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CASTAS, ESTAMENTOS
E CLASSES SOCIAIS

Introdução ao pensamento
sociológico de Marx e Weber

3ª edição revista

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~ICIlI\ CATALOCRAfIC~ f.l~KORAl)A rUA


BIKI.JOTF.CA CENTRAI. DA UNICAMP

HitJnó'.Sedi.
H613c CJSIJS, eSlamCntOs e.t't~s'ses's'óCia'is-'::':' i'nlrõâ'ü'çio'"
ao pensamento sociológico dc Marx e Weber /
Hirano. Sedi. - 3~ cd. - CJmpinas, SP: Editora 'da
UNtC."". 2002. .

I. Morx, l',rI, 1818.1883. 2. Wcbcr, Marx, 1864.


1920. 3. Classes sociais: 1. TílUlo.

çP.P c..J.46 ..3


ISBN 85.268-0612.2 - 30'1.44

índices para catálogo sistemático

1. Marx, Karl. 1818.1883 146.3


2. Wcbcr. Marx,'i864.19Z0 146.3
3. Classes sociais 301.44

Copyright @ by Editora d, UNtCAMP. 2002

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CAPíTULO 3
~. . .
\""'LASSES SOCIAIS: DA MONARQUIA
, .
ABSOLUTA AO CAPITALISMO MODERNO

COmo vimos, enquanto Weber parte da ordem


social para delimitar o conceito de estamento, no que se
refere às c/asses, comoveremos, o pOiltO de partida básico
é a ordem econômica: Por outro 'lado, para Marx, o modo
de produção feudal é que define as relações sociais de tipo
estament:tl, ou seja, a produção soéiai de tipo feudo-
esta mentaL E as classes sociais se definem com o surgimento
do modo de produção capitllista moderno, do Estado mo-
derno, da propriedade privada, da divisão social do traba-
lho racionalmente desenvolvida, df) mnr!o de a~ropriação
do trabalho e dos instrumentOs de trabalho (ou seja, os
meios de produção) e do tr:1balho assalariado. Neste capí-
tulo pretendemos, a partir das perspectivas weberiana e
marxista, discorrer sobre os conceitos e as noções-chave, os
',quais envo,lvem'a discussão dos' elementos essenciais que
compõem as definições, respectivamente. de classe e classe
social (em seu grau mJximo de generalidade, de um lado, e
especificidade histórica, de outro). Entendemos por pers-
pectivas marxista e weberiana apenas as colocações teóricas-
contidas nas obras de Marx e Weber, não abrangçndo os
seus seguidores teóricos. '

JOI
-J)

Qyando Weber se refere a classe, está pressuposto


.'
....
que
a) certo número de pessoas têm em comum
um componente causal específico em suas .'
oportunidades de vida, e, na medida em que
b) essecompoi1enle hepresentado eXclusiva-
mente pelos interesses econômicos da posse
de bens e oportunidades de renda, c) é repre-
sentado sob as condições do merodo de pr~
dutos ou do mercado de trabalho.

Em outras palavras, segundo o autor de Economia


e sociedade, esses
pontos sereferem à situação de classe,que po-
demos expressar sucint3mel1te como a opor-
lunidade típica de uma oferta Je bens, de (011-
diçõe.sde vid3 exteriores e experiências pessoais
de vida, e na medida em que essaoportunidade
é determinada pelo volume e tipo de poder
(ou pela {~itadeles)de dispor de bens ou habili-
dau~s em beneficio ua relida de uma uetermi-
nada ordcmeconômica. A palavra classe se
refere a qualquer grupo de pessoasque se en-
contrem na mesma situação de classef

Asgttegorias bási!=as que definem as situações de:;


classe são proprietários e não-proprietários, ou seja, "a for-
ma pela 'quafa' propriedade é distribuída entre várias pes-
soas, que competem no mercado com a fmalidade de troca,
cria, em si, oportUnidades específicas de vida, o que consti-
tui um fato eCOl!9J11ico~astante elementar".2 E, dentro des-
; ;. : . '-".
: -/ ,.

ta distinção, h~um outro aspecto que qualifica as situações


de classe: "De um lado, conforme °
tipo de propriedade
102
"\ i

utilizável para o lucro; de outro, conforme o tipo de servi-


ços que podem ser oferecidos no mercado".~ Em seguida,
Weber enumera os diversos tipos de bens inóveis
. . .-
eirrióveis
materiais que a classe proprietária pode usufruir ou pos- .
suir~ e afirma que a conotação genérica do conceito de
classe é "o tipo de oportunidade no mercadd' .. sendo "o
mOfí?ento decisivo que apresenta condição comum para a
sorte individual", arrematando conclusivamente: "Nesse
sentido, situaç/io de classe é, em última análise, situação de
mercado". E exemplifica: .......mm_m.

o efeito da simples posse,por si, que entre os


o
criadores de gado coloca escravo ou o.ser-
vo sem propriedades nas mãos do dono de
gado, é apenas um precursor da verdadeira
formação de classe, Porém, quando 11mgru-
po de peSSOé!Sé descartade, por convenções
ou por leI;das oportunidades de usar c?m seu
beneficio os bens e serviços no mercado,
como acontece com os escravos. em termos
técnicos n/ia são uma ucl,1sse", nws.um
u ."4
est.1menlo '.

Em suma, no entender de \Vebcr, "o fàtor que cria


'classe' é um interesse econôn1ico claro,. e na 'yerdade, ap~
nas os interesses ligados à existência do mercado". No que
se refere ao, "grau, no qual a 'ação comunitária' e possivel-
i

'mente a 'ação societária' surgem das 'ações de massa' dos


membros de uma classe, ele depende de condições cultu-
rais gerais, especialmente as de tipo intelectual". Portanto,
estas ações são cond~cionadas e, conseqüentemente,

os resultados da situação de classe precisam


ser claramente reconhecidos, pois somente

103
.,

então ocbntrasté das oportunidades de vida


poder~ ser considerado não como umdado
absoluto a sei açei'to, mas comoresultanú:: .
a) da distribuição de propriedade eXistente,
ou b) da estrutura da ordem econômica con-
creta.

SegUndo Weber, {)eXemplo histórico desta última


é "a situação de classe do 'proletariado' moderno", e temos
os exemplos da' pri~'neira"excepcionalmente nítidos e
evidentes nos centros urb;Jnos da Antiguidade e durante a'
Idade Média", especialmente, neste último caso, "quando
foram acumUladas grandes fortunas pelo monopólio de
rato docoméfcio de produtos industriais desses centros ou
do comércio de COniestÍveis".5 Encerrando as dtaçÔesd~~" .
Ensaios de sociologia, acrescentaremos: "Os atos comuni-
tários que deter'minam diretamente a situação de classe do
trabalhador e do empresário são: o mercado de trabalho, o
mercado de prod~tos e a empresa capita!ista".6 Estes trechos
evidenciam apol~-historicidade ou a anistoricidade dos con-
ceitos weberian'as~ UI~a V~ que a classe, como uma detcr-
~nindJa ordenação social das ;',ç3;:,; humanas, ~:::ma pro-
babilidadede ser localizável nos diversos períodos da his-
tória humana.: Antiguidade, Idade Média, Moderna e Con-
A . .
temporanea. . .
Em síntese, a estrutura de dasses para .Weber é deter-
I 01. ." #

minada pelo mercado e a situação de dasse é a situação no


mercado. A palavra '''classe" refere--se ao grupo de pessoas
que se encontram na mesma situação no mercado ou na
mesma situação de classe. Outro elemento, e o sentido que
Weber lhe ~mpresta o toma quase uma instância indepen-
dente, é a ordem econômica, ou seja, a matriz geradora da .
situação de classe. Nesse ponto, Weber é incisivo: "o interes-

104
se econômico claro" e, apenas, os elementos ligados à existên-
cia do mercado "criam" classe. As ações e relações sociais no
mercado de trabalho, no mercado de produtos ena empresa
capitalista determinam a situação de classe do trabalhador e
do empresário. Finalmente, deve--seacrescentar que Weber
distingue as três ordens: econômica, social e jurídica. Esta
última influencia diretamente a distribuiçao do poder, tanto
a que emanado poder econômico quanto a de qualquer
outro (poder esta mental ou, ainda, daquele poder que emer-
ge em conseqÍiência dos rituais religiosos próprios da forma-
ção soCial de~astas). Cbnseqüentemente, Weber define a or-
delD.soc/al, já vimos, como "a forma' em que se distribui a
'honra' social dentro de uma ,comunidade entre os grupos
típicos". Por outro lado, a ordem econômica é apenas "a
maneira pela qual os bens e serviços econômicos são distri-
buídos e utilizados". Obviamente, "a ordem jurídica é con-
dicionada em alto grau peia ordem econômica", repercu-
tindo por sua vez nesta última. Finalmente, â ordem jurídic1
é antes um f:,tor que "pode garantir tanto o poder como a
existência da honra", não sendo a causa primeira mas so-
mente um suplemento que aum~nta as p;'Jhabilidades de
sua posse, nem sempre assegurando-a (a pàsse do poder ou
as probabilidades de sua posse nas ordens econômicas e
social)? Estas distinções permitem afirmar "q.ue as 'dasse.~'
têm seu lugar genuíno (em termos de probabilidade) na
ordem econômic1 e os estamentos, na ordem social, ou seja,
na e~fera d~ repartição da honra; influindo sobre a ordem ,-
jurídica e sendo afetadas por elas; os 'partidos' se movem,
primariamente, dentro ela esfera do poder".8 Para os nossos
propósitos, basta enfatizar que a honra e a ordem social
tipificam, esquematicamente, os estamentos, os interesses
econômicos claramente ligados ao mercado; ou seja, a or-

105
dem ecofl(Jmica;.tipificam as classeS.Antes de finalizar, resta
. mencionar' quantas são as classes para Weber, e quais os cri- .
.tériosque diferenciam uma classe de outra, e ainda, no con-
junto, salientar aS classes médias.9.
Nos pressupostos que distinguem a classe, Weber
enumerou três caracteríSticas que já citamos: a) determina-
dos grupo,', de pessoas possuemein comum Um compo-
nentecausal específico em suas oportunidades de vida; b)
esse componente é representado exdusivamente pelos interes-
ses econômicos da posse de bens e oportunidades de rend,1;
c) é representado sob as condições dos mercados de pro-
dutos e de trabalbo. 'Nesta enumeração, o elemento que
insere grupos de pessOas numJ ou noutra classe são a poss~
de bens e opo~tunidades determinadas pelo mercado. Em
outras palavras, as distinções ou os 'limites' de uma classe
ocorrem no âmbito da distribuição, e as classes S30 três:
classe proprietária,. c:lasse'lucrativa e classe social. Na pri-
meirJ, a situação de classe é determinada pelas diferenças
na posse de pmpriedades; na segunda, ~ classe lucrativa, é
determinada pela probabilidade de valorização de. bens e
serviços 'no mercado; e,finalmente, ã I.-LiSSe soâJI, pela
"totalidade daquelas situações de classe entre as quais um
intercâmbio, a) pessoal b) na sucessão das gerações, é fácil
e pode ocorrer .de, umrpodo típico".1O Logo em seguida,
Weber afim~a: .. '. ' '. .' ' .
.' .
A pa~tir destas três categorias de classe po-
dem surgir processos de [...] (associação de
. classe). Porém, não é necessário que isto ocor-
ra; situações de classe e classe somente indi-
. cam, em si, o fato de situações típicas de in-
teresses Íguais (ou semelhantes), nos quais.
se encontra o indivíduo junto com os ou-

106.
. tros. o poder de disposição sobre as distin-
. tas espécies de bens deconsúmo. meios de
produção, .pàtrimônio, ineiàs lucrativos e
serviçoscôhstitui. em teoria, em cada caso,
. uma situação de classe particular; porém,
unicamente os carentes de propriedades e
.totalmente sem "qualificação", obrigados a
ganhar sua vida por seu trabalho em ocu-
pações inconstantes, formam uma classe
• ••••••••
homogênea.
• ••••••••••••••••• o ••••••••••••••••• ~ •••••••••••••••••••••

Ainda, no entender de Weber, "o trânsito de um~ a


outra classe é lábil e mais ou menos f.kil, e. portªntQ.ª
unidade .das c1as~es'sociais' se manifesta de modo diverso",1I
Em suma, a situaçãode.cad.adasse particular é
. Hdeterminada pela posseóúpélãdistribuição dos bens eco-
nômicos no mercado. A categoria posse de bens econômi-
cos servirá como um instrumental avaliador da determina-
ção da situação de eiasse dos gru pos sociais, aV11iaçãc ';:sta
que se faz em termos dicotômicos: posse de propriedade
(no sentido genérico da palavra) e ausência da posse de
. propriedadt'.
E, nos interstícios, o autor de Economia e sociedade
coloca a classe média. Em vista disso, o ponto de partida
para as distinções de classe são os privilégios positivos e
negativos. que ele emprega tanto para a 'classepmprietária
como. para a classe lucrativa.
Depois destas considerações preliminares, Weber
indica que "a significação primária de uma classe pmprie-
tária positivamente privilegiada reside" na monopolização:
a) da "compra de objetos de consumo de preços elevados";
b) das vendas de forma monopolística e politicamente plane-
jada; c) das "probabilidades de formação do patrimônio
por intermédio dos excedentes não €cll1sumidos"; d) das
107
" I

"probabilidaqes: de formação do Capital por meio da paU" ,


" pança, busej~ a probabilid~de de fazer inversões de patrimônio,
como capital de investimento (empréstimo), e com isto dispor '
de Posições diretivas (de empresa); e) finalmente, dos "priVilé-
gios estamentais (de educação), na medida em ql!e são
,dispendiosos", 12
Por outro lado,

as classesproprietárias positivamenté privi-


legiadas são tipicamente os "rentistas" de:
a) escravos (proprietários de escravos); b) ter-
ras; c) minas; d) instalações (proprietários de
instalações de trabalho e instrumentos); e)
Ú9Jª?mercantes (navios); f) créditos em
gado, colheitas e dinheiro; g) valores. 13 '

As classes proprietárias negativamente. privIlegia-


d.u,segundo Weber, "são tipicamente: a) objetos de pro-
priedade (os servos), b) déclassés (proletarii no sentido dos
antigos), c) os devedores e,finalmente,d) os 'pobres' ".14.
Entre estas classes dicotômicas, estão as classes
méJús, que :>dO "integradas
-
por camadas dé toda espécie
... - dos
que, equipados' com propriedades ou com qualidades de
educação", beneficiam-se delas para aobtençjo de rendi-
mentos; e; algumas destas; 'em certas circunstâncias, podem
ser tambémdasses lucrativas "(empresári?s positivamente
privilegiados; proletários negatiyamente privilegiados), não' o
, ,

sendo, porém, todas (camponeses, artesãos eempregados)".ls


Deve-se realçar que, segundo o modo de compreender anali-
ticamentea realidade social, a esquematização teórica de
Weber, em termo~ dicotômicos, não pressupõe'uma articu-
lação dinâmica entre os pólos das classesproprietárias puras,
ou seja, a articu1ação entre os que são positiva e negativamen-

108
..
-, \-

te privilegiados no mercado "não conduz necessariamente a


lutas de classes e a revolução de classe" (em alguns casos; em
vez de ocorrerconf1ito e ltit~ de cÍasses, pode haver em seu ..
entender, solidariedade entre elas). Por outro lado, as opo-
sições entre as classes

,dos proprietârios d.eterras e Os décl;;ssés(de5~


classificados), credores e devedores podem
levar a luta.ç revolucionárias, que, não obs-
tante, não se propõem necessariamente uma." ... -... .. _...._.
transformação da constituição econômica,
.porém, primariamente, o acesso à proprie-
dade e à distribuição da mesffi:t(revoluções
.de dasses proprietárias).'6

Na tipologia classe proprietária pareceu-nos que


Weber, ao construir o úpo iáeal como moJelo de com-
preensão da realidade, baseou-se nos exemplares empíricos
extraídos da formaç30 social concreta precedente ao capita-
lismo moderno, enquanto, na caracterização da classe lucr,1-
tiva, o tipo ideal elaborado por 'X~ber se ajusta, preferencial-
menie, à compr~ei1são da formação social concreta do capi-
talismo moderno.17 É o que podemos depreender da parte
. referente à classe lucrativa de Economia e socÍed2de - apesar
de ser bastante sumária a caracterização desta classe, come
. . .
veremOS a seguIr..
-Para Weber,

a significação prim~ria de uma classe lu-


crativa positivamente privilegiada reside
no: a) monopóll.o da direção da produção
de bens visando aos fins lucrativos de seus
próprios membros; b) o asseguramento das
oportunidades lucrativas influindo na po-

109
,
.. ,

lítica econôrriica das associações, tanto polí-


, ticas com~ de ouúo tipo., '

'Portanto, aqueles que detêm os fatores de produ-


ção em termos monopoHsticos, restiltando daí as classes
lucrativas positivamente privJJegiadas,são tipicamente os
empreendedores, ,ou' melhor,

, os cmpresários."a) comefçi~D.te~,b)ªrmª:
dores, c) industriais, d) agrícolàs, e) bànqúei-
ros e financistas ~ e, em determina'das
circunstâQ<:~a.s,'f) "profissionais liberais"
com capacidades ou formação de valor prefe-
rencial (advogados, médicos, arti~~~s),g) os
trabalhadores com qualidades mono-
polísticas (próprias ou adquiridas).

,Em contrapartida, teríamos as classes lucrativas


negativamente priVIlegiadas que "são tipicamente trabalha-
dores em suas espécies' distintas qualitativamente diferen-
ciadas: a) qualificados, b) semiqualificados, c) não-quaJifi-
cadc;.:; ou, (tiabalhaJore.s) braçai~"., E, nos interstícios dos
pólos positiva e,negativamente privilegiados (ou, conforme
as pa J ayras de, wi
vveb"er, nomeIO. "), " se encontram, tam b'em
como classes médias, os camponeses e é!rtesãos indepen-
dentes. TIi adem~is, freqüentemente: a) funcionários (públi-
cos e piivados),b) os citados na categoria f" (profissionais
liberais) i'e os tr~balhadores c~m qualidades monopoJfsticas
excepcionais (próprias ou adquiridas)".18
, As características apontadas por Weber na elabora-
ção do 'tipo ideal de c1asúducrativa derivam, basicamente,
do próprio adjetivo quaÍi6cativo aposto ao substantivo classe:
lucratj~a (isto é, como ,exploração racional). Se, de um

110
..

lado, a sistematização da classe lucrativa é demasiado su-


mária - na medida em que ocupa apenas meia página quan-
.dado tratamento do tema no capítulo "Estameritose das- ..
ses"-, de outro, no contexto de sua obra e, mais precisa-
. mente; em Economia e socÍed:lde, não o é, pois àquele
capítulo deve-se agregar o que se discute em "Categorias
sociológicas fundamentos da vida econômica". Neste últi-,
mo, depreende-se o sentido. que este autor empresta ao
termo luCrativo, no contexto da economia: "A economia
luáativa se realiz;l completamen'te por m~io de contratos
de troca, ou seja; de aquisições planejadas de poderes' de
disposição. (Através destes, surge a relação com o 'direito'.)".
E, linhas adiante, acrescenta: "As g,'lranúas jurídicas não são
logicamente necessárias".19 Posteriormente, Weber distin- .
gue a ,1{ividade lucrativa da exploração lucrativa. A primei-
ra existiria quando a atuação dos sujeitos objetiva, como
fim, apenas a a4uisição de bens (dinheiro ou bens naturais)
não possuídos por eles. A segunda, a exploração lucrativa
ou, como \Veber denomina, a explorarão lucrativa de mer-
cado, corresponde

a uma classe atividade [...] orientada de um


modo contínuo pelas probabilidades de mer-
cado, na medida em que, empregando bens
como meios lucrativos, obtém dinheiro: a)
pela produção e venda de bens solicitados,
ou b) mediante a oferta de-serviços, seja por
intermédio da livre troca ou por intermédio
da utilização de probabilidades :1propriadas,
como nos casos já indicados. No sentido des-
ta terminologia, não representa atividade
lucrativa de nenhuma espécie o titular de
rendas, qualquer que seja a racionalidade
com que administre sua propriedade.
111
..

Por fim, define forma lucrativa como a "grande


exploração racional" .20. .' .
'.Em suma, tanto ~s características da significação
primária da classe lUcrativa quanto as categorias sociais po-
sitiva ou negativamente privilegiadas, bem como as caracte- .
rístÍcas das Classes médias, são tipicamente, em termos .d~
explicação teórica, mais adequadas ao capitalismo moáer-
no. Por exemplo: na classe lucrativa negativamente privi1e-'
giada, temos os trabalhadores qualificados, semiqualificados .
e não-qualificados ou braçais; por outro lado, na classe pro-
prietária negativamente privilegiada temos, segundo a classi-
ficação de Weber, os objetos de propriedade, que são os
servos e os escràvos, os déclas$és (portanto; os marginais,
social e eccmomicamerite); os devedores e os pobres. Estes.
elementos que' compõem a classe proprietária negativamente
privilegiada são hiswricamente mais freqüentes nasfases an-
teriores ao capitalismo modemo, ou seja,com ressalvas,exem-'
piares 'empíricos possíveis na época do capitalismo comer-
cial e colonial. Hobsbawm trata esta épo61 histórica com o
conceito de capitalismo' rnercantilistJ ou mesmo capitalis-
mo feudaL na livlo £n tomo a los oÚ2enes de la revoJuClón
industrial, já citado, na parte referente a "La crisis general de"
la economía europea 'en 'el siglo ).,'VII" pp. 23-25.
I

Q1anto à class~:soeial, como já salientamos, esta


denominação se refere "à totalidade daquelas situasões de
das se ~tre as quais um intercâmbio pessoal na sucessão das
gerações é fácil de ocorrer de um modo típico". Para melhor'
compreensão deste enunciado teórico, retomemos as defini-
ções de Classe propiietár"Ía e classe lucrativa. A primeira é
determinada pelas diferenças de propriedade e' a segunda, -
pela probabilidade' dé valorização de bens e serviços no mer-
cado. Esta última probabilidade é que, fundamentalmente,

112
'.

caracteriza a situação de classe. A primeira determinação da


situação de classe --.,.a propriedade - é substantivamente di-
versa da segunda-,ptobabilidade de valoriZar bens e serviços .".
na mercado. Na classe proprietária, partimos de uma situa- .
çãa efetiva, determinando esta a situação de classe - um
conjunto "de pessoas se subdividem em proprietários e nãO-
proprietários; enquanto na dISSe lucrativil o tcrmo prob<1-
biJid.1de nos propicia aventar que as pessoas pertencentes a
..esta classe possuem raciocínio ou capacidade de abstração
lógica,'adeqüàildoós"meiOs aos objetivos .. Os objetivos se-
riam os tuc~os(probabilidade de valori~~ção) c, para perse- .
gui-los, baveria, como condição sine qua non, a necessiºaº~
de aferir as diversas alternativas .e,dentre as probabilidades.
analisadas, optar por aquela que propiciasse um grau máxi-
mo de eficácia, isto é, a val6fiiaçaó calcu bda cios bens e
serviços no mercado ..Em suma: a diferença essencial é quc,
num caso, temos uma situação cfétiv:J.e, noutro, probabili-
dade calculada.
Na medida em que \Yleber exclui, na caracterização
da classe proprietária, o termo probabilidade e valoíÍzação,
fixalldo-se unicamente na diferença de propriedade, admite'
que esta classe aloja em seu seio tanto aqueles que agem
racionalmente como aqueles que agem com alguma dose de
irracionalidade - é o que vimos páginas atrás, quando nos
referimos à atividade lucrativa e à exploração lucrativa,' em
relação. às qtlais afirmava: "Não representa atividade lucra-
tiva de nenhuma espécie o titular de rendas, qualquer que
seja a racionalidade com que administre sua propriedade".
O que nos conduz a reiterar: há uma correlação lógica ou
uma articulação entre os tipos ideais de classe lucrativa e
.
capitalismo modemo,ll e, .também, entre a classe proprietária
e o capitalismo comercial Por exemplo: a) na classe lucrativa

113
positivamente privilegi'ilda, temos os empresários (indus-
. triais, comerciais, financeiros, agrícolas etc.);b) na classe lu- .
crativa negativamente.privilegiada, encontramos trabaiha- .
dores de qualificação diversa; c) na classeproprietária posi- ..
tivarhente privilegiada entram os rentistas ou os proprie- .
. tátios (de servos, escravos, terras, minas, instalações de tra- .
\
balhoe instrumentos etc.); d) por fim, nas classes proprietá-
rias negativamente privilegiadas, encontramos os servos,
çf~çJ:!JJ.~$,_d~edorese pobres. Acrescente-se que estas últi-
mas se referem praticamente à fase do protocapitalismo, ou
seja, ao período cronológico precedente ao capitalismo mo- .
derno.22 E, mais ainda; há uma conexão, porém nãoneces-
sária; entre capitalismo comercial e classesproprietárias e a .
sociedadeeSlameDta/;-Eisa afirmação de Weber: "Os
. estamentos, devido ao seu centro de gravidade, se formam
freqüentemente por classes de propriedade". Concluímos
daí que a classe proprietária é ;:. que conserva em maior
grau as características da sociedade estamentaJ, tais como a
marca de convcllciànal, "ordenada pelas regras de estilo de
vida, elaboral1'do desse modo as Condições de consumo
economicam::nte irracionai:; e impedindo a constituiç3.o
do mercado livre pela apropriaç5.o monopolística e pela
eliminação da livre disposição sobre a 'própria capacidade
aquisitiva".23 Esta é; :em parte, uma das características do
capitalismo mercantilista ou monopolista (ver capítlllo lI,
parte referente. a Weber - 'onde discutimos estamen to e'
o~ganizâção econôrnica, patrimonialismo e a peculiaridade
geral de sua administração).
Esta reiteraçãótorn6u-se necessária para o esclare--
cimento do Conceito de 'classe ~ocial em Weber, na medida
em qüe, na definição, este autor ressalta três componentes
típicos: situação de classe - determinada pela situação no

114
..
' .. ..

mercado- intercâmbio pessoal e sucessão de gerações. O


primeiro componente é diferencial tanto em te.rmos his-
tóricos qu~nt6 anistórÍcos: A sua anistoricidade é conceitual
e, nesse sentido, é um conceito-instrumentoda sociologia
sistemática que engloba as seguintes caractensticas de classe
(sem o adjetivo social) : .

a) um conjunto de pessoas possuem um


componente causal específico de suas opor-
tunidades de vida; b)esse componente é re-
presentado eX:c1usivament~ por ínteresses
econômi~?~!!~poss~de bens e oportuni-
dades de rendimentos, e c) é representado
sob as condiçÕes do mercado de produtos
ou do mercado de trabalho (já citamos esta
passagem).

o componente histórico é mals de ordem lógico-


formal do que empíri,ca e consiste na diferenciaç3.o típico-
ideal entre classes lucrativas e classes proprietá.rias - sendo as
. primei~~s racionalmente puras e as segundas, racionalmente
impuras. Neste sentido, :l ordem crnnô:mÓJ r;lle define as
classes sociais em classe proprie:túia e classe lucrativa
determina tipos sociais diversos em classes de conteúdos
. diversos, na medida em que os critérios são diver?os - dif~ .
renças de. propriedade, num caso, e probabilidade de valo-
rização de bens e serviços no mercado, noutro. Qyanto aos
,.,
componentes intercâmbio social e sucessão de gerações (even-
tos sincrônico-diacrônicos), são interdependentes e, portanto,
resultantes dos processos ç1eação e relação social, em termos
de regularidades de freqüência e seqüência, referindo-se às pro-
babilidades de compreensão e de conduta, ou seja, aos aspec-
tos propriamente sociais da classe. •

115
..

Isto posto, examinemos o texto de Weher no que


se refere às classes sociais:

São classes soe/ais: a) o proletariado em seu


. . .' .
. . . .,. .
conjunto, tanto quanto maIs automatlco
for o processo de trabalho, b) a pequena
. burguesia, c) a intelJigentzia seul proprieda-
de e os esp'ecialistasprofissionais (têcnicos,
"empregados" comerciais ou de outra clas-
se, burocratas; eventualmente podem estar
bem distantes entre si, em relação aos custos.
da'educação), d) as classes dos proprietários e
dos privilegiados pela educação,24

Nesta claSSificação,as três. última~ categorias sociais'


chamam-nos a atenção pelo seguinte: a) a separação em d~;~s
(não seriam "estratos" de .classe?) das co~trovertidas classes
médias (pequena burguesia e intelligcntzia sem propriedade
e especialistas profissionJis), uma vez que já as havia deno-
minado classes médias, quando tratou da classe proprie-
tária e da classe lucrativa; h) o fato de incorporar a classe
lucrativa positivamente privilegiada no item d (as classes
proprietárias e ospriviiegiados pela eciuc::ação),embora que,
talvez, Weber as conceitue nl? sentido genérico e não no
.específico .. Esta. impressão se solidifica quando. nos depa-
ramos con\ a observição do plóprio Weber sobre a obra O
capital, de Marx"referindo-se especi41mente aO'pr9blema da
"unidade de classe do proletariado". Ao completar a obser-
vação, Weber, tece considerações sobre o problema da m.o-
bilidade sociaL Vejamos:
-
O trânsito à pequena burguesia independen-
. te foi,outrora o ideal de todo o trabalha-
dor. Porém, a possibilidade de sua realiza-

116
..

l
i:
ção é cada vez mais restrita. O mais f~cil na .
série de gerações é a ascensão de a (prole-
...
tariado) como deb (pequ.ena hurguesia)à
classe social c (/ntelligentzia e esp~cialistas
profissionais). . .

A classe c "oferece oportunidades aos empregados


. de bancos c companhias de. ascender à d (proprietários)".25
Estas observações enfatizam os processos sociais de ascen-
.........___~~o na sucessão das gerações - e, em parte, isto é possível
porque o proletariado, em vez de fonnar. uma unidade de
classe, é qualitativamente diferenciado (todos os ~xemplos
são retirados da sociedade da qual Weber participava, em
que as probabilidades de ascensão socia I eram re1ativamen-
tene~íy~i~;devidoao grande desenvolvimento econômico
na Alemanha pós-bismarckiana).
Em seguida, fina!iz:l.Ilcio o as~u nto, Weber aborJa
sumariJmente o problema da "conduta homogênea dp. clas-
se", acrescentando que ela ocorre com a máxima faciJiJade
nos segulI1tes casos:

a) contía os imcrl;~tos riV;i;<em interesses


(proletários contra empresários, porem nào
contra os acÍonist<Js,que são os que na rea-
lidade recebem rendas sem trabalho, nem
tampouco campontscs contrá latifundiá-.
rios); b) somente em situações de classe tipi-
camente semelhante e em massa:. bl) em caso ;..

de possibilidade técnica de uma fácil reu-


nião, especialmente em comunidades de tra-
balho localmente determinadas (na fabrica),
b2) somente no caso de direção com objeti-
vos claros, que regularmente são dados ou
interpretados por pessoas não. pertencentes
à classe ("intelectuais").26

117
l
, Na parte referente à análise dos estamentos, Weber
, realiza a seguintesíritese comparativa: "Uma ~odedadecha-
. ma-se estamental quando sua' articulação social se realiza
preferencialmente segundo estamentos, e c/assista quando
sua articulação se realiza preferencialmente segundo classes"
(até aqui, a colocação weberiália é indiscutível, simplesmen te
porque é tautológica). Porém; logo em, seguida; completa:
"A mais próxima ao 'estamento' entre as 'classes' é a 'so-
cial' e a mais' distante,a'lucrativa'.Osestamentos, devido
ao seu centro de gravidade, formam-se freqüentemente por
i
classes~e propriedade ':27 Em termos de ocorrência de even-
tos sociais,' a 'articulação probabilística por aproximação
entre os tipos ideais dasseproprietária c estamentose entre
séries ideais (no nível lógico-formal) e sérieiieaiS{ri6 riível
empírico ou da manifestação fenomênica) é logicamente
admissível e, por ,conseguinte, também é válida a relação
inversa,por distancÍ<!mento, entre classelucrativa e est<imento.
O que é qiscutivel é aidação de aproximação entre e.stamen-
to e classe social, pela falta de suporte teórico desta última,
Ou seja, isso equi~;~i~~admitir que o proletariado (uma'
Catego~iãda classe social, pois os operários têl1iqualificações
diver~as)em seu' cOl;tiunto,de uma forma ou de outra, recla-
me de modo ~fetivo "UIna consideração estamental exclu-
siva" de honra social ou "um monopólio exdusivo de cará-
ter estamentar'.28
.
Se issoocor~esseJ
....
ós conceitos
'.
de classe
sOCÍ'al, e ,estamento perderiam as suas características singu-
lares e'~eriamconceitos homólogos. b~tode outro modo, o
proletariado preténde, de forma típica e efetiva, uma consi-
deração de honra social, ou estima social, devido ao seu
modo de vida, advinda 'da educação formal ou de um tipo
de prestígio 'he;editário ou profissional, que o definiria den-
tro de uma situação estamentaJ típica.29 Em parte, esta apro-

118
rf
1
.~
ximação teria alguma probabilidade de se tomar efetiva se
retivéssemos algumas características do comportamento
pequena. burguesia proprietária, de artesãos. e de cbnlerci~n-
da

:.;

':. .
tes, daintelJigcntzia e da classe dos proprietários e dos privi-
. legiados pela educação. Eni suma, o que torna esta com-
preensão da realidade por aproximação dos tipos ideais reti-
.cente e discutível é a própria detinição de Weber de clas~e
social: determinada pela situação de classe (ou seja, situação
!1?1?~~~~~<:>~_~<:>9ual a relação social é abstrata, formal ese
re(l.liza pela compensação. de interesses objetivando. fins, :io
contrário da situação estamental que é concreta, informal e
tem por finalidade a apropriação de honra social e estima -
prestígio social). Se aquela aproximação - estamento e classe
social- é válida também oéada
, ••••••• _•••••••
classe lucrativa com o
_•••.•••• o.. •• •

estamento.
De acordo com Florestan Fernandes, concluindo, a
sociologia wcbcriana não oferece "condições de ajustamento
intelectual do sujeito investigador à análise de fenômenos
dinâmicos em que a unidade investigada seja um sistema
social determinado que se transforma como um todo".JO
Para \Yfcber, há uma relativa independência entre 3. ordem
social e a econômica e, ao mesmo tempo, em certas circuns-
tâncias, ambas podem ser complementadas pela ordem jurí-
dica, selO. que uma tenha precedência sobre as demais. As.
três ordens - econômica, social e jurídica - não estão neces-
sariamente articuladas como um todo. A geratriz da forma
social esta~ental é sempre, para Weber, a honra social, en-
quanto a forma social de classes tem por pressuposto básico
a ordem econômica.
Portanto, para cada forma social, temos um deter-
minante básico. Ademais, numa dada sociedade podem coe-
xistir tanto a forma dê castas, de estamentos, quanto a de

119
"
, ' .
classes; independentemente da ordem cronológica. Obser-
vc-se que a nãexontemporaneidade ocorre no nível dos
conceitos típiCo ideais; ao contrário das inst~ncias empífícas,
que são históricas por "natureza". Esta historicidade não, é
possível de ser captada a não ser ex post factuni, a partir
dos valores
. culturais
. -. e das tendências dominantes
.. . em uma
.

determinada época, uma vez que o acontecer histórico não


, , '

é um conjunto articulado, ordenado e lógico-racional; ao


contrário, é ele desc~~rd~nado, caótico e irracional. Entre os
""Tatores' iI)tervenientes nas múltiplas configurações da reali-
dade, não há~m que seja predomi~anteou dominante em
última instância. "
,Para a' sociologia compreensiva, pelo qudicou ex-
posto, o problema da, apterioridade ou posterioridade de
cert~sfo'r~as sociais é irrelevante. O relevante é o que o
investigador seIeci()n~como típico ou essencial par;t a sua
explicação teórica, e estes elementos, uma vez depurados
pela razão, transformam-se em tipos ideais, instrumentos de
interpretação. Conseqüentemente, o problema da transição
e da transforrilaçãosocial - do que precede ou do que suce-
de _. não é teoriCamente signific:::tivo p:::ra Weber. Já em
Marx, os trechos referentes aos estamentos, citados anterior~
mente, revelam uma preocupação teórica diametralmente
oposta. As dicotomias estamento-monarquia absoluta ou
Estado feudal e classes sociais-Estado moderno ou revo-
lução burguesa são problemas centrais na 'caracterização tanto
da es~tura social quanto da econômica' e da' jurídÍco-polí-
tica. O passo seguinte será uma tentativa de apreender o que
são as classes sociais no conjunto da obra de Marx.
Conceituar, deiimitar ou, ainda, definir o que se-
jam classes sociais dentro do conjunto da obra de Marx é
um empreendimento sujeito a múltiplas dificuldades teó-

, 120
I'
ricas. Em primeiro lugar, não há em Marx um estudo siste-
mático, teoricamente desenvolvido, daquilo que se poderia
entender 'porclassessbdais.31 Em segundo lugar,. asrefe-
rências encontradas em suas obras são esparsas, muitas ve~
zes por demais genéricas, outras vezes altamente abstratas
e, às vezes, têm a marca de suas especificidades. históricas,
com significação restritae historicamente determinada por.
uma dada formação socia1.32 .. . ...

Entendemos que a não-cliscriminação entre os di-


versos graus de abstração e os diversos graúsdeconcre-
ticidacle, ou ~ntre o emprego genérico-abstrato e o emprego .
específico-particular do termo~Ia.~ses sociais, resultou num
viés de interpretação, por seus epígonos, do significado
teórico do conceito de classe social, transformanclQum
conceito histórico e, portanto, determinado por uma dada
produção soci;l! ou por '..Im modo de produção social his-
toricamente determinado, em suas várias configurações e
dimensões sociús, em um conceito anistórico, invariável,
imutável e universal. A preocupação focalizada na abstra-
ção e na generalização, sem a devida mediação pela reali-
::bde saci::! historiGlmentc dad;;, tran::;fcrmou esse conceito
de tal modo que o fez permanecer ad infinitu111 na abstra-
ção geral, isto é, em vez de classe socÍal dete:mÍnad<1 por
formação histórico-socÍal particular, tr:wsform~u-a em clas-
se socÍaÍ em geral Na tentativa de elucidar ou, pelo menos,
levantar algumas hipóteses com relação a'estes aspectos'(que
entendemos serem de suma importância), em primeiro lu-
gar discutiremos a produção social em suas múltiplas deter-
minações, passando, posterionnente, ao arrolamento de al-
guns trechos das abras de Marx alusivos às classes sociais
(cabe reiterar que, quando tratamos dos estamentos socÍais,
estes se articülavam numa relação de precedência e sucessão)

121
.'

e, fmalmente, trataremos ainda do problema da consciên-


~.~~~ .. ' .. '

Nos mamiscritos de Marx denominados Grun"


.. ' .....

drisse der kritik der politischen okonomie, na "Introdu-


ção", encontramos a seguinte afirmação no que se refere à
produção social: "Indivíduos que produz,em em sociedade,
ou seja, a produção socialmente determinada dos indivíduos:
este é naturalmente o pOnto de partida" ,33 Qyando se trata
de produção, "está se falando Hsemprede produção num
estádio determinado de desenvolvimento social,da produção'
de indivíduos em sociedade", De um lado,

todas as épocasda produ"çãoapresentam cer- _-_ ....


...... '"'

tos traços em com\l.I11:~Aprodução em geral


é uma abstração, porém uma abstração que
tém um sentido, enquanto coloca realmente
.em relevo o que' é comum, f1xando-o c, JS-
.sim, poupanào uma repetição:Sem dúvida
_ prossegue Marx - o geral ou o comum,
extraído por com paraª(),~. por sua vez algo
cOmpletamentearticulado e que se desdobra
em Ji:;tintas deteúninaçõe:; (,,1

Algumas destas determinações' "pertencem a tod as


as épocas": são as determinações comuns ou gerais, Por
outro lado, outras: destas determinações "são comuns so-
mente a ~lgu~as;? Estas são as premissas do, conhecimento
científiCO: "Sem elas", argumenta Marx, "não se poderia
conceber nenhuma produção, pois se os idiomas mais evo-
luídos têm leis e determinações que são comuns aos me-
nos dêsenvolvidos, o que, constitui seu desenvolvimento é
precisamente aquilo que os diferencia destes elementos ge-
rais e comuns'.34 .

122
."-
"

f
~
H
"

"
Estes passos de investigação científica, delimitados
por Marx, mereceram restrição de Adorno, que afirma: "Num
"
',i.
pensador dialbtico como Marx, senti~os o" eco da divisão
"em estática e dinâmica". Prossegue Adorno: "

Nem mesmo hoje a sociologia"se desemba-


raçou totalmen te da dita divisão. Marx
contrapõe as leis nat~rai5 e invariáveis da
sociedade às específicas a determinadas fases
do desenvolvimento, o "maior ou menor
grau de desenvolviniento dos antagonismos
sociais" às "leis naturais e invariáveis da pro-
dução capitalista".

Prosseguindo a sua reflexão crítica, Adorno aGr-


ma que Marx, ao formular o seu pensamento,

recorreu [...] à idéia de certas categorias que


tenderiam a se eternizar em tudo o que para"
ele seria prf:...história, o reino d;}falta de liber-
dade, para somente transformar o modo de
sua manifestação na forma moderna e raci-
~__I:__..I_..I_-o~:~J~d" ..I-cl"-ss"-".tambe'm ~
Vl.lct.l..1L.<lUl.l U","" \...1.... ,::J ••• u\.. Cl \....,). _ V

5
trabalho livre é escravidão dosalário.J

A expressão "as leis naturais da produção capita-


lista", utilizada por Marx, tanto quanto o termo "determi-
nações comuns" ou" "gerais" peHencentes a "todas as"épo-
cas" e, portanto, segundo Adorno, "invariáveis, são, para
Marx, um dos pólos básicos, ao lado das categorias deno-
minadas determinações "específicas" ou válidas somente
para uma determinada época. Estes dois pólos são as pre-
missas básicas da teoria do conhecimento da realidade so-

cial em Marx. Esta divisão é um recurso analítico, e estes

123
,

são os dois momentos do processo de conhecimento. Em


. essência,are;tlidade social, no entender de Marx, nãô são .'..
somentedeterininações comuns ou univerSais, ou someil-
te determinações específicas:

Se nã0 existe produção em geral, tampouc"o .


existe uma produção geral. A produçãO é
sempre um ramo parlÍcuJarda produção-
y.g., a agricultura, a criação do gado, a ma-
-nufatura etc. -,ou então é uma totalidade.
Porém a economia política nãoé a tecnolo-
gia. OesenvoIver em outro lugªr IIJ.lªis
adiante) a relação das determinações gerais
. da produção, riuin estádio social dado, com
.........as fo~~;~p;~ti~~i~;~~ de produção. Final-
a
mente, produção também não é somente
particular. PeIo contrário, é sempre umOf- .
, gailismo social determinado, um sujeito so-
cial que atua num conjunto mais ou menos
amplo, mais ou menos pobre, 'de ramos de .
produção. Não cabe, taIJ1POUCO, examinar
aqui a relação entre a representação cientí-
fica e o. movimell~o real. Prodüção em ge-
raI. Ramos particulªres da produção. Tota-
I~dadeda produção.J6

Mais a.diante, em sua crítica aos economistas clás-


sicos e se referindo em especial if Mill G. St.), Ma"tx lhe faz
restrições por apresentar' .

~ produção, diferentemente da distribuição


etc.; co~o regid~ por leis eternas da natu-
reza, independentes da história, ocasiãci esta
que serve para introduzir sub-repticiamente •

as relações burguesas como leis naturais e

124
..

imutáveis da sociedade em abstrato. r..]


Pres-
cindindo da separação radical entre pro-
duçao edistiibuição e faZendo abstrilçãodt
. sua relação real, é evidente que, desde logo,
por diversificada que possasera distribuição.
nos diferentes estádios da sociedade, deve ser'
possível também para eia,tal como se fez'
para a produção, extrair osca racteres co-
muns, assim como é possível confundir ou
liquidar todas as diferenças históricas for-
mulando leis IJlimanas universais ..

Sintetizando, arremata:. .

................ -
Para
:.,( .- •....
-...
resumir:
.
todos os estádios da produção
..... tem caracteres comuns que o pensamento
fixa como determinações gerais, porém as
chamadas condições ge:-ais de toda pro-
dução nada mais são que êsses mementos
abstratos, que não permitem compreen-
der nenhum nível histórico concreto da
produção.J7
T"" '-," ••
estas proposlI;oes teoncas, essenCiaiS no peusamc:n-
to de Marx, evidenciam que sua metodologia não se resu-
me, em sua significação interna e contextual, numa sim-
ples divisão de caráter classificatório, em estática e dinâ-
mica, como AdS)fno parece sl~gerir.Parecem-nos,mais, "ecos
residuais" de uma linguagem em voga ao tempo em que
escrevia do que um referencial integrante de sua metodologia
e teoria do conhecimento. Pois que, como se evidenciou
nas diversas passagens citadas, tanto de estudos crÍtico-filo-
sóficos quanto de estudos crítico-políticos, bem como de
seus estudos crítico-econômicos, o referencial básico de Marx
é sempre a produção social de uma dada sociedade, histori-
125
camente determinada; e as categorias expliçativas são sem-
pre categorias históriças e transitórias, assim como o é uma
dada formação s.ocia!.Na "Introdução" d~obr~ Elementos
fundamentales para /,7 crítica de la economÍa política, Marx
faz restrições às formulações de Stuart MilI exatamente
pela sua aMistoricídade e imutabilidade,' o que, segundo
ele, justificaria neste autor a perenidade das "relaçõ~s bur-
guesas", que seriam regidas por "leis naturais e imutáveis
da sociedade em abstrato". Esta crítica não objetiva a incor-
poração posterior do que é criticado,integrando-o em sua
teoria ou metodologia. Ao contrário, a-crítica tem a finali-
daded.e.eSçOimar
.
nestas
.
e noutras formulações a mera abs-.
.tração, que paira apenas no nível da abstração, sem uma
adequada. confrontação com os Jatos ~traídos da realidade
social historicamen te referida.
A propósito, Marx considera "as chamadas condi~
ções geraÍç de: toda produção" apenas "esses momentos
abstratos que 11ão permitem compreender nenhum nível
histórico concreto da produção". Esta formulação dissipa
qualquer eto de divisão dicotômica da realidade ~m está~
tica e dinâmica, \lma vez que sendo "as condiçõe.~ gerais"
mera abstração ou momentos abstratos, estas.não são aspec-
tos da realidade em movimento, mas uma fase do projeto de
investigação,'uma formulação preliminar do investigador,
uma categoria-instrumento em que se ordenam prévia e siste-
• maticamente os compo~entes do modelp. teórico em seus
diversosJÍíveis de abstração. Ou seja; a produção social pres-
supõe uma organização social, uma determinada divisão do
trabalho, uma determinada relação social de produção e,
portanto, de cooperação, formas de propriedade e apropriação
do trabalho e' dos instrumentos de produção, uma deter-
minàda vinculação do. trabalhador à terra ou em relação à.
propriedade e aos instrumentos de produção etc. Estes e
126
. ~
!
I
outros elementos componentes são os referenciais do mode-
lo teórico denominado modo de produção e são as condi-
ções gerais da prodtiç~o s6cial, que Marx indic~ como as
determinações comuns perten~entes a todas as épocas. As
determinações comuns ou gerais são, portanto, os elementos
. que, pela abstração, .0. pensamento ordena e articula com o
.todo, c a chave c:;trutura! deste projeto abstrato de estudo é a
produção social em geral, como um momento de conhe-
cimento que se completa quando se articula com as deter-
minações
.'
espeCificas"deúmãdãdãformação social
.
histori-
camente determinada. E todas as formações sociais são histó-
f.Í<::a.s
e transitórias, o mesmo ocorrendo com as categorias
que as explicam, e estas não se ordenam em segmentos está-
ticos e dinâmicos.38 ......0

EStas discussões nos permite:m:desenvolver a ques-


tão relacionada ao fato de que, parauin determinado tipo
de produção social, encontramos um referencial típico de
ordenação das relações socÍ;]is e os grupos sociais efetivos '
ou potenciais de oposição. O nosso ohjetivo não é discutir,
. em cada modo de produção, quais os grupos efetivos ou
. potenciais de oposição, mas encadear em termos de suces-
são o seguinte: modo de produção, feudal e sociedade esta-
mental; modo de produção cé1pitalista moderno e socieda-
de de classes.
A articulação entre os elementos componentes do
modelQ, ,teórico denpminado modo de produção feudal
oU estamental e a determinação da estrutura social corres-
pondente já foi discutida quando tratamos de delimitar o
conceito de estamento. Retomaremos nesta parte do livro
apenas os elementos que servirão de apoio às nossas hipó-
teses de trabalho, qual seja: a estrutura de classes é um
fenômeno histórico-social determinado pela produção ca-
pitalista moderna.
127
Em A ideologia. alemã, vimos que "a posição que
os indivíduos ocupam" nos clifererltessetores da produção
. social "se: acha condicionada p~lo modo de explorar. o .
trabalho agríCola, industrial e comercial (patriarcalisnlO,
escravidão, estamentos e c/assesY'. Nesta formulação sinté-
tica, em nosso modo deerttender, as palavras patrÍarcillis-
mo, escravidão, estamf'ntos, d:dsses são os .referenciais defi-.
nidorcs de cada produção social e, como referenciais de-
finidores, disting(lem a estrutura estamental da estrutura
de classes, a prodl!ção que redunda em sociedade ordenada
estamentalmente da produção que determina as sociedades
de classes; No trecho acima, os termos correspondentes
são trabalho agrícola, iriduStrial e comercial articulando-se.
-, - de forma esquemática e numa análise forçada - a
estamentos e classes .. O trabalho agrícola se desdobrando,
dependendo "das diferentes fases do desenvolvimento da
divisão (social do trabal~o)", em "formas distintas da pro-
priedade [...J no tocante ao material, ao instrumento e ao
produto do trabalho", em formas sociais que redundam
em patriar~Iismoeesci~~idão.J9
Agreguemos Jl0V3S citações de trecho~ rle A ideo-
logi.1 alemã, dos quais poderem às depreender a especi-
ficidade
.. ,histórica
.
t2nto dos . estameiltos quanto
.
das classes
SOCiaIS:

. A difer~_nçado estamento se manifesta, cç>n-


eretamente, ria antítese de burguesia e pro-
letariado. Ao aparecer o estamento dos vizi-
. nhos das cida:des,as corporações etc., ante a
nobreza rural, sua condição de existência, a .
propriedade mobiliária e o trabalho ar-
tesanal, qu-e existia já de um modo latente.
antes de sua separação da associação feudal:
apareceu como algo positivo, que se fazia
128
valer diante da propriedade imobiliária feu-
dal, e isto ~xplicapor que voltou a revestira'
seu modo, primeiramente, a forma feudaL É .
certo que os servos fugitivos da gleba consi-
deravam a sua servidão anterior como algo
fortuito em sua personalidade. Porém, ao se
comportar desta forma, nada mais faziam
além dó que faria qualquer classe, ao se liber-
tar de uma trava, embora eles, ao agir desta
..forma,.não.seJibertassem.como classe, mas
isoladamente. Além doque, não se livravam
dos marcos do regime dos estamentos, mas
formavam um novo estamento e retinham
em sua situação seu modo de trabalho. ante-
rior, inclusive desenvolvendo-o,aoseJibera: .. ,
rem"de travas que já não correspóridiim ao
desenvolvimentO que se atingiu.

Prosseguindo a comparação:

Tratando-se dos proletários, ao contrário, a


sua condiç~o de vida, o trabalho, e com este
tod;1.Sa~ condições de existênci" da ~ocie-
dade atual, converteram-se para eles em algo
fortuito, no qual cada proletário de per si
não tinha o menor controle, e sobretudo
nenhuma organização social podia lhes dar
tal controle. A contradição entre a persona-
.' .
lidáde do proletário individual e stia con-
dição de vida, tal como lhe é imposta, isto é,
o trabalho, revela-se ante si mesmo, sobre-
tudo porque já se vê sacrificado a partir de
sua infância, por não ter a menor possibili-
dade de chegar a obter, dentro de sua clas- .
se, as condições que o coloquem em outra
situação.40

129
' ..

. No primeiro trecho, os estamentos têm um signi-


ficado. específi,co e s~ohistoricamente determinados, ..
enquanto a palavra classe,. ainda do primeiro excerto, rere-
re-se a qualquer classe, abstraindo-se dela o sentido históri-
.co-determinado. Já. nO segundo período, não é o campo-
nês, que se liberta da servidão, mas o proletariado o centro
da análise proposta por Marx. Neste contexto, a -palavra
classe adquire um significado historicamente determinado.
Mais ainda,oproletáriado referido pertence a uma deter-
minada faie de desenvolvimento do capitalismo moderno,
e, nesta, este não constituía lima classe para 51: mas uma
. classe em si: cada proletário era um proletário individual
. devido à ausência de qualquer organização social
Em suma, estamento e classe social não são ter-
mos que possuam ° mesmo valor simbólico, sendo, ao
contrário; pala~:-as que diferenciam, especificam e definem
as suas diversidades. A classe social é um produto d;} socie-
dade burguesa moderna: <CA diferença do indivíduo pessoal
com relação ao indivíduo de classe, o caráter fortuito das
condições de vida para o indivíduo, somente se manifes-
tam com o surgimento. (h classe.yueé, por sua vez. um
produto da burguesia" (já citamos este fré1gmento quando
tratamos dos estamentos sociais).
Passêmos agora, percorrendo. ainda as trilhas en-
cOlltradasemAideologla 'alemã, a demonstrar a articula-
o ção' entre o capitalismo moderno e a sociedade de cl~sses: .'

Na Idade Média, os vizinhos de cada cidade


. foram 'obrigados a se articular, em defesa de
sua sobrevivência, contra a nobreza rural. A
expansão dq comércio e o desenvolvimento
das comUnicações,impeliram fada cidade a
conhecer as outras e, na luta contra a mesma

130
..

antítese, fizeram valer os mesmos interesses.


Dos diversos grupos de vizinhança locais das
diferentes cidades foi surgindo, pa:ulati~
namente, a classe burguesa. As condições de
. vida dos diferentes burgueses ou vlzindários'
dos burgos ou cidades, incitadas pela re2ção
contra as relações existentes ou pelo tipo de
trabalho resultante destas, convertiam-se ao
mesmo tempo em condições comuns dos
vizindários e independentes de cada indiví-
duo. Os vizindários das cidades iam criando
e~tas condições ao se ~epararem d~s agru~
pamentos feudaisena '!1edidae~ que estes
. eram produtos d(lque!as condições, por Sl= en-
contrarem condicionados por sua oposição
ãofe~dalismo existente. Ao entrarem em con-
tato as cidades umas com as OUtr<lS,estas con.
dições comuns se desenvolveram até se con-
verterem em condições c1p. c1asst:: Idênticas
condições, idênticas antíteses e idênticos inte-
resses necessariamente tinham que provocar,
em todas as partes, com a mesma amplitude,
idênticos costumes. A própria burguesia co-
meça a desenvoiver-se pouco.a pouco com
.suas condições e, por sua vez, Linde-se, sob a
ação da divisão do trabalho, em diferentes
frações, 3bsOlvendo, por último, todas asclas-
ses possuidoras preexistentes (paralelamente,
faz com que a maioria da classe despossuída
que encontra e uma. parte da classe possui-
dora anterior se desenvolvam para formar
uma nova classe, o proletariado), na medida
em que toda propriedade anterior se converte
em capital industrial ou comercial. Os dife-
rentes indivíduos somente formam uma clas-
se enquanto se vêem obrigados a sustentar

131
"

uma luta comum contra outra Classe,e, além


disso, enfrentam-se reciprocamente, hostil-, '
mente, no plano dá concorrência. De outro
, lado, a classe sesubstantiva, por sua vez, ante
os indivíduos que a formam, de tal modo
, q).leestes já se encontram com suas condições
de vida predestinadas, recebendo de sua classe
uma posição determinada na vida e; ao mes- '
mo tempo, a trajetória de seu desenvolvi-
merlto pessoal, ficando sujeitos a todas as con-
tingências da classe a que pertencem. É o fe-
nômeno da absorção dos diferentes indi-
"íduos pela divisão do trabalho, e para eli-
miná-lo não há outra alternativa senão a
abolição da propriedade' privada edo pró-
prio trabalho. Já indicamos várias vezes
como ocorre esta absorção dos diferentes in-
divíduos pela classe, até se converter, ao mes-
mo tempo, numa abson,:ão por diversas re-
presentações.41 ,

A esta longa citação é esclarecedor acrescentar a


gIma m:;lrgi~,al de Man(:' A hurguesia "absó~e, de' i~íci0;
os ramçs' de 'trabalho diretamente pertencentes ao Estado
e, em seguida, todos osestamentos (mais ou menos) ideo-
lógicos", '
"

NeStainterpretação da formação da burguesia, Marx


.nos fornece. os elementos: condicionais, definidores e, '
diferenciais dasdasses ,sociais: a) os elementos condici~
nais são, em primeiro lugar, a desagregação do modo de
a
produção feudal e emergência do modo de produção
capitalista' moderho; 'em segundo lugar, a formação - neste
períodó de transição...:...de 'uma comunidade de interesses
polarizados pelas oposições efetivas ou potenciais da bur-
guesia e do proletariado em fase de gestação (posteriormen-
132
te, a oposição potencial entre eles se transforma em oposi-
.. çãoefetiva) contra a nobreza decadente; b) os elementos
definidores das classes sociais são as condições codJuns ou~ .
. como afirmaMa~: "Idênticas condições, idênticas antíteses
.e idênticos interesses", os quais resultaram, em todas aS par-
tes em que houve aqueles elementos condicionais, com a
mesma. amplitude, em "idênticos costumes", e, posterior-
mente, a conversão destas condições pelo desenvolvimento
histó.r.i<::o.:-sºçiª!~rpçº!!~fifÕeSde classe, c) finalmente, o ele-
mento diferencial não está explícito nesta citação, mas o
encontramos no excerto linhas acima citado, no qual, segundo
Marx, é a "posição que os indivíduos oCllpam" nos diferentes ...
setores da produção social, e em seus vários desdobramentos
r.e.~ultantes da divisão sociªId.<:>.t.rabalho, tanto da divisão
que ocorre dentro de cada ramo quanto por setores (agrícola,
industrial e comercial) da produção - é essa posição que
define as classes sociais.
Em SUITIJ, as classes sociais s~o categorias históri~as -
e transitórias e são determinadas pela transição do feudalismo
aocápihllismo moderno. O referencial básico é a produção
social historic:lmente determinad;1, au seja, 'J modo ele pro-
dução capitalista moderno. Em suahse de constituição, a
oposição central é entre a burguesia e a nobreza (ou estamento),
..simbolizando aquela um momento de generalidade e refle-
tindo por conseguinte o interesse comum de toda a socie-
dade emergente; expressaBdo assim "em termos ideais" a
"forma do geral" - a burguesia apresenta "estas idéia~ como
as únicas racionais e dotadas de vigência absoluta". Em
vista disso, segundo a análise de Marx,

a classe revolucionária aparece de antemão,


já pelo simples fato de se contrapor a uma

133
c1~ss.e,não como classe, s~não como repre-
sentante de toda a sociedáde, como toda a
rriassa da s~ci~da:de,ant~ a única classe, a
classe dominante. E pode fazê-Ioporque, nos
primórdios, seu interesse. se harmoniza re-
. almente com b interesse comum. de todas
. as demais classes não dominantes que, sob
a opressão das relações existentes, não pode
se deseilVolver ainda como o interesse espe-
cífico deuma classe especial.42

_gE<:)r9l~sa disso que na glosa marginal de Marx


encontramos:. "A generalidade cQrresponde: .1) à classe con-
tra o estamento; [...] 4) à ilusão dos interesses comuns" etc.
Acrescentemos ainda às condições infra-estruturais aponta-
das por Marx (desenvolvimento do sistema de comunica-
ções 00 comércio, bem .como a transformação da proprie-
dade anterior.em cap'ital.comerciai ou industrial) a ãbsorção
dos indivíduos, por mei() .da divisão do trabalho, por sua
classe e. pelas representações resultantes destas condições.
Esclarecido este aspecto, vejamos agora como apa-
recem as Llàsses sú(iais no .J\-fililifc.>iú .do Iàrtidu CúnHr
nista, obra redigida- dois .anos após A ideologia alemã, ou
seja, no transcorrer .de 1848.
IniciareJ;Ilos os' nossos comentários por uma pas:
sage~ famosa: "A história de toda sociedade at~ o presente
tem sido a' história da luta de classes":' Em seguida, Marx
acrescenta:

Homem livre e'escravo, patrícios e plebeus,


barão e servo, mestre de corporação e com-
panheiro, nunp palavra, opressores e opri-
.midos, em oposição constante, têm vivido

134
numa guerra ininterru pta, ora aberta, ora
dissimulada; uma guerra que terminou, sem-_
j:>re, seja _po~ uma transformaçãorevolu~ -
éionária de toda sociedade, seja pela destrui-
ção das duas classes em luta.43

A primEira afirmaçâo é unta generalização ao ní~e1


-maximo de abstração: "A hiStória de toda sociedade [...] tem
sido :/história da Juta de classeS'. Esta é uma premissa uni-
versal com altograudeanistorieidade, onde-as determina-
ções específicas ou particulares são abstraldas. O elemento
central é a história de todas as sociedades articulada com as
lútas de classes, sendo estas últimas as determinações co-
muns da história de todas as sociedades, e não de uma socie-
dade historicamente d~t~~~inada, e$pecífit~~~~-~;~ particu-
laridades. A segunda proposição é fonnulada em um outro
nível de abstração, particularizando grupos sociais específicos
de determinadas épocas históricas, cuja abstração, dentro dos
cânones àa lógica formal, obedece aos princípios da não-
contradição_coma premissa maior: homens livres e escra-
vos, patrícios e plebeus, barão e servo, mestre de corporação
e comp:!~heirC', numa palavra, opressores e nprimidos, cujas
antinomias são as forças motrizes da história; isto é, confir-
ma-se a premissa universal. Marx omite nesta proposição a
antinomia burgueses e proletários, por serem estes forças
- -
potenciais de oposição (lembre-se que o Manifesto comunista
fora redigido algumas semanas antes da Revolução de feVe-_
reiro de 1848; portanto, o objetivo do Manifesto era de-
monstrar a transitoriedade dos grupos de opressores e oprimi-
dos). O objetivo básico destas formulações era o de demonstrar
que os grupos de opressores e oprimidos são as forças motrizes
da história, ou seja, é pela luta de classes que se faz a história
das sociedades.

135
l
..,.

Finalizando a nossa interpretação destas duasafir-


mações contidas no Manifesto do Partido Comunista,
teiteramós:a preocUpação' eehtralde' Marx não é' ade
de~onstrar
.. as especificidades
. ou particularidades que a
luta entre os opressores e oprimidos assumiu nas diversas
. épocas. históricas, mas. ressaltar que a luta de classes e
grupos sociais de opressores e oprimidos sã.o as palavras~ .
chave destas proposições. Estas articulações têm um pro-
pósito imediatista e são, portanto, formais e mecânicas.
P6rOufroIaao~a16gica
. dialética. e as articulações que lhe
.

são próprias estão contidas nas. frases retiradas de A ideo~


logia alemi, em que.a unidade e a diversidade,as deter~
minações comuns e as determinações particulares são de-
vidamenteressaltadaspor Marx ...Em nosso entender, a
H aceitação ou a incorpor~ç~o tout court destas proposi-
ções, principalmente da primeira, equivale a lransformilT
\lma categoria histórica em anistórica, fixando apenas as
determinações comuns, transformando estas em categorias
por si sós suficientes e necessárias a toda explicação .de
uma dada realidade histórica, abstraindo com este proce-
dimento as categorias específicas e pcculiâfes de caLi" for-
mação social (por meio da substituição iuconsciente das
categorias dialéticas pelas categorias da lógica formal).44
Um dos exemplos mais elucidativos encontra-se
no período citado, cujo tema nuclear versava sobre a for-
mação d~burg,uesia.' ObservNe que; numa dada fase h.is~
tórica, o referido texto ressaltava um momento de gene-
ralização, no qual os interesses' comuns de uma classe; a
burguesia, coincidiam com os interesses de outras classes
sociais igualmente emergentes, formando um único grupo
de oposição em que esta classe sinte.tizav.aqs .ideais comuns
. . .
das demais classes contra a nobreza. Em O 18 Brumário,

136
no prefácio redigido em 23 de junho de 1869,45 Marx.
alertava para os perigos da generalização e acrescentava:
~.' .'

. Nest~ analogia histórica (refere-se à arialo~


gia entre cesarismo e os àcontecimentos po- .
Iíticos alemães da época), superficial sob to-
dos OSP01ÚOS de vista, esquece-seo mais im-
portante, ou seja; que na Roma antiga aluta
de classes desenvolveu-se apenas no seio de
t1111~rr~i'.~ºr.iªpriyiJ~giada,entre os ricos li-
vres e os pobres livres, e que a grande massa
produtiva da população, os escravos, não
serviam senão de pedestal passivo a estes
protagOnistas ..
• •• • •••••••••••••••• hH_ •••••••••••• _ •• _•••• _ ••

'HHVimos ainda que, segündo a acepção de Marx, no


"desenvolvimento dos indivíduos nas condições comuns
de exist~ncia dos estamclltos e classes que se sucedem his-
toricamente"; são estes estamentos e c1;lSSCS"especiftcações
do conceito geral, como variedades da espécie, como fases
de desenvolvimento do homem". Daí a afirmação de Marx:
à generalidade corresponde o estamento contra a classe.
Ou então esta outra atlrmação: "A burguesia, por ser já
uma classe e não um simples estamellto, vê-se obrigaJa a se
organizar num plano nacional, não unicamente num pIa-
no local, e aOdar ao seu interesse locai uma forma geral". Em
suma. ,estamentos e classes sociais não são termos flue pos- .
.suem as mesmas acepções; ao contrário, são termos diferen-
ciais e caracterizam formações sociais diversas, histori-
camente determinadas.46 As controvérsias teóricas sobre as
classes sociais se concentram entre estas. duas linhas de
interpretação: a) as classes sociais existiram sempre em todas
as soc'iedades, b) as classes sociais existiram e -ainda existem
. somente em sociedades determinadas, num período deter-
137
minado, numa produção social determinada, numa divi-
são social do trabalho específica, numa determinada for-
ma' de propriedaclei em 6utras. palavús:as clissessociais
. são uma configuração típica de um modo de produção
determinado~ 47
Como vimos, os estamcntosse articulavam com o
. modo de p~dução feudal,' COulO uma fOlma determinada
de configuração das relações sociais resultantes da posição
ocupada pelos indivíduos na produção social em suas múl-
tiplas dimensões. E; mais ainda, as seqüelas jurídicas, ideo-
lógicas, econômicas e. sociais; inclusive políticas e culturais,
vigiam de uma forma ou de outra, conforme as particula-
.ridades sociopolíticas e econômicas, nos Estádos absolu-
..tistas.europeus. CaracterizamOs a estes também como per-
t~ncentes a um período de transição do feudalismo ao ca-
pitalismo, transição de um Estado absolutista, marcadamente
feudo-estamental, para um Estado modemo burguês, pred<r.
minantemente capitalista moderilO e de classes. Demons-'
traremos ainda, esquematicamente, que as características
feudo-est,únentais vigentes conflitavam, contradiziam ou se
opunham às características ell~ergentesd:) capitalismo mo- .
demo burguês. Isto conduziu à seguinte afmnação de Marx:
a generalidade, para este período. era a luta pela imposição
de interesses comuns de uina classe em formaçâo, abur-
guesia, contra as condições sociais, econômicas e políticas
est~beleCidaspdo' :estamento ,em processo de decomposição,
a nobrezà .
. Na Mjs.éri~da filosofia, a partir da crítica às concep-
ções proudhonianas, Màrx retoma o tema da formação do
capitalismo moderno, da burguesia e do proletariado a
partir da decomposição do regime feudal.
. .. .
138
. A burguesia começa seu desenvolvimento his-
tórico com um proletariado que é, por sua
vez; um resto de proletariado dos tempos.
feudais. No curso. de seu desenvolvimento
. histórico, a burguesia desenvolve necessa-
• • . " 'A • •

namente seu carater antagonIco que, no


. ,. . .
prlllClplO, encontra-se maIs ou menos enco-
berto, que não .existe mais que em estado
latente. A medida que a burguesia se desen-
volve, vai desenvolvendo em..seu seio um
novo proletariado, um proletariado mo-
derno: desenvolve-se uri1a luta entre a classe
proletária e a classe burguesa, luta que antes
que ambas as partes a siúfanl,a percebam,
. a apreciem, a compreeridam,.a ieconheçam
uu ••••••••••••• :--epfóclamem alto, não se manifesta nos pri-
meiros momentos senão emconflitos par-
ciais e fugazes, en) fatos soltos de cai<Íter
subversivo. Por outro lado, se todos os mem-
bros da burguesia moderna possuem um
mesmo interesse, porquanto formam uma
só classe frente à outra classe, têm interesses
opostos e antagônicos, porquanto se con-
ifd I-":"ê m uns aos ç;;.; tros .

. . Em seguida, Marx acrescenta que "esta oposição


. dimana das condições econômicas de sua vida burguesa,
portanto cada dia é mais evidente que as relações de pro-
.,
duçãó em q~e a bu'rguesia se desenvolve" possuem um
caráter duplo e antagônico: riqueza e miséria; desenvol-
vimento das [orças produtivas e opressão. A conclusão des-
se duplo caráter é a de "que essas relações não criam a
riqueza burguesa, isto é, a riqueza da classe burguesa, senão
destruindo continuamente a riqueza dos membros inte-
grantes dessa classe e formando um proletariado que cresce
139
.' ,I

sem tessar".48 Nesta passagem, já encontramos a caracte-


rização dos grupos de oposição fundamental: a burguesia e
o proletariaclo.Naspáginas fihais; acrescenta: "

"-Nesta luta - verdadeira guerra civil- vão-se


uilindo e desenvolvendo todos os elementos
para a batalha (utura. Ao chegar a esse ponto,
a coalizão toma caráter políticà. As condições
econômicas transformaram, primeiro, a
massa da população do país em trabalhado-
" res. O domínio do capital criou para "essa
massa-uma situação comum, interesses co-
muns: Assim, pois, essa massa já é uma classe
relativaniente ao capital, mas <linda não é
uma c1,!ssepara si. Na lut;l, da qual.não assi-
nalamos mais que algumas fases, essa massa
se une; caostituindo-se numa classe em si. Os
interesses que defende cO;lVertem-seem inte-
resses de c1assc.}Aas a iutá de c.lass~ contra
c1~sseé uma luta política.

"Estas análises estão ainda num elevado nível de


abstraç50, em que se desenvolvem ~.': cÚ2cte!"!st!cis
tendenciais da luta de classes, não se referindo a nenhuma
formaçãb sociai concret~. Em suma: a ênfase de Marx recai
mais nàs detetrninaçges universais (gerais ou"comuns), ta"j~
como: "a) grú'pos de oposição, b) interessécQmum como
_. .'
uma un~dade-fo~ç'a de uma classe, c) inseridas num dado "

momento de -dese~volvimento das forças produtivas. Há


também uma progressiva particularização em direção ao
concreto, mas guardando ainda um certo grau de g~nerali-
dade: a') a separação entre a classe para si e a"classe-em si,
b') desembocan<~o a:que~a em uma Juta política, c') até se
convertex em luta de classes, d') como produto do domÍ-

140
nio do capital, que resulta no surgimento de uma condição
comum etc.49
. Nesta sUcessão das multiplas determinações que.
conduz, a partir do movimento do pensamento, à apreensão
das determinações específicas do objeto do conhecimentQ;
por via de detemúnações gerais, há um processo de conhe-
cimento que fixa tanto ;l unidade quanto a diversidade, na
forma de uma totalidade que sintetiza estas múltiplas de- ..
terminações. De determinação em determinação, o concre- ..
to~aparenteou'o'Teal-abstrató, vazio de determinações ..
espeCíficas, de. objeto do conhecÍmento se transforma em ...
conhecimento, o "real sintético". Em vista disso, caracterizar
as classes somente tendo por suposto as determiriaçôes c~
muns é ainda permanecer na abstração. Na citação que se
. x ..r............ . . I -
segue, 1Y1arxpercorremmsl:lm camm 10 para a apreensao.
é1dequada do objeto de conhecimento, ou seja, acrescentan-
do novas dimensões quanto à formação da burguesia:

Na história da buq;uesia devemos diferen-


ciar duas fases: na primeira, a burguesia cons-
titui-se como classe sob o regime do feuda-
lismo e da monarquia absoluta; na se~unJa,
a burguesia já constituída come classe
e
derruba o feudalismo a monarquia, para
transformar a velha sociedade em uma so-
ciedade burguesa. Aprimeira dessas fases foi
. mais prolongada e reqljereu maiores esfor-
ços. Também a burguesia começou sua luta
com coalizões parciais contra os senhores
feudais. Fizeram-se não poucos estudos para
apresentar as diferentes fases históricas per-
.corridas pela burguesia, desde a comunidade
urbana autônoma até a sua constituição
como classe.

14 1
Esta colocação de Marx, articulada a uma outra .
.. •..passagemquéjácitamos quando tratamos do estartlent~ .
.delimita mais ainda a sua concepção de que a classe é urna
. determinação de uma d~da formação social, num dado-
momento histórico e num dado tipo de produção social: :

A condição de emancipação da classeope-


rária éa abolição ç1etodas as classes, do
mesmo modo que a condição de emanci-
pação do terceiro estado, da ordem búrgue- •
sa; foi.a abolição de todos os estados (esta-
so
mentos) e de todas as ordens. .
. .

. . Completada esta seleç:io de trechos da obra Misé-


ria dafilosofia~ verificamos, como procuramos demonstrar
quando do arrolamento de excertos de A ideologia alemi,
as seguintes articulações: a) feudalismo e estamento, com
uma articulação necessária e sufIciente enquanto caracteR- ..
zação de uma dada estrutura social em termos de domina-
ção-subordinação entre os grupOSfundamentais potenciais'
. ou efetivos de oposição;b) burguesia e proletariado, como
secreções do. mndo de produção feudal, constituem-se:. ini-
cialmente, comO classes potenciais de oposição (pela nega-
ção das condições econômicas, sociais e jurídicas feudais),
com interesses comuns condicionados' pelas situações co-
muns e pelas travas feudais comuns, contrapõem-se à no-
breza dominant:e (características que. mardupo período. de
transição do feudalismo ao capitalismo); c) a burguesia, ao
se constituir como classe sob o regime do feudalismo e da
monarquia absoluta, desenvolve-se e se consolida negando
o feudalismo ea monarquia absoluta e, atravésde sua práxis
social, firma-se como classe para si e como classedominante
pela luta política, isto é, pela tomada do poder ("transfor-
mando a velha sociedade em uma sociedade burguesa").
1111
..
;

Esta temátiCa teórica, em suas múltiplas determi-


.nações, é retomada por Marx em suas obras históricas, e,
o
. nesta~, centro das an~lisessão aS dete'rminações específi-
cas; as particularidades, as marchas e contramarchas dos
fatos no cenário da História, onde ocorrem as transpo-
. sições e implantes de interesses diversos, desvirtuando os .
interesses comuns das classes fundamentais. A temáticacen- .
trai de quase todas as obras históricas versa sobre a consoli-
dação da burguesia em oposição às seqüelas jurídicas, poIí-
tie::as,econômicas e sociais das instituições feudo-estamentais.
Em outras palavras: as obras históricas procuram interpretar,
mais do que a formação da burguesia, a sua consolidação,
com a cOnseqüente instituiç50 do Estado moderno burguês.
É o que se procurou elucidar no segundo capítulo, quando;
sucintamente, selecionamos excertos de O 18 Brumário e
de A Revolução Espanhola. Nestas e ern outras obras his-
tóricas é que a an~lise de Marx adquire maior densidade
empírica, porém estas determinações específicas são devida-
mente matiz<ldas por esquemas teóricos mais aprangentes.
Em O capital, a análise das classes sociais é depurada, pela'
abstração dos elementos (esiduai~ ou i1~~senci<l.is e, por- .
tanto, não peculiares ao modo de produção capitalista mo-
derno. Doravante, passaremos a tecer considerações sobre
estas questões.
o. modo de pródução. enquanto um "concreto-
depurado" e quando cingido ao capital industrial e à divi-
são social do trabalho a ele correspondente, divide os
indivíduos, conforme a posição destes no processo da pro-
dução social capitalista, em duas classes sociais fundamen-
tais. No segundo volume de O capital, ao estudar a repro-
dução simples, afirma Marx que nesse processo existem
"somente duas classes: a classe operária, que não dispõe de

143
nada mais que sua força de trabalho, e a classe capitalista,
'monopolizad6ia tanto dos meios dé prodUção como do
dinheiro". Nesta depuração~ o real é apropriado pelo pen-
samento escoimado de' todas as características' residuais, e
o "concreto-sintético" essencial do'modode produção capi-
talista, em termos de grupos básicos de oposição, são as
duas classes, ;) cbssc olJcrária e a classe capitalista. Sigamos
o seu raciocínio teórico:'

Com relação à classe capitalista em seu con-


junto, a tese de que é ela própria que tem de
lançar eriicircuIação o dinheiro necessário
à realização de sua mais-vaiia (ou melhor,
para a circulação de seu capitarvariável e ,:--
constante) não somente não a'parece como
paradoxal, mas se apresenta como a condi- ,
çiio necessária de todo o mecanismo.

É neste contexto histórico que existe o movimen-


to vital de apenas duas classes.

EAisriria o f-Jradoxo se fossl;;;classeopedria


que ;ldiant;;sse, de início e de seus próprios
meios, O dinheiro necessário à realização da
mais-valia contida nis mercadorias. Porém'
o capitalista il~dividualfaz sempre este adian-
tamento atuando sob a forma de compra-
dor, desenlbolsando dinheiro para corripràr-
meios de consumo ou adiantando dinheiro
para adquirir os elementos de seu capital pro-
dutivo, ou seja,a força de trabalho e os meios
de produção. Desfàz-se sempre do dinheiro
em troca de um equivalente. Lança sempre
o dinheiro â circulação do mesmo modo
como lança suas mercadorias.s'
"

"

Nesse trecho, Marx analisou a lógica do pleno


',' funciOnamento do modo', de produção iridustrial, abor-
dando o problema da reprodução simples é da, circulação
do Capital social.
O modelo mais acabado de grupos em oposição,
portanto em sua forma mais "pura", ocorre com o advento
e vigência do moao de produ'ção capit~l~sta industrial e,
mais precisamente, na Inglaterra do século XIX:

Indiscutivelmente, é na Inglaterra' que a so-


ciedade moderna, em sua estruturação eco~
nômica, acha-se mais desenvolvida e em sua
forma mais clássica. Entretanto, a sociedade
moderna, em sua estruturação econômica,
nem aqui apresenta em toda sua pureza esta
divisão da sociedade em classes. Também na
sociedade inglesa' existem fases interme-
diárias e de transição que obscurecem em
todas as partes as linhas divisórias (ainda que,
no campo, incomparavelmente menos que
nas cidades). Isto, todavia, é indiferente para
Bossa investigação. Já vimos que é: tendên-
cia r.onstante e iei do desenvolvimmto do
regime capitalista de produção o estabel~
cimento de uma separação cada vezmais pro-
funda entre os meios de produção e o tra-
balho, e a concentração dos meios de,
prodl,lção' dispersos em grupos cada vez
maiores,.isto é, a conversão do trabalho em
trabalho assalariado e dos meios de produção
em capital. E a esta tendência corresponde,
de outra parte, á separação da propriedade
territorial para formar uma potência à par-
te diante do capital e do trabalhá, ou seja,
a transformação de toda a propriedade do
solo para adotar a forma de propriedade

145
,"
';'j
,
\

territorial que, corresponde ao regime ca~


pitalista de produção.52 ,

, Aqui, Marx demonstra cabalmente o que é um "con-


creto-depuràdo" e que as classes sociais não são um tipo
empírico, tal como as entendem os empiristas, separando
o sujeito do objeto da illvestigação. A relação sujeito-obje-
to é uma relação de articulação em suas múltiplas deter-
minações, "em cujºprºçe.~~º º_s.~je.itº apropria do objeto
do conhecimento as determinações essenciais que reprodu-
zem o concreto em sua unidade e diversidade, como uma
totalidade, ou seja, o "concreto sintético" ou o "concreto
,depurado". Os aspectos residuais e impuros são próprios
das fases in tepJJediáriasede" tr3nsiçãoh?()e.~~esresíduos
que obscurecem a linha de separação entre uma classe e
outra). Nesse sentido, quando Marx afirma que os traba-
lhadores assalariados (Jo campo e da cidade), os capita-
listas t os grandes propriet;úios fundiários formam as três
grandes classes da sociedade--moderna, baseada no "regime
capitalista de produção" _., realiza intelectualmente urna
abstração dos 3spectos residuais ou não essenciais e, por-
tanto, n~0 peculiares a este modo de produç~o capitali<;t:<
moderno.53
Por último, cahe tecer considerações quanto ao
problema das classes sociais em seu grau máximo de densi- '
dade empírica, tal como Malx as observOU nas formações
, sociais historicamente determinadas, seni depurá-Ias, visan-
do interpretar as crises e as revoluções políticas da França
pré e pás-revolucionária, detendo-se mais nesta última. Para
podermos levar a cabo tal intento nos utilizaremos de O
18 Brumáúo de Luís Bonaparte e As lutas de classes na
França. Nestas obras históricas, aparecem os termos fração
de classe, classe de transição, massa indefinida e desinte-

146
grada.. ~cções, setores, pequena burguesia etc.54Além disso,
.. . as classes sociais são. focalizadas em suas' detetminações
. . . . .
específicas e particulares •.referidas às situações e condições
de umadeterminadà realidade histórica (conjuntural)~ Com-.
paremos a França e a Alemanha.
Segundo Raymond Aron.

na Revolução e contra-revolução na Alema-


nha •.Marx ....distingue:.12) a nobreza feudal.
22) a burguesia. 32) a pequena burguesia. 42)
os grandes e médios camponeses. 52) os pe-
quenos camponeses livres. 62) os pequenos
camponeses servos, 72) os trabalhadores agrí.
caias, e 82)º~ºper~rios daindúÜria...

Ainda segundo Aran, em As lutas de classes na


França, a enumeração é diferente e as classes sociais seri::m1
assf.guiútés: burguesia fin,mceira, burguesia industrial, classe
burguesa comerciante, pequena burguesia, classe camponesa
e classe proletária, Lumpenproletariat, palavra alemã que de-
signa o último degrau do proletariado andrajoso.55 .
Nestas cnumer::ções de Aron, o que nos lnteressae
não são os comentários feitos na seqüência de seu texto,
naturalmente a partir de sua posição axiológica e epis-
temológica weberiana (que dá primazia aos valores quando
da escolha do objeto do conhecimento, sendo toda escolha,
por definição, arbitrária diante da infinitude do real). O
que nos é proveitoso é a possibilidade de apreensão das
especificidades, com base em dois exemplos situados quase
que em um mesmo período histórico, em duas realidades
sociais, econômicas e políticas diversas.
A primeira enumeração revela a fase de transição
do feudalismo ao capitalismo, na A1emành~, onde as seqüe-

147
. '.
. .

Ias das instituições jurídicas; econômicas, políticas e sociais


ainda vigiam (eram dominantes) e o concomitante apare-
. cimento ou fomiaçao'. da' burguesia e do. proletariado de- .'
mOr1stravarriainda fortes. traços feudais. Nem mesmo a insti-
.tuição da servidão havia desaparecido. Em conseqüência, os
grupos sociais residuais são numerosos, pois os senTos não
haviam se convertido (ou estavam ainda em fase de conver-
são) em pequenos camponeses livres, trabalhadores agrícolas'
ou operários da indústria. Da segunda enumeração, .
depreendemos o ocaso da transição. Ou seja, fase de canso-
lilL1Ç;lo d:l l)mgllc:~i;l 110 poder. n p:Hlir da constituição dn
1':,~l.ldlllllllll('lll". N,ío ", 1'011.111(0,;1 ;),hilnlrinlndc dil de/i
Ili\:I'lf' d,I('~, ,,111.1 '1111' lúrlll ,'.IIII',il illl'lI"nas 011 I"llll'il.'l.
~lllli"l\11I1I1I11'1I11,,,tll'
t111~~('.~ 1\'1111, I\tllllllilildll, !iillllPj
e,\/H'lililidill/cs hisl,'lI il ;\.\de li\d;1 111ntlil\il1lsoriill «llllT<'lil.

c l. de l'llldOlllli~Ltdl' \ 0111('.\I.IS q\le dil'i~;lllllIS os grllp",\

sUljaj~ elll IJitlISi<,:iiu, ClIl /ulJIl<l\iil) c ('111 Jcs;ipariçiio.


No entender de Marx, é somente com o pleno
desenvolvimento do modo de produção capitalista mo-
derno que os contornos das classes sociais fundamentais
em oposição começam a trui1Sparecer ilO cenáfio da socie-
dade moderna, como grupos de oposição política, econô-
mica e sociaL É por causa disso, e não pela arbitrariedade
das definições, que encontramos, por exemplo; cQnforme
a enumeração de Aron, oito classes sociais na Alemanha da
f?evolução e contra-revolução, e menos que isso' (seis ou
sete), com denominações nem sempre coincidentes, na Fran-
ça de 1848-1850. Poderíamos acrescentar ainda que, neste
último país, como revela Marx em O 18 Brumário, em
relação à nobreza orleanista e legitimista, há a sua transfor-
mação em burgueses com o desenvolvimento da sociedade
moderna: •

1A o
,

Se cada lado desejava levar a cabo a restau-


ração de sua própria casa real contra a ou- -
tra; isto significava apenas que cada um dos
dois grandes interesses que dividem a burgue-:
sia - o latifúndio eo capital.;... procurava .
. restaurar a sua própria supremacia suplàn- e
tar o outro. Falamos de dois interessesda bur-
guesia porque a [!,randepropriedade teirito-
rial, apesar de suas tendências feudais e de
seu orgulho de raçá, tornou-serompletamente
.....burguesaTom.odesenvolvimáJto da socie-
dade moderna.56

P.slC trecho. 1l1O,~lrl' qllr. I1 prrOL:lIpl"";\O l'ClItn,ll-Ir..


M.IIX ";\0 ,~t'Jr~\IJll('IIII111il~iJlIph~~ltilJnUrJ'il',íI\~OOI! ('1111-
1111~nll ti llllti,vfllirlll ti I 11~ I ó,leu, t111~ MI'II-
Illl~I.;I~'ílo. 1'01' 1I11.~
pos Mll'inis (c1assC's S(}('illis), l1las l1hnlllgc li dt:llIo.llsll'ilç~o
dcquc "c tl'llt!êllcia COllSlillltc c lei tio dCSClwolvimcllto. do
n~gime capitalista de produção", como vimos no trecho
citad()A~O capital, o estabelecimento de uma separação
cada vez mais profunda entre os meios de produção e o
trabalho e a concentração dos meios de produção dispersos
em grulJll~ '-aJa vez mai0i-':s, isto é, "a canversão do traba-
lho em trabalho assalariado e dos meios de produção em
capital", Em outras palavras, a tese aposta por Marx é de
que haja uma tendência à concentração do capital e da
prop,riedade, territorial, e, conseqüentemente, à formação
de duas classes fundamentais: de u~ lado, a dos grandes
proprietários de terras racionalmente geridas e a dos capita-
listas industriais; de outro, os trabalhadores assalariados, .
com a paulatina incorporação de elementos provindos de
outros grupos sociais. Em O 18 Brumário, este movimen-
to aparece ocorrendo dentro de circunstâncias histórco-
sociais determinadas.
149
"

); ":oi':' •

As classes médias - "classes residuais", "pequena


. burguesia", "classes de transição", "classe dos pequenos prO-
prietários autônomos" ~ colocar-se-Íam entre os dois pólos
.das classes fundamentais: entre a classe dominante e a prO-'
letária.57
O interessante é que Marx denomina a "pequena .
burguesia" de "clisse de ttansiç30", afirmando posterior-
mente que ela, com o restante da nação, constituem o povo:

o democrata, por representar a pequena bur-.


guesia, ou seja; uma classe de transição, na'
qual os interesses de duas classes perdem si-
multaneamente suas arestas, imagina estar
acima ..dos ..antagonismos de classesem geral.
O qúedes'representam é o direíto do povo;
o que lhes interessa é o interesse do pOVO.5R

Em re1açãq aos outros grupos, também denomi-


naàos classes médias, Marx faz a seguinte consideração:

A pequena burguesia, em todas as suasgra-


dações, do mesmo modo que a classe cam-
pOlieS;], f:couinteiramente ~em poder poií-
tieo. Finalmente, no campo da oposição
oficial ou inteiramente :1margem do pays
legal (minoria àe proprietários que fia mo-
narquia de julho exerciam o direito de voto),
encontravam-se os ideológicos e porta-vozes .' .
representantes das citadas classes, os seus ci-
entistas, advogados, médicos etc., em uma
palavra, as chamadas capacidades.59

Para Marx, o termo classes médias ou camadas


médias abrangia praticament~ por exclusão, quase todos
os grupos sociais rurais ou urbanos que não fossem a aris-

150
tocracia fundiária, mobiliária e nobiliárquica, que não
produziam valores de troca (mercadorias), a grande bur-
guesia industrial e comercial, obviamente, e por fim o alto
clero. Em As lutas de classes na França esclarece-nos o
segUinte:

. Os camponeses se encontravam em situações


análogas às dos pequenos burgueses e tinham
quase as mesmas reivindicações sociais a for- .
mular. POflssü;todasasc.amadãs médias.da .
sociedade, à medida que se viam arrastadas
ao movimento revolucionário, tinham que
ver necessariamente em Ledru-Rollin seu he-
rói. Ledru-Rolli~ era (l personagem da pe-
quenaburguesia dernocrática. Diaritedo par=
tido da ordem, passavam ao primeiro plano,
sobretudo, os reformadores dessa ordem,
meio conservadores, meio revolucionários e
totalmente utópicos.6U

Encontramos a melhor caracterização desse estra-


. to de classe em O 18 Brumário, em que Marx dá a seguinte
interpretaçâo dos pequenos proprietários agrícolas:

Constituem uma ime.nsa massa, cujos mem-


bros vivem em condições semelhantes, mas
sem estabelecerem relações multiformes entre
si. Seu modo de produção os isola uns dos
outros, em vez dê criar entre eles um in- .
tercâmbio mútuo. [...] Seu campo de produ-
ção, a pequena propriedade, não permite
qualquer divisão do trabalho para o cultivo,
nenhuma aplicação de métodos científicos e,
portanto, nenhuma diversidade de desen-
volvimento, nenhuma varieda:de de talento,
nenhuma riqueza de relações sociais. Cada
151
!
família camponesa é quase auto-suficiente; ela
. produz inteiramente a maior parte do que
consome, adqllirind~ assim os meios de su~
sistênc~a. mais através de trocas com a na-
tureza do que do intercâmbio com a socie-
..dade. Uma pequena propriedade, um cam-
ponês e sua família; ao lado deles. outra peque~
. !!a propriedade. outro camponês e outra fa-
mília. (...1 Na medida em que milhões de
Jamíliascamponesas vivem em condições eco-
nômicas que as separam umas das outras e
opõern o seu modo de vida, os seus interesses
e a sua cultura aoSdas outras classesda socie- - .
dade, estes milhões constituem uma classe,
Ma~l na mediclaem.Ql1C e};iste entre os pe-
quenos campOneses"apenaSuma ligação local
e em que a similitude de seus interesses não
cria entre eles comunidade alguma, ligação
O<lcional,,\g.uJna,nem organização política,
nessa medida não constituem uma classe [...}
são inca pazes de fazer valer seu interesse de
61
classe em seu próprio nome. ..

Lta coloca.;::io dt Marx caracteriza clar"mente os


pequenos camponeses proprietários como (dependendo
das circunstâncias históricas defmidas) constituintt"s de
uma imensa massa chfusa, indefinida. desintegradaou ato-
mizada. não sendo. em vista disso. uma classe social para
si. Em contrapartida. se os pequenos proprietários'se confi-
gurarem tendo como elementos constitutivos básicos: a) opo-
sição de seu modo de vida e da sua cultura aos das outras
classes da sociedade; isto é, b) a oposição de seus interes-
ses em relação aoS de outras classes; c) oposição de interesses
esta que os transforma numa comunidade de interesses; d)
sentimento ou ligação' nacional; e) organização política; en-

152
..'. ~

. .
tão, eles se constituem em classe. Estes atributos (não so-
.. mente da classe dos pequenos proprietários, mas da dasse .. :

social ~m ge~a~transformam-nos em grupos sociais efetivos


de oposição, em termos de luta de c1asses~Sem eles, formam
apenas Classessociais em potencial. .

Em O capital, Marx acrescenta outras detcrmi-


naçoes:

É, em princípio, a identidade de suas rendas


e fonte.s de rendas. Trata-se de três grandes
grupos.sociais ..cujos.compor.entes, os indivÍ-
duos que os formam, vivem, respectivamente,
de um salário, do lucro ou da rendado solo,
ou seja, da exploração de sua força de
trabalho, de seu capital ou desua proprieda-
de territorial.62

Resumindo, as ciasse:s s.ociais são constituídas por


múltiplas determinações:

3) pela posição que os indivíduos ocupam nos


diferentes setores da produção soCial;
b) a posição que os indivíduos ocuparn é a obje-
tivação da divisão social do trab3lho;
c) os diferentes .setores da produção social, deter-'
minados pela separação entre campo e cidade, sãoIJ1ediações
da propriedade privada, móvel e imóvel, do capital e da
força de trabalho;
d) a produção social que determina as classes sociais
é uma produção historicamente dada e pressupõe a separação
entre os proprietários dos meios de produção (instrumen-
tos de produção) e os proprietários
. .. da força . de trabalho;

153
. e) em separação determina a divisão em dois
.grupósSOCÍ2li fund.ani.entais: capitalistas (prop'rietáilos do
capital-<iinhe::::; e dos instrumentos de produção) e operá-
rios (propi-itti.rÍÜs 6 [orça de trabalho);
t)e-:-. ttTmos sintéticos é uma oposição entre o
salário e o CG~:t2I,mas esta oposição não é uma oposição
abmata; 30 '/,:urárj(), o salário é o preço que o capitalist~
paga pela par:t da força de trabalho adquirida no mercado,
cujo valor t t;;:-:,? determinação do movimento da reprodu-
ção social dt;:2 força de trabalho, ist~ é, "o valor dos arti-'
gos de pnmúra necessidade exigidos para produzir, dese.l~~
volver, malHe e perpetuar a força de trabalho";63
. g) nt~;e sentido é uma oposição entre o trabalho e
o capital, cujG.;condições objetivas são: pelo lado do capi-
tal, a lura pelG.perperuação deste sistema de trabalho assala- .
riado, e, pelo :b tralnlho, a luta pela sua abólição;64
.' h)éneSlt contexto que se coloca o problema da .
luta de dami C~lP.o uma iut~ política -- e a luta política
pressupõe a CGnsciéncia das condições objetivas da própria
classe, das Outras classes e da sociedade como uma totali-
dade a;ticulac3;
j) é uma deten11lnação da prátIca social histonca-
mente definida, oU seja, a consciência de classe é um pro-
duto prático-rcal determinado pela produção social;
j) a proc1uçã'o, por outro lado, é uma determit1a-
çao as re Iações homem-natureza
- d e homem-homem 65 em
suas múltiplas relações dialéticas de prodUção e reprodu~
ção social: estas definem os elementos constitutivos das
condições de vida, as condições comuns a. determinados
grupos sociais: "idênticas condições, idênticas antíteses e
idênticos interesses necessariamente" (determinam) idênti-
cos Costumes, cultura e modo de vida;

1';11
.'

k) por fim, as classes sociais são determinações


,'destasmúltiphisco,ndições, situações, movimentos e oposi- .'
ções, quedeterininam, por outrõ lado, "a trajetória do de-
senvolvimento pessoal dosÍndivíduosdentro de uma deter-
minada classe, ficando sujeitos a todas as contingências da
o
classe a que pertencem" - este é "f~nômeno da absorção
dos dife~entes indivíduos péIadi"isào do trabalho". .

Estas conclusões esquemáticas em relação às cIas- "


ses sociais nos remetem às questões referentes à consciên-
cia social e à consciência de classe. Porém, o que é essa
consciência SÓCIaI para Marx:? A resposta é a que se segue: .

A consciência [:::]ê. éÍn princípio, um pr<F H

duto social. e seguirá sendo enquanto existi-


rem seres humanos. A consciência é. sobre-
tuào. naturalmente. consciência do mundo
jmedi:Jto e sensível que nos rodeia e cons-
. ,

ciência dos nexos-Emitados com outras pes-


soas e coisas, fora àóiiidivíduo consciente de
• , • I • ,. •

. SI propno; e e. ao mesmo tempo, conSC1enCla


da n2tureza. que em prip.dpio se defronta
com o homem como 11mpoder absoluta-
mente estranho, onipresente e inexpugnável,
em face do qual os homens se comportam
de u.m modo puramente animal e que os ame-
dronta como o gado; ê,.portanto, uma cons-
ciência puramente animal da natureza (da
religião natural). ['0'] Este início é algo tão
animal como a própria vida social nesta fase;
ê simplesmente, uma consciência gregária e,
neste ponto, o homem somente se distingue
do carneiro porquanto sua consciência subs-
titui o instinto ou porque o seu é um instin-

15'5
to consciente. Esta consciência gregária ou
tribal se desenvolve ese refinà posterior" .
. mente, ao aumentar J produção, ao CreSCe"
rem as necessidades t ao se multiplicar a po-.
pulação, que é o fator sobre o qual se ba-
seiam asdúas anteriores (consciência natu-
ral- relação homem-natllfez:l - econs-
ciência social - relação homem-homem).
Qe.~te.mºQºsedçsenYolve a divisão do tra-
balho, que originariamente não passava da
divisão do trabalho no ato sexual e, mais
tarde, de uma divisão do trabalho intro-
duzida de um. modo "natural" em estrita
correspol1c1~9cia.com .()scJote.~Dsi<::()~(por
..exemplo, a força corpotal);asüecessidades,
as coincidências fortuitas elc. etc. A divisão
do tr:lbillho apenas se converte em verda-
deira divisão a partir do momento em que
se separa 6 trabalho fisico do in telectual.66

Adtação de Marx, retirada de A ideologia alemã,


servirá como referencial para as nossas considerações sobre
o pi\JbI.~ma J<i consciêi1cia social (e de classe). O que se
pretende é apenus tecer alguns comentários é1fticuJando a
queStão da consciência de "classe" à dos estamentos e das
classes sociais. O texto acima, em linllas gerais, .permite
estabelecer que o processo de desalienação, tem um duplo
aspecto:
. a) a transformação do .estado . de natureza em esta-
do social - é o processo de liberação do homem dos víncu-
los que o identificam com a própria natureza, ou seja, pas-
sagem da história natural para a história da produção social;
esta relação reflete "o início da consciência de que o ho-
mem vive, em geral, dentro de uma sociedade";67 b) o pro-
cesso de alienação dentro dos limites da divisão do traba-
Iho.- que leva ao problema da consciêncÍade classe, uma
veZ que o '.. , ,..

, " poder social, isto é, a força de produção mul-,


, tiplicada, que nasce por obra da cObperação
, de diferentes indivíduos sob a ação da divi-
são dei tr"abalho, aparece, por não se tratar
de uma cooperação voluntária, mas natu-
ral, não como um poder próprio; associa-
do, porém como um poder all~eio, ütuado
à margem deles, não sabendo estes de onde
procede nem para onde se d'irige sendo, por-
tanto, incapazes dedominá-Io.68
, ,

Em relação ao modo de produção feudal ou por


, estamentos, as ordenações da vida social, dos privilégios,
da honra, da lealdade, da hier"arquia, a classificação dos
desfrutas ou usufrutos segundo regras fixas, foram pro-
dutos das representações do grupo dominante: "A hierarquia
, é a forma ideal do feudalismo; o feudalismo, a forma polí- '
tica das relaçÕes ,de produção e de trocas, da Idade Mé-
dia".69 Esta forma pnlí tica t' jurídica, em suas contra partidas
ideológicas, mascara as relações históricas, e no nível do,
grupo social efetivamente dominado, as relações de domi-
nação e subordinação aparecem como relações naturais,
abstratas e separadas; conseqüentemente, o grau de alienação
se manifesta em sua forma religiosa. A divisão da sociedade
em ordens, estamentos e castas etc., segundo Lukács,

significa exatamente que a fixação tanto


conceptual como organizacional dessas po-"
._ (( ou. •
slçoes ,natur~ls perm;lOece economlca-
. ... ,.
mente' InCOnSCiente,e que o cara ter pura-
mente tradicional de seu me'ro crescimento

1~7
..

'''1
:~~!
.~"t
deve ser imediatamente vertido nos moldes
.jurídicos~Porque ao caráter mais frouxo da'
coação econômica na sociedade corresponde .
uma função - tanto objetiva comosubje-
tivamente diferençada da que lhe é dada no
capitalismo - das forinas jurídicas e estatais,
que constituem, aqui, as estratificações em
estamentos, em privilégios etc.70

A transformação destas relações SOCIaIS, na


aparência, regulamentadas segundo regras e valores fixos,
ideologicamente condicionados, juridicamente codificados
em leis imutáveis, politicamente impostos pela classe domi-
....Hnante ereificadospela esfera religiosa como relações so-
n;i~;~;/s:'~corre
ciais quando os grupos sociais dominados
e expropriados adquirem consciência de que estas relações,
em vez ele serem emanações da ordem natural, são so-
ciais/I produtos da atividaJe human~ em sua relação ho-
mem-natureza e homem-homem, que produzem e repro-
duzem o homem e a soCiedade como uma totalidade arti-
culada e constituída de múltiplas determinações, como
.
uniciade e ciiversid;Jdt'. Em outras oalavr;js, na mec1;r-1:lFm'
.

que aquelas relações sociais mediatizadas pela ideologia


dominante são reificações determinadas pelo processo de
produção social historicamente determinado, a negação delas
é uma. negação das condições objetivas que produziram as
ditas relações de dominaçào,-subordinação: a propriedade
estamental, a separação da propriedade em domínio emi-
nente e domínio útil, a vinculação do camponês ao do-
mínio eminente pelo usufruto do domínio útil, a instituição
da servidão como epifenômeno da ordem natural, os privi-
légios, • os desfrutes e relações hierárquicas regulamentadas,
a jurisdição total do senhor em seu domínio eminente, a

gQ
,.

r, arbitrariedade quanto às questões políticas, econômicas e


jurídicas etc. A negação destas' condições objetivaspres-
t .supõe a instauração, pera revolução social, da nova ordem
social.'
baseada na propriedade privada,
.
mão-de-obra livre e
assalariada, separação entre proprietárrosdos meios de pro-
. dução e proprietários da força de trabalho, no direito civil
.ou na igualdade dos homens perante a lei etc Em poucas
palavras, a instauração do modo de 'produção capitalista e
do Estado moderno, d~ todos os elementos constitutivos do
capitalismo e do Estad6 bUrgUês~ .
Em vista disso, a consciência de classe pressupõe
não somente a negação 'das condições objetivas dadas, mas
a. fixação de objetos e, primordialmente, a emergência de
uma consciência das condições históricas que determinam
as relações sociais de produção existentes, consciência de
que os grupos dominados, enquanto individualidades dis-
tintas, possuem interesses comuns, pois estão perante con-
dições e situações comuns impostas pelo grupo dominan-
te. Porém, por outro lado, estas condições são produzidas
pela relação subordinação-dominação: os grupos domi-
nados tamoém sãü produtores, ou melhor, contribuem
para que haja a reprodução destas condições, A percepção
das condições objetivas leva os indivíduos a se organizar e a
se opor ao grupo dominante, em defesa dos seus interesses
'. comuns. Já vimos anteriormente o processo de transfor-
mação de grupos dominadqs em "grupos efetivos 'de posi-
ção. Expusemos, segundo a interpretação de Marx, o pro-
cesso de formação da classe burguesa a partir da formação
de grupos vizindários das cidades e seu posterior desen-
volvimento em defesa dos interesses comuns contra a nobre-
za decadente, e, concomitante à .formação da burguesia, a
formação do proletariado, ainda não como classe para si,

159
por constinlir-se, até então, de individualidades discretas e
dispersas;... .... . ....
. Em suma, o processo que implica conjuntamente
. desalienaçã~ do estado de natureza e alienação na socieda~
deéum processo histórico. Ou seja, os homens ao satisfa-
.zerem suas necessidades vitais, criam novas necessidades, e
estas são necessidades produZidas socialmente; Este pro..
cesso conduz do homem a!ienadono estado de natureza
ao homem alienado na produção social. O processo de
désalienação do estado de natureza conduz à alienação social-
mente produzida. Em outras palavras, o processo de alie-
.....nação-na
.
turaJ.desalienação-da-
.'
natureza-alienação-na-socie-
.' .

dade conduz à probleniática da conscíência de classe como.


uma determinação histórica daquele movimento, como de-
terminação da produção social. Este processo possui um
duplo aspecto: a) a ne)!,ação das condições objetivas, consi-
deradas (,Or110 condições naturais que produzem e repro-
duzem os homens; produz, por sua vez, homens-alienados;
em vista disso, a realidade objetiva aparece para os homens
como se fora uma realidade: natural e abstrata; b) no pro-
Cf'~Sode desalienJção na $oci<.:dade,os húme:i1s se afirmam,
agora como sujeito c não como objeto, embora limitados
pelas condições dadas, ou seja, a realidade surge como uma
determinação do. sujeito, e este, ao mesmo tempo, como
uma objetivação daquela. Q!Jebra-se assi~ a unilateralida-
de centrada ou no objeto ou no sujeito; deste modo, a
consciência é o restabelecimento das relações dialéticas, su-
jeito-determinado e sujeito-determinante em condições his-
tórico-sociais determinadas. É deste modo que interpreta-
mos a seguinte frase de Marx: "Os homens fazem sua pró-
pria história, mas não a fazem como querem; não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que

160
se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo
.passado".72.
Linhas atrás, citamos uma afirmação de Marx: "A
consciênciaê,em princípio, um produto social e seguirá
sendo enquanto existirem seres humanos", eê, sobretudo, a
"consciência do mundo imediato e sensível", que os rodeia,
como "nexos limitados com outras pessoas e coisas, fora do
indivíduo consciente de si próprio". Nesse sentido, os
estamentossãoreificações das relações sociais em relações
naturais: .são produtos da ideologia dominante. A divisão
dos homens em escalashierárquicas juridicamente limitadas
aparece para a consciência dos indivíduos como relações
"impostas pela natureza" e nãó como dispostas pelos lio-
mens,73 isto é,eomo produto.dasrelações sociais de pro-
dução de um determinado modo de produção. O resultado
da codificação da representação ideol6gica do grtlpo domi-
nante em forma jurídica privilegia,. dá primazia às regras
tlxas. como critério de todas as coisas e, também, obvia-
mente, dd posição e honra sociais. A essência da transfor-
mação social não é simples negação da superestrutura jurí-
dica, política e ideológica; a essência da revolução social é a
negação da produção social que a mantém, é a emergência àe
novas condições que vão dar origem a novas representações
de homens determinados. Estes aspectos foram yistos quando
da análise das castas e dos estamentos; Marx se referia ao
regime de .castas como "um tipo determinado de regime
. hiedrquico e [ajas privilégios'como "inconvenientes da
divisão do trabalho em geral, da divisão do trabalho como
categoria", e, posteriormente, afirmava que, sob "o regime
patriarcal, sob o regime de castas sob o regime feudai-
corporativo, existia divisão do trabalho na sociedade como
um todo, segundo regrasfixas'. Em seguida, indagava: "Estas

161
regras (leis) eram estabelecidas p()r um legislador? De fOI.'-
ma nenhuma. Elas nasciam, originariamente; das co'ndiç~
. da produção material, somente mais tarde se e~tabeleciam
como leis". Por [nu, concluíà:

Portanto, essa.s idéias, essas categorias (as


. quais, corno produtos do desenvoivimento
da produção, são criadas pelos homens nas
relações sociais de produção) são tãO pouco
eternas como as relações às quais servem de
expressão. São produtos históricos e transi-
tórios. Existe um movimento contínuo de
crescimento das forças produtivas, de des-
truição das relações sociais, de formação das
............. ~ . idéias; a única imutável é a abstração do
movimento: mors i1llIllOrtalis?4 .

Em suma: a ideologia é um reflexo àa vida real dos hq-


mens e atua sobre eles, mas estes, (l.0 alterarem suas condi-
ções materiais de existência, mudam-na também. Ela é um
produto de homens reais e não de homens abstratos.
Para encerrarmos este pequeno comentário sobre
a consciência de classe, resta abordar os aspeCtos. orga-
nizacionais e políticos, os quais transformam as classes
potenciais em classes efetivas, transformando-as em grupos
sociais ativos' e revolucionários, opondo-se às condições
preestapelecidas pe1o,sgrupOS dominantes no poder,
Segundo Marx, a divisão do trabalho apresenta,
como um de seus elementos constitutivos,

a contradição entre o interesse do indivíduo


concreto ou de urna determinada família e o
interesse comum de todos os indivíduos arti-
culados entre si, interesse comum que, certa-

1 (,1
<',.

mente, não existe apenas na idéia, mas tam-


bém como uma. relação de múttÚlde'pen-
clência dos indivíduos entre os quais ô traba- .
lho aparece dividido. .

E acrescenta:

A partir do momento em que começa a di-


vidir-se o trabalho, cada qual se move num
determinado círculo exclusivo de afividades;--
que lhe é imposto e do qual não se pode
sair. [...] Esta modelação das atividades so-
ciais, esta consolidáçãO de nossos próprios
produtos num poder material que se eleva
acima de nós e se subtrai ao nosso contrôle;' .
que levanta uma barreira perante nossa ex-
pectativa e destrói nossos cálculos, é um dos
momentos fundamentais que se destacam
em todo o desenvolvimento histórico ante-
rior, e, precisamente em virtude desta con-
tradição entre o interesse particular c o in-
teresse comum, adquire este, enquanto Es-
t3do, uma forma própria e indc;:-endente,
separada dos reais interesses particulares e
coletivos, e, la mesmo tempo, como uma.
comunidade ilusória, porém sempre sobre
a base real dos vínculos existentes dentro de
cada conglomerado familiar e tribal, tais
..como. ~ carne e' o sangue, a linguagem, a ;

divisão do trabalho em maior escala e


outros interesses, e, sobretudo, como mais
tarde teremos que desenvolver, sobre a base
. das clasSes,já condicionadas pela divisão.do
trabalho, que se formam e diferenciam em
cada um destes conglomerados humanos e

163
dentre as quais há llma que domina sobre.
todas as demais.75

. Os referenciais de diferenciação entre o que éinte-


resse particular e o que é interesse comum são aspectos
contraditórios constitutivos da divisão do trabalho. E este.
interesse comum não é uma mera representação ideoló-
gica, uma unidade abs~r.~t~~tlt()cI~t~E~_l1i~~da pelo indiví-
duo, mas é um aspecto da realidade material histórica,
"como uma relação de mútua dependência dos indivíduos
entre os quais o trabalho aparece dividido", ou seja, uma
determinação do trabalho social e da divisão do trabalho
historicamente determinados.
............ Portanto o interesse .,comum
) .•....
não é uma idéia ou pura abstração, é uma ordenação deter-
minada pelas condições reais da produção social, e as clas-
ses sociais são uma determinação da divisão do trabalho,
havendo "uma yue predomina sobre todas as demais". É
no contexto da dominação-subordinação e, mais ainda, na
luta pelo poder quesec6loca o problema político. "As
formas ilusórias sob as quais se acobertam as lutas reais
entre :lS dive-sas classes ~~~:-ecem como !'.1tas que ocorrem
dentro do Estado, a juta entre a democracia, a aristocracia e
a monarquia, a luta pelo sufrágio etc."
Em 'continuação às suas interpretaçÕes, Marx
afirma:
.' .

De onde se conclui que toda classeque aspire


a implantar a sua dominação, ainda que esta
dominação, como ocorre no caso do pro-
letariado, condicione em absoluto a abolição
de toda forma anterior e de toda domina-
ção em geral, tem que iniciar conquistando
o poder político, para poder apresentar seu
, / .
. ,. " ..

.interesse como o interesse geral, coisa a que,


nUm priIl1eiromomento, vê-seobrigada,16 ,

Portanto,t6da classe que almeja à conquista do


poder tem que se organizaI: politicamente, universalizando
os seus interesses particulares como se fossem os interesses
de todos.os grupos e de toda a.sociedade. No quese refere.
à generalização dos interesses comuns, relatamos que, na
fase de transição do feudalismo ao capitalismo, a burguesia
sintetizava estes interesses
.. comuns como representativos
. de
toda a sociedade e não apenas de uma única classe (classe
contraestamento). A apropriação do poder é "condicio-
nada pelo modo como se ternquechegar ao objetivo", e se
atinge a meta desejada "mediante uma associação".
Em se tratando do proletariado, essa associação,
segundo Marx, adquire a forma de "associação universal,
visando, pela revolução, à derroc"da do poder do modo ele
proàução, das trocas e d3 organização social correspon-
dente". Com esta apropriação,

a própria atividade começa a coincidir com


a vida materiai, O':].'.le corre5ponde ~0 dt'-
sem'olvimento dos indivíduos como indiví-
duos totais e à superação de tudo o que há
neles de natural, t a isto corresponde a trans-
formação do trabalho em atividade própria
e a troca anterior condiciOnadílem troca ou'
inter-relação entre indivíduos enquanto tais.
Com a apropriação da totalidade das [orças
produtivas pelos indivíduos associados, ter-
niina a propriedade privada.17

A associação a que se refere Marx é uma comuni-


. .
dade associativa unida por interesses comuns.

165
..
k" .....
, ~. .
•" ~i- .'

.Precisamente, esta comunidade não é outra


..coisa que a associação.dos indivíduos [..;] que'
"
entregam ao seu próprio controle as con-
dições do livre desenvolvimento einovimen-
to. dos indivíduos, condições estas que se
achavam sujei tas às regras do acaso e ha-
viam adquirido existência própria e indepen"
àente em rdação aos .diferentes inqivíduos
precisamente pela separação destes como in-
divíduos e que, imediatamente, com sua ne-
cessária associação e por meio da divisão do
trabalho, haviam se convertido num víncu-
lo alheio a eles.

Logo aútes, Marx afirmava:

Somente dentro da comunidade (com ou-


tros) tem loJo inuivíduo os meios neces-
s:írios para desenvolver seus dotes em todos
us sentidos; somente dentro da comunidade
é possívei, portanto, a liberdade pessoal. Nos
substitutos da comunidade que até aeora
têm existido, no Estado etc, a liberdade pes-
mal SGmente exi"i~ p.:i.raos indivíd~os de.
senvolvidos dentro das relações da classe
dominante c apenas em se tratando de indi-
víduos dessa c1asse.7g .

.,Estes excertos'sugerem que a consciência sociaJ.tam-


bém é um produto histórico determinado. Daí o flores-
cimento da consciência burguesa se manifestar com anterio-
ridade em relação à consciência proletária. A burguesia se
constitui como classe social a partir do momento em que
começa a se ürganizar, em defesa de seus interesses comuns)
em associações de vizinhos das cidades, primeiro localmen-
te e, depois, extravasando as fronteiras regionais, consti-
tuindo associações nacionais e, por fim, internacionais. A
organização em associações de interesses comuns emerge
das condições, comuns, de dominação e subordinação ..Estes
momentos são os diferentes estádios percorridos pela bur~
guesia até se constituir ~m classe social. Primeiramente,
para que a burguesia se oponhél à ndb~eza é necessário que
exista um Estado em que a nobreza se constitua como
grupo dominante. Em segundo lugar, acbnsciência de classe.
não é a consciência de' segmentos da sociedade,inas uh1a
. consciência da totalidade. Conseqüentemente, a luta de clas-
ses não é apenas. uma luta econômica,éacimadê tudo
. uma .. luta de classes
. em disputa
,.... pelo É'poder político, o.u
seja, a disputa pelo poder do Estado. uma luta que, de
imediato, visa ao poder político e aparece como uma luta
política, porém a política enquanto t31 é uma' abstração,
porquanto a política é uma dimensão do soci:ll, das relações
sociais de produção: é uma transfiguração, urna ideologia,
quando se torna instrumento da classe dominante para se
perpetuar no poder.
O que ocorre é UIn;1 def:J.sagerp entre as forças
produtivas e o poder político: enquanto as primeiras sedesen-
volvem e se transformam, a segunda se Cristalizae se delimita
como uma força t'x.terna escorada pelos có.eiigos jurídicos.
"Na jurisprudência, na política etc.; as relações se conver-
tem conscientemente em.conceitos, e, como não remontam
a estas relações, também os conceitos destas são, em sua'
cabeça, idéias fixas; o juiz, por exemplo, aplica o código,
considerando, por conseguinte, a legislação como o vercla-
deiro propulsor ativo". E, no entender de Marx, "não há
história da política, dq direito, da ciência etc., da arte, da
religião etc.". Os "juristas, políticos (estadist;ls em geral),

167
moralistas, religiosos" são os ideólogos.79 Daí a necessidade
de "uma ação política geral",s° que cóntésteas condições
objetivas de vida como detem1inação do modo de produção -
capitalista, e isto só será possível coma apropriação do po-
der político pelo proletariado, sendo aquele a arma de domi- -
nação deste que setransforma em instrumento de sua liberta- _
ção. É o que pressupõe Marx nesta frase: ''Toda luta de clas-
ses é uma luta política"Y Por outro lado, no campo da luta
econôn1ica "o capital é _a parte maÍsfOrÚ?':82--.
Os elementos básicos que Marx considera consti-
tutivos das c!assesSQcÍais, desenvolvidos em suas obras de
juventude - A ideologia alemã, Miséria da filosofia,
- --
incluindo também o M,wi/Csto comunista-são , reiterados
. . .. _,
nos estudos posteriores. NaCSÚica do programa de Goth~,
ressalta-se a olganização de classe: "Naturalmente, a classe
operária, para poder lutar, tem que se organizar como clas-
se em seu próprio país, já que este é () campo imediato de
suas lutas. Neste smtido, sua luta de classe é nacional, não
por seu conteúdo; mas por suaforma, como se afirmou no
Manifesto comunista".S3 Este ponto de vista também ficou
realçado na carta de lvfJ.rx ú L. Kug,elmann. escrita em outu-
bro de 1866. No Congré'sso de Genebra, diz Marx,

limitei.-me intencionalmente aos pontos que


fazem possível um acordo imed iato para a
.' ação conjuntp dos operários e que podem-
satisfazer diretamente as necessidades da luta
de classes e fomentar a organizaçãodos ope-
rários como classe(grifas nossos).

E esta luta de classes "também pode ser levada por


meios políticos (por exemplo, a redução legal da jornada
de trabalho)".84 Na carta de Marx ao mesmo destinatário,

1Ml
de abril de 1871, está implícito que a luta da classe operária
contra a classe .capitalistaeigualmerite uma luta contra o
Estado; pois "este representa os interesses' da classe' domi-
nante. ca pi talista. 85.
Em continuação, citamos a carta de Marx a F.
Bolte, de novembro de. 1871, onde afirmava que

o movimento político da classe operária tem


<::<:>,11:lQH9bi<;:JjvQ41timg,
é claro, a conquista
do poder político para a classeoperaria, e para
este fim é necessário, naturalmente, que a
organização prévia da classe operária, ehibo-
rada na prática da luta econÔmi'ca, haja al-
cançado certo grau de desenvolvimento. Por
outro lado, todo movi~entoemquêa"Clas- .
se operária atua como classe contra as clas-
ses dominantes e trala de forç~-las "pressio-
nando do exterior", é um movimento polí-
tico. Por exenlplo. a tentativa de obrigar, por
meio das greves, os capitalistas isolados à
redução da jornada de trabalho, em deter-
minada fábrica
, . ou ramo da indústria, ê um
movimento puram;:nte ecolJ.,smico; ao
contrário, o movimento visando a obrigar
que se decrete a lei da jornada de oito horas
etc. é um movimento político. A~sim, pois,
dos movimentos por motivos econômicos dos
operários separados nasce, em todas as par-
tes, um movimento político, ou seja, um mo-
vimento de classe, cujo alvo é que se dê satis-
fação a seus interesses de [arma geral, isto é,
de [arma que seja compulsória para toda a
sociedade. Embora seja certo que estes mo-
. - . -
vlmentos.pressupoem certa orgal11zaçaopre-
,

via, não é menos certo que represôfitem um


meio para desenvolver esta organização.86

169
,.

Este momento de ,generalização do interesseespe-


dficode uma, determinada classe' em interesse geral, repre- .
sentativo de toda' a sociedade, já fora ressaltado por Marx
em 1844, em sua obra de juventude, intitulada Crítiál à
/ilosofiá do direito de HegelY O exemplo clássico, reite-
rado por Marx em diversas obras, é o d.a formação da
burguesia a partir das fimbrias da sociedade feudal ea con-
seqüente luta desta classe social em constituição pela der-
rocadiidiisinstituições do, feudalismo e de suas seqüelas, que
ainda vigiam na época da monarquia absoluta. Neste perío-
do de transição do feudalismo para o capitalismo, os. inte-
ressescomuns à classe burguesa se transfom1am em, interes-
ses universais de todos os ,grupos sociais oprimidos e sub- .
. jugados pera~t'~'~a~~~tocracia feudo-estamental dominan-
te. Esta coalescência dos interesses comuns a cada grupo
social erl: sincronia com os interesses da c1a.sse burguesél
deveu-se' ao fato 'de, ao se constituir como classe, tei-se
olganizado eb. em termos poiíticos c se transformado em
classe revolucionária, contestadora do Ancien Régime que
defendia a ordem daquela sociedade. .
Fi!,:lli;',llido o presfnte capÍ(u!o, cabem dlias ousêiva-
ções em rebção à pequena burguesia, ou ciasses médiãs, ou
camadas médias, ou, ainda, classes de transição.88 A primei-
1'a seria quanto à vocação reacionária da classe média, e a
.' ,
segunda seria relativa à atl;lação de membros destas çategorias
sociais' como ideólogos da causa revolucionária. '
~anto à primeira questão, encontramos a resposta
na Crítica do programa de Cotha, quando Marx contesta a
afirmação desse programa de que, exCluindo o proletaria-
do, "todas as demais classes não formam mais que uma
massa reacionária". Marx responde, utilizando-se das inter-
pretações já emitidas no Manifesto comunista:

170
De tadas as classes que haje se enfrentam cam
a burguesia, samente o.proletariado é uma
classe..verdadeiramente reval~cionáfja. As
demais vão. se degenerando. e desaparecem
com o desenvolvimento. da grande indústria;
.. o proletariado, por outro lado, éseu produto
. mais pecuiiar.

Prossegue M~rx:

Aqui, cansidera-se a burguesia como uma c1as-.


se revolucionária -veículo da grande indús-
tria - perante os senhores feudais e as.ca-
madas médias, empenhados ambos em man-
ter posições sociais que faram criadas por mo-
dos de produção caducos. Não formam, por-.
tanta, juntamente cam a burguesia, uma
massa reacionária.

Por fim camplementa: "o proletariado. é


revolucianária perante a burgu~sia, porque, tendo surgida.
sobre a base da grande indústria, aspira a despojar a pro-
dução. de seu Luáter capií.alista, que a burguesia quer pcrp~
tua r". Porém (citando a si mesmo no Manifesto) acrescen-
. ta que as "camadas médias (...] se tornam revolucionárias
qUdndo têm diante de si a perspectiva de sua pa~sagem
iminente para a proletariada".89 Esta restrição. de Marx é
uma demonstriJ,çãa clara de que era contrária a qualquer
generalização. desse tipo.; mais ainda, para ele, o caráter de
ser au não. revalucionário é um problema de prática histó- .
rica, dependendo. de condições h~stórico-saciais determi-
nadas. ~anto à propalada previsão. do desaparecimento.
das camadas intermediárias ou da pequena burguesia, para
muitas críticos explícita no excerto acima, em nasso en-

171
tender aquelas referências. são mais consetltâneas em rel; ..
ção às "velhas. classe.s inéclias"; que Marx. enumerava:. ôs .
pequenos proprietários agrícolas, pequenos artesãos um.
nos e certas categorias de profissionais autônomos típicos.
em determinadas fases de desenvolvimento da sociedade
capitalista. As "novas classes médias" são produtos típiem
da grande indústria e, quanto a estas, Marx faz referências
explícitas em O capital, quando ar'falisa opapel<:l.q<l:<:l.~
90
nistrador, do gerente e do supervisor.
Qlanto à segunda observação, referente à atuaçâó
s
de membros destas camadas intermediárias como ideólogo
revolucionários, o que depreendemos de Marx é que aio
se trata destas como um todo, nuS deJr.ações das classes
médias: "Do mesmo modo que, outrora, uma parte da
nobreza se passou para a burguesia, em nosSOSdias uma
P:ll tP. da burguesia se P;lSSZ1 para o proletariado, especial-
mente a parte dos ideó\ogos pequellO-burgueses que cheg<i-
ram à compreensão teórica do movimento histórico em
seu conjunto".9i Esta interpretação se referêmais à peque-
na burguesia do que à grande burguesia, distinção esta que
M:l!"C': fo::aliza emEi{)~;:l de A ideologia alemã. Acrescente-
mO$ ainda que, quando da ascensão da burguesia ao poder,
esta fração de classe atuOU como ideóloga da classe domi-
nante, como já observava Marx: "no seio da classe dominan-
te", com "a divis~o do trabalho físico e intelectual", "uma
parte desta classe se revela como a que dá seus pensadores
(os ideólogos conceptivos ativos da citada classe que fazem
do criar a ilusão desta classe sobre si mesma seu meio de
vida fundamentalY'.92
Em suma, a consciência de classe é uma consciên-
cia histórica. A sua manifestação é um produto histórico-
social determinado, e os sujeitos que a manifestam são
. sujeitos concretos que cQnseguem apreender teqricélmente,.
como uma totalidade, O' movimento d(\sociedade,'<:om
, seus conflitos e tensões. Esta prppriedade de compreensão'
riãoé um inOribpólio exclusivo da classê proletária; po-
..dem-na adquirir tanto a burguesia quanto as camadas mé-
dias. Ein períodos históricos determinados, a proeminên-
cia destaconsciêncÍa constitutiva da visão e da compreen-
são históricQ-prospectivas ocorre de uma forma cabal com
a classe burguesa; pot'outrolado;-as'potencialidades revo-
lucionárias da classe proletária podem se efetivar em con-
junturas e circunstâncias historicamente dadas. Em outras
palav~~s,'a produção da consciência social ou de, classe é
produção social de consciêQçia.,J históri.çª~~tIªns.it.Qüa,
sendo a verdadeira consciênóa, ciência dal'iistória, e a falsa
consciência, ideologia.

.' .

173
'," ,,'
i
i

NOTAS

I Weber, Ensaios de sociologia, p. 212.


2 Idem, 0P:.c.it:.Pp. 2l2}}:...
J Idem, op. cit., p. 213. '
~ Idem, op. cit., p. 214 (somente 05 grifos contínuos são nossos).
Estas ci tações foram retiradJs da part.ê II do livro acima mencio-
nado ("Cla"se, estal11énto e partido"). Na obra EconomÍa y
soácdild o tltuio dD capítulo é "Las comunidades poiíticas" e
no parágrafo 6 se localiza o item "División dei pouer en la
'cümunidad: c1ases, estamentos, partidos" (vol. lI, pp. 682-94).
5 Idem, op. cit., p,p. 216 e 217. Segundo Weber, "a existência de
uma Cf:iprôa c:pitaJista press:.:põc a e~:istência de uma ação
comunitária muito específica e que é êspecificamente estru-
turada para proteger a posse de bens per se e, especialmente, o
pouer que 05 indivíduos têm de dispor, em princípio livre-
mente, dos meios de produção". Por outro lado, "é condicio-
nada por um tipo esp~cífico de 'ordem jurídica •••. E, por fim, .
"05 chamados estamentos dificultam a re'alização rigorosa do
princípio de mercado, puro e simples" (idem, op. ~it., loe. cit.).
6 Idem, Ensaios de sociologia, p. 216.
7 Idem, EconomÍa y sociedad, vaI. lI, pp. 682 e 683. O capítulo N,
da parte 1II desta obra está também traduzido em português
em Bertelli, A. R. et aI. (orgs.), l:.Struturade classes e estratificação
social Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. Nela, o termo esta-
mento é traduzido ambiguamente por "grupo de status".
.

I
iI..
, .
8 Idem, op. cit., p. 693. Deve-se obserVar que no espanhol não fica .
claro:. 1) se a ordem econômica e a ordem social ~ que influem
sobre a ordem jurídic~, o~
se é apenas ~ repartiçãO da honra
. que a influencia; 2). se a ordem jurídica influencia a ordem
social ou a repartição da honra. Parece-nos queo mais certo é .
que as ordens social e econômica influern sobre a ordem jurídi-
ca.. Se assim for, a ordem jurídica, poi sua. vez, influencia a
orde~11 cwnâmica e so~iai, emb~ra, em
espanhol, ~steja no
singula~: "por el". Co~o "~rdem" e "hoiua" são masculino~ .
em espanhol, não se fica sabendo sobre o que reafmente influi
a ordem jurídica. Se sobre ambas as ordens, então seria afêtadas,
no plural, e não' no singular. Optamos pelo plural afetad,1S.
9 Segundo Julien Freund, as explicações que dizem respeito às
classes sociais são sumárias e inacabadas Oulien Freund, Soci-
%gia de Max \X0ber, 1970, p. 128).
10 Weber, EconomÍa y sociedad, vaI. I, p. 242 (grifos nossos). Na
obra de Julien Freund, a terminologia e a caracterização são
dúbias, se n20 vejamos: "Weber'distillguetrês.tipos de classe: a
ciflSSe possuÍdora, caracrerizada pela posse de um monop6lio;
<1 cJ:1SS~produtiva, cujo lugar comum é a vo'ntade de emp! een-
der nos diferentes setores do comércio,. da inJústriaou da
agricultura, e enfim, a classe social, cujo critério repousa mais
no lugar hierárquico ocupado no seio da sociedade (classe
uperá';', classes médi:l$ etc.)" Ouli~n Freund, op. cit., p. 128,
grifas nossos). Esta terminologia, com a exClusão da última,
não corresponde à de Weber e é, além do mais, coníusa não
somente quanto à escolha dos termos, mas também quanto ao .'
conteúd~ do conceito. .
11 Idem, op.cit., p.242.
.' .
12 Idem, op. cit., pp. 242-43.
I) Idem, op.cit., p. 243.
14 Ibidem.' Ressalte-se que a categoria déc1assés (proletariJ) é com-
posta por não-proprietários de terras, como fica delineado
logo adiante, quando Weber compara dicotomicamente "pro-
prietários de terras e déc1assés"~ ".
15
Ic1em, op. •. Clt., I oe. Clt.
.

17,
'"

16 Id em, op. Clt.,


. IOCo Clt..
17 Resta-nos salientar que, quando Weberconstrói os concei tos a
partir de uma classificação "do~ possíveis 'sentidos meniado~'
", leva em conta uma preocupação com "o modo e medida a.

da distância existente em face da realidade, quando se trata do


conhecimento desta em sua concr"eção". Em outras palavras;
deve-se, na construção dos tipos-puros, partir de casos"
idealmente limites (como está no original), ou seja, como se a
ação social transcorresse com sentido eletivo e com consciên-
cia absoluta e límpida:"'" ação com sentido mentadC:LO"esqüe:
ma de interpreta'ção - tipo ideal - seria; neste caso, "relativa-
mente vazio em face realidade concreta do histórico" (idem,
op. cit., pp. 16, 17 e 18). Em nosso "entender, os elementos
típicos de c13sseproprietária têm características peculiares aos
diversos tipos de fOCl11ação socid historicamente preceden~"""
tes ao capitalismo moderno, enquanto a cl.úú:!ucrafÍva se
aproxima mais da formação social do capitalismo moderno.
De f:IIO, enc"c:>ntramos nas ponderações de Weber o seguinte:
"Os estamentos, tenJa em conta seu centro de gra\'idad~,
formam-se freqüentemente por classes de propriedade" (grifas
nossos), ao pa:;so que "as classes lucràtivJS florescem sobre o
solo da economia c1e"mercado" (idein, op. cit., p;246).
IS Weber, Economia'y sociedJd, voI. I; p. 244 (as palavras classe
!ucrati',,~, empres~rios etr:\balhadores est~0 grit~"(h~JlO original).
O procedimento de coiocir "as classes médias" nos intersticios
dos pólos dominante-dominado já é consagrado, entre os clás-
sicos da sociologia, quando da análise da estratificação social.
Como veremos mais adiante, nas obras históricas de Marx, os
profissionais li~erais, funçionários públicos e privados, cam-
"poneses e artesãos independentes aparecem "ou como classe
média ou como pequena burguesia.
I? Idem, op. cit., p. 49. Essa citação consta da primeira parte,
capo lI, cujo título é "Las categorías sociológicas fundamen-
tales de la vida econón1"ica", pp. 46 a 169.
20 Idem, op. cit., pp. 75-6 e 105.
21 Complementando, a classe lucrativa positivamente privilegia-
da é composta tipicamente por empresários e estes se orien-

171:.
tam pelas probabilidades do mercado. E a empresa (gerida por
"empresário), enquanto organização" econômica sensível àque- "
laspr~babilidades, promove sua "exploração: a) pela prefe-
rência"que concede ao cálculo de capital, possível unicamente
de um modo técnico-racional [...); b) pela preferência que ou-
torga às qualidades puramente comerciais das gerências sobre
"~~técnicJs e pela manutenção dós segredos comerciais e técnicos;
c) pela" preferência à" gerência especuladora que aquela :lpro-
priação supõe; d) pela superioridade adquirida: d.!) no merca-
u9.~)~~jr..a.~a.!~o [...), d-2) no mercado de bens, peta economia
lucrativa operando com dlculo de capital. bens de capital e
crédito lucrativo {...); e) a disciplina é ótima no caso de traba-
lho livre e apropriação plena dos meios de produção" (idem,
op. cit., pp. 109-10, parte referente a "Las categorías socioló-
gicas fundamentalesde "la vida económica")." Ver também:
Weber; HistóÚa~i;Olíómicageneral, 22 ed., 1956, capo IV: "EI
origen dei capitalismo moderno", pp. 236 e 238 ("Concepto
y premisas del capitalismo"). Por fim, consulte-se tam.bém:
Weber, La ética protestante y el espiritu deI capitalismo, 1955
(principálmente a "Introdução", pp. 1-17).
,
22 Cf. Historia ecollómicageneral. Na )Jágina 309, denomina o
período precedente ao século XIX de protocapitalista. No
que se refere à propriedade, Weber afilma: "A propriedade,
no sentido da ciência econômica, não se identifica com o
ccn~~:to jurídico. No :~pe~tc ec~~ô~:~o;t3~bém é pro-
priedade o caso, por exemplo, de uma clientela que é heredi-
tária, divisível, alienável; na realidade," é assim que a conside-
ra, por exemplo. o. direito indiano, como objeto de proprie-
dade. "Podem ser apropriados, ou seja, objeto do
ordenamento da propriedade: as oportunidades c/e trabalho,
isto é, os empr~gos e as probabilidades de obte~' ~ma renda
que a eles se ligam; os meios materiais de produção; os pos-
tos de direção, ou seja, os cargos de empresários" (p. 13, grifas
do autor).
23 Weber, Economia y sociedad, vaI. I, p. 246.
24 Idem, op. cit.,pp. 244 e 245. Observação: a pequena burgue-
sia ou os pequenô-burgueses são, para Weber: os artesãos da

177
cidade e o pequeno comerciante, que se comportam com
b;lseem ~'uma consideraç~o ética e racionalista-religiosa d~
vidaj~ (vide EcoilOmi~ Y sOCl;edad,'pp. 389 e 390).
25 Idem, op. CiL, p. 245.
26 Id' em,op. .
CIL,
I oe. Clt.
.
27 Idem, op. cit., p. 246,
2R Id em, op. (1. t., "oc.
I .
r.lt.
29 Ver Economía )' sociedJd, vol. I, 'p. 246, e \'01. lI, pp. 686-93.
30 Fernandes, Florestan, Fundamentos empíricos "da, explicação
,:"spciológicil, 1967, p. 98. "
~I Ressalte-se o fato de que o último capítulo d~ O capital, justa-
mente aquele em que discutiria o tema, ficou incompleto.
32 LukácS,.Histoire etcollsciellce de classe, 1960. Este autor é um
dos raros ç11SJÍstas marxistas que d"iscute o problema das classes
sociais pari passu com os escritos de Marx, encadeando nos
seus estudos estamelltosem relação às classessociais, monarquia
absoluta em relação ao Estado moderno(vide pp. 6TI07). H;'t
tradução brasileira de~ta parte em A. R. Benelli, et aI. (orgs.),
l:.struturade c1asséscestra/Íficapio soci.1/.Rio de Janeiro: Zahar,
1966. '
33 Marx', Elementos fundalllelltales para la crítica de'la economía"
politica, p. 3 ("Introdução").
j4 l.dem, (':-' cit., fi. 5. COIPpletando;J citação acim~: "[C::ertas) deter-
minações serão comUl!S à época mais 'moderna e à mais' amiga"."
Observação: há. tradução desta "Introoução" em português,
realizada por Florestan Fernandes, em Octavio Ianni (org.), A
ideologia alem.i, 1965, pp. 109-42, cujo título é "Introdução a
uma crítica da" economia política". Há também uma tradução
castelhana publicâda nos Cuademos de Pasado y'Presente,
Buenos Aires.
35 T. W. Adorno e M. Horkheimer, La sociedad: leccÍones de
sociología, 1969, p. 35. Ver também idem, M. Sociológica.
Madri: Taurus Ediciones, 1971, pp. 325-8.
36 Marx, Elementos fundamentales para la crítica de la economí8
política, p. 6.
37 Idem, op. ciL, pp. 7 e 8.

178
38 Os conceitos de estática e dinâmica são analisados por Adorno,
e a formulação básica deste autor é a seguinte: "Sem dúvida, a .
divisão entre invariantes e'transformaçot:s, entre soci~logiaés-
tática e dinâmica é; ~m termos rigorosos, insuste~tável. A dita.
divisão contrasta irremediavelmente com o próprio concei-
to de sociedade como unidade indissolúvel de. dois momen-
tos. As leis históricas de determinada fase. não são simples
modos de manifestação de leis m;:.is gerais, porém, aocontrá-
rio, todas as leis são instrumentos conceituais forjados na
tentativa de.dominar as tensões. sQciais em sUa raiz teórica.
Ao realizar tal empreendimento, a ciência se-move'emdiveF
sos planos de abstração, sem que com isto resulte válido r~-
presentar-se a própria realidade como uma montagem de di-
tos níveis" (T. W. Adorno eM. Horkheimer, La sociedad ...,
pp. 35-6). Esta observação de Adorno é a mesma- formula-
. da com outras palavras - de Marx, como procuramos duÇj9;J.f.
No "Postfacio ala segunda edición" de O 'capital, Marx trans-
creve os se~uintes trechos do wieslnik e'vropi (meos3geiro
europeu): "Marx nega, por exemplo, quea lei demogdfic:l
seja a mesma para todos os iugarcs e todos 05 tempos. Ao
contrário, afirma que toda ép'oca tem ma própria lei
demográfica ... Ao mudara dest:nvolvimento da capacidade
produtiva, transformam-se tambhn as relações sociais e as
leis que as regem. Ao traçar como meta a explicação e a in ves-
ti/{a••.;;ü da ordem ccóllôn.;ca cJp:t:.iista com este crité:io,
Marx se limitaa formular, com o máximo rigor científico, o
objetivo que toda investigação exata da vida econômica deve
se propor [...) O valor científico de táis investigações estriba
no esdarecimento das leis e.~peciais qut: presidem o nasci-
mento, a existência, o desenvolvimento e a morte de um
determinado organismo social (formação social) e sua subs-'
tituição por outro mai's' elevado (desenvolvido). Este é, in-
discutivelmente, o valor que se tem que reconhecer à obra de
Marx" ( £1 capital, vaI. I, p. xxiii, os acréscimos entre
parênteses são ~ossos).
39 Marx e Engels, La ideología a/emana, pp. 20a26.
4U Idem, Q.p. cit., pp. 89~90..
41 Idem, op. cit., pp. 60-1.

179
42 Idem, op. cit., pp. 52 e 53. A glosa marginal é a seguinte: "A
. generàlidade corresponde: 1) à classe contra <:> estamento; 2)
à concorrência, ao intercâmbio mundial. etc.; 3) ao grande
contingente da classe dominante; 4) à ilusão dos interesses
comuns (ilusão em princípio verdadeira); 5) à ilusão dos
ideólogos e à divisão do trabalho".
4~ Engels, lêni'l, Stálin e Maurice Thotez,. J\1arx..et marxisme:
choix de textes tondamentaux de Karl Ma/x. Paris: Ed.
Sociales, 1953, p. 14. Há tradução brasileira da Editorial Vi-
lóiÍj.
4~ A propósito destas .categorias - determinações comuns ou ge-
rais e determinações válidas apenas para uma determinada época
ou determinações específicas -, citaremosum.longo período
contido na .obra E1emelltos fundamen(ales pára la crítica de
la eC9!1D..ll1/:J.:polítiqpor ser esta reiteração teórica de funda-
mentaI importância para o problema em pauta: "Quando se
diz que o capital 'é trabalho acumulado (realizado)' -falando
com proprjed~de, trabalho objetivado - 'que serve de meio
~o novo trabalho (produção)', lev;;-sc em conta unicamente a
matéliJ do c'ipital e se prescinde da determinação form,d sem
a qual não é capital. Isso equivale a dizer que o C:lpital nada
mais é que instrumentoJe produção, pois, no sentido mais
amplo, antes que um objeto POSS;} servir de' instrumento, de
Ineio de produç50, é necessário apropri~r-se dele por uma
atividade qualquer, mesmo que seja um objeto integralmelHe
tornecido pela natureza, como as pedras, por exemplo. Sesundo
essa afirmação; ° capital teria existido em todas as forlllas da
sociedad~, o que é cabalmente anistó •.ico. De ~cordo com
esta tese •.cada membro do corpo seria capital, já que deve ser
. não somente desenvolvido, mas também .nutrido e.reprodu-
zido pela atividade, pelo trabalho, para poder ser eficaz como
órgão. O braço e~sobretudo, a mão seriam, pois, capital. Ca-
pital seria um novo nome para uma coisa tão velha quanto o
gênero humano, uma vez que todo tipo de trabalho, mesmo
o menos desenvolvido, a caça, a pesca etc. pressupõe que se
utilize o produto do trabalho precedente como meio para o
trabalho vivo e imediato. Outra determinação da definição
citada acima. é a de que se abstrai totalmente a substância

material dos produtos e se considera o trabalho passado como


seu único conteúdo (substância). Faz-se abstração, igualmente,
do objetivo determinado, específico; para cujaformação este
produto, agora, deve servir como mei{)novameÍ1te, estabele-
cendo-se, na qualidade de objetivo, sorilenJe uma produção
em geral. Tudo isto aparenta ser ÍJnic~me~te a obra da abstra-
ção', que é igual em todas as condições sociais e que apenas
leva a análise I~ais adiante e J formuIade. modo mais nbstrato
(mais geral) do que até então fará ocorrer. Se, deste modo, faz-
se abstração da forma determinada do capital e se dá ênfase
apenas ao conteúdo, que como' tal é um momento necessário....... __.._
de todo trabalho,. nada mais !Jcil, naturalmente,. do que de-
monstrar que o capital é uma condição necessária de tÇJda
produção humana. A prova correspondente é fornecida median-
te a abstração das deterininações específicas 'qüefazem do ca~
pitnl o elemento de uma etapa histórica, particularmente de-
senvolvida, da produção humana. O quid da questão reside
em que, embora todo capital seja trabalho objetivado que ser-
ve como meio para uma nova produção, nem todo trabalho
objetivado que serve como meio para uma nova produção é
capital. O capital!: concebido como coisa, não cnJÍ10 reraçiio"
(vaI. I, pp. 196-97, grifos do autor). .
45 Marx, £118 Brumário de LuisBonaparte, p. 18. Na mesma pági~
na, Marx cita Sismondi: "O proletariado romano vivia da sacie.
doiJc, ao passo q'.'': a socjed~de moderna vive a expensas do
proletariado". Segundo Marx, "existia llllla difercllça r<ic:;-:al
entre as condições materiais e econômica$ em que era travada
a luta de classes nos tempos antigos e nos modernos":.
46 Segundo Hobsbawm, "a pahlvra ~c1asse' nem sequer é meneio-
. nada no 'Prólogo' (da Crítica da economia política), uma vez
que' as classes nada" mais são que 'Casos especiais. das relações
sociais de produção em períodos particulares da história, ain-
da que, sem dúvida, muito prolongados" (Eric J. Hobsbawm,
"Introdução", in Marx, Formaciones económicas precapi-
talistas, p. 7). Stanislaw Ossowskj, na parte II ("Construções
conceptuais e realidade social") da obra abaixo, discute a "De-
notação tripla do termo 'classe social"', realçando os aspectos
semânticos da questão e procuràndo mOstrar que o termo état

181
(estamento) tem uma denotação bem distante do conceito geral
de classe. '.'Já observamos - é Oss()wski quem afirma --:-que; .
depois daRevoluçã~ Frances~, o termo classe expulsou estado
(estamento), com referência ao conceito geral de grupOS há-
sicos numa estrutura social. Isso sucedeu numa era em que as
sociedades européias estavam mudaüdo seus sistemas sociais
e quando os antigos critérios que determinavam aS divisões.
sociais estavam teJendo lugar a outros noveis. Por isso, cada
qual desses termos, mesmo quando usado num sentido geral,
veio representar um período difere~te quedevia.s.~ras~()c.ia.~() __-
a um tipo diferente de estlUtura" (Ossowski, Stanislaw, Estru-
tura de classe na consciência social, 1964, pp. 14.5 e segs.).
Diríamos que não somente estãO associados a tipos diferentes
de estrutura social, mas diferc.ilciam uma estrutura da outra, um
modo de produção em relação a outro, Ul~l determinado. tipo
de divisão do trabalho, e assim por diante. Sobresoáedades
pré-capiúlistas e capitalistas, ver Lukács (Histoire et conscience
de classe, já citado), principalmente o item lI, do capítulo
intitulado "La consciwce de .dasse", onde este autor discute a
csuatiflc"ção da ~oci~dade em estamentos e, a partir da dis:;olução
destas relações sociais estamt:ntais, a emergência da estrutur:l
de classes (pp. 78-83). Raymond Aron (Llltas de classes, 1964,
pp. 36-54: "A concepção marxista das d~sses'Tressalta o con-
teúdo bísico do texto de Marx acima citado "Neste texto, a
palavra dasse.alJiica-se aos grupOS suciais de qualquer sucieudJe
hierarquicamer.te dispostos. A oposiç:io das dasses equivale 3pro-
ximadamente à existente entre opress.ores e oprimidos e o único
contt:údo que a noção apresenta aqui é o da hierarquia das classes
.e a opres;ão que uma delas exerce sobre a outra" (p. 38). Em
seguida, Aran. comenta que, "em larga medida, não se trata de
um fato mas sim de. uma definição arbitrária", realizada entre
alternativas possíveis. A arbitrariedade reside no fato de ser a
realidade indeterminada, e, em face dessa indeterminação da reali-
dade social, A!on conclui: "Como é inevitável, sempre que o
sociólogo tenta compreender a realidade, está condenado a
interpretá-Ia. Talvez seja bom que as coisas sejam assim: na medida
em que o sociólogo não se contenta apenas em observar a reali-
dade, modifica-a. Nunca se teria pensado acerca das classes sociais

182
como atualmente se Marx não o tivesse feito, talvez antes de
elas existirem como ele as concebeu" (p. 71). Eis aqui a posição
metodol6gica que torna irreconciliável a relação sujeito-objeto,
a não ser pela opção arbitrária do investigador que ordena uma
realidade infinita e caótica desyirtuando-a, para qu~ esta mesma
realidade seja compreensível. apenas pela interpr~tação racional
e intelectual. Em sumà: a realidade social torna-se ordenada
quando é desvirtuada pela ingerência da razão. (Nota: para Aron,
as classes sociais seriam um tipo ideal)
.47 Além dos autores citados na nota anterior, vide ainda os se-
guintes: a) H.Franki{SoC/êdadcapitalista y sociología mo-
derna, 1972 - especialmente o capo 5, item referente às clas-
ses sociais, pp. 176 e .segs. Este autor, apesar de se declarar
.ri1arxista (ver p. 20) e vislumbrar em O 18 Brumário a aplicação
prática do niétodo de interpretação marxista, ao selecionar
trechos da citada obra usa uma interoretaçãoclaramente
.. 1 •
in-
f1uenciada pela metodologia weberiana. Frankel. transforma
o que em Marx é metafórico em uma das características deste:
admite Sff da lavra de Marx a ~lnálise da sociedade francesa
como composta de castas de funcionários bonapartistas e de
estamentos (pp. 176 e 177). Segundú Frankel, é conveniente
assinalar. portanto, "as características peculiares dos grupos
dentro da grande divisão da sociedade de acordo com asdasses
marxianas. Algumas destas divisões de grupo ~e assemelham à
classe sociai (na maior parte J3S vezes, definida pela ocupação).
ao grupo socioeconômico (ocupação e renda), ao status" (Ieia.se
estamento, definido pelo autor como "o modo de vida").
Sem dúvida, continua, "quanto mais nos afastamos da carac-
terística definidorà fundamental, menos fundamental é o
modo de diferenciação, ainda que a definição particular possa
ser analiticalTlente útil e póliticamente importante" (p. 178) .•
b) Georges Gurvitch, EI concepto de c/asessociales, de Malx a
l1uestros días, 1960. O seu mérito consiste em diferenciar as
classes sociais das castas e dos estamentos e, ao mesmo tempo,
em ter estabelecido a conexão entre classes e revolução bur-
guesa moderna, determinada pelo c:;pitalismo moderno. Po-
rém, ao caracterizar as classes sociais a partir dos escritos de
Marx, seu viés formalista transforma a seleção de textos deste

183
.'

em algo quase idçntico a uma pesquisa empírica de campo


(sendo cada obra uma unidade amostraI e objeto da investi-
gaçãO, cujo t~ma central a ser levantado é o conceito ou
referências sobre. classes. sociais), sem articulá-los devidamente
com' o método e com a estrutura teórica do pensamento de
Marx. A articulação apontada (classes sociais e capitalismo
moderno e, ainda, castas e estamentos com formaspré-eapi-
. talista~) torna-se extel na à obra de M.,; x. Em sunla, ressalta-
dos os méritos do ensaio, o estudo de Gurvitch é mais uma
contrihuição .... com ....caráter de levantamento de citações e
inuit.os dos aspectos cruciais' aparecem como contingentes.
As categorias-cónceitos de casta, estamento, classe, estrato de
classe, classe de transição, fração de Classe, classe virtuaLou
.potencial, classe efetiva, es.trato, pequena burguesia etc.,. so-
mente adquirem significação como instrumento de. análise
quandoarilculados como:palte a as"'totalidades histórico-
sociais, pluridimensionais" (as palavras entre aspas são de Luís
Pereira, retiradas dos Ensaios de sociologia do desenvolvi-
mento, São Paulo: Pioneira, 1970, p. 12). c) Rodolfo
Stavcnhagen, "Estratificação social e estrutura de classes", in
A. R. Bcrtelli, et aI. (orgs.), l:.strulUJa de classes e estratifir:a-
.çãysocial, pp. 117-48. O seu ensaiu de interpretação realça as
determinações comuns: "As classes não são imutáveis no tem-
po: formam-se, desenvolvem-se, modificam-se, na medida em
que se vaI. transrorm:ln
r 'd .lu"'''( a afilfn,,,po- correta
do a SOCI!':
s.eria' as dasses em geril), ou "as' classes atuam como forças
motrizes na transformação das. estruturas. sociais", são for-
mulações abstratas e de caráter generalizante que necessita-
riam ser n:feridas, pelo menos, ou mais integraàas' em uma
teoria da história, em vez de serem, como: em Stavenhagen, .
~imple~ afifl11ações nlais tautol6gicas que teóricas ("o concei- .
to de classe só adquire valor analítico como parte de uma
teoria de classes"). Estas formulações estão no item II do
ensaio (alíneas a e b). Por outro lado, se as classes sociais de
uma determinada formação social se referem apenas aos gru-
pos fundamentais de oposição, o problema do critério, ou
cri térios, torna-se irrelevante em termos teóricos. O que é rele-
vante se configura na própria divisão entre duas ou"três classes
fundamentais, ou seja, a partir da posição ocupada pelos in-
.~.
divíduos na produção social, sendo (} restante das caracterís-
. ricas desdobramentos suplementares desta definição,. Formu-
. !ada de Uma maneira máisabstrata: a posiçãO ocupáda pelos
indivíduos num modo de produção social determinado tem
como det~rminação desté acondir;ão wcialde. classe. As dis-
cussões em torno da. base econômica, política, social, cultu-
ral,moral o"u mental são apenas redundantes com relação à
colocação teórica ceiltral, pois que a palavra s6cial posposta
ao termo produçãu englob:l, na interpretação de Marx, as di-
. mensões (instâncias ou regiões) ,,-=conômica, política, jurídico-
. ideológica e, mesmo, a cultural (vide alíneas c, d, c, f e h, da
Obra citada). Na alínea g, ao criticar GUrVitch eSorokin, Ro-
dolfo Stavenhagen permanece apenas 11~ nível da restrição,
sem se fundamentar teoricamente no que se refere aos esta-
mentos e castas, e se justifica por internlédio de Uma formu-.
laçãoabstrata: "É bem conhecido que para a escola marxista
as classes constituem um fenômeno quase universal, carac-
terístico de qualquer sociedade baseada na exploração duma
parte da populaçãu por outra" (grifas nossos), r cOOlplementa:
"ou seja, lanto do escravismo, como do feudalismo e do ca-'
piralismo". Esquematicamente, rodemos aventar que na in-
terpretação de Stavenhagen as determinações comuns adqui-
rem primazia em relação às determinações específicas. E ape-
sar deste a.utor afirmar que as classes são "antes de tudo 'uma
cô.tegori? hi5tórica", :l hi~torjr:idJde desta permanece apellas
. no nível tormal da afirmaçao: é, no nosso emender, mais
anistórica do que histórica; à) Nicos Poulantzas, Poderpolíti-
co y class~ssociaJes en el estado capitalista, 1971 - vá capo'I!.
Na "Introdução" de sua obra, este autor diferencia os 'conceitos
gerais e abstratos ("formal-abstratos") 'dos conceitos ou obje-
., tos con<:retos ("reais-concretos"). Ao an'alis.ar as classes sociais
em Marx, devido ao radicalismo de sua crítica ao historicismo
de Lukács e Goldmann, 4.esliza para o pólo oposto, fixando-
se mais nas determinações comuns e preocupando-se, na sua
interpretação e definição de classes, com as sistematizações
. ábstratas e formais. Vejamos esta proposição teórica: "As classes
sociais não são, de fato, uma 'coisa empírica' cujas estruturas
seriam o conceito: expressam relações sociais, conjuntos so-
.
'. ,.- .
ClalS, porem sao seu conceito; ao mesmo tempo que. os COI1-

185 .
ceitos de capital, de trabalho assalariado, de mais-valia, cons-
tituem os Conceitos. de estruturas, de relações de produção" ...
Em s~guida, co~pleta: "MaiS exatamente, a classe so~ia1 é
um conceito que indica os efeitos do conjunto das estruturas,
da matriz de um modo de produção. ou de uma formação
. social sobre os agentes que constituem. seus apoios: esse con-
ceito indica, pois, os efeitos da estrutura global no domínio.
da~-relações snciais"~ Neste ~êI1tido, cúntinua Poulantzas, !'se
a classe é .um conceito, não designa uma realidade que possa
ser situada nas estruturas: designa o efeito deúm conjunto
de estruturas dadas, conjunto que determina as relações s(lciai.s ............m., ..

como relações de classe" (pp. 74 e 75). A proposta de Poulan-


tzas deixa-nos as seguintes dúvidas: seria a classe social uma
estrutura de significação do universo simbólico, um produto
da abstração? Ou seria a classe social um grupo .social de.
oposição real-concreto? Ser.ia, por ser uma determinação das .
instâncias políticas, jurídico-ideológicas e sobred~t~~-;l1inada
pelo econômico (porém com relativa autonomiá das instâncias),
\IIna dt'ternJinação l'0iítico-ideoiógica? (Ver o conceito de ciasse
soci;d acima, grifado pelo autor em pauta.) Ou seri;: um mo.
mento uu pensamento (ou processo de pensamento), um con-
ceito-instrulllento 4ue conduziria :i apreensão do concreto
redefinido em suas múltiphs determinações? Em suma: pare-
ceu-nos que as classes sociais. de Poulantzas são classes sociais
ern ger;;l, a[ticubd~5 :i prodU';.io em ger3!. CO:1j;:s Sl.:::Srespec-
tivas inslâncÍ:1s, cof!1polldo~ modeio teónco de modo de pro-
dução - ou uma abstração gerando uma nova abstração _,
sem a devida criva£em ou articulação com as determinações
específicas (Ou será que a queótão da existência de uma classe
é uma questão de .'prática de classes'?), o que torna o problema
uma questão de probabilidade. As questões acima demons- ., .
tram a generalidade e a complexidade das formulações de
Poulantzas. Nossas anotações são superficiais, e não pretende-
mos dar a elas um caráter definitivo.
~8 Marx, Miséria da filosofia, 19..65, pp. 117 e 118.
49 Id em, op. Clt.,
. p. 164.
50 Idem, op. ci!., pp. 164 e 165 (estJ: último trecho já foi citado).
SI Marx, £1 capital, vol. lI, p. 375.

186
52 Idem,op. cit., vol. 111,p. 817.
53 Na UIntrodução" a Elementos fUlIdamentales para la crítica
de la economía política encontramos, na esquematização de
seus.estudos,a seguinte divisão de Marx: UI) As determÍnações
abstratas' gerais, que co"rresponderr., em maior ou menor
medida, a todas as formas de sociedade, porém no sentido
exposto anteriormente (ó sentido a que Marx se refere já foi'
utiiizado 110 presente estudo páginas atrás); 2) As categorias
que constituem a articulação interna da sociedade burguesa
e sobre as quais repousam as classes fundamentais. Capital,
trabalho assalariado, propriedade territorial. Suas relaçõcsrecí-
procàs. Cidade e campo. As três grandes classes sociàis" (p. 29).
54 Ver O 18 Brumário de Luís Bonaparte, s.d., pp. 43-76; As lutas
de dasses na França, 1956, pp. 31-54. Utilizamos a tradução
bras'ileira porque' entendemos que, a esta. altura, os problemas
semânticos e de.terminologia foram já suficientemente escla-
recidos.
55 Raymond Arcn, Lutas de classes. p. 41.
56 Marx, O 1R Brumário de Luís Bonaparte, p. 56 (p. 50. n:! edi-
ção em e.;panhol).
57 Manin Nicolaus, EI Marx desconocido: proletariado y clase
media e!l lviarx:coreografia hegeliana y la dialécticâ capitalista.
Barcelona: Cuardemos Anagrama, 1972. Denomina a udasse
média" de "c'ass'e nao-produtiva" ("das!: de trabjadon:s' !lU
pruduccivos, de trabajadores de servicio; o de sirvientes'}' Ain-
da, conforme M. Nicolaus, a predição das no~'asclassescol1stitui
um dos maiores achados científicos de Marx (cf. pp. 98 ~ 99).
5ij Marx, EI 18 Brumário de LiJís Bonaparte, pp. 55 e 56.
59 Marx, As lutas de classes na França, p. 32 (na edição espanhola
.:.-Marx, Las luchas de daks en França. Buenos Aires:
. Edito~'
--

rial Claridad, 1968 -, ver páginas 52 e 53. Nesta obra, em vez


de gradação aparece estratos ("La pequena burguesia. en to-
dos sus estratos" [grifo nosso]).
60 Idem, op. cit., p. 82. Nesta citação, o termo utilizado é "c~ma-
das médias"; nas anteriores (p. 32), ele faz uso do termo
"classes médias ': O sentido genérico é c1a:ro: "todas as classes
médias". .

, 187
.' ,~
, .""':~~'l
" ;~~
61 Marx, O 18Brumário de Luís Bonaparte,pp. 132 ,e 133. Na
'glosa marginal da página 65 de A ideologia alemã, aose referir
ao comércio e à manufatura como determinadores da gran"
de burguesia e aos grêmios como osdeterminadores da
pequena burguesia, esta como subordinada àquela, acrescen-
t,a: "Pequenos burgueses - classe média - grande burguesia".
Em A Revolução Espanhola, enumera as seguintes catego-
, rias ocup;!cio~ais C0l110 sendo ~/.1ssesmédias: "escritores, mé.
dicas, ad\'ogados e, também, c1érig()s", e acrescenta: "Exis-
tiam também [...] os jovens estudantes dascL1Ssesmédiasi,.
tais como os estudantes universitários" (p. 19). Há ainda re-
ferências às classes médias nas páginas 11, 17,35, 144; 145 e
146. Na página 144, Marx afir,!TI<I:"milícia liberal das classes
médias". Em A ideologia alemã, afirma: a divisão ,do traba-
lho somente se converte' em verdadeira divisão a partir, do
momento em que se separam o trabalhofisico olnteiec~
e
tual (e na observação a esta afirmação agrega: "A primeira
forma dos ideólogos, os sacerdotes, decai" -p. 32). Na pági-
ila 143, nota de rodapé do primeiro volume de O capital, au
se referir ao trabalho simples, Marx inclui as seguintes cate-
gorias ocupacionais como send!) de classe média: "Os peque-
• I. " )'
nos rentlstas, os empregaaos, ,escntores, artlSl,as,,,mestres etc. .
No terceiro volume de O capital, inicia a seguinte interpre-
tação incompleta: "Os fnédicos e os funcionários, por exem-
pb, form~ri3m duas classes, peis pertencem :1 dois grupos
sociais di5tintos, cujos component.es vivem de rendas proce-
dentes, em cada um deles, da mesma ,fonte. E o mesmo se
poderia dizer do infinito desdobramento de interc>sses e po-
, sições em que a divisão do trabalho social separa tanto aos
trabalhadores
~ como aos capitalistas e aos. . propri~tários de ter-
.
ras, e a estes últimos, por exemplo;' em proprietários de vinhe-
do, proprietários de terras de cultivo, proprietários de bos-
ques, proprietários de minas, de pesqueiros etc. (aqui o ma-
nuscrito se interre.mpe -, a citação foi retirada das páginas
817 e 818). A palavra "infinito", para Marx, "não tem sentido
a não ser que signifique a fàculdade do espírito de adicionar
sem fim", como afirma ele em A sagrada fjmília (este excerto
consta de Marx-Engels.Lewis. lntroducción a la filosofia y
materialismo dialéctico. México: Frente Cultural, s.d., p. 120).
"

. Finalmente, na sua obra de crítica às teorias econômicas,


TheorÍes of surplus value (1951); Marx. nos du cid a que."Ser:- .'
viço' é trabalho considerado unicamente como valor de uso
(uma matéria secundária na produção capitalista)" (p. 378) ..
62 Marx, El c~pital, vaI. IH,
p. 817. . .
63 Marx; Salario, precio yganancia (i 865), s.d. - ver especialmente
os itc:ns VI ("Valor y trabajo") c VII ("La fuerzade trabajo"),
pp. 28-42; a citação foi extraída da p. 39. E~te valor da força de
trabalho é "limite mínimo determinado pelo elemento fisico".
Mas este valor é determinado por outro elemento, "de caráter
histórico e social". E Marx tambêmo define como "o padrão
de vida tradicional em cada país. Não se trata somente da vida
física, mas Elrribérricla satisfação de certas necessidades que
emanam' das. condições sociais 'em que vivem ese criam os
homens" (cf. "Salário, preço e lucro", item I, capo XIV).
64 Idem, op. cit., ver itens XIII ("Casos principales de lucha por la
5I1bida de sala rios o .contra su reducción") e XIV ("La lucha .
entre eI capitaly trabajo, y sus resultados"), pp. 54-69. Tambtm
em Marx e Engels, A'ÍaniÍesto comunista, 1960, principalmente
o item II ("Proletários e comunistas"), pp. 39-49.
6\ Marx e Engels, La ideologÍ3 a/emana, capítulo I ("Feuerbach:
tontraposición entre la concepción materialista y la idealista"),
pp. 15.90.
'
.. 1aem, op. Clt., pp. J..".!-L.
....
,,7 Idem, op. cit., p. 32.
68 Idem, op. ci L, p. 36.
'9 Idem, op. cit., pp. 202.3. Soore privilégio, honra social, lealda-
de, classificação dos I;lsufrutos etc., ver páginas 52, 224-226,
255, 567e 686. .. . .
70 Lukács, "A consciência de classe", in A. R. Bertelli et aI. (orgs.),
Estrutura de classes e estratificação social, pp. 28-9.
71 Marx, Salario, precio y ganancia, p. 33: a "denominação social
encerra muitas coisas" (múltiplas determinações). Nas 'Tesis
sobre Feuerbach (item 6) afirma: "A ess.ência humana é, em

sua realidade, o conjunto de relações sociais" (in Marx e
Engels, La ideología alemana, p. 667).
.

72 Marx, O 18Brumário de Luís Bonaparte, p. 15.


. 7~ T. W Ador~oeM. Ho;kheimer, Sôciológica,p; 311:
7'Marx, MiseTÍadda filosofia, 1970, pp. 115, 119 e 90. Nesta
. última página, Marx declara: "Em cada sociedade as relações.
de produção formam um todo".
75 Marx e Engels, L2 ideología. a/emana, pp. 34-~,
7b Idem, op. (i L, p. 35.
77 Id em, op. c!t.,p.
. . 80.
78 Idem, op. cit.,pp. 86 e 87.
79 Idem, op. C;L, p. 669 (conforme [De I. Feuerbach]) ..
. 80'Marx, .
Salario, precio y gallancia, s.d., p. 64.
.
SI Marx e Engels, ManiFesto comunista, 1960, p. 35.
01 Marx, Salario, precio y ganancia, p. 65.
Sl Marx e Engels, "Crítica del programa de Gotha", in Obras
f'scogiJils, pp. 19-20.
84 In Marx f Engels,.Obras c:swgidas, p. 489.
85 Id em, op. Clt.,
. p. 494.
S6 Idem, op. ciL, p.497 (grifos nossos).
87 Ver 1~B. Bottomore e M. Rubel (or~s.), Karl Marx seleered .
:m'rings ;'.7 socÍology dnd social philosophy, 1963. Em rdaç:18
a esta qlJestão da generalização de interesses de uma dada classe,
Marx afirma, na obra de 1844, o seguinte: "h is only in the
name of general inleresls 1!J;tt a particular c1ass can clairn the
political direction of alI spheres af society, revolutionary energy
and cQnsciousness of it power do not suffJce. For a popular
revolution and the. emariápatioll of a partícular c1assof civil
society, another class must concentra te in itself alI the evils of
society, a particular c1ass must t'mbody and represent a general
obstacle anel limitation" (pp. 187-88).
88 Marx utiliza indistintamente estes termos, ou outros ainda.
89 Marx e Engels, "Crítica dei programa de Gotha", in Obras
escogidas, pp. 18 e 19. •
90 Marx, El capital, vaI. m, principalmente pp. 366 a 372.
,.

f
r
,
,
91 Marx e Engels, Manifesto comunista, p. 36. Anteriormente, Marx
esclareceu que, "nos períodos em ,que a luta de classes se apro-
xima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe do-
. minante, de toda a velha sociedade, adquire umcarater tão
violento e agudo que uma pequena fração da classe dominante
se desliga desta, ligando-se à classe revoluci.:mária, à classe que
traz em si o futuro".
9l Marx e Engels, La ide%gía a/emana, pp. 51-3.

..-
'._,

CONCLUSÕES

1. Em relação à concepção de classes sociais emMarx~


inicialmen
..........
,-
t~ procuramos
'/"'" " -
demonstrar
;, .. '.'
-... .
a necessi'dade
. .- ." .

de distinguir doisaspeêtbs básicos, em termos da


. teoria do conhecimento: a) as determinaç6es comuns
a todos os grupOS sociais potenciais ou efetivos de
oposição, o que implica abstração das particulari-
dades históricas, ou seja: classes sociais em peraI
como uma pressuposição, em que nos ativemos mais
aos elementos constitutivos como determinações co-
p"~unse ger<li<;(l todas as.' ci;lsses sociais, independen-
.

temente da dimensão cronológica; b) as determina-


ções particulares a cada grupO social, potencial ou
efetivamente de oposição, em seu grau máximo de
concretização e, portanto, de especiticidade históri-
• 00 .ca, assumindo estes grupos sociais de' oposição, con-.
forme o estádio de desenvolvimento das forças produ-
tivas, a forma de castas, estamentos ou classes sociais.
Não diferenciar estes dois momentos do processo de
conhecimento é permanecer na abstração, transfor-
mando o' que é suposto por abstração. em conheci-
mento em sl.\
"~O

2. O concreto sintético, ou o conhecimento científico,


.como vimos, é o' resultado da articulação en.tfe a
unidade produiida pela abstração -. q\Jando, pelo
movimento do pensamento,fixam~se apenas as
determinações comuns ou universais, isto é, abstrai-se
adiversidadedo concreto dado hjstorjcam~nte - e a
diversidadl:deste concreto dado historicamente como
totalidade. Portan to, o conhecimen to cien.~íft~<:>~_?___.
resultado da. articulação dialética entre a unidade
elaborada pelo pensamento e a diversidade do con-
creto histórico em seu movimento: o conhecimento
científico é a síntese destas determinações (é a unidade
e a diversidade articúladas como uma totalidade sinté~ '..
tica). Devemos colocar em relevo que as abstrações
. mais gerais, segundo Marx, "surgem unicamente onde
existe o desenvolvi menta concreto mais rico, onde
um elemento aparece como comum a muitos, como
comum a toclosos elementos". Em vista disso, o
elemento comum "pode deixar de ser pensadüapenas
sob uma forim particular", universalizando-se.2
3. A5 classes sociais adquirem suas plenas características,
com grau máximo de pureza, com o advento da sacie":
dade moderna, do Estado moderno, da indústria mo-
derna, em poucas palavras, com o pleno desenvolvi-
mento .do capitalismo moderno. É neste que se mani-.
[estam as classes sociais furidamentais produzidas pela
articulação capital - capitalista, trabalho assalariado -
classe operária.)
4. Uma vez elucidados estes aspectos teóricos e metodo-
lógicos, procuramos evidenciar na gênese das classes
sociais as determinações comuns e universais '(as carac-
terísticas de grupos sociais fundamentais de oposição,
interesse comum, situação comum, condição comum,
cultUra corm:lm, ou,' como Marx afirmou:' "Idênticas
condições, idênticas andteses,' idênticos interesses" e
."idênticoscostllmes") e as determinações particulares
ou específicas (forma<,:ãoda burguesia e do proletariado,
derrocada do regime feudal,' emergência dos Estados,
feudo-absolutistas, formação do Estado capitalista mo-
derno, 0s.SIlJ.P()s.s.()~~~is._~fe.~~"os
de oposição eJÇistentes
,no período de transição do feudalismo ao,capitalismo,
as particularidades assu'mÍdas na França, na Alemanha
e na Espanha). Intentamos esclarecer que a luta política
(luta d~ classes) pela hegemonia, segundo Marx, foi
tra"adª entre a nobreza e a bl,lrgq~~ia;'isto.é, entre o
estamento e a classe. As obras históricas de Marx servi-
ram como suporte para as nossas discu::sões.
5. Na caraderizaçào das determinações particulares, res-
saltamos a formação da burguesia e a sua constituição
em c1as.sçpçlanegação da determinação Estado fcudo-
absolutista. Esta negação das condições materiais de
vida e das cristaiizaç6e:; das relações sociais, resultantes
da produção social, em forma de códigos jurídico-
políticos e ideológicos, pressupõe que a burguesia,
para se transformar em classe,.transpôs a barre.ira dos
interesses individuais e se recompôs em termos de
interesse c()mum, isto' é, como c1ásse,,a burguesia'
adquiriu a consciência teórica de que seus interesses
eram comuns a todos os grupos sociais emergentes
ou a todos os grupos sociais subjugados pelo Estado
feudo-absolutista. Essa consciência conduz à luta
política, através de organizações de classe. Em suma,

procuramos d'emonstiar que a consciência de clas-
se, para Marx, é uma ~onsciência histórica, ,uma vez
que é produto de condições histórico-sociais determi-
nadase .os indivíduos das classes determinadas que a
manifestam são. sujeitos concretos que conseguem
apreender teoricamente o movimento da sociedade,
com seus conflitos e tensões, como uma totalidade
articulada. Exemplificamos com a burguesia que, no
período de transição do feudalismo ao capitalismo,
tramformou-se em classe revolucionária, ao generalizar
os. seus interesses com os interesses de toda a socie-
. dade contra os interesses feudo-absolutistás. E deixa-
mos encaminhada a discussão em torno da consciên-
cia de classe do proletariado.
6. Na medida em que Marx pressupõe que a generaliza-
ção ou as abstrações mais gerais "surgem unicamente
onde existe o desenvolvimento concreto mais rico",
é nas formações sociais pré-capitalistas que encontra-
mos asabstraçôes menos gelais e mais particulari-
zadas.4 Este foi o ponto de partida do presente estudo,
. ao iniciarmos pela discussão da noção de casta em
Marx. A divisão da sociedade em casta, para Marx,
era uma anomalia ou, em suas palavras, os "inêonve-
nientes da divisão do trabalho em geral, da divisão
do trabalho como categoria". Esses inconvenientes da
Jivisào social do trabalho em geral foram um produto
.' . históriço-social determinado, como .vimos nó capí-
tulo I, e apresentavam as seguintes características: a) o
trabalhador era proprietário dos seus instrumentos
de produção; b) estes apareciam como meios p.ara o
seu trabalho; c) era um tipo particular de trabalho,
baseado na mestria ou habilidade artesanal extrema;
d) o regime hierárquico e os privilégios eram ordena-
dos segundo regras fixas, laicas ou religiosas; e) here-
ditariedade das profissões ou trabalho vitalício; f)
diferenciação entre as diversas espécies e subespécies, .
. ou o exclusivismo Jeumas em relação às outras, em .
termos de monopolização das atividades profissio-
nais; g) formam grupos sociais impermeáveis; e, final-
mente, h) "os destinos sociais" como produtos de "leis
.sociais". Qiando aludimos a estas características, afir-
mamos que eram configurações sociais historicamente
determinadas. de formações sociais pré-capitalistasde
castas e que as castas eram ptodutoshistóricos, portanto,
.,.
transltonas .
.7. Cabe-nos, nesta retomada do tema, acrescentar que
estas formações sociais de castas são um exemplo ex-
tremo de relações sociais de produção petrificadas, H

onde a variabilidade é incompatível com tal regime.


N~stas condições, se é que podemos falar em cons-
ciência de casta, esta é restrita e adscrita a cada casta,
l1ão havendo, enquanto aquelascaracrerísticas persis-
tirem e, ainda, enquanto as forças produtivas torem.
travadas por aquelas condições materiais e representa-
ções ideolól:>;cas, llt:llhuma pussibiiiuaue ue: o ime-
resse particular de uma dada casta se generalizar
. COOlO representativo àas "castas oprimidas" ou sub.
jugadas pela "casta dominante". Pois esta opressão
não transparecena consciência dos indivíduos eOIl}.O
opressão, mas como uma condição natural que obe-
dece às leis ou às regras da natureza ouda vontade
divina (como algo sobrenatural). Não havendo varia-
bilidade, não haverá história, nao h-avendo história,
não há mobilidade, não havendo mobilidade, não
há consciência teórica da totalidade, mas apenas tota-
lidades parciais e partiçularizadas,. Em suma, nas
,.

formações sociais de castas, em seu desenvolvimento


pleno e depurado, fixadas apenas estasdeterminações .
comuns às castas, não haveria lutas de "classes"(de
castas). Mas a sociedade real ou concreta não é ape-
.' nas a síntese dessas determinaçõ~s comuns a todas as
castas. E esta ideologia da invariabilidade e da imper-
e
mcabilldade instrumento àe dominaçao de masca- e
ramento das relações sociais tensas e conflituosas; daí
a codificação, em regra~ fixas, de seus tabus, mitos etc: .

8. Finalizando, dentro deste quadro, segundo Marx, o


regime de castas é. incompatível, pelas razões acima
referidas (ver item 6), com o trabalho escravo ou servil.'
9. No que se refere aos estamentos, ainda de acordo
com Marx, procuramos demonstrar que são determi-
nações particulares de um modo de produção social
. historicamente rieterminado; ressalt:lmos também o
seu caráter de transitoriedade e, portanto, a sua histo-
ricidade. Tentamos ainda enfatizar, com base em obras.
históricas e, também, decríüca à filosofia e à econo-
mia, que;; divisão da sociedade por êstamentos per-
sistiu, por um largo período, como seqüelas jurídicas,
políticas e ideológicas das instituições feudais, em
diversos Estados europeus, até a formação do Estado
capitalista moderno. A monarquia absoluta, neste
quadro da transição~ ainda representa. um Estadb
feudo-estamental. Posteriormente, procuramos mos-
trar os estamentos como uma das características básicas
do feudalismo, da propriedade feudal e da produção
feudal, onde a propriedade de bens imóveis adquire
uma forma particular, o mesmo ocorrendo em relação
à divisão social do trabalho, à apropriação dos instru-
mentos e da força de trabalho, à estrutura do poder e
.'

às suas respectivas derivações, representações ou ideo~


Jogias. ,No.támos .quêestas ideologias. enfeixam "os'.
privilégios rigorosamente delimitados" pelos códigos
. jurídicos, que nada mais são que ~pressões dos inte-
resses dos grupos sociais dominantes. Estes direitos
. feüdais (v.g., apropriação diferencial da honra social),
arbitrariamente impostos, conferiam às ordenações
sociais características de direiton,atural e divino, como
...........
sefossema-expiessão das leis .
da natureza e divinas e,
.)

. como
. tais, imutáveis. Poréin,
. . o ponto eentralde nossas
discussões foi o problema da persistência d()s~sta-
. mentos e da sua transformação em classes dentro dos
q~Iª-ºr()~
da traI1~~窺fe~ºali~mo-capitalism6, mediado
pela monarqüÍàábsõlüta. Em vista disso, a maioria.
dos fragmentos utilizados por nós versaram sobre este
tema: estamento-classe c feud:llismo-capitalismo, por
via da monarquia absoluta.
10. Acreditamos que o nosso intento roi suficiente para
demonstrar que a monarqui;)"em suas instituições
nuclp;ues, foi 11mEstado feudo-?bsolutista, e a socie-
dade,. marcadamente estamental. Ao
mesmo tempo,
porém, esse Estado dinástico possibilitou a consti-
tuição ~a burguesia como classe social. .' .
11. Em relação a Weber, mostramos que, em virtude de
sua concepção poli~his.tórica ou tràns-histórica,5'cbmo
pressuposição metodológica, o sentido ou a signifi-
cação histórica constitui uma atribuição do investi-
gador, a partir da seleção de aspectos que considere
relevantes - os quais são escolhidos, conseqüente-
mente, ~por imputação vaJo'rativa; enfim, a ordenação .
"

histórica se apresenta como uma ordenação dos su-


jeitos, podendo-se, mutatis mutandis, estabelecer en-
,. '.

tre os tipos ideais articulações que passem por uma


.. Certa historicidade. .
12. Neste sentido, na medida em que esta ou aquela
forma de ação social é uma questão de probabilidade,
jogar com alternativas de sucessão e formação de .
. uma nO'/a configuração social é pressuposto válido .
dentro da concepção weberiana - e não dispen~amos
este procedimento em nossas interpretações. Por
exemplo, no capítulo 2; relativo aos estamentos so-
ciais em Weber, aventamos a possibilidade de os
estamentos se transformarem em castas: POr outro
laJo, levantamos a hipótese de que é problemático
resultarem as castas em capitalismo moderno, Cbh~
forme ressaltamos no capítulo 1. A implantação desta
forma racional de expioração das atividades econômicas
.ocorre por meio da ação de um país economicamente
desei1Volvido em termos capitalistas. No capítulo 3,
vimos ainda que aos diversos capitalismos (comercial
. por arrendamento de tributos e vendas de cargos, em
certas circunstâncias, os de pjantaticn e colonial etc.),
precedentes ao capitalismo moderno,Weber deno-
mina protocapit3listas, o que pressupõe a concepção
de anteriQridade e posterioridade (sucessão). Aponta-
mos o fato de que estas articulaç~es se dão. mais em
termos formais, 'não .sendo um pressuposto da forma
social no seu devir histórico. Esta forma social, depen-
dendo da opção dos investigadores, aloja, como afirma-
mos anteriormente, múltiplos- _possíveis históricos.
13. No primeiro capítulo, dentro da concepção weberiana,
procuramos demonstrar que há no regime de castas,
enquanto um tipo singular de configuração social,
certos elementos essenciais, assumidos pela opção prévia
do investigador, que são inextricavelrnente interdepen-
..dentes; resultando disso uma coerência lógica Ila formu-
Iaçãodo conceito de Céista:oelemento típico é o caráter
sagrado-religioso, com seu código. de .regras rituais.
Este motivo adentra todasasaçõese relações sociais,
e nesse sentido, o aspecto trabalho surge como uma
vocaçãO ou predestúúçãb, e o exercício Je Um oficio
é uma atribuição que independe da opção dos agentes
componentes de uma determinada casta. A atividade
vocacionaI é Uma pi-edestinação sagrada e religiosa.
A contintlida.:9~ºo sistema de castas é garantida pela
hereditariedade da vocação atribuída por. deuses espe-
.,cíficos e por regras rigidamente endogâmicas, dis-
........... pondo hierarquicamente uma casta em relação à outra,
em termos de superioridade e inferioridade relativas,
e pelo fato de os membros de cada casta manterem a
crença de que possue.m o mesmo status social Ainda
naquele capítulo, procuramos apresentar estas formas
sOciais de castas como formas pré-eapitalistas, vigendo
nelas as ações e relações sociais tradicionais, com
carrega da dose de '"ii'raclOná
, I'd1 a de;" caracten;)iiC<b
, .
estas incompatíveis com o capitalismo nioderno.
14. No segundo capítulo, ainda em r~lação à concepção
weberiana, procuramos inicialmente caracterizar o es-
.tamento social como uma forma singular. dedistri- .' .
buição do poder, dentro de uma determinada fOlma
social. Esta distribuição baseava-sena apropriação di[~
rencial da honraria, derivando desse ponto a situação
estamental. Na honra estamental se centraliza a ordem
social, e é ela a geratriz da interpretação weberiana .

15. Quando um estamento realiza em toda a extensão as
suas conseqüências temos, então~ uma casta fechada.
,
.~w.i"~[;.,,:
...
,...,,"
?:)f~~/:-~f~'~'~:
:'1}?~;:.~;.::-: '. .

Nesse momento as distinções esta mentais, além de


. serem' asseguradas'. pelas . cOnvençÕes e .leis; são-no ..
também pelos rituais sagrados..
16. Paralelamente a esta discUssão, procuranlOS articular
. estas formas sociais estamentais, apesar de serem
idealmente anistóricas, com as diversas forroas de .
exploração econômica da fase protocapitaJista: capita-
lismos comercial, colonial e de plantation, de arrenda-
mento de tributos e de arrendamento e venda de
cargos etc, a maioria destas sendo típicas do período
do feudaJismóeda monarquia absoluta.
'. . . .
17. Em reiação ao terceiro capítulo, procuramos demons-
trar que o ponto básico da análise weberiana é a ordem
econômica, na medida em que esta ordem econômica
sintetiza as motivações b5.sicasda ação e relação sociais
dos indivíduos, orientados e animados por interesses
de posses de bens e de oportunidades de renda no
mercado. Por conseguinte, a situação de classe é situa-
ção no mercado. E o que estimula a ação social dos
indivíduos é um interesse nitidamente eronômic:o:
compensaçóes de interesses no mercado, mercado
este tanto de produtos quanto de trabalho. O ele-
mento comum, na conceituação de classe, portanto,
é a posição dos indivíduos no mercado. O elemento
dif~rencialou estratificador é a propriedade e a forma
como está distribuída. O determinante essencial da .
classe, segundo Weber, é a ordem econômica: "a ma-
neira pela qual os bens e serviços econômicos são dis-
tribuídos e utilizados" no mercado.
18. Posteriormente, procuramos diferenciar três tipos de
classe: classe lucrativa, classe proprietária e classe sa-
cial. No que se refere à classe lucrativa, procuramos
f
1 desenvolver a análise de Weber,recorrendo ao capítulo
• segundo de EconoITlía y sociedad, onde o .autor ana-
I lisa as categorias sociológicas FundaI11entais da vida
r
• econômica, uma vez que a caracterização dessa classe
i lucrativa era. bastante sumária. Ao desenvolvermos o
que estava sumariado em Weber, proCuramos demons-
trar que esse tipo ideal, a classe lucrativa, devido aos
seus elementos constitutivos básicos (ação planejada,
contratos formais e juridicamt::nte codificados, ação
orient~da pela probabilidade do mercado em 'termos
racionais), enquanto esquema de interpretação da rea-
lidade elaborada intelectualtnente, adequava-se melhor
ao capitalismo moderno, às classes proprietárias, às
fases do protocapitalismo. E as classes sociais seriam,
no nosso entender, a caracterização de grupos sociais
em termos meramerite. enumerativos, que provavel-
mente englobariam nesta .carJcterização as classes -pro-
prietárias e classes iucrativas, ressaltando o aspecto
de mobilidade social dos atores que realizam a ação
social no mercado de trabalho e de produtos.
19. Finaliúndo, nas caract.:riz;;çõc.5Ge ca:;tas,estumentc~ .
e classes é pressuposta uma certa independência das
instâncias ou ordens sociais, econômicas e jurídicJs,
sendo os tàtores determinantes imputações do investi-
gador. Mesmo assim, supõe-se, em Weber, que a defini-
ção das castas se faz a partir do universo simb6lico, e
a das classes, a partir daação econômica, numa eviden-
te tentativa de refutar as colocações teóricas de Marx.6
20. Concluindo o presente estudo, cabe ressaltar que õs
resultados a que chegam Marx e Weber são, em seus
pontos centrais, muitas vezes opostos. Esta oposição
teórica se inicia a partir da assunção axiológica e episte-
'In,
...mológica diversa, em termosda relação entre o sujeito ..
.. e.o objeto, como ficou realçado na introdução de
nosso estudo. A chave estrútural para a interpretação ..
das formações sociais é, para Marx, a proaução social
historicamente determinada; para Webet, a ação so-
cial e a relação social, 'sendo o ponto de partida a
primeira. É a partir da àefinição da ação social que.
---.seconstrói todo o edificio poli-histórico dasociologia
.weberiana.7 .

.'


,.

/
l
':

NOTAS

Ressaltamos iiOirikip'doterceiro capítulo, na parte referente


a Marx, que este autor diferençaVa as detúminaçõescomuns
das determinações particulare5 e, como exemplo deste proce-
dimento, 'referimo-nos à produção' em sua particularidade
(produção social determinada) e em sua universalidade (pro-
dução soc1al em geral);'o mesmo se fez em relação ao capital,
quanto ao trabalho, o trabalho em geraFé e segues~i1do o
suposto, como afirma Marx em Elememos fimdamentales
de la crítica a la economía política, Das páginas 350 e 351. As
referências à produçaoe ao capital se encontram nas páginas
5 a 8,24 a 29, 196-197 e 203.
1 Marx, Elt'mr:ntos [undam~!Jfales para la crítica de la economía
pulítica, 1971, p. 25:,
) Jean Baechler, "Essai, sur les origines du systeme capitaliste".
Archives Europ~ennes de Sociologie, t. IX, n 2. Paris: Plon,
Q

1968. Se relevarmos o esquema tis mo de suas críticas ao supos-


to evolucionismo de Marx, encontraremos aí uma proveitosa
'sistematização das idéias -sobre as origens do capitalismo em
Marx (ver pp. 207-223).
4 No, concreto maIs rico, manifestam-se com mais clareza os ele-
mentos essenciais que estavam mascaracíos em concretos menos
ricos. Deste modo, é no capitalis'mo moderno que transparece,
com mais clareza, uma determinação geral, a luta de classes, e
esta determinação fundamental da história está baseada na divi-
são do trabalho, na separação entre capital e trabalho, na apropria-
ção dos resultados do trabalho pelos detentores do capital.
. ,

50 termo transculturalou trans-histórico é utilizado por Pierre


. BourdieÚ em s.eú ensaio "Condition "de Classe et. positlon de
classe", Archives EuropéeIines de Socinlogie L VII;n2 2. Paris:
Plon, 1966, pp. 203-4.
6 Devemos ressaltar que há aproximação .entre Weber e Marx
na enumeração das classes (neste caso, a p~imazia é de Marx):
1) classe lucrativa. positivamente .privilegiada e classe capita-
lista; 2) classe lucrativa negativamente privilegiada e classe
operária; 3) classe proprietária positivamente privilegiada e classe
de grandes proprietários fundiários. Apesar desta aproximação,
os pressupostos metodológicos são fund~merttaimente diversos.
7 Segundo Florestan FernaQQe.s, "por mais que se critique a con-
ceituação de Marx, é inegável que ela teve o mérito de foca-
lizar o problema tomaildo em consideração a situação criada
:.'emúrií.a. sociedade de classe. As classes são concebidas como
estruturas sociais que existem dentro de unidades sociais mais
amplas, articuladas a outras estruturas. do mesmo tipo. "Po~
isso": segundo esse autor", c estudo da 'situação de classe' é, ao
mesmo tempo, il111 estudo sobre a função das classes sociais;.
se quiser iiàar com alguma wisa mais concreta do que simples
nomes, oespeciaiista precisJ começar por aqui a sua investi-
gação das classes sociais". E mais adiante acrescenta: "Max Weber
revela particular penetração 110 tratamento desse problema"
(sit'JJção de el::ssc). "A OI icataçiio soriulé'lSica IJU c:studo das
classes sociais caracteriza-se, funda rnentaimen te, por conside-
rá-Ias como um modo de constelação típica das relações e ativi-
dades sociais". Posteriormente, analisa a classe social cemo um
fenômeno histórico e também como estrütüras sociais. Ver
Florestan Fernand.es, Ensaios ,de sociologia geri11 e aplicada,
1960. As citações foram extraídas das pp. 72, 73 e 75, cujo
ensaio é intitulado "A análise sociológica das classes sociais"
(pp. 65-92).
1
.,'
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