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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

Docente: Prof.ª Dr.ª Jailma Maria de Lima

Discente: Ícaro de Medeiros Fernandes

Contracultura Pela Mídia Potiguar

O olhar do Diário de Natal e do O Poti sobre o Movimento Hippie


Resumo

O trabalho tem como objetivo analisar como eram representados os integrantes do


movimento de contracultura, o movimento hippie, através dos jornais Diário de Natal e
O Poti, versão dominical do mesmo periódico. Partindo, então, do recorte temporal da
década de 70, foi possível encontrar, no Diário de Natal, 287 ocorrências, e no O Poti,
84, totalizando 371 ocorrências. Nelas, encontrou-se a palavra hippie relacionada a
histórias sobre participantes do movimento, processos criminais ou judiciais, em
citações de outras pessoas expressando sua opinião acerca do movimento ou de seus
integrantes, como adjetivo, como personagem de filmes, quadrinhos ou contos e
crônicas e como título de festas ou nomes de estabelecimentos e feiras (esses três
últimos não se encaixando no nosso objeto de estudo). A partir do que foi pesquisado,
foi possível identificar que a figura do “hippie” era retratada pelos jornais tanto de
forma preconceituosa ou curiosa como também de forma a glamourizar, a criar fantasias
sobre o termo como algo legal, da moda, que pertence a juventude.
Na trilha dos Hippies

O Movimento Hippie foi uma manifestação contracultura surgida na década de


1960 na costa oeste dos Estados Unidos. Tinha como característica a participação nas
lutas sociais, como o movimento negro e feminista, pregava o amor livre e a liberdade,
bem como protestar contra a violência e a guerra, utilizando-se do famoso lema “Paz e
Amor”. Seus integrantes eram em sua maioria jovens e costumavam vestir-se com
roupas muito coloridas, a cultivarem cabelos longos e barbas grandes, e também eram
conhecidos pelo uso frequente de drogas, além de terem o costume de viajar pelo país
por conta própria, deixando suas famílias e vidas comuns para pregar o amor a natureza
e lutar por uma nova sociedade livre, pacífica e não capitalista.

Porém, não foi um movimento que surgiu de repente, mas sim, herdeiro de um
outro que teve início nos anos 40 e atingiu seu ápice nos anos 50: a cultura beat. Tal
movimento, possuía o mesmo pensamento que os hippies passariam a defender, ou seja,
questionavam a cultura dominante no que diz respeito a moral, aos padrões de beleza, o
consumismo, dentre outros aspectos sociais daquela época. Nos anos 50, ganhou mais
força quando vários escritores estadunidenses se uniram para publicar obras que
contestassem essa sociedade, eram os principais: Allen Ginsberg, William Burroughs,
Anne Waldman e Elise Cowen.

A partir daí que o Movimento Hippie continuou seguindo essa linha de


pensamento beat e adicionou um estilo próprio e adaptado ao contexto da época. Seu
auge foi, portanto, um evento que reuniu milhões de seguidores do movimento, o
Festival de Woodstock, que levou inúmeros cantores famosos em todo o país e que
também seguiam o movimento, como exemplos Jimi Hendrix e Janis Joplin.

O movimento passou a decair, devido à morte por overdose de celebridades


simpatizantes e também por causa dos crimes cometidos pela Família Manson,
comunidade hippie liderada por Charles Manson que realizava furtos e homicídios,
sendo o mais famoso deles o assassinato da atriz Sharon Tate em 1969. Tudo isso foi
diminuindo a credibilidade do movimento que no final dos anos 80 se dissipou por
completo.
No Brasil, o movimento ganhou força, visto que o país passava pelo violento
período da Ditadura-Civil Militar. A juventude brasileira, portanto, passou a defender os
ideais hippies ao protestar contra a autoridade do Estado, a lutar pela igualdade social, a
lutar pelo fim das repressões, como o racismo e a lutar pela liberdade de
comportamento. O movimento teve também grande influência na produção musical,
tendo como principais expoentes a música psicodélica dos Mutantes e dos Novos
Baianos e ao movimento Tropicalista encabeçado por Caetano Veloso, Gal Costa,
Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tom Zé, entre outros.

A partir desse contexto, o objetivo geral da pesquisa está em analisar como eram
retratados os integrantes do Movimento Hippie no Brasil através dos periódicos da
época, mais precisamente nos jornais Diário de Natal e sua versão dominical O Poti.
Como recorte, utilizei o que o próprio sistema oferecia que foi a década de 70.

Estabelecidos os caminhos, iniciei a pesquisa através da palavra chave “Hippie”


e pude encontrar, no total, 371 ocorrências. No entanto, foi necessário fazer um recorte
temático, visto que, no decorrer da pesquisa, percebi que nem todas as ocorrências se
referenciavam aos hippies propriamente ditos, então tive que considerar apenas aquelas
ocorrências que se referiam estritamente a membros do movimento, pois, muitas delas
ou eram a palavra hippie utilizada como um adjetivo para caracterizar pessoas que se
assemelhavam a esses indivíduos, seja de forma pejorativa ou não, ou para definir
personagens de ficção (quadrinhos, cinema, teatro, entre outros), ou referindo-se ao
estabelecimento Hippie Drive-in (que apareceu na maioria das ocorrências), ou citados
por entrevistados que se referiam ao termo de forma a condenar ou a exaltar. Separando
“o joio do trigo”, foquei somente nas ocorrências que ligavam a palavra a processos
judiciais ou criminosos (72 ocorrências) e nos relatos que os jornais apresentavam, ou
seja, nas histórias dos hippies (8 ocorrências). Entretanto, diante a grande quantidade de
ocorrências relacionadas aos crimes, procurei focar somente nas histórias, por
apresentarem uma maior profundidade.

Aventuras psicodélicas na terra brasilis


A primeira história a ser encontrada estava presente na edição 01503 do jornal O
Poti no ano de 1970. O relato se passa no Ceará e é uma pequena manchete intitulada
“Hippies querem Ceará”. Consistia na entrevista a um hippie de nome John Elbrick,
brasileiro, que chegara em Fortaleza com sua parceira na tentativa de realizar um
congresso do movimento que já havia sido proibido quando tentara realiza-lo na Bahia.
Os impedimentos que o sujeito encontrava se davam por parte da polícia que prometia
cortar os cabelos dos participantes, caso o congresso acontecesse. Não satisfeito, o casal
instalou acampamento na Avenida Beira-Mar e continuou a reunir adeptos e
interessados, além de insistirem por uma resposta da polícia, caso não fosse possível,
viajariam para o Maranhão tentar novamente.

Mais tarde, na edição 01504, portanto a edição seguinte, a história do casal,


dessa vez intitulada “ Jô e Lúcia” teve continuidade e aqui temos informações
adicionais, dentre elas, o nome da parceira de John Elbrick, Maria Lúcia, que passa a ser
a protagonista dessa notícia. Maria Lúcia, junto ao seu parceiro, apelidado de Jô, dá
entrevistas a imprensa cearense que a descrevem como uma moça jovem, bonita, mas
que já foi vista andando descalça. A jovem, então fala com a imprensa e emite suas
opiniões acerca de ter filhos, diz que não se deve usar anticoncepcional porque a criança
tem que vir quando for pra vir e adianta que está grávida e que quando tiver a criança
vai deixar com os avós, mas quando ela estiver mais crescida, volta para busca-la e lhe
ensinar a filosofia hippie.

A partir desse relato temos também um indicativo dos costumes hippies, pois
Lúcia explica que se casou com John na praia e que o rito consistia em entrar no mar ao
lado de uma barca e uma jangada. Conta também que não é suja e que toma banho todos
os dias, deixando a entender algum senso comum na época de que os hippies não tinham
hábitos de higiene. Por fim, revela que já estiveram em Natal tentando realizar o mesmo
congresso, mas que não deu certo e admite que em São Paulo, hippie era quase
considerado como um crime.

Aqui temos um resumo claro do que era a cultura hippie, um indicativo


característico. A partir desse casal, percebe-se que eles têm um costume nômade e que
já haviam andado bastante, em busca de realizar o seu congresso do movimento.
Percebe-se também que o jornal trata do assunto como uma curiosidade, como algo
exótico que deve ser mostrado ao povo, não vejo nesse relato, alguma forma de
desmistificar os hippies, pois a entrevistada teve que dizer que tomava banho todos os
dias, como se fosse algo extraordinário um hippie ter hábitos de higiene.

O próximo relato está presente na edição de número 01520 (1) ainda em 1970,
no mesmo jornal, fala sobre um grupo de amigos que chega a Natal e que, apesar das
aparências, não se consideram hippies. A reportagem “Eles três se parecem com
‘hippies’ mas preferem dizer-se andarilhos” conta a história de Mário Wilson e Virgílio,
respectivamente, um italiano, um paulista e um mineiro. Segundo Wilson, ele conhecera
Virgílio num congresso hippie que acontecera em Salvador. Com ele, decidiram viajar o
Nordeste e em Recife fizeram amizade com Mário. Dali de Natal, onde foram
entrevistados, decidiram viajar para Lima no Peru, onde ocorreria o Festival do Sol,
evento tipicamente folclórico.

Porém, apesar de afirmarem ter participado de um congresso hippie e por seu


caráter nômade, os três não se consideravam hippies, pois acreditavam o nome estava
muito atrelado a preconceitos e a conceitos um tanto quanto estúpidos e preferiam
considerar-se andarilhos. Mesmo indagados pelo repórter se o motivo de sua viagem era
uma realização pessoal ou um protesto contra a sociedade, todos afirmaram que não era
nada dessas coisas, era apenas uma vontade viver o agora, de se sentir livres e de não ter
compromisso.

Como complemento, os rapazes admitiram que consideravam válidas as


experiências que os hippies praticavam, como o uso de drogas e o amor livre, mas
rapidamente saíram do assunto, pois não queriam se comprometer com a polícia nem
queriam incentivar ninguém. Wilson ainda revela ser filho de um hippie conhecido
como “Tio” que foi um dos primeiros incentivadores do movimento no Brasil.

Analisando as declarações dos entrevistados, paramos para pensar: será que o


motivo deles não se assumirem como hippies não é se não uma forma de evitar
problemas com a polícia? Torna-se compreensível a partir do momento em que,
analisando os jornais, as prisões envolvendo hippies eram muito frequentes. Seria
natural, portanto, que esses rapazes, mesmo apresentando influências do movimento,
negassem fazer parte dele. Ainda mais, todos os três eram letrados, por isso, capazes de
ver alguma notícia referente a isso no jornal.

Na edição 01946 (1), agora em 1973, ainda no “O Poti”, temos uma dupla de
amigos, Orlando Rodrigues e Caio Corso. Ao contrário do que aparece comumente nas
notícias, estes nunca tiveram problemas com a polícia. Chegaram a Natal e não
acamparam em lugar algum, como costumavam fazer os hippies que chegavam na
cidade, mas sim passaram a morar numa sala alugada num edifício e passaram a ganhar
seu sustento com a produção de artigos em couro.

O jornal então busca apresentar um pequeno histórico deles. Orlando Rodrigues


era um colombiano de 21 anos que cursou apenas dois anos de Matemática na cidade
onde nascera, Barranquilla, mas que depois transferiu-se para Buenos Aires onde passou
a estudar engenharia industrial e que estava decidido a concluir seus estudos na França
por simpatizar com sua literatura e História. Saíra de sua cidade em direção ao país em
1972 e já andara pelo Chile, Equador, Uruguai, chegando ao Brasil em julho de 1973,
todo o percurso feito por meio de caronas. Conhecera Caio Corso em Fortaleza e em
Outubro foram a Natal onde passariam mais algum tempo.

Já Caio Corso, não revelara muito sobre sua história, apenas que era natural de
Porto Alegre e que já havia concluído o segundo ano de Belas Artes. Ao contrário de
seu amigo, não se considerava hippie, dizia apenas ser um aventureiro buscando fugir
da “roda viva” e que pretendia voltar a sua cidade para concluir os estudos e depois ir à
Itália encontrar alguns parentes. Apesar de não considerar-se integrante do movimento,
é inegável que adquirira algumas práticas características, pois além de estar viajando de
forma nômade, buscava seu sustento no artesanato junto ao seu amigo e praticava yoga,
tendo, portanto um lado mais espiritual.

Voltando às declarações de Orlando, vê-se uma tentativa de combater o


preconceito sobre os hippies, pois ele se declarava um e esclarecia que ser hippie não
era ser vagabundo ou drogado, que a cultura hippie era um protesto aos padrões sociais
dominantes e que quem segue suas ideias está tentando dar mais sentido e liberdade à
vida.

Podemos comparar este relato ao anterior. Em ambos, os entrevistados possuíam


algum grau de escolaridade, principalmente acadêmico. Também nos dois há a busca
pela liberdade e a fuga da rotina comum. Contudo, há neste segundo relato uma
tentativa de esclarecimento acerca do conceito hippie enquanto que no anterior apenas
foi considerado que era um termo envolto em preconceitos e definições estúpidas sendo
substituído. Mas o que se pode concluir, se se considerar o conceito de Orlando, é que
tanto os três rapazes quanto Caio Corso, são hippies mesmo que não admitam ser, pois
não só seguem algumas das características como também viajam com um mesmo
objetivo: fugir da “roda viva” da sociedade dominante.

Adentrando ao “Diário de Natal” teremos dois relatos que são no mínimo


curiosos e que, após sua análise poderemos traçar algum horizonte conclusivo. Na
edição 08906 (1) de 1970, tem-se a seguinte manchete: “’Hippies’ querem entrar na
campanha contra tóxicos”. Numa lida inicial, observa-se que é uma manchete atípica,
pois na maioria das notícias os hippies estão sempre atrelados às drogas. Ao ler a
reportagem, nota-se que eram jovens artesãos, pintores e escultores que expunham seu
trabalho na Praça da República, em São Paulo, amparados pela Secretaria de Turismo
da Prefeitura Municipal, que se apresentaram na Delegacia de Narcóticos para aprender
sobre as drogas.

Entrevistados, assumiam que eram contra os entorpecentes, diferente do que era


pregado nos EUA e na Europa e que não consideravam a palavra hippie como sinônimo
de malandragem, deixando inclusive de serem abordados pela polícia que os confundia
com desajustados e vadios. Um deles, identificado com Enomar Jacob, revelara que
chegou a frequentar o seminário da Ordem dos Padres Dominicanos em Belo Horizonte
e que defendia a luta contra as drogas, pois preocupava-se com a juventude para que ela
não fosse corrompida por esse “flagelo”.

Duas coisas devem ser observadas. A primeira delas é sobre o fato desses
indivíduos serem subordinados à prefeitura. A segunda é o conteúdo de cunho exemplar
da reportagem. Surge então uma dúvida. Será que essas pessoas não estavam sendo
coagidas, considerando o período autoritário ao qual estavam inseridos, principalmente
numa cidade como São Paulo que foi um dos focos mais expressivos da ditadura, a se
mostrarem contrários às drogas e servirem de exemplo às pessoas de que é possível
influenciar a juventude “rebelde”? Ou eles foram à delegacia por livre e espontânea
vontade? E ainda mais, será que isso também não seria uma estratégia deles próprios
para poder conseguir viver e vender sua arte sem serem incomodados pela polícia?

A próxima manchete tem um teor parecido. A edição 09112 (2) de 1971 tem por
manchete: “Um ‘hippie’ que toma banho e não admite os tóxicos” reforçando o
estereótipo de que comumente os hippies são sujos e drogados. A reportagem fala sobre
um pintor de Manaus conhecido como Louzada que se considera hippie e que não é
como os outros que não tomam banho e usam muitas drogas, reforçando novamente o
estereótipo e o preconceito. Acrescenta que se considerava hippie por acreditar na paz,
no amor e no fim da guerra e que busca defender a classe artística para que fossem mais
valorizados. Se considerava católico, mas não admitia alguma espiritualidade, apenas
dizendo que não precisava ser religioso para conversar com Deus. A reportagem
termina, por fim, citando que o sujeito costumava pintar suas obras ouvindo música
clássica e consumindo até três carteiras de cigarro, pois este dizia que se sentia um
pouco nervoso, além disso suas obras vendiam bem e foram inclusive compradas por
personalidades famosas como Di Cavalcanti e Djanira que o consideravam como um
artista culto e doutrinador.

Vemos mais uma vez um conteúdo de caráter exemplar, mais ainda, podemos
observar que o rapaz, mesmo não viajando por conta própria de forma nômade, mesmo
não possuindo alguma espiritualidade, se considerava hippie por acreditar nos conceitos
básicos do movimento. Entretanto é possível notar a diferença entre ele e os hippies
estudados anteriormente que buscavam encontrar a si mesmos por meio da aventura,
independente de consumirem drogas ou não, e que buscavam fugir do padrão social,
fator que não estava presente em Louzada.

Conclui-se, portanto que o jornal mostrou uma tentativa de manter estereótipos e


preconceitos de forma velada, ao tentar mostrar que podia ser hippie desde que tomasse
banho, não usasse drogas e vivesse num lugar só, ou seja, que fossem “aceitáveis” à
sociedade.

O relato a seguir mostra com maior intensidade essa permanência no conceito do


hippie “útil”. É um artigo de Luís Carlos Sarmento presente na edição 09246 (1) de
1971 intitulado “Repórter visita acampamento hippie em São Paulo e revela: êles não
dormem com Deus”. Como o próprio título apresenta, um repórter paulista passa um dia
num acampamento hippie, querendo mostrar que o local possuía uma decadência moral
e religiosa, pois logo no início do texto fala que encontrou de imediato várias imagens
de cristos em tamanhos e formatos diferentes. Fala da extravagância de suas roupas e do
consumo de drogas, além de contar sobre integrantes que sequer queriam estar ali,
apenas estavam para fugir de casa, a exemplo de uma moça cuja mãe achava que ela era
prostituta. No fim da matéria, repórter conta que quando foram dormir, nenhum dos
cristos que carregavam iam para dentro da barraca onde moravam e que uma moça
desse grupo lhe disse que eles nunca dormiam com Ele.
Qual seria então o intuito dessa reportagem? Ao ler com bastante atenção vê-se
em primeiro lugar o título que logo deixa a entender que os hippies não eram religiosos,
ou seja, que iriam contra a moral cristã. Ao evidenciar em sua matéria o consumo de
drogas, a extravagância nas roupas e no modo de agir, o repórter está levando ao seu
leitor, não a imagem do hippie como defensor da paz e do amor, como sujeitos que
querem melhorar a sociedade através desses conceitos, mas sim como desajustados que
consumiam drogas e que não se importavam com a vida. Essa reportagem mostra,
portanto, um claro reforço do preconceito contra os hippies.

Algumas conclusões

Diante do que foi analisado em “O Poti” e no “Diário de natal”, foi possível


perceber que a cultura hippie era apresentada de forma dicotômica. Enquanto um
mostrava o lado aventureiro dos hippies, o lado “descolado” por assim dizer, inclusive
reforçando isso nas outras matérias em que a palavra hippie estava ligada a moda e
juventude, o outro estabelecia uma imagem mais distorcida, mais negativa desses
integrantes e buscava passar lições de moral e a buscar exemplos de que a juventude
poderia até aderir a moda hippie, mas que já seria um problema se eles passassem a agir
como eles, por isso, reforçando preconceitos e estereótipos.

Em ambos os jornais estavam presentes crimes, processos judiciais, acidentes


que envolviam hippies, porém O Poti apresentou apenas 13 ocorrências das 84,
configurando 15%, por outro lado, O Diário de Natal em suas 287, apresentou 59
ocorrências em que os hippies estavam ligados a esses processos, ou seja 20% do que
foi pesquisado. Considerando o público de ambos jornais, visto que o primeiro possuía
menor tiragem por ser dominical e por ter seu conteúdo voltado mais para o
entretenimento e o segundo por ser diário e ter o conteúdo voltado justamente para o
que acontecia na região e no país, pode-se afirmar que a visão empregada no primeiro
jornal relaciona o movimento hippie com uma expressão da juventude, como algo
interessante e que valia a pena conhecer, mesmo que estivesse presente algumas
declarações preconceituosas e pejorativas. Já no segundo, o movimento hippie era
considerado como algo perigoso que poderia levar os jovens ao mundo das drogas e do
crime e que era constituído por vagabundos, mas que poderia ser aceitável se
incorporasse elementos da sociedade tida como “correta”.
Referências:

ELES NÃO DORMEM COM DEUS. Diário de Natal. Natal, RN. 1971. Edição: 09246
(1).

ELES TRÊS PARECEM COM “HIPPIES” MAS PREFEREM DIZER-SE


ANDARILHOS. O Poti. Natal, RN. 1970. Edição: 01520(1).

“HIPPIES” NÃO CONTESTAM NADA. O Poti. Natal, RN. 1973. Edição: 01946(1).

“HIPPIES” QUEREM CEARÁ. O Poti. Natal, RN. 1970. Edição: 01503(1).

“HIPPIES” QUEREM ENTRAR NA CAMPANHA CONTRA OS TÓXICOS. Diário


de Natal. Natal, RN. 1970. Edição: 08906(1).

JÔ E LÚCIA. O Poti. Natal, RN. 1970. Edição: 01504(2).

UM “HIPPIE” QUE TOMA BANHO E NÃO ADMITE OS TÓXICOS. Diário de


Natal. Natal, RN. Edição: 09112(2).

SOUSA, Izis. Movimento Hippie – o que é, características e ínicio e fim do movimento.


Conhecimento científico. 2020. Disponível em:
<https://conhecimentocientifico.r7.com/movimento-hippie/>. Acesso em: 02 de
Dezembro de 2020.

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