Вы находитесь на странице: 1из 7

Entrevista

A Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial publica, com muito prazer, esta
entrevista com o Prof. Omar Gabriel da Silva Filho. A opinião sempre segura do Prof. e sua constante
contribuição para o desenvolvimento da ortodontia brasileira, abrilhantam essa edição. Dando aval
para as decisões de nosso Conselho Editorial e colaborando com a publicação de artigos, o professor
Omar é um dos nossos grandes colaboradores.
Para o Prof. Leopoldino Capelozza, colega do Prof. Omar, em Bauru, é imprescindível ressaltar
que “O Professor Omar Gabriel da Silva Filho, entrevistado neste número da Revista Dental Press, é
um ortodontista ímpar. Envolvido em muitas atividades, senhor do tempo, multiplica-o e as executa
com brilhantismo. Membro de nossa equipe de clínica, pesquisa e ensino no HRAC (Hospital de
Reabilitação de Anomalias Crânio-Faciais), tem contribuído de maneira decisiva para seu sucesso.
Ainda muito jovem, é um pesquisador de renome e com artigos que vão de básicas lições a consistentes
descrições à pesquisa. É provavelmente o autor da Ortodontia brasileira que mais trabalhos publicou
no exterior. Conhecedor da embriologia da face em normais e mal-formados, Mestre maior da
ortodontia preventiva e interceptora, didático ao extremo, oferece nesta entrevista mais uma
oportunidade para aprendermos com suas lições”.

Os infantes século XXI e terceiro O padrão facial de Classe III em


milênio estão aí, esperando por nós. paciente jovem (12 a 14 anos), so-
Vamos viver uma ínfima parte deles. bretudo do sexo masculino, quando o
Mas que seja uma vida gostosa, ple- crescimento facial estende-se por mais
na de prazer e com muitos sorrisos tempo, não está definido, principal-
reconstruídos. Relembrando o argen- mente se o diagnóstico diferencial en-
tino Borges: “Não há um homem que volver prognatismo mandibular, com
não seja um descobridor. Começa des- ou sem laterognatismo. Portanto, na
cobrindo o amargo, o salgado, o liso, ausência de irregularidades dentárias
o áspero, as sete cores do arco-íris e que exijam intervenção imediata, o
as vinte e tantas letras do alfabeto. mais coerente seria aguardar a matu-
Passa pelos rostos, pelos mapas, pe- ridade esquelética, quando então a
los animais e pelos astros. Conclui pela opção terapêutica seria planejada com
dúvida ou pela fé e pela certeza quase mais segurança. E a abordagem gira-
total de sua própria ignorância”. ria em torno de duas possibilidades, a
Omar Gabriel da Silva Filho compensação dentária ou a descom-
1) Quais os preceitos didáticos pensação visando a cirurgia ortogná-
mais importantes em sua aula? linos, portadores de padrão tica. Na dependência, naturalmente,
José Valladares Neto esquelético de Classe III, no es- do grau de comprometimento esque-
Uma aula tem que ser objetiva, sim- tágio da dentadura permanente lético e no impacto psicossocial con-
ples e sua elaboração deve obedecer jovem (12 a 14 anos): ortopé- seqüente, e na possibilidade de man-
um raciocínio linear capaz de condu- dico, camuflado ou cirúrgico? José ter ou mesmo aumentar a compensa-
zir a platéia para o entendimento do Valladares Neto ção dentária existente.
tema em questão. Quando monto uma A decisão terapêutica para a cor-
aula, preocupo-me em expor aquilo reção da má oclusão de Classe III de- 3) Quando indicar os distaliza-
que eu gostaria de ouvir se estivesse pende, primeiro, da face. A face é so- dores fixos para a correção da
do outro lado. berana. Mas depende também do grau má oclusão de Classe II? José
de compensação dentária, ou seja, da Valladares Neto
2) Como conduzir o tratamento liberdade que o ortodontista tem para Uma coisa é certa. Não existe apa-
da má oclusão de Classe III sua- aumentar a compensação natural sem relho mecanicamente mais eficiente
ve a moderada (ou Classe I com- colocar em risco a saúde e longevida- que o aparelho extrabucal (AEB) para
pensada) em indivíduos mascu- de periodontal. distalizar molares, simétrica ou

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 1


assimetricamente. A verdade é que pédico”. Os estudos recentes com dominar no tratamento das discre-
nenhum aparelho intrabucal consegue imagens da ATM (radiografia, pâncias de Classe II.
controlar tão bem o centro de rotação tomografia e ressonância eletromag- Tantos protocolos de tratamento
durante a distalização do molar, por nética) evidenciam a mudança ope- para uma má oclusão poderiam sig-
um princípio lógico da física onde a rada na ATM como conseqüência do nificar fracasso terapêutico. De certa
reação da força aplicada e a linha de avanço contínuo da mandíbula, com- forma era o que acontecia. Os pacien-
ação da força estão fora da boca. As patível com a intensidade da agres- tes com má oclusão de Classe II aca-
características dos distalizadores in- são imposta. Essas imagens vêm de- bavam submetendo-se a um tempo
trabucais, as quais norteiam a sua monstrar a legitimidade do aparelho muito prolongado de tratamento, o que
indicação, residem em serem fixos, HERBST como modelador ortopédico. dificultava a finalização. Mesmo o pro-
intrabucais e induzirem efeitos exclu- No entanto, nenhum pesquisador tocolo de McNamara não suscitava
sivamente ortodônticos. Prefiro os dis- ousa discordar dos efeitos dento-al- efeitos encorajadores. O que aconte-
talizadores intrabucais para as dista- veolares provocados pelo aparelho cia é que na época da instalação da
lizações preferencialmente unilaterais HERBST, independentemente da an- ortopedia funcional, era de praxe ter
e de pequena magnitude, em situações coragem. O que quero dizer é que as que expandir novamente a maxila por
onde o AEB pode comprometer nega- dúvidas acadêmicas surgidas com a causa da recidiva. Baseado nas expe-
tivamente a convexidade facial e diante ortopedia funcional dos maxilares, no riências via de regra mal sucedidas,
da negativa do paciente em fazer uso tocante à possibilidade de interferên- foi esboçado um protocolo de trata-
do AEB. cia extra-genética sobre a magnitude mento postergando a instalação da
de crescimento mandibular, permane- ortopedia sagital para a época da ado-
4) O avanço ortopédico da man- cem acesas. O que interessa a nós, lescência (curva ascendente da ado-
díbula com o aparelho de Herbst clínicos, de fato, é o impacto oclusal e lescência). A expansão transversal da
tem sido um recurso indicado facial que os aparelhos ditos ortopédi- maxila passou a ser indicada somen-
para o tratamento da má oclu- cos promovem. te quando a atresia interferia na rela-
são de Classe II, com deficiên- ção intra-arco.
cia mandibular, durante a fase 5) Após 15 anos à frente do Hoje, procuramos obedecer dois
ativa de crescimento e, mais re- Curso de Aperfeiçoamento em protocolos de tratamento para a má
centemente proposto por PAN- Ortodontia Preventiva e Inter- oclusão Classe II: 1) tratamento na
CHERZ, até em adultos jovens. ceptiva da PROFIS (Centrinho - adolescência com ortopedia funcional
Qual o seu efeito em humanos: USP/Bauru), qual é a sua opi- dos maxilares, optando pelo aparelho
induzir mudanças meramente nião sobre os resultados obtidos Bionator, e 2) antecipação da instala-
posturais, associadas a movi- com o tratamento ortodôntico/ ção da ortopedia sagital, com o apa-
mentos dentários compensatóri- ortopédico inter-ceptivo para as relho fixo tipo HERBST, levando-se em
os ou conseguir, de forma efeti- más oclusões de Classe II, divi- consideração apenas a idade dentária
va, alongar o comprimento man- são 1? Flávio Mauro Ferrari Júnior - a partir do início da dentadura mis-
dibular? José Valladares Neto Nestes 15 anos de existência, ex- ta. O protocolo de tratamento precoce
Para todos os efeitos, o aparelho perimentamos alguns protocolos de é instituído quando a relação custo-
HERBST tem sido usado com a pre- tratamento para a má oclusão de Clas- benefício se justifica.
tensão explícita de corrigir a deficiên- se II, sempre na busca de finalizações
cia mandibular. E não deixa de ser perfeitas, com o menor grau de com- 6) Qual a sua opinião sobre os
uma proposta atraente pelos impe- pensação dentária possível. O proto- resultados com anquilose inten-
rativos de cooperação e uso colo inicial, com o uso exclusivo do cional de caninos decíduos como
ininterrupto. Explica-se assim a AEB a partir do início da dentadura coadjuvante na tração reversa da
ressuscitação deste aparelho ortopé- mista, logo cedeu lugar ao protocolo maxila, no tratamento das más
dico fixo como uma homenagem à com ortopedia funcional dos maxila- oclusões de Classe III? Flávio
ortopedia européia, de passaporte ale- res, seguindo a filosofia de Balters, Mauro Ferrari Júnior
mão, no caso aquela praticada nos também a partir do início da dentadu- A ancoragem biológica, proporci-
primeiros anos do século passado, ra mista. A expansão rápida da ma- onada pela anquilose intencional dos
antes mesmo da sedimentação da xila, em estágio precoce da dentadura caninos decíduos, com o propósito de
ortopedia funcional dos maxilares e mista, seguido pelo uso da ortopedia intensificar a magnitude do desloca-
da sagração de nomes como Bimler, funcional dos maxilares no estágio fi- mento anterior da maxila durante o
Fränkel, Schwarz, além de tantos ou- nal da dentadura mista, em confor- procedimento terapêutico de tração
tros. Torna-se mesmo difícil identifi- midade com o protocolo de tratamen- reversa da maxila, não deixa de ser
car a paternidade do “conceito orto- to sugerido por McNamara, passou a um procedimento de vanguarda que

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 2


vem sendo utilizado há pouco mais de cionalmente, que geram ciência, bus- principalmente no tratamento de
2 anos, no curso de Ortodontia Pre- cam o aperfeiçoamento constante do crianças, eu percebi que os dois as-
ventiva e Interceptiva da PROFIS. Do ofício e engrandecem a profissão. pectos são essenciais no sucesso do
ponto de vista clínico, os resultados Espelhados nestes centros de referên- tratamento da má oclusão de Classe
têm sido estimulantes. Mas, do pon- cia, muitos cursos bem intencionados II: o como e o quando tratar. A pri-
to de vista científico, é cedo para res- formam profissionais capacitados em meira questão diz respeito à localiza-
ponder tal pergunta. Além do mais, não todo território nacional. Mas num país ção do erro morfológico nos três sen-
temos casuística suficiente para uma tão vasto e com tantos cursos de or- tidos do espaço, se na mandíbula, na
avaliação dos resultados, uma vez que todontia, é muito difícil aquilatar o ní- maxila ou nos dentes. A segunda ques-
vários fatores limitam sua indicação: vel geral do ensino. Esta, aliás, deve- tão, mais controversa, consiste em
1) a incidência de Classe III já é reduzi- ria ser uma preocupação das entida- instituir o tratamento na época mais
da, próxima de 3%, 2) a presença de des de classe. propícia. Sempre que possível adio o
retrognatismo maxilar, e 3) estágio de tratamento para o final da dentadura
dentadura decídua ou início da denta- 9) Ao longo de sua experiência mista ou para a dentadura permanen-
dura mista (preferencialmente, primei- clínica e científica a sua visão te, na dependência da manifestação
ro período transitório), quando as raí- para o tratamento da má oclu- do surto de crescimento da adolescên-
zes dos caninos decíduos ainda apa- são de Classe II modificou mui- cia. Acho producente coincidir a orto-
rentam integridade. Pelo menos até o to? Na prática, o que mudou? pedia sagital com a curva ascendente
momento não tivemos nenhuma Terumi Okada da adolescência. Em regra, não tenho
intercorrência que justificasse o aborto Sem dúvida nenhuma, minha vi- pressa de iniciar o tratamento da Clas-
de tal investimento terapêutico. são sobre o tratamento da má oclu- se II, já que minha experiência com
são de Classe II mudou. E mudou tan- seu tratamento precoce não é positi-
7) Qual a sua opinião sobre os to no tocante à forma de tratar quan- va. Claro que alguns fatores concor-
artigos científicos publicados no to à época de intervenção. rem para antecipar a terapia, como
Brasil? Flávio Mauro Ferrari Júnior No início da minha carreira clínica por exemplo a gravidade da discrepân-
Posso dizer, sem receio, que a pro- eu tratava todas as más oclusões Clas- cia esquelética, a presença de apinha-
dução científica brasileira cresceu em se II com aparelho extrabucal, desde mento, em especial no arco dentário
número e qualidade nestas duas últi- o início da dentadura mista, a despei- superior, o impacto psicossocial da má
mas décadas. Realidade esta que re- to da quase onipresença da deficiên- oclusão e a expectativa dos pais.
sultou de uma soma de fatores. O nú- cia mandibular nas más-oclusões de Hoje, o uso exclusivo do AEB para
mero de cursos de ortodontia aumen- classe II. Não havia muita preocupa- a correção da má oclusão de Classe II
tou em todos os níveis de formação: ção em elaborar um planejamento ló- no início da dentadura mista é algo
especialização, mestrado, doutorado, gico com o diagnóstico estrutural da impensável na ortodontia contempo-
e mesmo as oportunidades de pós- má oclusão. Não se respeitava o en- rânea. Neste estágio do desenvolvi-
doutorado no exterior. Conseqüente- volvimento transversal da maxila, e mento oclusal procuro tirar proveito
mente, o número de profissionais, nos não se questionava a época de tratar. do efeito ortodôntico do AEB.
diferentes níveis de formação, também De certa forma essa conduta refletia a
aumentou, sendo acompanhado pelo corrente mais ortodoxa da ortodontia 10) Acompanhar o desenvolvi-
número de indústrias nacionais de americana, quando a “ortopedia fa- mento da oclusão parece ser
materiais ortodônticos. E, finalmente, cial” para discrepância sagital de Clas- uma de suas linhas de pesquisa
surgiram novas revistas científicas, se II restringia-se ao AEB, com reve- predileta. Diante de apinha-
uma delas com qualidade geral com- rência especial a Klohen. Torna-se mentos ântero-inferiores no pri-
patível ou superior aos melhores pe- oportuno comentar que a ortodontia meiro período transitório da
riódicos internacionais. Enfim, o Bra- americana assimilou o conceito orto- dentadura mista, mais especi-
sil está capacitado a oferecer impor- pédico funcional, dominante na ficamente na fase de irrupção
tantes contribuições para a ortodon- europa, para o tratamento da deficiên- dos incisivos laterais, muitos
tia mundial. Assim caminha a orto- cia mandibular. E tal era a simbiose autores recomendam a extra-
dontia brasileira. entre os dois conceitos, ortodôntico e ção dos caninos decíduos pre-
ortopédico, que o famoso periódico da cocemente para o alinhamento
8) Qual a sua opinião sobre o AAO, por pressão de Graber, então edi- dos incisivos permanentes. Qual
ensino da ortodontia no Brasil? tor, em 1986, passou a chamar-se seria a sua conduta diante des-
Flávio Mauro Ferrari Júnior “American Journal of Orthodontics ses casos? Terumi Okada
No Brasil existem pólos científicos and Dentofacial Orthopedics”. Na realidade, o apinhamento na
de referência, reconhecidos interna- Com a experiência acumulada, dentadura mista passou a me impres-

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 3


sionar não só pela sua freqüência, cer- morfologia dos arcos dentários. Quan- na minha formação humanista. Sua
ca de 50% das crianças no estágio de do o arco dentário pede, iniciamos o filosofia de atendimento coloca no cen-
dentadura mista, mas principalmente tratamento do apinhamento com uma tro das preocupações o ser humano,
pela diversidade de tratamentos im- conduta expansionista. Quando os sua dignidade, suas necessidades e seu
postos, com pontos de vista os mais arcos dentários apresentam uma boa bem-estar. Essa postura redefiniu meus
heterogêneos possíveis. De início, as- configuração, isentos, portanto, de códigos éticos perante a vida.
sustou-me a ausência de critérios constricção transversal, partimos para O Centrinho, síntese de experiên-
morfológicos que pudessem determi- a antítese da conduta expansionista, cia enriquecedora e singular, transfor-
nar a melhor forma de tratamento pre- a sedimentada e secular conduta mou aquele acanhado odontólogo. E
coce e isso forçou-me a encontrá-los. extracionista (um programa de extra- por tudo isso, lhe sou muito grato.
A intenção era ser objetivo e tratar ções seriadas).
corretamente. Resumindo, frente ao apinhamen- 12 ) Acompanhando, ao longo
A linha de pesquisa do apinhamen- to na dentadura mista, podemos ado- desses anos, sua trajetória cien-
to na dentadura mista iniciou com a tar três protocolos terapêuticos distin- tífica pode-se constatar que você
constatação da sua alta incidência nos tos: 1) acompanhar, sem tratamen- é um dos ortodontistas com pro-
escolares de primeiro grau de Bauru to; 2) expandir os arcos dentários, e dução recorde de artigos em re-
(52%), e prosseguiu com o estudo do 3) partir para um programa de extra- vistas nacionais e internacionais.
comportamento espontâneo do api- ções seriadas. Gostaria que compartilhasse
nhamento ao longo da dentadura mis- com todos os leitores o que o leva
ta, desde o apinhamento primário (diag- 11) A sua trajetória ortodôntica a escrever com tanta satisfação
nosticado no primeiro período transi- iniciou-se atendendo os pacien- e conhecimento. Terumi Okada
tório da dentadura mista). O acompa- tes com fissura lábio-palatal. De Tive a oportunidade de acompa-
nhamento longitudinal é imperativo e que maneira isso contribuiu para nhar o final da primeira década de vida
redundou na publicação: “Apinhamen- abrir os horizontes das suas li- do Centrinho. O Centrinho emergiu
to primário temporário e definitivo, nhas de pesquisa e culminar com com vigor desenfreado e isso conti-
diagnóstico diferencial”. Esse artigo a experiência e a realidade de nuou em todas essas décadas de his-
proporcionou critérios clínicos, não hoje? Terumi Okada tória, é um processo em curso. Assi-
digo definitivos, mas bem definidos, Assim que concluí minha gradua- milei este vigor, acredito. Na realida-
para indicar o tratamento do apinha- ção, acanhado odontólogo, aportei no de, considero-me um genuíno repre-
mento considerado má oclusão. Centrinho - o Hospital mais bem or- sentante da civilização pós-Freudiana
Existe uma situação, a qual de- ganizado e mais conceituado da Amé- e encontrei no trabalho a forma de
nominamos de “apinhamento pri- rica Latina para o tratamento das de- redimir as minhas culpas.
mário temporário”, que não deman- formidades congênitas lábio-palatais,
da tratamento. Nessa situação, o e de lá não saí mais. 13) Qual a época que considera
apinhamento se dissolve com o tem- O Centrinho foi decisivo na minha ideal para o tratamento precoce
po devido às alterações formação ortodôntica. Aprendi a fazer da Classe II, sem apinhamento?
dimensionais espontâneas que ma- a expansão ortopédica da maxila den- Guilherme Janson
nifestam-se na dentadura mista e tro da filosofia (ancoragem dento- Eu costumo dizer nas minhas au-
culminam com o aumento do perí- muco-suportada) e protocolo (expan- las que quando lidamos com crianças,
metro dos arcos dentários. Essa são rápida) defendidos por Haas. em estágios que antecedem a maturi-
conceituação veio fundamentar o Aprendi a lidar com o rebordo alveolar dade oclusal, torna-se imperioso res-
provérbio clínico até então aplicado segmentado pelo defeito congênito. ponder duas questões antes de se ins-
empiricamente na nossa prática: O Centrinho foi decisivo na mi- talar uma mecanoterapia: da necessi-
“Com relação ao apinhamento pri- nha formação científica. Desde cedo dade e da oportunidade do tratamen-
mário, na dúvida não faça nada.” convivi com nomes que influencia- to. De nada adianta aplicar uma me-
Assim, só tratamos o apinhamento ram e continuam influenciando a ci- canoterapia lógica num momento ino-
considerado má oclusão, e atribuí- ência e a cultura deste país. Enxer- portuno. Resumindo, a responsabilida-
mos a ele a designação de guei neles, além do talento e a dispo- de do ortodontista quando ele tem a
“apinhamento primário definitivo”. sição para o trabalho, duas qualida- oportunidade de decidir o momento
Decidido o apinhamento a ser tra- des que transcendem as razões da exato da abordagem terapêutica é muito
tado, começa o dilema: que aborda- ciência: a solicitude e a solidarieda- maior. A resposta para esta pergunta
gem optar, uma conduta extracionista de. Essas qualidades me seduziram e constitui uma das chaves do sucesso
ou uma conduta expansionista? Isso me espelharam. no tratamento da Classe II. Em que
é determinado principalmente pela O Centrinho também foi decisivo momento do desenvolvimento

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 4


dentofacial seria possível obter o má- está banido da prática ortodôntica. Há 17) Como o Sr vê a polêmica do
ximo de efeito ortopédico, no menor um certo consenso de que toda movi- tratamento ortodôntico em uma
tempo possível, em detrimento do mí- mentação ortodôntica ou ortopédica ou duas fases e qual das condu-
nimo de compensação dentária? Hoje está fadada a algum grau de recidiva. tas lhe parece mais lógica? Luiz
tento postergar o tratamento da dis- Algumas vezes, justificando um Gonzaga Gandini Júnior
crepância sagital de Classe II para o retratamento. Esse raciocínio também Embora este assunto envolva am-
final da dentadura mista (segundo é válido para a consagrada expansão plo território de discussão, generica-
período transitório) ou dentadura per- rápida da maxila, independentemen- mente pode-se dizer que há um lugar
manente, deixando-me guiar pela ida- te da idade, mas com certeza em grau para o tratamento ortodôntico preco-
de óssea. preponderante quando executado na ce, ou em duas fases, tanto na insti-
idade adulta, dada a maior compen- tuição acadêmica como clínica. No iní-
14) Qual a possibilidade de su- sação dentária. Acabamos de enviar cio da lida com crianças, minha in-
cesso da expansão rápida da um trabalho para a “Revista Dental tuição dizia que qualquer má oclusão
maxila em adultos? Guilherme Press de Ortodontia e Ortopedia Fa- merecia uma mecanoterapia em ida-
Janson cial” acerca da recidiva a longo prazo de precoce. O cerne da justificativa era
Existem restrições esqueléticas no ganho transversal conseguido com simples e facilmente compreensível sob
que condicionam a probabilidade de a expansão rápida da maxila na ado- um ponto de vista imediatista: corrigir
sucesso da expansão rápida da ma- lescência. O trabalho salienta a ten- o desvio morfológico o mais rápido
xila. O sucesso da expansão ortopé- dência de recidiva nas dimensões possível. Entretanto, concordo que
dica depende principalmente da fle- transversais, contando com a coni- havia um entusiasmo desmedido e
xibilidade óssea, e isto guarda rela- vência da literatura pertinente. A reci- esta proposta generalizadora não se
ção inversa com a idade cronológi- diva transversal pode comprometer justifica na ótica da relação custo-be-
ca. Quanto mais idade, maior é a ri- tanto a relação intra-arco como a re- nefício a longo prazo. Hoje, avalian-
gidez estrutural do esqueleto e me- lação inter-arcos. do os erros e acertos das abordagens
nor é o efeito ortopédico induzido pelo em duas fases, defendo o tratamen-
procedimento de expansão rápida da 16) Como o Sr. decide, em um to precoce naquelas más oclusões
maxila. Mas, sem dúvida, é difícil caso de mordida cruzada poste- onde a mecanoterapia imprime um
precisar qual é a idade limite para tal rior, se tratará o mesmo utilizan- impacto corretivo imediato, acompa-
procedimento. É claro que, passada do um aparelho Quad Helix ou nhado de um grau de estabilidade
a adolescência, toda pretensa expan- uma expansão rápida da maxi- pós-tratamento razoável e naquelas
são ortopédica tem prognóstico som- la? Luiz Gonzaga Gandini Júnior situações onde o tratamento numa
brio até que se prove o contrário. Indico a correção da mordida cru- única fase (dentadura permanente
Como não temos dados de diagnós- zada posterior desde a dentadura de- madura) pode comprometer o prog-
tico prévio para identificar de ante- cídua, a partir dos 5 anos de idade. nóstico de correção. Em regra, o tra-
mão os casos de fracasso ortopédi- Como regra, 90% dessas expansões tamento precoce tem vantagens,
co, temos que tentar para responder são efetuadas mediante o procedimen- como mecânicas mais simples e me-
essa pergunta. É claro que esse “ten- to de expansão rápida da maxila, com nor iatrogenia estrutural sobre o
tar” exige bom senso. No dia-a-dia o aparelho expansor fixo tipo Haas. periodonto de sustentação.
acho coerente tentar uma expansão Na minha prática, hoje, corrijo siste-
ortopédica até o início da década dos maticamente a deficiência transversal 18) Até que idade, em média, o
20 anos de idade, levando em consi- do arco dentário superior com a ex- Sr recomenda a expansão rápi-
deração: 1º) condição periodontal, 2º) pansão ortopédica, mesmo nos está- da da maxila sem que seja ne-
quantidade de expansão necessária gios precoces do desenvolvimento da cessário o auxílio de alguma in-
para garantir uma oclusão razoável, oclusão. O critério de escolha da abor- tervenção cirúrgica para se al-
3º) sensibilidade e disposição do pa- dagem terapêutica, e que explica a in- cançar sucesso? Luiz Gonzaga
ciente para o desconforto inevitável. dicação expressiva da expansão rápi- Gandini Júnior
da, centra na inclinação vestibulolin- A resposta para esta questão en-
15) Qual a estabilidade deste gual dos dentes posteriores. A expan- contra-se numa das perguntas do Dr.
procedimento, em adultos? Gui- são lenta está indicada quando da in- Guilherme Janson.
lherme Janson clinação lingual dos dentes posterio-
A prática tem mostrado que não res. Quando isso ocorre, dou prefe- 19) Como se deve efetuar o
existe estabilidade permanente em rência para o arco em “W”, visto que diagnóstico ortodôntico: em Má-
ortodontia. Para a inquietude dos or- incomoda menos o paciente do que xima Intercuspidação Habitual
todontistas, o conceito de estabilidade os helicóides do Quad Helix. (MIH) ou em Relação Cên-

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 5


trica (RC)? Por que? Claudenir periodontal, para oferecer a oportuni- pensação ortodôntica, o aparelho
Rossato dade de controle absoluto da integri- Herbst desafia a musculatura mandi-
O diagnóstico sempre deve ser rea- dade radicular durante a movimenta- bular que responde com graus varia-
lizado em Relação Cêntrica (RC). A jus- ção dentária induzida. dos de recidiva, ameaçando subitamen-
tificativa encontra respaldo no fato da te a remodelação ortopédica lograda.
finalização em RC constituir uma das 22) Baseado em sua experiência Uma coisa é certa: na aplicação preco-
metas do tratamento ortodôntico, a de recente, quais os efeitos do apa- ce do Herbst, a estabilidade pós-trata-
devolver a máxima intercuspidação relho de Herbst na dentadura mis- mento está longe de ser fato consuma-
habitual (MIH) coincidindo com a RC. ta? São eles diferentes dos des- do, contrariando a explícita remodela-
critos para pacientes tratados em ção da ATM na imagem radiográfica.
20) Que objetivos devem ser al- fase de crescimento? Leopoldino A recidiva recorrente influenciou o sub-
mejados no tratamento ortodôn- Capelozza Filho seqüente protocolo de tratamento pre-
tico? Claudenir Rossato Inicialmente reticente, hoje consi- coce, o qual exige uso mínimo do apa-
O tratamento ortodôntico visa de- dero-me um entusiasta do aparelho relho fixo por 1 ano, constituindo a fase
volver ao paciente as particularidades Herbst para o tratamento da deficiên- ativa do tratamento, e contenção obri-
morfológicas que caracterizam uma cia mandibular quando em idade pre- gatória com o aparelho Bionator até o
oclusão normal. A OMS define a oclu- coce, ou seja, a partir da dentadura fim do surto de crescimento da adoles-
são normal como a relação entre os mista. Embora o protocolo para o tra- cência.
arcos dentários capaz de manter a in- tamento precoce da deficiência mandi- Resumindo, pela minha experiên-
tegridade física e mental do indivíduo. bular com o aparelho de Herbst tenha cia com os dois aparelhos, o efeito or-
Em termos mais objetivos, as metas sido instaurado sob influência direta do topédico do aparelho Herbst supera o
terapêuticas idealizadas pela ortodon- Dr. Wieslander, na Suíça, não tenho efeito dos aparelhos ortopédicos fun-
tia correspondem a: 1) oclusão cêntri- experiência no tratar a Classe II duran- cionais removíveis, quando em idade
ca, 2) excursões mandibulares obede- te o estágio da dentadura decídua. Com precoce. No entanto, a recidiva quase
cendo os princípios da escola o ressurgimento do aparelho Herbst, certa obriga a contenção do avanço
gnatológica, ou seja, desoclusão ante- nenhum ortodontista, com exceção de mandibular enquanto houver cresci-
rior na protrusiva e desoclusão lateral Pancherz, tem sido o centro de tanta mento remanescente ou, pelo menos,
pelo canino ou em grupo, mas sem atenção como o Dr. Wieslander, no seu até que se reinicie uma nova etapa te-
contato oclusal no lado de balanceio, caso específico por indicar o tratamen- rapêutica. Esta falibilidade suscita in-
3) sorriso agradável, 4) periodonto to da Classe II desde a dentadura dagações éticas sobre a época mais
saudável e 5) longevidade da oclusão. decídua (pelo menos os casos que ele oportuna de correção da Classe II, dei-
considera de gravidade acentuada) e xando-me propenso a postergar o iní-
21) Que assuntos, provavelmen- por ter acompanhamento a longo pra- cio do tratamento até a época da ado-
te, despertarão interesse da co- zo. lescência.
munidade ortodôntica no início O aparelho de Herbst possui a fama Os riscos para a ATM, por outro
desta nova década? Claudenir de ser o mais ortopédico dos aparelhos lado, não podem ser descartados a
Rossato com este intento (não pondo em dúvi- priori, principalmente quando o apare-
Não há como deter a roda do tem- da aqui, claro, a supremacia genômica) lho é instalado em fase fora de cresci-
po. Prova disto está no colossal desen- e pelo menos em idade pré-adolescen- mento, o que tem justificado os investi-
volvimento que a ortodontia experi- te tem levado a melhor, quando com- mentos em pesquisa por imagem. De
mentou neste século de especialidade, parado ao efeito intermitente produzi- qualquer forma, até hoje não se com-
principalmente nestas últimas décadas. do pelo aparelho Bionator, principal- provou um só caso de distúrbio articu-
A sofisticada tecnologia das ligas de Ní- mente por independer do rigor discipli- lar provocado pelo uso do Herbst. Cu-
quel e Titânio, o início do entendimento nar do paciente ao submeter a mandí- riosamente, respeitados especialistas
da reação do ligamento periodontal na bula a um avanço forçado contínuo. como Paulsen e Pancherz têm indica-
óptica da biologia molecular, represen- A compensação dento-alveolar, re- do o aparelho de Herbst em pacientes
tam alguns de tantos avanços biome- sultante da experiência com o Biona- adultos jovens, fora da fase de cresci-
cânicos. Mas, com certeza, muitos as- tor em idade precoce, reformulou mi- mento. Não tenho experiência com esta
suntos despertarão o interesse da classe nha atuação terapêutica, me fazendo empreitada.
científica tornando a ortodontia cada adotar o aparelho Herbst quando da
vez mais fascinante e menos enigmá- mecanoterapia em idade precoce (tra- 23) Em sua perspectiva pre-
tica. Gostaria que um desses tópicos se tamento em duas fases distintas). No ventiva quais seriam as tendên-
concentrasse no melhor entendimen- entanto, se por um lado o Bionator em cias para a ortodontia preven-
to da reação biológica do ligamento idade precoce promove demasiada com- tiva e interceptoras nos próxi-

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 6


mos anos? Mudam os conceitos, cionada pelos mini-implantes. Basica- como ancoragem (no caso da anqui-
ou os aparelhos? Leopoldino mente, os mini-implantes constituem lose intencional). No entanto, há um
Capelozza Filho dispositivos intrabucais projetados ponto de vista não menos importante
Mudam os conceitos. Presencia- para oferecer ancoragem “estática” a ser considerado: o custo financeiro
remos a combinação do aparelho conferida pela ausência de ligamento decorrente deste procedimento. Levan-
velho, renovado pelo progresso periodontal. Sob o ponto de vista me- do-se em conta todos estes aspectos,
tecnológico, aplicado sob uma óptica cânico, estes dispositivos são fantás- os mini-implantes como ancoragem
mais racional, respeitando-se a rela- ticos por anularem completamente a constituem recurso a mais no ofício
ção custo-benefício a longo prazo. reação da força ortodôntica durante da ortodontia.
a mecanoterapia, evitando os movi- Os implantes tradicionais, com
24) Como o senhor vê a pers- mentos indesejáveis da “ancoragem”. vista à futura prótese, têm sua apli-
pectiva do tratamento ortodôn- Sob o ponto de vista biológico, asse- cação como ancoragem ortodôntica
tico com a aplicação dos implan- melham-se à anquilose intencional de e fundamentação semelhante aos
tes e mini-implantes como an- dentes (ancoragem biológica), porém mini-implantes. São excelentes como
coragem? Adilson Luiz Ramos com menos intervenção e com a van- recurso mecânico, mas sua indica-
Sinceramente, não tenho vivência tagem de não culminar com a perda ção também deve levar em conside-
com ancoragem intra-óssea propor- de dentes que um dia funcionaram ração a necessidade protética.

Claudenir Rossato Flávio Mouro Luiz Gonzaga


Ferrari Junior Gandini Junior
- Mestre e Doutor em Orto-
dontia pela FOB-USP. - Especialista em Ortodontia - Professor Assistente do
- Professor Associado da pela PROFIS - Sociedade Departamento de Clínica
Universidade Estadual de de Promoção Social do Infantil – Disciplina de
Londrina. Fissurado Lábio-Palatal Ortodontia Preventiva da
- Coordenador do Setor de (Bauru-SP). Faculdade de Odontologia
Ortodontia (Graduação e Especialização) - Integrante do corpo docente do Curso de de Araraquara - UNESP.
da Universidade Norte do Paraná, Londri- Ortodontia Preventiva e Interceptiva da - Doutorado em Ortodontia pela Faculdade
na-PR PROFIS - Sociedade de Promoção Social de Odontologia de Araraquara – UNESP.
do Fissurado Lábio-Palatal (Bauru-SP).

José Valadares Leopoldino Guilherme Janson


Neto Capelozza Filho
- Professor Associado da
- Professor da Disciplina de - Professor Assistente Dou- Disciplina de Ortodontia
Ortodontia Preventiva da tor da Faculdade de Odon- da FOB - USP.
Faculdade de Odontologia tologia de Bauru da Uni- - Pós-Doutorado na Universi-
da Universidade Federal versidade de São Paulo. dade de Toronto, Canadá.
de Goiás - FO/UFG, - Responsável pelo Setor de - Coordenador do Curso de
- Mestrado em Morfologia, junto ao Institu- Ortodontia do Hospital de Reabilitação de Especialização em Ortodontia da FUNBEO.
to de Ciência Biológicas da Universidade Anomalias Cranio-faciais da Universida- - Professor dos Cursos de Especialização em
Federal de Goiás. de de São Paulo (HRAC), em Bauru-SP. Ortodontia da FOB, FUNBEO e APCD.
- Sub-Coordenador do Curso de Especiali- - Professor dos Cursos de Extensão da Soci-
zação em Ortodontia promovido pela FO/ edade Paulista de Ortodontia.
UFG (1998-2000). - Membro do Royal College of Dentists of
- Ex-Diretor do Departamento Científico da Canada - M.R.C.D.C.
ABO/GO (1996).
Terumi Okada
- Doutoranda da Universi-
dade de São Paulo -
UNESP - Araraquara.
- Ortodontista do Hospital
de Reabilitação de Lesões
Lábio-palatais de Bauru.

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 1-7, mar./abr. 2001 7

Вам также может понравиться