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PREBITÉRIO DE CUIABÁ
CUIABÁ
2010
JADSON EDER PAES MATOS
CI-IPB.
Cuiabá
2010
JADSON EDER PAES MATOS
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________________
Rev. Nelson Abreu Junior
Relator PCBA
____________________________________________________________________
Componente da Banca
____________________________________________________________________
Componente da Banca
____________________________________________________________________
Componente da Banca
Este trabalho segue o padrão monográfico adotado pelo Seminário Teológico Presbiteriano
sentimento de gratidão que transborda dentro do meu coração. Entretanto, com estas simples
semeadura das Suas verdades entre as nações, a qual Ele mesmo formou, a fim de que o
conhecimento da Sua glória encha toda a terra, como as águas cobrem o mar. Ao Senhor que é
o único digno de receber toda honra glória e louvor, meu Pai, muito obrigado.
A minha amada esposa Joelice Matos. Pelo amor incondicional demonstrado, pela
superação para cada dificuldade. Agradeço o apoio e confiança que vem demonstrando nesses
dez anos de união feliz. Amo muito você. Receba o meu muito obrigado.
As minhas heranças; Jadson Matos Filho e Julia Matos, que abriram mão de forma
compreensiva do papai, quando este precisava sair ainda nas madrugadas para a academia,
retornando quando vocês já estavam dormindo. Filhos vocês são especiais, amo vocês.
Obrigado por me ensinarem a ser um verdadeiro pai. Vocês têm parte nesta vitória. Obrigado
pelos momentos das brincadeiras, pois quando o cansaço e stress já tomavam conta do papai
vocês me fizeram lembrar de que já era hora de parar com as pesquisas, para dedicar-lhes
Aos meus pais. Ezequias ou “cuiabano” como gosta de ser chamado e Elenir que
sempre acreditaram em mim e me deram o apoio e estímulo diante das minhas decisões.
formação recebida. Vocês foram instrumentos de Deus na formação do meu caráter. Agradeço
também o apoio nos momentos difíceis, um suporte sempre presente. É difícil mensurar a
pelo investimento em nossas vidas. Você tem parte nesta vitória, muito obrigado.
A minha sogra, Eloisa. Sempre presente dando o apoio necessário, acreditando sempre
em nosso trabalho. Muito obrigado pela confiança e suporte, o qual foi fundamental durante
À Igreja Presbiteriana Maanaim, local onde tive espaço para desenvolver e aperfeiçoar
os dons que recebi do Pai. Vocês foram instrumentos para comprovar a minha vocação, e
tudo o quanto fizeram. Agradeço de forma especial o conselho desta amada igreja. A junta
diaconal o meu reconhecimento. No seio desta igreja existem irmãos preciosos e valorosos
que estarão sempre em meu coração. A cada um vocês a minha sincera gratidão.
recebida. Agradeço cada colaborador desta preciosa academia. Não poderia deixar de
Manasses Júmior Villaça, amigo mais chegado que irmão. Mais que um irmão, um verdadeiro
pai. Grande encorajador e pastor que mora em meu coração. Obrigado por acreditar em mim,
por investir na minha vida. Agradeço o cuidado, saiba você é mais que especial. Obrigado
pelas portas abertas, Deus te abençoe. Ao professor Rev. Leonardo Leão, pelo empenho e
dedicação em fazer dos seus alunos mais do que simples pregadores, ao professor Rev.
Sebastião Guimarães, por seu exemplo de humildade e sua reconhecida sensatez, ao professor
Rev. Ulisses Horta Simões, por ser mais que um professor, por ser um grande amigo.
Obrigado pelas orientações e pastoreio, sou grato a você pelo carinho e dedicação. Ao
professor Rev. Floriano Sant’ana, por nos mostrar que o conhecimento acadêmico pode e
dever ser usado como ferramenta para o cuidado pastoral das ovelhas do Senhor. Ao Rev.
Renê Alves de Souza a minha gratidão. Pois através da sua simplicidade e humildade, ou seja;
através da sua vida nos ensinou quanto às marcas de um homem segundo coração de Deus.
Denoel Nicodemos Eller, Rev. Valdir Ferreira da Cunha, por nos ensinar que não basta ser, é
Ao grande amigo Jean Almeida, companheiro nesta jornada. Amigo de todas as horas,
sempre presente. Você é muito especial para mim, a você amigo, minha gratidão.
Ao Rev. Rômulo Monteiro de Castro, obrigado pelo carinho e confiança. Você foi
Aos missionários Rev. Ronaldo Lidório e Marcus Aurélio que despenderam tempo e
atenção em leituras do trabalho nas fases preliminares, dando-me orientações que muito
Ao Rev. Alderi de Souza Matos, que gentilmente nos forneceu conteúdo que em muito
enriqueceu este trabalho. Que o Eterno e bom Deus te abençoe. Muito obrigado.
Finalmente, mas não numa escala de importância, quero reconhecer todo o apoio e
Agradeço a cada membro desta amada igreja, que acreditou em nosso ministério desde o
princípio proporcionando meios para que eu pudesse chegar até aqui. A vocês, o meu muito
obrigado. Ao pastor Rev. José Henrique Cordeiro, amigo fiel e piedoso. Pessoa importante na
minha formação. Obrigado pela credibilidade e confiança. Agradeço o cuidado para com as
João Calvino.
João Calvino
RESUMO
questões fundamentais da vida. Por que a existência humana é tão cheia de contratempos?
Quais as razões e de onde procedem as provações? Deus está envolvido nestas coisas ou não?
Ele, depois de ter criado tudo, abandonou a sua criação, como dizem os deístas? Não se pode
escapar desses dilemas, pois eles fazem parte da realidade de todos os homens. Por isso,
torna-se importante saber como se posicionar diante dessas coisas e admitir que, ainda que
seja difícil de compreender, Deus está por trás de todas estas situações.
A grande questão é saber o que o motiva, quando envia uma provação, ou seja, aonde
Deus quer chegar com tudo isso. Deus, como soberano que é, pode fazer uso de qualquer
meio para alcançar seu propósito. Perceber-se-á que o eleito é alguém que goza de certos
privilégios na sua caminhada, mas, é importante saber que os privilégios não o isentam das
provações. Aliás, elas são, também, instrumentos do Criador para trabalhar o caráter de seu
PALAVRAS-CHAVE
CAPÍTULO I ....................................................................................................................................................... 16
Introdução .......................................................................................................................................................... 16
1. Provação ....................................................................................................................................................... 16
2. Reformado ..................................................................................................................................................... 23
3. Providência .................................................................................................................................................... 30
Conclusão .......................................................................................................................................................... 40
CAPÍTULO II ...................................................................................................................................................... 41
Introdução .......................................................................................................................................................... 41
Conclusão .......................................................................................................................................................... 53
xi
CAPÍTULO III .................................................................................................................................................... 54
Introdução .......................................................................................................................................................... 54
Conclusão .......................................................................................................................................................... 64
CAPÍTULO IV .................................................................................................................................................... 65
Introdução .......................................................................................................................................................... 65
1.2. A Provação por causa do amor a Cristo na vida do Servo de Deus ........................................................ 67
1.4. A provação por causa da pregação do evangelho pelo Servo de Deus. .................................................. 69
filosófica que não aceita outra realidade que não seja a realidade do ser pensante. De acordo
1
com o subjetivismo, a verdade é individual, ou seja, cada pessoa tem a sua verdade.
Percebe-se que o ponto de vista individual e suas opiniões a respeito da vida na sua forma
geral são muito valorizada. A experiência pessoal se tornou padrão de conduta para cada um,
mais credibilidade do que outra qualquer. Todas as histórias são igualmente válidas”.2 O Dr.
Heber de Campos, falando sobre A Relevância dos Credos e Confissões diz o seguinte:
forma de pensar é aceita, ou seja, há uma tolerância exagerada, nota-se, também, uma grande
1
O subjetivismo atribui a fonte da verdade ao sujeito. Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetivismo
acessado no dia 18/setembro de 2010.
2
SIRE - O universo ao lado, p. 214
3
A era pós-moderna é caracterizada pela queda dos padrões morais anteriormente estabelecidos e pelo
questionamento da necessidade de haver uma verdade objetiva. O pensamento pós-moderno afirma que a
linguagem não pode expressar verdades a respeito do mundo de um modo objetivo. Sendo que a linguagem é que
dá forma ao que pensamos e que é fruto de uma dada cultura, sua formação é, basicamente, social. Dessa forma,
argumentam os pós-modernistas, o verdadeiro significado das palavras faz sentido apenas para a cultura onde foi
forjada, não manifestando sentido para uma outra cultura diferente da de sua origem. E esta maneira de pensar
13
14
interpretação de um texto das Sagradas Escrituras já não é feita partindo de uma hermenêutica
Partindo desta realidade, as respostas que se dão para as questões das provações que
acometem o ser humano são variadas. Rebeca Brown afirma em seu livro “Maldições Não
Já o líder da igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo diz que isso é
coisa do “diabo” ou é fruto do “mau exercício da fé”. Pode- citar, ainda, aqueles que dizem
positivamente.5
estudos será as Escrituras Sagradas, com uma hermenêutica Reformada, ou seja, Histórico-
gramatical.
forma coerente, com toda a certeza levará a conclusões impactantes e desafiadoras trazendo-
nos refrigério e uma maior maturidade para se viver a vida. Quando se consegue enxergar a
“mão invisível” do Deus das Escrituras por trás de todos os movimentos deste universo,
consegue-se então ter segurança, paz e tranqüilidade. Toda e qualquer situação, por mais
difícil que seja, será compreendida a luz da graça providente de Deus, pois, como disse
William Cowper citado por Piper, “Por trás de uma providência carrancuda, Ele oculta uma
face sorridente”.6
tem dado o tom à forma de (re) interpretar as verdades bíblicas, criando, assim, uma teologia pós-moderna.
4
BROWN - Maldições Não Quebradas, p. 22
5
MACEDO - Orixás, Caboclos E Guias: - Deuses ou Demônios?, p.82
6
PIPER - O Sorriso Escondido de Deus, p. 92.
15
Diante de tantas dificuldades, o ser humano é alguém que carece tanto da consciência
do perdão de Deus porque é pecador, quanto necessita da certeza do cuidado divino porque é
frágil. As Escrituras demonstram o cuidado de Deus para com a sua criação através dos seus
CAPÍTULO I
Introdução
Palavras são carregadas de sentido, ou seja, expressam um significado que se quer dar
a um sentimento, desejo, intenção, etc. Porém, não se deve esquecer que estes significados
contidos nas palavras podem variar. O significado contido nelas precisa, ser comum entre os
sujeitos do diálogo, para que não se corra o risco de uma má interpretação, e, assim,
prejudique a comunicação.
o assunto é Teologia. Por esta razão, torna-se importante esta seção. Os termos que aqui serão
1. Provação
“testar” é hfSAm que é derivado de “hfsfn” (nasâ). O termo pode ter o sentido de “intentar” ou
“ousar” dizer algo que possa ofender o ouvinte conforme podemos observar:
“Se intentar alguém falar-te, enfadar-te-ás? Quem, todavia, poderá conter as palavras?” Jó 4:2
(grifo meu).
Pode, também, ter o significado de “tentar”, com o sentido de tentativa traduzido por
algumas versões como “intentar”. Para elucidar essa questão veja o seguinte texto: “ou se um
deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo, com provas, e com sinais, e
com milagres, e com peleja, e com mão poderosa, e com braço estendido, e com grandes
17
espantos, segundo tudo quanto o SENHOR, vosso Deus, vos fez no Egito, aos vossos olhos”
A Escritura também utiliza o termo derivado “hfsfn” (nasâ) em outros contextos com o
determinada coisa. Isso fica muito claro no texto de 1 Samuel, onde diz o seguinte: “Davi
cingiu a espada sobre a armadura e experimentou andar, pois jamais a havia usado; então,
disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois nunca o usei. E Davi tirou aquilo de sobre
Os termos provar, “tenta” e “por a prova” são utilizados secularmente, entretanto, com
desafio contra Javé, pondo-O à prova. De modo inverso, Javé pode por Seu povo à prova.7
O significado mais comum é aquele que aponta para situações nas quais pessoas ou
nações passam por tribulações ou dificuldades provocadas por pessoas, nações ou até mesmo
Em 31 das 39 vezes, é traduzido por tentado, ser tentado, tentando e tentar. De acordo com a
7
HARRIS - DIT, p. 2482
8
HARRIS – DIT, op cit., p.969
18
hebraico, podemos ver isso através de passagens como Ex 15:25 que diz: “Então, Moisés
clamou ao SENHOR, e o SENHOR lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as
águas se tornaram doces. Deu-lhes ali estatutos e uma ordenação, e ali os provou [”]נִ ָסּה.
(João 6:6), “fazer uma tentativa” (Atos 16:7), “intentar” (Atos 24:6), “examinar” (2 Coríntios
13:5), “pôr à prova” (Hebreus 11:7; Apocalipse 2:2,10) e “provar” (Apocalipse 3:10). Nas
passagens bíblicas onde o verbo é usado podemos perceber que Jesus Cristo está diretamente
envolvido, sendo que duas dessas passagens fazem referência a Deus (Atos 15:10;
Hebreus 3:9). Este verbo é usado no sentido de provar, testar ou solicitar a alguém para fazer
algo errado. Como substantivo, o termo utilizado no Novo Testamento para provação é o
peirasmoj (peirasmos) que significa “teste”, “prova” que é traduzido por “tentação”. Faze-se
necessário ressaltar que em Tiago 1:3 aparece o termo δοκίµιον que significa “ação de provar
9
ou aquilo pelo qual algo é testado ou provado, teste”. No mundo antigo não havia sistema
bancário como nós o conhecemos hoje, e nem dinheiro em papel. Todo dinheiro era feito de
metal, aquecido até se tornar líquido, despejado em moldes e deixado para esfriar. Quando as
moedas estavam frias, era necessário polir os cantos irregulares. As moedas eram
um século, mais que oitenta leis foram promulgadas em Atenas, para parar a prática de cortar
as moedas que estavam em circulação. No entanto, algumas das pessoas que cambiavam o
dinheiro eram homens íntegros, que não aceitariam dinheiro falsificado. Eram pessoas
honradas que colocavam em circulação apenas dinheiro genuíno e com o peso correto. Tais
9
STRONG, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil – Libronix.
10
Ibidem, Libronix
19
duas passagens (Lucas 4:13; 22:28) com referencia a Jesus Cristo. O termo é usado 21 vezes
no Novo Testamento.
definição dos termos não fica claro a distinção entre eles, uma vez que o termo usado tanto
para um quanto para outro é o mesmo. Para compreender a intenção do tradutor bíblico ao
usar o termo “tentação” ou “provação” é necessário analisar o contexto em que o termo foi
Diante do exposto acima, é necessário ressaltar que na passagem de Gênesis 22:1 nos é
informado que Deus colocou seu servo Abraão à prova, para testar a sua fé. A palavra usada
na LXX (Septuaginta) é a mesma que em alguns contextos significa “tentar internamente, por
meio de inclinação pecaminosa”. Com isso em mente, parece uma contradição entre
O termo grego πειραζω (peirazo) vem da raiz grego πειρα (peira) que significa
“tentativa, experiência, intento; tentar algo, experimentar algo ou alguém; provar algo;
experiementar, aprender a conhecer pela experiência.”11 Esse termo é usado apenas duas
vezes no N.T, em Hebreus 11:29 para se referir a tentativa dos Egípcios de atravessarem o
Mar Vermelho atrás dos hebreus. A outra ocorrência do termo πειρα (peira) é no versículo 36
do mesmo capítulo, que menciona as provações que os servos de Deus enfrentaram no Antigo
Testamento.
11
STRONG - Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong - Sociedade Bíblica do Brasil. - Libronix
20
Evangelhos. Esse termo utilizado para a palavra tentação é usada no contexto onde Jesus está
sendo tentado pelo diabo (Mateus 4:1); do diabo como “o tentador” (Mateus 4:3); dos
Fariseus testando o conhecimento de Jesus para acusá-lo (Mateus16:1); testando Jesus para
saber o que Ele iria dizer (Mateus 19:3); fazendo uma armadilha doutrinária (Mateus 22:18;
35; Marcos 8:11; 10:2; 12:15; Lucas 11:16; 20:23) O próprio Cristo colocando à prova seus
discípulos (João 6:6; 8:6); de por o Espírito Santo à prova (Atos 5:9), por Deus à
prova (Atos 15:10); de tentar fazer algo, no sentido puro de tentativa (Atos 16:7; 24:6); de ser
tentado internamente por meio de impulsos (1Coríntios 7:5); de por Deus à prova
(1Coríntios 10:9); de provações no geral (1Coríntios 10:13); de provar à nós mesmos, fazendo
um exame pessoal (2Coríntios 13:5); de provação comum a todos os homens, inclusive aos
que auxiliam os que estão sendo provados (Gálatas 6:1); do “tentador” (1Tessalonicensses
3:5); de Cristo sendo tentado assim como nós (Hebreus 2:18); de Deus tentado pelos
antepassados (Hebreus 3:9); Cristo tentado em todos os sentidos, como nós mesmos. (Hebreus
4:15); de Abraão provado no caso do sacrifício de Isaque (Hebreus 11:17); de servos de Deus
para passarem provações externas (Hebreus 11:37); de provações internas (Tiago 1:13; 1:14);
2:10); de grande provação externa com todos os seres humanos (Apocalipse 3:10)
se pode definir o verbo πειραζω (tentar e ou provar) apenas no sentido de uma inclinação
pecaminosa interna, paixões pecaminosas, uma vez que essa mesma palavra grega é aplicada
à Deus, Jesus, e ao Espírito Santo. Então, nesse caso, ser Deus, Jesus, ou o Espírito santo
“tentado”, ou “posto à prova”, só pode significar algo além de tentação pecaminosa interna,
12
Ibidem, Libronix
21
como a temos devido à nossa imperfeição. Diferentemente de Deus, conforme nos mostra
Mateus 5:48 “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”, ao que
igualmente impossíveis”13
No que tange a tentação, como sendo algo interno, consideramos textos como
1 Coríntios 7:5, Gálatas 6:1 e Tiago 1:13-15 como excelentes exemplos de como as Escrituras
usam πειραζω (peirazo) para se referir a tentações que brotam em nossas mentes e corações
devido a nosso estado de imperfeição e pecadores. Desta forma a tentação possui um aspecto
interno.
Contudo existem textos como de Atos 8:1 e Hebreus 11:37, onde vemos situações que
ocorreram com servos de Deus no passado, que colocaram a fé desse homens à prova, sendo
essas provações causadas externamente pelo próprio ser humano; ou um proceder contrário ao
de Deus, ou até mesmo pela perseguição devido à fé. (Mt. 5:11, 12) As provações e
sofrimentos que atinge os homens ainda que estejam ligados a um aspecto externo, tais
acontecimentos estão debaixo da soberania de Deus, Seu governo e providência. Deus permite
Como citado acima, faze-se necessário dirimir a suposta contradição entre Gênesis
22:1 e Tiago 1:13-14. A compreensão em si é simples, pois apesar de ser usada a mesma
palavra nos dois casos, ambas estão em contextos diferentes. Em Gênesis 22:1, Deus coloca
prova Abraão com um propósito específico. O servo de Deus nunca está isento de passar por
13
BERKHOF – Teologia Sistemática, p.51
14
HENRY - Matthew Henry's commentary on the whole Bible: (Gn 22:1). Peabody: Hendrickson.
22
diferente. Como indicado pelo versículo 15, ali se refere a “por à prova”, ou “tentar”, no
íntimo, ao inclinar alguém a fazer algo que é mal, a cometer uma transgressão da lei divina,
transgressão essa que causará danos a si mesmo e a outros. Nesse sentido, Deus jamais põe
seus servos à; ou seja, Ele jamais influência as pessoas para o mal, jamais incentiva a prática
do pecado, ao invés disso, Ele nos “livra da tentação”, e não nos conduz à ela. (Mateus 6:13).
Henry expõe com clareza o problema da relação da tentação com pecado ao dizer:
“Na verdade o problema de todo o mal moral é devido a algum distúrbio no ser que é
exigível com ele, a uma falta de sabedoria, ou de poder, ou do decoro e da pureza, na
vontade. Todo homem é tentado quando ele é seduzido pela sua própria
concupiscência, e por esta seduzido.”15
caminho errado se abre diante de nós e se torna aparentemente viável e sedutor. Nas
Escrituras repetidamente vemos pessoas nessa situação, conforme pode citar alguns exemplos:
Eva perto da árvore proibida e com os desejos despertados e fortalecidos pelo tentador,
querendo servir-se dos frutos (Gênesis 3.1-6). Caim, aparentemente preterido e cheio de
rancor (Gênesis 4.3-8). José no Egito, com a possibilidade de, não obstante a situação criada
pela vileza dos irmãos, tornar as coisas bem agradáveis para si (Gênesis 39.7-10). Absalão,
com a chance de agora se tornar rei (2Samuel 15.1-12).16 Assim vemos que, embora Gênesis e
Tiago usem a mesma palavra, cada um dos relatos tem um sentido diferente. Portanto, não há
Fica claro que Deus pode, permitir que adversidades nos atinjam, podemos sofrer
devido a alguma injustiça, uma doença, ou qualquer outra situação lastimável. Ao permitir
que isso ocorra, de certa forma Deus nos põe à prova, e através da provação se pode ver até
15
Ibidem, Tg 1:13
16
GRÜNZWEIG - Comentário Esperança, Carta de Tiago; Comentário Esperança, Tiago
23
propósito final de toda a situação. A “provação” vem de Deus, e visa um fim proveitoso, ou
seja, a edificação da pessoa que passa por esta ou aquela situação. Já a tentação visa à ruína
humana. Satanás tem como objetivo a destruição, em todos os aspectos do servo de Deus.
2. Reformado
Origem terminológica
Para se definir o que significa o termo “reformado” é preciso, mesmo que brevemente,
ter uma visão do movimento da Reforma Protestante do século XVI. Timothy George assim
define o movimento da Reforma do século XVI: “Apesar de toda sua ênfase no retorna à
essencialmente num movimento visando ao futuro.” 17 Percebe-se que foi um movimento que
visou trazer a igreja de volta a uma ética e um estilo de vida semelhantes ao dos apóstolos e
dos primeiros pais. A razão desta luta nesta direção foi que nos séculos anteriores à Reforma
havia um sentimento de ansiedade no povo em geral.18 Huizinga descreve que “nos fins da
Idade Média pesava na alma do povo uma tenebrosa melancolia”.19 George ao falar de Lutero
descreve que as suas famosas angústias espirituais, espelhava “a epítome dos medos e das
esperanças de sua época.” 20 Ainda que Calvino não fosse dominado por esse sentimento, ele
refletia uma constatação natural: a fragilidade humana. Podemos compreender melhor esse
entendimento quanto aos perigos convenientes da vida, observando o que Calvino diz:
17
GEORGE - Teologia dos Reformadores, p. 319
18
MAIA - Raízes da Teologia Contemporânea, p. 73
Tillich denomina a ansiedade predominante nos fins da Idade Média de “ansiedade moral” e “ansiedades da
culpa e da condenação”. (Paul Tillich, A Coragem de Ser, 3ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976, p. 44 e 45)
19
HUIZINGA - O Declínio da Idade Média, p. 31
20
GEORGE - A Teologia dos Reformadores, p. 26
24
“Incontáveis são os males que cercam a vida humana, males que outras tantas mortes
ameaçam. Para que não saiamos fora de nós mesmos: como seja o corpo receptáculo
de mil enfermidades e dentro de si, na verdade, contenha inclusas e fomente as causas
das doenças, o homem não pode a si próprio mover sem que leve consigo muitas
formas de sua própria destruição e, de certo modo, a vida arraste entrelaçada com a
morte. “Que outra cousa, pois hajas de dizer, quando nem se esfria, nem sua, sem
perigo? Agora, para onde quer que te voltes, as cousas todas que a teu derredor estão
não somente não se mostram dignas de confiança, mas até se afiguram abertamente
ameaçadoras e parecem intentar morte pronta. Embarca em um navio: um passo distas
da morte. Monta um cavalo: no tropeçar de uma pata a tua vida periclita. Anda pelas
ruas de uma cidade: quantas são as telhas nos telhados, a tantos perigos estás exposto.
Se um instrumento cortante está em tua mão ou de um amigo, manifesto é o
detrimento. A quantos animais ferozes vês, armados estão-te à destruição. Ou que te
procures encerrar em bem cercado jardim, onde nada senão amenidade se mostre, aí
não raro se esconderá uma serpente. Tua casa, a incêndio constantemente sujeita,
ameaça-te pobreza durante o dia, durante a noite até mesmo sufocação. A tua terra de
plantio, como esteja exposta ao granizo, à geada, à seca e a outros flagelos,
esterilidade te anuncia e, dela a resultar, a fome. Deixo de referir envenenamentos,
emboscadas, assaltos, a violência manifesta, dos quais parte nos assedia em casa, parte
nos acompanha ao largo. “Em meio a estas dificuldades, não se deve o homem,
porventura, sentir assaz miserável, como quem na vida apenas semi vivo, sustenha
debilmente o sôfrego e lânguido alento, não menos que se tivesse uma espada
perpetuamente a impender-lhe sobre o pescoço?” 21
Ainda na obra “A Verdadeira Vida Cristã” de João Calvino pode ver o seguinte:
23
Pascal, mais tarde constataria que “Só o homem é miserável” e, ao mesmo tempo
grande, porque “ele se conhece miserável”.24 No entanto, Calvino não termina o seu
“Quando, porém, essa luz da Divina Providência uma vez iluminou o homem piedoso, já não
21
João Calvino, As Institutas, I.17.10.
22
CALVINO, A Verdadeira Vida Cristã, p. 43.
23
PASCAL - Pensamentos, (Os Pensadores, Vol. XVI), 1973, VI.399. p.136.
24
Ibidem, VI.397. p. 136.
25
CALVINO - As Institutas, I.17.10.
25
só está aliviado e libertado da extrema ansiedade e do temor de que era antes oprimido, mas
ainda de toda preocupação. Pois assim como, com razão, se arrepia de pavor da Sorte,
Lutero. Os seus seguidores logo passaram a ser conhecidos como “luteranos”. Logo depois,
“Reforma Suíça” estava realizando uma obra de renovação da igreja mais profunda e radical
Quando do seu início a movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Ulrico
com o seu maior teólogo e articulador, que foi o francês João Calvino. Portanto, o movimento
reformado é o ramo do protestantismo que surgiu na Suíça do século XVI, tendo como líderes
vida e o mundo a partir de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania
de Deus.27
26
CALVINO - As Institutas, I.17.11.
27
MATOS, Apostila “Panorama da História da Igreja”, p.01
26
expressavam o sentimento de milhares de outras, que através dos tempos não encontravam na
igreja romana espaço para a manifestação de sua fé nem alimento para as suas necessidades
espirituais. As insatisfações não visam criar uma nova igreja, mas sim, tornar a existente mais
bíblica.
Portanto, a Reforma deve ser vista não como um movimento externo, mas sim, como
um movimento interno por parte de “católicos” piedosos30 que, diga-se de passagem, ao longo
dos séculos tinham manifestado a sua insatisfação, quer através do misticismo, quer através de
uma proposta mais ousada, que desejavam reformar a sua Igreja, revitalizando-a,
religioso. Em conseqüência disso, ela deve ser estudada e julgada segundo critérios
Humanismo da época contribuíram com a Reforma, pois a mesma ocorreu na história, dentro
das categorias tempo e espaço, onde o homem está inserido. Contudo isso não diminui as
causas e muito menos o valor inerente da Reforma; pelo contrário, vem apenas confirmar o
28
BIÉLER - O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 43, 67
29
Compartilhando do entendimento do Dr. Tom Nettles que diz: “Tentativas de Reforma através do tratamento
de dimensões morais, espirituais e eclesiológicas, ignorando a teológica, sempre falharam.” NETTLES, Tom -
Um Caminho Melhor: Crescimento de Igreja através de reavivamento e reforma: Em: Michael Horton, p. 134.
30
LÉONARD - O Protestantismo Brasileiro, p. 27-28.
31
MONDIN - Curso de Filosofia, Vol. II, p. 27
32
Ibidem, Vol. II, p. 41
27
que a Palavra de Deus ensina e no que creram os reformadores, a saber: Deus é o Senhor da
dirigida por Deus, o Senhor da História.34 O propósito de Deus na história como realidade
na compreensão de que ela esteve restrita a apenas esta esfera da realidade; pelo contrário, a
Reforma em diversos setores da vida estava tácita em sua própria constituição: Era impossível
alguém abraçar a Reforma apenas no campo da religião e continuar em tudo o mais a ser um
homem de uma ética medieval, com a sua perspectiva da realidade e prática intocáveis. O Dr.
Herminsten Maia diz que a Reforma em sua própria constituição era extremamente
A Reforma teve como objetivo principal uma volta às Sagradas Escrituras, a fim de
reformar a Igreja que havia caído ao longo dos séculos, numa decadência teológica, moral e
adoração e da doutrina à luz da Palavra de Deus”.36 Desta forma, a partir da Palavra, passaram
a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo! “A reforma foi acima de tudo uma
33
LOYD JONES - Do Temor à Fé, p. 23.
34
FARLEY - A Providência de Deus na Perspectiva Reformada, p. 74.
35
COSTA – Apostila: A Nossa Identidade Reformada
36
BROWN, Filosofia e Fé Cristã, p. 36.
37
LEITH - A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 36.
28
reencontrar as raízes próprias da fé cristã, que mergulham tanto no patrimônio judeu integral
do Antigo Testamento quanto na herança dos apóstolos e dos discípulos de Jesus Cristo, que
nos é transmitida pelo Novo Testamento. A força dos reformadores consiste em nos ter
ensinado um método de reinterpretação da eterna e imutável Palavra que Deus dirige a suas
juntos, caso contrário, as distorções eram certas. Calvino afirmou que o conhecimento de
Chamo piedade à reverência associada com o amor de Deus que nos faculta o
conhecimento de seus benefícios. Pois, até que os homens sintam que tudo devem a
Deus, que são assistidos por seu paternal cuidado, que é ele o autor de todas as coisas
boas, daí nada se deve buscar fora dele, jamais se lhe sujeitarão em obediência
voluntária. Mais ainda: a não ser que ponham nele sua plena felicidade,
verdadeiramente e de coração nunca se lhe renderão por inteiro.40
Por fim, a Reforma traz o correto entendimento da Palavra de Deus de que justificação
a não ser que cheguemos vazios e com a boca de nossa alma aberta para buscar a graça de
Cristo, não somos capazes de receber Cristo.” 41 O vaso não pode ser comparado em seu valor
Este princípio, então, se choca com outra questão levantada pelos reformadores quanto
às indulgências. Uma taxa cobrada pela igreja de Roma, onde na compra da mesma, o
portador receberia perdão de seus pecados, abrindo-lhe as portas do céu. Receber perdão por
meio financeiro não estava de acordo com as Escrituras, a justificação, segundo a mesma, é
pela fé em Cristo Jesus, gratuitamente. A fé, então, estava sendo praticada como meio de
reformado, ele quer informar, primeiro, que não é adepto do catolicismo romano, pois os dois
se excluem. Segundo, e este sentido é o mais importante, alguém que se diz reformado é
aquele que concorda com a visão hermenêutica dos reformadores, ou seja, é alguém que
Desafios Contemporâneos ele inicia sua abordagem afirmando que “não existe unanimidade
lembrando que, historicamente, este termo foi usado a princípio indistintamente para todos os
41
CALVINO - As Institutas, III.11.7.
30
ainda:
Assim, embora para alguns hoje ser reformado seja pertencer a uma igreja que
historicamente descende da reforma protestante, ou ainda manter o espírito reformista
que marcou os reformadores, é mais exato dizer que o conceito está ligado às
principais convicções doutrinárias dos reformadores, particularmente às de João
Calvino.43
Ele conclui de maneira determinante dizendo que “se considerarmos que apenas os
que se mantêm leais aos principais pontos da doutrina calvinista podem ser realmente
3. Providência
3.1. Etimologia:
“prover” que tem sua raiz no “Providere”. Etimologicamente o termo significa “ver antes”,
"prover algo para" ou “ver de antemão”. Diante de tais definições, a palavra fica longe de
e controle que a infinita previsão de Deus de seus próprios fins e seu conhecimento que seus
42
LOPES - Pneumatologia Reformada, De Verdade! Definições E Desafios Contemporâneos -
http://www.thirdmill.org/files/portuguese/48933~9_19_01_11-14-53_AM~PNEUMATOLOGIA_REFORMADA.html
acessado em 25/05/2009
43
LOPES, op cit., acessado em 25/05/2009
44
CAMPOS – O Ser de Deus e Suas obras: A Providência, p.13
31
Conforme já abordado, a Fé Reformada possui fundamentos das quais não abre mão,
com as Escrituras Sagradas, a Fé Reformada crê que Deus sustenta todas as coisas pela força
do Seu poder45 e que assim sendo a soberania do Senhor é absoluta. É importante ressaltar que
a Fé Reformada não é dualista, por entender que Deus e o homem, não estão no mesmo nível.
Deus é Criador, e o homem é Sua criatura. A Fé Reformada crê também, que a Escrituras
Sagradas é autoridade sobre os homens, sendo esta, regra de fé e prática; por conseguinte, vê
o homem como a Bíblia diz que ele é: uma criatura de valor, feita à imagem e semelhança de
Deus, vice-gerente de Deus na terra, responsável pela administração das obras das mãos de
Deus, contudo caído e morto em pecado, incapaz até mesmo de desejar o bem. Ressalta-se
que a Fé Reformada é oposta a tudo que é contrário aos ensinamentos das Escrituras
Sagradas.
Conforme já mencionado acima, a Fé Reformada tem aspectos que lhe são peculiares
essência47, poder e eternidade. Berkhof descreve que a subsistência e as operações das três
pessoas da Trindade são assinaladas por uma ordem definida, assim ele descreve: “Há uma
certa ordem na Trindade ontológica.”48 Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, O
Pai não é de ninguém, não é nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do
45
Conforme Hebreus 1:3
46
A palavra “Trindade” não é tão expressiva como a palavra holandesa “Drieenheid”, pois pode simplesmente
denotar o estado tríplice (ser três), sem qualquer implicação quanto à unidade dos três. Geralmente se entende,
porém, que, como, termo técnico na teologia, inclui essa idéia. Mesmo porque, quando falamos da Trindade de
Deus, nos referimos a uma trindade em unidade, e a uma unidade que é trina. (Ver Berkhof, p. 77)
47
Assim Berkhof define: O termo essência (ousia, essentia) descreve Deus como a soma total das perfeições
infinitas. Ver obra Teologia Sistemática de Louis Berkhof, p.79
48
BERKHOF – Teologia Sistemática, p. 81
49
Confissão de Fé de Westminster, Capitulos II – De Deus E Da Santíssima Trindade
32
sua ordem inerente constituem a base transcendente da Trindade econômica. Desta forma,
essa ordem reflete nas opera ad extra (obras externas ao ser essencial) que é atribuída a cada
uma das pessoas da Trindade. A Escritura indica claramente esta ordem nas chamadas
“praepositiones distinctionales, ek, dia, e en”, utilizadas para expressar a idéia de que todas as
coisas provêm do Pai, mediante o Filho, e no Espírito Santo.50 É preciso salientar que existem
certos atributos pessoais pelos quais se distinguem a Trindade, permitindo que o Ser Divino
opere de forma pessoal e não em conjunto. Berkhof chama de opera ad intra, porque são
obras realizadas no interior do Ser Divino e não se finalizam na criatura. São operações
pessoais, não realizadas pelas três pessoas juntas. A geração é um ato exclusivo do Pai, a
Santo.51 A opera ad intra, se distinguem das opera ad extra, pois a opera ad extra são as
ordem econômica das obras de Deus, algumas das obras ad extra são atribuídas mais
particularmente a uma pessoa, algumas mais especialmente a outra, e assim com cada uma
das três pessoas divinas. Conquanto sejam obras das três pessoas conjuntamente, atribui-se a
ordem das operações divinas indica a ordem essencial de Deus e forma a base daquilo que
52
geralmente se conhece como Trindade econômica.
Os reformados entendem ser herdeiros de uma teologia que passa por Paulo, Tomas
cardeais defendidos pelos reformadores da seguinte forma: Sola Scriptura53; Solo Christo54;
50
Op. cit. p. 81
51
Op. cit. p. 82
52
Idem
53
Sola Scriptura - Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para
constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o
padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. (Extraído de Declaração de Cambridge)
33
Sola gratia55; Sola fide56; Soli Deo gloria57. A ênfase central da fé reformada está na teologia
coisas; na criação, na providência e acima de tudo na redenção. 58 O Dr. Matos, citando B.B.
Warfield e C. Van Til dize que eles referem-se a isso como uma atitude religiosa específica
começar da sua antropologia, ou seja; diante de um Deus tão grandioso e santo, o ser
humano só pode ter uma profunda consciência da sua própria pecaminosidade e total
expressa pelo Sínodo de Dort nos chamados cinco pontos do calvinismo: Depravação total;
dos santos.
Desta forma, os ensinos, da igreja Reformada requerem uma postura ética, correta e
acima de tudo bíblica perante a família e a sociedade compreendo que Deus governa,
controla e rege todas as coisas para Sua própria glória. Deus age na esfera temporal
54
Solo Christo - Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória de Cristo. Sua
vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação
com o Pai. (Extraído de Declaração de Cambridge)
55
Sola gratia - Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra
sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos
da morte espiritual à vida espiritual. (Extraído de Declaração de Cambridge)
56
Sola fide - Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por
causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a
perfeita justiça de Deus. (Extraído de Declaração de Cambridge)
57
Soli Deo Gloria - Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de
Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade
de Deus, e para sua glória somente. (Extraído de Declaração de Cambridge)
58
MATOS - Aspectos Essências da Identidade Reformada, extraído de:
http://old.thirdmill.org/files/portuguese/61825~11_1_01_9-39-
35_AM~ASPECTOS_ESSENCIAIS_DA_IDENTIDADE_REFORMADA.html dia 23/09/10
59
MATOS - Jonathan Edwards: Teólogo Do Coração E Do Intelecto, extraído de:
http://www.mackenzie.br/7077.98.html na data de 23/09/10
34
O Deus que Escritura Sagrada apresenta é um Deus criador e que tem grande preocupação
com aquilo que cria. Portanto, a doutrina da providência trata de todos os atos externos de
Deus que aparecem subseqüentemente à criação. Somente as coisas que vieram à existência é
que são objeto das obras providenciais de Deus. Estas opera ad extra são a execução temporal
e sucessiva do seu plano eterno já estudado na doutrina do decreto. 60
Tudo aquilo que foi criado e veio à existência é alvo da ação providencial de Deus. Estas
obras externas são a execução temporal e sucessiva do seu plano eterno para toda a criação.
Deste modo, a providência do Deus Trino são os Seus atos externos61 conforme descreve
A doutrina da Providência não pode ser negada por um cristão verdadeiro. A bíblia
mostra um Deus transcendente e ao mesmo tempo imanente, ou seja, se preocupa com o que
foi criado e está envolvido com ela. A carta aos Hebreus, no capítulo 1, versículo 3 afirma:
“sustentando todas as coisas pela palavra de seu poder”, além de sustentar Deus controla,
Paulo diz isso na sua carta aos Romanos, 11:36 “porque dele e por meio dele e para ele são
todas as coisas”.
Todo este controle diz respeito, também, aos atos bons e maus que vierem a acontecer,
como disse Jó a sua esposa: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus, e
não receberíamos também o mal?” Jó 2:10. Porém, este ponto de vista é defendido apenas por
cristãos genuínos que reconhecem o controle e o governo de Deus sobre todas as coisas.
60
CAMPOS, op cit., p.13
61
Dr. Herber Campos define assim os atos externos de Deus: “Estas opera ad extra são a execução temporal e
sucessiva do seu plano eterno já estudado na doutrina do decreto.” Em O Ser de Deus e as suas obras:
A PROVIDÊNCIA, p.7
62
Ibidem, p.13
35
Percebe-se que a partir do século XlX acontece um certo descrédito com respeito a
doutrina da Providência. Uma das razões que se pode enunciar é o surgimento do Naturalismo
Científico.
A ciência começou a dispensar a idéia de Deus presente, dizendo que todas as coisas
existentes tinham uma causa simplesmente natural, ou seja, dentro do próprio universo
O estudo da ciência começou dispensando a idéia de Deus presente neste mundo por
enfatizar o naturalismo. Todos os fenômenos acontecidos neste mundo passaram a
possuir uma causa natural, dentro dele próprio, nunca tendo uma causalidade fora de si
mesmo, isto é, na obra providencial de Deus. A natureza começou a ser estudada
como auto-causada. Em vês de atribuir os fenômenos da natureza a um Princípio
causal último que é Deus, os estudiosos começaram a falar da Mãe Natureza como
sendo a explicação causal última das coisas. O nosso mundo tornou-se independente,
autônomo e o estudo dos fenômenos físicos ficou trancafiado nas causas naturais. O
aparecimento do estudo das origens das espécies foi apoiado pelo desenvolvimento do
deísmo.63
O deísmo preconiza que Deus, de fato, criou, porém, não tem nenhuma espécie de
relacionamento com o que foi criado. Todos os acontecimentos relacionados ao universo têm
O aparecimento do estudo das origens das espécies foi apoiado pelo desenvolvimento do
63
Ibidem, p.17
64
G. C. Berkouwer, The Providence of God (Grand Rapids: Eerdmans, 1952), 13.
65
O deísmo é a concepção de que um deus transcendente tenha criado o universo e em seguida se distanciado
dele. Este deus não é imanente, não se envolve na história (negação da história bíblica). Extraído de:
http://www.ipcg.org.br/ipcg/?page_id=433&paged=38 acessado dia 27/09/10
36
leis da natureza66. De acordo com os deístas, Deus estava fora deste mundo, sem possuir
qualquer envolvimento com ele e, logo, todas as explicações sobre os fenômenos acontecidos
no universo tinham que ter sua origem na própria natureza. A verdade é que não sobrou
comum falar na religião como algo não além da subjetividade humana. Toda a manifestação
religiosa não passava de uma explosão de sentimentos vindos do coração do homem.67 É certo
que tal manifestação religiosa não era o desenvolvimento do semen religionis68 ensinado por
João Calvino em suas Institutas da Religião Cristã mas apenas um sentimento da própria
subjetividade humana, sem que esta fosse despertada pela revelação divina que está fora de
nós e causa impacto nos seres humanos, o que podemos chamar de existêncialimo.
como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino. 69 Dr. Heber descreve que,
embora a religião seja um fenômeno universal entre os homens, ele (o homem) passou a crer
que era apenas uma expressão das necessidades egoístas interiores do ser e nada mais. Afirma
ainda que essa corrente filosófica desenvolveu-se com Ludwig Feuerbach, Neitzsche, Marx e
Freud.70
66
Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/De%C3%ADsmo acessado dia 27/09/10
67
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 10
68
A verdadeira sabedoria consiste de dois elementos: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos.
Daí a importância da revelação. Não podemos conhecer a Deus em sua essência, mas somente na medida em que
ele se dá a conhecer a nós. Existe um duplo conhecimento de Deus: como criador e como redentor. Todo ser
humano é essencialmente uma criatura religiosa, tendo em si a “semente da religião” (Semen Religionis). Deus
se revela não só através desse senso inato de si mesmo, mas também através das maravilhas da criação. Esse
conhecimento de Deus revelado na natureza exige uma resposta humana, seja de piedade ou idolatria. O fim
último da piedade não é a salvação individual, mas a glória de Deus.
69
Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo acessado dia 27/09/10
70
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 10
37
A idéia da divindade entre os homens nasce em sua subjetividade sem que nunca seja
impactada por alguma coisa que proceda de fora de deles. De acordo com a corrente
subjstivista, a religião é apenas produto do “eu” carente. Feuerbach citado por Berkouwer em
Desta forma a religião passou a ser um fenômeno puramente humano, sem qualquer
Feuerbach, Deus ficou de fora da religião. Assim de acordo com Feuerbach não há espaço
para a Providência Divina, pois, quanto mais se estuda a religião, mais se conhece o homem.
Friedrich Wilhelm Nietzsche foi outro grande pensador que abraçou o ateísmo
morto na sua filosofia, e a religião não tinha nada a ver com a sua ação no mundo dos
homens.73 Pensamento equivocado e reprovado pelas Escrituras, pois esta revela o Deus vivo
e verdadeiro, assim como o céus proclamam a glória de Deus e firmamento anunciam as obras
Berkouwer descreve que Freud não conseguiu fugir da subjetividade da religião. Para
Freud, a religião era uma “projeção do homem cercado e ameaçado pelos poderes da natureza.
Sem defesa contra essas ameaças, o homem procurou por lugares de refúgio.”75 De acordo
com o entendimento de Freud, a providência divina nasceu do pensamento humano. Para ele
71
BERKOUWER - The Providence of God - Libronix
72
http://www.cafeesaude.com.br/cafeesaude/ciencia_filosofia_religiao.htm Acessado dia 30/09/10
73
BERKOUWER - The Providence of God - Libronix
74
Salmos 19
75
Ibidem - Libronix
38
(Freud) a Providência Divina é apenas uma proeminência do que o homem faz em seu favor.
“Falamos a nós mesmos que é extremamente belo, de fato, que haja um Deus
criador do universo, uma suave providência, uma determinação moral, e uma
vida por vir. Todavia tudo isto seja precisamente como deveríamos desejar
para nós mesmos.” 76
O Dr. Heber descreve que isso é uma proeminência de nossos sentimentos, uma ilusão
simplesmente, não o resultado da realidade de um Deus presente entre nós, o seu mundo
criado. Com esse sentimento interior projetado, os seres humanos vivem e dele se
alimentam.77 Em virtude da extrema carência do “eu”, mais adiante, com Karl Marx e o
povo”, para deixá-lo a deriva diante das dificuldade emergentes. De acordo com Marx, a
sendo o remédio para as dores causadas pelos sofrimentos pessoais e sociais do mundo.
divina foi preservada quase que intacta até uma certa altura, quando se deu o irrompimento
das duas guerras mundiais, e o otimismo em que o mundo vivia com respeito à bondade do
homem, caiu por terra e, com isso, apareceu a dúvida de que Deus continuava a agir
Dr. Heber afirma que logo após a deflagração dos dois grandes conflitos mundiais e
76
Ibidem - Libronix.
77
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 12
78
Ibidem, p.12
79
CAMPOS – O Ser de Deus e as Suas Obras: A Providência, p. 12
39
envolvimento de Deus com as coisas criadas, com suas criaturas. Houve dúvidas quanto a
participação de Deus na história. Em toda a parte várias dúvidas intensas foram levantadas
quanto a realidade da existêencia de Deus bem como seu governo sobre tudo quanto foi
criado. Os homens não apenas negaram a Providência Divina sobre tudo quato foi criado, mas
Dr. Heber ressalta ainda que necesse cenário político houve o surgimento do comunismo que
negou a idéia de religião e a considerou como sendo apenas ópio do povo. Desacreditou-se
em Deus em muitos círculos do mundo pensante, à medida que os males sociais se tornaram
cada vez maiores.Nunca houve tempo de tantas tempestades filosóficas em que a confissão da
igreja reformada sobre a providência divina tenha sofrido tão sério golpe! Com o surgimento
das filosofias e com o aumento dos problemas sociais no mundo a pregação sobre a
providência divina tornou-se inviável porque as pessoas começaram a duvidar de que havia
As duas grandes guerras foram um balde de água fria naqueles que criam num Deus
providente e cheio de cuidados pelo mundo. As atrocidades cometidas nas guerras acabaram
com a esperança do povo, em virtude da teologia liberal que já havia dominado as igrejas da
Europa e da América do Norte. O cristianismo mundial, perdeu seu interesse pelo estudo da
Providência Divina porque, muitos cristãos não haviam sido devidamente educados na sã
doutrina.
80
Ibidem, p.12
81
BERKOUWER, The Providence of God - Libronix.
40
Conclusão
Definir os termos é de vital importância para que se tenha uma boa comunicação. Ao
ler as definições dos termos chaves percebe-se que as idéias contidas nas palavras esclarecem
provado e ser tentado, pois os termos originais usados nas escrituras para estas palavras são os
mesmos. O que fazer para discerni, então, se está sendo provado ou tentado? Pela definição
percebe-se que, quando Deus está por traz de uma situação, com o objetivo de amadurecer a
pessoa, neste momento se esta sendo provado. Porém, quando se esta em uma situação que
determinante para se saber se está sendo “provado” (testado), ou “tentado” é o propósito final
de toda a situação. A “provação” vem de Deus, ela visa um fim proveitoso, ou seja, a
edificação da pessoa que passa por esta ou aquela situação. Já a tentação visa à ruína humana.
Satanás tem como objetivo a destruição, em todos os aspectos do servo de Deus. Este foi seu
Esta é uma visão reformada das Escrituras. Viu-se que um reformado é alguém que
tem a cosmovisão influenciada pela reforma do século XVI e pelos expoentes da reforma. A
salvação pela fé somente é o lema principal de todo reformador. Uma pessoa reformada crê na
doutrina da providência, onde Deus sustenta todas as coisas com seu poder soberano.
seja, Deus não apenas criou o universo e o deixou a mercê de suas leis naturais, mas, depois
de ter criado ainda continua agindo no mundo através de seu governo providencial.
Partindo dessas idéias bem definidas dos termos chaves, pode-se continuar o assunto,
sabendo que quando se usar qualquer um desses termos o leitor saberá exatamente o que se
quer dizer.
41
CAPÍTULO II
Introdução
Este capítulo tem como propósito apresentar a base confessional quanto à doutrina da
Parlamento inglês para elaborar novos padrões doutrinários, litúrgicos e administrativos para
Brasil. A então Assembléia de Westminster ficou composta de 121 dos ministros mais
dos Lordes. Todos os ministros, exceto dois, eram da Igreja da Inglaterra. Praticamente todos
eles eram puritanos, calvinistas. Infelizmente, não havia unanimidade entre eles quanto à
Londres, no dia 1° de julho de 1643, e continuou em atividade por um período de cinco anos e
meio. Nesse período, houve 1163 reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e
subcomissões.
42
Esta confissão foi aceita pelas igrejas Presbiterianas americanas em uma reunião no
ano de 1729, como padrão de fé. Todos os ramos das igrejas Presbiterianas da Escócia,
podemos ver:
Seção l. “Deus, o grande criador de todas as coisas, sustenta, dirige, dispõe e governa
todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas, das maiores até as menores,
por meio de sua sapientíssima e santa providência, segundo sua infalível presciência e
o livre e imutável conselho de sua própria vontade, para o louvor da glória de sua
sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia.83
Seção Vll. “Visto que a providência de Deus, em geral, se estende a todas as criaturas,
assim, de uma maneira muito especial, ela cuida de sua igreja e tudo dispõe para o
bem dela.” 85
Deus e seus atos providenciais em toda a criação. O texto começa dizendo que Deus, havendo
criado todas as coisas e dotado tudo com suas respectivas propriedades e faculdade, é Ele
quem as mantém vivas permitindo que as mesmas continuem na posse dessas propriedades
enquanto existirem.
82
HODGE - Confissão de fé Westminster, comentada, p.46
83
HODGE, op cit., p.131
84
Ibidem, p.142
85
Ibidem, p.143
43
Porém, é Ele quem dirige todas as ações das mesmas controlando providencialmente
tudo. Conduzindo todas as coisas para a execução de seu eterno, imutável e soberano
propósito, sendo que o fim último de todas as coisas é a manifestação de sua própria glória.
Esta seção nos ensina que providencialmente Deus exerce o governo moral sobre
todos os homens, em especial sobre Sua igreja. Por sua vez, esse governo inclui além de uma
graça comum, essa influência espiritual se estende a todos os homens sem exceção, embora
graça especial, a exemplo da graça salvífica, é necessário observar que esta acontece apenas
Através da Sua providência, e com o propósito de disciplinar seus filhos, Deus retém
suas influências espirituais de seus próprios filhos, e “os entrega a multiformes tentações e
corrupções de seus próprios corações”.87 O objetivo desta atitude de Deus, que também é uma
ação graciosa que atinge aos Seus servos, é a disciplina que visa mortificar seus pecados. O
exercício dessa ação de Deus acontece de acordo com Sua soberana vontade e termina,
universo.
86
Ibidem, p. 144
87
Ibidem, p. 144
44
Tudo quanto acontece desde os maiores eventos até os menores, estão sob o domínio e
governo de Deus, nada jamais acontece além do âmbito do seu governo soberano e
providencial.
Esta seção nos mostra que o governo providencial de Deus sobre a raça humana, de
um modo geral, está ligado hierarquicamente a outros aspectos da providência, com objetivo
de conduzir todas as coisas cumprindo os decretos de Deus. Desta forma, o governo de Deus
sobre o universo material cumpre o propósito como meio para determinados fins no que tange
cristã -, é a chave para a filosofia da história humana em geral.88 Deus em seu poder, preserva
toda criatura e natureza. Desta forma a humanidade, toma posse da criação, fazendo deste seu
habitat, desenvolvendo neste a sua cultura, filosofia e ciência. Com isso, há um avanço de
filosofias e artes de um modo geral, em fim, todo o progresso das civilizações acontece para
que a igreja, chamada “a noiva do Cordeiro”, tenha todos os seus membros aperfeiçoados e
apresentada a relação desta doutrina com as outras doutrinas da Teologia Reformada. Esta
breve análise tem como objetivo corroborar com melhor compreensão da doutrina da
providência, uma vez que as doutrinas estão relacionadas entre si. É preciso ter o
entendimento de que é impossível esgotar a compreensão quanto aos decretos de Deus, bem
como Seus eternos propósitos. A mente humana jamais conseguirá esmiuçar por completo o
88
Ibidem, p. 144
45
assunto. Entretanto mesmo sem o entendimento e a compressão por completo de tudo o que
Deus faz, é certamente possível encontrar um entendimento melhor para uma doutrina quando
entendimento maior daquela que se propõe analisar. Não se pode perder de vista que o
propósito deste trabalho é falar sobre a provação e sua relação com servo de Deus dentro do
ponto de vista da doutrina da providência. Estando tudo dentro do plano providencial de Deus
Pode-se iniciar esta seção com as palavras do Dr. Heber de Campos, o qual descreve o
reformada. Eis o que ele diz: “Como deve ser comum nos nossos exercícios teológicos,
precisamos aprender a relacionar uma doutrina com outra, pois a fé cristã tem todas as suas
doutrinas entrelaçadas.” 89
Para que Deus haja providencialmente há uma necessidade dele ser soberano sobre
tudo e todos. O livro de Deuteronômio, capítulo 4, versículo 39 diz: “Por isso hoje saberás, e
refletirás no teu coração, que só o Senhor é Deus em cima no céu, e embaixo na terra; nenhum
outro há”. Neste texto Moisés, que é o escritor, reconhece absolutamente a soberania de Deus,
e esta soberania está extremamente ligada às obras da providência, pois Ele é Deus em cima
Pode-se dizer, então, que a providência de Deus é soberana na vida dos seres humanos
89
CAMPOS – O Ser de Deus e Suas obras: A Providência, p.25
46
e de todas as outras criaturas. As Escrituras mostram que para Deus os seres humanos são
considerados como nada diante de suas ações, veja o que diz o profeta Daniel: “Todos os
moradores da terra são por Ele reputados em nada; e segundo a sua vontade Ele opera com o
exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa lhe deter a mão, nem lhe dizer:
que fazes?” 90
Quando se diz que a providência de Deus é soberana, quer-se dizer que Deus age sobre
o ser humano de forma que independe de outras pessoas ou da vontade de quem quer que seja
para que Ele alcance seus propósitos. Quando usa alguma de suas criaturas não quer dizer que
Ele depende delas, mas sim que Ele resolve se servir delas. A soberania providencial de Deus
Através dos Seus decretos, Deus determinou soberanamente, desde a eternidade, tudo
quanto há de ocorrer, e executa a Sua soberana vontade em toda Sua criação, seja ela natural e
reformada calvinista, enfatiza a soberania de Deus, em virtude dessa doutrina estar em plena
quando diz que Deus “faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade.”91
Não podemos separar as obras da providência de Deus dos Seus decretos, pois a
providência de Deus opera para cumprir o Seu propósito. Desde toda a eternidade, Deus
mesmo decretou todas as coisas que iriam acontecer no tempo; e isto Ele fez segundo o
90
Daniel 4:35
91
Efésios 1:11
47
Com clareza Dr. Heber de Campos citando Farley, em The Providence of God
Este plano é eterno para toda sua criação, tanto para as nações quanto para o indivíduo.
Em sua obra de Teologia Sistemática, Berkhof traz algo importante para melhor entendimento
Apesar de muitas vezes falarmos dos decretos de Deus no plural, em sua própria
natureza o decreto é somente um único ato de Deus. [...] Não existe, pois, uma série de
decretos de Deus, mas somente um plano compreensivo, que abrange tudo o que se
passa. Contudo, a nossa compreensão limitada força-nos a fazer distinções, e isto
explica por que muitas vezes falamos dos decretos de Deus no plural. Esta maneira de
falar é perfeitamente legítima, desde que não percamos de vista a unidade do decreto
divino, e da inseparável ligação entre os vários decretos como os concebemos. 93
eternidade, ou seja, antes da fundação do mundo. Desta forma descreve com maestria
Dr. Heber de Campos ao dizer que “é justo dizer que a providência divina é um corolário
Pode-se dizer que os propósitos de Deus são realizados na história através dos atos
providenciais do mesmo, ou seja, Ele tem um alvo e irá alcançá-lo. Tudo que acontece na
92
CAMPOS, op cit., p.17
93
BERKHOF – Teologia Sistemática, p.92
94
CAMPOS, op cit., p.32
48
história é propositivo, nada é por acaso ou sem significado, a história não é desgovernada
reformada.
O profeta Isaías mostra com muita clareza esta realidade no capítulo 46, versos 8 a 11:
Desta forma, a providência de Deus é o meio pelo qual faz convergir todas as coisas de
Não se pode falar de onipotência sem levar em consideração a soberania de Deus, uma
vez que esta doutrina está perfeitamente amparada na Escritura. Deus é revelado como o
Criador, e Sua vontade como a causa de todas as coisas. Em virtude de Sua obra criadora, o
céu, aterra e tudo o que eles contêm Lhe pertencem. Ele está revestido de autoridade absoluta
sobre as hostes celestiais e sobre os moradores da terra95. Sendo Criador e Senhor de tudo, Ele
sustenta todas as coisas com a Sua onipotência, e determina os fins que elas estão destinadas a
cumprir.96 Como Rei, Ele governa no sentido mais absoluto da palavra, e todas as coisas
95
1 Crônicas 29:11 “Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo
quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos.”
96
BERKHOF – Teologia Sistemática, p. 69
97
Deuteronômio 10:17 “Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus
grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno;”
49
A Onipotência de Deus está ligada a vontade de Deus em geral. Berkhof descreve que
os sofrimentos dos crentes;101 a vida e o destino do homem, e até as menores coisas da vida.
coisas. A soberania de Deus acha expressão, não somente na vontade divina, mas também na
entende a soberania de Deus como autoridade, domínio e o governo absoluto de Deus sobre
Para Deus operar soberanamente sobre o universo criado é imprescindível que Ele seja
onipotente. Quando dizemos que Deus é onipotente, estamos dizendo que Ele tem o poder
absoluto.
98
Confissão de Fé Westminster - Capítulo V
99
Salmos 135:6 “Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os
abismos.”
100
Daniel 4:35 “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera
com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”
101
1 Pedro 3:17 “porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que
praticando o mal.”
102
BERKHOF – Teologia Sistemática, p. 73
103
MURRAY – Traduzido por Felipe Sabino, extraído de
http://www.monergismo.com/textos/soberania_divina/John_Murray_Soberania_Deus.pdf acessado dia 04/10/10
50
É através da Sua onipotência que Deus sustenta todas as coisas, e determina os fins
que elas estão destinadas a cumprir. As obras da providência só se tornam possíveis por ser
Deus onipotente. Na carta de Paulo aos Efésios, capítulo 1, versículo 19, fala a respeito da
“suprema grandeza do poder de Deus”. Este poder excede toda compreensão humana. Ainda
de acordo com a carta do apostolo Paulo aos Romanos, no capítulo 4, versículo 17, diz que é
pelo seu poder que Deus “chama a existência as coisas que não existem”; Ou seja, foi pelo seu
poder que Ele criou todas as coisas, e, também, “ele sustenta todas as coisas pela palavra de
Falar deste ato sustentador é falar da providência divina. A mesma palavra poderosa
que trouxe tudo a existência, também sustenta providencialmente tudo! Portanto, não é sem
razão que a Escritura em vários lugares afirma que o Onipotente reina. O cumprimento
providencial dos Seus eternos decretos demonstra a onipotência de Deus. Somente um Deus
Providência e Criação são doutrinas que nascem da Soberania e são colocadas a efeito
criação. A grande diferença de uma doutrina com a outra está no fato de que a criação é um
governo.
O Dr. Heber afirma que “a criação é um ato terminado e completo enquanto que a
104
providência é um ato contínuo de Deus naquilo que foi criado” , ele faz a seguinte
referência bíblica em Atos 17:24-25 “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo
ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é
servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a
Calvino aponta para a doutrina da majestade de Deus como coluna singular do cristianismo.
parte de Deus, de Seu plano de salvação.105 A idéia da glória de Deus mediará toda a teologia
de Calvino; a gloria Dei será o alvo de todos os planos de Deus na criação do mundo e na
redenção. Intimamente ligada à idéia da glória de Deus, na mente de Calvino estava à doutrina
que é fundamentada na doutrina da glória de Deus, pois, pela providência Deus criou o
imagem de Deus no homem, destruída pelo pecado, todavia a partir do Cristo, perfeita
imagem de Deus.108
104
CAMPOS, op cit., p.35
105
ZAGHENI - A Idade Moderna, p.136.
106
HÄGGLUND - História da Teologia, p.224.
107
ROGERS - Grandes temas da tradição reformada, pp.35-42.
108
ZAGHENI, op.cit. p.137
52
Não se pode confundir a providência com uma criação continuada, ou seja, com a
idéia de que tudo o que acontece nessa existência seja visto como atos da criação, sendo que
Deus é o responsável direto por tudo. O Dr. Heber de Campos, citando Hodge, descreve o
que antes não existia, enquanto que a preservação é a manutenção daquilo que já existe”.109
Aceitando a doutrina da criação continuada, Deus se torna o único agente e a causa única no
universo, contrapondo assim o aspecto da livre agência dos homens quanto às causas
secundárias. De acordo com Hodge, seria uma falácia sustentar o conceito de criação
continuada de acordo com os teólogos do século XVII, pois se a providência é uma espécie de
criação continuada, então Deus nunca se serve das suas criaturas para exercer a sua obra
Seu poder na criação, “Assim diz o SENHOR, que te redime, o mesmo que te formou desde o
ventre materno: Eu sou o SENHOR, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e
110
sozinho espraiei a terra” . Conforme afirma apostolo Paulo na carta aos Romanos “... o
Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem.”111
Manifesta também Seu poder nas obras da providencia, conforme a epístola aos
Hebreus capitulo 1, versículo 3 que diz: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata
do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a
109
Ibidem, p.35
110
Isaias 44:24
111
Romanos 4:17
53
Conclusão
questão da provação e sua relação com o servo de Deus. De acordo com a Teologia
Reformada abordada acima, pode-se perceber que a mesma não é compartimentalizada, mas,
sim, está toda ela relacionada e vinculada umas com as outras. Isso se torna importante porque
teologicamente é pensar a vida e sua existência, ou seja, a teologia está relacionada com a
CAPÍTULO III
A REALIDADE DA PROVAÇÃO
Introdução
A proposta desta seção é tirar algumas dúvidas com respeito à realidade da provação,
suas fontes e as razões pelas quais o ser humano é provado, e, até mesmo se estas situações
produzem algum tipo de sofrimento. Perguntas como: O sofrimento é real ou é ilusório? Quais
as fontes destas situações, ou seja, de onde procedem? Por que se é atingido constantemente
São perguntas que precisam de respostas. É preciso avaliar bem todas elas, pois esta é
a proposta do tema. As respostas a essas questões sairão dessa análise para se fazer uma
A pergunta, a princípio, parece um tanto quanto absurda. Como alguém poderia pensar
que as provações desta vida seriam algo irreal? Diante de situações difíceis como a perda de
um ente querido, uma enfermidade, saudade de alguém ou alguma coisa que escapa às mãos,
a dor parece inevitável. Vivenciar estas coisas sem sentir dor e sofrimento seria quase
impossível. Como poderia alguém pensar que estas situações são ilusórias? A pergunta
proposta parece absurda, mas veremos que para alguns ela não é.
marca pós-moderna, e, neste ambiente ninguém pode reivindicar para si uma verdade
absoluta. Como escreveu Stanley Grens “a perspectiva pós-moderna requer uma investida
contra tudo o que reivindica para si a universalidade - ela requer, na verdade, uma ‘guerra
55
Uma dessas religiões aceitas neste ambiente pós-moderno é a “Ciência Cristã”. Este
com a Sra. Mary Baker Eddy, que tinha sua formação religiosa Cristã. Após ter recebido
empolgante da história religiosa dos Estados Unidos. Tamanho é sua importância para o
movimento que o mesmo também é conhecido como Eddysmo. Este movimento obteve muita
aceitação na cidade de Boston, Estados Unidos, principalmente, por causa de sua proposta.
Ásia. A Ciência Cristã pode ser denominada o movimento otimista dos Estados Unidos da
América, a qual tem a sua força de atração num sistema de cura sem remédios, alegando que
toda doença só existe na mente da pessoa e que mudada a maneira de pensar, ignorando-se os
sintomas da doença, esta desaparece e isto sem remédios. Desta forma esta seita nega a
existência da matéria.
males, principalmente os físicos. Para eles situações como doenças, o pecado e a morte são
irreais. Veja-se uma citação importante para melhor compreensão do pensamento da Ciência
Cristã:
Alguns princípios básicos desta seita são os seguintes: os cientistas cristãos se fixam
no poder da mente sobre a matéria; se Deus não criou o mal, não é preciso sofrer
nenhuma das supostas manifestações do mal; certos resultados causados pelos
medicamentos são efeitos a fé; o objetivo maior é alcançar uma vida repleta de
felicidade, harmonia, saúde e abundancia do bem; a religião e a ciência são imbuídos
de uma natureza e essência mais divinas por causa da Ciência Cristã; nada há de mau a
não ser no pensamento da pessoa; a doença, o pecado e a morte são irreais.114
112
GRENS - Pós-modernismo, p. 77
113
GAMA - Seitas Proféticas, p. 60
114
GAMA, op cit., p.65
56
Percebe-se que a Ciência Cristã prega que o mal é inexistente, irreal, e, para se ver
positivo, para eles, tem poder até sobre os males físicos. Para produzir, então, um estilo de
vida que seja “abundante” basta, para eles, substituir a idéia daquilo que é ruim por algo que
seja bom e agradável, uma vez que o mau não é real e que o problema, então, está na pessoa,
ela conseguirá ter um estilo de vida “abundante”, que é o alvo de todo aquele que abraça esta
Quem descobre o segredo da senhora Eddy triunfa sobre o pecado mais horrível, sobre
a mais profunda mágoa, sobre o mais doloroso sofrimento, sobre a enfermidade mais
longa ou mesmo sobre a morte... Como a pessoa consegue isso? Ele precisa somente
substituir a idéia de mágoa pela idéia de alegria, a do pecado pela da justiça, a da
enfermidade pela da saúde, e a da morte pela idéia da vida. Em suma, os adeptos da
seita utilizam-se da prática do pensamento positivo para vencer seus males físicos.115
Milhares de pessoas em todo o mundo abraçam esta forma de pensar a vida. Isto seria
o mesmo que dizer que muitas pessoas no mundo acreditam na força do pensamento positivo.
Nada do lado de fora está ruim, ou nada que está do lado de fora tem poder para impor sobre
qualquer ser humano uma provação. Depende totalmente de nossa postura mental, basta
exercitar a corrente do pensamento positivo que tudo estará na mais plena harmonia. Ou seja,
a única fonte de sofrimento seria o próprio homem que por não conseguir idealizar
positivamente sua situação em face do mundo em que vive, passa por constantes dores, por
Afirmar em alto e bom som que esta forma de pensamento é um grande equívoco.
Estas idéias são aceitas por uma parte da população pelo fato das pessoas pensarem que o ser
humano é dotado de um “poder” mental muito grande, tornando assim, tudo isso possível.
Porém o que muitos pensadores dizem, e, também, a própria vida tem ensinado que é uma
115
Ibidem, p.59
57
Deus não sofre citamos o que diz Edwards, “Portanto, se Cristo sofreu pelo crente, já não é
necessário que este sofra; e por que teria o crente de temer?”116 Como disse Piper em O
“as aflições de John Bunyan nos deram O Peregrino. As aflições de Willaim Cowper
nos deram hinos em inglês como "There Is a Fountain Filled With Blood" e "God
Moves in a Mysterious Way". E as aflições de David Brainerd nos deram um Diário
publicado que tem mobilizado mais missionários que qualquer outra obra semelhante.
A fornalha do sofrimento produziu o ouro da direção e inspiração para viver a vida
cristã, adorar o Deus cristão e espalhar o evangelho cristão.”117
A maioria das situações que acometem o ser humano é incontrolável. Quem dera que,
por um simples estado positivo de pensamento, o ser humano pudesse livrar-se de doenças,
saudades, dores pela perda, e tantos outros males que são provações nesta vida, inclusive a
própria morte.
Um bom exemplo dessa ação pode ser visto na vida do apóstolo Paulo, que viria a
entender o quanto importava sofrer pelo nome do Senhor Jesus: “pois eu lhe mostrarei quanto
lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9:16). Portanto, uma boa percepção dessa verdade
116
EDWARDS - Nosso Lugar de Refúgio, extraído de http://www.jonathanedwards.com.br/2010/06/refugio-
jonathan-edwards.html acessado dia 04/10/10
117
Extraído de http://www.monergismo.com/textos/sofrimento/sofre_naosofre.htm acessado dia 04/10/10
118
“Quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez,
ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos
considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele
que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas
presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos
poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8:35-39)
58
Quando se pensa em tentação pensa-se em algo fora do ser humano. Para muitos as
fontes das provações são externas, ou seja, vem de fora para dentro. Mas, será que as coisas
são realmente assim? Será que toda e qualquer situação de provação tem este caminho? Qual
a sua fonte, ou quais são as fontes? As escrituras mostram que as fontes da tentação nem
sempre percorrem o caminho que vem de fora para dentro. Através das Escrituras podemos
Escrituras para trazer a idéia de provação ou tentação são os mesmos, e diante disso viu-se
que o fator definidor do termo na hora da tradução seria o contexto e não a situação em si. Por
estas e por outras razões é que se encontram nas escrituras termos idênticos com traduções
diferentes, por exemplo: no livro de Hebreus, capítulo 11, versículo 17 encontra-se escrito que
“pela fé, Abraão, quando posto a prova, ofereceu Isaque”. O termo usado para se referir a
Abraão sendo posto a prova (grifo meu), no grego, é “peirazomenos”. Esta palavra é a mesma
usada por Tiago no capítulo 1, versículo 13, e que naquele contexto é traduzida por “estando
sendo tentado”. Pode-se concluir, como já foi dito anteriormente, que se a situação vivida visa
a um fim proveitoso ela vem de Deus. Deus, então, é uma fonte de provação. Não se pode
dizer nunca que Deus lança alguém em alguma situação que vise o seu abandono da fé.119
119
OWEN - Sobre a tentação, p. 20
59
Em Gênesis capítulo três lê-se sobre a narrativa da queda do homem em pecado tendo
como seu protagonista Satanás. As escrituras, então, denunciam Satanás como o tentador.
Qual será a natureza desta tentação? Dietrich Bonhoeffer fala da natureza da tentação satânica
em quatro aspectos.
No primeiro ele diz “que a tentação constitui exatamente aquilo que é contra Deus.”120
O que ele quer dizer é que não se pode conceber, diante da natureza de Deus, que ele seduz o
homem a duvidar de sua própria palavra e até mesmo a apostatar da fé. Isto é intento de
Satanás.
poder para fazer algo que não é da vontade de Deus”.121 Ele está trazendo a idéia que, nenhum
inimigo de Deus, tem, como ele, tamanha capacidade de fazer com que a tentação se torne
mais forte que qualquer criatura. É a tentativa do poderio de Satanás no mundo da criação.
O terceiro aspecto colocado por Bonhoeffer é que “a tentação é sedução, insídia. Por
isso ela vem do diabo, porque o diabo é um mentiroso. Quando ele profere mentira, fala do
que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”.122 Ele quer dizer que a fraude de
Satanás consiste em se fazer crer que se pode viver sem a palavra de Deus, desta forma ele
penetra o mundo dos homens os iludindo lhe trazendo falsa paz. Todo aquele que aceita a
O quarto aspecto tratado por Bonhoeffer diz que “a tentação tem sua origem no diabo,
expediente duplo. Afastar o homem dos desígnios de Deus levando-o a ruína, e acusa-lo
120
BONHOEFFER – Tentação, p. 45
121
BONHOEFFER, op cit., p. 32
122
Ibidem, p. 45
123
Ibidem, p. 46
60
quando estiver debaixo do juízo de Deus. É importante ressaltar que Satanás também intenta
acusação contra os servos de Deus, procurando os colocar a prova com o propósito de levar o
servo de Deus a blasfemar contra Deus. Este foi o tipo de acusação lançada por Satanás contra
“Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua
casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se
multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás
se não blasfema contra ti na tua face.”124
Para Satanás a única razão de Jó permanecer nos caminhos do Senhor seu Deus é
porque Deus lhe concede coisas. Sabendo disso ele o acusa, pois o objetivo do diabo é levar o
A natureza carnal é sem duvida uma fonte de provação do ser humano. Uma das
razões é a busca desenfreada pelo prazer, o homem é hedonista por natureza. De repente a
A carne se torna uma fonte de provação em situações que impulsionam a agir contra a
vontade de Deus. Nesta hora se age como quem se esqueceu de Deus, agi-se cegamente, como
se tivesse algum direito diante da situação. Nesta hora se é dominado pela situação, perceba o
124
Jó 1:9-11
125
BONHOEFFER, op cit., p. 55
126
Ibidem, p. 56
61
Pode-se perceber pelas palavras de Dietrich Bonhoeffer que a natureza carnal como
fonte de tentação tem enorme poder sobre o ser humano. Diante desta realidade percebe-se
que na busca desenfreada pelo prazer carnal, o homem passa a sofrer terríveis provações,
As Escritas Sagradas mostram também que a natureza carnal se expressa por meio de
da cobiça, veja:
“Ninguém ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser
tentado pelo mau, e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrario, cada um é tentado pela
sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver
concebido, da a luz o pecado, uma vez consumado gera a morte”.127
Diante do texto acima, algumas considerações importantes podem ser feitas para uma
melhor compreensão. A primeira diz respeito à responsabilidade. Diante do texto não há mais
ninguém que possa ser responsabilizado a não ser a própria pessoa. Não se pode culpar a
Deus, pois o texto diz que Deus a ninguém tenta. No caso, nem mesmo satanás, pode ser
acusado, pois, pode-se ver que a origem de todo o mal está dentro de cada ser humano. O
texto diz que cada um é tentado pela sua própria cobiça, ou seja, dentro do ser humano está a
origem da tentação.128
Palavra de Deus e a cometer atos que são pecaminosos e podem produzir tentações que geram
sofrimento. A cobiça pode surgir por inclinação natural pelas coisas que seduzem não que as
coisas em si são pecaminosas, mas, a inclinação para estas coisas podem prejudicar a
existência, pois, elas exercem um domínio sobre as ações humanas. Cobiçar é desejar algo
127
Epistola de Tiago 1:3
128
Ibidem, p. 48
62
A linguagem usada pelo apóstolo Tiago é de uma pescaria, ou seja, a sedução é a isca
que seduz.129 Outra consideração está relacionada ao fato de que a cobiça em si não torna
ninguém pecador. O texto diz que “depois de haver concebido, da à luz ao pecado, e o pecado
uma vez consumado, gera a morte”. Ou seja, a cobiça acontece quando a vontade seu uni ao
Pretende-se aqui expor os motivos pelos quais o ser humano é invariavelmente tentado
ou provado. Será visto aqui algumas razões que podem até trazer conforto e outras que
podem fazer com que o ser humano venha a enxergar que não há saída a não ser que Deus
Pode-se iniciar o assunto com uma pergunta: Quando Deus criou o homem deu-lhe a
capacidade de fazer todo o trabalho de suas mãos sem que houvesse limitação na sua obra?
Como respondeu Dr. Heber de Campos “certamente que não”.130 Desde a criação o ser
humano é limitado. Deus lhe deu trabalho, mas, também, lhe deu descanso, pois o mesmo era
finito. Somente Deus não carece de descanso. Sua limitação impõe sobre o mesmo dor como
È preciso então perceber que estas limitações não são conseqüências de algum erro
cometido pelo ser humano, porém, pode trazer sofrimento e conseqüentemente provações, já
129
LUNDGAARD - O Mal que habita em mim, p. 87
130
CAMPOS, O ser de Deus e as suas obras: A Providência, p. 528
63
Este tipo de provação pode ser benéfico, pois pode ser um indicativo de que se
ultrapassou o limite de sua constituição. Estas dores dirão que se deve obedecer as ordens de
Deus a respeito do descanso. É importante observar que este sofrimento causado por esta
limitação natural no homem não é imposta por Deus devido a algum pecado. Portanto, a
provação132 como conseqüência do sofrimento causado pela limitação humana serve tanto
A diferença, como disse Dr. Héber de Campos, entre estes dois períodos é que o
pecado, nesse caso complicou ainda mais a situação da finitude humana em relação à dor.
Após a queda o homem não somente continua finito, mas também já tem as conseqüências
A quebra de princípios morais estabelecidos por Deus impõe sobre o homem muitos
sofrimentos e conseqüentes provações. Quando o homem peca Deus tem o direito de retribuir
ao mesmo algum tipo de provação, seja qual for o meio. Pois já foi visto que Deus a ninguém
tenta (prova), porém Ele é livre para usar os meio indiretos que quiser para retribuir ao
homem a sua santa justiça. Quando isto acontece, “é um dos mais tristes sofrimentos que o ser
131
CAMPOS, op cit., p. 529
132
Conforme definição de termos: Relação entre provação e tentação. “O fator determinante para se saber se está
sendo “provado” (testado), ou “tentado” é o propósito final de toda a situação. A “provação” vem de Deus, ela
visa um fim proveitoso, ou seja, a edificação da pessoa que passa por esta ou aquela situação. Já a tentação visa à
ruína humana. Satanás tem como objetivo a destruição, em todos os aspectos do servo de Deus.”
133
Ibidem, p. 530
134
Ibidem, p. 532
64
Em Gênesis capitulo três se tem as razões dos sofrimentos passados pelo ser humano,
O ser humano, os animais, a natureza, tudo por causa da queda do homem135, foi
atingido pelo sofrimento, e este tornou-se então uma punição divina imposta sobre todos os
homens. Esta exposição está de acordo com o texto da Confissão de Fé que diz:
Pelo fato do homem ser pecador, esta condição impõe sobre ele o fato de ter que
conseqüente da queda do homem, isto é, do pecado (Gn 3:16-19). Embora os servos de Deus
tenham sido libertos da condenação do pecado, não estão livres de sua presença, nem
Conclusão
Como são reais as provações! Pensar que elas podem ser vencidas apenas com uma
disposição mental “positiva” seria loucura. O homem pecador não fugirá desta triste realidade
que o abate. Muitas pessoas ainda estão enganadas com respeito a este lado cruel e negro do
ser humano. Fugir desta realidade não é o melhor remédio, pois agindo assim não eliminaria o
problema.
135
Romanos 8:22-23 “ Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.
E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo,
aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.”
136
HODGE - Confissão de fé Westminster, comentada, p.142
65
CAPÍTULO IV
Introdução
confessando-o como Senhor e Salvador de sua vida. É a pessoa que se coloca diante de Deus
como servo a ser usado por Ele para Sua própria glória. O servo de Deus é aquele que foi
escolhido por Deus baseado unicamente na Sua própria decisão livre, e, também baseado em
Seu amor que visa o cumprimento de Seus decretos para o plano da redenção. O fato do ser
humano ter sido escolhido (eleitos) por Deus indica que o mesmo faz parte de um grupo
seleto. Isto poderia sugerir que estas pessoas gozam de alguns privilégios que este Pai, que os
elegeu, os daria. Têm-se a tendência em pensar que estes privilégios isentariam estes homens
de qualquer tipo de sofrimento e lutas nesta existência. Mas será isso verdade?
O convite: “Venha para Jesus e livre-se de seus males”, é uma proposta real? Poderíamos
dizer que o Servo de Deus de fato goza de privilégios que os não-cristãos não gozam?
O tema “A realidade da provação na vida dos servos de Deus” chega agora ao seu
Deus, em toda a história, tem disciplinado os homens. As formas são variadas e, até,
criativas. Não serão tratadas as formas, pois não é do interesse do trabalho. O que interessa
aqui são as causas. Pode-se dizer, em primeiro lugar, que Deus tem provado e disciplinado o
Porém, quando a punição, por causa do pecado, acontece na vida do servo de Deus, o
nascedouro desta disciplina, não tem base no juízo divino, como no caso da disciplina na vida
de quem não é servo, mas no seu amor incondicional para com o servo de Deus. O servo de
Deus é disciplinado, portanto, com base em Seu amor. Assim afirma Dr. Heber de Campos:
“A disciplina é produto do bondoso amor de Deus que procura levantá-los e colocá-los numa
posição de vitória sobre os seus pecados”.137 A provação, neste caso, visa à correção. Não se
pode negar que é uma correção em conseqüência do erro. Veja o que diz o escritor da carta
aos Hebreus no capítulo 12, versículos 4 e 5: “Ora, na nossa luta contra o pecado ainda não
tendes resistido até o sangue, e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre
convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do senhor, nem desmaies quando
A disciplina divina, porem, é para proveito. O escritor da carta aos Hebreus, ainda no
capítulo 12 versículo 10, nos diz o seguinte: “Pois eles nos corrigem por pouco tempo,
segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de
disciplina, pois, as aplicaram “segundo melhor lhes parecia”. Como diz Dr. Heber de Campos:
“Tem havido falha na disciplina por que tem havido falha no nosso amor”,139 ou seja, da
mesma forma que o amor dos pais humanos para com os seus filhos é falho, a disciplina
Fazendo uma comparação da disciplina humana com a de Deus o autor da carta diz:
“Deus, porem, nos disciplina para aproveitamento”. A disciplina de Deus vem com um
ingrediente que não é comum e muito menos perfeito da parte do ser humano, que é o seu
amor, veja-se o que diz Sproul: “Devemos nos regozijar de que Deus faça isso, pois é uma
137
CAMPOS, O ser de Deus e as suas obras: A Providência, p. 557
138
O autor da Carta aos Hebreus, ao mencionar a frase “Pois eles nos corrigiam por pouco tempo”, está fazendo
referência aos nossos pais terrenos que era uma correção limitada pelo tempo.
139
CAMPOS, op cit., p. 561
67
indicação de seu amor por nós. A correção do senhor tem o propósito de nos levar ao
implantando nele seu caráter santo, pois o texto termina dizendo: “a fim de sermos
quando o servo de Deus está sendo provado por meio da disciplina, Deus quer implantar na
vida dele, em primeiro lugar, uma vida de submissão. O texto da carta aos Hebreus no
capítulo 12, versículo 9 diz: “...não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai
Deus. O texto de Hebreus supracitado ainda no versículo 11, diz: “Toda disciplina, com
efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto,
produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”. Embora a
disciplina tenha tanto proveito, o texto deixa claro que a mesma produz sofrimento, por isso a
O sofrimento fruto do amor que o cristão dedica a Cristo não é considerado, por
muitos estudiosos, como um sofrimento real. Contudo, não se pode negar que há dor e aflição
senhorio.
O convite de Jesus àqueles que desejavam segui-Lo não seria visto, hoje, como
politicamente correto. O texto bíblico assim registra a prédica de Jesus: “Então, convocando a
multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si
140
SPROUL - Boa Pergunta, p. 503
68
mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34). A aceitação deste convite certamente
seria acompanhada de sofrimento, muitas vezes chegando mesmo à morte, como foi o caso de
muitos mártires do passado. O próprio Cristo afirmou isso, ao declarar que “No mundo,
passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal
contra voz. Regozijai-vos e exultai, por que é grande o vosso galardão nos céus; pois assim
perseguirem aos profetas que viveram antes de vós”. Os ímpios e perdidos não podem fazer
nada contra Cristo, mas, o podem contra seus seguidores. Desta forma os atacam promovendo
sofrimento em suas vidas. Estas perseguições podem vir de várias formas. Podem vir por
meio de perseguição física. Perseguir no grego é “dióko”, que traduz a idéia de caçar, correr
atrás, como se persegue a um criminoso.141 Esta palavra indica alguma forma de perseguição
física.
A perseguição pode vir, também, por meio de injúrias. Dr. Heber de Campos citando
John MacArthur define injúria da seguinte forma: “Lançar insultos é atirar palavras abusivas
Este tipo de sofrimento humilha o servo de Deus, e o faz sentir desolado e sem
esperança, porém, isto é uma bem-aventurança. O servo de Deus é provado, também, pelas
mentiras que lhes são ditas. Assim como Cristo foi condenado por meio de mentiras, os servos
Há muitas outras situações em que os servos de Jesus Cristo, por amá-Lo de todo o
coração, sofrem, e um tipo de sofrimento real. E não se pode ignorar essa realidade.
141
CAMPOS, O ser de deus e as suas obras: A Providência, p. 565
142
CAMPOS, op cit., p. 566
143
Ibidem, p. 566
69
perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino de Deus”. O amor a Cristo produz
alguns resultados na vida do servo de Deus. A vida do mesmo é reta, e esta retidão produz
perseguição.
Paulo ao escrever sua segunda carta a seu amigo Timóteo no capítulo 3, versículo 12
informa que “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”.
Este texto de Paulo quer dizer que pelo fato do apóstolo ter vivido uma vida piedosa, cheia de
retidão que estava ligada ao seu ensino, seu procedimento, seu propósito, seu amor e sua
Mais vai além, pois o texto diz que “todos quantos”, e não apenas alguns seriam
daqueles que vivem fielmente perante Deus. O sofrimento, nesse caso, não facultativo ou uma
possibilidade, mas um fato. Portanto, todos os que se mantêm fiéis a Jesus devem estar
Bom exemplo disso é a vida dos apóstolos. A tradição afirma que, com exceção de
tremendamente pela decisão de viver de maneira piedosa e fiel a Cristo. É preciso ter sempre
em mente que a possibilidade do sofrimento é real e não está longe dos crentes. Mas Deus,
pela sua bondade e misericórdia, não permitirá que alguém padeça além das forças.
Quando se olha para ha historia se vê que uma das maiores razões da igreja ter sido
bastante aqueles que não servos de Deus. A pregação gera reações até violentas contra os
70
pregadores do evangelho. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo na sua segunda carta a Timóteo
descendente de Davi, segundo o meu evangelho; pelo qual estou sofrendo até algemas, como
Observa-se que por causa da pregação do evangelho o apóstolo foi tratado como
“malfeitor”. Ser tratado como malfeitor significa ser preso, e naquela época o sistema
carcerário era o pior possível. No livro de Atos no capítulo 16, versículos 22 a 24 informam
que Paulo foi preso no tronco pelos pés, sem nenhuma possibilidade de locomoção dentro do
próprio cárcere, desta forma eram as algemas da época. Para o apóstolo, porém, a Palavra de
Deus não estava algemada, Palavra esta capaz de transformar os ouvintes, e Paulo, pregador
Os maiores perseguidores da igreja primitiva eram os Judeus. Para eles a única forma
de conter o avanço do evangelho era matando aqueles que a anunciavam. Na primeira carta
Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na
Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as
mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus, os quais não somente
mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam
a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos
gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus
pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente.
Judeus, pela chegada do evangelho. Onde o evangelho causava persuasão, havia perseguição.
“Todos os líderes e crentes em geral que são testemunhas corajosas e fiéis, haverão de sofrer
perseguição por causa da pregação da palavra de Deus”.144 O apóstolo Paulo tinha extrema
autoridade ao falar de provações, pois toda a sua vida foi vivida em meio a estas lutas por
144
Ibidem, p. 572
71
Este sofrimento é típico daqueles que ousadamente pregam uma contracultura, que
pregam contra os valores corruptos deste mundo. A tentativa de implantar esta nova cultura,
que é poderosa para transformar vidas, causa provações aqueles que se dedicam a esta árdua,
Como disse Dr. Héber de Campos, este é um sofrimento típico. Este sofrimento que
sobrevêm aos servos de Deus pelo fato de pertencerem a Deus. A fonte são os opositores do
evangelho. Pode-se ver isso tanto nos escritos do Antigo Testamento como nos do Novo, e,
perseguido por ser fiel a Deus. O rei Saul foi um perseguidor de Davi, e nessas perseguições
surgiram alguns Salmos. Os profetas, também, foram alvo de terríveis perseguições devido à
fidelidade a mensagem que Deus colocava em seus corações. O impressionante é que foram
perseguidos pelo próprio povo de Israel. Muitos zombavam deles, eram presos, tudo pelo fato
da incredulidade da liderança do povo no que estava sendo dito. O Senhor Jesus no intuito de
trazer alento a sua geração lembrou-os das perseguições que os profetas sofreram antes deles.
aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo,
disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos
céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.
piedosos profetas. O próprio Senhor Jesus foi alvo de terríveis provações pela sua fidelidade
ao Pai. No novo Testamento se vê muitos exemplos de provações na vida dos servos de Deus
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se
vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do
mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da
palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a
mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também
guardarão a vossa.
Nestas palavras Jesus profetiza a respeito das perseguições que haveria de sofrer a
igreja por Ele inaugurada. Na verdade o ódio sentido é contra o Senhor Jesus, e, por não
poderem nada fazer contra Ele o fazem contra a igreja.145 Essa verdade é percebida no livro de
Atos quando o Senhor se revela a Paulo e pergunta: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”
(Livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 9, versículo 4). Paulo até então era perseguidor da
igreja, e, então, o Senhor Jesus vai direto ao ponto. Sua pergunta indica que perseguir a igreja
foram vítimas de perseguição por parte dos imperadores Romanos. Pode-se citar Justino,
chamado “O Mártir”. Foi martirizado entre os anos de 163 e 167 por causa da pregação do
Foi condenado a morte por Rústico, no tempo de Marco Aurélio.146 Às vezes famílias
inteiras e suas gerações, eram perseguidas. Vê-se isto na família do pai da Igreja chamado
Orígenes. Seu pai chamado Leônidas, por causa do seu zelo ao evangelho, entre os anos de
201 e 202, foi executado e teve todos os seus bens confiscados. Anos após sua morte, mais ou
menos no ano de 255, na perseguição de Décio foi preso e torturado, o que o levou a morte.147
Poder-se-ia falar de muitos outros como Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, etc.
O ódio dos que não servos de Deus contra a igreja ainda é o mesmo, percebe-se que no
145
CAMPOS, O Ser de Deus e as suas obras: A Providência, p. 575
146
BOEHNER - História da filosofia Cristã, p. 26
147
Ibidem, p. 48
73
decorrer do tempo nada mudou na história. Como nada podem fazer contra Cristo o fazem
contra ela, que é a sua representante e seguidora. Quanto a esta realidade Dr. Heber de
Campos diz que “esse sofrimento é exclusivo daqueles que fazem parte do corpo de Cristo,
daqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo. Ninguém tem esse sofrimento de ver-se
criticado, zombado, preterido, discriminado por sua fé, senão aquele que é filho do Deus
Quando se olha para a igreja no mundo ocidental, percebe-se que pouco ou nenhuma
perseguição lhes sobrevém. Muitos acham que é pelo motivo dos cristãos ocidentais não
É possível que este argumento seja verdadeiro, pois a igreja em sua maioria tem
pregado um falso evangelho que tem como foco nas coisas materiais e terrenas de acordo com
com a fiel exposição das Sagradas Escrituras têm abandonado a mensagem do Evangelho, que
confronta o pecador e seu estado miserável, afastado de Deus, morto espiritualmente, para
levar para o púlpito de suas igrejas uma mensagem “vazia”, que não causa nenhum efeito no
pecador.
Porém, uma das marcas da igreja de Cristo é a perseguição sofrida pela fidelidade da
mesma a Deus bem como pela fidelidade dos seus pastores a fiel exposição das Escrituras
Sagradas. O Apóstolo Pedro ao se referir aos irmãos perseguidos, ele o faz chamando-os de
“Este é um designativo daqueles que são filhos de Deus. Somente a esses é que Ele
sofrimento”.149
148
CAMPOS, op cit., p. 576
149
Ibidem, p.580
74
Isso mesmo, sofrimento exclusivo. Paulo ao escrever sua carta aos Romanos no
capítulo 8, versículo 18 diz: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo
presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. Estes sim são
sofrimentos exclusivos, mas, as promessas que as acompanham são, também, exclusivas para
os servos de Deus.
De acordo com C.S Lewis, a dor é o megafone que Deus usa para fazer o surdo ouvir o
que Ele tem a dizer.150 Nos momentos de dor é preciso pedir a Deus para revelar o caminho
correto a seguir. A humanidade é obrigada a reconhecer o erro para, então, voltar ao caminho
da retidão. Mas, será correto dizer que “alguns vêm para o evangelho pelo amor e outros pela
dor?”. Segundo Dr. Héber de Campos, isto não é verdade, pois pelo o que já foi exposto pode-
se concluir que todos os atos de Deus para com o servo de Deus são atos de amor. Todas as
formas de Deus agir para com o seus servos são formas amorosas, inclusive sua repreensão.
Deus usa sua vara para trazer de volta aquele que está se afastando, Ele a usa com amor,
O livro de Provérbios relata esta verdade de forma clara: “Filho meu, não rejeites a
disciplina do Senhor, nem te enfades da tua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem
ama, assim como o pai ao filho, a quem quer bem”. ( Pv. 3:1,2)
150
LEWIS - O Problema do Sofrimento, p. 46
75
Paulo ao escrever sua segunda carta aos Coríntios no capítulo 1, versículos 4 e 5 diz:
É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar aos que
estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos
contemplados por Deus. Porque assim como os sofrimentos de Cristo se manifesta em
grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio
de Cristo.
Um dos propósitos explícitos neste texto é que Deus, ao permitir que seus servos
passem por provações, Ele o faz com objetivo de capacitá-lo a consolar outros. Dentro do Seu
propósito, Deus tem preparado Seus servos, através de provações para exercer uma de suas
conforme a Carta de Tiago 1:2-4, que diz: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o
passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada,
produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e
íntegros, em nada deficientes”; e também 1 Pedro 1:6,7: “Nisso exultais, embora, no presente,
por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez
confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado
À luz dos ensinamentos bíblicos, entende-se que os servos de Deuss passam por
provações diversas, todavia esta não é um simples acidente de percurso, mas está debaixo da
providência de Deus para equipar o cristão para que este responda o chamado de Deus no
conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42:5). É preciso voltar os olhos
para o início do livro de Jó que revela que o conhecimento de Jó a respeito de Deus era
somente teórico. Jó conheceu na própria pele a vontade soberana de Deus quando disse:
“Porque as flechas do Todo Poderoso estão em mim cravadas, e o meu espírito sorve o
veneno delas” (Jó 6:4). Jó compreende aqui a vontade de Deus. Certamente ouvira falar do
poder de Deus, mas nunca o havia experimentado, porém, mesmo com resignação reconhece,
“bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrados” (Jó 42:2).
Então, ele confessa a sua ignorância sobre quem Deus de fato era. A sua confissão de
conceitos errôneos sobre Deus é claramente mostrada quando ele diz: “Falei do que não
entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia”.151 O sofrimento
relacionamento. Por esta e por outras razões é preciso agradecer a Deus pelas provações, pois
são elas que confirmam todo aquele conhecimento teórico que o servo de Deus tinha no início
de sua caminhada e que a partir das provações são confirmadas de forma sublime; e tudo para
glória de Deus. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo
151
CAMPOS, op cit., p. 611
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para iniciar essas considerações finas, torna-se necessário fazer uma recapitulação do
que foi exposto até agora. Será feito de uma forma sucinta para uma conclusão mais coerente.
A proposta da introdução foi responder a algumas perguntas que foram feitas com
respeito às provações que sobrevêm ao ser humano, e, em especial, os servos de Deus. Toda
primeiro passo foi definir alguns termos chaves de vital importância para o desenvolvimento
O trabalho de pesquisa assinalou que a diferença entre ser provado e ser tentado, está
não na situação em si, e não no propósito que a mesma almeja, ou então, de onde ela vem. Isto
O conceito de “reformado” aponta para uma pessoa que tem como princípio ético e
teológico o mesmo dos reformadores. São eles, principalmente, Martinho Lutero e João
Calvino, em especial este último. É definido, também, que o reformado aceita a doutrina da
providência.
O conceito de providência deixou claro que a mesma se refere aos atos de Deus em
todo o período pós-criação. Ou seja, depois de ter decretado a história humana na eternidade,
Deus trouxe tudo a existência em seu ato único de criação. A partir daí Deus conduz a história
em direção ao seu alvo proposto nos decretos. Deste momento em diante as ações de Deus
para o tema proposto ajudaram a relacionar a providência com outras ações providenciais de
Deus no universo. Ela está relacionada com a soberania, com onipotência, com os decretos e
com a criação.
isentará destes males nesta existência. Elas acontecem e vêm de várias fontes, Deus é uma
delas, satanás é outra, assim como a cobiça e a própria natureza carnal. A limitação revela
uma das causas da provação, também, o pecado como a principal, pois, devido a queda o ser
humano quebrou o seu relacionamento com Deus e isto, por si só, já produz provações.
No capítulo quatro falou-se de algumas provações e sua relação com o servo de Deus,
as quais são relevantes e necessárias para o correto entendimento do tema proposto, levando-
as provações e sua relação com o servo de Deus. Neste momento, em contraste com os que
não são servos de Deus, foi mostrado que apesar do servo também sofrer terríveis provações,
Deus de fato está por detrás de tudo. Para com aqueles que não são servos de Deus sua
justiça manifesta-se punitivamente. Com aqueles que não são servos de Deus não consegue
contemplar e perceber os atos de Deus por detrás de toda história. Eles sofrem com terríveis
situações sem o mínimo de esperança e permanecem endurecidos quanto a tudo que está
relacionado com Deus. O servo de Deus contempla Seu amor, graça e justiça, entendendo que
tudo cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e cumprindo Seus esternos propósitos.
Esta face sorridente oculta por trás da realidade da providência que, para aqueles que
152
PIPER - Teologia da Alegria, p. 14
79
não são servos de Deus é algo muito duro de aceitar, é revelada apenas para o servo de Deus
Senhor da glória com Seus olhos amorosos cuidando de tudo para o bem de sua própria
existência.
assim, de uma maneira muito especial, Ele cuida de sua igreja e tudo dispõe para o bem
dela”.153
153
HODGE, Confissão de fé Westminster, comentada, p. 131
80
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