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Porém, não foi um movimento que surgiu de repente, mas sim, herdeiro de um
outro que teve início nos anos 40 e atingiu seu ápice nos anos 50: a cultura beat. Tal
movimento, possuía o mesmo pensamento que os hippies passariam a defender, ou seja,
questionavam a cultura dominante no que diz respeito a moral, aos padrões de beleza, o
consumismo, dentre outros aspectos sociais daquela época. Nos anos 50, ganhou mais
força quando vários escritores estadunidenses se uniram para publicar obras que
contestassem essa sociedade, eram os principais: Allen Ginsberg, William Burroughs,
Anne Waldman e Elise Cowen.
A partir desse contexto, o objetivo geral da pesquisa está em analisar como eram
retratados os integrantes do Movimento Hippie no Brasil através dos periódicos da
época, mais precisamente nos jornais Diário de Natal e sua versão dominical O Poti.
Como recorte, utilizei o que o próprio sistema oferecia que foi a década de 70.
A partir desse relato temos também um indicativo dos costumes hippies, pois
Lúcia explica que se casou com John na praia e que o rito consistia em entrar no mar ao
lado de uma barca e uma jangada. Conta também que não é suja e que toma banho todos
os dias, deixando a entender algum senso comum na época de que os hippies não tinham
hábitos de higiene. Por fim, revela que já estiveram em Natal tentando realizar o mesmo
congresso, mas que não deu certo e admite que em São Paulo, hippie era quase
considerado como um crime.
O próximo relato está presente na edição de número 01520 (1) ainda em 1970,
no mesmo jornal, fala sobre um grupo de amigos que chega a Natal e que, apesar das
aparências, não se consideram hippies. A reportagem “Eles três se parecem com
‘hippies’ mas preferem dizer-se andarilhos” conta a história de Mário Wilson e Virgílio,
respectivamente, um italiano, um paulista e um mineiro. Segundo Wilson, ele conhecera
Virgílio num congresso hippie que acontecera em Salvador. Com ele, decidiram viajar o
Nordeste e em Recife fizeram amizade com Mário. Dali de Natal, onde foram
entrevistados, decidiram viajar para Lima no Peru, onde ocorreria o Festival do Sol,
evento tipicamente folclórico.
Na edição 01946 (1), agora em 1973, ainda no “O Poti”, temos uma dupla de
amigos, Orlando Rodrigues e Caio Corso. Ao contrário do que aparece comumente nas
notícias, estes nunca tiveram problemas com a polícia. Chegaram a Natal e não
acamparam em lugar algum, como costumavam fazer os hippies que chegavam na
cidade, mas sim passaram a morar numa sala alugada num edifício e passaram a ganhar
seu sustento com a produção de artigos em couro.
Já Caio Corso, não revelara muito sobre sua história, apenas que era natural de
Porto Alegre e que já havia concluído o segundo ano de Belas Artes. Ao contrário de
seu amigo, não se considerava hippie, dizia apenas ser um aventureiro buscando fugir
da “roda viva” e que pretendia voltar a sua cidade para concluir os estudos e depois ir à
Itália encontrar alguns parentes. Apesar de não considerar-se integrante do movimento,
é inegável que adquirira algumas práticas características, pois além de estar viajando de
forma nômade, buscava seu sustento no artesanato junto ao seu amigo e praticava yoga,
tendo, portanto um lado mais espiritual.
Duas coisas devem ser observadas. A primeira delas é sobre o fato desses
indivíduos serem subordinados à prefeitura. A segunda é o conteúdo de cunho exemplar
da reportagem. Surge então uma dúvida. Será que essas pessoas não estavam sendo
coagidas, considerando o período autoritário ao qual estavam inseridos, principalmente
numa cidade como São Paulo que foi um dos focos mais expressivos da ditadura, a se
mostrarem contrários às drogas e servirem de exemplo às pessoas de que é possível
influenciar a juventude “rebelde”? Ou eles foram à delegacia por livre e espontânea
vontade? E ainda mais, será que isso também não seria uma estratégia deles próprios
para poder conseguir viver e vender sua arte sem serem incomodados pela polícia?
A próxima manchete tem um teor parecido. A edição 09112 (2) de 1971 tem por
manchete: “Um ‘hippie’ que toma banho e não admite os tóxicos” reforçando o
estereótipo de que comumente os hippies são sujos e drogados. A reportagem fala sobre
um pintor de Manaus conhecido como Louzada que se considera hippie e que não é
como os outros que não tomam banho e usam muitas drogas, reforçando novamente o
estereótipo e o preconceito. Acrescenta que se considerava hippie por acreditar na paz,
no amor e no fim da guerra e que busca defender a classe artística para que fossem mais
valorizados. Se considerava católico, mas não admitia alguma espiritualidade, apenas
dizendo que não precisava ser religioso para conversar com Deus. A reportagem
termina, por fim, citando que o sujeito costumava pintar suas obras ouvindo música
clássica e consumindo até três carteiras de cigarro, pois este dizia que se sentia um
pouco nervoso, além disso suas obras vendiam bem e foram inclusive compradas por
personalidades famosas como Di Cavalcanti e Djanira que o consideravam como um
artista culto e doutrinador.
Vemos mais uma vez um conteúdo de caráter exemplar, mais ainda, podemos
observar que o rapaz, mesmo não viajando por conta própria de forma nômade, mesmo
não possuindo alguma espiritualidade, se considerava hippie por acreditar nos conceitos
básicos do movimento. Entretanto é possível notar a diferença entre ele e os hippies
estudados anteriormente que buscavam encontrar a si mesmos por meio da aventura,
independente de consumirem drogas ou não, e que buscavam fugir do padrão social,
fator que não estava presente em Louzada.
Algumas conclusões
ELES NÃO DORMEM COM DEUS. Diário de Natal. Natal, RN. 1971. Edição: 09246
(1).
“HIPPIES” NÃO CONTESTAM NADA. O Poti. Natal, RN. 1973. Edição: 01946(1).