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1, 1-19 O
KENNON A. LATTAL
WEST VIRGINIA UNIVERSITY, USA
RESUMO
Um elemento importante na pesquisa comportamental com animais não humanos é que ela contribui para a
compreensão do comportamento humano, o que aqui chamamos de o lado humano do comportamento animal.
Este artigo examina as origens da comparação do comportamento humano com o de outros animais, as maneiras
como tais comparações são descritas e considerações que surgem de avaliações da validade dessas comparações. A
justificativa para tal comparação se originou no reducionismo da fisiologia experimental e no entendimento das
similaridades de todas as formas de vida promulgado pela biologia evolucionária darwiniana. Mais recentemente
foram adicionadas outras observações, tais como a simplicidade relativa do comportamento animal, afetadas por
restrições impostas às comparações resultantes pela ausência do comportamento verbal em animais. A construção
de comparações do comportamento humano com o de animais pode ser estruturada com base na distinção de
Skinner (1957) entre as formas metafórica e genérica do tato estendido. Tanto a comparação sistemática quanto a
ordinária do comportamento humano e animal são congruentes com a abordagem do tato estendido de Skinner.
A consideração mais geral ao avaliar comparações do comportamento humano e animal é que seja estabelecida uma
base funcional para a similaridade proposta. Análises sistemáticas e evidências convergentes podem contribuir
também para a aceitação dessas comparações. Na análise final, portanto, conclusões sobre o lado humano do
comportamento animal não são dedutivamente derivadas e raramente são avaliadas com base em seu valor pragmático
e heurístico. Tais conclusões representam uma contribuição valiosa para o entendimento do animal humano e para
o desenvolvimento de soluções práticas para problemas no comportamento humano aos quais grande parte da
psicologia se dedica.
Palavras-chave: comportamento animal, comportamento humano, extensão, metáfora, modelo, analogia,
simulação, extrapolação, generalização, avaliação
ABSTRACT
An important element of behavioral research with nonhuman animals is that insights are drawn from it about
human behavior, what is called here the human side of animal behavior. This article examines the origins of
comparing human behavior to that of other animals, the way in which such comparisons are described, and
considerations that arise in evaluating the validity of those comparisons. The rationale for such an approach
originated in the reductionism of experimental physiology and the understanding of the commonalities of all life
forms promulgated by Darwinian evolutionary biology. Added more recently were such observations as the
relative simplicity of animal behavior, tempered by the constraints placed on resulting comparisons by the absence
of verbal behavior in animals. The construction of comparisons of human behavior to that of animals may be
framed on the basis of Skinner´s (1957) distinction between the metaphorical and generic forms of the extended
tact. Both ordinary and systematic comparisons of animal and human behavior are congruent with Skinner´s
extended tact framework. The most general considerations in evaluating comparisons of animal and human
behavior is that a functional basis for the claimed similarity be established. Systematic analysis and convergent
evidence also may contribute to acceptability of these comparisons. In the final analysis, conclusions about the
human side of animal behavior are nondeductively derived and often are assessed based on their heuristic and
pragmatic value. Such conclusions represent a valuable contribution to understanding the human animal and in
developing practical solutions to problems of human behavior to which much of psychology is dedicated.
Key words: animal behavior, human behavior, extension, metaphor, model, analogue, simulation, extrapolation,
generalization, evaluation
1 Artigo originalmente publicado em 2001 no The Behavior Analyst, 24 (2),147-161, que autorizou a publicação da tradução (Copyright by the Association
for Behavior Analysis International). Tradução feita por Érik Luca de Mello, Jair Alvércimo M. Mello e Fernando Luca de Mello com a supervisão da
professora Josele Abreu-Rodrigues, autorizada pelo autor.
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a ênfase em uma abordagem reducionista para ais através das espécies e a dificuldade mais geral
estudar o funcionamento humano na fisiologia de definir inteligência nos humanos ou nos
e na medicina contribuíram para o desenvolvi- animais, originou ultimamente uma nova ci-
mento da experimentação animal na psicologia. ência do comportamento humano e animal
Em 1895, Meyer, um psiquiatra que tinha usa- baseada na aprendizagem. Watson, que usou
do ratos brancos na condição de patologista ratos como sujeitos para sua dissertação e que
médico, sugeriu a utilidade do rato como um posteriormente trabalhou extensivamente com
sujeito para Kline. Kline tornou-se o primeiro psicologia comparativa, afirmou que a apren-
psicólogo a usá-los, por volta de 1897, em de- dizagem era “o grande problema em toda a
monstrações de laboratório para uma aula de psicologia humana”. A isto ele acrescentou “e
psicologia comparativa na Universidade de Clark. qualquer fato que nós possamos coletar sobre
Um colega de Kline, Small, construiu o primei- os modos como o animal aprende será útil para
ro labirinto para ratos e conduziu os primeiros nós” (1910, p. 351). Ele ainda observou que
experimentos em psicologia usando esses ani- “o homem emite seus primeiros passos [no
mais como sujeitos (Boakes, 1984; ver Small, aprendizado de uma nova habilidade] exata-
1900). No contexto da presente discussão, é irô- mente da mesma maneira como o animal” (p.
nico que o labirinto da Small tenha sido 352) e “não é uma questão difícil mostrar que
construído e nomeado com base em um labi- há uma importância prática para o estudo [da
rinto construído para a diversão de aristocratas psicologia animal]” (p. 353).
no palácio de Hampton Court, na Inglaterra. Muito embora a carreira de Watson pos-
Concomitante com os avanços na fisio- teriormente tenha mudado, a nova psicologia
logia do sistema nervoso que contribuíram para da aprendizagem, baseada amplamente no es-
o entendimento do comportamento, a teoria tudo dos animais, ganhou um forte apoio na
evolucionária de Darwin e o naturalismo do psicologia americana. O interesse na aprendi-
século XIX levaram ao interesse teórico na in- zagem como um problema central para a psi-
teligência e na mente dos animais (Boakes, cologia culminou nas grandes teorias da apren-
1984). Esse interesse, por sua vez, seguiu dois dizagem dos anos 30, propostas por Tolman,
caminhos gerais. Um levou à moderna etologia, Hull, Guthrie e Skinner. Cada um desses teó-
com sua ênfase no estudo do comportamento ricos articulou e refinou a noção de que as
animal em ambientes naturais. O outro levou aprendizagens humana e animal tinham a mes-
à psicologia comparativa que começou com o ma natureza básica. Tolman (1938), por exem-
estudo comparativo da mente e sua evolução, plo, refletiu o otimismo sobre a nova psicolo-
conforme exemplificado pelo trabalho seminal gia da aprendizagem quando ele observou que,
de Thorndike (1898) sobre a inteligência ani-
mal. Este último caminho introduziu as tradi- Tudo o que é importante na psicologia (exceto,
ções de descrições objetivas rigorosas e de aná- talvez, tópicos como a construção de um
lises experimentais no estudo psicológico do superego, isto é, tudo com exceção de tópicos
comportamento animal. que envolvem sociedade e palavras) pode ser in-
Entre outras coisas, os problemas em vestigado, em essência, por meio da análise ex-
fazer comparações comportamentais não trivi- perimental e teórica contínua dos determinantes
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Esses dois tipos de extensão podem ser o uso desses termos para descrever o comporta-
usados para descrever como o comportamento mento humano também controlam seu uso no
humano e animal têm sido relacionados entre caso do comportamento animal. Naturalmen-
si. Essas extensões, além disso, podem ser te, nem todas as declarações sobre similarida-
identificadas como ordinárias, isto é, baseadas des entre comportamento humano e animal são
em observação informal e casual, e em descri- antropomórficas. Por exemplo, dizer que um
ção conceitualmente relaxada, ou podem ser cão e um ser humano estão com fome, cansa-
consideradas sistemáticas. As últimas são apoi- dos ou com sono pode significar similaridade
adas por uma estrutura conceitual que está fun- literal e não comparação antropomórfica.
damentada tipicamente em observações Extensões genéricas que são
naturalísticas e observações baseadas na experi- antropomórficas estão sujeitas a várias críticas (ver
mentação. Kennedy, 1992). Uma das mais antigas é a de
Morgan (1894): “De maneira alguma devemos
COMPARAÇÕES ORDINÁRIAS ENTRE O COM- interpretar uma ação como resultado da prática
PORTAMENTO ANIMAL E HUMANO de uma habilidade psíquica superior, se esta pode
ser interpretada como o resultado da prática de
As comparações entre o comportamento uma habilidade inferior na escala psicológica” (p.
humano e aquele de outros animais em ativi- 53). Outra crítica é que muitas das característi-
dades diárias freqüentemente são iniciadas com cas atribuídas antropomorficamente a animais
observações do comportamento animal, que é, são ambíguas no comportamento humano do
então, identificado com processos ou caracte- qual elas derivam. Por exemplo, mesmo concei-
rísticas normalmente associados com seres hu- tos psicológicos centrais como ansiedade são de-
manos. Tais comparações ordinárias são finidos de muitas maneiras diferentes na litera-
antropomórficas ou metafóricas e são os exem- tura científica, tornando as descrições do com-
plos mais elementares de tentativas de se rela- portamento animal baseadas nesses termos ain-
cionar o comportamento humano e animal. da mais confusas. Uma pessoa pode definir ver-
gonha como uma “emoção social que parece exi-
Antropomorfismo gir o conhecimento de como uma pessoa é vista
O gato está envergonhado? O pássaro por outra”. Supostamente, esse conhecimento está
está triste? Declarações antropomórficas são faltando no gato, o que adiciona um significado
afirmações de similaridades literais assumidas excedente ao termo quando aplicado ao com-
ou isomorfismos entre o comportamento hu- portamento animal. A pergunta mais abrangente
mano e animal. Respostas afirmativas para as nesse caso é se essa definição de vergonha é viável
duas perguntas acima sugerem similaridades até mesmo para o ser humano. Ela requer
literais: o gato está envergonhado e o pássaro autoconhecimento? A vergonha é uma emoção
está triste. Essas asserções são baseadas na ex- ou um comportamento em um contexto? Como
tensão de características humanas nominais para “o conhecimento da aparência de alguém” é de-
outras espécies, o processo que Skinner (1957) terminado?
rotulou de extensão genérica: é assumido que as A despeito da lógica irresistível da regra
características comportamentais que controlam de Morgan (1894) e de outras críticas ao
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LADO HUMANO DO COMPORTAMENTO ANIMAL
antropomorfismo por cientistas comportamentais, bém é sinérgica uma vez que a natureza do
descrições antropomórficas do comportamento conceito original muda quando a metáfora é
animal têm praticantes e defensores contemporâ- estendida. Sendo assim, quando afirmamos que
neos (e.g., Griffin, 1984), e também históricos o cachorro está com ciúmes, a definição de ci-
(Romanes, 1882; ver também Baenninger, úmes, mesmo que seja imprecisa, é modifica-
1994; Heyes, 1987, e Kennedy, 1992, para da para incluir este novo uso. Como Skinner
comentários adicionais mais aprofundados so- (1957, p. 93) notou também, uma vez refor-
bre antropomorfismo na etologia e na psicolo- çada, uma resposta verbal metafórica deixa de
gia comparativa contemporâneas). ser uma metáfora.
A extensão metafórica pode facilitar a
Metáfora emergência de novos conceitos a partir de con-
Considere as duas respostas seguintes: “o ceitos antigos (Catania, 1992; Schon, 1963).
cachorro está com ciúmes” e “o cachorro está Catania observou que “boa parte do vocabulário
agindo como se estivesse com ciúmes”. No con- técnico evoluiu metaforicamente de fontes con-
texto da discussão anterior, a primeira afirma- cretas do dia-a-dia” (p. 273). Zuriff (1985) foi
ção é antropomórfica se apresentada como sen- ainda mais longe notando que “muito longe de
do literalmente verdadeira. Se, por outro lado, serem pejorativos, os adjetivos ‘metafórico’ e
a primeira resposta significa o que a segunda ‘analógico’ estão no núcleo do pensamento cien-
resposta diz, então é uma metáfora. A segun- tífico mais sofisticado” (pp. 221-222). Alguns
da afirmação é um símile, o qual está incluído dos conceitos mais familiares na psicologia são
aqui em forma de metáfora (ver Skinner, baseados em metáforas, desde a comparação en-
1957). Davidson (1984) notou que “um tre o inconsciente e um iceberg feita por Freud, e
símile nos diz o que uma metáfora meramen- o fluxo de consciência de James, até a confiança
te nos sugere ... O significado figurativo de da teoria do processamento de informações na
uma metáfora é o sentido literal de um símile” metáfora do computador. Até mesmo o concei-
(p. 253). No sentido funcional de aplicar ou to de reforço foi originado de metáfora.
estender um conceito para um novo contexto O controle fraco de estímulos da exten-
e para facilitar a descrição, de acordo com su- são metafórica também faz com que tal exten-
gestões anteriores de Skinner (1957) e são seja importante na linguagem do dia-a-dia
Goodman (1968; citado em Davidson, p. e na literatura. Ela permite uma economia de
255), metáfora e símile são considerados jun- expressão a tal ponto que diversas conotações
tos aqui. Na versão de metáfora ou de símile podem ser resumidas em uma única palavra ou
da afirmação acima sobre o que é descrito frase. Esse resumo de conotações que a metáfo-
como ciúmes no cachorro, existe controle de ra permite na linguagem e na literatura tam-
uma resposta verbal por propriedades do estí- bém se manifesta na extensão de conceitos ci-
mulo que mais tipicamente controlam essa entíficos, como citado no parágrafo anterior. Tal
resposta na presença do comportamento hu- extensão metafórica na ciência, entretanto, é
mano; conseqüentemente, elas [metáfora e uma faca de dois gumes e talvez tenha sido por
símile] são consistentes com a análise de ex- isso que Skinner (1957) defendeu que a exten-
tensão metafórica de Skinner. Tal extensão tam- são metafórica “é uma das grandes diferenças
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entre ciência e literatura” (p. 99). A própria diferentes refletem comparações feitas por meio
flexibilidade que permite extensão também do uso de extensão genérica ou metafórica. A
permite ambigüidade e significado adicional no Tabela 1 apresenta exemplos de investigações
vocabulário científico, resultando em defini- baseadas nesses dois métodos de extensão jun-
ções confusas de termos como ansiedade e ciú- tamente com a descrição das comparações usa-
me descritos acima (ver também Mandler & das ou sugeridas pelo investigador. Propõe-se
Kessen, 1959). que todos os tipos nominais de comparação na
Tabela 1 sejam categorizados em dois grupos.
COMPARAÇÕES SISTEMÁTICAS ENTRE O COMPOR- No primeiro estão as comparações envolvendo
TAMENTO A NIMAL E HUMANO extensões metafóricas e inclui analogias, simu-
lações e modelos. No segundo grupo estão aque-
Em contraste às comparações las comparações envolvendo extensões genéri-
antropomórficas e metafóricas casuais do com- cas e inclui as extrapolações e homologias.
portamento humano e animal, em muitos ca-
sos as relações estabelecidas entre o comporta- Comparações baseadas em extensão metafórica
mento de humanos e o de outros animais são Extensões metafóricas envolvem o que
baseadas em observações mais sistemáticas e pode ser chamado, na linguagem ordinária, de
formais, do tipo que ocorrem no contexto da descrições novas de processos comportamentais
análise experimental. Adicionalmente, tais com- de animais. No caso da comparação do com-
parações têm uma base conceitual que mais portamento humano e animal, tais extensões
comumente é a psicologia da aprendizagem (cf. tipicamente começam com uma observação do
Domjan, 1987). Ao invés do objetivo de sim- comportamento humano que, por sua vez, con-
ples descrição que caracteriza as comparações duz a uma tentativa de construir aspectos do
antropomórficas e casualmente metafóricas do comportamento no laboratório animal. Como
comportamento humano e animal, o objetivo resultado, uma propriedade do estímulo (nes-
da comparação sistemática é a previsão, ou te caso, o comportamento do animal) controla
mesmo o controle, do comportamento (cf. um comportamento verbal, normalmente ou
Epstein, 1986). tipicamente associado com um comportamen-
Grosch e Neuringer (1981) observaram to humano, que não se “encaixa na contingên-
que relações sistemáticas entre o comportamento cia considerada pela comunidade verbal”
humano e animal podem ser estabelecidas por (Skinner, 1957, p. 92) com respeito ao com-
meio de processos de raciocínio tanto portamento dos animais. Assim, um rótulo
extrapolativo quanto analógico. Estes são, res- como autocontrole, tipicamente controlado por
pectivamente, outros dois termos para exten- aspectos do comportamento humano, vem a ser
são genérica e metafórica (Skinner, 1957; ver usado para descrever o comportamento dos
também Zuriff, 1985, pp. 220-222), respec- animais sob determinadas condições.
tivamente. Muito embora na literatura da psi- Tais construções são descritas diversa-
cologia experimental, relacionar sistematica- mente como modelos, analogias ou simulações.
mente o comportamento humano e animal seja O uso de diferentes termos para descrever essas
descrito de formas diferentes, essas descrições construções levanta a questão importante de se
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Tabela 1
esses termos implicam em um método distinto Grosch e Neuringer (1981), por exemplo, ob-
de comparação do comportamento animal e servaram que seu experimento “explorou um
humano. Analogias e modelos são, ambos, des- modelo animal de autocontrole” e no parágrafo
crições ou representações incompletas do su- seguinte afirmaram que seu “experimento usou
posto fenômeno sob investigação, mas elas são a... abordagem da analogia” (p. 3). Mace
incompletas de diferentes maneiras. Uma ana- (1994) observou que “modelos animais [de de-
logia tem um caráter “como se”, comparável a sordens comportamentais] têm sido usados por
um símile. Em contraste, um modelo tenta re- pesquisadores comportamentais com resultados
presentar somente alguns dos aspectos - aque- promissores... Por exemplo, desamparo apren-
les essenciais – do fenômeno que está sendo dido fornece uma analogia e explicação experi-
representado. Modelos e analogias são consi- mental para a depressão” (pp. 544-545). Falk
derados como logicamente distintos na cons- e Tang (1980) descreveram igualmente como
trução formal de teorias. Em tais construções, as homologias podem servir como modelos.
a seqüência de desenvolvimento começa com Epstein (1986) igualou modelos e simulações
uma metáfora, depois muda para analogias, e observando que “Algumas simulações mimetizam
finalmente, muda para modelos construídos os fenômenos de modos relativamente arbitrá-
mais precisa ou formalmente (e.g., Pribram, rios. Em um extremo estão os modelos” (p. 132).
1980). As relações entre metáfora, analogia e O mesmo procedimento que Epstein discutiu
modelo nas comparações do comportamento com uma simulação da comunicação social,
humano com aquele de animais, contudo, não Lubinski e Thompson (1987) identificaram
são tão precisas. Os termos analogia e modelo, como um modelo daquele processo. (Os itálicos
freqüentemente são usados indiscriminadamente. foram adicionados em cada uma das citações).
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O termo modelo tem sido usado para ser a descrição mais acurada do método das
descrever os estudos animais de sintomas asso- comparações.
ciados com a patologia comportamental dos
humanos (e.g., Keehn, 1986), talvez por causa Comparações baseadas na extensão genérica
das conexões da psicologia clínica com a psi- Extensões genéricas, como vimos, envol-
quiatria e da psiquiatria, por sua vez, com a vem o controle de uma resposta verbal por estí-
medicina em geral. Na última, a pesquisa ani- mulos que são similares àqueles associados an-
mal sobre processos fisiológicos e doenças é ge- teriormente com reforçamento. Quando essas
ralmente rotulada como um modelo da doença extensões são sistemáticas, elas são denomina-
sob estudo. O termo, entretanto, pode ser atra- das pelos pesquisadores de extrapolação, exten-
ente para descrever as comparações do compor- são ou generalização. Ao contrário da extensão
tamento humano-animal devido ao status de metafórica, a extensão genérica começa, na
sua associação com modelos animais de fun- maior parte do tempo, com observações de um
ções fisiológicas e doenças. Modelo também é processo comportamental em animais, as quais
associado com descrições quantitativas relati- são, então, estendidas ao comportamento hu-
vamente precisas do comportamento. A preci- mano. Uma observação feita por Ferster (1966)
são das comparações do comportamento hu- ilustra a abordagem: “Se a maior característica
mano com o modelo animal, contudo, não é da depressão clínica é uma freqüência reduzida
maior do que o que é descrito como uma ana- do comportamento sob controle normal do
logia animal ou uma simulação. ambiente, para aplicar uma análise experimen-
Assim, modelo, analogia e simulação são tal do comportamento nós temos que determi-
usados, mais ou menos, de maneira nar primeiro como os processos
indiscriminada, não havendo razão para afir- comportamentais básicos podem aumentar ou
mar que um é diferente ou mais preciso do que diminuir a freqüência do comportamento” (p.
os outros. Ao descrever as comparações do com- 346). Sendo assim, o termo ‘extinção’, bem
portamento animal e humano esses termos es- como o processo, desenvolvido em laboratório,
tabelecem ocasião para imprecisão e confusão se estende ao comportamento humano em con-
conceitual (cf. Hineline, 1980). Isso não im- dições naturais.
plica que, em outros contextos, os termos têm Assim como o que ocorre com os diferen-
o mesmo uso ou significado (cf. Kaplan, 1964/ tes termos usados para descrever extensões me-
1998; Mandler & Kessen, 1959; Pribram, tafóricas sistemáticas, os diferentes termos usa-
1980), só que eles não têm sido usados de ma- dos para descrever extensões genéricas não
neiras sistematicamente diferentes quando apli- conotam diferentes métodos de se fazer compa-
cados à comparação do comportamento huma- rações. Conseqüentemente, cada um dos três
no e animal. O uso de diferentes termos é con- pode ser considerado como um exemplo de um
trolado por idiossincrasia e, talvez, por contin- único método de comparação baseado na exten-
gências científicas e sociais locais, e não por as- são genérica. O processo envolve o estabeleci-
pectos sistemáticos da comparação que está sen- mento de um princípio comportamental, a aná-
do feita. O aspecto comum dos três termos é lise dos componentes de um comportamento
sua base na extensão metafórica e essa parece humano ocorrendo naturalmente, e finalmente,
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envolver planejamento e outras formas de com- descrita como o acúmulo de evidência conver-
portamento verbal (e.g., O Conde de Monte Cris- gente (e.g., Pierce & Epling, 1994). W. Miller,
to de Dumas). O que nós estudaríamos como Rosellini e Seligman (1977) sugeriram que si-
vingança em ratos e pombos provavelmente te- milaridades nos sintomas, etiologia, cura e pre-
ria uma topografia ou aparência diferente. Ain- venção podem resultar em um bom teste de
da assim, as variáveis funcionais de controle, em um modelo de depressão animal: “Conforme
ambos os casos, poderiam ser as mesmas. dois fenômenos convergem em um ou dois dos
critérios, os pesquisadores podem, então, tes-
A natureza sistemática da comparação tar o modelo procurando por similaridades pre-
De maneira geral, os analistas do com- vistas nos outros critérios” (p. 144). Um exem-
portamento preferem observações sistemáticas plo de uma comparação cuidadosamente
sob condições controladas em vez de observa- construída na qual várias similaridades entre
ções mais informais ou casuais. Na maioria dos comportamento humano e animal foram
casos, observações sistemáticas resultam de ex- identificadas e posteriormente confirmadas ex-
perimentos em laboratório onde “as proprieda- perimentalmente, é o trabalho de Grosch e
des definidoras [dos fenômenos] e... a ampli- Neuringer (1981). Eles demonstraram que as
tude da aplicabilidade pode ser refinada” variáveis de controle do autocontrole em pom-
(Catania, 1983, p. 59). Observações mais bos eram paralelas a variáveis similares no
criteriosas e úteis das relações entre o compor- autocontrole em humanos demonstradas em
tamento humano e animal, contudo, também uma série de experimentos conduzidos por
provêm de observações naturalísticas sistemá- Mischel (e.g., 1974). Do mesmo modo, a ques-
ticas do comportamento no contexto tão de pontos de similaridade foi o foco de dis-
evolucionário (e.g., Lorenz, 1974). O papel cussão referente ao valor de uma simulação pro-
heurístico de uma observação antropomórfica posta sobre comunicação entre pombos
informal ou de uma metáfora casual, entretan- conduzida por Epstein, Lanza e Skinner (1980)
to, não pode ser descartado categoricamente. (e.g., Savage-Rumbaugh, 1986).
Essas últimas observações são limitadas em ter- O que pode ser chamado de níveis de si-
mos do foco e da precisão, mas elas podem ser- milaridade é uma outra dimensão de uma com-
vir, subseqüentemente, como uma primeira paração quantitativa. Considere a anorexia ner-
aproximação a comparações mais sistemáticas vosa, a qual já foi discutida em três níveis. Pri-
entre comportamento animal e humano. meiro, é uma falha em comer. Segundo, envolve
mudanças fisiológicas que podem ter função cau-
Dimensões quantitativas sal. Terceiro, a anorexia, pelo menos nos huma-
A afirmação de similaridades entre o com- nos, envolve determinantes ambientais, bem
portamento humano e animal é freqüentemente como determinantes fisiológicos. Estudos com
fortalecida se o comportamento envolve múlti- animais envolvendo esses diferentes níveis pro-
plas similaridades. Isso não é necessário, entre- varam ser diferencialmente úteis no tratamento
tanto, para estabelecer similaridades entre com- dessa desordem. Simplesmente criar circunstân-
portamento animal e humano, mas é útil. Essa cias nas quais um animal deixa de comer (uma
abordagem de similaridade múltipla às vezes é abordagem estrutural) não é necessariamente útil
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para esclarecer a anorexia humana, porque a fa- heurística de [afirmações de similaridades en-
lha em comer no animal, assim como nos hu- tre dois fenômenos],” mas ele então levantou a
manos, pode ser uma função de muitas variá- seguinte questão,
veis. Identificar a base fisiológica da anorexia em
animais (e.g., Mrosovsky & Sherry, 1980) pode O que, então, distingue este caso do “caso das
ser mais útil, porém não considera os folhas de chá” onde a extrapolação é inválida?
determinantes ambientais da desordem em hu- Em ambos os casos, pode-se supor que o cientis-
manos. Estudos com animais que focalizam ta forneceu uma defesa da derivação apontando
determinantes ambientais em sincronia com va- similaridades supostas específicas entre os [dois ]
riáveis fisiológicas, ou seja, aqueles que envol- domínios ... A diferença é que em um dos casos,
vem níveis múltiplos, podem ser considerados outros vêem as similaridades, e no último caso,
os mais eficazes no desenvolvimento de progra- eles não vêem. (p. 221)
mas de tratamento (e.g., Pierce & Epling, 1994).
A maioria das comparações do compor-
Dimensões qualitativas tamento humano-animal, como Zuriff (1985)
Embora uma relação proposta entre o aponta, “não são dedutivamente derivadas” (p.
comportamento de humanos e de outros ani- 221), o que deixa os critérios para a avaliação
mais possa indicar apenas algumas similarida- da relação em aberto. Sidman (1960), colo-
des específicas (ou até mesmo uma) entre as cou da seguinte maneira: “a indução não é um
espécies, ela pode ainda estimular uma análise processo lógico, é um processo
experimental e conceitual das possíveis simila- comportamental... a avaliação de generaliza-
ridades. Tais similaridades qualitativas envol- ção é uma questão de julgamento” (p. 59).
vem considerações heurísticas e pragmáticas, ao Hebb e Thompson (1954) apresentaram um
invés de lógicas, ao avaliar comparações argumento comparável como se segue:
comportamentais animal-humano. Como
Catania (1983) apontou, O experimento animal pode clarear um proble-
ma humano sem “provar” nada. Ele pode cha-
O sucesso da [analogia] é... julgado não somente mar a atenção para facetas do comportamento
com base nos resultados empíricos mas também humano que não tenham sido percebidas; pode
na extensão em que o entendimento refinado do apontar pressupostos problemáticos, mas implí-
fenômeno tem implicações para situações huma- citos; pode sugerir um novo princípio de com-
nas, fora do laboratório, das quais a analogia emer- portamento. (p. 533)
giu. (p. 59)
Outras considerações
Esse é o critério de “trabalho útil” do Validade de face: A questão da aparência.
pragmatismo (James, 1955). De maneira se- Considerando que a similaridade estrutural
melhante, Zurif (1985) observou que uma entre o comportamento animal e humano não
extrapolação de um fenômeno para outro pode é condição necessária e nem suficiente para uma
ser considerada como uma “idéia brilhante e comparação entre o comportamento humano e
como uma demonstração da fertilidade animal, qual é o papel da validade de face? Uma
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similaridade na topografia ou aparência física uma série bem sucedida de conclusões sobre a
entre comportamento humano e animal é útil depressão humana baseada naquele trabalho
ao fazer essas comparações? A validade de face (Seligman, 1974). A espécie animal certamen-
tem um efeito negativo se uma sugestão de si- te não é uma consideração irrelevante ao serem
milaridade é feita apenas nessa base, na ausên- feitas comparações do comportamento huma-
cia de similaridades funcionais do tipo previa- no-animal, mas também não é essencial.
mente descrito. Isso ocorre particularmente por O uso de espécies também se relaciona à
causa do potencial para comparações de valida- questão da validade de face já discutida, à me-
de de face serem usadas em situações aplicadas dida que alguns rótulos, originados do com-
com humanos a despeito de seu valor científico portamento humano, são mais prováveis de se-
questionável. rem aceitos do que outros ao serem aplicados
Dada uma base funcional para a compa- ao comportamento animal. Rótulos relaciona-
ração, entretanto, similaridades na aparência dos a respostas afetivas ou emocionais dos hu-
podem aumentar o impacto da comparação, manos, tais como amor, medo e depressão têm
particularmente quando se descreve o trabalho sido usados freqüentemente, e com grande acei-
para não cientistas. A validade de face de um tação, em estudos psicológicos com primatas e
fenômeno provavelmente também contribui caninos. A justaposição de outros rótulos e es-
muito para que outros “vejam” a similaridade pécies, tais como a empatia das vacas e a angús-
afirmada. Na verdade, algumas das mais bem tia das minhocas, é mais provável de evocar con-
sucedidas comparações do comportamento trovérsia e ceticismo quanto a sua utilidade e
humano e animal inclui, em adição a similari- validade. Miles (1983) apresentou uma análi-
dades funcionais, ao menos similaridades su- se útil dos efeitos de descrições diferentes usa-
perficiais na aparência (e.g., Harlow, 1958; das em comparações do comportamento hu-
Seligman, 1974). mano-animal.
Seleção de uma espécie. As duas espécies Nomeação do comportamento animal. Os
principais dos laboratórios de psicologia, o rato rótulos associados ao comportamento animal no
e o pombo, freqüentemente têm sido usadas laboratório afetam o entendimento do compor-
na investigação animal do comportamento hu- tamento humano de outras formas também. A
mano. Isso freqüentemente ocorre por questões maioria dos resultados experimentais está aberta
de disponibilidade e conveniência. Em outros a muitas estruturas conceituais e interpretações
casos, espécies específicas têm sido especialmen- diferentes. Discutir autocontrole em vez de sim-
te úteis, seja por planejamento ou ples conformidade a um modelo quantitativo de
serendipidade. Mineka (1987), por exemplo, comportamento de escolha (Rachlin & Green,
usou macacos para desenvolver um modelo ani- 1972), depressão em vez de transferência de
mal de comportamento fóbico porque a forte aprendizagem (Seligman, 1974), ou transmis-
reação que os macacos apresentam diante de são cultural em vez de aprendizagem por meio
cobras é medida facilmente. Talvez as reações da imitação (Lefebvre e Giraldeau, 1994), pode
específicas de cães ao choque inevitável, com- atrair uma audiência mais ampla e facilitar a pro-
binadas com as reações emocionais humanas aos babilidade da extensão ser reconhecida. Um dos
cães submetidos a tais procedimentos, levou a experimentos mais amplamente citados em psi-
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rivadas dedutivamente e freqüentemente são ava- Domjan, M., & Burkhard, B. (1986). The principles of
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PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO NO BRASIL
BRAZILIAN GRADUATE PROGRAMS IN BEHAVIOR ANALYSIS
Áreas de concentração:
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
NEUROCIÊNCIAS E COMPORTAMENTO
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