Вы находитесь на странице: 1из 14

165

CONCEPÇÕES DE DIREITO E JUSTIÇA NOS DIFERENTES PERÍODOS DA


HISTÓRIA

Maisa Paula SILVA1


Eliel Ribeiro CARVALHO2

RESUMO

As noções de direito e justiça mudam com o tempo e também de acordo com a realidade e
vivência de cada pensador, tornando difícil conceituar direito até hoje. Em épocas remotas o
direito era tido como poder divino, que dava a quem o possuía poder sobre outros homens,
mas indagações constantes desvincularam essa ideia divina do poder soberano.
Posteriormente basearam-se em ideias matemáticas, de igualdade e proporcionalidade dos
gregos e romanos para se chegar à definição de direito, passando também por ideias fundadas
no cristianismo, de bondade e retidão, período em que havia divisão em poder espiritual e
atemporal, sendo seus maiores vultos Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Dante
Alighieri. A racionalidade no Renascimento influenciou na definição de direito e justiça,
destacando-se alguns pensadores que discutiam sobre a natureza humana, tendo importância
até os dias atuais, como Hobbes e John Locke. Na análise do direito natural e do positivo
hoje, direito natural é aquele inerente ao ser humano e o direito positivo é o que se baseia no
direito natural; são leis mesmo não havendo justiça em si, basta estarem positivadas.

Palavras-chave: Concepções. Direito. Justiça.

1 INTRODUÇÃO

O que dá base para que o direito prossiga é a questão da justiça, sem a justiça não
haveria razão para se ter o direito. Esses termos são investigados pela Filosofia do Direito,
que busca compreendê-los. Foram estudados no passado e ainda o são hoje.
A História do Direito e a Filosofia do Direito auxiliam na compreensão do
ordenamento jurídico e são disciplinas de suma relevância, consideram os termos já citados,
importantíssimos para desenvolvimento da disciplina, pois não há como orientar-se para a
prática sem antes ter uma noção teórica do direito e da justiça.
Para se chegar a uma conclusão, ou tentativa de conceituação mais adequada, é
indispensável discorrer sobre a história, analisando os diferentes conceitos dos diferentes
períodos históricos.

1
Graduanda do curso de Direito da Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama-MG.
maisapaula@outlook.com
2
Professor e Coordenador do curso de Direito da Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama-MG.
carvalho.eliel@hotmail.com

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


166

2 DIREITO E JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE

A civilização teria surgido no oriente para alguns historiadores, sendo relevante para
a história do direito o oriente mediterrâneo, chinês e índico. Assim, no Egito, imperava a ideia
do direito divino, isso quer dizer que os deuses transmitiam as regras ao faraó e este, revestido
de autoridade divina, governava sem nenhuma responsabilidade, ou seja, seus atos não
poderiam ser punidos e as leis dependiam unicamente de sua vontade. Desta forma, Cretella
Júnior (1999, p. 95) menciona que “justo é aquilo que o rei ama [...]”. A partir dessa
afirmação pode-se presumir que todos os súditos estavam sujeitos a arbitrariedades e
quaisquer crueldades cometidas pelo faraó.
Assíria e Babilônia não eram tão vinculadas à religião como os egípcios, porém, o rei
ainda era considerado um mediador entre o divino e o terreno, e uma de suas finalidades seria
manter a justiça. Porém, como poderia ele manter a justiça sem prestar contas a ninguém? O
rei faria sua vontade e a chamaria de justiça. Neste sentido, Cretella Júnior (1999, p. 95),
afirma que “o rei existe para impor a justiça na terra, para riscar do mundo o injusto e o mau,
para impedir que a fraco seja dominado pelo forte”.
Para o povo da Assíria e Babilônia, a realeza teria um fundo patriarcal, o que,
inclusive, influenciou o Código de Hamurabi que, segundo os historiadores, é considerado o
mais velho código existente, derrubando a ideia de que a Lei das Doze Tábuas dos romanos
fosse o mais velho.
Em Israel, os hebreus não se desvincularam da religião, tendo em vista que a lei
divina deveria ser observada e cumprida para haver justiça. Assim, Cretella Júnior (1999, p.
96) declara que “justiça é santidade, perfeição religiosa e moral”. Pode-se, assim, observar um
esboço do direito natural, diferente da concepção egípcia, em que o faraó toma para si o
poder.
Portanto, nota-se na Antiguidade a relação intrínseca entre deuses, reis, direito e
justiça, em que o direito provém da vontade divina, ora com responsabilidade do rei, pautado
na justiça, ora com irresponsabilidade, pautado na arbitrariedade, em que poderiam formular
leis injustas e povo nada poderia fazer, por causa do suposto poder divino.

3 DIREITO E JUSTIÇA PARA OS GREGOS

É importante destacar que os gregos abandonaram a religiosidade e passaram a


indagar os fatos e acontecimentos, o que significou um grande salto para o conhecimento. Os

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


167

romanos e os gregos são pioneiros no direito natural, em que o direito tinha a finalidade de
ordem e nascia da Justiça.
Segundo Galves (1996), direito natural é o direito que o homem vê em sua própria
natureza; a partir daí é fácil entender porque algumas das suas características são
universalidade e inerência. A afirmativa de Galves (1996) deixa entender que o direito natural
tem sua raiz na realidade e no que é certo.
Contraposto ao direito natural, os positivistas só aceitam a justiça convencional,
aquela prevista em lei, que surge de uma convenção social, o caso a ser refletido é que a lei
pode não expressar a justiça. Assim pode-se chegar à visão de que a justiça convencional não
traduz a justiça em todos os casos em que atua.
Há a justiça substancial dos jusnaturalistas, com base no direito natural, em
contrapartida à justiça convencional dos positivistas. Diferentemente da convencional, a
justiça substancial se preocupa com os valores morais. Quando essas duas justiças coincidem,
há que se chamar de uma ordem jurídica legítima, em que de fato se faz justiça.
Na literatura grega já existia Antígona, que questionava as leis dos homens, na
intenção de demonstrar que havia uma lei muito mais poderosa vinda dos deuses, o direito
natural (GALVES, 1996).
No que concerne à conceituação de direito e justiça, Pitágoras de Samos foi um
grego que considerava como princípio de tudo os números, ele contribuiu imensamente para
todas as ciências. Influenciou no que diz respeito à justiça e direito, à classificação de
Aristóteles e à definição de Dante Alighieri. O princípio da isonomia trata da igualdade de
todos perante a lei. O primeiro a dar importância para a igualdade amparada pela justiça foi
Pitágoras (GALVES, 1996).
Porém, com a evolução da história chegou-se a uma noção não só de igualdade, mas
de proporcionalidade que, na Idade Média, foi ressaltada por Dante Alighieri, posteriormente
lembrada por outros (GALVES, 1996). A justiça pode ser expressa tanto por valores positivos
como por negativos, que se devem ao mérito de cada um, aqui então pode-se observar a
proporcionalidade.
Pitágoras não deixou escritos, entretanto os seus discípulos dizem que a justiça para
ele era “[...] dar o igual ao igual – quando a Justiça Comutativa; ou dar o proporcional ao
merecido, quanto a ônus e honras – quando Justiça Distributiva” (GALVES, 1996, p. 105).
Segundo Cretella Júnior (1999), a justiça de Pitágoras teria uma interpretação com relação a
aritmética, a equação ou a igualdade, no que tange ao ordenamento jurídico.

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


168

Com uma interpretação numérica, os números que representavam a justiça seriam: 4


e 9. Cretella Júnior (1999) menciona ainda que a justiça era tida para Pitágoras como uma
relação aritmética de igualdade entre dois termos, que envolvia dano e reparação, e também
prestação e contraprestação.
A ideia de justo para Sócrates, famoso filósofo grego “é o que realiza o melhor da
natureza humana, em si e para os outros, praticando o bem e evitando o mal [...]” (GALVES,
1996, p. 109). Assim, “[...] o direito faz respeitar a conduta justa, na sociedade” (GALVES,
1996, p. 109). Essas ideias de Sócrates estão ligadas à descoberta da verdade e do bem, ou
seja, a conduta de agir sempre bem, de maneira correta, só assim existiria o homem justo e o
direito iria garantir o respeito a essas ações.
Os sofistas, de uma escola filosófica e adversários de Sócrates, levantavam muitas
questões, inclusive sobre direito; tentavam confundir as pessoas e chegavam a conclusões
inadequadas segundo Sócrates, tratavam o direito como algo mutável, indagavam também,
sobre a justiça, direito positivo e o direito natural (GALVES, 1996).
Platão, outro famoso filósofo grego, discípulo de Sócrates, em suas obras “A
República” e “As Leis” tratava de questões filosóficas, também da concepção de Estado e a
realidade das leis. Segundo ele, cada indivíduo teria nascido para determinada profissão,
estaria aí a justiça, fazendo o que competia a cada um (GALVES, 1996).
Aristóteles, por sua vez, também deixou obras importantes no que tange ao Estado, e
distinguia os três poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, além disso, dividia a justiça
em distributiva e corretiva (GALVES, 1996).
Para Aristóteles, direito natural ou justo natural estava no modo como se constituíam
as coisas do mundo, concebia a teoria da matéria ou forma, que quer dizer que tudo está
ligado a uma ideia e a uma matéria. Para ele, a lei que traduz menos justiça tem menos valor
que aquela que expressa maior justiça (GALVES, 1996). Define o direito como ”[...] conjunto
de regras de conduta que os homens devem obedecer em sua vida social, a fim de que possa
ser nela, respeitada a sua natureza” (GALVES, 1996, p. 115). Por este ângulo observa-se que,
sem o direito, os homens não se respeitariam, essa é a justificativa para que o direito exista.
Para Aristóteles, havia dois tipos de justiça, a geral e a particular. A geral trata de
uma virtude da pessoa e a justiça particular Aristóteles concebia em duas espécies:
distributiva ou igualadora e corretiva ou sinalagmática. A justiça distributiva é uma repartição
de modo proporcional, conforme o mérito de cada um, enquanto a justiça corretiva segue um
princípio de presente em contratos e em delitos (GALVES, 1996).

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


169

Aristóteles ainda classificava as leis como gerais e abstratas, pois se assim não fosse
haveria injustiças. Desta maneira, para ele há a equidade, que é a justiça do caso concreto em
que haverá o emprego das leis gerais e abstratas (GALVES, 1996).
Duas outras escolas gregas contribuíram para o direito, a Escola Estóica que
considerava a lei natural, compreendida no direito natural, superior a lei estatal, e a Escola
Epicurista, que considerava o Direito como um acordo existente devido sua utilidade, que de
certa forma serviria à preservação da vida (GALVES, 1996).
Para Galves (1996), o Estoicismo é uma corrente de pensamento que tem a
concepção de que a razão é inerente a natureza humana. O direito natural para o estóico trata
da igualdade entre os homens.
Ceticismo, por outro lado, é uma corrente que afirma não haver verdades sobre nada,
apenas opiniões, não encontravam consenso no que seja justo ou injusto, isto é, não
acreditavam nas verdades prontas. Para eles o direito é variável no tempo e lugar (GALVES,
1996).
Galves (1996) não é um grego, é do século XX, porém, baseou-se nas ideias gregas
para formular o seu conceito de direito. Para ele a finalidade do direito volta-se totalmente
para a consecução da justiça e a sua criação está intimamente ligada aos fatos que acontecem
na sociedade. Algumas das suas características são: alteridade, coercibilidade, coatividade,
com base nas noções gregas.

4 DIREITO E JUSTIÇA PARA OS ROMANOS

Jus era o termo designado para denominar direito para os romanos. E o que se
denominava direito tem o sentido, segundo Cretella Júnior (1999, p. 183), de “tudo aquilo que
é conforme a regra”, de maneira geral.
Houve oscilações nas diferentes fases da história romana, sobre o direito, que
compreende a divisão mais aceitável em: monárquico, de cunho religioso e patriarcal, cujos
costumes fundamentavam as leis; republicano, cria-se o poder judiciário, com escopo do
afastamento do rei como juiz, enquanto o rei é juiz há probabilidade de cometer
arbitrariedades; principado, nesse período deu-se mais poder ao senado e disseminou-se o
direito romano pelo mundo; e dominato, o costume deixou de ter importância como antes e o
poder tornou-se mais centralizado nas mãos do rei do que nas outras fases.
O mais importante aqui a se destacar é que, em Roma, o direito não se desenvolveu
como o direito grego. Os pensadores e doutrinadores gregos foram influência para os

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


170

romanos, que eram um povo conquistador, com isso incorporavam as ciências de outros
povos. Por conta disso, o direito pode ser caracterizado, de certa forma, como sendo
incoerente e com falta de originalidade.
Sob influência dos pensadores gregos, Marco Túlio Cícero tornou-se importante para
a filosofia ao discorrer acerca da justiça em uma de suas obras morais. Segundo Cretella
Júnior (1999), os jurisconsultos romanos reconheciam o direito com a moral, não tendo
conceituação aceitável dessa disciplina.
Cícero conceituava direito natural de maneira estoicista, ou seja, “não é aquilo que a
opinião produz, mas aquilo que uma força imprimiu na natureza” (GALVES, 1996, p. 117).
Ressaltava que é eterna e imutável essa lei, ou seja, a mesma em todos os tempos e lugares.
Cícero fez sua definição como ”direito é a arte do bem e do equitativo” (CRETELLA
JÚNIOR, 1999, 150), porém essa definição confunde direito com a moral.
A justiça, para Ulpiano (NADER, 2010, p. 77), “[...] est constanset perpetua
voluntas uis suum quique tribuendi”, isto é, “[...] é a constante e permanente vontade de dar a
cada um o que é seu direito”, em todos os âmbitos, diferentemente de Locke que defendia
somente a propriedade. Ulpiano considerava a honestidade, a prática do bem e a justiça,
preceitos do direito.
O direito natural, portanto, era tratado pelos gregos e romanos com uma ideia de lei
imutável e divina, que nasce com o ser humano, sem necessidade de alguém ensinar. Com o
declínio dessas civilizações houve a divisão de religião e política após o surgimento do
cristianismo, que identifica no ser humano o corpo, o espírito e a alma e deve ser tratado
como tal, porém ainda respeitavam a escravidão.

5 DIREITO E JUSTIÇA NA IDADE MÉDIA

O cristianismo tem origem na Antiguidade, entretanto, é na Idade Média que


despontou com grande importância e o aparecimento de novos valores. Santo Agostinho foi
uma personagem importante do cristianismo, no apogeu do período da Patrística, fase em que
se destacou a filosofia dos padres, termo que designa os pensadores cristãos (CRETELLA
JÚNIOR, 1999).
Natural da região da Argélia, levava uma vida pecaminosa até que se converteu e
escreveu diversas obras sob forte influência grega. Definia “[...] justiça como a tendência da
alma de dar a cada um o que é seu” (CRETELLA JÚNIOR, 1999, p. 120).

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


171

Ele também discutia sobre o Estado, o poder soberano e as divindades. Ressaltava


ainda que justiça acaba sendo equidade, isso requer igualdade (aequitas, aequalitas), porém,
por dar a cada um o que é seu, como definido, deve haver certa distinção das coisas
(CRETELLA JÚNIOR, 1999, p. 120).
Segundo Cretella Júnior (1999), no período da Escolástica, porém, os pensadores
tinham preocupação com o fundamento racional dos dogmas e sistemas universais que
poderiam coexistir com a doutrina católica.
Tomismo é o conjunto de doutrinas expostas por Santo Tomás de Aquino, tanto na
época medieval como na moderna; há também o neotomismo que é a adaptação do tomismo.
Para aqueles que seguem a ideia aristotélica-tomista, o bem comum está inserido na justiça e
o direito o tem por finalidade (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Na Idade Média havia dois poderes, o temporal e o espiritual, representados
respectivamente pelo Imperador e pelo Papa, sendo o poder espiritual superior ao do
Imperador. Para Santo Tomás, a ordem deveria ser mantida e, na dúvida de qual lei cumprir,
prevaleceria a terrena, porém, não poderia se chocar com a lei divina (CRETELLA JÚNIOR,
1999).
Outra figura importante da Idade Média foi Dante Alighieri, que trouxe a ideia de
equilíbrio, justiça e bilateralidade, definia direito como “jus est realis ac personalis hominis
proportio, quae servata societatem servate, corrupta corrumpti” (NADER, 2010, p. 78);
direito, então, pode ser traduzido como “[...] proporção real e pessoal de homem para homem,
a qual, conservada, conserva a sociedade, corrompida, corrompe-se” (CRETELLA JÚNIOR,
1999, p. 129).
O Papa Leão XIII, na Encíclica Rerum Novarum, se atentava ao que hoje chama-se
justiça social, que busca proteger pobres e desamparados, e mostrava que essa é uma
preocupação antiga. Além da proteção, a justiça social visa a uma distribuição por igual das
riquezas (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Houve ainda dois pensadores que não pertencem a Igreja Católica: Lutero, que
pensava o direito como feito para os maus e que os bons não precisariam; e Calvino, para
quem o direito natural foi ensinado por Deus e o direito positivo existia por causa da maldade
humana (CRETELLA JÚNIOR, 1999).

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


172

6 DIREITO E JUSTIÇA NO RENASCIMENTO

A descoberta da imprensa teve grande importância para o Renascimento, esse


período é marcado pela crítica e pelo contraditório. É um momento de rebeldia, diferente da
Idade Média que se caracteriza pela submissão. Nessa fase da história há o movimento
humanístico, que se preocupa fundamentalmente com o homem (CRETELLA JÚNIOR,
1999).
Um dos maiores nomes dessa época foi Maquiavel, o primeiro a pensar sobre os
problemas de que trata a Ciência Política. Ele buscava na história romana respostas para
algumas de suas indagações (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Surgiu, na consolidação da monarquia absolutista francesa, Jean Bodin, outro
pioneiro na Ciência Política. Suas obras eram voltadas para a soberania que, segundo Bodin, é
“[...] o direito de fazer leis” (CRETELLA JÚNIOR, 1999, p. 133), possuindo as seguintes
modalidades: monarquia, aristocracia e democracia. Deu ênfase também, ao estudo do
patrimônio público.
As ideias de Hugo Grócio eram ligadas intrinsecamente ao direito natural, viveu num
cenário de guerras (CRETELLA JÚNIOR, 1999). Segundo ele, para sanar a situação de
guerra era preciso se debruçar sobre a natureza racional e social dos homens, desvinculando-
se da religião. Chamava de justiça expletiva a mesma justiça comutativa de Aristóteles e a
justiça distributiva, chamava de justiça atributiva (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Nader (2010, p. 78) afirma que, para Hugo Grócio, “o direito é o conjunto de normas
ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis”. Em sua definição não se encontra
valores referentes à justiça, vê-se o cunho racionalista de que se reveste esse juriscosulto.
Christiano Tomásio, por sua vez, tentou diferenciar direito e moral, mencionando
que o direito é a lex permissiva e a moral a lex praeceptiva. Para ele eram objetos da moral os
atos internos e objetos do direito os atos externos. O direito é definido “[...] como a faculdade
de cumprir o próprio dever [...]” (CRETELLA JÚNIOR, 1999, p. 136).
Com João Batista Vico houve a pesquisa do que foi o direito e não somente do que é
o direito. Esse historiador dividia a história em três idades: divina, heróica e humana, cujas
formas políticas respectivas são: teocracia, aristocracia e democracia. Conforme Cretella
Júnior (1999, p. 137), Vico não encontrava diferença entre jusnaturalismo e juspositivismo,
pois ambos estão inseridos na mesma realidade.

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


173

Vico analisou a história e notou que o direito existiu em todos os tempos e lugares,
começou com os costumes, posteriormente é que se concretizou como direito e a justiça é que
o fez evoluir (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Para Christian Wolf, o homem precisa do homem, que devem se ajudar para que se
aperfeiçoem; os homens são todos iguais, portanto, deveriam ter direitos iguais. Daí vê-se um
esboço do princípio de igualdade entre os homens, conforme Cretella Júnior (1999).
Francisco de Suárez, professor de Salamanca e Coimbra, dizia sobre a justiça que
“[...] lex injusta non est lex” (CRETELLA JÚNIOR, 1999, p. 137), isto quer dizer que lei
injusta não é lei. Observa-se que a justiça é importantíssima para o direito, com essa
afirmação de Suárez.
Para o considerado precursor do direito internacional, Francisco de Vitória, o divino
e o natural deveriam estar aliados a lei (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Segundo Vitória, o direito natural é a base do direito internacional e não é a fé que
orienta a sociedade. Seria esse direito que zela as relações dos Estados. Com esta afirmação
ele conclui que quando há violação dos direitos humanos um Estado pode intervir, restituindo
ao homem seus direitos.
O contratualismo é um movimento em que participam certos nomes abaixo, que
consideram o estado natural do homem motivo para se fazer um contrato social, para que os
seres humanos possam viver em sociedade (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Tomas Hobbes deixou obras de grande importância para a filosofia. Para ele o
homem é o lobo do homem. Dissertava em sua obra “Leviatã”, que o homem abre mão de sua
liberdade, o que dá origem ao Estado social, para ter mais segurança, pois em estado natural o
homem estaria em constante guerra com os outros homens; essa é a fonte de direitos e
deveres, justiça e moralidade, conforme Cretella Júnior (1999.
A mentalidade de Hobbes é que o homem é um ser antissocial, que está em constante
guerra. Por conveniência, busca a paz, evitando as guerras que podem tirar suas vidas, então
há formação do Estado, que dá origem ao direito positivo.
Sobre a justiça, Hobbes mantinha as mesmas diferenciações de Aristóteles.
Conceituava direito natural como “[...] liberdade que cada homem tem de usar livremente o
próprio poder para a conservação da vida e, portanto, para fazer tudo aquilo que o juízo e
razão considerem como os meios mais idôneos para a consecução desse fim” (CRETELLA
JÚNIOR, 1999, p. 139). Porém, considerava igualdade não no que se dava e no que se
recebia, mas sim o justo era o valor em que estava disposto a oferecer.

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


174

Benedito Espinosa deixou contribuições valorosas para o direito. Fundou a doutrina


Panteísta e baseava-se em Hobbes, mencionando que na natureza o direito existente é a força,
daí a formação do Estado. Todavia, diferenciava do doutrinador Hobbes, ao pensar sobre
direito natural que “[...] é dotado de forte dose do fator racional, de força espiritual, porque o
homem, como tal, é iluminado pela razão, faculdade humana inata” (CRETELLA JÚNIOR,
1999, p. 142).
Já Pufendorf, diferentemente de Hobbes e Espinosa, afirmava que o homem é social
por natureza. Para ele o Estado teria a finalidade de manter a paz e segurança. Outro que não
concordava com o absolutismo do Estado sustentado por Hobbes foi John Locke
(CRETELLA JÚNIOR, 1999).
De acordo com Cretella Júnior (1999), a lei para Carlos Montesquieu significava
que, em razão da natureza das coisas, estas são necessárias. Ele tratou da divisão dos três
poderes, distinguiu as formas de governo em república, monarquia e despotismo, e ressaltou
que o poder deveria deter o poder, para não haver abusos, ou seja, o próprio Estado detendo
uma parcela do poder, pois não haveria cidadão com força o suficiente para isso.
Montesquieu tinha uma visão inicialmente semelhante com a de Vico, concordava
que o direito existe em todas as épocas e lugares, mas divergiam ao apontar que haveria
variações por causa dos fatores externos, dadas as características de cada país. Então, para ele,
o direito natural não tem as características que lhes são dadas geralmente, como
imutabilidade, generalidade e abstratividade (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Jean Jacques Rousseau, filósofo, defendia a ideia de que as artes e as ciências
acabam por levar a escravidão, sendo até inimigos da moral em vez de trazer benefícios.
Diferentemente de Hobbes, segundo Rousseau o homem é bom por natureza e esse estado
natural de bondade é destruído com a instituição da propriedade, que ao surgir também gera a
desigualdade. A solução para esse caso de desproporcionalidade seria deixar o povo guiar o
Estado, tomando as decisões em prol do bem comum (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Em sua obra “O Contrato Social”, os direitos naturais são cedidos ao Estado, assim
os homens recebem os direitos civis. Para Rousseau o indivíduo ainda permaneceria livre e
igual perante os outros. Desta forma, a lei seria a manifestação da vontade dos cidadãos. A
declaração francesa de 1789 foi influenciada por essa obra (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Kant é precursor do Idealismo em que entendia que o ser constrói uma ideia das
coisas, ou seja, não possui esse conhecimento dentro de si, é com o mundo exterior que se
conhece as coisas. Segundo ele não havia definição de direito, os juristas a procuravam, mas
era e continua sendo uma preocupação filosófica, em que ainda não se chegou a conclusão

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


175

mais adequada, não passa mais do que tentativas de conceituação (CRETELLA JÚNIOR,
1999).
Segundo Imanuel Kant, “[...] o direito é o conjunto das condições, segundo as quais o
arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos demais, de acordo com uma lei
universal de liberdade” (CRETELLA JÚNIOR, 1999, p. 156).
A liberdade de que Kant trata tem certa limitação. Ele dizia que a legislação
positivada tem na sua essência princípios, salientava que o direito natural é universal e que o
direito positivo dependia de cada cultura, pois haveria um direito para um determinado povo,
em uma determinada época. Kant ainda se atentava à questão da separação dos três poderes;
segundo ele, quando não há separação dos poderes trata-se de uma constituição despótica
(CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Para Hegel (CRETELLA JÚNIOR, 1999) tudo que existe está ligado à razão. No que
tange ao ordenamento jurídico, não há nada superior ao Estado.
Historicismo é um movimento cultural que considera o direito como fato natural, que
nasce sem intervenções; dentre os pensadores desse movimento estão Hugo, Savigny e Puchta
(CRETELLA JÚNIOR, 1999).

7 DIREITO E JUSTIÇA NA MODERNIDADE

O mundo moderno, segundo Cretella Júnior (1999), recebeu imensa contribuição do


Renascimento quanto à valorização do homem e as novas características atribuídas ao direito
natural, como racionalismo, laicismo.
Del Vecchio, famoso no campo do direito, conceituava o direito como “[...] a
coordenação objetiva das ações possíveis entre vários sujeitos, de acordo com um princípio
ético que as determina, retirando-lhes todo impedimento” (CRETELLA JÚNIOR, 1999, p.
192). Segundo ele, as valorações jurídicas têm carga objetiva e as valorações morais têm
carga subjetiva, não se esquecendo da unilateralidade da moral e bilateralidade do direito.
Rudolf Stammler é um filosofo alemão que dizia que o direito quando se afasta do
ideal de justiça deixa de ser direito, isto é, sem ideal de justiça não se pode definir o direito.
Ele definia o direito como “[...] condição lógica da ciência social” (CRETELLA JÚNIOR,
1999, p. 168).
Para Rudolf Stammler, o justo não está ligado à ideia abstrata de justiça, e sim a
história e a sociedade. Justiça para ele:

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


176

É aquela idéia pura, ou a priori, que nos diz que é que torna possível uma
comunidade perfeita dos homens, a qual aquela em que cada homem é considerado
como um fim em si mesmo, de modo que nenhum homem pode ser meio ou
instrumento de qualquer outro homem. (GALVEZ, 1996, p. 11).

O direito natural, para Miguel Reale “[...] é a condição transcendental, lógica e


axiológica da experiência histórica possível” (REALE, 1998, p. 296).
O jurista alemão Rudolf Von Ihering definia direito como “[...] soma das condições
de existência social, no seu amplo sentido, assegurada pelo Estado através da coação”
(NADER, 2010, p. 78). Esse jurisconsulto faz referência a vida em sociedade, nota-se forte
presença do papel estatal de assegurar essa vida em sociedade, fazendo isto por meio da
coação.
Gustav Radbruch, filósofo alemão, diz que para ter o relativismo jurídico e evitar
nova barbárie, como a cometida pelos alemães, é necessário analisar os princípios que
derivam do direito natural, sendo inválidas as leis contra a justiça. Portanto, recorre-se ao
direito natural para que o positivismo não dê validade a lei que seja contra a justiça
(CRETELLA JÚNIOR, 1999).
No decorrer da história nota-se que o direito passou por algumas situações ou
condições. O que se encontra hoje é o direito positivo, o Estado edita as leis e as impõe,
porém, pode ser declarado inconstitucional em certos casos.

8 DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO

A dificuldade de se encontrar uma definição precisa do direito consiste nos vários


sentidos da palavra, ou seja, na língua portuguesa há várias noções que tentam expressar o
que é direito.
Cretella Júnior (1999, p. 185) expõe uma designação do vocábulo direito como
“conjunto de regras jurídicas obrigatórias, em vigor num país, numa dada época”. Desse
modo tem-se a norma agendi, o direito positivo.
Trata-se, portanto, do direito objetivo, como por exemplo, direito civil ou
constitucional. Tem por características: generalidade, bilateralidade (uma das acepções é a
relação de dois ou mais indivíduos), imperatividade (pode-se exigir o cumprimento de uma
obrigação) e coercibilidade (possibilidade de coagir alguém) (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Já o “direito subjetivo é a faculdade ou possibilidade que tem uma pessoa de fazer
prevalecer em juízo a sua vontade, consubstanciada num interessa” (CRETELLA JÚNIOR,

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


177

1999, p. 187-188). É necessário o direito objetivo para poder exercer direito subjetivo, isto é,
poder levar em juízo sua pretensão quando tem um interesse violado.
O direito subjetivo trata de uma possibilidade garantida a um indivíduo, de poder
agir a qual os romanos denominavam Jus Facultas Agendi, há essa possibilidade quando se
conhece o direito objetivo (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Ainda no direito subjetivo, tem-se a figura do sujeito ativo, possuidor do direito ou
que pensa possuir o direito, e o sujeito passivo, aquele que deve a obrigação ou que
supostamente deve. Pode ser público quando na relação está o Estado ou privado quando
participam particulares, com ausência do Estado (CRETELLA JÚNIOR, 1999).

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se, nesse artigo, apresentar uma discussão sobre as concepções de direito e


justiça nos diferentes períodos da história. Dessa forma, conforme as ideias apresentadas, é
possível concluir que são diversificadas as concepções de direito e justiça, o que decorre da
evolução histórica. Para alguns, o direito é um instituto criado pelos homens para garantir a
ordem, que tem como finalidade a realização da justiça.
Diante dos dados expostos evidencia-se que o direito e a justiça devem ser vistos
como um conjunto de conceitos que se complementam, apesar de suas vertentes distintas.
Como defendido por alguns pensadores, juristas e doutrinadores, não há como se falar em
direito dissociado de justiça, pois ambos estão inseridos na mesma realidade.
A justiça é preocupação recorrente do direito que busca incorporá-la nas leis,
tornando o ordenamento jurídico legítimo, sua fonte está no direito natural, em seus
princípios. Portanto, quando o direito se afasta dos princípios produz leis injustas.
A posição que o conceituador ocupa influencia diretamente na diversificação das
definições que formulam. Nota-se que alguns consideram por base, os números, também
falam da igualdade e proporcionalidade, outros destacam a racionalidade e ainda a natureza
humana, pode-se atribuir, também, o poder divino da Antiguidade como influência.
Portanto, diante de tantas definições, ao adotar alguma como certa, há possibilidade
de haver erro, pois, conforme há evolução no tempo, o direito e a justiça continuam existindo,
porém com concepções distintas.

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015


178

TITLE: CONCEPTIONS OF LAW AND JUSTICE IN DIFFERENT PERIODS OF


HYSTORY

ABSTRACT

The notions of right and justice change over time and also in accordance with reality and
experience of each thinker, remains difficult to conceptualize right today. In ancient times the
right was regarded as divine power, which gave its possessor power over other men, with
constant questions untied this divine idea of sovereign power. Subsequently were based on
mathematical ideas, equality and proportionality of the Greeks and Romans to get the
definition right, passing also by ideas founded on Christianity of goodness and righteousness,
during which there was division in spiritual and timeless power, its greatest figures are St.
Augustine and Thomas Aquinas and Dante Alighieri. There rationality Renaissance
influencing the definition of law and justice and stand out some thinkers who argue about
human nature, and significance to the present day, Hobbes and John Locke. Interestingly the
analysis of natural law and positive. Natural law is that inherent in human beings, have the
notion that justice can not be separated from law and positive law is law which is based on
natural law, are laws even without justice itself, just being positivadas, this notion advocated
by Hans Kelsen.

Keywords: Conceptions. Right. Justice.

REFERÊNCIAS

CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Filosofia do Direito. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999.

GALVES, Carlos Nicolau. Manual de Filosofia do Direito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1996.

NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 32. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2010.

REALE, Miguel. Fundamentos do Direito. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
1998.

Recebido em: 08 de outubro de 2015


Aceito em: 27 de novembro de 2015

Organizações e Sociedade, Iturama (MG), v. 4, n. 2, p. 165-178, jul./dez. 2015

Вам также может понравиться