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[Manuel Bandeira]
Vida
Manuel Bandeira nasceu em 1886 no recife, sua infância, nas ruas da cidade provinciana daquele fim de século, viria a
ser material de vários de seus mais tocantes poemas. Sobre esse período [1882 a 1886 , dos 6 aos 10
[Manuel Bandeira]
Vida
Manuel Bandeira nasceu em 1886 no recife, sua infância, nas ruas da cidade provinciana daquele fim de século, viria a
ser material de vários de seus mais tocantes poemas. Sobre esse período [1882 a 1886 , dos 6 aos 10 anos de idade],
escreveu o poeta em seu livro de memórias, Itinerário de Pasárgada:
'Quando comparo esses quatro anos de minha meninice e quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico
espantado com o vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante.'
Com dez anos, MB mudou-se com a família para RJ, onde cursou o secundário e desenvolveu seu gosto da poesia,
lendo muito e compondo seus primeiros poemas.
Mas o destino que traçara para si, de acordo com a vontade do pai, era tornar-se arquiteto. Em 1903 muda-se para SP e
entra na escola Politécnica. No fim do primeiro ano letivo, adoece do pulmão e tem que abandonar os estudos.
Tuberculose naquela época, era doença gravíssima. Como se dizia, 'a doença que não perdoa', era sempre [quase] fatal.
MB logo imaginou que morreria. Passou alguns anos em busca de climas favoráveis a seu estado. Em 1913 foi tratar-
se na Suíça, no sanatório de Clanavel. Lá, pode ampliar os horizontes culturais e entregar-se decididamente a sua
atividade de poeta.
De volta ao Brasil no começo da 1ª Guerra Mundial, vai residir no RJ, levando vida sempre marcada por limitações de
saúde. Em 1917, ainda imagina-se à beirada morte, publica seu primeiro livro: A cinza das horas. A pequena obra é
bem recebida pela crítica e isso o anima a persistir na atividade poética. Depois de publicar Carnaval [ 1919], conhece
Mario de Andrade e vários escritores que promoveriam a Semana de Arte Moderna. Não quis participar da Semana, por
não se identificar totalmente com seu espírito [não rejeitava, como os modernistas, a métrica, as formas fixas e os
mestres parnasianos], mas tanto influenciou o movimento quanto foi influenciado por seu espírito vanguardista.
Vivendo em quartos de pensão ou minúsculos apartamentos, sobrevivendo graças a modestos empregos [inspetor de
ensino, professor de literatura] e a um sem-numero de traduções que fazia por encomendas de editores, MB foi
compondo uma obra que é dos tesouros de nossa arte: poemas sempre apreciáveis, às vezes deslumbrantes, que
enriqueceram a sensibilidade e a imaginação nacional como poucos artistas o fizeram em toda a nossa história; traduções
finíssimas de poetas de língua alemã, inglesa, francesa, espanhola; antologias e estudos de poesia brasileira e de
literatura internacional; crônicas inteligentes, agradáveis, espirituosas, publicadas na imprensa ou lidas no rádio. Em
resumo, MB fez tudo que pôde pela cultura nacional, seja como poeta, seja como intelectual de grande classe.
MB foi sempre Solitário [jamais casou] e doente [contraiu tuberculose na juventude]. Já bastante velho, coberto de
reconhecimento e glórias, inclusive oficiais, teve às vésperas de sua morte sérias complicações em seu estado de saúde.
Amigos que o socorreram acharam em situação econômica precária: faltava-lhe dinheiro até para os remédios diários.
Morava em minúsculo apartamento, sobrevivendo com os proventos de modesta aposentadoria, à qual deveria somar-se
uma pequena pensão, que fora concedida pelo governo, quando o poeta completara 80 anos. Mas essa pensão não era
paga havia meses.
Aos 80 anos, MB recebeu o Premio Moinho Santista, criado na época com a finalidade de prestigiar uma grande figura
da inteligência nacional. Agradecendo a honraria, o poeta disse que toda uma vida de cultura agora agora lhe valia um
premio de 5 mil cruzeiros, enquanto um jovem compositor estreante, Chico Buarque, aliado seu amigo, acabava de
receber um premio de 50 mil cruzeiros, por ter composto A Banda.
Ao longo dos 82 anos de sua vida, o Brasil passou por várias e profundas transformações. Na literatura, o ambiente
decadentista do fim do século, marcado por tendências parnasianas e simbolistas, viu-se abalado pela explosão
contestadora do modernismo. Nesse movimento, concorreram ou se sucederam diversas tendências poéticas,
solidárias ou antagônicas: desvairismo, pau-brasil, primitivismo, antropofagia, poesia social e existencial [geração de 30],
neoclassicismo [geração de 45], construtivismo, concretismo. MB não se deixou empolgar demais por nenhum ISMO, mas
soube pulsar. Foi dos modernistas mais arrojados: ousou as mais diversas formas de verso-livre, fez poema-piada com
invenção e humor, praticou a sátira debochada, a paródia e o poema montagem [construído com pedaços de frases de
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outros poetas]. Foi crítico cáustico do reacionarismo da chamada geração de 1945. soube apreciar e aplaudir a poesia de
rigor construtivista de João Cabral de Melo Neto. Procurou compreender simpaticamente a poesia concreta e publicou
experiências poéticas na revista dos concretistas de SP.
MB foi objeto de homenagem de quase todos os poetas brasileiros de seu tempo, destacando-se entre eles Carlos
Drummond de Andrade. Dois anos antes de sua morte, ocorrida em 1968, comemorou seus 80 anos com a publicação de
todos os seus livros de poesia no volume Estrela da vida inteira, iniciado com a seguinte epígrafe:
Quando se planejava a Semana de Arte Moderna, os vanguardistas tomaram conhecimento de um livro publicado anos
antes, em 1919, intitulado Carnaval que já apresentava novidades modernistas em alguns de seus poemas, chegando à
audácia do verso livre. O autor era Manuel Bandeira, um pernambucano que então morava no RJ e que, pouco depois,
teria uma de suas composições famosas [Os Sapos] declamada na abertura da Semana. Mário de Andrade, fazendo
justiça a seu papel precursor, chamou-o o São João Batista do Modernismo.
Muito admirado desde então, MB foi em vida e continua sendo um dos poetas mais queridos do Brasil. Sua penetração
junto a um público mais amplo é surpreendente, pois se trata de poeta fino e culto, sem prejuízo da imensa
simplicidade de sua obra.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho comentado procurou-se selecionar a essência da poética de MB, tarefa bastante complexa, devido a
amplitude de recursos temáticos e estilístico presentes na obra.
A leitura não-linear, rompendo a ordem cronológica da publicação dos livros, mostra a evolução e a reformação estética de
temas recorrentes na poesia de MB: a presença do cotidiano, a preocupação com a morte, e defesa da linguagem
modernista, a sensualidade, o lirismo tradicional, o antilirismo, a impossibilidade existencial, reminiscências da infância,
o humor, a experimentação com o significante, o apego a formas finisseculares parnasiano simbolista.
A indicação cronológica do poema servirá para mostrar a variação estética, sempre rica, muito rítmica, dada a um universo
carregado de poésies.
1. A Tuberculose, O Confessionalismo
Pneumotórax
2. A linguagem
Os Sapos
Enfunado[1] os papos.
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
O sapo-tanoeiro[2].
Parnasiano aguado.
Diz: - 'Meu cancioneiro
É bem martelado.
Outros, sapos-pipas
[Um mal em si cabe],
Falam pelas tripas:
-'Sei!' - 'Não sabe!' - 'Sabe!'
Clame a sapataria
Em criticas céticas:
Não há mais poesias.
Mas há artes poéticas...'
Urra o sapo-boi:
-'Meu pai foi rei' - 'Foi!'
-'Não foi!' - 'Foi!' - 'Não foi!'
Brada em um assomo[6]
O sapo-tanoeiro:
-'A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário[7].
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta o martelo.'
POÉTICA
Desencanto
a sensação de aniquilamento pessoal, de destruição do mundo físico e familiar que cercava [decadência financeira aliada à
morte da mãe em 16, do pai em 20 e de sua irmã em 1928, que fora sua enfermeira desde 1904], juntamente com o
convívio com a tuberculose, fez com que a sensibilidade de MB registrasse várias vezes a proximidade da morte.
'Desencanto', poema do livro A cinza das horas, apresenta o seguinte verso arremate:
Nesse livro, encontramos 'Elegia para minha mãe', onde o poeta escreve:
Profundamente
Meu avô
Totonio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
-Estão dormindo
Estes todos deitados
Dormindo
Profundamente.
A Morte Absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e alma.
Completamente.
[Estrela da manhã]
Consoada[1]
4. A Sensualidade
Na poesia de MB, a exploração dos elementos sensoriais [visão, audição, tato, olfato, gustação] é marcante.
Herdeiro da musicalidade simbolista, sempre se preocupou com a sonoridade, harmônica ou dissonante, dando um efeito
mais agressivo, sincopado, a quaisquer temas.
Nos textos eminentemente sensuais, é interessante notar a linguagem coloquial, anti-retórica, despojada, a
grandiloqüência, as metáforas arrojadas, muito usadas por poetas da nossa língua [Castro Alves, Olavo Bilac...]
Poemeto Erótico
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Arte de Amar
[Belo belo]
a opressão da realidade, a impossibilidade de uma existência plena, a dificuldade financeira, aliada à doença e a uma
solidão de base neo-romântica, têm como conseqüência vários poemas em que se procuram os bens perdidos: os entes
familiares queridos, a saúde, a felicidade, a plenitude, o absoluto.
Evocação do Recife
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos amadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois -
Recife das revoluções literárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A Rua da União onde eu brincava de chicotinho-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viega
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras, mexericos, namorados, risadas
A Estrela
A estrela é uma imagem obsessiva na poesia de Bandeira, forizando o absoluto, o inatingível, a luz que orienta, na
mesma linha da poesia romântica e simbolista.
Algumas vezes, significa a mulher, sensual e distante, ansiosamente aguardada ['estrela da manhã'].
Em 'A estrela', notam-se as posições entre a vida vazia do poeta e o brilho do astro inacessível, utópico. Os contrastes
aparecem no plano espacial e cromático ['Era uma estrela sozinha Luzindo no fim do dia', 'E ouvi-a na sombra funda'].
Nos últimos versos há ironia, pois a estrela reitera a sua distancia insuperável, dando ao 'eu' lírico uma esperança
triste, uma vez que ele a contempla sem a menor possibilidade de aproximação.
6. O Virtuosismo
A poesia de MB apresenta, segundo Antônio Cândido, uma 'amplitude de âmbito, testemunhado uma variedade criadora
que vem do Parnasianismo crepuscular até as experiências concretistas, do soneto às formas mais audazes de
expressão'.
Os Sinos
Sino de Belém,
Sino da paixão...
Sino de Belém,
Sino da paixão...
Sino do Bonfim!...
Sino do Bonfim!...
Sino de Belém,
Sino da paixão...
Sino da paixão, pelo meu irmão...
Sino da paixão,
Sino do Bonfim...
Sino do Bonfim, ai de mim, por mim!
7. Cotidiano
A poesia tem um tom pessoal, intimista, coloquial, sempre resvalando ou abordando diretamente o cotidiano.
Cita-se o poema Testamento
Poema do Beco