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Divisibilidade em Z
O modulo de um inteiro pode ser visto como um função de Z para Z. Sua imagem é o conjunto
Z+ = {n ∈ Z : n ≥ 0} = N ∪ {0} dos inteiros não negativos.
Temos as seguintes propriedades:
Lema 3.1.1.
1. |x| ≥ 0 e |x| = 0 ⇔ x = 0.
25
• é trivial se x = 0;
• se x > 0 temos que |x| = x > 0 > −x;
• se x < 0 temos que |x| = −x > 0 > x.
5. Se r ≥ 0 então |x| < r ⇐⇒ −r < x < r (isto é x está entre os pontos −r e r na reta).
Demonstração.
(⇐): Sabemos que |x| = +x ou −x. Multiplicando cada termo na inequação −r < x < r
por (-1) temos que −r < −x < r, portanto |x| = ±x é < r em ambos os casos.
(⇒): Pela Tricotomia, existe 2 casos:
Caso 1: x ≥ 0. Então r > |x| = x, e r > |x| ≥ −x por (4.). Multiplicando cada
lado desta ultima inequação por (−1) temos que −r < −(−x) = x. Portanto −r < x < r.
Caso 2: x < 0. Então −x > 0. Como |x| ≥ ±x por (4.) temos que
r > |x| = −x ⇒ −r < −(−x) = x
⇒ −r < x < r
r > |x| ≥ x ⇒ x < r
7. |x2 | = |x|2 = x2
Demonstração. Z é a reunião disjunto −N ∪ {0} ∪ N, pela definição o valor absoluto |x| pertencente
a N se x , 0. Logo |x| ≥ 1.
Como |x| é igual +x ou −x temos que |x| = 1 ⇐⇒ x = +1 ou x = −1.
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Lema 3.1.3. Os únicos elementos com inversos multiplicativos em Z são +1 e −1.
Demonstração. Se a · b = 1, então |a| · |b| = 1, logo |a| , 0 e |b| , 0. Portanto |a| ≥ 1 e |b| ≥ 1.
Se pelo menos um dos valores absolutos é maior que 1, digamos que, |a| > 1 então
Isto é 1 > 1, que é impossível. Conclusão: nenhum dos valores absolutos é maior que 1, logo
|a| = |b| = 1. Portanto pelo Lema acima temos que a = ±1.
3.2 Divisibilidade
Definição 3.2.1. Sejam a, b números inteiros. Dizemos que a divide b, denotado por a | b, se existe
um número inteiro c tal que
b = ac.
Por exemplo,
3 | 6, pois 3 · 2 = 6.
−2 | 10, pois (−2) · (−5) = 10.
3471 | 0, pois 3471 · 0 = 0.
Observações.
(b) Pela definição, “0 | 0” (“0 divide 0”) é verdadeiro, pois (por exemplo) 0 · 49 = 0.
Este fato, não é uma contradição em relação ao fato que “não podemos divide por 0”. A razão tem a
ver com uma diferença sutil na terminologia. A regra que “Não podemos dividir por 0” significa que
0 não possui tem um inverso multiplicativo.
Em geral, “dividindo por x” significa “multiplicando por inverso multiplicativo de x ”, isto é x−1 . Por
1
exemplo, dividindo por 5 é multiplicando por .
5
27
A definição que demos acima implica, como observamos, que "0 divide 0", mas isso não é o mesmo
de dizer “Podemos dividir 0 por 0”. A definição de divisibilidade é em termos de multiplicação;
enquanto a definição de dividindo é em termos de multiplicação pelo inverso multiplicativo.
Temos o seguinte fato:
0 | a ⇐⇒ a = 0.
(c) Se a | b, isto ∃ c ∈ Z tal que b = ac, então c é único. De fato, se c0 é um número tal que b = a · c0 ,
então
ac − ac0 = 0 =⇒ a(c − c0 ) = 0 =⇒ c = c0 pois a , 0.
(a) 1 | c, a | a e a | 0.
(c) se a | b e b | c, então a | c.
Demonstração.
(b) Se a | b, então, existe q ∈ Z tal que b = a · q. Assim, |b| = |a| · |q. Como b , 0, q ≥ 1, tem-se
|a| ≤ |b|.
a | b e c | d =⇒ ac | bd
Portanto, ac | bd.
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Proposição 3.2.3. Sejam a, b, c ∈ Z tais que a | b e a | c, então para todo x, y ∈ Z, a | (xb + yc)
a = bq + r, 0 ≤ r < |b|.
a
, b>0
b
(b) q =
,
a
, b<0
−
|b|
sendo [x] o maior inteiro menor ou igual que x.
De fato, esta Teorema é apenas a “Divisão Longa” do ensino médio, com q sendo o “quociente” e “r” o
resto.
Exemplo 3.2.1.
Resolução:
59
(a) O quociente é igual = [8, 42857 . . .] = 8, o resto é igual 3, e 0 ≤ 3 < 7. Portanto temos
7
59 = 8 · 7 + 3.
29
−59
(b) O quociente é igual = [−8, 42857 . . .] = −9, o resto é igual 4, e 0 ≤ 4 < 7. Portanto
7
temos
−59 = (−9) · 7 + 4.
59
(c) O quociente é igual − = −[8, 42857 . . .] = −8, o resto é igual 3, e 0 ≤ 3 < 7. Portanto
7
temos
59 = (−8) · (−7) + 3.
−59
(d) O quociente é igual − = −[−8, 42857 . . .] = 9, o resto é igual 4, e 0 ≤ 4 < 7. Portanto
7
temos
−59 = 9 · (−7) + 4.
Exemplo 3.2.2. Sejam q e r o quociente e o resto da divisão (a ÷ b), a, b > 0. Determine os quocientes
e os restos das seguintes divisões.
(a) a ÷ (−b)
(c) (−a) ÷ b
a = qb + r, (3.1)
onde 0 ≤ r < b.
a = (−q) · (−b) + r
(b) Vamos supor que r > 0. Multiplicando a Equação (3.1) por −1 temos que
−a = −qb − r
⇒ −a = −qb − b + b − r
⇒ −a = (q + 1) · (−b) + (b − r)
30
(c) Vamos supor que r > 0. Multiplicando a Equação (3.1) por −1 temos que
−a = −qb − r
⇒ −a = −qb − b + b − r
⇒ −a = (−q − 1) · (b) + (b − r)
Exemplo 3.2.3. Seja um inteiro a tal que o resto da divisão (a ÷ 5) é igual 4. Determine o resto da
divisão (a2 ÷ 5).
a = 5q + 4
Portanto
a2 = (5q + 4)2
= 25q2 + 40q + 16
= 25q2 + 40q + 15 + 1
= 5(5q2 + 8q + 3) + 1
a2 = 5q̃ + 1 onde q̃ = 5q2 + 8q + 3
Exemplo 3.2.4. Prove que se n ∈ Z, então n2 não deixa resto 2 ou 3 quando dividido por 5. Deduza
que 191273 não pode ser um quadrado perfeito.
5q + 0, 5q + 1, 5q + 2, 5q + 3, 5q + 4.
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Em todos os casos, dividindo n2 por 5 deixa resto 0, 1, ou 4. Nunca encontramos resto 2 ou 3.
Suponha que 191273 é um quadrado perfeito, isto é existe n ∈ Z tal que 191273 = n2 . Então o
resto na divisão de 191273 = n2 por 5 não deve ser 2 ou 3. Mas 191273 = 38254 · 5 + 3, isto 191273
deixa resto 3 quando dividido por 5. Contradição. Logo 191273 não é um quadrado perfeito.
Observação 3. Dizemos que um inteiro n é par se, e somente se n = 2 · k para algun inteiro k, e é
ímpar se, e somente se n = 2 · (k + 1) para algun inteiro k.
Portanto n é par se, e somente se ele deixa resto 0 quando dividido por 2, enquanto ele é ímpar se, e
somente se ele deixa resto 1 quando dividido por 2.
A Teorema de Divisão também fornece outra demonstração que qualquer inteiro ou é par ou é ímpar,
mas não ambos.
Resolução:
(a) Vamos começar tomando a, sendo a um inteiro qualquer. Vamos aplicar a divisão euclidiana
com a e b = 3. Isto é existem inteiros q e r tais que
a = 3q + r com 0 ≤ r < 3
Isto é
a = 3q, ou a = 3q + 1, ou a = 3q + 2
a2 = 3k ou 3k + 1; k ∈ Z.
(b) Vamos começar tomando a, sendo a um inteiro ímpar qualquer. Vamos aplicar a divisão
euclidiana com a e b = 4. Isto é existem inteiros q e r tais que
a = 4q + r com 0 ≤ r < 4
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Isto é
a = 4q, ou a = 4q + 1, ou a = 4q + 2, ou a = 4q + 3
Mas como a é ímpar, a não pode ser 4q ou 4q + 2 ( pois ambos são divisíveis por 2).
Portanto, qualquer inteiro ímpar é da forma
4k + 1 ou 4k + 3, k ∈ Z
Vamos começar tomando a, sendo a um inteiro ímpar qualquer. Vamos aplicar a divisão
euclidiana com a e b = 8. Isto é existem inteiros q e r tais que
a = 8q + r com 0 ≤ r < 8
Isto é
a = 8q, ou 8q + 1, ou 8q + 2, ou 8q + 3, ou 8q + 4, ou 8q + 5, ou 8q + 6, ou 8q + 7.
Exemplo 3.2.6.
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(a) Seja N um número natural. Prove que a divisão de N2 por 4 nunca deixa resto 3.
é um quadrado perfeito.
Resolução:
(a) Sendo N um inteiro, teremos pelo Teorema da divisão de Euclides que N tem uma das
seguintes formas:
4k, 4k + 1, 4k + 2 ou 4k + 3.
Disto,
• N = 4k ⇒ N2 = 4(4k2 ),
• N = 4k + 1 ⇒ N2 = 4(4k2 + 2k) + 1,
• N = 4k + 2 ⇒ N2 = 4(4k2 + 4k + 1),
• N = 4k + 3 ⇒ N2 = 4(4k2 + 6k + 2) + 1.
(b) Sendo n ≥ 2 a quantidade de 1‘s em 111 . . . 1 provaremos, por indução em n; que o número
111 . . . 1 é da forma 4n + 3, para então usarmos o item (a):
111 . . . 1 = 4q + 3.
| {z }
k 1‘s
• Para n = k + 1,
111 . . . 1 = 4q + 3
| {z }
n 1‘s
para todo inteiro n ≥ 2, implicando pelo item (a) que 111 . . . 1 não pode ser um quadrado
| {z }
n 1‘s
perfeito se n ≥ 2.
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3.3 Números Primos
Definição 3.3.1. Um inteiro n é dito primo se e somente se n > 1 e os únicos divisores positivos de
n são 1 e n.
Um inteiro positivo n é dito composto se e somente se n > 1 e n não é primo. Logo, n > 1 é
composto se, e somente se, existem inteiros a e b com 1 < a < b < n tal que n = a · b.
Demonstração. Suponha que não, isto é que p1 , p2 · · · , pN são os únicos primos. Agora considere o
inteiro
M = p1 · p2 · · · pN + 1.
Então pelo Lema 3.3.1, M possui um divisor primo, e ele deve ser portanto um dos primos
p1 , p2 , · · · , pN . Contradição, pois nenhum dos primos divide M.
√
Teorema 3.3.3. Se n é inteiro positivo, então n possui um divisor primo p tal que p ≤ n.
√ √
Demonstração. Se n é composto, então n = a · b, onde 1 < a ≤ b < n. Se a ≥ n, então b ≥ a > ne
isto implica que
√ √
n=a·b> n· n=n
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√
que uma contradição. Portanto a ≤ n e como a > 1, então a possui um divisor primo p tal que
√
p ≤ a ≤ n e como p | a e a | n, então p | n também.
Exemplo 3.3.1. Quais primos devemos usar para dividir 127 para testar que ele é primo ou não?
√
Para verificar que 127 é primo, devemos somente verificar ele possui um fator primo ≤ 127 ≈
11, 27. Então podemos verificar 127 não é divisível por 2, 3, 5, 7, ou 11. Portanto , 127 é primo.
3.4 Exercícios
1. Seja a um inteiro. Prove que um dos inteiros a, a + 2, a + 4 é divisível por 3.
3. Mostre que, se a | (2x − 3y) e a | (4x − 5y), então a | y, onde a, x e y são inteiros.
7. Encontre um número natural N que, ao ser dividido por 10, deixa resto 9, ao ser dividido por
9 deixa resto 8, e ao ser dividido por 8 deixa resto 7.
8. O dobro de um número, quando dividido por 5, deixa resto 1. Qual é o resto da divisão deste
número por 5?
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9. Um número inteiro x ao ser dividido por 15 deixa resto igual a 8. Qual é o resto da divisão
deste mesmo número por 5?
13. Prove que a soma dos quadrados de dois inteiros é da forma 4q ou 4q + 1 ou 4q + 2, onde q
é um número inteiro.
14. Qual o resto que o número 45000 deixa quando dividido por 3?
16. Determine todos os inteiros positivos menores que 180 tais que divididos por 27 deixam resto
igual ao quociente.
31 + 32 + 33 + 34 + · · · + 32018 ?
18. (Banco de Questões OBMEP 2015) João possui mais que 30 e menos que 100 chocolates. Se
ele organizar os chocolates em linhas de 7, sobrará um. Caso ele os organize em linhas de 10,
sobrarão 2. Quantos chocolates ele possui?
19. (Banco de Questões OBMEP 2010) Quais são os números que deixam resto 5 ao dividir 2007?
20. (OBMEP 2017) Somando 1 a um certo número natural, obtemos um múltiplo de 11. Sub-
traindo 1 desse mesmo número, obtemos um múltiplo de 8. Qual é o resto da divisão do
quadrado desse número por 88?
21. (OBMEP 2012) Um feirante tem 5 cestas que contém limões e laranjas. A quantidade total
de frutas em cada cesta é : 8, 11, 13, 18, 23. Ele apontou para uma das cestas e disse: “se
eu vender essa cesta, o número de limões passaria a ser o dobro do número de laranjas”.
Quantas frutas tem a cesta para a qual ele apontou?
22. Sejam a, b, m ∈ Z, com m , 0. Mostre que se m | (b − a), então a e b deixam o mesmo resto
quando divididos por m.
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23. Sejam a, b ∈ Z. Mostrar que, se 3 divide (a2 + ab + b2 ) então a e b tem o mesmo resto quando
divididos por 3.
26. Prove que todo inteiro que tem resto 5 na divisão por 6, tem resto 2 na divisão por 3, mas que
não vale a reciproca.
30. Sejam m e n inteiros positivos, com m > n, e r o resto da divisão m ÷ n. Mostre que o resto da
divisão (2m − 1) ÷ (2n − 1) é 2r − 1.
32. Determine todos os números primos tal que 11p + 9 é um quadrado perfeito.
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