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Leitura: uma porta aberta na formação do cidadão1

Caciací Santos de Santa Rosa2

RESUMO

O presente artigo faz uma breve abordagem acerca da relação existente entre leitura, escola e
cidadania, demonstrando a importância da leitura como prática social na formação do
cidadão. Apresenta algumas práticas voltadas para o ensino da leitura que vem sendo
desenvolvidas em escolas de ensino fundamental brasileiras. Enfoca o papel da leitura como
fonte de informação e disseminação de cultura. Aborda a relação dos alunos do ensino
fundamental com a leitura escolar, trazendo um estudo de caso com crianças que cursam a 4ª.
Série do ensino fundamental em uma escola da rede pública da cidade de Salvador.

PALAVRAS – CHAVE: Leitura. Escola. Informação. Cidadania.

1. Introdução
Com o desenvolvimento científico e tecnológico que é característica marcante da
sociedade contemporânea, nota-se que a leitura cada vez mais tem se tornado um elemento
indispensável para a inserção social do individuo e conseqüentemente para a formação da
cidadania, uma vez que através dela ele terá acesso a uma enorme gama de informações e
novos conhecimentos que serão de fundamental importância para que possa interagir de uma
forma mais consciente na sociedade.
Segundo Silva (1991), a leitura é um ato de conhecimento, pois ler significa perceber e
compreender as relações existentes no mundo. Nesse sentido podemos definir leitura como
“[...] um ato individual, voluntário e interior [...]”, (SANDRONI; MACHADO, 1998, p. 22),
que se inicia com a decodificação dos signos lingüísticos que compõem a linguagem escrita
convencional, mas que não se restringe à mera decodificação desses signos, pois, a leitura
exige do sujeito leitor a capacidade de interação com o mundo que o cerca.
A leitura é uma atividade ao mesmo tempo individual e social. É individual porque
nela se manifestam particularidades do leitor: suas características intelectuais, sua

1
Artigo apresentado às Faculdades Jorge Amado - FJA, como trabalho de conclusão do curso de graduação em
Normal Superior Anos Iniciais do Ensino Fundamental, realizado através da parceria FJA/SMEC. Aprovado em
junho de 2005.
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Professora da Rede Municipal de Ensino de Salvador, licenciada em Anos Iniciais do Ensino Fundamental
(Curso Normal Superior) pelas Faculdades Jorge Amado - SSA /BA. Graduanda em biblioteconomia pelo
Instituto de Ciência da Informação - ICI/UFBA. Pós-graduanda no curso de Especialização em Novas
Tecnologias Aplicadas à Educação pela Faculdade São Salvador - SSA/BA. E-mail: caciaci@yahoo.com.br.
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memória, sua história; é social porque está sujeita às convenções lingüísticas, ao


contexto social, à política. (NUNES 1994, p.14)

Ler é atribuir sentido ao texto, relacionando-o com o contexto e com as experiências


previas do leitor. Para Kleiman (2002), a leitura é um processo que se evidencia através da
interação entre os diversos níveis de conhecimento do leitor: o conhecimento lingüístico; o
conhecimento textual e o conhecimento de mundo. Sendo assim, o ato de ler caracteriza-se
como um processo interativo.
Apesar de hoje já ter se tornado evidente a importância da leitura enquanto prática
social, ainda é bem comum observarmos crianças que freqüentam classes regulares de escolas
públicas de ensino fundamental afirmarem não gostar de ler. Isso se torna algo ainda mais
evidente na medida em que procuramos fazer uma análise reflexiva acerca do ensino de
leitura no Brasil desde o século XIX até os dias atuais.
Para tanto, faz-se necessário conhecermos um pouco sobre os materiais de leitura que
vem sendo oferecidos pelos professores aos alunos do ensino fundamental, como também, é
importante conhecermos algumas práticas leitoras que estão sendo desenvolvidas nas salas de
aulas das escolas públicas de ensino fundamental, que atendem prioritariamente a uma
clientela de alunos oriundos das classes populares, alunos esses que já não encontram em seu
ambiente familiar um contexto de letramento que favoreça a ampliação de seus recursos
lingüísticos e a formação do hábito de ler.
Segundo Molina (1992), a partir do momento em que se reconhece o papel da escola
na formação do leitor, apesar de todos os limites concretos, torna-se possível uma mudança de
práticas, com o objetivo de dar ao aluno a competência em utilizar a leitura como um
instrumento útil em sua vida, além da escola. Nesse sentido, observa-se que a escola poderá
exercer um importante papel na formação de um leitor mais competente.
Com base na visão de leitura enquanto prática social que deverá ser promovida pela
escola, porém exercida pelo aluno além da vida escolar, em suas múltiplas relações que
entrelaçam a cadeia do mundo globalizado é que foi elaborado este trabalho com o objetivo de
demonstrar a importância da leitura como fonte de informação e disseminação de cultura,
reconhecendo o papel da escola como mola propulsora na formação do desejo e hábito de ler
nos alunos.
Vale a pena ressaltar que pretende-se com este trabalho fazer uma breve reflexão
acerca de alguns aspectos mais relevantes presentes na relação que há entre a escola, a leitura
e os sujeitos leitores, no que diz respeito não só a simples decodificação do código escrito que
se caracteriza formalmente como leitura, mas ao sentido mais amplo que se refere ao ato de
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ler, pois, “a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção
das relações entre o texto e o contexto”. (FREIRE, 1997, p.11).
Nesse sentido caberá a escola enquanto espaço formal de articulação e promoção das
práticas leitoras possibilitar ao educando condições favoráveis para que ele possa exercer o
ato de ler de forma plena, sendo capaz de praticá-lo com autonomia e criticidade, no sentido
de saber estabelecer múltiplas relações entre texto e contexto de uma forma dinâmica e
construtiva.

2. Leitura como prática social: uma porta aberta na formação do cidadão


O conceito de leitura enquanto prática social vai muito além da simples decodificação
da linguagem verbal escrita, pois nele está inserido a idéia de que ler é atribuir sentido ao
texto, relacionando-o com o contexto e com as experiências prévias do sujeito leitor. Nesse
sentido cabe afirmar que esse tipo de leitura sempre será precedida de uma finalidade
concreta, que atenderá a um objetivo presente no contexto real em que o leitor está inserido. A
leitura como prática social é um meio que poderá conduz o leitor a resolver um problema
prático, responder a um objetivo concreto ou a uma necessidade pessoal.
Pensar em leitura enquanto prática social pressupõe pensar nas múltiplas relações que
o sujeito-leitor exerce na interação com o universo sócio-cultural a sua volta; é pensar em um
leitor apto a usar a leitura como fonte de informação e disseminação de cultura, pois,
Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas
respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita,
significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se
é. (FOUCAMBERT, 1994, p.5).

Portanto, para que o sujeito leitor possa fazer o uso social da leitura não bastará apenas
que ele seja alfabetizado, no sentido de apenas ter adquirido as habilidades necessárias para
saber decodificar a linguagem escrita, porém se faz necessário que além de ser alfabetizado
ele seja também letrado.
Segundo Soares (1999), passamos a enfrentar uma nova realidade social em que não
basta apenas saber ler e escrever é preciso também fazer uso do ler e do escrever, para saber
responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente, daí surge o
termo letramento, ressignificando a idéia principal que se tinha do saber ler e escrever,
buscando definir um novo padrão de usuário da língua que se mostre apto a atender às
demandas da sociedade contemporânea. Quando afirmamos que um individuo além de
alfabetizado precisa ser letrado estamos incorporando a ele valores que definem a maneira que
esse individuo interage com a complexidade lingüística e cultural do mundo a sua volta, pois
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dessa forma ele passará de um mero decodificador da língua escrita a um usuário ativo da
mesma.
Em nossa sociedade os conteúdos informacionais circulam quase exclusivamente via
meios escritos, através da Internet3, da televisão, dos outdoors com informes publicitários, dos
jornais, das revistas, dos panfletos, dos catálogos e muitos outros veículos de comunicação.
Sendo assim, o processo de apropriação da informação e da construção de novos
conhecimentos se configura como um processo ativo que está intimamente ligado à leitura.
Por isso, o uso social da leitura é algo contextualizado que acontece em diferentes espaços e
não obedece a nenhuma regra específica e nem a um padrão sociolingüístico pré-definido.
Quando estamos em um ponto de ônibus a esperar o transporte que irá nos conduzir a
um determinado lugar e conseguimos ler e compreender o itinerário do coletivo que se
aproxima estamos, mesmo que inconscientemente, fazendo o uso social da língua; quando
lemos a bula de um medicamento a fim de verificar se sua indicação coincide com a
prescrição feita pelo nosso médico, estamos fazendo o uso social da língua; quando
procuramos uma vaga de emprego nos anúncios classificados de um jornal ou até mesmo
quando verificamos se o nome de um amigo consta na lista de aprovados do vestibular,
estamos fazendo o uso social da língua. Sendo assim, a leitura enquanto prática social adquire
um caráter dinâmico que se incorpora de uma forma natural às atividades cotidianas dos
indivíduos.
Segundo Kleiman (1998), ao lermos um texto, qualquer texto, colocamos em ação
todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que se deu
nossa sociabilização primária, isto é, o grupo social em que nascemos e fomos educados. Por
isso, podemos afirmar que a leitura enquanto prática social é algo bastante complexo, pois
está intimamente ligado às nossas raízes sócio-culturais e conseqüentemente à formação da
nossa cidadania.
Nesse sentido é importante fazermos algumas definições acerca da palavra cidadania.
A palavra cidadania deriva-se da palavra cidadão. No sentido etimológico a palavra cidadão
deriva-se de civitas, que em latim significa cidade.
Segundo Ximenes (2000, p.170), “cidadania é a condição de cidadão” e “cidadão é o
individuo no pleno gozo de seus direitos políticos e civis”. Quando falamos a palavra

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Rede mundial de computadores interligados por meio de programas especiais, servidores e
provedores de acesso, e que oferece serviços de e-mail, acesso a sites diversos, download de
programas, educação a distancia, etc.
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cidadania estamos interligando a ela a idéia de construção da consciência crítica, política e


social do individuo, pois,
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de
participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania
está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando
numa posição de inferioridade dentro do grupo social. (DALLARI, 1998, p. 14)

Sendo assim, a leitura e uma porta aberta na formação do cidadão e conseqüentemente


na construção da cidadania, uma vez que através da leitura o individuo terá a possibilidade de
construir novas relações com as informações presentes no espaço global de uma forma
dinâmica, crítica e autônoma, tornando-se sujeito construtor de sua própria história e da
história coletiva de seu país.
Formar o cidadão não significa ‘preparar o consumidor’. Significa capacitar as
pessoas para a tomada de decisões e para a escolha informada acerca de todos os
aspectos na vida em sociedade que as afetam, o que exige acesso à informação e ao
conhecimento e capacidade de processá-los judiciosamente, sem se deixar levar
cegamente pelo poder econômico ou político. (TAKAHASHI, 2000, p. 45)

Segundo Takahashi (2000), com a universalização de acesso às tecnologias de


informação e comunicação (TICs) surgiu um novo paradigma global no qual o acesso aos
serviços informacionais tem se tornado, cada vez mais, condição necessária para inserção
social dos indivíduos como cidadãos.
Vale ressaltar que a maioria dos conteúdos informacionais que são disseminados
diariamente via Internet são prioritariamente documentes escritos e por isso requer do leitor
um mínimo de conhecimento lingüístico e textual para ter acesso a eles. Isso torna ainda mais
evidente a importância da leitura como prática social na construção da cidadania.

3. Leitura na escola fundamental: o que temos oferecido aos nossos alunos


Segundo Galvão e Batista (2000), desde o século XIX a escola primaria brasileira,
hoje escola de ensino fundamental, via a formação do leitor como um processo que se
restringia basicamente à transmissão das habilidades básicas de leitura e escrita, bem como
das regras ortográficas do português, havia também uma forte preocupação com a transmissão
dos conteúdos instrutivos e das regras e modelos de comportamento, ou seja, eram ensinados
aspectos morais e ideológicos da sociedade, nesse sentido além dos livros didáticos eram
usados como materiais de leitura o Código Criminal e a Bíblia.
A partir de meados do século XX observou-se na escola primária brasileira uma
suposta evolução em relação ao ensino da leitura, buscando contemplar o uso social da língua
escrita, na diversidade dos modos de ler e nos diferentes gêneros textuais, através da
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introdução de todo um conjunto de textos que antes era proibido nas escolas como:
quadrinhos, rótulos, listas, quadros e tabelas, placas, publicidade entre outros. No sentido de
tornar a leitura escolar algo contextualizado que tivesse um caráter prático e motivador do
desejo de ler nos alunos.
Apesar das pesquisas apontarem essa suposta evolução no ensino da leitura nas
escolas, nota-se que ainda hoje isso é algo que ficou mais no discurso e só foi incorporado na
prática de pouquíssimas escolas brasileiras, em sua maioria aquelas que adotam uma proposta
de trabalho nos moldes construtivista, pois as que seguem uma linha pedagógica tradicional,
persistem utilizando prioritariamente o livro didático como o único ou principal elemento para
sistematização das práticas leitoras.
Mesmo com a existência de fatores de mudança e transformação das práticas leitoras
nas escolas, o desejo de ler ainda é algo que está bastante distanciado da maioria dos alunos,
principalmente daqueles oriundos das classes populares que só encontram prioritariamente na
escola acesso às práticas de leitura e escrita.
O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis
que a literatura nos oferece, dispostas a identificar-se com o semelhante ou a
solidarizar-se com o diferente e capazes de apreciar a qualidade literária. (LERNER,
2002, p. 28)

A fim de tornar mais evidente a relação que tem se estabelecido na atualidade, entre os
alunos do ensino fundamental e a leitura escolar foi feito um estudo de caso com um grupo de
30 alunos, na faixa etária entre oito e doze anos que cursam a 4ª. série em uma escola da rede
pública, situada em um bairro do subúrbio ferroviário, região periférica da Cidade de
Salvador.
Para tanto foi feita uma entrevista onde esses alunos tiveram a oportunidade de
expressar de forma espontânea a sua relação com a leitura escolar e seu sentimento em relação
à leitura na sua vida cotidiana.
Porém, antes de apresentarmos os dados coletados na pesquisa de campo, faz-se
necessário fazermos um breve comentário sobre o trabalho com leitura que vem sendo
desenvolvido pela professora da turma de 4ª. série na qual os alunos foram entrevistados.
Durante a pesquisa observou-se que a professora desenvolve um trabalho com leitura
bastante interessante no sentido de mostrar aos alunos a importância da leitura para sua vida
social. Ela parte do pressuposto de que o trabalho com a leitura na sala de aula deve ser
desenvolvido de forma prazerosa, dinâmica e contextualizada, onde os alunos possam
compreender que poderão recorrer aos textos escritos tanto para buscar respostas para os
problemas do cotidiano, como também para utilizá-los como fonte de lazer e entretenimento.
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Em suas aulas de língua portuguesa a professora disponibiliza aos alunos uma vasta
diversidade textual, que vai de um simples encarte de jornal até obras clássicas da literatura
infanto-juvenil. Segundo Lerner (2002), cabe a escola fazer as crianças participarem de
situações de leitura e da escrita, colocando ao dispor delas materiais escritos variados.
A professora costuma organizar na sala de aula o cantinho da leitura e a gibiteca4,
ambos vem despertando grande interesse dos alunos.
[...] se quisermos inculcar o hábito da leitura precisamos ir além das necessidades e
interesses das várias fases de desenvolvimento e motivar a criança a ir ajustando o
conteúdo de suas leituras à medida que suas necessidades intelectuais e condições
ambientais forem mudando. (BAMBERGER, 1995, p. 20).

A prática dessa professora vem despertando grande interesse dos alunos em relação à
leitura o que para nós pesquisadores foi uma grande surpresa diante do levantamento inicial
que fizemos acerca do ensino de leitura no Brasil.
Dos trinta alunos entrevistado 100% afirmaram gostar de ler. A aluna J.U.S.C, de 10
anos nos disse que gosta de ler porque através da leitura ela aprende muitas coisas novas, ela
demonstrava grande interesse pela leitura, afirmando que adorava as aulas de português
porque nelas podia ter acesso a diversos livros que não possuía em casa.
Perguntamos aos alunos se eles sabiam para que servia a leitura e 90% deles
afirmaram que a leitura servia para aprender e se informar. Isso demonstra a importância de
conscientizar os alunos sobre o caráter e relevância social da leitura como fonte de
informação e transmissão de cultura. W.M.B, de 9 anos afirmou que a leitura serve para
aprender e para exercitar a mente. Constatamos que dos 30 alunos entrevistados apenas 10%
não compreendiam a importância e a funcionalidade da leitura.
Para que a instituição escolar cumpra com sua missão de comunicar a leitura como
prática social, parece imprescindível uma vez mais atenuar a linha divisória que
separa as funções dos participantes na situação didática. Realmente para comunicar
às crianças os comportamentos que são típicos do leitor, é necessário que o professor
os encarne na sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alunos de
participar em atos de leitura que ele mesmo está realizando, que trave com eles uma
relação ’de leitor para leitor’. (LERNER, 2002, p. 95)

A maioria dos alunos entrevistados afirmou gostar dos materiais de leitura oferecidos
pela professora e da forma com que ela conduz o trabalho, eles mostravam-se bastante
entusiasmados acerca dos livros de história infantis e das revistas em quadrinhos que ela
disponibilizava. Muitos deles disseram que em suas casas possuíam como materiais de leitura
apenas a bíblia e os livros didáticos que recebiam na escola, e por isso costumavam tomar

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Espécie de mine-biblioteca que contém em seu acervo apenas gibis, ou seja, revistas em
quadrinhos.
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emprestados os livros de histórias infantis da professora para ler em casa, já que sua escola
não dispõe de uma biblioteca. Segundo Lerner (2002), o empréstimo de livros permitirá que
as crianças possam continuar lendo em sua casa, local que em alguns casos, poderá ser mais
apropriado para uma leitura individual e privada do que a sala de aula.
Esse estudo de caso é apenas uma pequena amostra acerca das práticas de leitura que
estão sendo desenvolvidas dentro das salas de aula das escolas públicas de ensino
fundamental brasileiras, não é algo substancial diante da vastidão territorial do nosso país e da
diversidade sócio-cultural e pedagógica que norteia o ensino da leitura no Brasil, porém, ajuda
a tornar mais evidente que o ensino de leitura no Brasil realmente vem mudando no sentido de
atender à demanda informacional e cultural dos alunos. Hoje o grande desafio da escola é
incentivar a leitura despertando nas crianças o gosto e o desejo de ler.
O desafio é formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas sujeitos que
possam ‘decifrar’ o sistema de escrita. É - já o disse – formar leitores que saberão
escolher o material escrito adequado para buscar a solução de problemas que devem
enfrentar e não alunos capazes apenas de oralizar um texto selecionado por outro.
(LERNER, 2002, p.27.)

A demanda informacional e cultural da sociedade contemporânea faz aumentar ainda


mais a necessidade de se criar na escola uma comunidade de usuários ativos da língua. Para
que isso ocorra será preciso despertar nos alunos o desejo de ler e “ninguém gosta de fazer
aquilo que é difícil demais, nem aquilo do qual não consegue extrair o sentido” (KLEIMAN,
1998, p.16). Por isso as atividades de leitura na escola deverão ser promovidas de acordo com
o nível de desenvolvimento cognitivo do aluno, afim de que ele possa estabelecer sentido ao
que ler.

5. Considerações finais sobre leitura, escola e cidadania.


A leitura é um dos pilares da educação escolar, pois é prioritariamente no ambiente
escolar que as práticas de leitura e escrita são sistematizadas formalmente. Sendo assim, “a
escola pode colaborar na formação do leitor, e sua colaboração será maior ou menor na
dependência dos pressupostos que fundamentam o seu currículo” (MOLINA, 1992, p.12).
Constatamos que as práticas leitoras desenvolvidas pela escola fundamental refletem
diretamente na formação do leitor, uma vez que muitos dos alunos que freqüentam classes
regulares do ensino fundamental só encontram no ambiente escolar espaço propicio para
realizar o ato de ler de forma plena, ou seja, interagindo de forma consciente com o texto
escrito.
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Mas muitos professores do ensino fundamental continuam ignorando a necessidade de


fazer com que a leitura na escola se torne algo prazeroso, capaz de motivar o aluno a desejar
ter um maior contato com a prática da leitura além do ambiente escolar. Isso ainda acontece
porque muitos desses professores não dispõem de uma formação adequada para o ensino de
língua portuguesa que os possibilitem criar uma outra concepção acerca do ensino de leitura.
As práticas desmotivadoras, perversas até, pelas conseqüências nefastas que trazem,
provêm, basicamente, de concepções erradas sobre a natureza do texto e da leitura,
e, portanto, da linguagem. Elas são práticas sustentadas por um entendimento
limitado e incoerente do que seja ensinar português, entendimento este
tradicionalmente legitimado tanto dentro como fora da escola. (KLEIMAN, 1998, p.
16)

Porém observamos que já existem professores efetivando uma prática diferenciada no


ensino de leitura na educação fundamental brasileira, visando despertar nos alunos o gosto
pela leitura e mostrando a eles a importância da leitura como fonte de informação e
disseminação de cultura. Esses professores mostram-se conscientes de que a formação do
leitor reflete diretamente na construção de sua cidadania e a construção da cidadania traz
grandes impactos políticos e sociais para o nosso país. Uma vez que um cidadão consciente de
seus deveres e direitos políticos e civis poderá trazer mudanças sociais significativas para a
macro-estrutura político-governamental de seu país.
O uso da leitura como prática social tem caráter relevante no processo emancipatório
do sujeito, vez que os conteúdos informacionais que circulam diariamente na cadeia global
são prioritariamente escritos, por isso um sujeito que não tenha acesso a esses conteúdos
provavelmente ficará a margem da informação e do conhecimento.
Segundo Takahashi (2000, p. 45) “a educação é o elemento-chave na construção de
uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado”, considerando que
a leitura é um dos pilares da educação urge a necessidade de se reconhecer o papel da escola
na formação do leitor, pois é através da leitura que o individuo terá acesso a uma enorme
gama de informações e conhecimentos que possibilitará a ele interagir na sociedade de forma
crítica, autônoma e consciente, exercendo plenamente seu papel de cidadão.
O estudo que possibilitou a elaboração desse artigo tem caráter preliminar, pois servirá
de subsídio para novas pesquisas acerca da temática relacionada a: leitura, escola e cidadania,
uma vez que no novo paradigma educacional, impulsionado pelas TICs essa temática assume
um caráter relevante e com inesgotáveis possibilidades de novos estudos e pesquisas.
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REFERÊNCIAS

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DALLARI, Dalmo. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 46ª ed. São
Paulo: Cortez, 1997.

GALVÃO, A. M. O.; BATISTA, A. A. G. A leitura na escola primária brasileira: alguns


elementos históricos. In.: Projeto memória de leitura. São Paulo, v. 2, 2002. Disponível em:
http://www.unicamp.br/iel/memoria/ensaios/escolaprimaria.htm. Acesso em: 25/04/2004.

KLEIMAN, Angela. Oficinas de leitura: teoria e prática. São Paulo: Pontes, 1998.

_____. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 8ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre:
Artmed, 2002.

MOLINA, Olga. Ler para aprender: desenvolvimento de habilidades de estudo. São Paulo:
E.P.U., 1992.

NUNES, José Horta. Formação do leitor brasileiro: imaginário da leitura no Brasil colonial.
São Paulo: UNICAMP, 1994.

SANDRONI, L. C.; MACHADO, L. R.(orgs). A criança e o livro: Guia prático de estímulo à


leitura. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1998.

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1948.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

TAKAHASHI, Tadao. (org). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília:


Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.

XIMENES, Sergio. Minidicionário da língua portuguesa. 2ª ed. rev. e ampl. São Paulo:
Ediouro, 2000.

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ARAÙJO, Miriam Dantas de. Do hábito de ler à leitura como significado: qual a diferença?
In: I SEMINÁRIO EDUCAÇÃO E LEITURA, Anais... Natal: UFRN, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais.


Brasília, v. 2, 1997.
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KUPFER, Maria Cristina. Freud e a educação. São Paulo: Scipione, 1997.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-


histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

ORLAND, Eni Puccinelli (org.). A leitura e os leitores. São Paulo: Pontes, 1998.

ZILBERMAN, Regina. (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto


Alegre: Mercado Aberto, 1993.

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