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IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

PREBITÉRIO DE CUIABÁ

JADSON EDER PAES MATOS

A Realidade da Provação na Vida do Servo de Deus

CUIABÁ
2010
JADSON EDER PAES MATOS

A Realidade da Provação na Vida do Servo de Deus

Monografia apresentada ao Presbitério de Cuiabá (PCBA)

em cumprimento às exigências do artigo 120, alínea b,

CI-IPB.

Tutor Eclesiástico: Rev. José Henrique Cordeiro

Cuiabá
2010
JADSON EDER PAES MATOS

A Realidade da Provação na Vida do Servo de Deus

Monografia apresentada ao Presbitério de Cuiabá, como

requisito parcial para licenciatura e ou ordenação.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________________
Rev. Nelson Abreu Junior
Relator PCBA

____________________________________________________________________
Componente da Banca

____________________________________________________________________
Componente da Banca

____________________________________________________________________
Componente da Banca
Este trabalho segue o padrão monográfico adotado pelo Seminário Teológico Presbiteriano

Rev. Denoel Nicodemos Eller em conformidade com o Manual do Candidato (SC-IPB-2006

Doc. CLV; CE-SC-IPB-2007 Doc. CXX)


Dedico à minha esposa, Joelice Matos, e aos

meus filhos Jadson Filho e Julia Matos, que

sempre estiveram ao meu lado dando todo suporte

necessário em todos os momentos dessa difícil e

gratificante jornada de preparo para fazer Deus

conhecido entre as nações. Como eu amo vocês!


AGRADECIMENTOS

Neste momento singular e único, é impossível expressar em palavras ou letras o

sentimento de gratidão que transborda dentro do meu coração. Entretanto, com estas simples

palavras quero externar a minha gratidão:

Primeiramente ao autor e consumador da minha fé. A Deus, o Criador e Sustentador

do universo, Senhor Todo-Poderoso, que me escolheu para servi-Lo como instrumento de

semeadura das Suas verdades entre as nações, a qual Ele mesmo formou, a fim de que o

conhecimento da Sua glória encha toda a terra, como as águas cobrem o mar. Ao Senhor que é

o único digno de receber toda honra glória e louvor, meu Pai, muito obrigado.

A minha amada esposa Joelice Matos. Pelo amor incondicional demonstrado, pela

força, dedicação, carinho e incentivo. Pela compreensão, disposição de contribuir na minha

formação cuidando de cada detalhe. Mulher guerreira e de fibra, buscando em Deus a

superação para cada dificuldade. Agradeço o apoio e confiança que vem demonstrando nesses

dez anos de união feliz. Amo muito você. Receba o meu muito obrigado.

As minhas heranças; Jadson Matos Filho e Julia Matos, que abriram mão de forma

compreensiva do papai, quando este precisava sair ainda nas madrugadas para a academia,

retornando quando vocês já estavam dormindo. Filhos vocês são especiais, amo vocês.

Obrigado por me ensinarem a ser um verdadeiro pai. Vocês têm parte nesta vitória. Obrigado

pelos momentos das brincadeiras, pois quando o cansaço e stress já tomavam conta do papai

vocês me fizeram lembrar de que já era hora de parar com as pesquisas, para dedicar-lhes

tempo. Meus filhos saibam que o papai é intensamente grato a vocês.

Aos meus pais. Ezequias ou “cuiabano” como gosta de ser chamado e Elenir que

sempre acreditaram em mim e me deram o apoio e estímulo diante das minhas decisões.

Obrigado pelo amor, carinho e ternura a mim demonstrado. Agradeço a educação e a

formação recebida. Vocês foram instrumentos de Deus na formação do meu caráter. Agradeço
também o apoio nos momentos difíceis, um suporte sempre presente. É difícil mensurar a

importância da presença de vocês durante todo processo de formação. Recebam a minha

gratidão, amo vocês.

A minha irmã Neliana, amiga e companheira. Muito obrigado pela credibilidade e

pelo investimento em nossas vidas. Você tem parte nesta vitória, muito obrigado.

A minha sogra, Eloisa. Sempre presente dando o apoio necessário, acreditando sempre

em nosso trabalho. Muito obrigado pela confiança e suporte, o qual foi fundamental durante

esse tempo que passamos aqui na academia.

À Igreja Presbiteriana Maanaim, local onde tive espaço para desenvolver e aperfeiçoar

os dons que recebi do Pai. Vocês foram instrumentos para comprovar a minha vocação, e

ainda; Foram fundamentais na formação e orientação do meu ministério. Jamais esquecerei

tudo o quanto fizeram. Agradeço de forma especial o conselho desta amada igreja. A junta

diaconal o meu reconhecimento. No seio desta igreja existem irmãos preciosos e valorosos

que estarão sempre em meu coração. A cada um vocês a minha sincera gratidão.

Ao Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Denoel Nicodemos Eller, pela formação

recebida. Agradeço cada colaborador desta preciosa academia. Não poderia deixar de

agradecer em especial aqueles que participaram diretamente da minha formação, o qual eu

tive o privilégio de receber muitos ensinamentos. A minha gratidão ao professor Rev.

Manasses Júmior Villaça, amigo mais chegado que irmão. Mais que um irmão, um verdadeiro

pai. Grande encorajador e pastor que mora em meu coração. Obrigado por acreditar em mim,

por investir na minha vida. Agradeço o cuidado, saiba você é mais que especial. Obrigado

pelas portas abertas, Deus te abençoe. Ao professor Rev. Leonardo Leão, pelo empenho e

dedicação em fazer dos seus alunos mais do que simples pregadores, ao professor Rev.

Sebastião Guimarães, por seu exemplo de humildade e sua reconhecida sensatez, ao professor

Rev. Ulisses Horta Simões, por ser mais que um professor, por ser um grande amigo.
Obrigado pelas orientações e pastoreio, sou grato a você pelo carinho e dedicação. Ao

professor Rev. Floriano Sant’ana, por nos mostrar que o conhecimento acadêmico pode e

dever ser usado como ferramenta para o cuidado pastoral das ovelhas do Senhor. Ao Rev.

Renê Alves de Souza a minha gratidão. Pois através da sua simplicidade e humildade, ou seja;

através da sua vida nos ensinou quanto às marcas de um homem segundo coração de Deus.

Em fim, a minha gratidão ao diretor e professor do Seminário Teológico Presbiteriano Rev.

Denoel Nicodemos Eller, Rev. Valdir Ferreira da Cunha, por nos ensinar que não basta ser, é

preciso viver. Agradeço a amizade, confiança e investimento. Deus abençoe você.

Ao grande amigo Jean Almeida, companheiro nesta jornada. Amigo de todas as horas,

sempre presente. Você é muito especial para mim, a você amigo, minha gratidão.

Aos colegas de turma, o meu carinho. Deus abençoe cada um de vocês.

Ao Rev. Rômulo Monteiro de Castro, obrigado pelo carinho e confiança. Você foi

peça chave na elaboração deste trabalho. A você minha gratidão.

Aos missionários Rev. Ronaldo Lidório e Marcus Aurélio que despenderam tempo e

atenção em leituras do trabalho nas fases preliminares, dando-me orientações que muito

auxiliaram na execução deste trabalho. Deus abençoe vocês.

Ao Rev. Alderi de Souza Matos, que gentilmente nos forneceu conteúdo que em muito

enriqueceu este trabalho. Que o Eterno e bom Deus te abençoe. Muito obrigado.

Finalmente, mas não numa escala de importância, quero reconhecer todo o apoio e

suporte da Igreja Presbiteriana de Morada do Ouro, juntamente com o seu Conselho.

Agradeço a cada membro desta amada igreja, que acreditou em nosso ministério desde o

princípio proporcionando meios para que eu pudesse chegar até aqui. A vocês, o meu muito

obrigado. Ao pastor Rev. José Henrique Cordeiro, amigo fiel e piedoso. Pessoa importante na

minha formação. Obrigado pela credibilidade e confiança. Agradeço o cuidado para com as

nossas vidas. Que Deus o abençoe grandemente.


“A maior miséria que um homem pode ter é

ignorar a providência de Deus; e, por outro lado,

que é uma singular bem-aventurança conhecê-la”

João Calvino.

“Os sofrimentos desta vida longe estão de

obstruir nossa salvação; antes, ao contrário, são

seus assistentes. (...) Embora os leitos e os

réprobos se vejam expostos, sem distinção, aos

mesmos males, todavia existe uma enorme

diferença entre eles, pois Deus instrui os crentes

pela instrumentalidade das aflições e consolida

sua salvação (...) As aflições, portanto, não

devem ser um motivo para nos sentirmos

entristecidos, amargurados ou sobrecarregados, a

menos que também reprovemos a eleição do

Senhor, pela qual fomos predestinados para vida,

e vivamos relutantes em levar em nosso ser a

imagem do Filho de Deus, por meio da qual

somos preparados para glória celestial.”

João Calvino
RESUMO

Este trabalho apresenta uma resposta, dentro da visão Reformada, a algumas

questões fundamentais da vida. Por que a existência humana é tão cheia de contratempos?

Quais as razões e de onde procedem as provações? Deus está envolvido nestas coisas ou não?

Ele, depois de ter criado tudo, abandonou a sua criação, como dizem os deístas? Não se pode

escapar desses dilemas, pois eles fazem parte da realidade de todos os homens. Por isso,

torna-se importante saber como se posicionar diante dessas coisas e admitir que, ainda que

seja difícil de compreender, Deus está por trás de todas estas situações.

A grande questão é saber o que o motiva, quando envia uma provação, ou seja, aonde

Deus quer chegar com tudo isso. Deus, como soberano que é, pode fazer uso de qualquer

meio para alcançar seu propósito. Perceber-se-á que o eleito é alguém que goza de certos

privilégios na sua caminhada, mas, é importante saber que os privilégios não o isentam das

provações. Aliás, elas são, também, instrumentos do Criador para trabalhar o caráter de seu

povo, pois ele o ama.

PALAVRAS-CHAVE

“Provação”; “Providência”; e “Reformado”.


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 13

CAPÍTULO I ....................................................................................................................................................... 16

DEFINIÇÕES DE TERMOS CHAVES ............................................................................................................ 16

Introdução .......................................................................................................................................................... 16

1. Provação ....................................................................................................................................................... 16

1.1. No Antigo Testamento ........................................................................................................................... 16

1.2. No Novo Testamento .............................................................................................................................. 17

1.3. Relação entre Provação e Tentação ........................................................................................................ 19

2. Reformado ..................................................................................................................................................... 23

3. Providência .................................................................................................................................................... 30

3.1. Etimologia: ............................................................................................................................................. 30

3.2. A Providência de Deus na visão Cristã Reformada: ............................................................................... 31

3.3. O desprezo à doutrina da Providência: ................................................................................................... 34

Conclusão .......................................................................................................................................................... 40

CAPÍTULO II ...................................................................................................................................................... 41

A PROVIDÊNCIA NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.............................................................. 41

Introdução .......................................................................................................................................................... 41

1. A Doutrina na Confissão de Fé de Westminster ........................................................................................ 42

1.1. Comentário da seção I: ........................................................................................................................... 42

1.2. Comentário da seção V ........................................................................................................................... 43

1.3. Comentário da seção VII. ....................................................................................................................... 44

2. A Providência e a Sua Relação com Outras Doutrinas Reformada ............................................................... 45

2.1. Providência e Soberania: ........................................................................................................................ 45

2.2. Providência e Decreto............................................................................................................................. 46

2.3. Providência e Onipotência. ..................................................................................................................... 48

2.4. Providência e Criação. ............................................................................................................................ 50

Conclusão .......................................................................................................................................................... 53

xi
CAPÍTULO III .................................................................................................................................................... 54

A REALIDADE DA PROVAÇÃO .................................................................................................................... 54

Introdução .......................................................................................................................................................... 54

1. Provação, Realidade ou Ilusão? ................................................................................................................. 54

2. As fontes da Provação e Tentação ................................................................................................................. 58

2.1. Deus como fonte de provação. ............................................................................................................... 58

2.2. Satanás como causa de provação. ........................................................................................................... 59

2.3. A natureza Carnal como causa de tentação ............................................................................................ 60

3. As razões da provação Humana..................................................................................................................... 62

3.1. A limitação do homem como causa de sua provação ............................................................................. 62

3.2. O pecado do homem como causa de sua provação. ................................................................................ 63

Conclusão .......................................................................................................................................................... 64

CAPÍTULO IV .................................................................................................................................................... 65

A PROVAÇÃO NA VIDA DO SERVO DE DEUS .......................................................................................... 65

Introdução .......................................................................................................................................................... 65

1. O Porquê da provação na vida do Servo de Deus .......................................................................................... 65

1.1. A provação como disciplina de Deus na vida do Servo de Deus ............................................................ 65

1.2. A Provação por causa do amor a Cristo na vida do Servo de Deus ........................................................ 67

1.3. A Provação por causa da retidão na vida do Servo de Deus ................................................................... 69

1.4. A provação por causa da pregação do evangelho pelo Servo de Deus. .................................................. 69

1.5. A Provação pela fidelidade dos Servos de Deus..................................................................................... 71

2. Propósito da provação na vida do Servo de Deus .......................................................................................... 74

2.1. Trazer o Servo de Deus ao caminho correto ........................................................................................... 74

2.2. Desenvolver no Servo de Deus compaixão pelos outros ........................................................................ 75

2.3. Promover no Servo de Deus um crescimento no conhecimento de Deus ............................................... 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 77


INTRODUÇÃO

Viver em uma sociedade pós-moderna é conviver com o subjetivismo, uma corrente

filosófica que não aceita outra realidade que não seja a realidade do ser pensante. De acordo
1
com o subjetivismo, a verdade é individual, ou seja, cada pessoa tem a sua verdade.

Percebe-se que o ponto de vista individual e suas opiniões a respeito da vida na sua forma

geral são muito valorizada. A experiência pessoal se tornou padrão de conduta para cada um,

conseqüentemente há uma dificuldade muito grande, por parte do homem pós-moderno, de

aceitar normas e padrões já estabelecidos. “Com o pós-modernismo, nenhuma história tem

mais credibilidade do que outra qualquer. Todas as histórias são igualmente válidas”.2 O Dr.

Heber de Campos, falando sobre A Relevância dos Credos e Confissões diz o seguinte:

“...Desde o período do Iluminismo apareceu dentro da igreja um subjetivismo radical


que levou a uma depreciação dos credos. No período pós-iluminista, com
Schleiermacher, Kierkegaard e toda a tradição existencialista, creu-se que a realidade
de Deus não podia ser objetivamente conceptualizada. A verdade tinha que ser
alcançada pela exploração do caráter intrínseco da existência humana. O teólogo
católico Karl Rahner insiste que ‘o conteúdo da fé não é visto como um número vasto
e quase incalculável de proposições que, coletiva e diversamente, estão garantidas pela
autoridade formal de um Deus que se revela.’ Segundo Rahner, a verdade é subjetiva,
não objetiva.

A tradição é substituída pela experiência pessoal. Ao mesmo tempo em que toda a

forma de pensar é aceita, ou seja, há uma tolerância exagerada, nota-se, também, uma grande

intolerância com padrões já estabelecidos.

O grande problema é que esta postura contaminou, também, a Teologia, criando,

assim, uma teologia influenciada pelo pensamento pós-moderno.3 A tradição e os valores

1
O subjetivismo atribui a fonte da verdade ao sujeito. Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetivismo
acessado no dia 18/setembro de 2010.
2
SIRE - O universo ao lado, p. 214
3
A era pós-moderna é caracterizada pela queda dos padrões morais anteriormente estabelecidos e pelo
questionamento da necessidade de haver uma verdade objetiva. O pensamento pós-moderno afirma que a
linguagem não pode expressar verdades a respeito do mundo de um modo objetivo. Sendo que a linguagem é que
dá forma ao que pensamos e que é fruto de uma dada cultura, sua formação é, basicamente, social. Dessa forma,
argumentam os pós-modernistas, o verdadeiro significado das palavras faz sentido apenas para a cultura onde foi
forjada, não manifestando sentido para uma outra cultura diferente da de sua origem. E esta maneira de pensar

13
14

teológicos já estabelecidos são, agora, desacreditados pelo próprio cristianismo. A

interpretação de um texto das Sagradas Escrituras já não é feita partindo de uma hermenêutica

padronizada, histórico-gramatical. Cada um, subjetivamente, dá sua própria interpretação.

Partindo desta realidade, as respostas que se dão para as questões das provações que

acometem o ser humano são variadas. Rebeca Brown afirma em seu livro “Maldições Não

Quebradas” 4 que as crises existenciais são fruto de “maldições hereditárias”.

Já o líder da igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo diz que isso é

coisa do “diabo” ou é fruto do “mau exercício da fé”. Pode- citar, ainda, aqueles que dizem

que é resultado de um “negativismo exagerado”, ou seja, é preciso aprender a pensar

positivamente.5

Pretende-se, neste trabalho, trazer resposta a estas questões da existência. A fonte de

estudos será as Escrituras Sagradas, com uma hermenêutica Reformada, ou seja, Histórico-

gramatical.

O objetivo é refletir sobre as provações, partindo das Escrituras, interpretando de

forma coerente, com toda a certeza levará a conclusões impactantes e desafiadoras trazendo-

nos refrigério e uma maior maturidade para se viver a vida. Quando se consegue enxergar a

“mão invisível” do Deus das Escrituras por trás de todos os movimentos deste universo,

consegue-se então ter segurança, paz e tranqüilidade. Toda e qualquer situação, por mais

difícil que seja, será compreendida a luz da graça providente de Deus, pois, como disse

William Cowper citado por Piper, “Por trás de uma providência carrancuda, Ele oculta uma

face sorridente”.6

tem dado o tom à forma de (re) interpretar as verdades bíblicas, criando, assim, uma teologia pós-moderna.
4
BROWN - Maldições Não Quebradas, p. 22
5
MACEDO - Orixás, Caboclos E Guias: - Deuses ou Demônios?, p.82
6
PIPER - O Sorriso Escondido de Deus, p. 92.
15

O ser humano não pode perder de vista a fragilidade e a limitação humana.

Diante de tantas dificuldades, o ser humano é alguém que carece tanto da consciência

do perdão de Deus porque é pecador, quanto necessita da certeza do cuidado divino porque é

frágil. As Escrituras demonstram o cuidado de Deus para com a sua criação através dos seus

atos externos subseqüente à criação.


16

CAPÍTULO I

DEFINIÇÕES DE TERMOS CHAVES

Introdução

Palavras são carregadas de sentido, ou seja, expressam um significado que se quer dar

a um sentimento, desejo, intenção, etc. Porém, não se deve esquecer que estes significados

contidos nas palavras podem variar. O significado contido nelas precisa, ser comum entre os

sujeitos do diálogo, para que não se corra o risco de uma má interpretação, e, assim,

prejudique a comunicação.

É preciso dessa forma, definir bem os termos da comunicação, principalmente quando

o assunto é Teologia. Por esta razão, torna-se importante esta seção. Os termos que aqui serão

definidos são provação, eleição, providência e reformado.

1. Provação

A etimologia do termo como usado nas Escrituras Sagradas.

1.1. No Antigo Testamento

O termo usado no Antigo Testamento e traduzido como “provar”, “por a prova”,

“testar” é hfSAm que é derivado de “hfsfn” (nasâ). O termo pode ter o sentido de “intentar” ou

“ousar” dizer algo que possa ofender o ouvinte conforme podemos observar:

“Se intentar alguém falar-te, enfadar-te-ás? Quem, todavia, poderá conter as palavras?” Jó 4:2

(grifo meu).

Pode, também, ter o significado de “tentar”, com o sentido de tentativa traduzido por

algumas versões como “intentar”. Para elucidar essa questão veja o seguinte texto: “ou se um

deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo, com provas, e com sinais, e

com milagres, e com peleja, e com mão poderosa, e com braço estendido, e com grandes
17

espantos, segundo tudo quanto o SENHOR, vosso Deus, vos fez no Egito, aos vossos olhos”

Dt 4:34 (grifo meu).

A Escritura também utiliza o termo derivado “hfsfn” (nasâ) em outros contextos com o

objetivo de trazer a idéia de “experimentar” coisas, como armaduras, armamentos

trazendo-nos uma conotação de experimento, transmitindo a idéia de experimentar o uso de

determinada coisa. Isso fica muito claro no texto de 1 Samuel, onde diz o seguinte: “Davi

cingiu a espada sobre a armadura e experimentou andar, pois jamais a havia usado; então,

disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois nunca o usei. E Davi tirou aquilo de sobre

si” 1 Sm 17:39 (grifo meu).

Os termos provar, “tenta” e “por a prova” são utilizados secularmente, entretanto, com

base em Deuteronômio percebemos a utilização desses termos com conotação religiosa. A

descrença e a presunção, a desobediência e a murmuração entre o povo se constituem em

desafio contra Javé, pondo-O à prova. De modo inverso, Javé pode por Seu povo à prova.7

O significado mais comum é aquele que aponta para situações nas quais pessoas ou

nações passam por tribulações ou dificuldades provocadas por pessoas, nações ou até mesmo

o próprio Deus. O termo ocorre 36 vezes no AT.8

1.2. No Novo Testamento

O termo usado no Novo Testamento traduzido por “testar”, “tentar”, “examinar”,

provar ou “por aprova” vem da raiz de peira (peira).

Como verbo, o termo peirazo (peirazo) é utilizado 39 vezes no Novo Testamento.

Em 31 das 39 vezes, é traduzido por tentado, ser tentado, tentando e tentar. De acordo com a

Septuaginta o verbo “peirazo” representa exclusivamente o verbo “nasâ” na forma piel do

7
HARRIS - DIT, p. 2482
8
HARRIS – DIT, op cit., p.969
18

hebraico, podemos ver isso através de passagens como Ex 15:25 que diz: “Então, Moisés

clamou ao SENHOR, e o SENHOR lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as

águas se tornaram doces. Deu-lhes ali estatutos e uma ordenação, e ali os provou [‫”]נִ ָסּה‬.

No Novo Testamento há oito referências onde o verbo é traduzido por “experimentar”

(João 6:6), “fazer uma tentativa” (Atos 16:7), “intentar” (Atos 24:6), “examinar” (2 Coríntios

13:5), “pôr à prova” (Hebreus 11:7; Apocalipse 2:2,10) e “provar” (Apocalipse 3:10). Nas

passagens bíblicas onde o verbo é usado podemos perceber que Jesus Cristo está diretamente

envolvido, sendo que duas dessas passagens fazem referência a Deus (Atos 15:10;

Hebreus 3:9). Este verbo é usado no sentido de provar, testar ou solicitar a alguém para fazer

algo errado. Como substantivo, o termo utilizado no Novo Testamento para provação é o

peirasmoj (peirasmos) que significa “teste”, “prova” que é traduzido por “tentação”. Faze-se

necessário ressaltar que em Tiago 1:3 aparece o termo δοκίµιον que significa “ação de provar
9
ou aquilo pelo qual algo é testado ou provado, teste”. No mundo antigo não havia sistema

bancário como nós o conhecemos hoje, e nem dinheiro em papel. Todo dinheiro era feito de

metal, aquecido até se tornar líquido, despejado em moldes e deixado para esfriar. Quando as

moedas estavam frias, era necessário polir os cantos irregulares. As moedas eram

comparativamente brandas e, é claro, muitas pessoas cortavam pequenas fatias do metal. Em

um século, mais que oitenta leis foram promulgadas em Atenas, para parar a prática de cortar

as moedas que estavam em circulação. No entanto, algumas das pessoas que cambiavam o

dinheiro eram homens íntegros, que não aceitariam dinheiro falsificado. Eram pessoas

honradas que colocavam em circulação apenas dinheiro genuíno e com o peso correto. Tais

homens eram chamados de “dokimos” ou “aprovados”.10

9
STRONG, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil – Libronix.
10
Ibidem, Libronix
19

Em contraste com o verbo “peirazo”, o substantivo “peirasmos” é utilizado em apenas

duas passagens (Lucas 4:13; 22:28) com referencia a Jesus Cristo. O termo é usado 21 vezes

no Novo Testamento.

1.3. Relação entre Provação e Tentação

É importante compreender a diferença entre “ser tentado” e “ser provado”. Pela

definição dos termos não fica claro a distinção entre eles, uma vez que o termo usado tanto

para um quanto para outro é o mesmo. Para compreender a intenção do tradutor bíblico ao

usar o termo “tentação” ou “provação” é necessário analisar o contexto em que o termo foi

empregado para a correta compreensão do sentido da palavra.

Diante do exposto acima, é necessário ressaltar que na passagem de Gênesis 22:1 nos é

informado que Deus colocou seu servo Abraão à prova, para testar a sua fé. A palavra usada

na LXX (Septuaginta) é a mesma que em alguns contextos significa “tentar internamente, por

meio de inclinação pecaminosa”. Com isso em mente, parece uma contradição entre

Gênesis 22:1 e Tiago 1:13-15, entretanto isso não é verdade.

O termo grego πειραζω (peirazo) vem da raiz grego πειρα (peira) que significa

“tentativa, experiência, intento; tentar algo, experimentar algo ou alguém; provar algo;

experiementar, aprender a conhecer pela experiência.”11 Esse termo é usado apenas duas

vezes no N.T, em Hebreus 11:29 para se referir a tentativa dos Egípcios de atravessarem o

Mar Vermelho atrás dos hebreus. A outra ocorrência do termo πειρα (peira) é no versículo 36

do mesmo capítulo, que menciona as provações que os servos de Deus enfrentaram no Antigo

Testamento.

11
STRONG - Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong - Sociedade Bíblica do Brasil. - Libronix
20

O sentido do termo πειραζω (peirazo) é de tentação por influência ou situações


12
externas ou internas, é o que Strong chama de “bom e mal sentido.” Isso fica claro nos

Evangelhos. Esse termo utilizado para a palavra tentação é usada no contexto onde Jesus está

sendo tentado pelo diabo (Mateus 4:1); do diabo como “o tentador” (Mateus 4:3); dos

Fariseus testando o conhecimento de Jesus para acusá-lo (Mateus16:1); testando Jesus para

saber o que Ele iria dizer (Mateus 19:3); fazendo uma armadilha doutrinária (Mateus 22:18;

35; Marcos 8:11; 10:2; 12:15; Lucas 11:16; 20:23) O próprio Cristo colocando à prova seus

discípulos (João 6:6; 8:6); de por o Espírito Santo à prova (Atos 5:9), por Deus à

prova (Atos 15:10); de tentar fazer algo, no sentido puro de tentativa (Atos 16:7; 24:6); de ser

tentado internamente por meio de impulsos (1Coríntios 7:5); de por Deus à prova

(1Coríntios 10:9); de provações no geral (1Coríntios 10:13); de provar à nós mesmos, fazendo

um exame pessoal (2Coríntios 13:5); de provação comum a todos os homens, inclusive aos

que auxiliam os que estão sendo provados (Gálatas 6:1); do “tentador” (1Tessalonicensses

3:5); de Cristo sendo tentado assim como nós (Hebreus 2:18); de Deus tentado pelos

antepassados (Hebreus 3:9); Cristo tentado em todos os sentidos, como nós mesmos. (Hebreus

4:15); de Abraão provado no caso do sacrifício de Isaque (Hebreus 11:17); de servos de Deus

para passarem provações externas (Hebreus 11:37); de provações internas (Tiago 1:13; 1:14);

de provar os falsos apóstolos (Apocalipse 2:2); de provação externa, na “prisão” (Apocalipse

2:10); de grande provação externa com todos os seres humanos (Apocalipse 3:10)

Ao analisar os contextos dos versículos acima, chega-se ao entendimento de que não

se pode definir o verbo πειραζω (tentar e ou provar) apenas no sentido de uma inclinação

pecaminosa interna, paixões pecaminosas, uma vez que essa mesma palavra grega é aplicada

à Deus, Jesus, e ao Espírito Santo. Então, nesse caso, ser Deus, Jesus, ou o Espírito santo

“tentado”, ou “posto à prova”, só pode significar algo além de tentação pecaminosa interna,

12
Ibidem, Libronix
21

como a temos devido à nossa imperfeição. Diferentemente de Deus, conforme nos mostra

Mateus 5:48 “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”, ao que

Berkhof declara: “Mas em Deus, a perfeição absoluta, melhoramento e deterioração são

igualmente impossíveis”13

No que tange a tentação, como sendo algo interno, consideramos textos como

1 Coríntios 7:5, Gálatas 6:1 e Tiago 1:13-15 como excelentes exemplos de como as Escrituras

usam πειραζω (peirazo) para se referir a tentações que brotam em nossas mentes e corações

devido a nosso estado de imperfeição e pecadores. Desta forma a tentação possui um aspecto

interno.

Contudo existem textos como de Atos 8:1 e Hebreus 11:37, onde vemos situações que

ocorreram com servos de Deus no passado, que colocaram a fé desse homens à prova, sendo

essas provações causadas externamente pelo próprio ser humano; ou um proceder contrário ao

de Deus, ou até mesmo pela perseguição devido à fé. (Mt. 5:11, 12) As provações e

sofrimentos que atinge os homens ainda que estejam ligados a um aspecto externo, tais

acontecimentos estão debaixo da soberania de Deus, Seu governo e providência. Deus permite

que sejamos provados.

Como citado acima, faze-se necessário dirimir a suposta contradição entre Gênesis

22:1 e Tiago 1:13-14. A compreensão em si é simples, pois apesar de ser usada a mesma

palavra nos dois casos, ambas estão em contextos diferentes. Em Gênesis 22:1, Deus coloca

prova Abraão com um propósito específico. O servo de Deus nunca está isento de passar por

provação. Isso fica claro conforme o comentário de Henry que diz:

“No caso de Gênesis a provação tinha como propósito evidenciar as disposições do


coração de Abrão. Deus provou Abraão, para não levá-lo ao pecado, como é o intento
de Satanás, mas com o propósito de desenvolver a sua fé, uma vez que diante de
grandes provações muitas vezes é exercida uma fé mais intensa.” (tradução nossa) 14

13
BERKHOF – Teologia Sistemática, p.51
14
HENRY - Matthew Henry's commentary on the whole Bible: (Gn 22:1). Peabody: Hendrickson.
22

Em Tiago 1:13-14, embora se use o mesmo πειραζω (peirazo), há um sentido

diferente. Como indicado pelo versículo 15, ali se refere a “por à prova”, ou “tentar”, no

íntimo, ao inclinar alguém a fazer algo que é mal, a cometer uma transgressão da lei divina,

transgressão essa que causará danos a si mesmo e a outros. Nesse sentido, Deus jamais põe

seus servos à; ou seja, Ele jamais influência as pessoas para o mal, jamais incentiva a prática

do pecado, ao invés disso, Ele nos “livra da tentação”, e não nos conduz à ela. (Mateus 6:13).

Henry expõe com clareza o problema da relação da tentação com pecado ao dizer:

“Na verdade o problema de todo o mal moral é devido a algum distúrbio no ser que é
exigível com ele, a uma falta de sabedoria, ou de poder, ou do decoro e da pureza, na
vontade. Todo homem é tentado quando ele é seduzido pela sua própria
concupiscência, e por esta seduzido.”15

O termo em Tiago refere-se aos momentos perigosos e decisivos, nos quais um

caminho errado se abre diante de nós e se torna aparentemente viável e sedutor. Nas

Escrituras repetidamente vemos pessoas nessa situação, conforme pode citar alguns exemplos:

Eva perto da árvore proibida e com os desejos despertados e fortalecidos pelo tentador,

querendo servir-se dos frutos (Gênesis 3.1-6). Caim, aparentemente preterido e cheio de

rancor (Gênesis 4.3-8). José no Egito, com a possibilidade de, não obstante a situação criada

pela vileza dos irmãos, tornar as coisas bem agradáveis para si (Gênesis 39.7-10). Absalão,

com a chance de agora se tornar rei (2Samuel 15.1-12).16 Assim vemos que, embora Gênesis e

Tiago usem a mesma palavra, cada um dos relatos tem um sentido diferente. Portanto, não há

contradição entre as duas passagens.

Fica claro que Deus pode, permitir que adversidades nos atinjam, podemos sofrer

devido a alguma injustiça, uma doença, ou qualquer outra situação lastimável. Ao permitir

que isso ocorra, de certa forma Deus nos põe à prova, e através da provação se pode ver até

onde vai nosso amor por Deus.

15
Ibidem, Tg 1:13
16
GRÜNZWEIG - Comentário Esperança, Carta de Tiago; Comentário Esperança, Tiago
23

O fator determinante para se saber se está sendo “provado” (testado), ou “tentado” é o

propósito final de toda a situação. A “provação” vem de Deus, e visa um fim proveitoso, ou

seja, a edificação da pessoa que passa por esta ou aquela situação. Já a tentação visa à ruína

humana. Satanás tem como objetivo a destruição, em todos os aspectos do servo de Deus.

Este foi seu objetivo na tentação do Senhor Jesus.

2. Reformado

Origem terminológica

Para se definir o que significa o termo “reformado” é preciso, mesmo que brevemente,

ter uma visão do movimento da Reforma Protestante do século XVI. Timothy George assim

define o movimento da Reforma do século XVI: “Apesar de toda sua ênfase no retorna à

igreja primitiva do Novo Testamento e da época patrística, a Reforma consistiu

essencialmente num movimento visando ao futuro.” 17 Percebe-se que foi um movimento que

visou trazer a igreja de volta a uma ética e um estilo de vida semelhantes ao dos apóstolos e

dos primeiros pais. A razão desta luta nesta direção foi que nos séculos anteriores à Reforma

havia um sentimento de ansiedade no povo em geral.18 Huizinga descreve que “nos fins da

Idade Média pesava na alma do povo uma tenebrosa melancolia”.19 George ao falar de Lutero

descreve que as suas famosas angústias espirituais, espelhava “a epítome dos medos e das

esperanças de sua época.” 20 Ainda que Calvino não fosse dominado por esse sentimento, ele

refletia uma constatação natural: a fragilidade humana. Podemos compreender melhor esse

entendimento quanto aos perigos convenientes da vida, observando o que Calvino diz:

17
GEORGE - Teologia dos Reformadores, p. 319
18
MAIA - Raízes da Teologia Contemporânea, p. 73
Tillich denomina a ansiedade predominante nos fins da Idade Média de “ansiedade moral” e “ansiedades da
culpa e da condenação”. (Paul Tillich, A Coragem de Ser, 3ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976, p. 44 e 45)
19
HUIZINGA - O Declínio da Idade Média, p. 31
20
GEORGE - A Teologia dos Reformadores, p. 26
24

“Incontáveis são os males que cercam a vida humana, males que outras tantas mortes
ameaçam. Para que não saiamos fora de nós mesmos: como seja o corpo receptáculo
de mil enfermidades e dentro de si, na verdade, contenha inclusas e fomente as causas
das doenças, o homem não pode a si próprio mover sem que leve consigo muitas
formas de sua própria destruição e, de certo modo, a vida arraste entrelaçada com a
morte. “Que outra cousa, pois hajas de dizer, quando nem se esfria, nem sua, sem
perigo? Agora, para onde quer que te voltes, as cousas todas que a teu derredor estão
não somente não se mostram dignas de confiança, mas até se afiguram abertamente
ameaçadoras e parecem intentar morte pronta. Embarca em um navio: um passo distas
da morte. Monta um cavalo: no tropeçar de uma pata a tua vida periclita. Anda pelas
ruas de uma cidade: quantas são as telhas nos telhados, a tantos perigos estás exposto.
Se um instrumento cortante está em tua mão ou de um amigo, manifesto é o
detrimento. A quantos animais ferozes vês, armados estão-te à destruição. Ou que te
procures encerrar em bem cercado jardim, onde nada senão amenidade se mostre, aí
não raro se esconderá uma serpente. Tua casa, a incêndio constantemente sujeita,
ameaça-te pobreza durante o dia, durante a noite até mesmo sufocação. A tua terra de
plantio, como esteja exposta ao granizo, à geada, à seca e a outros flagelos,
esterilidade te anuncia e, dela a resultar, a fome. Deixo de referir envenenamentos,
emboscadas, assaltos, a violência manifesta, dos quais parte nos assedia em casa, parte
nos acompanha ao largo. “Em meio a estas dificuldades, não se deve o homem,
porventura, sentir assaz miserável, como quem na vida apenas semi vivo, sustenha
debilmente o sôfrego e lânguido alento, não menos que se tivesse uma espada
perpetuamente a impender-lhe sobre o pescoço?” 21

Ainda na obra “A Verdadeira Vida Cristã” de João Calvino pode ver o seguinte:

“Se considerarmos a enorme quantidade de acidentes aos quais estamos sujeitos,


veremos o quão necessários é exercitarmos nossa mente desta maneira. “Enfermidades
de todos os tipos tocam nossos débeis corpos, uma atrás da outra: ou a pestilência nos
enclausura, ou os desastres da guerra nos atormentam. “Em outra ocasião, as geadas e
os granizos destroem nossas colheitas, e ainda somos ameaçados pela escassez e a
pobreza. Em vista destes acontecimentos, as pessoas maldizem suas vidas, e até o dia
em que nasceram; culpam o sol e às estrelas, e ainda censuram e blasfemam a Deus,
como se Ele fora cruel e injusto.”22

23
Pascal, mais tarde constataria que “Só o homem é miserável” e, ao mesmo tempo

grande, porque “ele se conhece miserável”.24 No entanto, Calvino não termina o seu

argumento numa descrição “existencialista” da vida, mas na certeza própria de um coração


25
dominado pela Palavra de Deus, falava da “incalculável felicidade da mente piedosa.”

“Quando, porém, essa luz da Divina Providência uma vez iluminou o homem piedoso, já não

21
João Calvino, As Institutas, I.17.10.
22
CALVINO, A Verdadeira Vida Cristã, p. 43.
23
PASCAL - Pensamentos, (Os Pensadores, Vol. XVI), 1973, VI.399. p.136.
24
Ibidem, VI.397. p. 136.
25
CALVINO - As Institutas, I.17.10.
25

só está aliviado e libertado da extrema ansiedade e do temor de que era antes oprimido, mas

ainda de toda preocupação. Pois assim como, com razão, se arrepia de pavor da Sorte,

também assim ousa entregar-se a Deus com plena segurança.” 26

A Reforma Protestante começou na Alemanha, em 1517, com o monge Martinho

Lutero. Os seus seguidores logo passaram a ser conhecidos como “luteranos”. Logo depois,

na Suíça, país vizinho surge um novo movimento protestante, independente do movimento já

existente de Lutero, que, para distinguir-se do mesmo, passou a ser denominado de

“reformado”. Essa designação resultou do entendimento de que a “Segunda Reforma” ou

“Reforma Suíça” estava realizando uma obra de renovação da igreja mais profunda e radical

do que aquela proposta por Lutero.

Quando do seu início a movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Ulrico

Zuínglio. Entretanto, em virtude da morte prematura deste, o movimento veio a associar-se

com o seu maior teólogo e articulador, que foi o francês João Calvino. Portanto, o movimento

reformado é o ramo do protestantismo que surgiu na Suíça do século XVI, tendo como líderes

originais Ulrico Zuínglio, em Zurique, e especialmente João Calvino, em Genebra. Esse

movimento veio a caracterizar-se por certas concepções teológicas e formas de organização

eclesiástica que o distinguiram de todos os demais grupos protestantes (luteranos, anabatistas

e anglicanos). Contudo, o termo “reformado” é mais que a designação de uma tradição

teológica ou eclesiástica. É um conceito abrangente que inclui todo um modo de encarar a

vida e o mundo a partir de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania

de Deus.27

26
CALVINO - As Institutas, I.17.11.
27
MATOS, Apostila “Panorama da História da Igreja”, p.01
26

A Reforma Protestante do século XVI foi um movimento eminentemente religioso28 e

teológico29, estando ligada à insatisfação espiritual de dezenas de pessoas que certamente

expressavam o sentimento de milhares de outras, que através dos tempos não encontravam na

igreja romana espaço para a manifestação de sua fé nem alimento para as suas necessidades

espirituais. As insatisfações não visam criar uma nova igreja, mas sim, tornar a existente mais

bíblica.

Portanto, a Reforma deve ser vista não como um movimento externo, mas sim, como

um movimento interno por parte de “católicos” piedosos30 que, diga-se de passagem, ao longo

dos séculos tinham manifestado a sua insatisfação, quer através do misticismo, quer através de

uma proposta mais ousada, que desejavam reformar a sua Igreja, revitalizando-a,

transformando-a na Igreja dos fiéis.

O filósofo Mondin, disse: “A Reforma protestante foi um acontecimento

essencialmente religioso, mas causou ao mesmo tempo profundas transformações políticas,


31
sociais, econômicas e culturais.” Em outro lugar Mondin reafirma: “Como dissemos no

início do capítulo, a Reforma protestante foi antes e acima de tudo um acontecimento

religioso. Em conseqüência disso, ela deve ser estudada e julgada segundo critérios

religiosos, mais precisamente, segundo os critérios da fé cristã, cujo espírito original a

Reforma se propunha restabelecer.”32

Entretanto, não se pode esquecer que as mudanças causadas pelo Renascimento e

Humanismo da época contribuíram com a Reforma, pois a mesma ocorreu na história, dentro

das categorias tempo e espaço, onde o homem está inserido. Contudo isso não diminui as

causas e muito menos o valor inerente da Reforma; pelo contrário, vem apenas confirmar o
28
BIÉLER - O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 43, 67
29
Compartilhando do entendimento do Dr. Tom Nettles que diz: “Tentativas de Reforma através do tratamento
de dimensões morais, espirituais e eclesiológicas, ignorando a teológica, sempre falharam.” NETTLES, Tom -
Um Caminho Melhor: Crescimento de Igreja através de reavivamento e reforma: Em: Michael Horton, p. 134.
30
LÉONARD - O Protestantismo Brasileiro, p. 27-28.
31
MONDIN - Curso de Filosofia, Vol. II, p. 27
32
Ibidem, Vol. II, p. 41
27

que a Palavra de Deus ensina e no que creram os reformadores, a saber: Deus é o Senhor da

história. D. Martyn Lloyd-Jones diz: “A chave da história do mundo é o Reino de Deus.” 33

Toda a relação “natural-histórico” não é casual nem cegamente determinada: É

dirigida por Deus, o Senhor da História.34 O propósito de Deus na história como realidade

presente, faz parte da essência de nossa fé.

A concepção da Reforma como um movimento originariamente religioso não implica

na compreensão de que ela esteve restrita a apenas esta esfera da realidade; pelo contrário, a

Reforma foi um movimento de grande alcance cultural, institucional, social e político na

história Européia e, posteriormente em todo o Ocidente. A magnitude da influência da

Reforma em diversos setores da vida estava tácita em sua própria constituição: Era impossível

alguém abraçar a Reforma apenas no campo da religião e continuar em tudo o mais a ser um

homem de uma ética medieval, com a sua perspectiva da realidade e prática intocáveis. O Dr.

Herminsten Maia diz que a Reforma em sua própria constituição era extremamente

revolucionária no sentido de contribuir para que o indivíduo mudasse sua mentalidade e

conseqüentemente seus valores.35

A Reforma teve como objetivo principal uma volta às Sagradas Escrituras, a fim de

reformar a Igreja que havia caído ao longo dos séculos, numa decadência teológica, moral e

espiritual. A preocupação dos reformadores era principalmente “a reforma da vida, da

adoração e da doutrina à luz da Palavra de Deus”.36 Desta forma, a partir da Palavra, passaram

a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo! “A reforma foi acima de tudo uma

proclamação positiva do evangelho Cristão.” 37

A Reforma nada inventou propriamente falando, porquanto só fez rebuscar e

33
LOYD JONES - Do Temor à Fé, p. 23.
34
FARLEY - A Providência de Deus na Perspectiva Reformada, p. 74.
35
COSTA – Apostila: A Nossa Identidade Reformada
36
BROWN, Filosofia e Fé Cristã, p. 36.
37
LEITH - A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 36.
28

reencontrar as raízes próprias da fé cristã, que mergulham tanto no patrimônio judeu integral

do Antigo Testamento quanto na herança dos apóstolos e dos discípulos de Jesus Cristo, que

nos é transmitida pelo Novo Testamento. A força dos reformadores consiste em nos ter

ensinado um método de reinterpretação da eterna e imutável Palavra que Deus dirige a suas

criaturas por meio das Escrituras, dinamizadas pelo Espírito Santo.38

Para melhor compreensão do termo “reformado” se faz necessário uma resumida

abordagem das principais características da Tradição Reformada. A exposição equilibrada das

Escrituras é uma característica da teologia reformada, um dos símbolos de fé de nossa igreja,

a Confissão de Fé de Westminster afirma:

Pelo Testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e relevante


apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da
sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo
do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio
de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa
perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra
de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina
autoridade provém da operação interna do Espírito Santo que, pela Palavra e com a
Palavra, testifica em nossos corações.39

Outra característica da Tradição Reformada é a combinação equilibrada da mente e

coração. De acordo com Calvino, o aprendizado do conhecimento e a piedade deviam estar

juntos, caso contrário, as distorções eram certas. Calvino afirmou que o conhecimento de

Deus produz piedade:

Chamo piedade à reverência associada com o amor de Deus que nos faculta o
conhecimento de seus benefícios. Pois, até que os homens sintam que tudo devem a
Deus, que são assistidos por seu paternal cuidado, que é ele o autor de todas as coisas
boas, daí nada se deve buscar fora dele, jamais se lhe sujeitarão em obediência
voluntária. Mais ainda: a não ser que ponham nele sua plena felicidade,
verdadeiramente e de coração nunca se lhe renderão por inteiro.40

Por fim, a Reforma traz o correto entendimento da Palavra de Deus de que justificação

pele fé somente. Esse é o grande brado dos reformadores.


38
BIÉLER - A Força Oculta dos Protestantes, p. 56-57.
39
___, A Confissão de Fé de Westminster, p. 07
40
CALVINO – As Institutas Vol.1 – Livro I - Capítilo II, p.51
29

Calvino compara a fé a um vaso vazio: “Comparamos a fé a uma espécie de vaso; pois

a não ser que cheguemos vazios e com a boca de nossa alma aberta para buscar a graça de

Cristo, não somos capazes de receber Cristo.” 41 O vaso não pode ser comparado em seu valor

ao tesouro que ele contém (2 Coríntios 4:7).

Este princípio, então, se choca com outra questão levantada pelos reformadores quanto

às indulgências. Uma taxa cobrada pela igreja de Roma, onde na compra da mesma, o

portador receberia perdão de seus pecados, abrindo-lhe as portas do céu. Receber perdão por

meio financeiro não estava de acordo com as Escrituras, a justificação, segundo a mesma, é

pela fé em Cristo Jesus, gratuitamente. A fé, então, estava sendo praticada como meio de

enriquecimento da igreja romana, esta era uma prática Papal.

O termo reformado, então, se enche de significado. Quando alguém se autodenomina

reformado, ele quer informar, primeiro, que não é adepto do catolicismo romano, pois os dois

se excluem. Segundo, e este sentido é o mais importante, alguém que se diz reformado é

aquele que concorda com a visão hermenêutica dos reformadores, ou seja, é alguém que

interpreta as Escrituras tendo-os como parâmetro. A hermenêutica dos reformadores é

histórico-gramatical. Conseqüentemente, toda a doutrina reformada tende a ser unificada, ao

menos teoricamente, pois, as regras de interpretação do texto bíblico são padronizadas.

Dr. Augustus Nicodemus contribui grandemente para o correto entendimento do que

significa ser reformado. No artigo Pneumatologia Reformada, De Verdade! Definições E

Desafios Contemporâneos ele inicia sua abordagem afirmando que “não existe unanimidade

entre os que se consideram herdeiros da Reforma protestante quanto ao sentido do termo”,

lembrando que, historicamente, este termo foi usado a princípio indistintamente para todos os

protestantes (Luteranos, Zwinglianos ou Calvinistas).

41
CALVINO - As Institutas, III.11.7.
30

Mas, devido às circunstâncias, o termo tornou-se mais e mais seletivo: “Com as

controvérsias entre eles sobre a Ceia, os ‘reformados’ foram designado zwinglianos e

calvinistas somente, em contraponto aos luteranos. E com o arrefecimento da importância de

Zwinglio no cenário protestante, ‘reformados’ passou a designar os calvinistas”.42 Descreve

ainda:

Assim, embora para alguns hoje ser reformado seja pertencer a uma igreja que
historicamente descende da reforma protestante, ou ainda manter o espírito reformista
que marcou os reformadores, é mais exato dizer que o conceito está ligado às
principais convicções doutrinárias dos reformadores, particularmente às de João
Calvino.43

Ele conclui de maneira determinante dizendo que “se considerarmos que apenas os

que se mantêm leais aos principais pontos da doutrina calvinista podem ser realmente

chamados de reformados, verificaremos que são poucos os verdadeiros reformados”.

3. Providência

3.1. Etimologia:

A palavra “Providência” vem do latim “Providentia”, junto a ela vem a palavra

“prover” que tem sua raiz no “Providere”. Etimologicamente o termo significa “ver antes”,

"prover algo para" ou “ver de antemão”. Diante de tais definições, a palavra fica longe de

conseguir elucidar o profundo significado da doutrina da providencia, a qual significa muito

mais do que Deus ser um espectador dos eventos humanos.

No entendimento teológico, a palavra veio a significar “o exercício de todo o cuidado

e controle que a infinita previsão de Deus de seus próprios fins e seu conhecimento que seus

instrumentos apontados podem sugerir”. 44

42
LOPES - Pneumatologia Reformada, De Verdade! Definições E Desafios Contemporâneos -
http://www.thirdmill.org/files/portuguese/48933~9_19_01_11-14-53_AM~PNEUMATOLOGIA_REFORMADA.html
acessado em 25/05/2009
43
LOPES, op cit., acessado em 25/05/2009
44
CAMPOS – O Ser de Deus e Suas obras: A Providência, p.13
31

3.2. A Providência de Deus na visão Cristã Reformada:

Conforme já abordado, a Fé Reformada possui fundamentos das quais não abre mão,

os quais corroboram, com a base de sustentação da teologia reformada. Em conformidade

com as Escrituras Sagradas, a Fé Reformada crê que Deus sustenta todas as coisas pela força

do Seu poder45 e que assim sendo a soberania do Senhor é absoluta. É importante ressaltar que

a Fé Reformada não é dualista, por entender que Deus e o homem, não estão no mesmo nível.

Deus é Criador, e o homem é Sua criatura. A Fé Reformada crê também, que a Escrituras

Sagradas é autoridade sobre os homens, sendo esta, regra de fé e prática; por conseguinte, vê

o homem como a Bíblia diz que ele é: uma criatura de valor, feita à imagem e semelhança de

Deus, vice-gerente de Deus na terra, responsável pela administração das obras das mãos de

Deus, contudo caído e morto em pecado, incapaz até mesmo de desejar o bem. Ressalta-se

que a Fé Reformada é oposta a tudo que é contrário aos ensinamentos das Escrituras

Sagradas.

Conforme já mencionado acima, a Fé Reformada tem aspectos que lhe são peculiares

e únicos. Crê na Trindade.46 Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma

essência47, poder e eternidade. Berkhof descreve que a subsistência e as operações das três

pessoas da Trindade são assinaladas por uma ordem definida, assim ele descreve: “Há uma

certa ordem na Trindade ontológica.”48 Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, O

Pai não é de ninguém, não é nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do

Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho49. A Trindade ontológica, e

45
Conforme Hebreus 1:3
46
A palavra “Trindade” não é tão expressiva como a palavra holandesa “Drieenheid”, pois pode simplesmente
denotar o estado tríplice (ser três), sem qualquer implicação quanto à unidade dos três. Geralmente se entende,
porém, que, como, termo técnico na teologia, inclui essa idéia. Mesmo porque, quando falamos da Trindade de
Deus, nos referimos a uma trindade em unidade, e a uma unidade que é trina. (Ver Berkhof, p. 77)
47
Assim Berkhof define: O termo essência (ousia, essentia) descreve Deus como a soma total das perfeições
infinitas. Ver obra Teologia Sistemática de Louis Berkhof, p.79
48
BERKHOF – Teologia Sistemática, p. 81
49
Confissão de Fé de Westminster, Capitulos II – De Deus E Da Santíssima Trindade
32

sua ordem inerente constituem a base transcendente da Trindade econômica. Desta forma,

essa ordem reflete nas opera ad extra (obras externas ao ser essencial) que é atribuída a cada

uma das pessoas da Trindade. A Escritura indica claramente esta ordem nas chamadas

“praepositiones distinctionales, ek, dia, e en”, utilizadas para expressar a idéia de que todas as

coisas provêm do Pai, mediante o Filho, e no Espírito Santo.50 É preciso salientar que existem

certos atributos pessoais pelos quais se distinguem a Trindade, permitindo que o Ser Divino

opere de forma pessoal e não em conjunto. Berkhof chama de opera ad intra, porque são

obras realizadas no interior do Ser Divino e não se finalizam na criatura. São operações

pessoais, não realizadas pelas três pessoas juntas. A geração é um ato exclusivo do Pai, a

filiação pertence exclusivamente ao Filho, e a processão só pode ser atribuída ao Espírito

Santo.51 A opera ad intra, se distinguem das opera ad extra, pois a opera ad extra são as

atividades e efeitos pelos quais a Trindade se manifesta exteriormente. Ressalta-se que, na

ordem econômica das obras de Deus, algumas das obras ad extra são atribuídas mais

particularmente a uma pessoa, algumas mais especialmente a outra, e assim com cada uma

das três pessoas divinas. Conquanto sejam obras das três pessoas conjuntamente, atribui-se a

criação primariamente ao Pai, e redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo. Esta

ordem das operações divinas indica a ordem essencial de Deus e forma a base daquilo que
52
geralmente se conhece como Trindade econômica.

Os reformados entendem ser herdeiros de uma teologia que passa por Paulo, Tomas

de Aquino, Agostinho, Lutero, Calvino e pela assembléia de Westminster. A teologia

reformada é em primeiro lugar a teologia da reforma, sintetizada nos cinco princípios

cardeais defendidos pelos reformadores da seguinte forma: Sola Scriptura53; Solo Christo54;

50
Op. cit. p. 81
51
Op. cit. p. 82
52
Idem
53
Sola Scriptura - Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para
constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o
padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. (Extraído de Declaração de Cambridge)
33

Sola gratia55; Sola fide56; Soli Deo gloria57. A ênfase central da fé reformada está na teologia

propriamente dita, a doutrina de Deus, acentuando a plena soberania de Deus em todas as

coisas; na criação, na providência e acima de tudo na redenção. 58 O Dr. Matos, citando B.B.

Warfield e C. Van Til dize que eles referem-se a isso como uma atitude religiosa específica

que se expressa numa profunda apreensão de Deus em sua majestade.59

Dessa convicção primordial, decorre todo o arcabouço da teologia reformada, a

começar da sua antropologia, ou seja; diante de um Deus tão grandioso e santo, o ser

humano só pode ter uma profunda consciência da sua própria pecaminosidade e total

dependência em relação ao Deus triúno e soberano. Daí também decorre a soteriologia,

expressa pelo Sínodo de Dort nos chamados cinco pontos do calvinismo: Depravação total;

Eleição incondicional; Expiação limitada; Graça irresistível (vocação eficaz) e Perseverança

dos santos.

Desta forma, os ensinos, da igreja Reformada requerem uma postura ética, correta e

acima de tudo bíblica perante a família e a sociedade compreendo que Deus governa,

controla e rege todas as coisas para Sua própria glória. Deus age na esfera temporal

executando Seu plano concebido na eternidade.

54
Solo Christo - Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória de Cristo. Sua
vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação
com o Pai. (Extraído de Declaração de Cambridge)
55
Sola gratia - Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra
sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos
da morte espiritual à vida espiritual. (Extraído de Declaração de Cambridge)
56
Sola fide - Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por
causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a
perfeita justiça de Deus. (Extraído de Declaração de Cambridge)
57
Soli Deo Gloria - Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de
Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade
de Deus, e para sua glória somente. (Extraído de Declaração de Cambridge)
58
MATOS - Aspectos Essências da Identidade Reformada, extraído de:
http://old.thirdmill.org/files/portuguese/61825~11_1_01_9-39-
35_AM~ASPECTOS_ESSENCIAIS_DA_IDENTIDADE_REFORMADA.html dia 23/09/10
59
MATOS - Jonathan Edwards: Teólogo Do Coração E Do Intelecto, extraído de:
http://www.mackenzie.br/7077.98.html na data de 23/09/10
34

Dr. Héber de Campos apresenta assim este ponto de vista:

O Deus que Escritura Sagrada apresenta é um Deus criador e que tem grande preocupação
com aquilo que cria. Portanto, a doutrina da providência trata de todos os atos externos de
Deus que aparecem subseqüentemente à criação. Somente as coisas que vieram à existência é
que são objeto das obras providenciais de Deus. Estas opera ad extra são a execução temporal
e sucessiva do seu plano eterno já estudado na doutrina do decreto. 60
Tudo aquilo que foi criado e veio à existência é alvo da ação providencial de Deus. Estas

obras externas são a execução temporal e sucessiva do seu plano eterno para toda a criação.

Deste modo, a providência do Deus Trino são os Seus atos externos61 conforme descreve

Dr. Heber de Campos.

Portanto podemos definir a providência divina como a atividade do Deus triúno


através da qual ele (a) provê as necessidades de suas criaturas, (b) preserva todo o
universo criado, (c) dirige todos os caminhos individualmente; (d) governa toda a obra
de suas mãos (e) retribui todas as obras más e (f) concorre em todos os atos de suas
criaturas racionais, sejam atos bons ou maus, de modo que nada escapa ao seu
controle. 62

3.3. O desprezo à doutrina da Providência:

A doutrina da Providência não pode ser negada por um cristão verdadeiro. A bíblia

mostra um Deus transcendente e ao mesmo tempo imanente, ou seja, se preocupa com o que

foi criado e está envolvido com ela. A carta aos Hebreus, no capítulo 1, versículo 3 afirma:

“sustentando todas as coisas pela palavra de seu poder”, além de sustentar Deus controla,

Paulo diz isso na sua carta aos Romanos, 11:36 “porque dele e por meio dele e para ele são

todas as coisas”.

Todo este controle diz respeito, também, aos atos bons e maus que vierem a acontecer,

como disse Jó a sua esposa: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus, e

não receberíamos também o mal?” Jó 2:10. Porém, este ponto de vista é defendido apenas por

cristãos genuínos que reconhecem o controle e o governo de Deus sobre todas as coisas.

60
CAMPOS, op cit., p.13
61
Dr. Herber Campos define assim os atos externos de Deus: “Estas opera ad extra são a execução temporal e
sucessiva do seu plano eterno já estudado na doutrina do decreto.” Em O Ser de Deus e as suas obras:
A PROVIDÊNCIA, p.7
62
Ibidem, p.13
35

Percebe-se que a partir do século XlX acontece um certo descrédito com respeito a

doutrina da Providência. Uma das razões que se pode enunciar é o surgimento do Naturalismo

Científico.

A ciência começou a dispensar a idéia de Deus presente, dizendo que todas as coisas

existentes tinham uma causa simplesmente natural, ou seja, dentro do próprio universo

existiam as causas de sua existência. O Dr. Heber de Campos assim explica:

O estudo da ciência começou dispensando a idéia de Deus presente neste mundo por
enfatizar o naturalismo. Todos os fenômenos acontecidos neste mundo passaram a
possuir uma causa natural, dentro dele próprio, nunca tendo uma causalidade fora de si
mesmo, isto é, na obra providencial de Deus. A natureza começou a ser estudada
como auto-causada. Em vês de atribuir os fenômenos da natureza a um Princípio
causal último que é Deus, os estudiosos começaram a falar da Mãe Natureza como
sendo a explicação causal última das coisas. O nosso mundo tornou-se independente,
autônomo e o estudo dos fenômenos físicos ficou trancafiado nas causas naturais. O
aparecimento do estudo das origens das espécies foi apoiado pelo desenvolvimento do
deísmo.63

O deísmo preconiza que Deus, de fato, criou, porém, não tem nenhuma espécie de

relacionamento com o que foi criado. Todos os acontecimentos relacionados ao universo têm

sua origem na própria natureza.

Outra razão da doutrina da Providência ter caído no descrédito no mundo moderno

são os pensamentos extremamente difundidos de pensadores como Nietzsche, Marx e Freud.

Berkouwer afirma que equivocadamente “a doutrina da providência foi freqüentemente usada

como um outro modo de afirmar a crença na evolução progressiva do homem.”64

O aparecimento do estudo das origens das espécies foi apoiado pelo desenvolvimento do

deísmo. O deísmo65 criou o “pano de fundo” teológico que ocultou o desenvolvimento do

evolucionismo. De acordo com o etendimento deísta, Deus se revela através da ciência e as

63
Ibidem, p.17
64
G. C. Berkouwer, The Providence of God (Grand Rapids: Eerdmans, 1952), 13.
65
O deísmo é a concepção de que um deus transcendente tenha criado o universo e em seguida se distanciado
dele. Este deus não é imanente, não se envolve na história (negação da história bíblica). Extraído de:
http://www.ipcg.org.br/ipcg/?page_id=433&paged=38 acessado dia 27/09/10
36

leis da natureza66. De acordo com os deístas, Deus estava fora deste mundo, sem possuir

qualquer envolvimento com ele e, logo, todas as explicações sobre os fenômenos acontecidos

no universo tinham que ter sua origem na própria natureza. A verdade é que não sobrou

espaço para Deus em virtude do naturalismo científico.

Dr. Heber descrevre que especialmente após Friedrich Schleiermacher, tornou-se

comum falar na religião como algo não além da subjetividade humana. Toda a manifestação

religiosa não passava de uma explosão de sentimentos vindos do coração do homem.67 É certo

que tal manifestação religiosa não era o desenvolvimento do semen religionis68 ensinado por

João Calvino em suas Institutas da Religião Cristã mas apenas um sentimento da própria

subjetividade humana, sem que esta fosse despertada pela revelação divina que está fora de

nós e causa impacto nos seres humanos, o que podemos chamar de existêncialimo.

O existencialismo é uma corrente filosófica que destaca a liberdade individual, a

responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo considera cada homem

como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino. 69 Dr. Heber descreve que,

embora a religião seja um fenômeno universal entre os homens, ele (o homem) passou a crer

que era apenas uma expressão das necessidades egoístas interiores do ser e nada mais. Afirma

ainda que essa corrente filosófica desenvolveu-se com Ludwig Feuerbach, Neitzsche, Marx e

Freud.70

66
Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/De%C3%ADsmo acessado dia 27/09/10
67
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 10
68
A verdadeira sabedoria consiste de dois elementos: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos.
Daí a importância da revelação. Não podemos conhecer a Deus em sua essência, mas somente na medida em que
ele se dá a conhecer a nós. Existe um duplo conhecimento de Deus: como criador e como redentor. Todo ser
humano é essencialmente uma criatura religiosa, tendo em si a “semente da religião” (Semen Religionis). Deus
se revela não só através desse senso inato de si mesmo, mas também através das maravilhas da criação. Esse
conhecimento de Deus revelado na natureza exige uma resposta humana, seja de piedade ou idolatria. O fim
último da piedade não é a salvação individual, mas a glória de Deus.
69
Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo acessado dia 27/09/10
70
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 10
37

A idéia da divindade entre os homens nasce em sua subjetividade sem que nunca seja

impactada por alguma coisa que proceda de fora de deles. De acordo com a corrente

subjstivista, a religião é apenas produto do “eu” carente. Feuerbach citado por Berkouwer em

Studies in Dogmatics - The Providence of God:

“explicou a religião como um vontade de projeção egoísta e subjetiva.


Olhando para a religião de forma empírica, Feuerbach chegou à conclusão
de o que homem era o começo, o meio e o fim da religião. Ou seja, no
entendimento dele a questão da teologia era algo antropologico.”71 (tradução
nossa)

Desta forma a religião passou a ser um fenômeno puramente humano, sem qualquer

relacionamento com alguém de fora da esfera humana. De acordo com o entendimento de

Feuerbach, Deus ficou de fora da religião. Assim de acordo com Feuerbach não há espaço

para a Providência Divina, pois, quanto mais se estuda a religião, mais se conhece o homem.

Friedrich Wilhelm Nietzsche foi outro grande pensador que abraçou o ateísmo

dizendo: “Deus está morto”, e afirmava que o cristianismo só gerou conformismo e

mediocridade, numa época de ufanismo europeu em que o progresso da ciência e da

tecnologia começaram a fascinar o pensamento humano.72 Segundo Nietzsche, Deus estava

morto na sua filosofia, e a religião não tinha nada a ver com a sua ação no mundo dos

homens.73 Pensamento equivocado e reprovado pelas Escrituras, pois esta revela o Deus vivo

e verdadeiro, assim como o céus proclamam a glória de Deus e firmamento anunciam as obras

das Suas mão.74

Berkouwer descreve que Freud não conseguiu fugir da subjetividade da religião. Para

Freud, a religião era uma “projeção do homem cercado e ameaçado pelos poderes da natureza.

Sem defesa contra essas ameaças, o homem procurou por lugares de refúgio.”75 De acordo

com o entendimento de Freud, a providência divina nasceu do pensamento humano. Para ele

71
BERKOUWER - The Providence of God - Libronix
72
http://www.cafeesaude.com.br/cafeesaude/ciencia_filosofia_religiao.htm Acessado dia 30/09/10
73
BERKOUWER - The Providence of God - Libronix
74
Salmos 19
75
Ibidem - Libronix
38

(Freud) a Providência Divina é apenas uma proeminência do que o homem faz em seu favor.

Veja a citação de Berkouwer quanto ao pensamento de Freud:

“Falamos a nós mesmos que é extremamente belo, de fato, que haja um Deus
criador do universo, uma suave providência, uma determinação moral, e uma
vida por vir. Todavia tudo isto seja precisamente como deveríamos desejar
para nós mesmos.” 76

O Dr. Heber descreve que isso é uma proeminência de nossos sentimentos, uma ilusão

simplesmente, não o resultado da realidade de um Deus presente entre nós, o seu mundo

criado. Com esse sentimento interior projetado, os seres humanos vivem e dele se

alimentam.77 Em virtude da extrema carência do “eu”, mais adiante, com Karl Marx e o

desenvolvimento do materialismo científico, a religião veio a ser idealizada como o “ópio do

povo”, para deixá-lo a deriva diante das dificuldade emergentes. De acordo com Marx, a

religião seria apenas um escape para a miséria e os males sociais.78

No entanto, o conceito e o entendimento de religião não submergiu, mas continuou

sendo o remédio para as dores causadas pelos sofrimentos pessoais e sociais do mundo.

Permaneceu apenas como expressão da subjetividade humana.

Contudo, por bom tempo a doutrina da providência sobreviveu dentro do cristianismo

histórico. O evolucionismo começou a reinar no século XIX, mas a doutrina da providência

divina foi preservada quase que intacta até uma certa altura, quando se deu o irrompimento

das duas guerras mundiais, e o otimismo em que o mundo vivia com respeito à bondade do

homem, caiu por terra e, com isso, apareceu a dúvida de que Deus continuava a agir

providencialmente com bondade em nosso mundo.79

Dr. Heber afirma que logo após a deflagração dos dois grandes conflitos mundiais e

em função do deísmo, muitos penderam para o agosticismo em virtide do desapontamento

76
Ibidem - Libronix.
77
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 12
78
Ibidem, p.12
79
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 12
39

com sofrimento humano.80 Nesse instante instala-se um sentimento de dúvida quanto ao

envolvimento de Deus com as coisas criadas, com suas criaturas. Houve dúvidas quanto a

participação de Deus na história. Em toda a parte várias dúvidas intensas foram levantadas

quanto a realidade da existêencia de Deus bem como seu governo sobre tudo quanto foi

criado. Os homens não apenas negaram a Providência Divina sobre tudo quato foi criado, mas

zombaram a idéia por olharem para o que estava em volta deles.81

Nesse contexto surge movimentos emergentes do existencialismo, marcando na

história o renascimento do subjetivismo, mas com características de maior incredulidade.

Dr. Heber ressalta ainda que necesse cenário político houve o surgimento do comunismo que

negou a idéia de religião e a considerou como sendo apenas ópio do povo. Desacreditou-se

em Deus em muitos círculos do mundo pensante, à medida que os males sociais se tornaram

cada vez maiores.Nunca houve tempo de tantas tempestades filosóficas em que a confissão da

igreja reformada sobre a providência divina tenha sofrido tão sério golpe! Com o surgimento

das filosofias e com o aumento dos problemas sociais no mundo a pregação sobre a

providência divina tornou-se inviável porque as pessoas começaram a duvidar de que havia

um Deus preocupado com este grande e sofrido universo.

Em alguns círculos cristãos, a ortodoxia do cristianismo entrou em crise e não foi

suficientemente forte para reverter a situação.

As duas grandes guerras foram um balde de água fria naqueles que criam num Deus

providente e cheio de cuidados pelo mundo. As atrocidades cometidas nas guerras acabaram

com a esperança do povo, em virtude da teologia liberal que já havia dominado as igrejas da

Europa e da América do Norte. O cristianismo mundial, perdeu seu interesse pelo estudo da

Providência Divina porque, muitos cristãos não haviam sido devidamente educados na sã

doutrina.

80
Ibidem, p.12
81
BERKOUWER, The Providence of God - Libronix.
40

Conclusão

Definir os termos é de vital importância para que se tenha uma boa comunicação. Ao

ler as definições dos termos chaves percebe-se que as idéias contidas nas palavras esclarecem

o sentido em que as mesmas estão sendo usadas.

A definição de provação ajuda a compreender bem claramente a diferença entre ser

provado e ser tentado, pois os termos originais usados nas escrituras para estas palavras são os

mesmos. O que fazer para discerni, então, se está sendo provado ou tentado? Pela definição

percebe-se que, quando Deus está por traz de uma situação, com o objetivo de amadurecer a

pessoa, neste momento se esta sendo provado. Porém, quando se esta em uma situação que

tem como objetivo levar ao abandono da fé e vergonha do evangelho é tentação. O fator

determinante para se saber se está sendo “provado” (testado), ou “tentado” é o propósito final

de toda a situação. A “provação” vem de Deus, ela visa um fim proveitoso, ou seja, a

edificação da pessoa que passa por esta ou aquela situação. Já a tentação visa à ruína humana.

Satanás tem como objetivo a destruição, em todos os aspectos do servo de Deus. Este foi seu

objetivo na tentação do Senhor Jesus.

Esta é uma visão reformada das Escrituras. Viu-se que um reformado é alguém que

tem a cosmovisão influenciada pela reforma do século XVI e pelos expoentes da reforma. A

salvação pela fé somente é o lema principal de todo reformador. Uma pessoa reformada crê na

doutrina da providência, onde Deus sustenta todas as coisas com seu poder soberano.

É muito importante entender que Deus governa providencialmente este universo. Ou

seja, Deus não apenas criou o universo e o deixou a mercê de suas leis naturais, mas, depois

de ter criado ainda continua agindo no mundo através de seu governo providencial.

Partindo dessas idéias bem definidas dos termos chaves, pode-se continuar o assunto,

sabendo que quando se usar qualquer um desses termos o leitor saberá exatamente o que se

quer dizer.
41

CAPÍTULO II

A PROVIDÊNCIA NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER

Introdução

Este capítulo tem como propósito apresentar a base confessional quanto à doutrina da

providência, de acordo com a Confissão de Fé de Westminster, a qual é a principal declaração

doutrinária adotada oficialmente pela Igreja Presbiteriana do Brasil. A credibilidade dessa

confissão se deve a sua coerência e profundo compromisso com as Escrituras Sagradas.

Torna-se necessário entender a origem desta confissão.

A Confissão de Fé de Westminster foi um dos documentos aprovados pela

“Assembléia de Teólogos de Westminster” entre os anos de 1643 a 1649, convocada pelo

Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para

a Igreja da Inglaterra, sendo a principal declaração de fé adotada pela igreja Presbiteriana do

Brasil. A então Assembléia de Westminster ficou composta de 121 dos ministros mais

capazes da Inglaterra, além de 20 membros da Câmara dos Comuns e 10 membros da Câmara

dos Lordes. Todos os ministros, exceto dois, eram da Igreja da Inglaterra. Praticamente todos

eles eram puritanos, calvinistas. Infelizmente, não havia unanimidade entre eles quanto à

forma de governo: a maioria era composta de presbiterianos, muitos eram partidários da

forma congregacional e alguns defendiam o episcopalismo. Os debates mais longos e

acalorados foram travados nessa área.

A Assembléia de Westminster iniciou seus trabalhos na Abadia de Westminster, em

Londres, no dia 1° de julho de 1643, e continuou em atividade por um período de cinco anos e

meio. Nesse período, houve 1163 reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e

subcomissões.
42

Esta confissão foi aceita pelas igrejas Presbiterianas americanas em uma reunião no

ano de 1729, como padrão de fé. Todos os ramos das igrejas Presbiterianas da Escócia,

Irlanda e, também do Brasil aceitam esta confissão.82

1. A Doutrina na Confissão de Fé de Westminster

A Confissão de Fé de Westminster trata no capitulo V sobre a Providência, conforme

podemos ver:

Seção l. “Deus, o grande criador de todas as coisas, sustenta, dirige, dispõe e governa
todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas, das maiores até as menores,
por meio de sua sapientíssima e santa providência, segundo sua infalível presciência e
o livre e imutável conselho de sua própria vontade, para o louvor da glória de sua
sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia.83

Seção V. “O sapientíssimo, justíssimo e graciosíssimo Deus com freqüência deixa, por


algum tempo, seus próprios filhos a mercê de multiformes tentações e da corrupção de
seus próprios corações, com o fim de castigá-los pelos seus pecados anteriores, ou
levá-los a descobrirem a força oculta da corrupção e fraudulência de seus corações, a
fim de serem humilhados, e a fim de reanimá-los para uma dependência mais íntima e
constante do apoio dele e fazê-los mais vigilantes contra toda e qualquer ocasião
futura de pecar, e para vários outros fins justos e santos.” 84

Seção Vll. “Visto que a providência de Deus, em geral, se estende a todas as criaturas,
assim, de uma maneira muito especial, ela cuida de sua igreja e tudo dispõe para o
bem dela.” 85

1.1. Comentário da seção I:

O texto da confissão de fé é muito profundo, e traz verdades absolutas com respeito a

Deus e seus atos providenciais em toda a criação. O texto começa dizendo que Deus, havendo

criado todas as coisas e dotado tudo com suas respectivas propriedades e faculdade, é Ele

quem as mantém vivas permitindo que as mesmas continuem na posse dessas propriedades

enquanto existirem.

82
HODGE - Confissão de fé Westminster, comentada, p.46
83
HODGE, op cit., p.131
84
Ibidem, p.142
85
Ibidem, p.143
43

Porém, é Ele quem dirige todas as ações das mesmas controlando providencialmente

tudo. Conduzindo todas as coisas para a execução de seu eterno, imutável e soberano

propósito, sendo que o fim último de todas as coisas é a manifestação de sua própria glória.

Aquilo que Deus criou, Ele também sustenta.

1.2. Comentário da seção V

Esta seção nos ensina que providencialmente Deus exerce o governo moral sobre

todos os homens, em especial sobre Sua igreja. Por sua vez, esse governo inclui além de uma

providência externa ordenando as circunstâncias externa de cada individuo uma influência

interna, constituindo das influências de seu Espírito em seus corações.86 Na perspectiva da

graça comum, essa influência espiritual se estende a todos os homens sem exceção, embora

esta aconteça de diversas formas, sofrendo variações em grau e poder. Já na perspectiva da

graça especial, a exemplo da graça salvífica, é necessário observar que esta acontece apenas

nos eleitos, e é exercida sobre eles.

Através da Sua providência, e com o propósito de disciplinar seus filhos, Deus retém

suas influências espirituais de seus próprios filhos, e “os entrega a multiformes tentações e

corrupções de seus próprios corações”.87 O objetivo desta atitude de Deus, que também é uma

ação graciosa que atinge aos Seus servos, é a disciplina que visa mortificar seus pecados. O

exercício dessa ação de Deus acontece de acordo com Sua soberana vontade e termina,

também, de acordo com a mesma.

O ponto central da doutrina da providência é a ênfase no governo de Deus sobre o

universo.

86
Ibidem, p. 144
87
Ibidem, p. 144
44

Tudo quanto acontece desde os maiores eventos até os menores, estão sob o domínio e

governo de Deus, nada jamais acontece além do âmbito do seu governo soberano e

providencial.

1.3. Comentário da seção VII.

Esta seção nos mostra que o governo providencial de Deus sobre a raça humana, de

um modo geral, está ligado hierarquicamente a outros aspectos da providência, com objetivo

de conduzir todas as coisas cumprindo os decretos de Deus. Desta forma, o governo de Deus

sobre o universo material cumpre o propósito como meio para determinados fins no que tange

o governo moral que Deus exerce sobre as suas criaturas.

O desenrolar de todas as coisas visa o aperfeiçoamento de todo o corpo que é a igreja.

A história da redenção, através de todas as dispensações - patriarcal, abraâmica, mosaica e

cristã -, é a chave para a filosofia da história humana em geral.88 Deus em seu poder, preserva

toda criatura e natureza. Desta forma a humanidade, toma posse da criação, fazendo deste seu

habitat, desenvolvendo neste a sua cultura, filosofia e ciência. Com isso, há um avanço de

filosofias e artes de um modo geral, em fim, todo o progresso das civilizações acontece para

que a igreja, chamada “a noiva do Cordeiro”, tenha todos os seus membros aperfeiçoados e

adornados para o encontro com o Cordeiro.

Feita a exposição da doutrina de acordo com a Confissão de Fé de Westminster, será

apresentada a relação desta doutrina com as outras doutrinas da Teologia Reformada. Esta

breve análise tem como objetivo corroborar com melhor compreensão da doutrina da

providência, uma vez que as doutrinas estão relacionadas entre si. É preciso ter o

entendimento de que é impossível esgotar a compreensão quanto aos decretos de Deus, bem

como Seus eternos propósitos. A mente humana jamais conseguirá esmiuçar por completo o

88
Ibidem, p. 144
45

assunto. Entretanto mesmo sem o entendimento e a compressão por completo de tudo o que

Deus faz, é certamente possível encontrar um entendimento melhor para uma doutrina quando

a comparamos com outras do mesmo sistema

Portanto, o objetivo de fazer a comparação de uma doutrina com outra, é perceber um

entendimento maior daquela que se propõe analisar. Não se pode perder de vista que o

propósito deste trabalho é falar sobre a provação e sua relação com servo de Deus dentro do

ponto de vista da doutrina da providência. Estando tudo dentro do plano providencial de Deus

torna-se necessário ampliar o conhecimento sobre a mesma.

2. A Providência e a Sua Relação com Outras Doutrinas Reformada

Pode-se iniciar esta seção com as palavras do Dr. Heber de Campos, o qual descreve o

objetivo de relacionarmos a doutrina da providência e sua relação com as demais doutrinas

reformada. Eis o que ele diz: “Como deve ser comum nos nossos exercícios teológicos,

precisamos aprender a relacionar uma doutrina com outra, pois a fé cristã tem todas as suas

doutrinas entrelaçadas.” 89

2.1. Providência e Soberania:

Para que Deus haja providencialmente há uma necessidade dele ser soberano sobre

tudo e todos. O livro de Deuteronômio, capítulo 4, versículo 39 diz: “Por isso hoje saberás, e

refletirás no teu coração, que só o Senhor é Deus em cima no céu, e embaixo na terra; nenhum

outro há”. Neste texto Moisés, que é o escritor, reconhece absolutamente a soberania de Deus,

e esta soberania está extremamente ligada às obras da providência, pois Ele é Deus em cima

no céu e, também, embaixo na terra.

Pode-se dizer, então, que a providência de Deus é soberana na vida dos seres humanos

89
CAMPOS – O Ser de Deus e Suas obras: A Providência, p.25
46

e de todas as outras criaturas. As Escrituras mostram que para Deus os seres humanos são

considerados como nada diante de suas ações, veja o que diz o profeta Daniel: “Todos os

moradores da terra são por Ele reputados em nada; e segundo a sua vontade Ele opera com o

exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa lhe deter a mão, nem lhe dizer:

que fazes?” 90

Quando se diz que a providência de Deus é soberana, quer-se dizer que Deus age sobre

o ser humano de forma que independe de outras pessoas ou da vontade de quem quer que seja

para que Ele alcance seus propósitos. Quando usa alguma de suas criaturas não quer dizer que

Ele depende delas, mas sim que Ele resolve se servir delas. A soberania providencial de Deus

é absoluta, não é exercida como os soberanos desta terra a exercem.

2.2. Providência e Decreto

Através dos Seus decretos, Deus determinou soberanamente, desde a eternidade, tudo

quanto há de ocorrer, e executa a Sua soberana vontade em toda Sua criação, seja ela natural e

espiritual. Tudo ocorre de conformidade com o Seu plano predeterminado. A teologia

reformada calvinista, enfatiza a soberania de Deus, em virtude dessa doutrina estar em plena

harmonia com as Escrituras, conforme podemos perceber no ensino do apostolo Paulo,

quando diz que Deus “faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade.”91

Não podemos separar as obras da providência de Deus dos Seus decretos, pois a

providência de Deus opera para cumprir o Seu propósito. Desde toda a eternidade, Deus

mesmo decretou todas as coisas que iriam acontecer no tempo; e isto Ele fez segundo o

conselho da sua própria vontade, muito sábia e santa.

90
Daniel 4:35
91
Efésios 1:11
47

Com clareza Dr. Heber de Campos citando Farley, em The Providence of God

contribui dizendo que:

Todas as obras providenciais de Deus na vida do mundo e de seus habitantes são


produto do decreto eterno de Deus, que é o plano de Deus para a totalidade da sua
criação. [...] Todos os atos da história do mundo foram decretados por Deus antes da
fundação do mundo, mas eles são realizados no decorrer do tempo pela obra
providencial de Deus (Sl 2.7-8). Portanto, é justo dizer que a providência divina é um
corolário necessário do decreto soberano divino. Este último é eterno e a primeira é
histórica. Os propósitos eternos de Deus são realizados na nossa história de forma que
os seus atos providenciais são o cumprimento do seu plano para o universo e para os
indivíduos que nele habitam. O decreto divino “é a causa formal e final da presença e
atividade providencial de Deus na história. Ela é o telos, o alvo.” Portanto, o alvo
pretendido no plano eterno de Deus é concretizado na história através dos atos
providenciais de Deus.92

Este plano é eterno para toda sua criação, tanto para as nações quanto para o indivíduo.

Em sua obra de Teologia Sistemática, Berkhof traz algo importante para melhor entendimento

dos decretos de Deus, eis o que ele diz:

Apesar de muitas vezes falarmos dos decretos de Deus no plural, em sua própria
natureza o decreto é somente um único ato de Deus. [...] Não existe, pois, uma série de
decretos de Deus, mas somente um plano compreensivo, que abrange tudo o que se
passa. Contudo, a nossa compreensão limitada força-nos a fazer distinções, e isto
explica por que muitas vezes falamos dos decretos de Deus no plural. Esta maneira de
falar é perfeitamente legítima, desde que não percamos de vista a unidade do decreto
divino, e da inseparável ligação entre os vários decretos como os concebemos. 93

A Providência, então, é responsável por colocar estes decretos na história. Ou seja, os

decretos vêm primeiro, e, então, cronológica e logicamente vêm as obras da providência,

executando os decretos na história. Tudo que acontece no mundo já foi decretado na

eternidade, ou seja, antes da fundação do mundo. Desta forma descreve com maestria

Dr. Heber de Campos ao dizer que “é justo dizer que a providência divina é um corolário

necessário do decreto soberano divino.” 94

Pode-se dizer que os propósitos de Deus são realizados na história através dos atos

providenciais do mesmo, ou seja, Ele tem um alvo e irá alcançá-lo. Tudo que acontece na

92
CAMPOS, op cit., p.17
93
BERKHOF – Teologia Sistemática, p.92
94
CAMPOS, op cit., p.32
48

história é propositivo, nada é por acaso ou sem significado, a história não é desgovernada

como se as coisas fossem acontecendo do nada, e isso se torna fundamental para a fé

reformada.

O profeta Isaías mostra com muita clareza esta realidade no capítulo 46, versos 8 a 11:

Lembrai-vos disto, e tende bom ânimo. Tomai-o a sério, ó prevaricadores. Lembrai-


vos das coisas passadas da antiguidade; que eu sou Deus e não há outro, eu sou Deus,
e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de
acontecer, desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu
conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina
desde o oriente, e de uma terra longínqua o homem do meu conselho. Eu o disse, eu
também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei.

Desta forma, a providência de Deus é o meio pelo qual faz convergir todas as coisas de

acordo com Seus decretos e propósitos.

2.3. Providência e Onipotência.

Não se pode falar de onipotência sem levar em consideração a soberania de Deus, uma

vez que esta doutrina está perfeitamente amparada na Escritura. Deus é revelado como o

Criador, e Sua vontade como a causa de todas as coisas. Em virtude de Sua obra criadora, o

céu, aterra e tudo o que eles contêm Lhe pertencem. Ele está revestido de autoridade absoluta

sobre as hostes celestiais e sobre os moradores da terra95. Sendo Criador e Senhor de tudo, Ele

sustenta todas as coisas com a Sua onipotência, e determina os fins que elas estão destinadas a

cumprir.96 Como Rei, Ele governa no sentido mais absoluto da palavra, e todas as coisas

dependem dele e Lhe são subservientes.97

95
1 Crônicas 29:11 “Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo
quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos.”
96
BERKHOF – Teologia Sistemática, p. 69
97
Deuteronômio 10:17 “Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus
grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno;”
49

Quanto a Onipotência, é salutar verificar o que a Confissão de fé de Westminster diz

no Capítulo V, item IV:

“A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira


se manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos
os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas
por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e
poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas essa
permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da
criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do
pecado nem pode aprová-lo.”98

A Onipotência de Deus está ligada a vontade de Deus em geral. Berkhof descreve que

a importância da vontade divina aparece de várias maneiras na Escritura. É apresentada como

a causa final de todas as coisas. Tudo é derivado dela: a criação e a preservação;99 o

governo;100 a eleição e a reprovação; os sofrimentos de Cristo; a regeneração; a santificação;

os sofrimentos dos crentes;101 a vida e o destino do homem, e até as menores coisas da vida.

A teologia reformada reconhece a vontade de Deus como à causa última de todas as

coisas. A soberania de Deus acha expressão, não somente na vontade divina, mas também na

onipotência de Deus, ou em Seu poder de executar a Sua vontade.102 Corretamente Murray

entende a soberania de Deus como autoridade, domínio e o governo absoluto de Deus sobre

toda realidade distinta dEle mesmo.103

Para Deus operar soberanamente sobre o universo criado é imprescindível que Ele seja

onipotente. Quando dizemos que Deus é onipotente, estamos dizendo que Ele tem o poder

absoluto.

98
Confissão de Fé Westminster - Capítulo V
99
Salmos 135:6 “Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os
abismos.”
100
Daniel 4:35 “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera
com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”
101
1 Pedro 3:17 “porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que
praticando o mal.”
102
BERKHOF – Teologia Sistemática, p. 73
103
MURRAY – Traduzido por Felipe Sabino, extraído de
http://www.monergismo.com/textos/soberania_divina/John_Murray_Soberania_Deus.pdf acessado dia 04/10/10
50

É através da Sua onipotência que Deus sustenta todas as coisas, e determina os fins

que elas estão destinadas a cumprir. As obras da providência só se tornam possíveis por ser

Deus onipotente. Na carta de Paulo aos Efésios, capítulo 1, versículo 19, fala a respeito da

“suprema grandeza do poder de Deus”. Este poder excede toda compreensão humana. Ainda

de acordo com a carta do apostolo Paulo aos Romanos, no capítulo 4, versículo 17, diz que é

pelo seu poder que Deus “chama a existência as coisas que não existem”; Ou seja, foi pelo seu

poder que Ele criou todas as coisas, e, também, “ele sustenta todas as coisas pela palavra de

seu poder”. (Hb 1:3)

Falar deste ato sustentador é falar da providência divina. A mesma palavra poderosa

que trouxe tudo a existência, também sustenta providencialmente tudo! Portanto, não é sem

razão que a Escritura em vários lugares afirma que o Onipotente reina. O cumprimento

providencial dos Seus eternos decretos demonstra a onipotência de Deus. Somente um Deus

deveras poderoso, soberano pode executar Sua soberana vontade.

2.4. Providência e Criação.

Providência e Criação são doutrinas que nascem da Soberania e são colocadas a efeito

através da onipotência divina. Seguindo o mesmo raciocínio percebemos que a doutrina da

providência segue a doutrina da criação. Ou seja, os atos providenciais só acontecem após a

criação. A grande diferença de uma doutrina com a outra está no fato de que a criação é um

ato completo e único, enquanto que a providência é um ato contínuo de preservação e

governo.

A grande maioria dos teólogos reformados vê a providência como conseqüência da

criação, especialmente no que diz respeito à providência como preservação e governo.


51

O Dr. Heber afirma que “a criação é um ato terminado e completo enquanto que a
104
providência é um ato contínuo de Deus naquilo que foi criado” , ele faz a seguinte

referência bíblica em Atos 17:24-25 “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo

ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é

servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a

todos dá vida, respiração e tudo mais.”

É importante ressaltar o eixo fundamental da teologia de Calvino - a doutrina de Deus.

Calvino aponta para a doutrina da majestade de Deus como coluna singular do cristianismo.

Enquanto Lutero parte de si mesmo, do homem, da consciência de não se salvar, Calvino

parte de Deus, de Seu plano de salvação.105 A idéia da glória de Deus mediará toda a teologia

de Calvino; a gloria Dei será o alvo de todos os planos de Deus na criação do mundo e na

redenção. Intimamente ligada à idéia da glória de Deus, na mente de Calvino estava à doutrina

da providência de Deus (providentia Dei).106

Calvino utilizou o método teológico de Agostinho que afirmavam que a fé leva ao

conhecimento (fé em busca de compreensão). Calvino rejeitou o escolasticismo racionalista

que exigia provas da existência de Deus.107 O entendimento de que a doutrina da glória de

Deus se dá em duas partes: providência e predestinação, resume toda a teologia de Calvino,

que é fundamentada na doutrina da glória de Deus, pois, pela providência Deus criou o

universo e pela providência Deus o redimiu. Assim, o objetivo da criação é o conhecimento e

a adoração de Deus por parte do homem. E o objetivo da redenção é a reconstrução da

imagem de Deus no homem, destruída pelo pecado, todavia a partir do Cristo, perfeita

imagem de Deus.108

104
CAMPOS, op cit., p.35
105
ZAGHENI - A Idade Moderna, p.136.
106
HÄGGLUND - História da Teologia, p.224.
107
ROGERS - Grandes temas da tradição reformada, pp.35-42.
108
ZAGHENI, op.cit. p.137
52

Dessa forma, a providência de Deus se revela tanto no ato da criação quanto da

redenção; a este último, Calvino chamou de predestinação. Para Calvino, a predestinação

torna a salvação completamente independente das oscilações do ser humano.

Não se pode confundir a providência com uma criação continuada, ou seja, com a

idéia de que tudo o que acontece nessa existência seja visto como atos da criação, sendo que

Deus é o responsável direto por tudo. O Dr. Heber de Campos, citando Hodge, descreve o

seguinte, combatendo esse tipo de pensamento: “Criação... é a chamada à existência daquilo

que antes não existia, enquanto que a preservação é a manutenção daquilo que já existe”.109

Aceitando a doutrina da criação continuada, Deus se torna o único agente e a causa única no

universo, contrapondo assim o aspecto da livre agência dos homens quanto às causas

secundárias. De acordo com Hodge, seria uma falácia sustentar o conceito de criação

continuada de acordo com os teólogos do século XVII, pois se a providência é uma espécie de

criação continuada, então Deus nunca se serve das suas criaturas para exercer a sua obra

providencial. Corretamente Hodge afirma que tal entendimento é um grande equivoco.

A Teologia Reformada em harmonia com as Escrituras entende que Deus manifesta o

Seu poder na criação, “Assim diz o SENHOR, que te redime, o mesmo que te formou desde o

ventre materno: Eu sou o SENHOR, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e
110
sozinho espraiei a terra” . Conforme afirma apostolo Paulo na carta aos Romanos “... o

Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem.”111

Manifesta também Seu poder nas obras da providencia, conforme a epístola aos

Hebreus capitulo 1, versículo 3 que diz: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata

do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a

purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”.

109
Ibidem, p.35
110
Isaias 44:24
111
Romanos 4:17
53

Conclusão

É importante relacionar os textos da confissão de fé de Westminster com a teologia e a

questão da provação e sua relação com o servo de Deus. De acordo com a Teologia

Reformada abordada acima, pode-se perceber que a mesma não é compartimentalizada, mas,

sim, está toda ela relacionada e vinculada umas com as outras. Isso se torna importante porque

não pode haver contradições de idéias.

Avaliar a tema proposto que é sobre a provação, com o texto da confissão de fé de

Westminster em relação às demais doutrinas reformadas se faz necessário. Não se pode

cogitar sobre provações e tentações, que trazem sofrimento, à parte da doutrina da

providência. A mesma dá um indicativo claro da ação de Deus na humanidade. Pensar

teologicamente é pensar a vida e sua existência, ou seja, a teologia está relacionada com a

realidade existencial do ser humano. Precisa, portanto, responder a questões da vida do

mesmo. É possível encontrar respostas com respeito às provações dentro da doutrina da

providência, pois a mesma está relacionada ao agir de Deus na história.


54

CAPÍTULO III

A REALIDADE DA PROVAÇÃO

Introdução

A proposta desta seção é tirar algumas dúvidas com respeito à realidade da provação,

suas fontes e as razões pelas quais o ser humano é provado, e, até mesmo se estas situações

produzem algum tipo de sofrimento. Perguntas como: O sofrimento é real ou é ilusório? Quais

as fontes destas situações, ou seja, de onde procedem? Por que se é atingido constantemente

por elas? É possível se ver livre delas?

São perguntas que precisam de respostas. É preciso avaliar bem todas elas, pois esta é

a proposta do tema. As respostas a essas questões sairão dessa análise para se fazer uma

conclusão final do assunto.

1. Provação, Realidade ou Ilusão?

A pergunta, a princípio, parece um tanto quanto absurda. Como alguém poderia pensar

que as provações desta vida seriam algo irreal? Diante de situações difíceis como a perda de

um ente querido, uma enfermidade, saudade de alguém ou alguma coisa que escapa às mãos,

a dor parece inevitável. Vivenciar estas coisas sem sentir dor e sofrimento seria quase

impossível. Como poderia alguém pensar que estas situações são ilusórias? A pergunta

proposta parece absurda, mas veremos que para alguns ela não é.

O mundo moderno é marcado pelo ecletismo religioso, ou seja, a religiosidade é uma

marca pós-moderna, e, neste ambiente ninguém pode reivindicar para si uma verdade

absoluta. Como escreveu Stanley Grens “a perspectiva pós-moderna requer uma investida

contra tudo o que reivindica para si a universalidade - ela requer, na verdade, uma ‘guerra
55

contra a totalidade’”.112 Esta é na verdade a cara de nossa época.

Uma dessas religiões aceitas neste ambiente pós-moderno é a “Ciência Cristã”. Este

movimento foi institucionalizado em 1879 na cidade de Boston. Movimento que começou

com a Sra. Mary Baker Eddy, que tinha sua formação religiosa Cristã. Após ter recebido

“uma cura milagrosa de séria enfermidade na coluna”,113 se tornou na personalidade mais

empolgante da história religiosa dos Estados Unidos. Tamanho é sua importância para o

movimento que o mesmo também é conhecido como Eddysmo. Este movimento obteve muita

aceitação na cidade de Boston, Estados Unidos, principalmente, por causa de sua proposta.

Hoje eles já alcançaram todos os continentes, principalmente a América do Norte, áfrica e

Ásia. A Ciência Cristã pode ser denominada o movimento otimista dos Estados Unidos da

América, a qual tem a sua força de atração num sistema de cura sem remédios, alegando que

toda doença só existe na mente da pessoa e que mudada a maneira de pensar, ignorando-se os

sintomas da doença, esta desaparece e isto sem remédios. Desta forma esta seita nega a

existência da matéria.

Os adeptos da seita preconizam a prática do pensamento positivo para vencer os

males, principalmente os físicos. Para eles situações como doenças, o pecado e a morte são

irreais. Veja-se uma citação importante para melhor compreensão do pensamento da Ciência

Cristã:

Alguns princípios básicos desta seita são os seguintes: os cientistas cristãos se fixam
no poder da mente sobre a matéria; se Deus não criou o mal, não é preciso sofrer
nenhuma das supostas manifestações do mal; certos resultados causados pelos
medicamentos são efeitos a fé; o objetivo maior é alcançar uma vida repleta de
felicidade, harmonia, saúde e abundancia do bem; a religião e a ciência são imbuídos
de uma natureza e essência mais divinas por causa da Ciência Cristã; nada há de mau a
não ser no pensamento da pessoa; a doença, o pecado e a morte são irreais.114

112
GRENS - Pós-modernismo, p. 77
113
GAMA - Seitas Proféticas, p. 60
114
GAMA, op cit., p.65
56

Percebe-se que a Ciência Cristã prega que o mal é inexistente, irreal, e, para se ver

livre de qualquer sofrimento basta a prática do pensamento positivo. A força do pensamento

positivo, para eles, tem poder até sobre os males físicos. Para produzir, então, um estilo de

vida que seja “abundante” basta, para eles, substituir a idéia daquilo que é ruim por algo que

seja bom e agradável, uma vez que o mau não é real e que o problema, então, está na pessoa,

ela conseguirá ter um estilo de vida “abundante”, que é o alvo de todo aquele que abraça esta

doutrina. Eis outra citação:

Quem descobre o segredo da senhora Eddy triunfa sobre o pecado mais horrível, sobre
a mais profunda mágoa, sobre o mais doloroso sofrimento, sobre a enfermidade mais
longa ou mesmo sobre a morte... Como a pessoa consegue isso? Ele precisa somente
substituir a idéia de mágoa pela idéia de alegria, a do pecado pela da justiça, a da
enfermidade pela da saúde, e a da morte pela idéia da vida. Em suma, os adeptos da
seita utilizam-se da prática do pensamento positivo para vencer seus males físicos.115

Milhares de pessoas em todo o mundo abraçam esta forma de pensar a vida. Isto seria

o mesmo que dizer que muitas pessoas no mundo acreditam na força do pensamento positivo.

Nada do lado de fora está ruim, ou nada que está do lado de fora tem poder para impor sobre

qualquer ser humano uma provação. Depende totalmente de nossa postura mental, basta

exercitar a corrente do pensamento positivo que tudo estará na mais plena harmonia. Ou seja,

a única fonte de sofrimento seria o próprio homem que por não conseguir idealizar

positivamente sua situação em face do mundo em que vive, passa por constantes dores, por

sua própria culpa.

Afirmar em alto e bom som que esta forma de pensamento é um grande equívoco.

Estas idéias são aceitas por uma parte da população pelo fato das pessoas pensarem que o ser

humano é dotado de um “poder” mental muito grande, tornando assim, tudo isso possível.

Porém o que muitos pensadores dizem, e, também, a própria vida tem ensinado que é uma

grande ilusão pensar assim desta forma.

115
Ibidem, p.59
57

Aceitar este pensamento seria rejeitar a verdade quanto à existência de um Deus

transcendente e imanente. Seria descrer no poder e na grandeza e na soberania de Deus. Não

há como negar a realidade da provação. Contrariando todo o entendimento de que o servo de

Deus não sofre citamos o que diz Edwards, “Portanto, se Cristo sofreu pelo crente, já não é

necessário que este sofra; e por que teria o crente de temer?”116 Como disse Piper em O

Sorriso Escondido de Deus:

“as aflições de John Bunyan nos deram O Peregrino. As aflições de Willaim Cowper
nos deram hinos em inglês como "There Is a Fountain Filled With Blood" e "God
Moves in a Mysterious Way". E as aflições de David Brainerd nos deram um Diário
publicado que tem mobilizado mais missionários que qualquer outra obra semelhante.
A fornalha do sofrimento produziu o ouro da direção e inspiração para viver a vida
cristã, adorar o Deus cristão e espalhar o evangelho cristão.”117

A maioria das situações que acometem o ser humano é incontrolável. Quem dera que,

por um simples estado positivo de pensamento, o ser humano pudesse livrar-se de doenças,

saudades, dores pela perda, e tantos outros males que são provações nesta vida, inclusive a

própria morte.

As Escrituras ensinam que o sofrimento, a morte e o pecado sempre estarão presentes

na história terrena do homem,118 e em muitas situações o próprio Deus se utiliza desta

realidade com o fim de cuidar, ou corrigir, ou punir o ser humano.

Um bom exemplo dessa ação pode ser visto na vida do apóstolo Paulo, que viria a

entender o quanto importava sofrer pelo nome do Senhor Jesus: “pois eu lhe mostrarei quanto

lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9:16). Portanto, uma boa percepção dessa verdade

poderá ser útil na hora que a provação chegar.

116
EDWARDS - Nosso Lugar de Refúgio, extraído de http://www.jonathanedwards.com.br/2010/06/refugio-
jonathan-edwards.html acessado dia 04/10/10
117
Extraído de http://www.monergismo.com/textos/sofrimento/sofre_naosofre.htm acessado dia 04/10/10
118
“Quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez,
ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos
considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele
que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas
presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos
poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8:35-39)
58

2. As fontes da Provação e Tentação

Quando se pensa em tentação pensa-se em algo fora do ser humano. Para muitos as

fontes das provações são externas, ou seja, vem de fora para dentro. Mas, será que as coisas

são realmente assim? Será que toda e qualquer situação de provação tem este caminho? Qual

a sua fonte, ou quais são as fontes? As escrituras mostram que as fontes da tentação nem

sempre percorrem o caminho que vem de fora para dentro. Através das Escrituras podemos

perceber que são três as fontes de todas as provações.

2.1. Deus como fonte de provação.

No primeiro capítulo, após trabalhar as definições de termos chaves chegou-se a

algumas conclusões importantes. Ao analisá-las perceber-se-á que os termos usados nas

Escrituras para trazer a idéia de provação ou tentação são os mesmos, e diante disso viu-se

que o fator definidor do termo na hora da tradução seria o contexto e não a situação em si. Por

estas e por outras razões é que se encontram nas escrituras termos idênticos com traduções

diferentes, por exemplo: no livro de Hebreus, capítulo 11, versículo 17 encontra-se escrito que

“pela fé, Abraão, quando posto a prova, ofereceu Isaque”. O termo usado para se referir a

Abraão sendo posto a prova (grifo meu), no grego, é “peirazomenos”. Esta palavra é a mesma

usada por Tiago no capítulo 1, versículo 13, e que naquele contexto é traduzida por “estando

sendo tentado”. Pode-se concluir, como já foi dito anteriormente, que se a situação vivida visa

a um fim proveitoso ela vem de Deus. Deus, então, é uma fonte de provação. Não se pode

dizer nunca que Deus lança alguém em alguma situação que vise o seu abandono da fé.119

119
OWEN - Sobre a tentação, p. 20
59

2.2. Satanás como causa de provação.

Em Gênesis capítulo três lê-se sobre a narrativa da queda do homem em pecado tendo

como seu protagonista Satanás. As escrituras, então, denunciam Satanás como o tentador.

Qual será a natureza desta tentação? Dietrich Bonhoeffer fala da natureza da tentação satânica

em quatro aspectos.

No primeiro ele diz “que a tentação constitui exatamente aquilo que é contra Deus.”120

O que ele quer dizer é que não se pode conceber, diante da natureza de Deus, que ele seduz o

homem a duvidar de sua própria palavra e até mesmo a apostatar da fé. Isto é intento de

Satanás.

No segundo aspecto Bonhoeffer diz: “o inimigo de Deus comprova na tentação seu

poder para fazer algo que não é da vontade de Deus”.121 Ele está trazendo a idéia que, nenhum

inimigo de Deus, tem, como ele, tamanha capacidade de fazer com que a tentação se torne

mais forte que qualquer criatura. É a tentativa do poderio de Satanás no mundo da criação.

O terceiro aspecto colocado por Bonhoeffer é que “a tentação é sedução, insídia. Por

isso ela vem do diabo, porque o diabo é um mentiroso. Quando ele profere mentira, fala do

que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”.122 Ele quer dizer que a fraude de

Satanás consiste em se fazer crer que se pode viver sem a palavra de Deus, desta forma ele

penetra o mundo dos homens os iludindo lhe trazendo falsa paz. Todo aquele que aceita a

estas propostas, cede às tentações do diabo.

O quarto aspecto tratado por Bonhoeffer diz que “a tentação tem sua origem no diabo,

pois este se transforma no acusador do homem”.123 Neste momento Satanás tem um

expediente duplo. Afastar o homem dos desígnios de Deus levando-o a ruína, e acusa-lo

120
BONHOEFFER – Tentação, p. 45
121
BONHOEFFER, op cit., p. 32
122
Ibidem, p. 45
123
Ibidem, p. 46
60

quando estiver debaixo do juízo de Deus. É importante ressaltar que Satanás também intenta

acusação contra os servos de Deus, procurando os colocar a prova com o propósito de levar o

servo de Deus a blasfemar contra Deus. Este foi o tipo de acusação lançada por Satanás contra

o servo Jó. Veja o que Escrituras nos mostra:

“Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua
casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se
multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás
se não blasfema contra ti na tua face.”124

Para Satanás a única razão de Jó permanecer nos caminhos do Senhor seu Deus é

porque Deus lhe concede coisas. Sabendo disso ele o acusa, pois o objetivo do diabo é levar o

homem a blasfemar o nome do Senhor.

2.3. A natureza Carnal como causa de tentação

A natureza carnal é sem duvida uma fonte de provação do ser humano. Uma das

razões é a busca desenfreada pelo prazer, o homem é hedonista por natureza. De repente a

natureza carnal se manifesta com o desejo desenfreado do prazer.

Um fogo que começa a arder às escondidas é atiçado. A carne arde e já está em


chamas. Quer seja o desejo sexual, a ambição, a vaidade, a avidez por vingança, a
vanglória e a paixão pelo poder, que seja a avidez pelo dinheiro, quer se trate,
finalmente, do prazer indescritível da beleza do mundo, da natureza em geral, não há
diferença aqui.125

A carne se torna uma fonte de provação em situações que impulsionam a agir contra a

vontade de Deus. Nesta hora se age como quem se esqueceu de Deus, agi-se cegamente, como

se tivesse algum direito diante da situação. Nesta hora se é dominado pela situação, perceba o

relato de Dietrich Bonhoeffer:

Tudo em mim rebela-se contra a palavra de Deus, as forças do corpo, do pensamento e


da vontade que estavam em obediência sob a disciplina da palavra, forças essas que eu
julgava dominar, agora me fazem compreender que eu de modo algum era senhor
sobre elas. 126

124
Jó 1:9-11
125
BONHOEFFER, op cit., p. 55
126
Ibidem, p. 56
61

Pode-se perceber pelas palavras de Dietrich Bonhoeffer que a natureza carnal como

fonte de tentação tem enorme poder sobre o ser humano. Diante desta realidade percebe-se

que na busca desenfreada pelo prazer carnal, o homem passa a sofrer terríveis provações,

devido às atitudes tomadas em decorrência da busca pelo prazer.

As Escritas Sagradas mostram também que a natureza carnal se expressa por meio de

da cobiça, veja:

“Ninguém ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser
tentado pelo mau, e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrario, cada um é tentado pela
sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver
concebido, da a luz o pecado, uma vez consumado gera a morte”.127

Diante do texto acima, algumas considerações importantes podem ser feitas para uma

melhor compreensão. A primeira diz respeito à responsabilidade. Diante do texto não há mais

ninguém que possa ser responsabilizado a não ser a própria pessoa. Não se pode culpar a

Deus, pois o texto diz que Deus a ninguém tenta. No caso, nem mesmo satanás, pode ser

acusado, pois, pode-se ver que a origem de todo o mal está dentro de cada ser humano. O

texto diz que cada um é tentado pela sua própria cobiça, ou seja, dentro do ser humano está a

origem da tentação.128

O próprio desejo de prazer e o medo do sofrimento seduzem o ser humano a deixar a

Palavra de Deus e a cometer atos que são pecaminosos e podem produzir tentações que geram

sofrimento. A cobiça pode surgir por inclinação natural pelas coisas que seduzem não que as

coisas em si são pecaminosas, mas, a inclinação para estas coisas podem prejudicar a

existência, pois, elas exercem um domínio sobre as ações humanas. Cobiçar é desejar algo

que pertence a outro e que ao mesmo tempo é ilusório.

127
Epistola de Tiago 1:3
128
Ibidem, p. 48
62

A linguagem usada pelo apóstolo Tiago é de uma pescaria, ou seja, a sedução é a isca

que seduz.129 Outra consideração está relacionada ao fato de que a cobiça em si não torna

ninguém pecador. O texto diz que “depois de haver concebido, da à luz ao pecado, e o pecado

uma vez consumado, gera a morte”. Ou seja, a cobiça acontece quando a vontade seu uni ao

objeto do desejo, desta forma acontece um abandono da palavra de Deus.

3. As razões da provação humana

Pretende-se aqui expor os motivos pelos quais o ser humano é invariavelmente tentado

ou provado. Será visto aqui algumas razões que podem até trazer conforto e outras que

podem fazer com que o ser humano venha a enxergar que não há saída a não ser que Deus

atue em seu favor.

3.1. A limitação do homem como causa de sua provação

Pode-se iniciar o assunto com uma pergunta: Quando Deus criou o homem deu-lhe a

capacidade de fazer todo o trabalho de suas mãos sem que houvesse limitação na sua obra?

Como respondeu Dr. Heber de Campos “certamente que não”.130 Desde a criação o ser

humano é limitado. Deus lhe deu trabalho, mas, também, lhe deu descanso, pois o mesmo era

finito. Somente Deus não carece de descanso. Sua limitação impõe sobre o mesmo dor como

as musculares se porventura ultrapassar os seus limites.

È preciso então perceber que estas limitações não são conseqüências de algum erro

cometido pelo ser humano, porém, pode trazer sofrimento e conseqüentemente provações, já

que as situações são responsáveis por elas.

129
LUNDGAARD - O Mal que habita em mim, p. 87
130
CAMPOS, O ser de Deus e as suas obras: A Providência, p. 528
63

Conforme descreve Dr. Heber de Campos:

“Se as ordens de repouso de Deus são desobedecidas certamente às dores e os


sofrimentos podem aparecer como resultado da ultrapassagem dos limites de nossa
constituição física e mental”.131

Este tipo de provação pode ser benéfico, pois pode ser um indicativo de que se

ultrapassou o limite de sua constituição. Estas dores dirão que se deve obedecer as ordens de

Deus a respeito do descanso. É importante observar que este sofrimento causado por esta

limitação natural no homem não é imposta por Deus devido a algum pecado. Portanto, a

provação132 como conseqüência do sofrimento causado pela limitação humana serve tanto

para o período pré-queda como para o período pós-queda.

A diferença, como disse Dr. Héber de Campos, entre estes dois períodos é que o

pecado, nesse caso complicou ainda mais a situação da finitude humana em relação à dor.

Após a queda o homem não somente continua finito, mas também já tem as conseqüências

judiciais de Deus sobre si. 133

3.2. O pecado do homem como causa de sua provação.

A quebra de princípios morais estabelecidos por Deus impõe sobre o homem muitos

sofrimentos e conseqüentes provações. Quando o homem peca Deus tem o direito de retribuir

ao mesmo algum tipo de provação, seja qual for o meio. Pois já foi visto que Deus a ninguém

tenta (prova), porém Ele é livre para usar os meio indiretos que quiser para retribuir ao

homem a sua santa justiça. Quando isto acontece, “é um dos mais tristes sofrimentos que o ser

humano pode experimentar”.134

131
CAMPOS, op cit., p. 529
132
Conforme definição de termos: Relação entre provação e tentação. “O fator determinante para se saber se está
sendo “provado” (testado), ou “tentado” é o propósito final de toda a situação. A “provação” vem de Deus, ela
visa um fim proveitoso, ou seja, a edificação da pessoa que passa por esta ou aquela situação. Já a tentação visa à
ruína humana. Satanás tem como objetivo a destruição, em todos os aspectos do servo de Deus.”
133
Ibidem, p. 530
134
Ibidem, p. 532
64

Em Gênesis capitulo três se tem as razões dos sofrimentos passados pelo ser humano,

todos foram atingidos pela punição causada pelo pecado.

O ser humano, os animais, a natureza, tudo por causa da queda do homem135, foi

atingido pelo sofrimento, e este tornou-se então uma punição divina imposta sobre todos os

homens. Esta exposição está de acordo com o texto da Confissão de Fé que diz:

“O sapientíssimo, justíssimo e graciosíssimo Deus com freqüência deixa, por algum


tempo, seus próprios filhos a mercê de multiformes tentações e da corrupção de seus
próprios corações, com o fim de castigá-los pelos seus pecados anteriores”.136

Pelo fato do homem ser pecador, esta condição impõe sobre ele o fato de ter que

passar por provações. As Escrituras evidenciam que o sofrimento é uma realidade

conseqüente da queda do homem, isto é, do pecado (Gn 3:16-19). Embora os servos de Deus

tenham sido libertos da condenação do pecado, não estão livres de sua presença, nem

completamente isentos de suas conseqüências neste mundo.

Conclusão

Como são reais as provações! Pensar que elas podem ser vencidas apenas com uma

disposição mental “positiva” seria loucura. O homem pecador não fugirá desta triste realidade

que o abate. Muitas pessoas ainda estão enganadas com respeito a este lado cruel e negro do

ser humano. Fugir desta realidade não é o melhor remédio, pois agindo assim não eliminaria o

problema.

135
Romanos 8:22-23 “ Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.
E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo,
aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.”
136
HODGE - Confissão de fé Westminster, comentada, p.142
65

CAPÍTULO IV

A PROVAÇÃO NA VIDA DO SERVO DE DEUS

Introdução

O servo de Deus é aquele que reconhece a soberania e o senhorio de Cristo,

confessando-o como Senhor e Salvador de sua vida. É a pessoa que se coloca diante de Deus

como servo a ser usado por Ele para Sua própria glória. O servo de Deus é aquele que foi

escolhido por Deus baseado unicamente na Sua própria decisão livre, e, também baseado em

Seu amor que visa o cumprimento de Seus decretos para o plano da redenção. O fato do ser

humano ter sido escolhido (eleitos) por Deus indica que o mesmo faz parte de um grupo

seleto. Isto poderia sugerir que estas pessoas gozam de alguns privilégios que este Pai, que os

elegeu, os daria. Têm-se a tendência em pensar que estes privilégios isentariam estes homens

de qualquer tipo de sofrimento e lutas nesta existência. Mas será isso verdade?

O convite: “Venha para Jesus e livre-se de seus males”, é uma proposta real? Poderíamos

dizer que o Servo de Deus de fato goza de privilégios que os não-cristãos não gozam?

O tema “A realidade da provação na vida dos servos de Deus” chega agora ao seu

ápice, e, então, as conclusões finais surgiram como resultado da pesquisa.

1. O Porquê da provação na vida do Servo de Deus

1.1. A provação como disciplina de Deus na vida do Servo de Deus

Deus, em toda a história, tem disciplinado os homens. As formas são variadas e, até,

criativas. Não serão tratadas as formas, pois não é do interesse do trabalho. O que interessa

aqui são as causas. Pode-se dizer, em primeiro lugar, que Deus tem provado e disciplinado o

homem, por causa de seu pecado.


66

Porém, quando a punição, por causa do pecado, acontece na vida do servo de Deus, o

nascedouro desta disciplina, não tem base no juízo divino, como no caso da disciplina na vida

de quem não é servo, mas no seu amor incondicional para com o servo de Deus. O servo de

Deus é disciplinado, portanto, com base em Seu amor. Assim afirma Dr. Heber de Campos:

“A disciplina é produto do bondoso amor de Deus que procura levantá-los e colocá-los numa

posição de vitória sobre os seus pecados”.137 A provação, neste caso, visa à correção. Não se

pode negar que é uma correção em conseqüência do erro. Veja o que diz o escritor da carta

aos Hebreus no capítulo 12, versículos 4 e 5: “Ora, na nossa luta contra o pecado ainda não

tendes resistido até o sangue, e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre

convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do senhor, nem desmaies quando

por ele se reprovado”.

A disciplina divina, porem, é para proveito. O escritor da carta aos Hebreus, ainda no

capítulo 12 versículo 10, nos diz o seguinte: “Pois eles nos corrigem por pouco tempo,

segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de

sermos participantes da sua santidade”.138 Os pais terrenos falharam na aplicação da

disciplina, pois, as aplicaram “segundo melhor lhes parecia”. Como diz Dr. Heber de Campos:

“Tem havido falha na disciplina por que tem havido falha no nosso amor”,139 ou seja, da

mesma forma que o amor dos pais humanos para com os seus filhos é falho, a disciplina

torna-se, também, falha. Ela não atinge seu propósito.

Fazendo uma comparação da disciplina humana com a de Deus o autor da carta diz:

“Deus, porem, nos disciplina para aproveitamento”. A disciplina de Deus vem com um

ingrediente que não é comum e muito menos perfeito da parte do ser humano, que é o seu

amor, veja-se o que diz Sproul: “Devemos nos regozijar de que Deus faça isso, pois é uma

137
CAMPOS, O ser de Deus e as suas obras: A Providência, p. 557
138
O autor da Carta aos Hebreus, ao mencionar a frase “Pois eles nos corrigiam por pouco tempo”, está fazendo
referência aos nossos pais terrenos que era uma correção limitada pelo tempo.
139
CAMPOS, op cit., p. 561
67

indicação de seu amor por nós. A correção do senhor tem o propósito de nos levar ao

arrependimento e a completa restauração da comunhão”.140

O propósito da disciplina de Deus na vida do servo de Deus é transformar seu caráter,

implantando nele seu caráter santo, pois o texto termina dizendo: “a fim de sermos

participantes de sua santidade”.

Outro aspecto da disciplina é produzir frutos na vida do servo de Deus, ou seja,

quando o servo de Deus está sendo provado por meio da disciplina, Deus quer implantar na

vida dele, em primeiro lugar, uma vida de submissão. O texto da carta aos Hebreus no

capítulo 12, versículo 9 diz: “...não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai

espiritual e, então, viveremos?” Esta submissão produzirá frutos de obediência no servo de

Deus. O texto de Hebreus supracitado ainda no versículo 11, diz: “Toda disciplina, com

efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto,

produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”. Embora a

disciplina tenha tanto proveito, o texto deixa claro que a mesma produz sofrimento, por isso a

disciplina produz provação na vida do servo de Deus.

1.2. A Provação por causa do amor a Cristo na vida do Servo de Deus

O sofrimento fruto do amor que o cristão dedica a Cristo não é considerado, por

muitos estudiosos, como um sofrimento real. Contudo, não se pode negar que há dor e aflição

envolvidos no processo de consagrar plenamente a vida ao Jesus e submetê-la ao Seu

senhorio.

O convite de Jesus àqueles que desejavam segui-Lo não seria visto, hoje, como

politicamente correto. O texto bíblico assim registra a prédica de Jesus: “Então, convocando a

multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si

140
SPROUL - Boa Pergunta, p. 503
68

mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34). A aceitação deste convite certamente

seria acompanhada de sofrimento, muitas vezes chegando mesmo à morte, como foi o caso de

muitos mártires do passado. O próprio Cristo afirmou isso, ao declarar que “No mundo,

passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).

No evangelho de Mateus capítulo 5, versículos 11 e 12 dizem: “Bem aventurado sois

quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal

contra voz. Regozijai-vos e exultai, por que é grande o vosso galardão nos céus; pois assim

perseguirem aos profetas que viveram antes de vós”. Os ímpios e perdidos não podem fazer

nada contra Cristo, mas, o podem contra seus seguidores. Desta forma os atacam promovendo

sofrimento em suas vidas. Estas perseguições podem vir de várias formas. Podem vir por

meio de perseguição física. Perseguir no grego é “dióko”, que traduz a idéia de caçar, correr

atrás, como se persegue a um criminoso.141 Esta palavra indica alguma forma de perseguição

física.

A perseguição pode vir, também, por meio de injúrias. Dr. Heber de Campos citando

John MacArthur define injúria da seguinte forma: “Lançar insultos é atirar palavras abusivas

na face do oponente, zombar depravadamente”. 142

Este tipo de sofrimento humilha o servo de Deus, e o faz sentir desolado e sem

esperança, porém, isto é uma bem-aventurança. O servo de Deus é provado, também, pelas

mentiras que lhes são ditas. Assim como Cristo foi condenado por meio de mentiras, os servos

de Deus são acusados falsamente, simplesmente porque amam a Cristo.143

Há muitas outras situações em que os servos de Jesus Cristo, por amá-Lo de todo o

coração, sofrem, e um tipo de sofrimento real. E não se pode ignorar essa realidade.

141
CAMPOS, O ser de deus e as suas obras: A Providência, p. 565
142
CAMPOS, op cit., p. 566
143
Ibidem, p. 566
69

1.3. A Provação por causa da retidão na vida do Servo de Deus

Evangelho de Mateus no capítulo 5, versículo 10 diz: “Bem-aventurados os

perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino de Deus”. O amor a Cristo produz

alguns resultados na vida do servo de Deus. A vida do mesmo é reta, e esta retidão produz

perseguição.

Paulo ao escrever sua segunda carta a seu amigo Timóteo no capítulo 3, versículo 12

informa que “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”.

Este texto de Paulo quer dizer que pelo fato do apóstolo ter vivido uma vida piedosa, cheia de

retidão que estava ligada ao seu ensino, seu procedimento, seu propósito, seu amor e sua

perseverança, por causa deste estilo de vida ele era perseguido.

Mais vai além, pois o texto diz que “todos quantos”, e não apenas alguns seriam

perseguidos. O verbo “serão” conduz ao entendimento de o sofrimento faz parte da vida

daqueles que vivem fielmente perante Deus. O sofrimento, nesse caso, não facultativo ou uma

possibilidade, mas um fato. Portanto, todos os que se mantêm fiéis a Jesus devem estar

sempre prontos para enfrentar mazelas em sua vida.

Bom exemplo disso é a vida dos apóstolos. A tradição afirma que, com exceção de

João, todos os demais sofreram martírio. E mesmo quando em vida, padeceram

tremendamente pela decisão de viver de maneira piedosa e fiel a Cristo. É preciso ter sempre

em mente que a possibilidade do sofrimento é real e não está longe dos crentes. Mas Deus,

pela sua bondade e misericórdia, não permitirá que alguém padeça além das forças.

1.4. A provação por causa da pregação do evangelho pelo Servo de Deus.

Quando se olha para ha historia se vê que uma das maiores razões da igreja ter sido

perseguida foi à ousada pregação do evangelho. A pregação do evangelho sempre incomodou

bastante aqueles que não servos de Deus. A pregação gera reações até violentas contra os
70

pregadores do evangelho. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo na sua segunda carta a Timóteo

no capítulo 2 versículos 8 e 9 “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos,

descendente de Davi, segundo o meu evangelho; pelo qual estou sofrendo até algemas, como

malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada”.

Observa-se que por causa da pregação do evangelho o apóstolo foi tratado como

“malfeitor”. Ser tratado como malfeitor significa ser preso, e naquela época o sistema

carcerário era o pior possível. No livro de Atos no capítulo 16, versículos 22 a 24 informam

que Paulo foi preso no tronco pelos pés, sem nenhuma possibilidade de locomoção dentro do

próprio cárcere, desta forma eram as algemas da época. Para o apóstolo, porém, a Palavra de

Deus não estava algemada, Palavra esta capaz de transformar os ouvintes, e Paulo, pregador

apaixonado que era nunca se calou.

Os maiores perseguidores da igreja primitiva eram os Judeus. Para eles a única forma

de conter o avanço do evangelho era matando aqueles que a anunciavam. Na primeira carta

de Paulo aos Tessalonicenses no capítulo 2, versículos 14 a 16 Paulo diz:

Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na
Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as
mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus, os quais não somente
mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam
a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos
gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus
pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente.

Os tessalonicenses estavam experimentando as mesmas perseguições por parte dos

Judeus, pela chegada do evangelho. Onde o evangelho causava persuasão, havia perseguição.

“Todos os líderes e crentes em geral que são testemunhas corajosas e fiéis, haverão de sofrer

perseguição por causa da pregação da palavra de Deus”.144 O apóstolo Paulo tinha extrema

autoridade ao falar de provações, pois toda a sua vida foi vivida em meio a estas lutas por

causa do conteúdo do que ele falava.

144
Ibidem, p. 572
71

Este sofrimento é típico daqueles que ousadamente pregam uma contracultura, que

pregam contra os valores corruptos deste mundo. A tentativa de implantar esta nova cultura,

que é poderosa para transformar vidas, causa provações aqueles que se dedicam a esta árdua,

porém gratificante tarefa.

1.5. A Provação pela fidelidade dos Servos de Deus

Como disse Dr. Héber de Campos, este é um sofrimento típico. Este sofrimento que

sobrevêm aos servos de Deus pelo fato de pertencerem a Deus. A fonte são os opositores do

evangelho. Pode-se ver isso tanto nos escritos do Antigo Testamento como nos do Novo, e,

também, na vida dos primeiros pais apostólicos.

No Antigo Testamento é visto na vida, principalmente, de Davi. Ele foi um homem

perseguido por ser fiel a Deus. O rei Saul foi um perseguidor de Davi, e nessas perseguições

surgiram alguns Salmos. Os profetas, também, foram alvo de terríveis perseguições devido à

fidelidade a mensagem que Deus colocava em seus corações. O impressionante é que foram

perseguidos pelo próprio povo de Israel. Muitos zombavam deles, eram presos, tudo pelo fato

da incredulidade da liderança do povo no que estava sendo dito. O Senhor Jesus no intuito de

trazer alento a sua geração lembrou-os das perseguições que os profetas sofreram antes deles.

Pode-se confirmar isso no evangelho de Mateus no capítulo 5, versículos 11 e 12 onde: “Bem-

aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo,

disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos

céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.

A fidelidade a Deus proporcionou tribulação e conseqüentes provações a vida dos

piedosos profetas. O próprio Senhor Jesus foi alvo de terríveis provações pela sua fidelidade

ao Pai. No novo Testamento se vê muitos exemplos de provações na vida dos servos de Deus

pela fidelidade a Deus.


72

O evangelista João relata as próprias palavras do Senhor Jesus a este respeito no

Evangelho de João no capítulo 15, versículos 18 a 20:

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se
vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do
mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da
palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a
mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também
guardarão a vossa.

Nestas palavras Jesus profetiza a respeito das perseguições que haveria de sofrer a

igreja por Ele inaugurada. Na verdade o ódio sentido é contra o Senhor Jesus, e, por não

poderem nada fazer contra Ele o fazem contra a igreja.145 Essa verdade é percebida no livro de

Atos quando o Senhor se revela a Paulo e pergunta: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”

(Livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 9, versículo 4). Paulo até então era perseguidor da

igreja, e, então, o Senhor Jesus vai direto ao ponto. Sua pergunta indica que perseguir a igreja

é o mesmo que persegui-lo.

Na história da igreja, no período pós-apostólico, muitos daqueles primeiros cristãos

foram vítimas de perseguição por parte dos imperadores Romanos. Pode-se citar Justino,

chamado “O Mártir”. Foi martirizado entre os anos de 163 e 167 por causa da pregação do

evangelho. Foi denunciado por um homem chamado Crescêncio, um de seus “amigos”.

Foi condenado a morte por Rústico, no tempo de Marco Aurélio.146 Às vezes famílias

inteiras e suas gerações, eram perseguidas. Vê-se isto na família do pai da Igreja chamado

Orígenes. Seu pai chamado Leônidas, por causa do seu zelo ao evangelho, entre os anos de

201 e 202, foi executado e teve todos os seus bens confiscados. Anos após sua morte, mais ou

menos no ano de 255, na perseguição de Décio foi preso e torturado, o que o levou a morte.147

Poder-se-ia falar de muitos outros como Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, etc.

O ódio dos que não servos de Deus contra a igreja ainda é o mesmo, percebe-se que no

145
CAMPOS, O Ser de Deus e as suas obras: A Providência, p. 575
146
BOEHNER - História da filosofia Cristã, p. 26
147
Ibidem, p. 48
73

decorrer do tempo nada mudou na história. Como nada podem fazer contra Cristo o fazem

contra ela, que é a sua representante e seguidora. Quanto a esta realidade Dr. Heber de

Campos diz que “esse sofrimento é exclusivo daqueles que fazem parte do corpo de Cristo,

daqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo. Ninguém tem esse sofrimento de ver-se

criticado, zombado, preterido, discriminado por sua fé, senão aquele que é filho do Deus

Altíssimo e irmão do Redentor”.148

Quando se olha para a igreja no mundo ocidental, percebe-se que pouco ou nenhuma

perseguição lhes sobrevém. Muitos acham que é pelo motivo dos cristãos ocidentais não

viverem plenamente os princípios éticos dos evangelhos.

É possível que este argumento seja verdadeiro, pois a igreja em sua maioria tem

pregado um falso evangelho que tem como foco nas coisas materiais e terrenas de acordo com

a espúria teologia da prosperidade. Muitos pregadores têm deixado de lado o compromisso

com a fiel exposição das Sagradas Escrituras têm abandonado a mensagem do Evangelho, que

confronta o pecador e seu estado miserável, afastado de Deus, morto espiritualmente, para

levar para o púlpito de suas igrejas uma mensagem “vazia”, que não causa nenhum efeito no

pecador.

Porém, uma das marcas da igreja de Cristo é a perseguição sofrida pela fidelidade da

mesma a Deus bem como pela fidelidade dos seus pastores a fiel exposição das Escrituras

Sagradas. O Apóstolo Pedro ao se referir aos irmãos perseguidos, ele o faz chamando-os de

amados, ou seja, amados por Deus.

“Este é um designativo daqueles que são filhos de Deus. Somente a esses é que Ele

ama salvadoramente, a ponto de expô-los para o seu próprio desenvolvimento, ao

sofrimento”.149

148
CAMPOS, op cit., p. 576
149
Ibidem, p.580
74

Isso mesmo, sofrimento exclusivo. Paulo ao escrever sua carta aos Romanos no

capítulo 8, versículo 18 diz: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo

presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. Estes sim são

sofrimentos exclusivos, mas, as promessas que as acompanham são, também, exclusivas para

os servos de Deus.

2. Propósito da provação na vida do Servo de Deus

2.1. Trazer o Servo de Deus ao caminho correto

De acordo com C.S Lewis, a dor é o megafone que Deus usa para fazer o surdo ouvir o

que Ele tem a dizer.150 Nos momentos de dor é preciso pedir a Deus para revelar o caminho

correto a seguir. A humanidade é obrigada a reconhecer o erro para, então, voltar ao caminho

da retidão. Mas, será correto dizer que “alguns vêm para o evangelho pelo amor e outros pela

dor?”. Segundo Dr. Héber de Campos, isto não é verdade, pois pelo o que já foi exposto pode-

se concluir que todos os atos de Deus para com o servo de Deus são atos de amor. Todas as

formas de Deus agir para com o seus servos são formas amorosas, inclusive sua repreensão.

Deus usa sua vara para trazer de volta aquele que está se afastando, Ele a usa com amor,

mesmo que doa e cause provações.

O livro de Provérbios relata esta verdade de forma clara: “Filho meu, não rejeites a

disciplina do Senhor, nem te enfades da tua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem

ama, assim como o pai ao filho, a quem quer bem”. ( Pv. 3:1,2)

150
LEWIS - O Problema do Sofrimento, p. 46
75

2.2. Desenvolver no Servo de Deus compaixão pelos outros

Paulo ao escrever sua segunda carta aos Coríntios no capítulo 1, versículos 4 e 5 diz:

É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar aos que
estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos
contemplados por Deus. Porque assim como os sofrimentos de Cristo se manifesta em
grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio
de Cristo.

Um dos propósitos explícitos neste texto é que Deus, ao permitir que seus servos

passem por provações, Ele o faz com objetivo de capacitá-lo a consolar outros. Dentro do Seu

propósito, Deus tem preparado Seus servos, através de provações para exercer uma de suas

verdadeiras funções neste mundo, que é consolar os outros.

Na verdade, as provações servem como instrumento pedagógico da parte de Deus,

conforme a Carta de Tiago 1:2-4, que diz: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o

passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada,

produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e

íntegros, em nada deficientes”; e também 1 Pedro 1:6,7: “Nisso exultais, embora, no presente,

por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez

confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado

por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”.

À luz dos ensinamentos bíblicos, entende-se que os servos de Deuss passam por

provações diversas, todavia esta não é um simples acidente de percurso, mas está debaixo da

providência de Deus para equipar o cristão para que este responda o chamado de Deus no

exercício do suporte aos seus irmãos.


76

2.3. Promover no Servo de Deus um crescimento no conhecimento de Deus

Neste momento o livro de Jó é lembrado, onde declarou de forma magnífica: “Eu te

conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42:5). É preciso voltar os olhos

para o início do livro de Jó que revela que o conhecimento de Jó a respeito de Deus era

somente teórico. Jó conheceu na própria pele a vontade soberana de Deus quando disse:

“Porque as flechas do Todo Poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o

veneno delas” (Jó 6:4). Jó compreende aqui a vontade de Deus. Certamente ouvira falar do

poder de Deus, mas nunca o havia experimentado, porém, mesmo com resignação reconhece,

“bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrados” (Jó 42:2).

Então, ele confessa a sua ignorância sobre quem Deus de fato era. A sua confissão de

conceitos errôneos sobre Deus é claramente mostrada quando ele diz: “Falei do que não

entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia”.151 O sofrimento

produziu em Jó um conhecimento extraordinário de Deus, pois o seu conhecimento era apenas

teórico e não empírico, agora o sofrimento proporcionou um nível mais alto de

relacionamento. Por esta e por outras razões é preciso agradecer a Deus pelas provações, pois

são elas que confirmam todo aquele conhecimento teórico que o servo de Deus tinha no início

de sua caminhada e que a partir das provações são confirmadas de forma sublime; e tudo para

glória de Deus. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo

para a glória de Deus.” 1 Coríntios 10:31

151
CAMPOS, op cit., p. 611
77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para iniciar essas considerações finas, torna-se necessário fazer uma recapitulação do

que foi exposto até agora. Será feito de uma forma sucinta para uma conclusão mais coerente.

A proposta da introdução foi responder a algumas perguntas que foram feitas com

respeito às provações que sobrevêm ao ser humano, e, em especial, os servos de Deus. Toda

pesquisa se desenrolou nesta direção, procurando corresponder às expectativas criadas. O

primeiro passo foi definir alguns termos chaves de vital importância para o desenvolvimento

do trabalho. Foi definido “provação”, “providência” e “reformado”. Desta forma

estabeleceram-se algumas bases, como por exemplo, um melhor esclarecimento da diferença

entre provação e tentação.

O trabalho de pesquisa assinalou que a diferença entre ser provado e ser tentado, está

não na situação em si, e não no propósito que a mesma almeja, ou então, de onde ela vem. Isto

é o que define, se uma pessoa está sendo tentada ou provada.

O conceito de “reformado” aponta para uma pessoa que tem como princípio ético e

teológico o mesmo dos reformadores. São eles, principalmente, Martinho Lutero e João

Calvino, em especial este último. É definido, também, que o reformado aceita a doutrina da

providência.

O conceito de providência deixou claro que a mesma se refere aos atos de Deus em

todo o período pós-criação. Ou seja, depois de ter decretado a história humana na eternidade,

Deus trouxe tudo a existência em seu ato único de criação. A partir daí Deus conduz a história

em direção ao seu alvo proposto nos decretos. Deste momento em diante as ações de Deus

passaram a acontecer na existência do universo providencialmente.

Nunca se pode esquecer a responsabilidade humana como causa secundária na criação,

pois senão Deus torna-se a causa única do universo, inclusive do mal.


78

Os textos da confissão de fé que serviram como base do trabalho, além de apontarem

para o tema proposto ajudaram a relacionar a providência com outras ações providenciais de

Deus no universo. Ela está relacionada com a soberania, com onipotência, com os decretos e

com a criação.

Deste momento em diante tratou-se da realidade da provação. O ser humano não se

isentará destes males nesta existência. Elas acontecem e vêm de várias fontes, Deus é uma

delas, satanás é outra, assim como a cobiça e a própria natureza carnal. A limitação revela

uma das causas da provação, também, o pecado como a principal, pois, devido a queda o ser

humano quebrou o seu relacionamento com Deus e isto, por si só, já produz provações.

No capítulo quatro falou-se de algumas provações e sua relação com o servo de Deus,

as quais são relevantes e necessárias para o correto entendimento do tema proposto, levando-

se em consideração a dificuldade de exaurir todo o conhecimento e as nuances que envolvem

as provações e sua relação com o servo de Deus. Neste momento, em contraste com os que

não são servos de Deus, foi mostrado que apesar do servo também sofrer terríveis provações,

todas elas são fruto do amor de Deus.

Deus de fato está por detrás de tudo. Para com aqueles que não são servos de Deus sua

justiça manifesta-se punitivamente. Com aqueles que não são servos de Deus não consegue

contemplar e perceber os atos de Deus por detrás de toda história. Eles sofrem com terríveis

situações sem o mínimo de esperança e permanecem endurecidos quanto a tudo que está

relacionado com Deus. O servo de Deus contempla Seu amor, graça e justiça, entendendo que

tudo cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e cumprindo Seus esternos propósitos.

No término da introdução foi colocado que ”por detrás de uma providência

carrancuda, Deus oculta uma face sorridente”.152

Esta face sorridente oculta por trás da realidade da providência que, para aqueles que

152
PIPER - Teologia da Alegria, p. 14
79

não são servos de Deus é algo muito duro de aceitar, é revelada apenas para o servo de Deus

que, baseado única e exclusivamente no amor de Deus, tem o privilégio de contemplar o

Senhor da glória com Seus olhos amorosos cuidando de tudo para o bem de sua própria

existência.

Conclui-se citando novamente a seção do capítulo V da confissão de fé de

Westminster: “Visto que a providência de Deus em geral, se estende a todas as criaturas,

assim, de uma maneira muito especial, Ele cuida de sua igreja e tudo dispõe para o bem

dela”.153

153
HODGE, Confissão de fé Westminster, comentada, p. 131
80

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