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O Sociólogo na Intervenção Social

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Práticas Profissionais
em Sociologia 2 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Práticas Profissionais
em Sociologia 3 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

INDÍCE

INDÍCE..............................................................................................
...1

- QUADRO RESUMO DAS ENTREVISTAS...................................1

1 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO..................................................1
1.1 O Conceito de profissão...........................................................................2
1.2 A profissão de sociólogo..........................................................................4
1.3 Cultura profissional dos sociólogos.........................................................6

2 – PROBLEMÁTICA E MODELO DE ANÁLISE...........................7


2.1 Sociólogos na Intervenção social em Portugal........................................8
2.2 Operacionalização de conceitos.............................................................10

3 – METODOLOGIA.....................................................................
....11
3.1 Caracterização da Amostra.....................................................................11
3.1 Técnicas de recolha de dados.................................................................12
3.2 Técnicas de tratamento da informação..................................................13

4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS..................................................13


4.1. Dimensão Cognitiva..............................................................................13
4.1.1. Conhecimentos teóricos...............................................................14
4.1.2. Capacidades técnicas..................................................................16
4.2. Dimensão Ética e Reflexiva..................................................................21
4.2.1. Preocupações Deontológicas, Associativismo e
Interdisciplinaridade...............................................................................21
4.2.2. Papel do Sociólogo e Identidade Profissional...............................22
4.3 Cultura profissional................................................................................24

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................25

BIBLIOGRAFIA................................................................................27

ANEXOS................................................................................
............30
- Quadro resumo das entrevistas
- Guião das entrevistas
- Transcrição integral das entrevistas

Práticas Profissionais
em Sociologia 4 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

1 - Enquadramento Teórico

1.1 O Conceito de profissão

Pretende-se com este trabalho analisar as práticas, papeis e culturas profissionais dos
sociólogos, nomeadamente dos sociólogos ligados mais directamente à intervenção social, ou
seja, que estejam inseridos profissionalmente nos sectores da administração pública e de
políticas sociais ou inseridos em instituições não governamentais de solidariedade social.
Contudo, para se abordar convenientemente este tema, e embora não esgotando de forma
alguma todas os paradigmas teóricos nem todas as dimensões analisadas na história da
sociologia das profissões, considerámos importante fazer primeiro um enquadramento da
disciplina no quadro mais geral da sociologia das profissões.

Assim, torna-se crucial antes de tudo, considerar uma definição do conceito de profissão.
Este foi um conceito bastante trabalhado por diversos autores sendo um dos primeiros a
realizar estudos sobre o tema, Carr-Saunders (1928). Para este autor “uma profissão pode
talvez ser definida como uma ocupação baseada num estudo e num treino intelectuais
especializados, cujo objectivo é fornecer a outrém serviços ou conselhos altamente
qualificados a troco de determinados horários ou salários”.1 Para Parsons, as profissões
baseiam-se mais em valores altruístas do que em motivações económicas e pressupõem uma
aquisição formal de conhecimentos técnicos e científicos. Será a relação assimétrica de
conhecimento/ignorância entre o profissional e o seu cliente que permite a institucionalização
e a legitimação da profissão.

Para estes autores e para a perspectiva funcionalista em geral, são os atributos ou


características dos grupos profissionais, a estrutura e formas de organização e a função social
das próprias profissões que permite analisar e definir o conceito de profissão. As profissões
apresentam-se como blocos homogéneos de indivíduos que partilham os mesmos valores e
conhecimentos (tidos como intrínsecos à própria profissão) e assentam em três pressupostos
básicos: (1) o estatuto profissional resultante do saber científico e prático e do ideal de
serviço (...), (2) o reconhecimento social da competência adquirida através de uma longa
formação e, (3) a resposta a necessidades sociais2 (fazer o «bem» possível pela sociedade),
portanto, pressupostos cuja articulação (entre motivações, valores e sistema), se torna a base
do funcionamento e legitimidade social da profissão.

1
CARR-SAUNDERS, A ., (1928), “Professions: Their Organization and Place in Society”, Oxford, Clarendon
Press, in Costa, António Firmino, (1988), Cultura Profissional dos Sociólogos, Sociologia – Problemas e
Práticas nº5, Mem Martins, Publicações Europa-América, Lda, p.108.
2
RODRIGUES, Maria de Lurdes, (2002), “Sociologia das Profissões”, Oeiras, Celta Editora, p.13

Práticas Profissionais
em Sociologia 5 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Segundo a perspectiva interaccionista, mais importante que o conceito de profissão em si, são
os processos de profissionalização, de transformação das ocupações, de conflito e interacções
deles decorrentes, ou seja, os processos de “emergência, consolidação e desenvolvimento de
cada grupo profissional”.3 Estes grupos profissionais são aqui vistos não como grupos
homogéneos mas sim como grupos constituídos a partir da diversidade das instituições de
formação e recrutamento, das actividades desenvolvidas, pelo uso de diferentes técnicas e
metodologias, em suma, grupos que obtiveram, por estratégias diversas, uma posição de
força sobre o mercado de trabalho.

Neste sentido, podem referir-se por exemplo autores como Bucher e Strauss que procuram
uma complementaridade das abordagens funcionalistas e interaccionistas, assim como,
Wilenski (1964) que define profissão como “uma ocupação que exerce autoridade e
jurisdição exclusiva simultaneamente sobre uma área de actividade e de formação ou
conhecimento, tendo convencido o público que os seus serviços são os únicos aceitáveis”.4
Aliás, a este respeito, também Gyarmati (1975), vê as profissões em termos de autoridade e
poder. Isto é, considera-as como sistemas de mandarinato baseados em duas premissas – a
autonomia com que organizam e regulam as suas actividades e, - o monopólio profissional, a
capacidade de restringir a respectiva actividade apenas aos oficialmente acreditados para o
efeito, garantindo assim a legitimidade social e a perpetuação do status quo das profissões.
Assim, é o conhecimento que assegura às profissões a autonomia, o monopólio profissional
e, logo, o poder que caracteriza os profissionais na sociedade.

Já Dingwall (1976) e na linha do interaccionismo, considera que as profissões não podem ser
definidas como um conceito estático, racional e científico, mas “devem sim ser abordadas a
partir das representações que os membros de dadas ocupações, (...) fazem do conceito de
profissão (...) isto é, que interpretação fazem do seu trabalho e do trabalho desenvolvido por
«outros»”.5 Para outros autores a profissão deve ser definida através do número de anos de
formação, portanto, através de critérios mais quantitativos do que qualitativos. Outros ainda
incluíram nos seus estudos o papel do Estado, das Associações Profissionais, da Imagem
Pública da profissão, etc.

Desta vasta quantidade de perspectivas sobre o que define uma profissão, ficamos com a
nítida certeza de que este é um conceito há bastante tempo trabalhado, mas ainda e
continuamente em construção, ainda para mais, tendo em conta que continuam na sociedade
moderna a emergir novas ocupações que aspiram ao ‘estatuto’ de profissão e a desaparecer
outras que aparentemente já se tinham constituído como tal, que se assiste a uma intensa e
dinâmica reconfiguração profissional (e social) nas sociedades contemporâneas.

3
COSTA, António Firmino, (1988), “Cultura Profissional dos Sociólogos”, in Sociologia – Problemas e
Práticas, nº5, Mem Martins, Publicações Europa-América, Lda, p.109.
4
RODRIGUES, Maria de Lurdes, (2002), op. cit., p.20
5
RODRIGUES, Maria de Lurdes, (2002), op. cit., p.36

Práticas Profissionais
em Sociologia 6 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Em Portugal, a profissão de sociólogo é precisamente uma das profissões que só


recentemente se consolidou e desenvolveu como tal. Processo, aliás, que está longe de ter
terminado, dado que continuamente surgem novas aplicações do conhecimento sociológico,
novas áreas de intervenção e consequentemente novas necessidades de criação e definição de
novos papeis profissionais.

1.2 A profissão de sociólogo

De facto, a sociologia é uma ciência relativamente recente mas assiste-se hoje no nosso país,
a uma crescente consolidação e diversificação das práticas profissionais em sociologia, desde
a pioneira criação oficial da licenciatura de Sociologia, em 1974, no Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa. A queda do regime de ditadura e a instauração de um
regime democrático criaram as condições necessárias para uma nova economia mais
dinâmica, para um alargamento e diversificação dos mercados de trabalho, para uma maior
movimentação nas recomposições da estrutura sócio-profissional que favoreceram sem
dúvida a “hospitalidade institucional e pública perante uma forma de saber que traz
instrumentos, teóricos e metodológicos, que parecem responder à ávida curiosidade de uma
cidadania em construção (...) que procura intervir, informar-se e se interroga sobre a
sociedade (...)”6, num processo cada vez mais intenso de reflexividade social. A partir dessa
altura, multiplicam-se as criações dos cursos de licenciatura em diversas Universidades de
Portugal. Em 1983, surge o primeiro Mestrado em Sociologia na Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A sociedade começa cada vez mais a
mostrar-se curiosa e aberta aos contributos que a sociologia pode trazer.

Começou deste modo a verificar-se um impressionante crescimento quantitativo e qualitativo


do campo profissional dos sociólogos em Portugal, e nos últimos anos assiste-se a um cada
vez maior número de sociólogos a exercerem profissão noutros sectores que não apenas a
investigação e o ensino universitário, como em empresas e organizações privadas
desenvolvendo funções de gestão de recursos humanos, de formação, gestão de qualidade,
em autarquias, no planeamento urbanístico, na reabilitação urbana e ambiental, na animação
cultural, ligados aos sectores da cultura e comunicação ou ainda e é o sector sobre o qual se
debruça este trabalho, na administração pública e políticas sociais, participando em projectos
de luta contra a pobreza e a exclusão social, na reinserção social, na avaliação de projectos e
políticas sociais de emprego, de saúde, de educação, etc.
A evolução das categorias profissionais dos sociólogos inscritos na APS ilustra toda esta
crescente diversidade. Quando foi criada, em 1985, a associação englobava quase
exclusivamente, professores e investigadores universitários, mas depois, foi ocorrendo
6
CARREIRAS, Helena, FREITAS, Fátima e VALENTE, Isabel, (1999), “Profissão Sociólogo”, Oeiras, Celta
Editora, p.3.

Práticas Profissionais
em Sociologia 7 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

gradualmente uma feminização, um rejuvenescimento e uma diversificação do corpo


associativo da APS.

Nos dados mais recentes (2001) verificamos que 67% dos membros são do sexo feminino e
que a distribuição destes em termos de idades tem vindo nos últimos anos a sofrer um
rejuvenescimento o que conduziu também a um maior equilíbrio etário. Quanto às
actividades profissionais são (ainda) mais frequentemente exercidas na área do ensino e
investigação. Em 2001, 41% dos associados da APS tinham como actividade profissional a
docência e a Investigação no Ensino Superior Público e Privado (contra 67% em 1988),
seguidos pelos Quadros e Especialistas da Administração Pública e das Empresas com 37%
dos sociólogos, sendo por isso o Estado o principal empregador de Sociólogos até à altura.
Contudo, começa já a assistir-se a uma gradual recomposição nos diversos tipos de
actividade profissional dos sociólogos. Para esta, têm contribuído não só o aumento da oferta
e procura de ensino universitário nesta área, como o financiamento público da investigação
universitária e os muitos pedidos, tanto da administração pública como de instituições
privadas, meios de comunicação, etc. Inerente a todo este processo de recomposição na
prática profissional da sociologia está a capacidade das sociedades modernas de uma cada
vez maior reflexividade social.

Distribuição segundo Sexo Distribuição segundo o Grupo Etário


N % 1988 1996 2001
Feminino 1204 67,7 Até 29 anos 14 32 28,3
Masculino 574 32,3 30- 39 anos 44 38 33,9
Total 1778 100,0 40-49 anos 30 21 21,8
50 e + anos 12 9 16

Condição perante o trabalho


Distribuição segundo a actividade profissional
N %
1988 1996 2001
Activos 1325 81,6
N 193 N 763 N 1325
Estudantes 206 12,7 Docentes Ens. Sup. e Invest. de Inst.
Desempregados 17 1,0 Pub. e Privadas 67 43 41
Outras situações 75 4,6 Docentes do Ensino Secundário 5 6 5
Total 1623 100,0 Formadores e outros docentes 0 3 3
Quadros e Esp. da Admin. Pública e das
Empresas 23 34 35
Quadros e Dirigentes da Admin. Pública
e das Empresas 1 2 3
Outras Profissões 4 11 13
Total 100 100 100

Tabelas 1 – Sócios da AssociaçãoPortuguesa de Sociologia em 2001

1.3 Cultura profissional dos sociólogos

Práticas Profissionais
em Sociologia 8 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

No entanto, e como já referimos, as novas áreas profissionais não estão totalmente delineadas
à partida, pelo que os papeis profissionais dos sociólogos se vão construindo gradualmente, à
medida que os profissionais vão descobrindo e definindo as suas funções e vão assim
enfrentando os desafios de afirmação e construção de novas profissões e identidades. Neste
sentido, torna-se de extrema importância a cultura profissional do grupo, isto é, o “conjunto
de valores, normas e representações de que são portadores, sobre a sociologia enquanto
disciplina científica e enquanto actividade profissional (...)”7 dado que são factores que
influenciarão grandemente a forma como os sociólogos vão desempenhar as suas funções,
desenvolver as suas competências e o modo como se vão implantar no mercado. A cultura
profissional tem ainda influência no modo como estes profissionais se vêem a si próprios e
aos outros sociólogos o que se reflecte também no ensino e aprendizagem da Sociologia e na
sua imagem pública. Pois, e, segundo Fernando Luis Machado, “só assim se compreende
que licenciados da mesma escola, com a mesma formação e da mesma geração sigam
percursos profissionais completamente diferentes em instituições do mesmo tipo ou até, por
vezes, dentro da mesma instituição, afirmando-se uns, perante os seus interlocutores e
perante si próprios, como sociólogos e outros não”.8

Neste sentido, a Associação Portuguesa de Sociologia tem um papel decisivo na articulação,


inclusão e na homogeneização do prestígio da pluralidade dos papeis profissionais dos
sociólogos, quer pertençam ao universo universitário quer não, recusando assim uma “ética
profissional dissociativa” que opõe "ciência e profissão”, “teóricos” e “práticos”, e privilegia
antes a conjugação entre saber e acção e a promoção de uma “cultura profissional de
associação entre ciência e profissão”9. Rege-se por um código deontológico que permite
precisamente a prática da sociologia em diferentes domínios da sociedade da mesma forma
rigorosa, exigente e que honre a legitimidade que adquiriu no decorrer do processo em que
se constituiu perante a sociedade como saber científico, prático e autónomo. Aliás, pode ler-
se no Código deontológico que: “Quaisquer que sejam os papeis profissionais dos
sociólogos – de investigador, professor, técnico, consultor, quadro dirigente ou outros – o
trabalho sociológico é uma actividade de base científica, assente em competências próprias
de elevada qualificação, decorrentes de uma preparação específica em sociologia, nos
planos teórico, metodológico, técnico e relacional”.10

De facto, parecem ser dimensões constitutivas fundamentais da sociologia enquanto


profissão, a dimensão cognitiva e a dimensão ética, assim como, e não menos importante,
toda uma série de factores endógenos e exógenos ao campo da sociologia que vão
socializando os profissionais “tanto nos padrões cognitivos de conhecimentos teóricos e

7
COSTA, António Firmino, (1988), op. Cit., p.107
8
MACHADO, Fernando Luís, (1996), “Profissionalização dos Sociólogos em Portugal: contextos,
recomposições e implicações”, Sociologia, Problemas e Práticas, nº 20, Publicações Europa-América, p.45.
9
CARREIRAS, Helena, FREITAS, Fátima e VALENTE, Isabel, (1999), op. cit., p.91.
10
APS, Código Deontológico, p.2.

Práticas Profissionais
em Sociologia 9 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

capacidades técnicas como nos padrões morais de valores e normas da profissão”. 11 Segundo
António Firmino da Costa, esta cultura profissional dos sociólogos influencia, em grande
parte, o pleno desenvolvimento da sociologia enquanto profissão. Um sociólogo cuja cultura
profissional seja uma cultura de menos valia e de incapacidade profissional, terá decerto
bastantes dificuldades em desenvolver plenamente o exercício da sua actividade.

Este autor, apresenta dois modelos de cultura profissional – (1) o modelo de dissociação
entre ciência e profissão e (2) o modelo de associação entre ciência e profissão.

Cada cultura é definida através do modo como os indivíduos concebem a profissionalização,


o uso dos saberes adquiridos e a inserção no mercado de trabalho mas também, com base nas
suas preocupações deontológicas e relações estabelecidas com outros profissionais. O ideal
tipo da cultura de dissociação caracteriza-se por uma visão que separa a teoria e a prática
cientifica, uma concepção essencialista dos papeis profissionais ligados ao ensino e à
investigação e uma noção de teoria rígida e paradigmática. Já na cultura de associação
entende-se a teoria numa interacção constante com as práticas, recorrendo-se à reformulação
e a teorias pluriparadigmáticas, concebendo a possibilidade de exercer vários tipos de papeis
profissionais. No que diz respeito às preocupações deontológicas, privilegia-se na cultura de
dissociação quase exclusivamente a qualidade cientifica, enquanto na cultura de associação
há ainda a preocupação pelas técnicas usadas e pelos efeitos desencadeados pela intervenção
social na sociedade. Outra distinção marcante entre os dois modelos, refere-se à distinção
entre problemas sociais e problemas sociológicos. Na cultura de dissociação tende-se a
considerar que apenas os problemas sociológicos, equacionados pelos sociólogos, são
passíveis de estudo e análise. Firmino da Costa, salienta a este respeito a necessidade da
“reformulação do problema social em problema sociológico, em vez de traçar entre eles um
qualquer muro intransponível”12 e a existência de um grau autonomia suficiente para que o
sociólogo possa levar a cabo este processo de reformulação. De acordo com o mesmo autor,
o modelo de dissociação tem tendência a tornar-se cada vez menos visível na nossa
sociedade, por oposição ao crescente fortalecimento do modelo de associação.

11
COSTA, António Firmino, (1988), op. cit., p.110.
12
COSTA, António Firmino, (1988), op. cit., p.113.

Práticas Profissionais
em Sociologia 10 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

2 – Problemática e Modelo de análise

2.1 Sociólogos na Intervenção social em Portugal

Tal como já referimos, a existência de uma cultura de dissociação entre conhecimentos


científicos adquiridos e o processo de profissionalização tende a dificultar a inserção dos
profissionais em sociologia no mercado de trabalho. Para além desta limitação acresce o
facto da sociologia ser uma disciplina relativamente recente em Portugal, estando ainda a ser
gradualmente conhecida tanto por empregadores como pela sociedade em geral.

Sobre este facto, António Firmino da Costa refere que “tem sido preponderante na cultura
profissional dos sociólogos no nosso País a noção de que quem faz sociologia não exerce
uma profissão, e que quem exerce uma profissão não faz sociologia”.13

Apesar disso, Sociólogos têm vindo a criar espaços dentro das organizações e desempenhado
vários papeis profissionais. Segundo Maria de Fátima Toscano é possível constatar que na
área da Intervenção social os sociólogos têm desempenhando vários papeis desde:
“Investigadores; Agentes de desenvolvimento local e Técnicos de intervenção; Peritos na
análise de indicadores sociais; Formadores de competências até a Profissionais preocupados
com questões corporativas e deontológicas decorrentes da dupla produção «pesquisa –
acção»”.14 Ao contrário de outras áreas onde existe uma relação mais estreita entre formação
e profissão (como a medicina ou a arquitectura), a Sociologia permite vários e diferentes
percursos profissionais, que se podem distanciar da formação inicial.

A importância dos sociólogos nesta área, está na sua capacidade de problematizar a realidade
social e construir objectos susceptíveis de serem estudados e sujeitos a intervenção, ou seja,
de proceder à reformulação do problema social em problema sociológico. Para além de
identificarem os problemas sociais e elaborarem diagnósticos, têm ainda como funções a
selecção de técnicas e acções a implementar assim como proceder à avaliação dos resultados
e impactos dessas medidas. A mesma autora salienta alguns requisitos científicos no processo
de investigação: o rigor; o uso de métodos e técnicas sociológicas; o questionamento
sistemático; a sensibilidade para correlacionar factos, entre outros.

No trabalho desenvolvido no Gabinete técnico local de Alfama, Manuel João Ribeiro


reconhece como competências dos sociólogos: (1) “A capacidade de actuação relacional e
interactiva; (2) A capacidade de recolher informações e interpretá-las; e (3) A capacidade de

13
COSTA, António Firmino, (1988), op. cit., p.110.
TOSCANO, Maria de Fátima, “A sociologia, Prática de investigação e acção” in Valente, Isabel, Fernando
14

Luis Machado e António Firmino da Costa (orgs), (1995,1990), Experiências e papéis profissionais de
Sociólogos, Lisboa, APS, p. 92

Práticas Profissionais
em Sociologia 11 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

ponderar os efeitos de uma dada acção no tecido social”.15 Segundo Luís Capucha, estas
competências são de 4 tipos: Cientificas – relacionadas com o uso de métodos e técnicas e os
conhecimentos teóricos adquiridos; Pedagógicas - que consistem no estimular de uma
atitude crítica perante a realidade social; Relacional - Capacidade de trabalhar em grupo; e
Organizacional - Relacionada com a perícia de negociação e capacidade de atender às
necessidades da organização empregadora.16

Para António Firmino da Costa as competências sociológicas podem-se dividir também em 4


tipos, referindo igualmente competências do tipo Relacional, e correspondendo de certa
forma as competências Metodológicas às já referidas competências Cientificas. Acrescenta
ainda as competências Teóricas – que dizem respeito à capacidade de interpretar e aplicar
teorias sociológicas; e Operatórias – que correspondem à capacidade de organizar e planear
acções.17

No entanto estas competências não são, muitas vezes, reconhecidas facilmente pelos
empregadores, nem mesmo por sociólogos no início da sua inserção no mercado de trabalho,
que sentem dificuldades em integrar conhecimentos teóricos da sua formação a um trabalho
prático, tal como revela Duarte Vilar (licenciado em sociologia no ISCTE em 1981): “As
dificuldades que tive em encontrar a sociologia foram decerto extensivas a muitos colegas
cuja natureza eminentemente prática da actividade profissional em que estavam envolvidos,
contrastava com o perfil quase exclusivamente teórico da saída da licenciatura”.18

Em Portugal predominava a ideia que só eram científicos os resultados quantitativos. Daí


que, os métodos da sociologia eram questionados na sua validade. Além disso, dominava
ainda a ilusão da “transparência do social” que leva a explicações de factos sociais pouco
exploradas e baseadas em noções de senso comum.

No entanto, e segundo Luís Capucha19, a tendência actual parece ser a evolução de um cada
vez maior mercado para a prática sociológica decorrente principalmente da evolução das
políticas sociais, de desenvolvimento e de formação; das transformações nas culturas de
gestão das instituições; devido ao impacto de políticas europeias que favorecem pesquisas
científicas e ainda considerando o desempenho profissional dos sociólogos. Todos estes
factores podem, em maior ou menor grau, representar uma abertura do mercado de trabalho à
sociologia.

15
RIBEIRO, Manuel João, “Papel do sociólogo num departamento camarário” in Valente, Isabel, Fernando
Luis Machado e António Firmino da Costa (orgs), (1995,1990), Experiências e papéis profissionais de
Sociólogos, Lisboa, APS, p.73
16
CAPUCHA, Luis, (1999), “O sociólogo na avaliação”, in Carreiras, Helena, Freitas, Fátima e Valente,
Isabel, Profissão Sociólogo, Oeiras, Celta Editora, p.170.
17
COSTA, António Firmino, (2003),” Será a sociologia profissionalizável?”, no prelo, p.16.
18
VILAR, Duarte, (1999), “À procura da sociologia” in Carreiras, Helena, op. cit., p.122.
19
CAPUCHA, Luis, (1999), op. cit., p. 172.

Práticas Profissionais
em Sociologia 12 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

2.2 Operacionalização de conceitos

Tal como já acima constatámos, são várias as abordagens que poderíamos adoptar neste
estudo: poderiam ser centradas em critérios de legitimação ou estratégias de fechamento
social; privilegiando a divisão do trabalho e fenómenos de poder e dominação; ou ainda
focando a diversidade e os conflitos entre profissões e profissionais.

Nesta breve investigação e por estarmos obrigadas a prazos de entrega da mesma, iremos
olhar a profissão do sociólogo como o resultando de um processo que é influenciado tanto
por factores exógenos, que se traduzem em contextos institucionais, como por factores
endógenos inerentes aos conhecimentos e éticas próprias dos sociólogos.

Para isso utilizaremos o conceito de “culturas profissionais” na análise dos processos de


profissionalização e das práticas profissionais dos sociólogos em áreas de intervenção social.

As questões que colocamos na nossa pesquisa são as seguintes:

“Será que podemos aproximar tendencialmente os nossos inquiridos a uma das culturas
supracitadas, de Dissociação ou de Associação entre ciência e profissão? E até que
medida o tipo de cultura para a qual mais se aproximam têm e/ou tiveram influências nas
práticas destes profissionais?”

As culturas profissionais serão aqui divididas em 2 dimensões principais: uma que


designamos como “cognitiva” e que pretende dar conta da articulação formação/profissão.
Para isso usaremos como indicadores o modo como viveram a sua formação académica e o
seu percurso profissional e também a capacidade de mobilizar saberes de base, contextuais e
complementares. A outra dimensão que designamos como “ética e reflexiva” servirá para
abarcar os sentimentos e representações que os sociólogos têm sobre a sua identidade e
papeis profissionais que exercem.

Práticas Profissionais
em Sociologia 13 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Conceito Dimensões Indicadores


- Trajectória académica
Conhecimentos
- Actualização conhecimentos
Teóricos

Capacidades - Estratégias Profissionalização


Cognitiva
Cultura Técnicas - Trajectória profissional

profissional - Mobilização Saberes


- Preocupações deontológicas
dos
sociólogos - Associativismo
Ética e Reflexiva - Interdisciplinaridade
- Identidade Profissional
- Papel do Sociólogo

3 – Metodologia

3.1 Caracterização da Amostra

Dado que não conhecíamos sociólogos a exercerem actividade na área da intervenção social,
o primeiro passo foi recorrer às novas tecnologias da comunicação e através de uma pesquisa
na Internet obtivemos uma lista das Institutos de Solidariedade Social, Ipss, Ong’s, etc, que
poderiam empregar sociólogos. Após alguns contactos telefónicos com algumas destas
instituições ficámos a saber que para conseguir chegar à fala com um sociólogo,
necessitaríamos de n pedidos de autorização a diversos serviços e pessoas diferentes, ficando
enredadas numa teia de burocracia durante mais tempo do que o disponível para a realização
do presente trabalho. No entanto acedemos a um sociólogo no Departamento de Acção Social
da AMI. Considerámos depois que seria também produtivo recorrer às nossas competências
relacionais. Assim, agradecemos desde já a colaboração do Prof. Luis Capucha, de Joana
Vann, colega do ISCTE e da socióloga Marta Ferreira, que nos forneceram vários contactos.
Deste modo, conseguimos o contacto de duas sociólogas a exercerem em Vialonga, uma na
ADE e outra no Centro Comunitário, outra socióloga colocada na Linha SOS Deixar de
Fumar, e, por fim outro do Departamento de Acção Social da Câmara Municipal de Loures.
Tentámos diversificar os sociólogos que inquirimos pelo tipo de instituição de trabalho por
forma a obtermos um leque o mais alargado possível de experiências e papeis profissionais.

Práticas Profissionais
em Sociologia 14 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho dos entrevistados. Estes, são na sua
maioria sociólogos jovens, que rondam os trinta anos de idade e este é consoante os casos, o
primeiro ou segundo emprego. Conforme se pode verificar pelo quadro seguinte, temos mais
entrevistados do sexo feminino do que do masculino. Podemos afirmar ainda que entre os
sociólogos dos outros locais que contactámos (sem sucesso) a maioria eram mulheres o que
vem corroborar os dados da APS sobre a crescente feminização nos profissionais de
sociologia (ver p.5). Todos os nossos entrevistados estão profissionalmente ligados à
intervenção social e especificamente, com a excepção de uma socióloga (Linha SOS Deixar
de Fumar), à área da exclusão. Queremos ainda alertar para o facto de um dos sociólogos
entrevistados (entrevistado nº 2), não ter propriamente uma licenciatura em sociologia, mas
sim em Investigação Social Aplicada. Incluímo-lo, no entanto, no nosso estudo, por nos ter
sido indicado como sociólogo e por considerarmos que se trata mais de uma designação
diferente da licenciatura do que propriamente de uma área totalmente diferente, já que o seu
curso é constituído maioritariamente por cadeiras e matérias habitualmente pertencentes às
licenciaturas de Sociologia das outras faculdades.

Inquirido Sexo Universidade Ano em Local de Cargo que


e que se trabalho desempenha
Licenciatura licenciou
1 Feminino Autónoma 1996 ADE – Directora de escola de
Associação p/ formação profissional
Sociologia Desenvolv. e
Emprego
2 Masculino Moderna 2001 AMI – Técnico de investigação
Inv. Social Assistência social
Aplicada Médica Int. (equipa de rua e jornal
da AMI)
3 Feminino ISCTE 1999 Centro Coordenadora do centro
comunitário de comunitário de
Sociologia Vialonga Vialonga
4 Feminino ISCTE 1998 INCP - SOS Promotora de saúde
Deixar de (linha SOS Deixar de
Sociologia Fumar Fumar + acções
sensibilização escolas)
5 Masculino Autónoma 1999 Seg. Social – Técnico Superior 2ª
Dptº. Acção classe
Sociologia Social (C.M. (Prog.Comunitário,
Loures) prog. ajuda alimentar,
estatísticas)

Práticas Profissionais
em Sociologia 15 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

3.1 Técnicas de recolha de dados

Face ao nosso objecto de estudo, a cultura profissional dos sociólogos da intervenção,


considerámos mais adequado para a recolha de informação o uso da entrevista semi-
directiva, por forma a permitir obter resposta às nossas questões chave sem no entanto
excluir as informações inesperadas ou paralelas que pudessem surgir no decorrer do processo
de comunicação. Ou seja, pretende-se assim deixar caminho livre às interpretações e
expressão de sentimentos dos entrevistados pelas suas próprias palavras.

As técnicas intensivas de recolha de informação apesar de não permitirem inquirir o número


de pessoas que se inquirem com os inquéritos por questionário e deste modo não se colocar
sequer a questão da representatividade estatística, permitem alcançar uma profundidade
sobre o tema que seria impensável com outros métodos, ou seja, uma informação muito mais
rica, detalhada e, por vezes até, inesperada.

3.2 Técnicas de tratamento da informação

Relativamente à análise de conteúdo das entrevistas surgiram algumas dificuldades como,


por exemplo, o facto do tratamento da informação demorar muito tempo devido à
necessidade de interpretação de muitas que por vezes possuem diversos sentidos implícitos.
Embora tenhamos optado por analisar as entrevistas na íntegra e não proceder a um resumo,
não tomámos em conta na nossa análise determinados factores como erros de sintaxe,
hesitações ou a ordem de aparecimento das preposições. Procedemos a uma análise temática
vertical, ou seja, analisámos aprofundadamente cada entrevista de cada sociólogo per si
procurando a explicação para as nossas questões a um nível singular, isto é, procurando
perceber as representações e práticas de cada um e a aproximação maior ou menor de cada
sociólogo a um dos dois modelos de cultura profissional já enunciados, para depois se aplicar
então uma análise de conteúdo horizontal na expectativa de se poderem estabelecer
comparações, relações e agrupamentos entre os entrevistados.

4 – Análise dos resultados

Conforme se pode verificar pela nossa amostra, a maioria dos entrevistados acabaram os seus
cursos à relativamente pouco tempo, portanto já num contexto de consolidação da sociologia
enquanto disciplina científica, o que teve decerto influências decisivas quer na escolha do
curso, quer nas suas estratégias de profissionalização e nas suas representações sobre a
sociologia.

Práticas Profissionais
em Sociologia 16 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

4.1. Dimensão Cognitiva

Neste primeiro ponto vamos incidir sobre aspectos práticos que caracterizam a cultura
profissional dos nossos inquiridos, relacionados com a aquisição e a posterior utilização das
suas diversas competências.

4.1.1. Conhecimentos teóricos

No que diz respeito à trajectória académica dos sociólogos entrevistados e à aquisição de


conhecimentos verificámos que os interesses temáticos destes profissionais durante a sua
formação já estavam ligados à área da exclusão social e políticas sociais. Exemplo disso são
os casos das sociólogas de Vialonga. A Directora da Escola de Formação Profissional da
ADE, fez a sua tese em Políticas Culturais para os jovens e a Coordenadora do CCV cuja
área de interesse já se enquadrava na exclusão social fez a sua tese de licenciatura
Realojamento e desenvolvimento social. Apenas o sociólogo da AMI não expressou interesse
numa área especifica, o que pode talvez ser consequência das características particulares do
seu curso20.

As expectativas que tinham, durante a sua formação, em relação à inserção no mercado de


trabalho não eram as mais positivas para todos os inquiridos. Contudo esta situação não lhes
retirava a motivação como podemos constatar pelo seguinte relato:

“...lembro-me que nós abríamos o jornal e não, ninguém pedia sociólogos! E eu pensava
assim: Bem isto há-de dar uma grande volta, isto em 5 anos, vai custar a passar, isto é
muito ano, isto até lá muita coisa muda, vou é gozar estes anos.”
Socióloga do CCV (ent.3, p.8)

Apesar do pessimismo que antecedia a entrada na vida activa, a transição para o mercado de
trabalho foi rápida para a maioria dos casos. Foi adoptada como estratégia de
profissionalização por três deles a inscrição no gabinete de estágios da sua universidade. O
voluntariado em instituições de solidariedade foi outra das estratégias utilizadas assim como
candidaturas expontâneas a instituições e o recurso a amizades e docentes.

Apenas duas sociólogas acabaram de facto por efectuar estágio académico, conseguidos, uma
através de um docente (socióloga do CCV) e outra através de candidatura expontânea a um
Colégio da Casa Pia (Socióloga da Linha SOS D.F.). O estágio é considerado por ambas
como uma estratégia da extrema importância para a profissionalização, uma “porta” para o

20
Licenciatura em Investigação social aplicada

Práticas Profissionais
em Sociologia 17 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

mercado de trabalho; uma delas chega a afirmar que o estágio deveria ser obrigatório nas
licenciaturas, pois acredita que foi através do estágio que todo o seu percurso profissional se
desencadeou, além de facilitar a percepção de como funcionam de facto as coisas na prática
profissional:

“Sim, porque se eu pensar e se fizer o encadeamento das coisas...(...) Quer dizer, depois foi
pelo estágio que se lembraram de mim para o Projecto de Luta Contra a Pobreza.(...) Foi
tudo um encadeamento, não é. Tudo vindo do estágio. Se a gente pensar que...é por isso que
o estágio abre, abre muitas portas e pelo menos é mais uma coisinha que a gente tem no
currículo e já sabemos mais ou menos como é que as coisas funcionam.”
Socióloga do CCV (ent.3, p.10)

O caso excepção foi o sociólogo do Dptº Acção social da Seg. Social que demorou um ano
até conseguir um emprego na área da sociologia, tendo contudo realizado algumas
actividades para “sobreviver”:

“ia fazendo uns biscates, umas coisas, para se ganhar algum dinheiro, não é, para se
sobreviver”.
Sociólogo do Dptº. Acção social - CM Loures (ent.5, p.2)

Ainda sobre a aquisição de conhecimentos teóricos, considerámos também necessário


analisar a procura da actualização de saberes e a importância que os sociólogos lhe conferem.
Constatámos que o interesse pela sociologia permanece na maioria dos casos, mas que a
actualização dos conhecimentos é dificultada pelas rotinas profissionais, falta de tempo e
meios económicos:

“A minha mãe farta-se de dizer...mas estudar mais para quê? Qual é o teu objectivo?
Queres ficar a vida inteira a estudar? Eu não me importava (...) Só que o estudo não mata a
fome. Não paga uma casa que ainda não tenho mas quero vir a ter, não me paga as
prestações do meu carro...e temos que ter alguma estabilidade financeira para suportar
esses custos.”
Sociólogo do Dptº Acção social - CM Loures (ent.5, p.11)

Parece-nos importante notar que a actualização de saberes referida por alguns destes
profissionais não é realizada por iniciativa própria mas sim através dos institutos aos quais
estão vinculados e que organizam cursos de formação destinados aos funcionários ou
divulgam seminários e congressos sobre assuntos normalmente relacionados com o serviço.

Práticas Profissionais
em Sociologia 18 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“Ás vezes assisto a workshops, mas exactamente na área especifica... Nós aqui temos
também a funcionar o projecto EQUAL e uma das acções do projecto são workshops
destinados aos técnicos da entidade. E pronto, algumas visitas a outras entidades para
também ter conhecimento da forma como funcionam.”
Socióloga da ADE (ent.1, p.7)

“(... )sei de algumas coisas principalmente por correio interno, que são enviados por fax e
por cartas, propostas para congressos e para coisas do género, quer para assistentes
sociais quer para sociólogos(...)”
Sociólogo do Dptº Acção social - CM Loures (ent.5, p.7)

O sociólogo da AMI, apesar de considerar a actualização de saberes importante em termos


profissionais e de valorização pessoal, confessa que para além de, por vezes, assistir a
congressos ou seminários ou de consultar os apontamentos da faculdade quando sente
necessidade, não se tenta actualizar de mais nenhuma forma:

“Agora em termos de procurar informação para ler de sociologia, não tenho tido tempo,
tempo e vontade”
Sociólogo da AMI (ent.2, p. 4)

Contudo o panorama não é todo o mesmo. Duas sociólogas além de atribuírem uma grande
importância ao factor actualização de conhecimentos, procuram de facto, manter-se
actualizadas. Desde a realização de pós-graduações, diversos cursos de formação, assistir e
participar em congressos e seminários, até ao procurar manter-se a par de novas publicações
em sociologia, estas duas sociólogas mostram-se bastante activas na efectiva actualização de
conhecimentos, para além dos saberes contextuais que vão adquirindo naturalmente durante
o exercício da sua actividade:

“Ah, isso, eu passo a vida a fazer cursos (...) estou sempre a tirar cursos para continuar a
manter-me informada e há sempre livros que saem...”
Socióloga do SOS Deixar de Fumar (ent.4, p.5)

A outra socióloga, além de tudo isto é também assinante da revista Sociologia, Problemas e
Práticas. Sente contudo que a actualização que faz, ainda não é o suficiente:

Práticas Profissionais
em Sociologia 19 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“Há (...) investigações novas e por mais que a gente queira...eu, pelo menos, não consigo
estar assim muito, actualizada, sou sincera pronto”
Socióloga do CCV (ent.3, p.11)

4.1.2. Capacidades técnicas

Passamos agora para outro aspecto fundamental na identificação do tipo de relação entre
formação/profissão e consequentemente no tipo de cultura profissional destes sociólogos.
Segundo António Firmino da Costa “Não basta ter conhecimentos discursivos acerca da
sociologia para ser capaz de transportar eficazmente esses conhecimentos para a prática
sociológica, nomeadamente para a esfera profissional”.21 Assim, daremos aqui especial
atenção à avaliação das capacidades técnicas e, nomeadamente da capacidade que estes
profissionais demonstram, na mobilização dos seus conhecimentos para a prática profissional
actual concreta em que estão inseridos.

Quase todos os nossos inquiridos, em virtude da sua jovem idade, encontram-se no primeiro
ou segundo emprego, tendo uns realizado alguns trabalhos pontuais e por vezes em
simultâneo com as suas ocupações profissionais principais.

Mobilização de saberes

As competências sociológicas que estes profissionais reconhecem usar no desempenho das


suas funções são sobretudo de cariz metodológico e operatório: a elaboração de relatórios e
diagnósticos, caracterização sociográfica das populações e o tratamento dos consequentes
dados estatísticos. O SPSS é usado apenas por três dos nossos entrevistados. Duas sociólogas
que tiraram a licenciatura no Iscte (entrevistadas 3 e 4) e uma terceira que aprendeu a
trabalhar em SPSS durante o tempo em que foi colaboradora do CIES (entrevistada 1). Os
outros dois entrevistados, (Moderna e UAL) apesar de trabalharem com estatísticas, não
sabem usar este programa.

Apesar da aplicação destes conhecimentos metodológicos, no que se refere a conhecimentos


mais teóricos e conceptuais, três dos nossos entrevistados mesmo reconhecendo nos seus
conhecimentos base, um pano de fundo ou uma rede de apoio para as suas práticas
profissionais e de referirem um ganho de sensibilidade acrescida para todos os fenómenos da
vida social, deixam transparecer alguma dificuldade na aplicação prática desses
conhecimentos de base. Apesar de sentirem que estes conhecimentos teóricos estão sempre
presentes, não são usados no quotidiano ou então que são usados mas de uma forma
indirecta, quase inconsciente:

21
COSTA, António Firmino da, (2003), op. Cit, p. 15

Práticas Profissionais
em Sociologia 20 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“Eu acho que isso tudo acabou por ficar um bocado intrínseco a nós próprios (...) que
depois nós no dia a dia usamos sem nos apercebermos.”
Socióloga do CCV (ent.3, p.11-12)

“Conhecimentos...estou a aplicá-los, se calhar, intrinsecamente porque em termos


sociológicos e tudo isso não preciso de utilizar muito, não é? (...) acho que os vou inserindo
na minha actividade”
Socióloga do SOS deixar de Fumar (ent.4, p.7)

Esta dificuldade pode estar ligada ao facto destes sociólogos se enquadrarem em áreas de
actividade (a exclusão e a intervenção social) que requerem ou que lhes parece requerer
respostas e acções muito imediatas e operatórias.

Os outros dois entrevistados referem um grande hiato na relação formação/profissão já que


não vêem qualquer aplicabilidade do que aprenderam na sua prática profissional:

“Realmente há questões, que só mesmo aqui, estando aqui no terreno (...) não nos ensinam
isso na faculdade, não é?”
Socióloga da ADE (ent.1, p.6)

“As teorias sociológicas não têm prática em termos concretos no trabalho.”


Sociólogo da AMI (ent.2, p.3)

Este ultimo entrevistado aponta ainda para a grande discrepância existente entre os cursos de
sociologia e a sua aplicação prática e considera serem mais importantes para o exercício da
sua actividade, os saberes contextuais do que os da sua formação base.

“Os cursos de sociologia é tudo muito teórico e depois temos no final um trabalho
complicadíssimo”
Sociólogo da AMI (ent.2, p.6)

No entanto, há outras opiniões quanto ás vantagens de se ter competências sociológicas.


No relato da socióloga do CCV, verificamos que, ainda que não de um modo muito claro,
esta valoriza e reconhece a existência de competências relacionais:

Práticas Profissionais
em Sociologia 21 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Eu acho que a vantagem do sociólogo, pelo menos o que eu sinto...é que nós conseguimos
casar muito bem todas essas sinergias (...) sinto, por exemplo, quando temos a reunião de
equipa, aí é, é sintomático e eu sei que consigo ter uma visão muito global das coisas, não
sei se por ser coordenadora, mas há coisas que acho que é mesmo pela formação que nós
temos, não é.”
Socióloga do CCV (ent.3, p.7)

Constrangimentos à profissão

De um modo geral todos reconhecem o contributo da sociologia como uma mais valia à sua
actividade profissional. Há contudo aspectos que exercem uma certa limitação ao exercício
das suas actividades.

Os constrangimentos mencionados são de dois tipos: Financeiros - que decorrem da


dependência de fundos para a realização de projectos de intervenção; e Hierárquicos -
consequência do facto de todos estes profissionais trabalharem por conta de outrém e por
vezes em instituições altamente burocráticas e hierarquizadas, necessitando de aprovação
constante das suas funções.

“(...) na última candidatura, candidatámos 11 cursos de formação e só nos aprovaram


dois.”
Socióloga da ADE (ent.1, p.11)

“...o principal é o financeiro (...) a folhinha do dinheiro do fundo de actividades está sempre
na minha mesa, porque a gente tem que contar tostão a tostão”
Socióloga do CCV (ent.3, p.13)

“aquilo que a pessoa vai fazer, tem de passar por vários chefes, digamos assim, para serem
aprovados. O que é uma limitação.”
Sociólogo da AMI (ent.2, p.5-6)

É curioso ainda, para nós, notar um conflito latente entre profissionais nesta área da
intervenção social: sociólogos e assistentes sociais.

“Há muitas assistentes sociais com mais de cinquenta anos. Não sei se estão a perceber o
que eu estou a querer dizer. (...) Eu nunca fui aceite por elas, porque: Uma socióloga, o que
é que ela vem fazer? Vem-nos tirar o lugar!”
Socióloga do SOS deixar de Fumar (ent.4, p.9)

Práticas Profissionais
em Sociologia 22 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“E depois, também com as assistentes sociais, é difícil. Depois, diga-se que é uma
comunidade muito dura, muita dura. (...) eu cheguei aqui, ainda por cima vinha coordenar
projectos...que chatice, não é? Nós já estamos cá há mais tempo. Ainda por cima um
rapazinho novo. Quem é este rapazinho que chega aqui e ainda por cima vai coordenar
projectos onde nós estamos? Eu que até já tenho trinta e tal anos e quarenta. E outras
cinquenta e sessenta. Jamais!. Portanto, houve, houve algumas resistências”
Sociólogo do Dptº Acção social - CM Loures (ent.5, p.6-7)

Autonomia

A ausência de autonomia poderia ser à partida considerada um constrangimento à actividade


profissional. No entanto, é considerada “normal” por alguns dos nossos entrevistados no
sentido em que consideram sempre útil uma certa orientação base por parte dos seus
superiores hierárquicos. Exemplo disso é o sociólogo da AMI, que não tem qualquer poder
de decisão (este provém do Director ou do departamento) mas que no entanto considera que:

“Eu acho que em qualquer trabalho as pessoas devem ter, pelo menos, uma orientação
daquilo que estão a fazer”
Sociólogo da AMI (ent.2, p.3)

Também o entrevistado nº 5, goza de pouca autonomia profissional mas não se sente


constrangido:

“A autonomia na função pública é sempre relativa (...) tenho autonomia para gerir, por
exemplo, o programa comunitário, (...) mas há uma satisfação que eu tenho que dar à
minha coordenadora (...) tenho uma autonomia q.b.”
Sociólogo do Dptº Acção social - CM Loures (ent.5, p.4-5)

Os mais privilegiados a este nível, ou seja, os que detêm um maior grau de autonomia são: a
Promotora de Saúde, cuja boa relação com a sua superior hierárquica (também socióloga) lhe
permite ter algum espaço de manobra, a nível de horários e na organização das acções de
sensibilização que faz e em comunicações e campanhas que comunica à chefia apenas no
final do ano:

“(...) eu organizo o dia, faço os contactos, mobilizo as pessoas, portanto tenho toda a
liberdade e depois comunico, certamente. (...) O mesmo se passa com as minhas acções que
eu faço nas escolas e tudo isso, faço relatórios no final do ano..”
Socióloga do SOS deixar de Fumar (ent.4, p.6)

...e a coordenadora do Centro Comunitário de Vialonga que no fundo gere e coordena aquele
núcleo com quase total autonomia tendo apenas de prestar contas num relatório mensal;

Práticas Profissionais
em Sociologia 23 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“Ah, aqui temos completa autonomia” (...) Eu própria tenho autonomia para lhe dizer:
“Olha, ok, avança (...) depois no relatório mensal vai lá...”
Socióloga do CCV (ent.3, p.12)

Esta socióloga refere que apesar de também existir o “reverso da medalha”, é sempre
preferível ter autonomia:

"Por outro lado às vezes a gente trabalha (...) sem rede” mas: “eu pessoalmente prefiro
trabalhar com autonomia e ter às vezes estes dilemas do que estar numa estrutura
burocrática, fechada, muito pesada”;
Socióloga do CCV (ent.3, p.11-12)

4.2. Dimensão Ética e Reflexiva

4.2.1. Preocupações Deontológicas, Associativismo e Interdisciplinaridade

Dos nossos cinco entrevistados apenas um afirmou ter conhecimento da existência do Código
deontológico, apesar de nunca o ter lido (entrevista 1) Todos os outros entrevistados nunca
ouviram falar do Código. Todos salientam contudo, que observam “regras” de
confidencialidade na recolha e tratamento dos dados:

“Na faculdade nunca me foi dado a conhecer (...) mas quer dizer, há coisas que são, quer
dizer, é bom senso, é uma questão moral...”
Socióloga do CCV (ent.3, p.14)

Verifica-se nos nossos entrevistados, um notório «distanciamento» relativamente à adesão a


associações profissionais de Sociologia. Apesar de todos conhecerem pelo menos a
Associação Portuguesa de Sociologia, só um dos nossos entrevistados pertence a uma
associação – a APSIOT. Refere contudo, que não serve de nada por ser demasiado
vocacionada para a Sociologia do Trabalho:

“Sim, pertenço a (...) APSIOT...Mas não aconselho”, “É só seminários vocacionados para


as áreas da sociologia do trabalho e as outras áreas são esquecidas”
Sociólogo do Dptº Acção social – CM Loures (ent.5, p.7)

Também no que concerne ao relacionamento com outros sociólogos, (exceptuando os


profissionais ligados por razões profissionais) os contactos com colegas sociólogos são

Práticas Profissionais
em Sociologia 24 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

mantidos apenas por três dos nossos entrevistados. Em todos os casos tratam-se de ex-
colegas de curso.

De qualquer forma, a interdisciplinaridade é sempre realçada como sendo importante e


nalguns casos, até vital para o bom funcionamento dos serviços e actividades que lhes estão
associados:

“Tem que haver uma complementaridade no fundo, entre as várias áreas”


Socióloga da ADE (ent.1, p.10)

Apenas uma nas sociólogas entrevistadas afirma não se verificar grande interdisciplinaridade
no seu local de trabalho por terem todos, funções muitos específicas e em áreas de actividade
muito distanciadas e pouco complementares. Trata-se da entrevistada nº 4 que trabalha no
Instituto Português de Cardiologia Preventiva ao lado de médicos, técnicos da saúde,
nutricionistas, entre outros.

4.2.2. Papel do Sociólogo e Identidade Profissional

Este ponto trata essencialmente das representações que os nossos entrevistados têm da
sociologia e do seu impacto em geral, e do seu papel profissional em particular, ou seja,
falamos da Identidade Profissional destes sociólogos.

Relativamente ao papel do sociólogo e às representações sobre a sociologia, todos os


sociólogos entrevistados são unânimes quanto à necessidade dos profissionais de sociologia e
ao considerar bastante positivo o impacto que têm na sociedade. Uma das entrevistadas
chega a dizer que deveria de existir um sociólogo em cada local de trabalho,
independentemente da área de actividade, pois:

“a sociologia (...) é muito importante. Para avaliar tudo!”


Socióloga do SOS deixar de Fumar (ent.4, p.10)

Outro, em reposta à nossa pergunta: “Para que serve um sociólogo?”, reponde:

“É a mesma coisa que perguntar, por exemplo, para que é que servem as velas de um
automóvel, não é?”
Sociólogo do Dptº Acção social – CM Loures (ent.5, p.6)

Dois dos entrevistados atribuem aos sociólogos uma multiplicidade e abrangência de


capacidades e papeis:

Práticas Profissionais
em Sociologia 25 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“(...) nós temos um bocado essa visão global e acho que temos muito essa capacidade para
aproveitar um bocadinho de toda a gente”
Socióloga do CCV (ent.3, p.8)

“O papel dos sociólogos...eu acho que os sociólogos se encaixam em tudo. (...) Eu acho que
a sociologia ,insere-se em qualquer ramo...”
Socióloga do SOS deixar de Fumar (ent.4, p.8)

Por outro lado, os outros três sociólogos, apesar de começarem por atribuir também aos
sociólogos uma multiplicidade de papeis e de afirmarem sempre essa «visão global e
abrangente» da sociologia, acabam no seu discurso, por admitir implícita ou explicitamente,
que concebem a sociologia mais ligada ao ensino e à investigação:

“(...) a pessoa que está integrada no mercado de trabalho eu acho que se dispersa um
bocado daquilo que aprendeu e da própria sociologia...”
Sociólogo da AMI (ent.2, p.9)

Um deles vai mais longe ao atribuir ao sociólogo não-universitário funções muito específicas
e de cariz mais metodológico e operacional:

“Acções que depois tenham que ser postas em prática, o trabalho do sociólogo aí é
imprescindível, no diagnóstico, na preparação, na elaboração de grelhas de análise, na
elaboração depois dos relatórios...quer dizer, faz sentido”
Sociólogo do Dptº Acção social – CM Loures (ent.5, p.6)

É com base neste contexto, e em torno das funções que exercem e das representações sobre a
sociologia e sobre o papel dos sociólogos, que os entrevistados vão construindo a sua
identidade. Desta forma, e na continuidade coerente dos seus discursos, estes três
entrevistados que concebem um hiato na relação ciência/profissão, tanto ao nível dos papeis
profissionais concebíveis e da mobilização de saberes, como ao nível da actualização de
saberes ou da importância concedida ao grau de autonomia que detêm, como já vimos
anteriormente, são também os que apresentam na generalidade apenas uma «Identificação
Cultural»22 com a sociologia, no sentido de experimentarem uma “sensibilidade sociológica”
que não implicará contudo uma relação directa com as actividades que exercem. Alguns
destes sociólogos chegam a afirmar peremptoriamente que não se identificam como
sociólogos:

22
COSTA, António Firmino da, (2003), op. cit., p. 8

Práticas Profissionais
em Sociologia 26 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

“Digo que sou técnica responsável pela área de formação profissional da instituição em que
trabalho”
Socióloga da ADE (ent.1, p.9)

“Não digo que sou sociólogo, sou «sociologista» (...) é ser sociólogo, assim às vezes”
Sociólogo do Dptº Acção social – CM Loures (ent.5, p.8)

O entrevistado nº 2, apesar de afirmar que se identifica perante os outros como investigador


social, técnico social ou sociólogo, admite depois que o faz, essencialmente, para dar a
conhecer o seu curso (Investigação Social Aplicada) e para de alguma forma valorizar a sua
formação e, não tanto por se identificar de facto como sociólogo, já que todo o seu discurso
deixa claramente transparecer uma «Cultura de Dissociação»:

“Sou investigador social (...) Outras vezes digo que sou técnico social ou sociólogo” (...)
“Eu acho que devo valorizar aquilo que tirei, não é?”
Sociólogo da AMI (ent.2, p.4)

Pelo contrário, as outras duas sociólogas (entrevistadas 3 e 4), além desta “sensibilidade
sociológica”, possuem também uma «Identificação Profissional» já que pressupõem uma
certa operatividade profissional dos conhecimentos de base que possuem e se identificam
efectivamente como sociólogas:

“Sinto-me socióloga. Sempre, isso sempre.”


Socióloga do CCV (ent.3, p.16)

A entrevistada nº 4, não obstante responder que faz promoção da saúde e só referir que é
socióloga, quando lhe perguntam sobre as suas habilitações, demonstra na globalidade do seu
discurso uma identificação com a sociologia muito maior do que a dos entrevistados 1, 2 e 5,
como se pode verificar, por exemplo, nesta sua afirmação:

“(...) mas, para mim, o curso foi uma mais valia e tento aplicá-lo o máximo possível.”
Socióloga do SOS deixar de Fumar (ent.4, p.7)

Práticas Profissionais
em Sociologia 27 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

4.3 Cultura profissional

Tendo em consideração tudo o que atrás foi exposto, resta-nos tentar responder às perguntas
iniciais que orientaram este estudo tentando perceber se os nossos entrevistados se
aproximam tendencialmente de algum dos modelos de Cultura Profissional propostos por
António Firmino da Costa. Dizemos tendencialmente, porque como ficou explícito através da
análise das entrevistas, os nossos entrevistados não “preenchem” exaustivamente todas as
premissas de cada modelo de cultura profissional. Cada um deles aproxima-se, no entanto,
mais de um ou outro modelo.

De facto, se tivermos em conta a importância dada à autonomia que detêm no decorrer das
suas funções, à actualização de saberes e neste ponto também à prática efectiva desta
actualização, à concepção do papel do sociólogo, da relação entre a sociologia enquanto
ciência e a sociologia enquanto profissão, e neste sentido, também à forma como procedem à
mobilização de saberes e por ultimo, ao sentimento de identidade com a sociologia, podemos
considerar que os sociólogos 1, da ADE, 2 da AMI e 5 do Dptº. Acção Social da S.S.Loures,
se aproximam tendencialmente da Cultura de Dissociação enquanto que as sociólogas 3 do
Centro C. Vialonga e 4 da Linha SOS Deixar de Fumar se aproximariam mais do modelo de
Cultura de Associação entre ciência e profissão.

Vejamos. São estas as que apresentam uma maior identificação profissional com a sociologia,
que conferem ao sociólogo uma maior abrangência de papeis profissionais, que mais
valorizam a autonomia (e também que mais autonomia detêm), que mais preocupações
demonstram com a actualização de conhecimentos e também que mais esforços fazem neste
sentido, que melhor aproveitam e relacionam as diversas competências teóricas,
metodológicas, relacionais e operatórias e que melhor estabelecem a ponte entre os diversos
saberes de base, contextuais e complementares no exercício das suas actividades.

O sociólogo nº 2, da AMI, é o que, de todos, o que melhor se parece enquadrar na Cultura de


Dissociação. Concebe a sociologia enquanto ciência totalmente separada da sociologia
enquanto profissão; não possui nem dá importância à autonomia na actividade laboral; apesar
de considerar a actualização de saberes importante, não demonstra praticamente nenhuma
iniciativa (nem vontade) nesse sentido; concebe como importantes apenas as competências
operatórias (e talvez também um pouco, as metodológicas), os saberes contextuais acima de
tudo e por último, identifica-se como um investigador social apenas como forma de valorizar
a licenciatura que tirou. Aliás, este é um dos factores que nos impedem de tecer uma
conclusão peremptória em relação a este caso, pois devemos ter em conta que esta
aproximação à cultura de dissociação pode estar relacionada com as particularidades do seu
curso (ver nota de rodapé 19).

Práticas Profissionais
em Sociologia 28 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Não considerámos aqui os diversos aspectos relacionados com as preocupações


deontológicas, de associativismo profissional e a importância dada à interdisciplinaridade,
por todos os entrevistados apresentarem um paralelismo nas respostas a estas questões: Todos
desconhecem o Código Deontológico e apresentam um certo distanciamento com o
associativismo profissional. Consideram positiva a interdisciplinaridade, por considerarem
que todas as áreas do saber são essenciais ao bom funcionamento das suas actividades e ao
exercício de reflexividade característico da “sociedade do conhecimento” em que vivemos.

5 – Considerações finais

No decorrer da análise das entrevistas, optamos a cada ponto por ir tecendo as considerações
que nos pareceram pertinentes. Assim, seria redundante retomar essas observações, pelo que
salientamos apenas que as duas sociólogas que mais se aproximam do modelo de Cultura de
Associação, se licenciaram no ISCTE. Estamos conscientes que a nossa amostra não é
representativa. Contudo, julgamos que este facto poderia ser o ponto de partida para uma
futura investigação, que visasse perceber a relação dos currículos das licenciaturas e do
ambiente vivido em cada faculdade com as culturas profissionais dos seus licenciados. Isto
porque o resultado da nossa pesquisa parece apontar no sentido de que a diferentes modelos
de formação em sociologia23 corresponderão diferentes culturas profissionais dos sociólogos
o que vem corroborar a afirmação de João Ferreira de Almeida: “o modo como se trabalha
em Sociologia, a variedade das suas inserções, as características da sua cultura
profissional estão necessariamente presentes no ensino da disciplina, algum tipo de
influência exercem sobre os conteúdos, as pedagogias, os objectivos desse ensino”.24

Apesar de ser possível aproximar cada sociólogo a um modelo específico de Cultura


profissional, importa referir que a divisão entre estes é cada vez menos rígida, dado que a
Cultura de Associação é um modelo emergente, se não ainda nas práticas, pelo menos nas
representações dos sociólogos no nosso país.

Salientamos ainda que os nossos entrevistados parecem não reconhecer a importância do


papel das associações profissionais na consolidação do seu estatuto e do papel que poderão
ter na integração e nos processos de profissionalização dos licenciados. Cabe a cada um de
nós tentar fomentar o associativismo profissional e à APS continuar o seu trabalho de
aproximação e unificação dos sociólogos.

23
COSTA, António Firmino da, (2003), op. cit., p. 10
24
ALMEIDA, João Ferreira de, (1992), Trabalhar em Sociologia, ensinar Sociologia, in Sociologia,
problemas e Práticas, nº 12, Mem Martins, Publicações Europa-América, Lda, p.193.

Práticas Profissionais
em Sociologia 29 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

Por último, importa apontar algumas falhas que reconhecemos no nosso trabalho,
nomeadamente na recolha dos dados. Temos consciência que algumas das questões que
colocámos aos nossos entrevistados poderiam ter sido um pouco mais aprofundadas,
nomeadamente, a questão da importância atribuída à autonomia e a questão das motivações
que levaram à escolha da sociologia. Também teria sido importante averiguar sobre os
vínculos e estabilidade profissional de cada um e as expectativas que estes sociólogos teriam
em relação à sua profissão.

Práticas Profissionais
em Sociologia 30 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

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Práticas Profissionais
em Sociologia 32 ISCTE, 2003
O Sociólogo na Intervenção Social

ANEXOS

Práticas Profissionais
em Sociologia 33 ISCTE, 2003
QUADRO RESUMO DAS ENTREVISTAS
Instituição
Ensino

Licenciatur
Áreas de Institui Trajectória
a
maior ção de Cargo / profissional e Constrangimento Actualizaçã Mobilização - Código deontológico Papel do Identidade
interesse Empre Funções Estratégias de Autonomia s à profissão
- Associativismo
Profissional
Ano fim
curso
no curso go profissionalização o saberes saberes - Interdisciplinaridade sociólogo
Outras
formações
Culturas ADE – Directora da Aplicação de Pouca: o trabalho é feito em Financeiros: Assiste a workshops Aplica alguns conhecimentos - “Eu sei que existe mas Vê o sociólogo capaz de Não se identifica como
Juvenis Associaç escola de questionários p/ a equipa. Dependência de fundos destinados aos técnicos metodológicos (SPSS). Sente nunca li” Contudo, tem desempenhar uma multiplicidade de socióloga:
 Tese: ão para o formação CMVFX; Participação num comunitários para a da entidade, no âmbito do que não aplica os preocupações deontológicas papeis: “(...) a sociologia dá para
Políticas Desenvol. profissional - Projecto Câmara e IPJ, (6 Os conteúdos das formações execução dos projectos projecto EQUAL (ex: conhecimentos teóricos no no desenvolvimento de trabalhar em quase tudo.” (8) “Digo que sou técnica
Culturais da e meses, durante a tese); sãodefinidos pelo IFP. propostos; refere tb. conciliação entre vida quotidiano: estudos.(7) responsável pela área
Juventude Emprego Formadora e Deu formação profissional constrangim. familiar e profissional + ...mas associa-o mais à área da da formação
- UAL em V.F.Xira colaboradora num curso p/ amas Os projectos estão sujeitos à burocráticos gestão documental + “Realmente há questões, que - “Conheço a APS, mas não investigação e da docência. profissional da
num estudo (através do Prof. aprovação da CMVFX marketing social). só mesmo aqui, estando aqui pertenço”(8) instituição em que
sobre Capucha); “(...) na última no terreno(...)não nos ensinam Considera positivo e necessário o trabalho” (9)
- Sociologia
populações Caract. Sócio-gráfica c/ candidatura, Faz visitas a outras isso na faculdade, não é.”(6) - Realça a importância da papel do sociólogo em sociedade
emigrantes duas pessoas do CIES + candidatámos 11 entidades para interdisciplinaridade: “Tem principalmente para a Como resposta à
- 1996
avaliação de projecto na cursos de formação e intercâmbio de ...mas realça a sua importância que haver uma consciencialização dos problemas. pergunta se associava
Castanheira do Ribatejo só nos aprovaram conhecimentos (mas não e necessidade: complementaridade no fundo, mais a sociologia à
- Curso de
(Capucha); Colaboradora dois.” (11) por iniciativa pessoal, entra as várias áreas” (10) “É assim, faz falta. Faz porque causa investigação e à
Access
do CIES durante uns antes da entidade) “(...)trabalhamos muito no da formação de base.(...) Tem uma docência, respondeu:
meses; Entrada no ADE terreno, resolvemos questões - Não mantém contactos com perspectiva, uma abrangência dos “Sim” (9)
em 2001 através de do dia-a-dia e se calhar outros sociólogos sem ser problemas sociais(...)Outras áreas
projecto da CMVFX. precisávamos debruçar mais aqueles com que trabalha. não os focam da mesma forma”(10)
sobre questões teóricas.”(9) e,
“(...) acho que falta um bocado
essa vertente teórica(...)” (9)
Pretendia AMI – Técnico de Depois do curso fez O poder de decisão depende Constrangimentos a Por vezes assiste a “As teorias sociológicas não - Não conhece o código “Esta é uma questão complicada. Não “Sou investigador
fazer algo Assistênc investigação voluntariado na linha 123 do director ou do nível das hierarquias. seminários. têm prática em termos deontológico mas tem cuidado sei ao certo o que é que hei-de dizer.” social.(...) Outras vezes
 ligado ao ia Médica social no (apoio a departamento: As decisões passam “Agora em termos de concretos no trabalho.” (3) na recolha e tratamento dos (8) digo que sou técnico
Social Internaci depart. de toxicodependentes e sem- “Portanto em termos por várias pessoas: procurar informação para dados. Considera a sociologia necessária à social ou sociólogo” (4).
(Sociologia onal acção social abrigo); concretos não posso tomar “aquilo que a pessoa ler de sociologia, não Considera mais importante os sociedade mas acha que os cursos Principalmente para
ou da AMI - decisões” (3) mas não vê vai fazer, tem de passar tenho tido tempo, tempo e saberes contextuais do que os - Relativamente à APS: “Já são demasiadamente teóricos: valorizar a sua
- Moderna Antropologi Integrou a AMI através de isso como um por vários chefes, vontade” (4) de formação base p/ o exercício ouvi falar. Não editou um “Os cursos de sociologia é tudo muito formação: “Eu acho que
a) Colabora na candidatura espontânea constrangimento: digamos assim, para da sua actividade. livro?” (7). teórico e depois temos no final um devo valorizar aquilo
equipa de rua “Eu acho que em qualquer serem aprovados. O Consulta os apontamentos trabalho complicadíssimo” (6) e, que tirei., não é?” (5)
- Investig.
Tese em e elabora o trabalho as pessoas devem que é uma limitação.” da faculdade. No entanto, acha que há uma Mantém contactos com dois como consequência:
Social
Sociol. da jornal da AMI: ter, pelo menos, uma (5) ligação entre o que aprendeu colegas de curso que não “(...)a pessoa que está integrada no Considera que faz
Aplicada
Saúde «AMI Social» orientação daquilo que estão Não se actualiza mas no curso e a actividade trabalham em sociologia. mercado de trabalho eu acho que se investigação ao
a fazer” (3) considera a actualização profissional, nomeadamente na dispersa um bocado daquilo que pesquisar p/ o jornal.
- 2001
de saberes importante em aplicação de saberes - Contacta com psicólogos, aprendeu e da própria sociologia
termos profissionais e de metodológicos: relatórios, assistentes sociais, enfim”(9)
- não tem
valorização pessoal. estatística. (não trabalha com contabilistas, prof. das O sociólogo deve ser multifacetado,
SPSS) relações internacionais, etc., um pouco de tudo
no local de trabalho
Área de Centro Coordenadora Recusou um estágio p/ a Gere e coordena o Centro Os constrangimentos - É assinante da Apesar de considerar que muito - Não conhece o código Não concebe a sociol./ciência Identifica-se como
interesse: Comunitá do centro Câm.Lx através do Gab. com quase total autonomia: apontados são Sociologia, Problemas e do que se aprende não se deontológico mas respeita separada da sociol./profissão: socióloga a pesar de
 Pobreza e rio de comunitário – estágios do Iscte e fez “Ah, aqui temos completa essencialmente Práticas. aplica: “regras” de bom senso na sua perante os outros não
Exclusão Vialonga estág. Académico num autonomia”(12) financeiros: - Fez uma pós-graduação, actividade: “Na faculdade “(...)a formação que tenho dá-me, dizer que é socióloga:
social gab.do PER, do Projecto (ainda falta defender) “Há muita coisa que a gente nunca me foi dado a acho eu que dá-me, mais-valias para
Coordena Social de Realojamento, Só dá conhecimento ao “...o principal é o (direccionada para os aprende mas que depois não se conhecer”(14), “mas quer o cargo que desempenho e isso está “(...)quando a pessoa
Tese em todas as (conseguido através do Director nos relatórios financeiro(...) a folhinha funcionários Câmara e aplica, se bem que é assim...” dizer, há coisas que são, quer sempre presente, quer dizer, eu acho não se quer chatear
- ISCTE Realojamen actividades e Prof.Capucha). De 2000 a mensais. do dinheiro do fundo de leccionada em V.F.X) (11), dizer, é bom senso, é uma que «sociólogos uma vez, sociólogos muito e não está para
to e serviços do 2001 colaborou (durante 2 “Eu própria tenho autonomia actividades está - Assiste c/ frequência a questão moral...” (15) para sempre», aquela formação, falar muito diz que é
desenvolvi centro: um anos) no Proj. Luta Contra para lhe dizer: “Olha, ok, sempre na minha seminários diversos, os conhecimentos base estão aquela lavagem que a gente leva , coordenadora do centro
- Sociologia
mento gabinete de a Pobreza na Póvoa Sta. avança (...) depois no mesa, porque a gente tendo feito uma sempre presentes: - Conhece a APS e esteve está sempre presente” (17) ou é técnica do
social atendimento Iria. Foi mediadora de relatório mensal vai lá...” (12) tem que contar tostão a comunicação num, no quase para se associar, mas centro(...) mas,
- 1999
integrado com formação na ADE durante tostão” (13) âmbito do projecto EQUAL “Eu acho que isso tudo acabou deixou passar. Considera que o impacto dos
apoio 5 meses em simultâneo c/ Apesar de ter o reverso da em Barcelona. por ficar um bocado intrínseco sociólogos, se pudesse ser medido “Sinto-me socióloga.
- Pós
psicológico, o PLCP. medalha: “Outro - Tenta manter-se a par de a nós próprios (...) que depois - Tem contactos com seria bastante positivo. Sempre, isso sempre.”
graduação
visitas da Em Janeiro 2002 - Centro "Por outro lado às vezes a constrangimento é investigações e novas nós no dia-a-dia usamos sem sociólogos da área do Alentejo (13)
em Políticas
Seg.Social e Comun. como técnica do gente trabalha (...) sem rede” estar dependente das publicações em livrarias. nos apercebermos” e, “as de onde é originária A vantagem do sociólogo é conseguir
Sociais
CPCJ, Univa, Gab. Apoio Social. Em (12), comunicações e estar à - Sente contudo que é coisas estão cá, não é, e de articular os vários saberes: “Eu acho
Locais
ATL + Clube de 2003 passa a espera dos despachos, insuficiente: “Há (...) certeza que foi das aulas que - Trabalha com diversos que a vantagem do sociólogo(...)é que
da UAL (no
jovens, coordenadora. prefere ter autonomia: “eu são coisas muito investigações novas e por se assistiu, do que se profissionais de diferentes nós conseguimos casar muito bem
âmbito de
Biblioteca, Considera o estágio pessoalmente prefiro demoradas” (14) mais que a gente aprendeu, de leituras que se áreas e acha que a todas essas sinergias”(7), “(...)nós
um projecto
Casa da crucial para integração no trabalhar com autonomia e queira...eu, pelo menos, fez...” (12) interdisciplinaridade é temos um bocado essa visão global e
da Câmara
Juventude e mercado trabalho e acha ter às vezes estes dilemas do não consigo estar assim essencial ao bom acho que temos muito essa
Municip.)
cursos de que devia ser que estar numa estrutura muito, actualizada, sou funcionamento do serviço. capacidade para aproveitar um
formação. obrigatório.(9) burocrática, fechada, muito sincera pronto”(11) bocadinho de toda a gente” (8)
pesada.” (14)

34
QUADRO RESUMO DAS ENTREVISTAS
Sociologia Instituto Promotora de Estágio académico na Tem alguma autonomia a Não refere Tenta manter-se Aplica conhecimentos - Em relação ao Código “O papel dos sociólogos...eu acho “O que eu faço. Faço
da família Nacional saúde – Casa Pia (durante a tese) nível de horários e na constrangimentos tanto actualizada fazendo vários metodológicos (SPSS) e Deontológico: “Nunca ouvi que os sociólogos se encaixam em promoção de saúde. (...)
 Tese: de através de candidatura organização das acções de que a directora tb. é cursos (na área da saúde conhecimentos teóricos de falar! Tenho que ir saber tudo.(...) Acho que devia de haver um Só quando me
Representa Cardiolog Avaliadora do espontânea onde ficou a sensibilização que faz e em socióloga: “Eu dou-me e outras): base como «pano de fundo». disso”(6) sociólogo em todo o lado.(...) E foi perguntam as
- ISCTE ções ia concurso ‘Quit trabalhar mais um ano. comunicações e campanhas muito bem com a Dra. isso que me fascinou quando fui tirar habilitações ou
familiares Preventiv & Win’, que comunica à chefia no Isabel Machado, ela “Ah, isso, eu passo a vida “Conhecimentos...estou a - Conhece a APS mas não o curso...” (8) qualquer coisa assim é
- Sociologia de crianças a – Linha Colabora na Em 2000, entra no INCP final do ano: também tem a mesma a fazer cursos (...) estou aplicá-los, se calhar, pertence, nem a qualquer que digo que sou
em SOS Linha SOS para avaliação do formação que nós e sempre a tirar cursos para intrinsecamente porque...em outra associação de Considera a sociologia bastante socióloga” (9/10)
- 1998 instituição Deixar de Deixar de concurso Quit & Win “O mesmo se passa com as como tal entendemos continuar a manter-me termos sociológicos e tudo isso sociologia. abrangente mas muito
de Fumar Fumar; (através da Dra.Isabel minhas acções que eu faço as coisas mais ou informada e há sempre não preciso de utilizar muito, desaproveitada em Portugal.
- CAP – acolhimento Organiza Machado, socióloga) nas escolas e tudo isso, faço menos da mesma livros que saem...” (5) não é? (...) acho que os vou -“aqui dentro(...) toda a gente
Certificado acções de Faz estágio profissional relatórios no final do ano...” maneira.” (6) inserindo na minha actividade faz de tudo, mas não sei se o Atribui aos sociólogos uma
de Aptidão promoção e no INCP por proposta (6) Na Casa Pia, rejeitaram e, assistindo a congressos “(...) mas, para mim, o curso foi conceito de capacidade de papeis bastante
Pedagógica sensibilização deste ao IEFP, e fica lá a todos os projectos que e seminários: uma mais valia e tento aplicá-lo interdisciplinaridade será abrangentes, e evidencia a
+ da saúde em trabalhar desde então. Contudo, estas são definidas apresentou. Encontrou o máximo possível.” (7) muito adequado”(5) importância da reflexividade que
Diversos escolas e pelos seus superiores uma grande resistência “Tento ir. Sim. Tudo o que As funções de cada um são resulta de um maior conhecimento
cursos empresas; Tem hierárquicos. por parte das sei, vou.” (5) No entanto refere que para muito específicas e não se sobre a realidade fornecido pelos
formação a seu cargo a assist.sociais “Eu aplicar directamente o curso cruzam sociólogos: “a sociologia (...)é muito
organização e nunca fui aceite por teria de estar a dar aulas de importante. Para avaliar tudo! (...) Eu
arquivo da elas” (7) Sociologia. acho que quanto mais conhecimento
biblioteca do tivermos de todas as situações que
instituto + nos rodeiam, de tudo, melhor
alguns conseguimos intervir e melhor
serviços agimos.” (10)
administrat.
Área de Seguranç Técnico Inscrição gabinete A autonomia é relativa: Gere Refere Assiste a seminários A “teoria” tem aplicabilidade e - Não conhece o Código Considera o sociólogo do “Não digo que sou
interesse: a Social - Superior 2ª estágios da UAL: o Programa Comunitário mas constrangimentos quando tem conhecimento não tem na prática. Concebe o deontológico da APS mas planeamento imprescindível ao sociólogo, sou
 Exclusão Departam classe entrevista na AMI – não responde à coordenadora: “A práticos (na relação através da instituição e contributo da teoria como uma rege-se pelo da Função diagnóstico, preparação e elaboração sociologista (...)é ser
Social ento de foi apurado. autonomia na função pública com os utentes): quando considera que têm maior sensibilidade para as Pública que pensa serem de grelhas de análise e de relatórios, sociólogo assim às
- UAL Acção Elabora é sempre relativa (...)tenho “Constrangimentos há afinidade com o serviço: questões sociais e não tanto a semelhantes e para estudar as interacções entre vezes” (8)
Tese: Social da diagnósticos Inscrição no Centro autonomia para gerir, por sempre, socialmente, “sei de algumas coisas nível operatório “(...)a nossa sujeitos.
- Sociologia Intercultural CM de caracteriz. Emprego e após um ano exemplo, o programa há sempre principalmente por correio formação(...) tem aplicabilidade - Pertence à Apsiot, mas A sociologia está
idade na Loures beneficiários em casa, chamaram-no comunitário, (...) mas há uma constrangimentos interno (...)e que, no caso no sentido teórico, no sentido considera que não serve para “A vida em sociedade não acontece impregnada em todas
- 1999 Qta.Sapatei RMI, para uma entrevista na satisfação que eu tenho que (...)Estamos a trabalhar de nós acharmos conceptual, no sentido em que nada (demasiado vocacionada fora das nossas cabeças? Não as suas actividades:
ras compilação de Seg. Social: estágio dar à minha coordenadora” com pessoas “ (5) necessidade e termos nos dá uma destreza racional p/ a Soc. Trabalho): “Sim, acontece nas interacções entre “Aliás na minha vida
- Mestrado estatísticas, profissional na Segurança (4) Sente-se satisfeito com o Sente-se alguma afinidade com (...)ganha-se uma destreza pertenço a (...)Apsiot (...) Mas pares?”(5) até...privada (...), eu
em estudos participa num Social durante 9 meses grau de autonomia que tem: subaproveitado: aquele tipo de proposta intelectiva que eu considero não aconselho.” “É só não deixo de ser
Africanos, no Projecto de (renovado +3 meses). “tenho uma autonomia q.b.” “eu acho que estou que vai ser debatida, muito boa” (8) seminários vocacionados para Salienta a absoluta necessidade e sociólogo, porque é
Iscte (em Intervenção (5) subaproveitado, mas pedimos licença ao as áreas da sociologia do importância dos sociólogos ao algo que parece que se
fase de Comunitária e Integração na F.pública isso também tem a ver serviço e podemos Não usa o SPSS. trabalho e as outras áreas são afirmar que: “É a mesma coisa que complementa a nós.”
conclusão) é responsável através de edital. com o local onde ausentar-nos para essa esquecidas” (7) perguntar, por exemplo, para que é (8)
+ pelo Progr. estou” (6) formação” (7) que servem as velas de um
Diversos Comunitário de Refere ainda que as - Refere interdisciplinaridade automóvel, não é?” (6) Sente-se apaixonado
cursos Ajuda relações com as assist. (essencialmente com pela área da sociol. e
formação Alimentar sociais foram assistentes sociais), não se imagina a fazer
(informática conflituosas no início. fomentada pela CM. outra coisa. No entanto
e ligados ao contradiz-se ao dizer
prog. - Mantém contactos com os que: “Bem, eu se
comunitário colegas de curso pudesse nem estava
aqui (...) e andava na
rua” (9)

35
QUADRO RESUMO DAS ENTREVISTAS

Guião da Entrevista

1- Caracterização
1.1 Idade
1.2 Sexo
1.3 Cargo que desempenha

2- Trajectória Académica
2.1 Instituição
2.2 Ano em que acabou o curso
2.3 Áreas de interesse em sociologia
2.4 Expectativas em relação ao curso
2.5 Outras formações

3- Trajectória Profissional
3.1 Entrada no mercado de trabalho
3.2 Percurso profissional
3.3 Situação actual:
Tarefas desempenhadas
Autonomia (a quem atribui responsabilidade)
Actualização e articulação profissão / formação
Mobilização saberes
Contactos com outros profissionais (pluridisciplin.)

4- Preocupações Deontológicas
4.1 Código deontológico (conhecimento e aplicação)
4.2 Associativismo (pertença e representações)
36
QUADRO RESUMO DAS ENTREVISTAS

5- Reflexividade
5.1 Papel dos sociólogos em Portugal
5.2 Identidade profissional: Como se vê como sociólogo
Como os outros o vêem
5.3 Impacto dos sociólogos de intervenção na sociedade
5.4 Constrangimentos à profissão

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