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DESENV.

SUSTENTÁVEL
CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA

CAMPUS ALPHAVILLE

__________

MARKETING & RECURSOS HUMANOS


NOTURNO

TURMAS
GM3P06  GM4P06  GM4Q06

GH4P06  GH4Q06  GH4S06
__________ apostila de

Prof. Rodrigo Marchesin


profe s s or@rodrigom a rc hes in.c om

SÃO PAULO ∙ 2010


Antes de iniciar este trabalho, cumpre observar o mérito de uma equipe de
professores, sem os quais esta apostila não seria possível:

Profa. Angela Pizzo


Profa. Daniela Sakumoto
Profa. Kelly Mariano
Prof. Mauro Trubianelli
Profa. Raquel Caparrós
APRESENTAÇÃO

Apresentação

Você já parou para pensar no que significa a palavra progresso? Pois então pense:
estradas, usinas, cidades, máquinas e muitas outras coisas que ainda estão pôr vir e que não
conseguimos nem ao menos imaginar. Algumas partes desse processo todo são muito bons,
pois melhoram a qualidade de vida dos seres humanos de uma forma ou de outra, como no
transporte, comunicação, saúde etc. Mas agora pense só: será que tudo isso de bom não tem
nenhum preço? Será que para ter toda essa facilidade de vida nós, humanos, não pagamos
nada?

Já ouviu, também, alguém dizer que, para tudo na vida, existe um preço? Pois é,
nesse caso não é diferente. O progresso, da forma como vem sendo feito, está destruindo o
planeta Terra e a natureza. Um estudioso do assunto disse, certa vez, que é mais difícil o
mundo acabar devido a uma guerra nuclear ou a uma invasão extraterrestre (ou uma
catástrofe qualquer) do que acabar pela destruição que nós, humanos, estamos provocando
em nosso planeta. Você acha que isso é um exagero?

O preço que se cobra, hoje, para garantir a perpetuação da espécie humana, em uma
abordagem evolucionista; ou resguardar o direito à vida daqueles que ainda não vieram à
luz, em um contexto ético; chama-se desenvolvimento sustentável. Ou melhor, este conceito
provavelmente será o “troco” que as forças da natureza entregarão ao Homo sapiens, caso
este faça uma escolha diferente daquela que tem praticado nos séculos precedentes.

O desenvolvimento sustentável, infelizmente, é um tema explorado de maneira


oportunista por muitas organizações, que enxergam apenas um discurso estratégico
“politicamente correto”, sem perceber os impactos do uso indiscriminado dos fatores de
produção. Desenvolvimento sustentável não é e não pode ser, decididamente, um negócio.

Quando falamos de desenvolvimento sustentável, falamos da vida, do direito que


cada cidadão, nascido neste planeta, tem de usufruir deste espaço e alcançar padrões de
vida superiores às condições que muitos países estão entregues. Alijadas dos direitos
humanos, comunidades inteiras passam fome, prostituem-se física e moralmente, morrem
APRESENTAÇÃO

em conflitos civis e vendem as famílias como forma de sobrevivência. Pagam com suas vidas,
a qualidade de uma parcela da população que consegue, de fato, viver.

O objetivo deste texto é reunir um conjunto básico de informações, as quais possam


esclarecer e orientar o aluno quanto à importância do tema e expandir a discussão para uma
dimensão crítica, sem perder o viés acadêmico de debates fundamentados na argumentação
técnica e lógica científica. Neste sentido, os capítulos encontram-se estruturados segundo o
direcionamento da ementa proposta para o curso.

Como forma de aprofundar o trabalho acadêmico, seguem algumas outras


informações de cunho relevante: o programa da disciplina e na parte final, nos anexos,
constam sugestões para as atividades complementares (prazos de entrega e validação de
horas), o conteúdo programático – na íntegra – e um roteiro básico, para orientação
específica, relacionado à parte da disciplina Desenvolvimento Sustentável no PIM (Projeto
Integrado Multidisciplinar).

Portanto, a realização deste material configura-se como uma extensão do acesso à


informação e formação técnicas, de forma a ampliar a empregabilidade dos profissionais de
diferentes campos de atuação, através de um processo de qualificação, pautado pela
transparência nas relações humanas, respeito à diversidade e inovação dos paradigmas
pedagógicos.

Prof. Rodrigo Marchesin


CÓDIGO DE ÉTICA

Como Aproveitar Seu Professor

A base para um bom relacionamento, sempre, será o respeito mútuo. É


fundamental que cada uma das partes envolvidas esteja consciente deste pressuposto
básico da comunicação humana. Em uma sala de aula, este cuidado não foge à regra e,
portanto, para um melhor aproveitamento das aulas e do professor, faz-se necessário
algumas observações relevantes:

 evite endeusar ou menosprezar o professor;

 não queira escolher o tema ou a forma da aula;

 não busque competir com o professor;

 não pergunte o que já sabe, no lugar daquilo que ainda não sabe;

 procure estudar e realizar as tarefas determinadas pelo professor;

 preste atenção às aulas;

 colabore com os colegas e estimule-os a prestarem atenção à aula;

 não utilize de meios escusos para fazer trabalhos e provas;

 respeite as diferenças e as dificuldades dos colegas;

 combata a discriminação, contribuindo para a criação de um ambiente sinérgico.

Lembre-se das 3 regras básicas para a vida:


01) As escolhas sempre são suas;
02) Você não tem controle sobre tudo; e
03) Viva um dia de cada vez!!
PLANEJAMENTO DAS AULAS/2010 AGENDA

Agenda do Aluno

Esta agenda serve ao propósito docente de auxiliar o aluno na construção dos ali-
cerces para a aprovação acadêmica na disciplina DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, através
da organização e do planejamento dos estudos durante o segundo semestre letivo de 2010.

Pede-se especial atenção aos prazos de entrega das Atividades Complementares –


AC (destacadas no Cronograma de Aulas) e demais atividades especiais, como provas e
trabalhos em sala (Plano de Aulas).

ATIVIDADES* INÍCIO FIM


1 Apresentação da Disciplina; Direcionamento Metodológico 04.08.10 23.08.10

2 Consolidação dos Conceitos Básicos da Disciplina; Entrega AC 24.08.10 03.10.10

3 Avaliação NP1**; Resultados; Entrega AC 04.10.10 24.10.10

4 Consolidação dos Conceitos Avançados da Disciplina; Entrega AC 25.10.10 28.11.10

5 Avaliação NP2**, Apresentação do PIM; Substitutiva 29.11.10 17.12.10

6 Resultados Finais; Encerramento do Semestre 20.12.10 23.12.10


* As datas de encerramento de cada uma das fases do curso estão anotadas com os finais de semana, porém para efeito
de planejamento, devem ser considerados apenas os dias úteis (segunda a sexta-feira).
** As turmas de Marketing terão, em caráter excepcional, uma antecipação do período de provas, em função da grade
curricular, para evitar a realização de duas provas no mesmo dia.

Calendário – 2º Semestre

AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO


D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 1 2
8 9 10 11 12 13 14 5 6 7 8 9 10 11 3 4 5 6 7 8 9
15 16 17 18 19 20 21 12 13 14 15 16 17 18 10 11 12 13 14 15 16
22 23 24 25 26 27 28 19 20 21 22 23 24 25 17 18 19 20 21 22 23
29 30 31 26 27 28 29 30 24 25 26 27 28 29 30
31
04 Início das Aulas 07 Independência do Brasil 12 Nossa Senhora Aparecida

NOVEMBRO DEZEMBRO
D S T Q Q S S D S T Q Q S S
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4
7 8 9 10 11 12 13 5 6 7 8 9 10 11
14 15 16 17 18 19 20 12 13 14 15 16 17 18
21 22 23 24 25 26 27 19 20 21 22 23 24 25
28 29 30 26 27 28 29 30 31

02 Finados 23 Encerramento do Semestre


15 República 25 Natal
PLANEJAMENTO DAS AULAS/2010 AGENDA

Cronograma de Aulas

DIA AGOSTO DIA SETEMBRO DIA OUTUBRO DIA NOVEMBRO DIA DEZEMBRO

dom 01 01 01 01

02 02 sáb 02 FINADOS 02

03 03 dom 03 03

04 INÍCIO DAS AULAS sáb 04 04 sáb

05 dom 05 PROVA NP1 (RH) 05 dom

06 06 06 sáb 06

sáb 07 INDEPENDÊNCIA 07 dom 07

dom 08 08 08 08 PIM
AULA 14
09 09 sáb 09 09
ENTREGA AC-3
10 AULA 01 10 dom 10 10

11 dom 11 11 sáb

12 dom 12 N. S. APARECIDA 12 dom

13 13 13 sáb 13

sáb 14 AULA 06 14 dom 14 AULA 19

dom 15 15 15 REPÚBLICA 15

16 16 sáb 16 AULA 15 16

17 AULA 02 17 dom 17 17

18 sáb 18 18 sáb
AULA 11
19 dom 19 19 dom
ENTREGA AC-2
20 20 20 sáb 20
AULA 07
sáb 21 21 dom 21 AULA 20
ENTREGA AC-1
dom 22 22 22 22
ENCERRAMENTO
23 23 sáb 23 PROVA NP2 (MKT) 23
DAS AULAS
24 AULA 03 24 dom 24 24

25 sáb 25 25 sáb

26 dom 26 AULA 12 26 dom

27 27 27 sáb 27

sáb 28 PROVA NP1 (MKT) 28 dom 28

dom 29 29 29 29

30 30 sáb 30 PROVA NP2 (RH) 30

31 AULA 04 dom 31

Curso/Turma:

MAT

NOT MKT / RH
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA
PLANEJAMENTO DAS AULAS/2010 AGENDA

Plano de Aulas

AULA CONTEÚDO LEITURA PRÉVIA ATIVIDADE

01 Apresentação / Metodologia / Bibliografia ----- -----

02 Aspectos Históricos / A Questão Ambiental Cap. 2 - Pág. 14 a 25 Estudo de Caso

03 Conceitos / Desenvolvimento / Sustentabilidade / DS Cap. 3 - Pág. 26 a 33 Filme

04 Dimensões da Sustentabilidade Cap. 4 - Pág. 34 a 39 Estudo de Caso

05 Feriado – Independência ----- -----

06 Responsabilidade Socioambiental / RSE Cap. 5 - Pág. 40 a 43 -----

07 Terceiro Setor Cap. 5 - Pág. 44 a 48 Estudo de Caso

08 Prova NP1 (Marketing) ----- -----

09 Prova NP1 (RH) ----- -----

10 Feriado – Nossa Senhora Aparecida ----- -----

11 Vista de Prova NP1 ----- -----

12 Política Ambiental / Instrumentos Cap. 6 - Pág. 49 a 57 Filme

13 Feriado – Finados ----- -----

14 Legislação Ambiental Cap. 6 - Pág. 49 a 57 Estudo de Caso

15 Certificações Cap. 7 - Pág. 58 a 67 -----

16 Normas ISO Cap. 7 - Pág. 58 a 67 Estudo de Caso

17 Prova NP2 ----- -----

18 Apresentações do PIM ----- -----

19 Vista de Prova NP2 / Prova Substitutiva ----- -----

20 Encerramento do Semestre ----- -----

OBS: O Plano de Aulas tem por objetivo apresentar, detalhadamente, todas as temáticas a serem trabalhadas ao
longo da disciplina, de acordo com a ementa prevista pela Universidade. Desse modo, para cada etapa do
conteúdo programático e adequado desenvolvimento discente, é importante que o estudante tome ciência da
matéria a ser ministrada, preparando-se através da leitura preliminar do capítulo programado para aquela data.
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Sumário

1 PROGRAMA DA DISCIPLINA 10

1.1 UNIDADE CURRICULAR 10


1.2 PERÍODO LETIVO 10
1.3 EMENTA 10
1.4 CARGA HORÁRIA TOTAL 10
1.5 OBJETIVOS 10
1.6 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 11
1.7 METODOLOGIA 11
1.8 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 12
1.9 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 13

2 INTRODUÇÃO 14

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS 15


2.2 A QUESTÃO AMBIENTAL 17
2.3 CONFERÊNCIAS MUNDIAIS 18
2.4 PROTOCOLO DE KYOTO 19
2.5 MOVIMENTO AMBIENTALISTA NO BRASIL 22

3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: QUE BICHO É ESSE? 26

3.1 DESENVOLVIMENTO 26
3.2 SUSTENTABILIDADE 28
3.3 DESENVOLVIMENTO VERSUS SUSTENTABILIDADE? 30
3.4 DEFINIÇÕES COMPLEMENTARES 32

4 DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 34

4.1 EXTERNALIDADES 34
4.2 SUSTENTABILIDADE SOCIAL 35
4.3 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA 36
4.4 SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA 37
4.5 SUSTENTABILIDADE ESPACIAL 38
4.6 SUSTENTABILIDADE CULTURAL 38

5 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 40

5.1 CONCEITO 41
5.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL 42
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5.3 TERCEIRO SETOR 44

6 POLÍTICA AMBIENTAL 49

6.1 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 49


6.2 POLÍTICA AMBIENTAL 51
6.3 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL 53

7 CERTIFICAÇÕES 58

7.1 NORMAS ISO 14000 61


7.2 NORMAS AA1000 63
7.3 SOCIAL ACCOUNTABILITY 8000 (SA 8000) 63
7.4 NBR 16000 64
7.5 ISO 26000 66

REFERÊNCIAS 68

BIBLIOGRÁFICAS 68
ELETRÔNICAS 68

ANEXOS 71

ANEXO 1: ATIVIDADES COMPLEMENTARES 72


ANEXO 2: ROTEIRO DISCIPLINAR – PIM 75
ANEXO 3: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DETALHADO 77
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1 Programa da Disciplina

1.1 Unidade Curricular

Desenvolvimento Sustentável.

1.2 Período Letivo

4º Semestre.

1.3 Ementa

Teorias sobre o desenvolvimento. Críticas às visões economicistas do


desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento econômico-social. Desenvolvimento
sustentável. Mercado e meio ambiente. A ética ambiental e o desenvolvimento sustentável.
A ética ambiental e países subdesenvolvidos.

1.4 Carga Horária Total

30 horas.

1.5 Objetivos

Adquirir visão fundamentada quanto à possibilidade de estabelecer relações entre


desenvolvimento econômico e desenvolvimento sustentado.

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1.6 Conteúdo Programático1

1.6.1 Nova Ordem Mundial


 Aspectos Históricos
 Desenvolvimento x Sustentabilidade
 Sobrevivência ou Modismo?

1.6.2 Desenvolvimento Sustentável


 Dimensões da Sustentabilidade
 Responsabilidade Social e Ambiental
 Terceiro Setor

1.6.3 Instrumentos de Desenvolvimento Sustentável


 Política Ambiental
 Legislação
 Certificações

1.7 Metodologia

Para o desenvolvimento do conteúdo proposto, serão utilizadas as seguintes


técnicas:
 Aulas expositivas dialogadas;
 Estudos dirigidos;
 Resenhas;
 Vídeos;
 Estudos de casos.

1
O detalhamento do Conteúdo Programático encontra-se no Anexo 3 desta apostila.
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1.8 Critérios de Avaliação2

O processo de avaliação será contínuo, através de provas escritas, estudos dirigidos


(individuais e/ou em grupo) e participação ativa nas atividades desenvolvidas durante o
andamento da disciplina.

Todas as atividades previstas serão medidas, através de uma escala de 0 (zero) ponto
até 10,0 (dez) pontos, e terão pesos proporcionais ao seu grau de importância e dificuldade,
de acordo com o quadro a seguir:

Avaliações Pesos
Atividades Programadas 20%
Avaliação Bimestral 80%

As Atividades Programadas referem-se aos estudos de caso, textos de interpretação


e/ou planilhas de cálculos. A Avaliação Bimestral é o instrumento final de acompanhamento
do(a) aluno(a) para classificação do nível de domínio da matéria lecionada e será aplicada
individualmente, sem consulta a qualquer fonte bibliográfica, anotações ou outros meios
classificados como material de apoio à aprendizagem.

O(A) aluno(a) é considerado(a) aprovado(a) se alcançar média semestral (MS) igual


ou superior a 5,0 (cinco) no conjunto das habilidades que compõem a disciplina cursada e
obtiver freqüência mínima de 75% (setenta e cinco por cento).

2
A Média Semestral (MS) é composta do somatório das notas NP1 e NP2 (peso 4) e PIM (peso2), divididos por
10, de acordo com a fórmula abaixo e disposta no Manual de Informações Acadêmicas/UNIP 2010:

NP1 x 4 + PIM x 2 + NP2 x 4


MS =
10

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1.9 Bibliografia Recomendada

ALMEIDA, Fernando. Experiências empresariais em sustentabilidade: avanços,


dificuldades e motivações de gestores de empresas. Rio de Janeiro: Elsevier,
2009.

BELLEN, Hans Michael van. Indicadores de sustentabilidade: uma análise


comparativa. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

SCOTTO, Gabriela; CARVALHO, Isabel C.; GUIMARÃES, Leandro B. Desenvolvimento


sustentável. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Garamond, 2008.

VEIGA, José Eli da; ZATZ, Lia. Desenvolvimento sustentável: que bicho é esse?
Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

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2 Introdução

Durante as décadas de 1970 e 1980 tornou-se cada vez mais claro que os recursos
naturais estavam sendo dilapidados em nome do “desenvolvimento”. Estavam se
produzindo mudanças imprevistas na atmosfera, nos solos, nas águas, entre as plantas e os
animais e nas relações entre todos eles. Foi necessário reconhecer que a velocidade da
transformação era tal que superava a capacidade científica e institucional para minimizar ou
inverter o sentido de suas causas e efeitos.

Estes grandes problemas ambientais incluem:

1) Aquecimento global da atmosfera: combustíveis fósseis dominam o suprimento


mundial de energia, fazendo com que as emissões resultantes de gases efeito estufa
causem mudanças na temperatura e aumentem os riscos de mudanças climáticas. Os
modelos climáticos prevêem que enchentes, secas e fortes tempestades devem se
tornar cada vez mais freqüentes e severas, custando vidas, colheitas e progresso
econômico. A demanda acelerada por energia gera crescimento econômico, mas
ameaça o clima da Terra;

2) Esgotamento da camada de ozônio da estratosfera;

3) Crescente contaminação da água e dos solos pelos derramamentos e descargas


de resíduos industriais e agrícolas: a disponibilidade de água é o mais preocupante
problema de recursos que o mundo enfrenta hoje. A água é essencial para todos os
seres vivos, tem moldado as sociedades humanas por milênios e é a base de
atividades como refrigeração, processamento de alimentos, síntese química e
irrigação. A crescente escassez de água e o alarmante declínio na biodiversidade
aquática evidenciam práticas e políticas falhas em diversas partes do mundo para a
proteção do recurso mais importante da vida. Veremos adiante o que as empresas,
ambientalistas e governo estão fazendo para tornar processos industriais mais
eficientes, estimular o reuso e combater o desperdício, contribuindo assim para a
preservação dos recursos hídricos;

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4) Destruição da cobertura florestal/desmatamento: aproximadamente 30% da


área potencial de florestas temperadas subtropicais e tropicais e 40% das pastagens
temperadas foram convertidas para a agricultura. Especialistas em meteorologia têm
fortes razões para acreditar que a mudança de clima, em conseqüência do
desmatamento amazônico esteja afetando o regime de chuvas em toda a América do
Sul, inclusive na Bacia do Prata. A fumaça das queimadas também estaria alcançando
o sul do continente, com graves conseqüências para o clima do planeta;

5) Extinção de espécies;

6) Degradação do solo.

A produção de alimentos é a base de muitas economias, mas ameaça os ecossistemas


dos quais depende. O modo que escolhemos para produzir alimentos pode determinar o
futuro de pastagens, florestas, ecossistemas.

Acompanhar o crescimento da população e reduzir a desnutrição existente


demandará uma produção de alimentos bem maior e com menos impacto ambiental. A
produção mundial de grãos utiliza mais água, mão de obra e terra do que qualquer outra
atividade, além de desgastar e contaminar o solo com agentes químicos e pesticidas. A
produção de alimentos ecologicamente eficaz é hoje uma das principais metas do
desenvolvimento econômico e humano.

2.1 Aspectos Históricos

A preocupação da comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do


planeta datam da década de 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da
degradação do meio ambiente. Tais discussões ganharam tanta intensidade que levaram a
ONU a promover uma Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo (1972).

No mesmo ano, Dennis Meadows e os pesquisadores do "Clube de Roma" publicaram


o estudo Limites do Crescimento. O estudo concluía que, mantidos os níveis de
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industrialização, poluição, produção de alimentos e exploração dos recursos naturais, o


limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos, provocando
uma repentina diminuição da população mundial e da capacidade industrial.

Em 1973, o canadense Maurice Strong lançou o conceito de eco-desenvolvimento, os


caminhos do desenvolvimento seriam seis: satisfação das necessidades básicas;
solidariedade com as gerações futuras; participação da população envolvida; preservação
dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que garanta
emprego, segurança social e respeito a outras culturas; programas de educação.

Esta teoria referia-se principalmente às regiões subdesenvolvidas, envolvendo uma


crítica à sociedade industrial. Foram os debates em torno do eco-desenvolvimento que
abriram espaço ao conceito de desenvolvimento sustentável.

Outra contribuição foram às declarações que afirmavam que a causa da explosão


demográfica era a pobreza, que também gerava a destruição desenfreada dos recursos
naturais. Os países industrializados contribuíam para esse quadro com altos índices de
consumo. Para a ONU, não há apenas um limite mínimo de recursos para proporcionar bem-
estar ao indivíduo; há também um máximo.

No ano de 1987, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e


Desenvolvimento (UNCED), apresentou um relatório que diz “desenvolvimento sustentável é
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade
de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”.

O relatório não apresenta as críticas à sociedade industrial que caracterizaram os


documentos anteriores; demanda crescimento tanto em países industrializados como em
subdesenvolvidos, inclusive ligando a superação da pobreza nestes últimos ao crescimento
contínuo dos primeiros. Assim, foi bem aceito pela comunidade internacional.

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2.2 A Questão Ambiental

A partir das últimas décadas a questão ambiental tornou-se uma preocupação


mundial. A grande maioria das nações do mundo reconhecem a emergência dos problemas
ambientais. A destruição da camada de ozônio, acidentes nucleares, alterações climáticas,
desertificação, armazenamento e transporte de resíduos perigosos, poluição hídrica,
poluição atmosférica, pressão populacional sobre os recursos naturais, perda de
biodiversidade são algumas das questões a serem resolvidas por cada uma das nações do
mundo, segundo suas respectivas especificidades. Entretanto, a complexidade dos
problemas ambientais exige mais do que medidas pontuais que busquem resolver
problemas a partir de seus efeitos, ignorando ou desconhecendo suas causas.

A questão ambiental deve ser tratada de forma global, considerando que a


degradação ambiental é resultante de um processo social, determinado pelo modo como a
sociedade apropria-se e utiliza os recursos naturais. Não é possível pretender resolver os
problemas ambientais de forma isolada. É necessário introduzir um nova abordagem
decorrente da compreensão de que a existência de uma certa qualidade ambiental está
diretamente condicionada ao processo de desenvolvimento adotado pela nações.

O modo como se dá o crescimento econômico, comprometendo o meio ambiente,


seguramente prejudica o próprio crescimento, pois inviabiliza um dos fatores de produção: o
capital natural. Natureza, terra, espaço devem compor o processo de desenvolvimento
como elementos de sustentação e conservação dos ecossistemas. A degradação ou
destruição de um ecossistema compromete a qualidade de vida da sociedade, uma vez que
reduz os fluxos de bens e serviços que a natureza pode oferecer à humanidade. Logo, um
desenvolvimento centrado no crescimento econômico que relegue para segundo plano as
questões sociais e ignore as aspectos ambientais não pode ser denominado de
desenvolvimento, pois de fato trata-se de mero crescimento econômico.

Pode-se considerar, portanto, desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento


que tratando de forma interligada e interdependente as variáveis econômica, social e

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ambiental é estável e equilibrado garantindo melhor qualidade de vida para as gerações


presentes e futuras. É certo que a implementação do desenvolvimento sustentável passa
necessariamente por um processo de discussão e comprometimento de toda a sociedade
uma vez que implica em mudanças no modo de agir dos agentes sociais. No processo de
implementação do desenvolvimento sustentável a educação ambiental torna-se um
instrumento fundamental.

O sucesso das ações que devem conduzir ao desenvolvimento sustentável dependerá


em grande parte da influência da opinião pública, do comportamento das pessoas, e de suas
decisões individuais. Mesmo considerando que existe certo interesse pelas questões
ambientais há que reconhecer a falta de informação e conhecimento dos problemas
ambientais. Logo, a educação ambiental que tenha por objetivo informar e sensibilizar as
pessoas sobre os problemas (e possíveis soluções) existentes em sua comunidade, buscando
transformar essas pessoas em indivíduos que participem das decisões sobre seus futuros,
exercendo desse modo o direito a cidadania torna-se instrumento indispensável no processo
de desenvolvimento sustentável.

2.3 Conferências Mundiais3

A partir do século XX, o processo de industrialização que foi iniciado no XIX com a
Revolução Industrial, se acentuou. O período entre guerras (1919-1939) foi marcado pela
crise econômica em 1929, recessão e desemprego em massa nos EUA e Europa. Após a
Segunda Guerra (1940-1945) os Estados Unidos e a União Soviética despontam como as
grandes potências industriais, uma vez que a Europa estava em “reconstrução”.

Com a experiência socialista na URSS manteve-se até fins da década de 1980 dois
sistemas políticos e econômicos distintos e antagônicos. A tensão decorrente da
concorrência entre as duas potências ficou conhecida na História como Guerra Fria.

3
Texto retirado do artigo produzido pela Profa. Ms. Irinéia M. Franco (Natureza, Socieda e Ecologia), pp. 10-2;
23-26. As notas reproduzidas neste trecho correspondem às observações da professora e não fazem parte da
pesquisa bibliográfica desta apostila.
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Foi com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) nos anos 50, com vários
organismos internos que se iniciam programas específicos para o estudo do desenvolvimen-
to econômico e das conseqüências ambientais da industrialização.

Os relatórios e conferências específicos sobre a questão ambiental surgem a partir


dos anos 70. Franz Bruseke4 apresenta como os mais importantes:
 Clube de Roma (1972);
 Ecodesenvolvimento (1973);
 Declaração de Cocoyok (1974);
 Dag-Hammarskjöld (1975);
 Relatório Brundtland (1987);
 Rio 92 – Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992).

Podemos incluir na lista a Conferência Rio+10 (Johanesburgo, 2002) e assinatura do


Protocolo de Kyoto em fevereiro desse ano (2005), como um acontecimento marcante para
a tentativa de solução dos problemas ambientais advindos da industrialização. Vejamos a
seguir os pontos mais importantes da discussão apresentados pelos relatórios e suas
sugestões para a resolução desses problemas.

2.4 Protocolo de Kyoto

As discussões científicas em torno da questão climática (aquecimento global)


começam em 1988, na primeira reunião realizada em Toronto, no Canadá, entre cientistas e
governantes. Já nesta primeira reunião os cientistas apontavam para a gravidade do
aumento da temperatura nas próximas décadas. Em 1990 aparece o primeiro informe com
colaboração científica internacional. O IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental
Sobre Mudança Climática) advertia sobre a necessidade de estabilizar a emissão de CO2
(dióxido de carbono) na atmosfera, principal causador do efeito estufa. A diminuição deveria

4
BRUSEKE, Franz Josef. O problema do desenvolvimento sustentável. In Cavalcanti, Clóvis (org.) Desenvolvi-
mento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. Editora Cortez, São Paulo, 1995, p. 29.
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ser em torno de 60% na década de 90. A Convenção Marco sobre a Mudança Climática,
durante a Eco-92, teve a assinatura de mais de 160 governos. Com isso, esperava-se “evitar
interferências antropogênicas perigosas no sistema climático”. Dentro da perspectiva da
sustentabilidade esperava-se proceder de forma que os países industrializados mantivessem
suas emissões de “gases estufa”, em 2000, nos níveis de 1990. Assim, todos os países
deveriam dentro do “princípio da responsabilidade comum” (Nosso Futuro Comum), ter a
responsabilidade de proteger o clima, começando pelos países do norte.

Em 1995 um novo informe do IPCC deixa clara a influência na mudança climática por
motivos humanos. Dois anos após o informe (1997) em Kyoto no Japão, é assinado o
Protocolo de Kyoto. Nele tem-se pela primeira vez um acordo que compromete os países do
Norte a reduzir suas emissões. As negociações em torno das metas para essa diminuição
permaneceram em discussão ainda por seis anos. Basicamente o protocolo “compromete a
uma série de nações industrializadas a reduzir suas emissões em 5,2% em relação aos níveis
de 1990 para o período de 2008-2012. Esses países devem mostrar um progresso visível no
ano de 2005, ainda que não se tenha chegado a um acordo sobre o significado desse item”.5

Assim, em 16 de fevereiro de 2005 o Protocolo entra em vigor, com a assinatura de


141 países. Para entrar em vigência ele deveria ser assinado por, no mínimo, 55 governos,
que somariam 55% das emissões de CO2. Em 2001, o presidente norte-americano George W.
Bush “declarou que os EUA, responsáveis em 1990 por 36,1% das emissões dos países
industrializados, abandonariam o protocolo, por ser danoso à sua economia”.6 Este fato,
apenas confirmaria a tendência da política econômica norte-americana em privilegiar seus
interesses.

Entre as medidas para a redução das emissões de gases estufa tem-se:


a) reforma dos setores de energia e transportes;
b) promoção do uso de fontes energéticas renováveis;

5
YUJI, Fernando. Protocolo de Kyoto, pp.1-3. Disponível em www.brasilescola.com/geografia/protocolo-kyoto.
htm. Data de acesso 15/11/2005.
6
FERREIRA, Carlos. Protocolo de Kyoto. Folha de São Paulo, com informações da BBC e do Ministério da
Ciência e Tecnologia, p. 1. Disponível em http://noticias.uol.com.br/vestibuol/atualidades/ult1685u163.jhtm.
Data de acesso 15/11/2005.
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c) eliminação de mecanismos financeiros e de mercado inadequados aos fins da


Convenção de Kyoto;
d) redução das emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas
energéticos;
e) proteção de florestas e outros sumidouros de carbono.

Um dos mecanismos mais comentados são os chamados Créditos Carbono. Estes são
“investimentos financeiros” que um país caso não consiga (ou não queira) reduzir sua
emissão dentro de sua meta, enviará para outros países, principalmente aqueles em
“desenvolvimento” para investir em programas de reflorestamento, reciclagem, ou qualquer
outra atividade que auxilie na redução do aquecimento global.

Um dos pontos em aberto no Protocolo é a punição aos países que não cumpram
suas metas até 2012. “Segundo o acordo, caso um país não cumpra a meta no primeiro
período de compromisso, ele teria de pagar a dívida no segundo, já que o protocolo prevê
uma nova etapa com a estipulação de cortes além de 2012”.

O Brasil assinou a carta de ratificação do acordo em 23 de julho de 2002. Mesmo não


sendo obrigado a reduzir sua emissão de gases por ser um país em desenvolvimento. No
entanto, é responsável pela produção de 250 milhões de toneladas de carbono – dez vezes
menos que os EUA. Os programas desenvolvidos pelo governo brasileiro para “implantação
da convenção do clima” são:
a) Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás
Natural;
b) Programa Nacional do Álcool (Proálcool); e
c) Programa de Redução de Emissões Veiculares.

A discussão do Protocolo de Kyoto entre os ambientalistas acentua a influência


humana nas mudanças climáticas e a responsabilidade dos países industrializados. Uma
crítica à abordagem dos problemas ambientais e do desenvolvimento pode ser feita se
considerarmos os efeitos históricos de todo o processo. Em 2012 quando o prazo para os

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primeiros resultados terminar é que poderemos avaliar com certeza o alcance dessas
medidas.

2.5 Movimento Ambientalista no Brasil7

A aglutinação das demandas ambientais no Brasil começou a se dar nos anos 1970.
Durante a ditadura militar (1964-1985), há uma série de movimentos sociais que tentam
encontrar respostas para seus problemas locais. O movimento ambiental soma-se aos outros
movimentos do período; moradia, transporte, saúde, etc. Segundo Pedro Jacobi, “a
aproximação das lutas ambientais e sociais no Brasil, deu origem ao socioambientalismo”. A
partir dos anos 90 houve uma crescente influência na “promoção de estratégia para um
novo estilo, sustentável, de desenvolvimento”.8

Esse movimento teria tido maior relevância na sociedade brasileira em meados da


década de 70, quando os primeiros grupos estruturados aparecem e com o estímulo da
Conferência de Estocolmo em 1972. Houve uma confluência entre as agências ambientais
estatais e algumas entidades ambientalistas. Essa relação, no entanto, dava-se em termos de
conflito e cooperação.

“A principal crítica é à excessiva tolerância com as indústrias pela poluição provocada


e à morosidade dos processos de fiscalização. A cooperação se fortalece a partir de
aproximações restritas a pequenos grupos da sociedade civil e pessoas que, dentro das
estruturas federal e estadual, acreditavam na importância de proteger o meio ambiente.
Outras questões diretamente ligadas ao agravamento da degradação ambiental, tais como
crescimento populacional e déficit de saneamento, não faziam parte da agenda dessas
organizações, contribuindo para uma visão limitada da realidade”.9

7
Ver nota de rodapé 3.
8
JACOBI, Pedro. Socioambientalismo. In: Almanaque Brasil Socioambiental. Instituto Socioambiental, São
Paulo, 2005, pp. 374-377. De acordo com o almanaque o socioambientalismo é um movimento brasileiro.
Afirma que poucos movimentos ou instituições no mundo possuem essa visão, tanto que, a palavra
socioambiental não têm tradução literal para nenhum outra língua e precisa ser interpretada pela idéia que
transmite.
9
JACOBI, op.cit., p. 374.
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Esses grupos se concentravam na região sul-sudeste e eram compostos por ativistas


que desenvolviam uma série de atividades. Exemplo: comunidades rurais, educação
ambiental, trabalhos de proteção e recuperação de ambientes degradados, proteção a
ambientes ameaçados etc.

Muitas ações eram feitas como denúncias e conscientização. Algumas campanhas


tiveram atuação nacional, como a Campanha Nacional contra o Desmatamento da Amazônia
em 1978; contra a inundação de Sete Quedas no rio Paraná (1979-1983). Também contra a
construção das usinas nucleares no Rio de Janeiro no período 1977-1985. Segundo Jacobi
essas campanhas obtiveram repercussão internacional e ajudaram na multiplicação de
pressões contra o governo brasileiro.

Na década de 1980, com a crise econômica e a crítica em relação ao modelo de


desenvolvimento adotado surgem também maiores pressões internacionais para a crise
ambiental.

Houve articulações entre Organizações Não Governamentais (ONGs) européias e


norte-americanas com as entidades brasileiras. Caracterizou-se também, esse período, por
“iniciativas para aprimorar os instrumentos legais de gestão ambiental” (legislação), escolha
de parte dos ambientalistas em entrar em instituições políticas (Partido Verde) e uma busca
das ONGs ambientalistas em se profissionalizar e se aproximar das ONGs sociais. Uma das
deficiências do movimento ambientalista era não possuir “nenhum diálogo ou repercussão
na população mais excluída, levando muito pouco em consideração as dimensões
socioeconômicas da crise ambiental”.10

Desde os anos 1990, no entanto, o movimento ambientalista brasileiro teria


conseguido superar essas barreiras. Haveria uma série de parcerias estabelecidas entre os
ambientalistas e as ONGs ou movimentos sociais. Exemplos: (a) aproximação entre com os
seringueiros da Amazônia e o apoio das ONGs à criação das reservas extrativistas (que
teriam ficado conhecidas internacionalmente após o assassinato de Chico Mendes em 22 de

10
Idem, p. 375.
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dezembro de 1988); (b) interação das ONGs com o Movimento Indígena, incorporando a luta
tradicional dos índios pela proteção de suas terras e a preservação do meio ambiente; (c)
aproximação com setores do Movimento dos Sem Terra (MST), incluindo a “variável
ambiental na luta pelo acesso a terá”; e, (d) aproximação junto a diversas associações de
bairro, que procurariam agora incluir a questão ambiental em suas demandas.11

Como podemos perceber pela enumeração de ações e parcerias, haveria uma


tendência no movimento brasileiro em buscar uma ampliação de suas ações, nos âmbitos
político e social. No entanto, muitos desafios ainda precisariam de solução.

“O socioambientalismo do século XXI tem uma complexa agenda pela frente. De um


lado, o desafio de ter uma participação cada vez mais ativa na governabilidade dos
problemas socioambientais e na busca de uma ambientalização dos processos sociais. De
outro, a necessidade de ampliar o escopo de sua atuação com engenharias institucionais que
ampliem seu reconhecimento na sociedade e estimulem o engajamento de novos atores”.12

Temos, assim, uma introdução à história do movimento ambientalista no Brasil. As


implicações da ideologia adotada pelo movimento que podemos identificar como uma
mistura entre o biocentrismo e o antropocentrismo, identifica-se, por sua vez, nas ações que
são realizadas pelo movimento, com o Desenvolvimento Sustentável. A sustentabilidade e a
gestão de recursos, como dito acima, são as palavras de ordem para qualquer ação que seja
direcionada ao meio ambiente. Principalmente, para que estas possam ser aceitas pelos
organismos governamentais.

Muito da discussão em torno do desenvolvimento sustentável incentiva a


participação da sociedade civil. Até mesmo, aponta essa participação como essencial na
solução da crise ambiental. A variedade de ONGs, movimentos e grupos especializados em
ações protecionistas e de cobrança para aplicação das legislações adequadas, criaria a
impressão de um amplo movimento favorável às indicações do Nosso Futuro Comum. No

11
Idem.
12
Idem, p. 376.
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entanto, de 1987 a 2005 percebemos que há uma distância muito grande entre o discurso
das Nações Unidas e a realidade global. Principalmente, dos países periféricos.

Nos países periféricos muito da questão ambiental, mesmo com as ações dos
movimentos ecológicos, perde ênfase ao ser confrontado com os problemas da miséria e
distribuição desigual das riquezas. Os partidos políticos com enfoque ambiental, como o
Partido Verde (PV) brasileiro não atinge as camadas da população mais pobres. Mantendo-se
como demanda identificada com as classes média.

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3 Desenvolvimento Sustentável: Que Bicho é Esse?13

À princípio, as palavras desenvolvimento e sustentabilidade parecem um tanto


quanto conflituosas para conviverem em harmonia no conceito de desenvolvimento
sustentável.

Hoje, a clássica questão econômica da escassez tem um enorme peso sobre o


processo decisório dos agentes econômicos, sejam famílias ou empresas. Por essa razão,
compreender cada um destes conceitos ajuda a explicar a intrincada rede de ações e
reações que a sociedade humana criou e as necessidades de construção de um modelo
econômico sustentado.

Dessa forma, antes de apresentar definições do assunto em foco desta apostila, é


fundamental desviarmos nosso olhar para os dois conceitos construtores da expressão que
tem produzido a maior revolução no uso dos fatores de produção desde a Revolução
Industrial.

3.1 Desenvolvimento14

O debate acerca do conceito de desenvolvimento é bastante rico no meio


acadêmico, principalmente quanto à distinção entre desenvolvimento e crescimento
econômico, pois muitos autores atribuem apenas os incrementos constantes no nível de
renda como condição para se chegar ao desenvolvimento, sem, no entanto, se preocupar
como tais incrementos são distribuídos. Deve-se acrescentar que apesar das divergências
existentes entre as concepções de desenvolvimento, elas não são excludentes. Na verdade,
em alguns pontos, elas se completam.

13
O título do capítulo refere-se à uma obra do professor José Eli da Veiga e da escritora Lia Zatz, que de manei-
ra exemplar, abordaram o tema de forma ampla, pertinente e acessível.
14
Texto baseado no artigo do economista Gilson Batista de Oliveira, publicado originalmente na Revista da FAE,
em Maio/Agosto de 2002.
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O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento


econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida, ou seja, deve incluir “as
alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da
economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza,
desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e moradia).

Os debates sobre o desenvolvimento econômico foram acirrados no período


posterior à segunda grande guerra. Com o término do conflito bélico, que foi resultado de
fatores econômicos, políticos e históricos muito profundos, que não cabe analisar aqui, o
tema foi encarado por todos os países, principalmente os aliados, que visavam livrar o
mundo, e, obviamente, seus próprios territórios, dos problemas que os perseguiam (e ainda
perseguem) nos períodos anteriores: guerra, desemprego, miséria, discriminação racial,
desigualdades políticas, econômicas e sociais. Essa preocupação revelou os anseios de
progresso e de melhoria das condições de vida das nações e regiões, que podem ser
vislumbrados tanto na primeira Declaração Inter-aliada de 1941, como na Carta do
Atlântico, do mesmo ano, que expressavam o desejo de criar condições para que todos os
homens possam desfrutar de seguridade econômica e social. Tais intenções foram
reafirmadas em diversas declarações e conferências que sucederam o período de guerra.

O debate sobre o tema é acirrado pela conceituação econômica do termo


desenvolvimento. Os economistas vêem surgir a necessidade de elaborar um modelo de
desenvolvimento que englobe todas as variáveis econômicas e sociais. Sob o prisma
econômico, desenvolvimento é, basicamente, aumento do fluxo de renda real, isto é,
incremento na quantidade de bens e serviços por unidade de tempo à disposição de
determinada coletividade.

O desenvolvimento deve ser encarado como um processo complexo de mudanças e


transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social.
Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na
renda – transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano,
tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outras.

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É desta maneira que o desenvolvimento passa a ser entendido como uma resultante
do processo de crescimento, cuja maturidade se dá ao atingir o crescimento auto-
sustentado, ou seja, talvez alcançar a capacidade de crescer sem fim, de maneira contínua.
Em nome do desenvolvimento buscam-se valores crescentes: mais mercadorias, mais anos
de vida, mais publicações científicas, mais pessoas com títulos de doutor, dentre vários
outros.

Dessa maneira, na procura pelo crescimento sempre está presente o sentimento de


que o bom é quando se tem mais, não importando a qualidade desse acréscimo. Nesse
sentido, são consideradas desenvolvidas as sociedades capazes de produzir continuamente.
É por isso que as nações perseguem o desenvolvimento (este como sinônimo de
crescimento econômico) com o objetivo de acumular cada vez mais bens, sem, no entanto,
se preocupar com os efeitos dessa acumulação desenfreada.

Mesmo com tanta controvérsia, o crescimento econômico, apesar de não ser


condição suficiente para o desenvolvimento, é um requisito para superação da pobreza e
para construção de um padrão digno de vida.

3.2 Sustentabilidade15

O que é sustentável? Esta indagação também provoca três padrões básicos de


resposta. Contudo, o que as diferencia não é seu grau de complexidade, como no caso do
desenvolvimento. Aqui, há duas teses extremas, que criam um impasse e um anátema no
âmbito da retórica científica. Já a terceira, que também procura abrir o tal “caminho do
meio”, por enquanto só faz parte da retórica político-ideológica. Outra vez, os três tipos de
respostas serão brevemente apresentados antes de serem examinados com mais atenção.

Em primeiro lugar, estão os que simplesmente acreditam que não exista dilema
entre conservação ambiental e crescimento econômico. Crêem, ao contrário, que seja

15
VEIGA, José Eli da. Como pode ser entendida a sustentabilidade. In: Desenvolvimento sustentável: o desafio
do século XXI. 3ª ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.
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factível combinar essa dupla exigência. Todavia, não há qualquer evidência científica sobre
as condições em que poderia ocorrer tal conciliação. E as posições dos economistas podem
variar de “A” a “Z” justamente porque ainda não é possível demonstrar uma das duas
possibilidades extremas da polêmica.

O debate científico internacional passou recentemente a ser pautado pela hipótese


ultra-otimista de que o crescimento econômico só prejudicaria o meio ambiente até um
determinado patamar de riqueza aferida pela renda per capita. A partir dele, a tendência
seria inversa, fazendo com que o crescimento passasse a melhorar a qualidade ambiental.
Raciocínio idêntico à velha parábola sobre a necessidade de primeiro fazer o bolo crescer
para depois distribuí-lo melhor. Tanto é, que essa hipótese tem sido chamada de “curva
ambiental de Kuznets”, por analogia à famosa curva em “U” invertido proposta em meados
dos anos 1950 pelo terceiro ganhador do prêmio Nobel de Economia, em 1971.

Os precários dados estatísticos disponíveis no pós-Segunda Guerra Mundial, além de


serem apenas sobre um punhado de casos, levaram Simon Kuznets a achar que pudesse
existir uma lei que regeria a relação entre o crescimento do PIB e a desigualdade de renda.
Piorava na arrancada, mas melhorava depois de ultrapassar certo patamar de riqueza. Para
o desgosto do que acham que o capitalismo é o fim da história, tal hipótese foi descartada
quando estatísticas sobre um grande número de países que, nos últimos cinqüenta anos, as
relações entre crescimento e desigualdade foram das mais heterogêneas. Há tudo quanto é
tipo de curva, até em “U” invertido.

Idêntica conjectura sobre a relação entre crescimento e meio ambiente foi lançada
nas páginas de um dos mais respeitados periódicos científicos de economia: o “QJE” (The
Quarterly Journal of Economics, maio 1995, pp. 353-77). Ao examinar a relação entre o
comportamento da renda per capita e quatro tipos de indicadores de deterioração
ambiental – poluição atmosférica urbana, oxigenação de bacias hidrográficas e duas de suas
contaminações (fecal e por metais pesados) – Gene M. Grossman e Alan B. Krueger
concluíram que as fases de desgraça e recuperação ambiental estariam separadas por um
ponto de mutação que se situaria em torno de 8 mil dólares de renda per capita.

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O destino dessa hipótese certamente será idêntico. Quando um grande número de


países tiver indicadores confiáveis sobre um leque mais amplo de variáveis ecológicas,
constatar-se-á que são tão diversos os estilos de crescimento e as circunstâncias em que ele
ocorre, que deve ser rejeitada a idéia de tão linear relação entre qualidade ambiental e
renda per capita. Aliás, já existem bons indicadores que revelam as tragédias ambientais de
países riquíssimos (...). Todavia, até que a comunidade científica se convença do contrário, a
panglossiana16 proposição de Grossman & Krueger continuará a pautar o debate. Centenas
de sofisticadíssimos testos serão relatados em periódicos do calibre do QJE até que ela
possa cair em descrédito.

Seja qual for o futuro resultado dessa colossal polêmica, o que já está claro é que a
hipotética conciliação entre o crescimento econômico moderno e a conservação da
natureza não é algo que possa ocorrer no curto prazo, e muito menos, de forma isolada, em
certas atividades, ou em locais específicos. Por isso, nada pode ser mais bisonho do que
chamar de “sustentável” esta ou aquela proeza. Para que a utilização desse adjetivo não
seja tão abusiva, é fundamental que seus usuários rompam com ingenuidade e se informem
sobre respostas disponíveis para a pergunta “o que é sustentabilidade”.

3.3 Desenvolvimento versus Sustentabilidade?

“Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente


sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades, sobretudo as necessidades dos mais pobres”. Visa promover a harmonia
entre os seres humanos e a natureza. É a fusão do crescimento econômico com
responsabilidade ambiental, social e espacial.

Esse conceito foi apresentado em 1987 no Relatório Brundtland – Nosso Futuro


Comum, que foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

16
Relativo à figura literária do doutor Pangloss (personagem do romance Cândido, de Voltaire), que professava
um otimismo beato, e para quem tudo parecia correr às mil maravilhas.
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Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas e presidida pela então Primeira-Ministra da


Noruega, Gro Harlen Brundtland.

Esta ação faz parte de uma série de iniciativas que reafirmam uma visão crítica do
modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas
nações em desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos
naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas.

Fica muito claro, nessa visão das relações homem-meio ambiente, que não existe
apenas um limite mínimo para o bem-estar da sociedade; há também um limite máximo
para a utilização dos recursos naturais, de modo que sejam preservados.

Os pontos centrais do conceito de desenvolvimento sustentável, contidos no


relatório Nosso Futuro Comum, também tornaram-se referência para o delineamento de
outro conjunto de intenções, a Agenda 2117:

"... tipo de desenvolvimento capaz de manter o progresso humano não apenas em


alguns lugares e por alguns anos, mas em todo o planeta e até um futuro
longínquo. Assim, o "desenvolvimento sustentável" é um objetivo a ser alcançado
não só pelas nações ‘em desenvolvimento’, mas também pelas industrializadas.

"... atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as


gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos
chaves: i) o conceito de ‘necessidades’, sobretudo as necessidades essenciais dos
pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade e: ii) "a noção das
limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao meio
ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no


qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam
o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações
humanas". (NOSSO FUTURO COMUM, 1991)

17
A Agenda 21 é um programa de ação, baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais
ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de
desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Trata-
se de um documento consensual para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179
países num processo preparatório que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro, também
conhecida por ECO-92. Além da Agenda 21, resultaram desse processo cinco outros acordos: a Declaração
do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade Biológica e a
Convenção sobre Mudanças Climáticas.
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3.4 Definições Complementares

O modelo de desenvolvimento sustentável é uma forma de conciliar as necessidades


de modificação da biosfera com a capacidade de suporte da mesma, de modo a garantir que
os bens e serviços naturais estejam disponíveis também para as gerações vindouras. Ou
seja, a idéia é crescer sem destruir o ambiente e esgotar os recursos naturais.

Essa definição, no entanto, é considerada limitada por alguns cientistas já que não
aborda outros aspectos como o político e o social, não adianta tentar mudar algumas coisas
se a lógica do consumo continua a mesma, assim esta é outra crítica ao conceito de
desenvolvimento sustentável.

Dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, foi criado o Triple Bottom Line


(Figura 1), que pode ser traduzido como tripé da sustentabilidade. Os três P’s do Triple
Bottom Line são: People, Planet and Profit18. Além dos P’s, aspectos políticos e culturais
também devem ser levados em conta.

Figura 1 – Quadro do Triple Bottom Line

Um índice que surgiu com o conceito de sustentabilidade é o Índice de Progresso


Genuíno (GPI), que é baseado no PIB que inclui outros itens como custos do crime, exaustão

18
Pessoas, Planeta e Lucro.
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de recursos e diminuição do tempo de lazer. Também temos os três R’s do consumo


consciente são reduzir, reutilizar e reciclar.

É possível afirmar que chegamos ao início do século XXI com um conceito de


desenvolvimento sustentável bem mais amadurecido, que não está mais restrito as
discussões acadêmicas e políticas, de defensores e contestadores, mas que se popularizou
por todos os continentes, passando a fazer parte da vida cotidiana das pessoas.

Um conceito que está presente desde as pequenas atitudes diferenciadas de


comportamento, como a separação e a reciclagem do lixo doméstico, tomadas pelo cidadão
comum, até as grandes estratégias e investidas comerciais de algumas empresas as quais se
especializaram em atender um mercado consumidor em franco crescimento, que hoje cobra
essa qualidade diferenciada tanto dos produtos que consome, quanto dos processos
produtivos que o envolvem; uma verdade que abre grandes perspectivas para o futuro. Uma
forma de desenvolvimento que não está mais no plano abstrato, e que se mostra cada dia
mais real e possível, principalmente no plano local.

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4 Dimensões da Sustentabilidade

Para discutir a sustentabilidade, é necessário a reflexão relacionada ao local onde


habitamos, ou seja, o Planeta Terra. Ao discutirmos isso, temos que necessariamente
abordar temas específicos como: saúde , habitação, economia, pobreza, miséria, educação e
outros aspectos que interferem diretamente na nossa qualidade de vida.

Desse modo, todos os aspectos que, de alguma forma, interferem nas nossas ações
e, ao mesmo tempo, produzem impactos nas comunidades envolvidas, alterando o meio
que as cercam devem ter especial atenção e criteriosa observação. Apenas baseado neste
pressuposto que será possível definir novas políticas de desenvolvimento, as quais possam
contribuir para o efetivo alcance da eqüidade sócio-econômica, sem que isso signifique
produzir uma perspectiva sombria à existência do Homem na Terra.

Para a compreensão ampla sobre as dimensões da sustentabilidade, é fundamental


analisarmos, primeiramente, o conceito de externalidades.

4.1 Externalidades

O conceito de externalidade refere-se à ação que um determinado sistema causa em


outros sistemas externos, direta ou indiretamente.

Para a economia, o conceito foi desenvolvido pelo economista inglês Arthur Cecil
Pigou, em 1920, que estabeleceu que existe uma externalidade quando a produção de uma
empresa (ou um consumo individual) afeta o processo produtivo ou um padrão de vida de
outras empresas ou pessoas, na ausência de uma transação comercial entre elas.

Externalidades surgem quando o consumo ou a produção de um bem gera efeitos


adversos (ou benefícios) a outros consumidores e/ou firmas, e estes não são compensados
efetivamente no mercado, via o sistema de preços.

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As externalidades podem ser positivas ou negativas. Positivas quando a ação causada


por um sistema beneficia outros, como quando a empresa trata seus resíduos antes de jogá-
los nos rios, a qualidade da água melhora e assim as terras ao redor dele são valorizadas.
Negativas quando a ação causada trás malefícios a outros sistemas, como o caso contrario
dado à cima, uma empresa não trata seus resíduos, assim polui o rio e as cidades q ficam no
decorrem do rio são prejudicadas pela água contaminada.

Em alguns casos pode ocorrer externalidades positivas e negativas ao mesmo tempo,


como na construção de uma hidroelétrica, que ao mesmo tempo em que beneficia irrigando
áreas antes não irrigadas e ajudando na agricultura, ela também ajuda na proliferação de
mosquitos na água parada e na destruição animal e vegetal do local.

No caso de a externalidade ser negativa, entre em regimento um novo conceito, o de


internalização. Quando ocorre uma externalidade negativa, é feito um estudo para
descobrir o causador dessa externalidade, encontrado o responsável, ele é obrigado a
internalizar esse problema, ou seja, é dele a responsabilidade de corrigir esse problema, seja
por meio de tratamento de seus resíduos ou modificação de seu modo de produção, isso
quando a externalidade pode ser corrigida. No caso da externalidade não poder mais ser
revertida, o responsável é multado e tem que pagar multas até deixar de ser causador da
externalidade em questão.

Com isso, vemos que muitas vezes sai mais caro para a empresa manter-se como
está, sem modificar seu modo de produção e diminuir seus efeitos de destruição ambiental,
do que aos poucos investir em melhorias e se tornar uma empresa sustentável e assim
contribuir para uma melhoria ambiental.

4.2 Sustentabilidade Social

Esta dimensão social da estabilidade realça o papel dos indivíduos e da sociedade, e


está intimamente ligada à noção de bem-estar. Os princípios da sustentabilidade social

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clarificam o papel dos indivíduos e a organização da sociedade e, tendo por objetivo a


estabilidade social beneficiam também as gerações futuras. Estes são:
 a garantia da auto-determinação e dos direitos humanos dos cidadãos;
 a garantia de segurança e justiça através de um sistema judicial fidedigno e
independente;
 a luta constante pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, que não deve
ser reduzida ao bem-estar material;
• a promoção da igualdade de oportunidades;
 a inclusão dos cidadãos nos processos de decisão social, a promoção da
autonomia da solidariedade e da capacidade de auto-ajuda dos cidadãos;
 a garantia de meios de proteção social fundamentais para os indivíduos mais
necessitados.

4.3 Sustentabilidade Econômica

O conceito é redutor já que também os recursos econômicos têm de ser


preservados, assim como o espaço de manobra para as gerações futuras. Além disso, a
sustentabilidade ecológica só pode ser alcançada por sociedades que desenvolvam
comportamentos economicamente sustentáveis.

Os seus princípios residem sobretudo:


• na organização de estruturas econômicas de longo prazo que devem responder às
exigências de sistemas estáveis;
• na preservação do capital real, como infra-estruturas e edifícios;
• na estabilização do valor monetário, prevenindo a inflação;
• no fato dos custos dos benefícios e serviços deverem ser pagos pela geração que
deles beneficia-se;
• na restrição parcial ou total do endividamento, pois cada geração deve, pelo
menos, preservar o seu próprio capital recebido da geração dos seus pais e passá-
lo à geração seguinte;

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• no uso eficaz dos recursos;


• na garantia de todos os serviços econômicos serem produzidos de forma
transparente e tendo em conta todas as despesas;
• no fato de os impostos pagos por cidadãos e empresas serem orientados para a
sua capacidade de pagamento;
• na negociação de pactos inter-gerações justos, que não coloquem em desvan-
tagem as gerações futuras.

4.4 Sustentabilidade Ecológica

Sendo o ambiente fundamental para a vida, é natural que estes aspectos tenham
dominado a discussão inicial em volta da sustentabilidade. Até porque é contemporânea das
primeiras percepções de risco ambiental e ameaças à vida no planeta.

Os princípios fundamentais associados à sustentabilidade ambiental são:


• a restrição ao uso de energias não renováveis (como o petróleo) que só devem ser
usadas mediante compromisso de criação proporcional de fontes de energia
alternativas;
• o uso cuidadoso das energias renováveis que nunca devem ser consumidas de
forma a exceder a sua capacidade de regeneração;
• a limitação de descarga de substâncias no meio ambiente que não deve
ultrapassar a capacidade de assimilação do mesmo;
• os riscos e o perigo para a vida humana provocados pelo Homem devem ser
evitados.

As questões ambientais estiveram sempre no cerne do conceito de sustentabilidade


e também sempre que se verificavam perigos iminentes para a sobrevivência da espécie
humana. Recentemente, assumiu maior peso a abrangência da dimensão ambiental,
estendida à todas as espécies, à preservação da biodiversidade e dos ecossistemas.

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4.5 Sustentabilidade Espacial

Voltada a uma configuração rural-urbana mais equilibrada e a uma melhor


distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas, com ênfase nas
seguintes questões:
• concentração excessiva nas áreas metropolitanas;
• destruição de ecossistemas frágeis, mas vitalmente importantes, por processos de
colonização descontrolados;
• promoção de projetos modernos de agricultura regenerativa e agroflorestamento,
operados por pequenos produtores, proporcionando para isso o acesso a pacotes
técnicos adequados, ao crédito e aos mercados;
• ênfase no potencial para industrialização descentralizada, associada a tecnologias
de nova geração (especialização flexível), com especial atenção às indústrias de
transformação de biomassa e ao seu papel na criação de empregos rurais não
agrícolas;
• estabelecimento de uma rede de reservas naturais e de biosfera para proteger a
biodiversidade.

4.6 Sustentabilidade Cultural

Os aspectos culturais e educacionais desempenham um papel fundamental para a


sustentabilidade, pois incorporam os princípios básicos da sociedade e a sua forma de vida.
Num mundo onde cada vez mais culturas se cruzam e aproximam-se, muitas vezes através
de processos dolorosos, é fundamental encarar o desafio da diversidade cultural como
forma de enriquecimento coletivo, salvaguardando especificidades culturais ao mesmo
tempo que se constroem sentimentos maiores e mais abrangentes com que os indivíduos se
possam identificar.

Os princípios que regem a sustentabilidade cultural e educativa são a criação de


condições para o desenvolvimento da personalidade de adolescentes e jovens através de:

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• a garantia de condições mínimas como estruturas apropriadas, condições de bem-


estar, solidariedade, justiça e liberdade;
• a transmissão de valores fundamentais e do sentido de responsabilidade e ordem
social;
• a atenção dada pela sociedade à complexidade dos sistemas e à dinâmica de
mudanças criando competências para enfrentar os seus riscos e desafios;
• facilitar a educação com objetivos profissionais e investir no desenvolvimento de
um sistema de educação sólido entre gerações.

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5 Responsabilidade Socioambiental

Embora já haja diversos exemplos de práticas de gestão socialmente responsável, a


inserção da sustentabilidade e responsabilidade social às práticas diárias de gestão ainda
representa um grande desafio para grande parte da comunidade empresarial brasileira. A
associação desses conceitos à gestão dos negócios deve necessariamente expressar o
compromisso efetivo de todos os escalões da empresa, de forma permanente e estruturada.

O compromisso do público interno traduz a qualidade da inserção do tema na cultura


organizacional. Em outras palavras, uma organização não consegue ratificar a sua identidade
sem que seu público interno – seus colaboradores mais diretos – o faça em suas relações
cotidianas. É por conta disso que a sustentabilidade e a responsabilidade social empresarial
não podem ser atribuídas apenas em nível institucional, mas precisam ser ratificadas pelo
público interno que reconstrói um contexto organizacional mais inclusivo. A educação
corporativa e os sistemas de gestão têm um papel essencial nisto.

Essa nova visão pressupõe um processo de profunda mudança na cultura


organizacional e, conseqüentemente, nos processos, produtos e, em última análise, nos
modelos de negócio.

Em muitos casos, a alta direção está comprometida com a sustentabilidade


empresarial, mas não encontra mecanismos para fazer com que seu público interno assimile
este conceito e mude sua postura. Por outras vezes, a lógica de mercado, que pressiona pela
minimização de custos e maximização de resultados no curto prazo, impede uma reflexão
maior sobre a função social de cada negócio.

Em última análise, o ideal seria que as empresas de medicamentos fossem, na


realidade, empresas de saúde; as empresas automobilísticas, empresas de transporte e
mobilidade, e assim sucessivamente. Cada negócio encontraria sua verdadeira função social,
em um mundo em que as relações de poder e consumo devem ser repensadas.19

19
Texto retirado de reportagem publicada, originalmente, na Revista de Apoio à Tecnologia (2005).
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5.1 Conceito

Entre as diversas abordagens e definições em torno do tema, é interessante


observarmos conceito proposto pelo IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor:

“(…) uma postura ética permanente das empresas no mercado de consumo e na


sociedade. Muito mais que ações sociais e filantropia, a responsabilidade social, no
nosso entendimento, deve ser o pressuposto e a base da atividade empresarial e
do consumo. Engloba a preocupação e o compromisso com os impactos causados
a consumidores, meio ambiente e trabalhadores; os valores professados na ação
prática cotidiana no mercado de consumo – refletida na publicidade e nos
produtos e serviços oferecidos; a postura da empresa em busca de soluções para
eventuais problemas; e, ainda, a transparência nas relações com os envolvidos nas
20
suas atividades.”

Dessa forma, podemos entender a responsabilidade socioambiental como um


conceito, segundo o qual, as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma
sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Com base nesse pressuposto, a gestão
das empresas não pode e não deve ser norteada apenas para o cumprimento de interesses
dos proprietários das mesmas, mas também pelos de outros detentores de interesses
(stakeholders) como trabalhadores, comunidades locais, clientes, fornecedores, autoridades
públicas, concorrentes e sociedade em geral.

Entretanto, o conceito de responsabilidade socioambiental deve ser entendido em


dois níveis. O primeiro, nível interno, relaciona-se com os trabalhadores e, mais
genericamente, a todas as partes interessadas alcançadas pela empresa e que, por seu
turno, podem influenciar os seus resultados. O nível externo, por sua vez, tem em conta as
conseqüências das ações de uma organização sobre os seus componentes externos,
notadamente, o ambiente e os seus parceiros de negócio.

Trata-se, portanto, de um processo relacionado a questões específicas de tempo e


espaço, de evolução de pensamento e de práticas relacionadas a situações circunscritas a
determinados organismos – sistemas econômicos e políticos vigentes em determinados
países e suas organizações. E, também, um processo dinâmico, posto que reflete o próprio

20
IDEC. Disponível em: http://www.idec.org.br/bancos/responsabilidade_social_bancos/o_que_e_responsa
bilidade_socioambiental.html.
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meio social, no qual se entrecruzam diversos fatores de ordem econômica, política e


cultural; envolvendo diversos segmentos da sociedade – cidadãos, consumidores,
organizações públicas ou privadas, comunidades etc.

Numa tentativa de aplicação racional do termo responsabilidade social,


complementa este conceito: “Responsabilidade Social consiste no somatório de atitudes
assumidas por agentes sociais – cidadãos, organizações públicas, privadas com ou sem fins
lucrativos – estreitamente vinculadas a ciência do dever humano (ética) e voltadas para o
desenvolvimento sustentado da sociedade.”21

5.2 Responsabilidade Social Empresarial

De acordo com o Instituto Ethos, a Responsabilidade Social Empresarial pode ser


compreendida como:

“… a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa


com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de
metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras,
respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.”22

As transformações sócio-econômicas dos últimos 20 anos têm afetado


profundamente o comportamento de empresas até então acostumadas à pura e exclusiva
maximização do lucro.

Se por um lado o setor privado tem cada vez mais lugar de destaque na criação de
riqueza; por outro lado, vem grande responsabilidade. Em função da capacidade criativa já
existente, e dos recursos financeiros e humanos disponíveis, empresas têm uma intrínseca
responsabilidade social.

21
FERNANDES, Ângela. A responsabilidade social e a contribuição das relações públicas. Comunicação
apresentada ao GT de Relações Públicas, da INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação, no XXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 2 a 6 de setembro
de 2000 na Universidade do Amazonas, Manaus – AM. Disponível em: http://www.portal-rp.com.br/
bibliotecavirtual/responsabilidadesocial/0098.htm.
22
ETHOS, Instituto. O que é RSE. Disponível em: http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/29/o_que_e_rse/
o_que_e_rse.aspx. Acesso em: 16/09/2010.
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A idéia de responsabilidade social incorporada aos negócios é, portanto,


relativamente recente. Com o surgimento de novas demandas e maior pressão por
transparência nos negócios, empresas se vêem forçadas a adotar uma postura mais
responsável em suas ações.

Infelizmente, muitos ainda confundem o conceito com filantropia, mas as razões por
trás desse paradigma não interessam somente ao bem estar social, mas também envolvem
melhor performance nos negócios e, conseqüentemente, maior lucratividade. A busca da
responsabilidade social corporativa tem, grosso modo, as seguintes características:

 É plural. Empresas não devem satisfações apenas aos seus acionistas. Muito pelo
contrário. O mercado deve agora prestar contas aos funcionários, à mídia, ao
governo, ao setor não-governamental e ambiental e, por fim, às comunidades
com que opera. Empresas só têm a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais
em seus processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas
representa uma mudança de comportamento da empresa, mas também significa
maior legitimidade social;

 É distributiva. A responsabilidade social nos negócios é um conceito que se aplica


a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final deve ser avaliado por
fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é de interesse comum e, portanto,
deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo. Assim como
consumidores, empresas também são responsáveis por seus fornecedores e
devem fazer valer seus códigos de ética aos produtos e serviços usados ao longo
de seus processos produtivos;

 É sustentável. Responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de


desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável em relação ao ambiente e
à sociedade, não só garante a não escassez de recursos, mas também amplia o
conceito a uma escala mais ampla. O desenvolvimento sustentável não só se
refere ao ambiente, mas por via do fortalecimento de parcerias duráveis,
promove a imagem da empresa como um todo e por fim leva ao crescimento
orientado. Uma postura sustentável é por natureza preventiva e possibilita a
prevenção de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais;
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 É transparente. A globalização traz consigo demandas por transparência. Não


mais nos bastam mais os livros contábeis. Empresas são gradualmente obrigadas
a divulgar sua performance social e ambiental, os impactos de suas atividades e as
medidas tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. Nesse sentido,
empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais, onde sua performance é
aferida nas mais diferentes modalidades possíveis. Muitas empresas já o fazem
em caráter voluntário, mas muitos prevêem que relatórios sócio-ambientais serão
compulsórios num futuro próximo.

Muito do debate sobre a responsabilidade social empresarial já foi desenvolvido


mundo afora, mas o Brasil tem dado passos largos no sentido da profissionalização do setor
e da busca por estratégias de inclusão social através do setor privado.23

5.3 Terceiro Setor

O primeiro setor é o governo, que é responsável pelas questões sociais. O segundo


setor é o privado, responsável pelas questões individuais. Com a falência do Estado, o setor
privado começou a ajudar nas questões sociais, através das inúmeras instituições que
compõem o chamado terceiro setor. Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações
sem fins lucrativos e não governamentais, que têm como objetivo gerar serviços de caráter
público.

Portanto, genericamente, o terceiro setor é visto como derivado de uma conjugação


entre as finalidades do primeiro setor e a metodologia do segundo, ou seja, composta por
organizações que visam a benefícios coletivos.

O espaço criado pelo terceiro setor se configura, então, como aquele de iniciativas de
participação cidadã. As ações que se constituem neste espaço são tipicamente extensões da

23
Texto retirado do sítio: http://www.responsabilidadesocial.com/institucional/institucional_view.php?id=1.
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esfera pública não executadas pelo Estado e caras demais para serem geridas pelos
mercados.

As organizações que fazem parte deste setor apresentam as seguintes características:

 Estruturada: Possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos, ou


algum grau de organização permanente;

 Privada: Estas organizações não têm nenhuma relação institucional com governos,
embora possam dele receber recursos;

 Não distribuidoras de lucros: Nenhum lucro gerado pode ser distribuído entre
seus proprietários ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas organizações não
é o fato de não possuírem ‘fins lucrativos’, e sim, o destino que é dado a estes,
quando existem;

 Autônoma: Possuem os meios para controlar sua própria gestão, não sendo
controladas por entidades externas;

 Voluntária: Envolvem um grau significativo de participação voluntária (trabalho


não remunerado). A participação de voluntário pode variar entre organizações e
de acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida.

5.3.1 Principais Personagens

5.3.1.1 Fundações

São as instituições que financiam o terceiro setor, fazendo doações às entidades


beneficentes. No Brasil, temos também as fundações mistas que doam para terceiros e ao
mesmo tempo executam projetos próprios. Temos poucas fundações no Brasil. Depois de 5
anos, o GIFE - Grupo de Instituições, Fundações e Empresas - com heróico esforço, conseguiu
66 fundações como parceiras. No entanto, muitas fundações no Brasil têm pouca atuação na
área social. Nos Estados Unidos já existem 40.000 fundações, sendo que a 10º colocada tem
10 bilhões de dólares de patrimônio. Nossa maior fundação tem 1 bilhão.
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Devido à inflação, seqüestros de dinheiro e congelamentos, a maioria de nossas


fundações não tem fundos. Vivem de doações anuais das empresas que as constituíram. Em
épocas de recessão, estas doações mínguam, justamente quando os problemas sociais
aumentam.

O conceito de fundação é, justamente, o de acumular fundos nos anos bons para


poder usá-los nos anos ruins. A Fundação Bradesco é um dos raros exemplos de fundação
com fundos.

5.3.1.2 Entidades Beneficentes

São as operadoras de fato, cuidam dos carentes, idosos, meninos de rua, drogados e
alcoólatras, órfãos e mães solteiras; protegem testemunhas; ajudam a preservar o meio
ambiente; educam jovens, velhos e adultos; profissionalizam; doam sangue, merenda, livros,
sopão; atendem suicidas às quatro horas da manhã; dão suporte aos desamparados; cuidam
de filhos de mães que trabalham; ensinam esportes; combatem a violência; promovem os
direitos humanos e a cidadania; reabilitam vítimas de poliomelite; cuidam de cegos, surdos-
mudos; enfim, fazem tudo. São publicados números que vão desde 14.000 a 220.000
entidades existentes no Brasil, o que inclui escolas, associações de bairro e clubes sociais.

5.3.1.3 Fundos Comunitários

Community Chests são muito comuns nos Estados Unidos. Em vez de cada empresa
doar para uma entidade, todas as empresas doam para um Fundo Comunitário, sendo que
os empresários avaliam, estabelecem prioridades, e administram efetivamente a distribuição
do dinheiro. Um dos poucos fundos existente no Brasil, com resultados comprovados, é a
FEAC, de Campinas.

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5.3.1.4 Entidades Sem Fins Lucrativos

Infelizmente, muitas entidades sem fins lucrativos são, na realidade, lucrativas ou


atendem os interesses dos próprios usuários. Um clube esportivo, por exemplo, é sem fins
lucrativos, mas beneficia somente os seus respectivos sócios. Muitas escolas, universidades
e hospitais eram no passado, sem fins lucrativos, somente no nome. Por isto, estes números
chegam a 220.000. O importante é diferenciar uma associação de bairro ou um clube que
ajuda os próprios associados de uma entidade beneficente, que ajuda os carentes do bairro.

5.3.1.5 ONG’s (Organizações Não Governamentais)

Nem toda entidade beneficente ajuda prestando serviços a pessoas diretamente.


Uma ONG que defenda os direitos da mulher, fazendo pressão sobre nossos deputados, está
ajudando indiretamente todas as mulheres. Nos Estados Unidos, esta categoria é chamada
também de Advocacy Groups, isto é, organizações que lutam por uma causa. Lá, como aqui,
elas são muito poderosas politicamente.

Na legislação brasileira, essas entidades também podem ser caracterizadas ou


definidas como OSCIP’s – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público.24

5.3.1.6 Empresas com Responsabilidade Social

A Responsabilidade Social, no fundo, é sempre do indivíduo, nunca de uma empresa


jurídica, nem de um Estado impessoal. Caso contrário, as pessoas repassariam as suas
responsabilidades às empresas e ao governo, ao invés de assumirem para si.

24
Existe uma certa confusão no que diz respeito ao termo OSCIP. De modo geral, a OSCIP é entendida como
uma instituição em si mesma, porém, OSCIP é uma qualificação decorrente da lei nº 9.790 de 23/03/99.
Não há no direito brasileiro qualquer designação de ONG. Se procurarmos no Código Civil ou em outra lei a
sigla ONG, não vamos encontrar. Não há uma espécie de sociedade chamada ONG no Brasil, mas um
reconhecimento supralegal, de cunho cultural, político e sociológico que está em vigor mundo afora.
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Mesmo conscientes disso, vivem reclamando que os "outros" não resolvem os


problemas sociais do Brasil. Porém, algumas empresas vão além da sua verdadeira
responsabilidade principal, que é fazer produtos seguros, acessíveis, produzidos sem danos
ambientais, e de estimular seus funcionários a serem mais responsáveis. O Instituto Ethos –
organização sem fins lucrativos criado para promover a responsabilidade social nas
empresas - foi um dos pioneiros nesta área.

5.3.1.7 Pessoas Físicas

No mundo inteiro, as empresas contribuem somente com 10% da verba filantrópica


global, enquanto as pessoas físicas, notadamente da classe média, doam os 90% restantes.
No Brasil, a nossa classe média doa, em média, 23 reais por ano, menos que 28% do total
das doações. As fundações doam 40%, o governo repassa 26% e o resto vem de bingos
beneficentes, leilões e eventos.

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6 Política Ambiental

A preocupação com o meio ambiente entrou na agenda em escala mundial a partir


dos anos 1970, com o devido reconhecimento de sua gravidade, quando, em meio à crise
econômica, se passou a perceber que o boom do pós-guerra havia redundado em problemas
de outra natureza, como níveis de poluição altamente comprometedores da qualidade de
vida e elevado risco de esgotamento dos recursos naturais.

O debate veio a evidência com a realização da I Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Conferência de Estocolmo), realizada em 1972,
constituindo-se um marco fundamental na política ambiental global, representando o
primeiro fórum de discussões dos problemas ambientais. Resultaram desta conferência, a
“Declaração sobre o Ambiente Humano” ou “Declaração de Estocolmo” e o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Desde então, a política demonstra a preocupação com o meio ambiente, como a


elaboração do Protocolo de Montreal (1987), que determinava a redução de 50% na
produção e consumo dos CFC's, a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento – RIO92 (1992), de onde saiu o documento Agenda 21, e o Protocolo de
Kyoto (1997), para a redução da emissão de carbono e gases na atmosfera.

Atualmente já está em discussão a formulação de um novo protocolo para a


substituição do protocolo de Kyoto, além da tendência mundial de ações governamentais
que apóiam uma gestão empresarial verde, ou seja, com desenvolvimento sustentável, e
também de criam instrumentos de regulamentação de fiscalização.

6.1 Legislação Ambiental

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), regida pela Lei nº 6.938 de 31 de


Agosto de 1981, apresenta como alguns de seus instrumentos:

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 o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

 o zoneamento ambiental;

 a avaliação de impactos ambientais;

 o licenciamento ambiental;

 a criação de áreas legalmente protegidas;

 a aplicação de penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento


das medidas necessárias à preservação ou correção de degradação ambiental.

A Lei 6.938/81 apresenta, ainda, a estruturação do Sistema Nacional de Meio


Ambiente (SISNAMA), composto por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos territórios e dos Municípios, responsáveis pela proteção e melhoria da
qualidade ambiental. O órgão superior do SISNAMA é o CONAMA (Conselho Nacional do
Meio Ambiente), com a função de assistir ao Presidente da República na formulação de
diretrizes da PNMA. O órgão central do SISNAMA é o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente), com a função de promover, disciplinar e avaliar a implementação da PNMA.

Dentre outras leis, podemos citar também:


 Lei 9.605 – Lei de Crimes Ambientais, de 12 de Fevereiro de 1998;
 Lei 9.433 – Lei Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, de 8 de Janeiro
de 1997;
 Lei 10.257 – Estatuto das Cidades, de 10 de Julho de 2001;
 Lei 9.985 – Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), de 18 de Junho
de 2000;
 Lei 4.771, alterada pela Lei 7.803 – Áreas de Preservação Permanentes e Reservas
Legais, de 20 de Março de 2002;
 Resolução do CONAMA nº 001/86 – Avaliação de Impactos Ambientais;
 Resolução CONAMA nº 237/97 – Licenciamento Ambiental.

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Tais leis amparam os órgãos fiscalizadores brasileiros no cumprimento do dever de


preservação e desenvolvimento sustentável e punem, conforme sanções previstas,
empresas que descumprem as orientações e determinações legais.

6.2 Política Ambiental

6.2.1 Intervenção Governamental

Por que os governos precisam realmente intervir? A resposta é que em assuntos


ambientais a mão invisível do mercado não consegue alinhar os interesses individuais ou
empresariais com os sociais em geral. As pessoas podem guiar seus carros e não tomar
ônibus para ir ao trabalho, as empresas podem usar clorofluorcarbonatos em seus
refrigeradores comerciais.

Em ambos os casos, os custos para a sociedade em geral, pela fumaça do transito


num caso e pela camada de ozônio danificada no outro, excedem qualquer custo privado
individual ou empresarial. Só o mercado não basta. Os governos precisam intervir para
alinhar os custos privados com os da sociedade como um todo.25

Para que o governo consiga controlar são criados mecanismos para garantir um
desenvolvimento sustentável, como por exemplo, a criação de padrões de emissão de
poluentes, que além das emissões controlam os processos e equipamentos, que é o caso do
protocolo de Kyoto.

Outro mecanismo a ser citado é o zoneamento, que é a determinação de áreas em


que não são permitidas certas atividades, como por exemplo, mineração, e também as
licenças, que é a concessão via acordo de áreas para produção, a fim de restringir atividades
em determinadas áreas ou a certos períodos do ano, como por exemplo, a indústria
pesqueira.

25
CAIRNCROSS, p. 99, 1992.
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Por fim, a criação de cotas regulamenta a extração de recursos naturais, para que
não haja uma produção predatória e garanta a preservação do meio ambiente. Ainda temos
os órgãos de fiscalização governamental que fazem com que as leis e regulamentações
vigentes sejam cumpridas, como veremos posteriormente.

6.2.2 Instrumentos Econômicos

A teoria econômica que fundamenta a maior parte da discussão sobre políticas


ambientais em nível internacional tem por base o conceito de externalidade. Isto é, a
degradação ambiental é traduzida como discrepância entre os custos privados e sociais. A
melhor recomendação política é segundo essa orientação, a aplicação de instrumentos
econômicos que incentivem os agentes a considerar os custos sociais nas suas decisões
individuais. A idéia é que passem a sofrer algum ônus pela poluição causada ou mesmo a
receber algum ganho por poluir menos.

Os tipos de instrumentos econômicos são os seguintes:


 taxas e tarifas;
 subsídios;
 sistemas de devolução de depósitos;
 criação de mercado.

As taxas são utilizadas porque as empresas passam a se preocupar com algum fator a
partir do momento que ele possa gerar algum custo adicional para ela. Há vários tipos de
taxa: taxa sobre efluentes, que são pagas sobre descargas no meio ambiente seja no ar, na
água, no solo, baseada na quantidade ou qualidade do efluente; taxa sobre usuários, que é
o pagamento pelos custos de tratamento público ou coletivo de efluente; taxa sobre
produto, que é a adição ao preço dos produtos que geram poluição.

Os subsídios são formas de assistência financeira cujo objetivo é incentivar os


poluidores a reduzir os níveis de poluição. Podem ser: subvenções, que são formas de

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assistência financeira condicionada a adoções de medidas antipoluição; empréstimos


subsidiados, que são financiamentos de investimentos antipoluição a taxas de juros abaixo
das de mercado; incentivos fiscais, os quais referem-se a depreciação acelerada de
investimentos ou outras formas de isenção ou abatimento de impostos em casos de adoção
de medidas antipoluição.

Os sistemas de devolução de depósitos são sobretaxas que incidem no preço final do


produto potencialmente poluidor, devolvidas quando do retorno devido ao produto.

E, por fim, a criação de mercado consiste na criação de licenças de poluição


negociáveis, como por exemplo, a compra e venda de direitos (cotas) de poluição, como a
de emissão de carbono.

Entretanto, convém observar que dependendo do mercado, se for monopolizado, o


custo pode recair sobre o consumidor. Alguns estudos microeconômicos demonstram que a
determinação de limite para emissão de poluição funciona melhor que o imposto nesses
casos.

6.3 Tributação Ambiental

A partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972
realizada em Estocolmo, que introduziu a complexidade da problemática ambiental na
agenda internacional representando um marco na percepção dos problemas decorrentes do
binômio desenvolvimento e meio ambiente, grande parte das nações industrializadas
promulgou legislações e regulamentos ambientais, criando organismos encarregados de
cuidar do meio ambiente. Organizações governamentais passaram a inserir a questão
ambiental em seus programas e um grande número de ambientalistas e de organizações
não governamentais surgiram em todo o mundo. Todavia, foram poucos os resultados no
sentido de diminuir o impacto do crescimento econômico no meio ambiente.

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Em 1987 a publicação do relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e


Desenvolvimento “Nosso Futuro Mundial” veio alertar as autoridades governamentais para
a necessidade de adoção de políticas públicas efetivas no combate à poluição, e motivar a
realização no Rio de Janeiro, em 1992, da Conferencia sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Dentre os documentos gerados na Conferência destacou-se a Agenda 21,
programa de ação para se implementar o desenvolvimento sustentável, que reconhecia que
as leis e regulamentos ambientais, embora tivessem um papel importante, não eram
suficientes para determinar novas atitudes e comportamentos das empresas e agentes
poluidores. Para isso seria necessário que se fizessem acompanhar por instrumentos
econômicos que adotassem o princípio do poluidor-pagador, internalizando os custos
ambientais nos custos privados que os agentes econômicos incorressem em atividades de
produção e consumo.

Considerando os instrumentos econômicos utilizados em políticas públicas de


combate à poluição, os tributos são, sem dúvida, aqueles que vêm obtendo melhores
resultados, impondo às indústrias e aos agentes poluidores o pagamento, de forma
individual, pelo custo da poluição e degradação que geram e pelos malefícios que criam
para a coletividade.

6.3.1 Tributação Ambiental no Brasil

O princípio do “poluidor-pagador” afirma que o poluidor deve arcar com o custo das
medidas antipoluição adotadas pelas autoridades públicas para assegurar que o meio
ambiente esteja num estado aceitável. Este princípio deve ser considerado como uma forma
específica de distribuir os custos da proteção ambiental entre os poluidores ou usuários dos
recursos e aqueles que se beneficiam desses melhoramentos.

O princípio do “poluidor-pagador” foi adotado pela Organização para Cooperação e


Desenvolvimento dos Estados – OCDE em 1972 como orientação para políticas ambientais
por parte dos governos e agências de assistência, estando hoje incluído no Princípio 16 da

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Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento de 199226, que


reconhece que os instrumentos econômicos, ao internalizar os custos da degradação
ambiental, complementam o papel dos instrumentos de comando e controle na alteração
do comportamento e da atitude dos agentes poluidores.

No final dos anos 1980 e durante os anos 1990, o interesse das autoridades
governamentais centrou-se muito mais em instrumentos de política ambiental de base
mercadológica, abrindo espaço para políticas ambientais mais eficientes economicamente e
adequadas em relação às políticas setoriais.

Nos anos de 1994 e 1995 novos estudos da OCDE identificaram os tributos, nas suas
diferentes formas, como sendo as principais categorias de instrumentos econômicos em
termos de impacto e freqüência de aplicação.

Um estudo desenvolvido pela OCDE, enfocando a utilização de tributos ambientais


por 28 países membros da organização, revela a existência de cerca de 40 modalidades de
tributos ambientais utilizados em âmbito nacional e concentrando-se basicamente sobre
combustíveis e outros tipos de produtos energéticos e foram instituídos com a finalidade de
controlar a poluição gerada por veículos automotores. O estudo demonstra que a tributação
é também aplicada com freqüência na administração do lixo e no combate a poluição da
água. Outros elementos nocivos à biodiversidade também são tributados, tais como a
poluição sonora dos aviões, diferentes tipos de bens como pneus, solventes, pilhas,
embalagens de papel e de plásticos.

A análise da experiência brasileira com a utilização de instrumentos econômicos


revela o surgimento de alguns instrumentos legais que adotaram princípios indutores de
atividades, processos produtivos ou consumos voltados à preservação do meio ambiente.

O Sistema Tributário Brasileiro permite que os impostos incidentes sobre a


produção, o consumo e a propriedade possam ser utilizados como instrumentos de

26
Disponível em: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=2013.
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tributação ambiental, por meio de um sistema de graduação de alíquotas, isenções e


restituições.

No Brasil, o ICMS Ecológico, instituído na década de 1990 é sem dúvida a experiência


mais importante no campo da tributação ambiental e vem ganhando importância dentro da
estrutura regulatória. O imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é de
competência estadual e segundo a legislação vigente, um quarto do produto de sua
arrecadação deve ser distribuído para os municípios segundo critérios econômicos, dando
origem à transferência intergovernamental denominada quota-parte do ICMS. No caso dos
estados que adotaram o ICMS ecológico como Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul, há uma variável indutora nos critérios de distribuição da quota-
parte que procura compensar os municípios que adotam uma conduta ambiental
conservacionista e abrigam unidades de conservação em seus territórios.

Existem ainda outras possibilidades de utilização de tributos ambientais no Brasil,


previstos legalmente, embora de uso isolado por algumas unidades da federação como
indica o estudo Instrumentos Econômicos e Financeiros:

 há previsões para utilização do abatimento do Imposto sobre a Renda – IR de


importâncias despendidas em atividades de florestamento e reflorestamento;

 as alíquotas do Imposto sobre Produtos Importados – IPI e do Imposto sobre


Veículos Automotores – IPVA incidentes sobre veículos movidos a álcool e a
gasolina são diferenciadas;

 na utilização do Imposto Territorial Rural – ITR devem ser excluídas das áreas
tributáveis as de preservação permanente e de reserva legal, evitando assim que
sejam consideradas improdutivas, o que com certeza induz à exclusão da
cobertura vegetal;

 encontramos ainda dentre os preceitos legais a existência de uma taxa de


preservação ambiental que é cobrada pela utilização pelos visitantes, da infra-
estrutura do distrito e do acesso e fruição do patrimônio natural de Fernando de
Noronha;

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 há várias experiências de utilização do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU


nos municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Embu e Diadema, onde ficaram
isentas do ônus tributário as áreas de interesse ecológico ou relevante do ponto
de vista ambiental para o município;

 no município do Rio de Janeiro foi instituída a contribuição de melhoria sobre


proprietários de imóveis valorizados por obras públicas que apresentem conteúdo
ambiental.

Em suma, a utilização da tributação ambiental continua crescendo, verificando-se


uma tendência de integração dos tributos ambientais às estruturas fiscais existentes, de
modo que os tributos que recaem sobre “coisas ruins”, como a poluição, vêm substituir a
tributação de “coisas boas” como, por exemplo, o trabalho.

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7 Certificações

No intuito de estimular a responsabilidade social empresarial, uma série de


instrumentos de certificação foi criada nos últimos anos. O apelo relacionado a esses selos
ou certificados é de fácil compreensão. Num mundo cada vez mais competitivo, empresas
vêem vantagens corporativas em adquirir certificações que atestem sua boa prática
empresarial.

A pressão por produtos e serviços socialmente corretos faz com que empresas
adotem processos de reformulação interna para se adequarem às normas impostas pelas
entidades certificadoras. Um certificado desse nível, consagrado mundialmente, é a
comprovação das boas práticas empresariais.

Entre as certificações mais cobiçadas atualmente, enumeramos as seguintes:

 Selo Empresa Amiga da Criança. Selo criado pela Fundação Abrinq para empresas
que não utilizem mão-de-obra infantil e contribuam para a melhoria das
condições de vida de crianças e adolescentes;

 ISO 14000. O ISO 14000 é apenas mais uma das certificações criadas pela
International Organization for Standardization (ISO). O ISO 14000 dá destaque às
ações ambientais da empresa merecedora da certificação;

 AA1000. O AA1000 foi criado em 1996 pelo Institute of Social and Ethical
Accountability. Esta certificação de cunho social enfoca principalmente a relação
da empresa com seus diversos parceiros, ou stakeholders. Uma de suas principais
características é o caráter evolutivo, já que é uma avaliação regular (anual);

 SA8000. A Social Accountability 8000 é uma das normas internacionais mais


conhecidas. Criada em 1997 pelo Council on Economic Priorities Accreditation
Agency (CEPAA), o SA8000 enfoca, primordialmente, relações trabalhistas e visa
assegurar que não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia produtiva, como
trabalho infantil, trabalho escravo ou discriminação.

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Figura 2 – Selos de Instituições Certificadoras

Além das mudanças impostas pelo mercado, a certificação também carrega no seu
bojo aspectos que podem ser considerados benéficos na medida em que colaboram para
um sistema gerencial mais eficaz, reduzindo desperdício e ampliando a produtividade das
empresas.

Neste sentido, são benefícios da certificação:

 Benefícios para o fabricante: a certificação garante a implantação eficaz dos


sistemas de controle e garantia da qualidade nas empresas, diminuindo a perda
de produtos e os custo da produção. Deste modo aumenta a competitividade das
empresas certificadas frente às empresas que não estão. A certificação também
aumenta a satisfação do cliente e facilita a venda de produtos e a introdução
destes em novos mercados já que são comprovadamente projetados e fabricados
de acordo com as expectativas do mercado consumidor;

 Benefícios para o exportador: quando a certificação é feita por um Organismo de


Certificação que, como a ABNT, possui acordos de reconhecimento com outros
países, evita a necessidade de certificação pelo país de destino. E, se as normas
nacionais a serem aplicadas são equivalentes às normas dos países de destino ou

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às internacionais, a certificação de acordo com estas normas protege o


exportador de barreiras técnicas ao comércio;

 Benefícios para o consumidor: o produto certificado dá maior confiança e é um


meio eficaz através do qual o consumidor pode identificar os produtos que são
controlados e testados conforme as normas nacionais e internacionais. A
certificação assegura uma relação favorável entre qualidade e preço, proporciona
a garantia de troca e consertos e permite a comparação de ofertas, auxiliando a
escolha dos produtos por parte dos consumidores. Se a marca é conhecida e
procurada, se evita a competição desleal, impedindo a importação e consumo de
produtos de má qualidade;

 Benefícios para o governo: a certificação é um instrumento que o governo pode


utilizar para criar uma infra-estrutura técnica adequada que auxilie o
desenvolvimento tecnológico, melhorando o nível de qualidade dos produtos
industriais nacionais. A certificação evita também o estabelecimento de controles
obrigatórios desnecessários e, por outro lado, pode auxiliar o desenvolvimento de
políticas de proteção ao consumidor.

Além destes benefícios, a certificação oferece vantagens específicas como:

 atender a legislação ambiental, evitando punições legais do seu não


cumprimento. Dentro desse contexto, também funciona como meio de precaução
contra futuras indenizações por danos ao meio-ambiente;

 revisão que as empresas realizam em todo seu processo produtivo para a


obtenção da certificação ISO 14001, permite identificar e eliminar/reduzir
desperdícios;

 otimização do tempo de produção, pode produzir uma economia de energia,


revertida em bonificação financeira para a empresa. A otimização das matérias-
primas, além da economia dos gastos com a sua aquisição, também gera
diminuição de resíduos e dos custos para a sua destinação;

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 certificação interfere positivamente e diretamente na imagem da empresa, pois


evidencia sua postura correta e sustentável e assim passa a atender às
expectativas de consumidores exigentes.

7.1 Normas ISO 14000

Em 1991, a ISO27 criou um Grupo Assessor Estratégico sobre Meio Ambiente


(Strategic Advisory Group on Environment – SAGE), para analisar a necessidade de
desenvolvimento de normas internacionais na área do meio ambiente. Durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio
de Janeiro em junho de 1992, o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável,
presidido pelo empresário suíço Stephan Schmidheiny, apoiou a criação de um comitê
específico, na ISO, para tratar das questões de gestão ambiental.

Em março de 1993, a ISO estabeleceu o Comitê Técnico de Gestão Ambiental,


ISO/TC207, para desenvolver uma série de normas internacionais de gestão ambiental, a
exemplo do que já vinha sendo feito pelo ISO/TC 196, com a série ISO 9000 de Gestão de
Qualidade. A série, que recebeu o nome de ISO 14000, refere-se a vários aspectos, como
sistemas de gestão ambiental, auditorias ambientais, rotulagem ambiental, avaliação do
desempenho ambiental, avaliação do ciclo de vida e terminologia.

A ISO série 14000 trata de um grupo abrangente de normas e instrumentos


referentes à gestão ambiental. As normas preparadas propõem um modelo simples para
organizar uma empresa que pretenda monitorar seu impacto ambiental. Define um sistema
de gerenciamento que é implantado e acompanhado por auditores, que adaptam os
objetivos de desempenho ambiental à realidade da empresa.

27
A ISO foi estabelecida em 1946 como uma confederação internacional de órgãos nacionais de normalização
(ONNs) de todo o mundo. É uma organização não governamental, e tem a Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT como um de seus membros fundadores. Possui hoje mais de 200 comitês técnicos (TCs) e
cerca de mil Subcomitês (SCs) para o desenvolvimento de normas internacionais em várias áreas. O objetivo
da ISO é publicar documentos que estabeleçam práticas internacionalmente aceitas.
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O caminho percorrido na implantação das normas ISO 14000 pode ser dividido nas
seguintes fases:

1) Elaboração da política ambiental. Declaração da organização, expondo suas


intenções e princípios em relação ao seu desempenho ambiental global, que
provê uma estrutura para a ação e definição de seus objetivos e metas
ambientais;

2) Planejamento. Definida a política ambiental, a organização passa a fazer seu


planejamento, o qual consiste inicialmente em efetuar um levantamento dos
aspectos ambientais, dos requisitos legais, do estabelecimento dos objetivos e
metas para então elaborar o programa de gestão ambiental;

3) Implementação e operação. Quando da sua implementação a empresa deverá


estruturar e definir as funções, responsabilidades e autoridades, que deverão ser
documentadas e comunicadas aos membros da organização, assim como
fornecido treinamento para obter conscientização e competência necessárias
para a conformidade com a política ambiental. Nessa fase a comunicação interna
é muito importante;

4) Verificação e ação corretiva. A justificativa para a manutenção de procedimentos


documentados é que eles possibilitam o monitoramento e medição das
características principais de suas operações que possam ter um impacto
significativo sobre o meio-ambiente. Em ocorrendo a não conformidade, deverão
ser promovidas ações corretivas e registros. Ainda nesta etapa deverão ser
estabelecidos e mantidos programas para auditorias periódicas do sistema de
gestão ambiental;

5) Análise crítica constante pela administração, que não cessa, devendo retornar
ao 1º item no sentido de uma espiral em constante movimento, sendo
obrigatória a “melhoria contínua”. Nesta etapa a administração promoverá a
análise dos resultados trazidos pelos instrumentos do estágio anterior, em
especial da auditoria do sistema de gestão, em períodos por ela determinados,
ponderando sobre a eventual necessidade de alterações na política ambiental, em
função de atender o comprometimento com a melhoria contínua. O

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comprometimento com a melhoria contínua do sistema de gestão ambiental é o


que dá eficácia à proposta da norma.

7.2 Normas AA100028

Lançada em 1999, a AA 1000 (AccountAbility 1000) é uma norma que define


princípios e processos para prestação de contas visando assegurar a qualidade da
contabilidade, auditoria e relato de informações de caráter, social, ambiental e financeiro.

Desenhada para auxiliar empresas, acionistas, auditores, consultores e organizações


certificadoras, ela pode ser usada isoladamente ou em conjunto com outros padrões de
prestação de contas, como a Global Reporting Initiative (GRI), e normas padrões como as
ISO e SA 8000.

A AA 1000 é uma norma de diretrizes, não certificável, e apresenta os principais


tópicos ligados à responsabilidade social, os pontos de divergência e de convergência com
os demais padrões, sendo aplicável em organizações de qualquer setor, sejam públicas,
privadas ou da sociedade civil, de qualquer tamanho e situada em qualquer local.

7.3 Social Accountability 8000 (SA 8000)

A SA8000 é uma norma que visa aprimorar o bem estar e as boas condições de
trabalho bem como o desenvolvimento de um sistema de verificação que garanta a contínua
conformidade com os padrões estabelecidos pela norma.

A SAI (Social Accountability International, antiga CEPAA) é uma organização não-


governamental, sediada nos Estados Unidos, responsável pelo desenvolvimento e
supervisão da norma internacional Social Accountability 8000 (SA 8000).

28
Disponível em: http://www.crescer.org/glossario/a.htm.
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A SA8000 é cada vez mais reconhecida no mundo como um sistema efetivo de


implementação, manutenção e verificação de condições dignas de trabalho. Há várias
empresas certificadas com SA8000 em diversos países, tais como: Estados Unidos,
Inglaterra, Espanha, Itália e Brasil.

Várias empresas multinacionais nos Estados Unidos e na Europa estão


implementando a norma SA8000 e exigindo que seus fornecedores operem dentro destes
padrões.

A norma SA8000 apresenta-se como um sistema de auditoria similar ao ISO 9000,


que atualmente é apresentado por mais de 300.000 empresas em todo o mundo. Seus
requisitos são baseados nas normas internacionais de direitos humanos e nas convenções
da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Desenvolvida por um conselho internacional que reúne empresários, ONGs e


organizações sindicais, a SA8000 quer encorajar a participação de todos os setores da
sociedade na busca de boas e dignas condições de trabalho.

7.4 NBR 16000

Para ser realmente eficiente, os procedimentos da organização precisam ser


conduzidos dentro de um sistema de gestão estruturado. A partir daí, a Certificação do
Sistema de Gestão de Responsabilidade Social demonstrará ao mercado que a organização
não existe apenas para explorar os recursos econômicos e humanos, mas também para
contribuir com o desenvolvimento social, por meio da realização profissional de seus
colaboradores e da promoção de benefícios ao meio ambiente e às partes interessadas.

Após dois anos de preparação, foi publicada em dezembro de 2004, no Brasil, a


norma ABNT NBR 16001 – Responsabilidade Social – Sistema de Gestão – Requisitos.

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No Brasil, a ABNT, diferentemente da ISO, encaminhou a elaboração da norma NBR


16001 como uma norma de especificação, ou seja, passível de auditoria ou certificação.

A NBR 16001 tem uma concepção semelhante às normas ISO 9000 e ISO 14000, de
PDCA (Plan-Do-Check-Act), ou seja, planejar, fazer, verificar (monitorar) e atuar (melhorar,
corrigir).

Em síntese, segundo a norma, a organização (não apenas as empresas) deve definir


sua política de Responsabilidade Social e, em função dela, criar sistemas de planejamento,
de implementação, de comunicação, documentação, medição, análise e proposição de
melhorias.

Entre os objetivos mínimos que a política de Responsabilidade Social deve ter, alguns
estão mais diretamente ligados à questão trabalhista:

• os direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho infantil;

 direitos do trabalhador, incluindo o de livre associação, de negociação, a


remuneração justa e benefícios básicos, bem como o combate ao trabalho
forçado;

• promoção da diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de


gênero, de raça/etnia, idade, pessoa com deficiência);

• compromisso com o desenvolvimento profissional;

• promoção da saúde e segurança.

Vale destacar que não foi utilizado o termo “negociação coletiva” que expressa a
negociação como atividade conjunta dos trabalhadores e suas organizações. Também,
termos como remuneração justa, benefícios básicos e saúde e segurança (falta o
complemento “no trabalho”) estão definidos muito vagamente.

A questão da cadeia produtiva é indiretamente mencionada (padrões de


desenvolvimento sustentáveis).

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7.5 ISO 2600029

A ISO constituiu, em 2005, o Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social, um


fórum internacional que conta com a participação de mais de 400 pessoas e 78 países e
cerca de 40 organizações internacionais e regionais.

Este grupo é responsável pela elaboração da norma internacional de


Responsabilidade Social – a ISO 26000, prevista para publicação em setembro de 2010.

A ISO 26000 deverá ser um grande guia sobre Responsabilidade Social. A norma
deverá ser capaz de orientar organizações em diferentes culturas, sociedades e contextos.
Abordará temas que englobam desde direitos humanos, práticas de trabalho, meio
ambiente e governança, a até questões de implementação.

A futura norma seguirá as seguintes deliberações:

• será uma norma de diretrizes, sem propósito de certificação;

• será aplicável a qualquer tipo de organização, como empresas, governos, ONGs,


entre outros;

• será consistente e não conflitante com normas da ISO e outros documentos,


tratados e convenções internacionais já existentes;

• não terá caráter de sistema de gestão (modelo PDCA).

Outra característica importante do processo de construção da norma é seu caráter


multistakeholder, algo inovador dentro da ISO.

Neste processo, representantes de diversas categorias de stakeholders –


consumidores; empresas; governos; trabalhadores; ongs; e serviço, suporte, pesquisa e
outros – se encontram para debater as principais tendências e buscar um futuro consensual
para a responsabilidade social no mundo.

29
Disponível em: http://uniethos.tempsite.ws/iso26000/iso-26000-o-que-e/a-norma-iso-26000/.
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Além disso, pela primeira vez na ISO, a liderança de um processo desta natureza é
compartilhada entre um país em desenvolvimento, o Brasil (ABNT, Associação Brasileira de
Normas Técnicas), e um país desenvolvido, a Suécia (SIS, Swedish Standards Institute).

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Referências

Bibliográficas

BRUSEKE, Franz Josef. O problema do desenvolvimento sustentável. In:


CAVALCANTI, Clóvis (org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma
sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, 1995.

CMMAD, Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro


Comum. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.

CAIRNCROSS, Frances. Meio ambiente: custos e benefícios. São Paulo: Nobel, 1992.

JACOBI, Pedro. Socioambientalismo. In: Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo:


Instituto Socioambiental, 2005.

OLIVEIRA, Gilson Batista. Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento.


Curitiba: Revista da FAE, v. 5, nº 2, p. 37-48, Maio/Agosto 2002.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. 3ª ed. Rio
de Janeiro: Garamond, 2008.

VEIGA, José Eli da; ZATZ, Lia. Desenvolvimento sustentável: que bicho é esse?
Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

Eletrônicas

CRESCER. Glossário. Disponível em: http://www.crescer.org/glossario/a.htm.

Página 68
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ETHOS, Instituto. O que é RSE. Disponível em: http://www1.ethos.org.br/EthosWeb


/pt/29/o_que_e_rse/%20o_que_e_rse.aspx.

FERNANDES, Ângela. A responsabilidade social e a contribuição das relações


públicas. Comunicação apresentada ao GT de Relações Públicas, da INTERCOM –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, no XXIII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 2 a 6 de setembro
de 2000 na Universidade do Amazonas, Manaus – AM. Disponível em:
http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/responsabilidadesocial/0098.htm.

FERREIRA, Carlos. Protocolo de Kyoto. Folha de São Paulo, com informações da BBC e
do Ministério da Ciência e Tecnologia, p. 1. Disponível em http://noticias.
uol.com.br/vestibuol/atualidades/ult1685u163.jhtm.

IDEC, Instituto de Defesa do Consumidor. Responsabilidade Socioambiental.


Disponível em: http://www.idec.org.br/bancos/responsabilidade_social_bancos
/o_que_e_responsa bilidade_socioambiental.html.

RESPONSABILIDADE SOCIAL.COM. Responsabilidade Social. Disponível em: http://


www.responsabilidadesocial.com/institucional/institucional_view.php?id=1.

RNCR, Rede Nacional de Consumo Responsável. Sustentabilidade. Disponível em:


http://www.consumoresponsavel.com/wp-content/rncr_fichas/RNCR_Ficha_C.p
df.

UNIETHOS. ISO 26000. Disponível em: http://uniethos.tempsite.ws/iso26000/iso-


26000-o-que-e/a-norma-iso-26000/.

URSINI, Tarsila Reis; BRUNO, Giuliana Ortega. A gestão para a responsabilidade


social e o desenvolvimento sustentável. Disponível em: http://www.ethos.org.
br/_Uniethos/Documents/RevistaFAT03_ethos.pdf. Acesso em: 16/09/2010.

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VITAE CIVILIS. Documentos da ONU com princípios para sustentabilidade. Disponível


em: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&pagina
Id=2013.

YUJI, Fernando. Protocolo de Kyoto. Disponível em www.brasilescola.com/geografia/


protocolo-kyoto.htm.

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ANEXOS

Anexos

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Anexo 1: Atividades Complementares

A1.1 Apresentação

As Atividades Complementares – AC são componentes curriculares obrigatórios dos


Projetos Pedagógicos dos Cursos Superiores de Tecnologia da UNIP, em consonância com as
respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais.

As AC possibilitam o reconhecimento, por avaliação, de habilidades, conhecimentos


e competências do aluno, incluindo a prática de estudos e atividades independentes,
transversais, opcionais e de caráter interdisciplinar, especialmente nas relações com o
mundo do trabalho, nas ações de extensão junto à comunidade e no envolvimento inicial
com a pesquisa acadêmica.

A1.2 Orientações

Nas tabelas do item A1.4, as indicações de AC estão distribuídas por categorias e em


cada atividade proposta constam os conceitos-chave da matéria correlata, as horas a serem
validadas e os respectivos prazos de entrega.

Os relatórios deverão ser, obrigatoriamente, de AUTORIA DO ALUNO e


MANUSCRITOS, com no mínimo 20 linhas e no máximo 2 páginas, e comprovantes anexos.

Estes comprovantes deverão ser, preferencialmente, os originais da atividade


realizada. Nos casos de artigos e/ou reportagens, uma cópia do mesmo deverá ser anexada.
Se os artigos/reportagens forem retirados de textos eletrônicos (internet), deverá ser
anotado, ao final do relatório, o link (endereço) referente ao material pesquisado.

Somente serão validadas, como cumprimento de horas de AC do semestre, as


atividades realizadas no próprio semestre.

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A1.3 Critérios para Atribuição de Horas

Conforme as orientações, elencadas no item A1.2, para que o(a) aluno(a) alcance a
pontuação máxima – passível de atribuição – é fundamental estar atento(a) aos seguintes
critérios e pesos:

Elementos de Análise Pesos

Texto Manuscrito 10%

Formulário Apropriado 10%

Quantidade de Linhas/Páginas30 10%

Comprovante Adequado/Legível 10%

Adequação ao Tema 20%

Argumentação 40%

Para efeito de cálculo, na hipótese de horas “quebradas”, ou seja, quando da


ponderação, a matemática produzir um resultado diferente de um número inteiro, a
atribuição obedecerá as seguinte norma de arredondamento: considerando para horas
“quebradas” abaixo de 0,5 o número inteiro imediatamente abaixo; e na hipótese de acima
de 0,5 o número inteiro imediatamente superior. Por exemplo, se o(a) aluno(a) receber 2,4
horas; a atribuição será 2 horas. Caso o resultado seja 3,7 horas; a pontuação anotada será 4
horas.

Entretanto, é importante lembrar que o não cumprimento dos elementos de análise


– Texto Manuscrito, Formulário Apropriado, Quantidade de Linhas/Páginas e Comprovante
Adequado/Legível – invalidará totalmente o relatório, tornando a AC nula para efeito de
atribuição de horas.

Por fim, o(a)s aluno(a)s devem estar atento(a)s aos prazos de entrega dos relatórios
de AC. Em nenhuma hipótese, serão aceitos textos entregues fora do prazo determinado.

30
Os únicos casos que não serão considerados o número de linhas/páginas são os referentes à participação
nas campanhas solidárias ou em doação de sangue.
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A1.3 Indicações31

a) Atividade Complementar 1:

Descrição: UMA VERDADE INCONVENIENTE (An Inconvenient Truth). Direção: Davis


Guggenheim. Roteiro: Lawrence Bender, Scott Burns, Laurie Lennard e Scott Z.
Burns. EUA: Lawrence Bender Productions / Participant Productions, 2006. 100 min.
Legendado.

Gênero: Filme Documentário.

Conceitos-Chave: Aquecimento Global; Sustentabilidade; Desenvolvimento Sustentável.

Validação de Horas: Até 05 horas.

Data de Entrega: 28/setembro/2010.

b) Atividade Complementar 2*:

Descrição: TEIXEIRA, Cristina. O desenvolvimento sustentável em unidade de conservação: a


naturalização do social. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 20, nº 59, 17 p.

Gênero: Artigo Científico.

Conceitos-Chave: Desenvolvimento Sustentável; Sociedade e Ambiente.

Validação de Horas: Até 10 horas.

Data de Entrega: 19/outubro/2010.

*Disponível no site: www.rodrigomarchesin.com

c) Atividade Complementar 3:

Descrição: Atividade Livre

Gênero: Livro / Artigo / Seminário / Palestra / Curso / Evento.

Conceitos-Chave: Desenvolvimento Econômico; Sustentabilidade; Responsabilidade Social.

Validação de Horas: Até 10 horas.

Data de Entrega: 09/novembro/2010.

31
As horas a serem atribuídas dependem do teor (conteúdo) do relatório, podendo chegar às horas previstas.
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Anexo 2: Roteiro Disciplinar – PIM

A2.1 Apresentação

O Projeto Integrado Multidisciplinar – PIM, faz parte do Programa Pedagógico dos


Cursos Superiores de Tecnologia da UNIP – Universidade Paulista. Os alunos, reunidos em
grupo, deverão realizar o levantamento das características e práticas existentes numa
organização.

O PIM busca inserir o aluno nas práticas gerenciais fundamentadas nos


conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula, com caráter prático complementar do
processo de ensino-aprendizagem.

Este roteiro é uma breve orientação aos alunos, na forma de como devem proceder
para atender aos requisitos exigidos pelo PIM, na dimensão relativa à disciplina
Desenvolvimento Sustentável – DS.

A2.2 Procedimentos

As mudanças provocadas pelo avanço tecnológico e crescimento econômico


trouxeram uma realidade nova e preocupante aos governos e corporações de todo planeta.

Neste sentido, a pergunta que busca uma resposta capaz de prover a manutenção da
vida humana da terra, pode ser resumida da seguinte forma: como articular o uso dos
recursos produtivos à uma realidade inclusiva, onde possa observar-se eqüidade social?

Dessa forma, baseado nessa visão, o PIM é a ferramenta de intermediação na busca


de reflexões, ao oferecer o espaço acadêmico para a pesquisa, e onde o aluno pode
envolver-se com o tema (matéria) e reconhecer sua aplicabilidade social e empresarial.

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Para que a parte de DS, no PIM, apresente os subsídios necessários para a correta
descrição da empresa, os alunos (grupos) deverão observar os seguintes pontos:

1) Importância do DS para a organização;

2) Descrição de práticas que envolvam a lógica sustentável e a responsabilidade


socioambiental;

3) Resultados alcançados pela organização, com o DS;

4) Caso a empresa não possua alguma prática relacionada ao DS, o grupo poderá
oferecer uma solução, descrevendo um projeto passível de envolvimento pela
organização objeto da pesquisa.

Na hipótese de um projeto, o grupo do PIM poderá buscar observar a realidade


interna ou externa à empresa, baseando sua análise nos seguintes aspectos:
 redução do consumo de recursos naturais e energia;
 eliminação de substâncias tóxicas;
 propagação do conceito de sustentabilidade;
 emprego da energia limpa;
 qual a importância das pessoas para a organização (Balanço Social);
 substituição de materiais virgens por materiais reciclados;
 reutilização de materiais, produtos e equipamentos.

Informações complementares serão apresentadas no decorrer das aulas de DS. Este


roteiro serve, apenas, ao propósito de contribuir ao suporte da elaboração textual do PIM.

Indubitavelmente, o contato com o professor e suas orientações in loco são


insubstituíveis!!

Bom trabalho!!

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Anexo 3: Conteúdo Programático Detalhado

CURSO: Superior de Tecnologia em Marketing / Recursos Humanos


Série: 4º semestre
Período: Noturno
Disciplina: Desenvolvimento Sustentável
Carga Horária Semanal: 1,5 horas/aula

I – Ementa

Teorias sobre o desenvolvimento. Críticas às visões economicistas do desenvolvimento. O


conceito de desenvolvimento econômico-social. Desenvolvimento sustentável. Mercado e
meio ambiente. A ética ambiental e o desenvolvimento sustentável. A ética ambiental e
países subdesenvolvidos.

II – Objetivos

Adquirir visão fundamentada quanto à possibilidade de estabelecer relações entre


desenvolvimento econômico e desenvolvimento sustentado.

III - Conteúdo Programático

1. Histórico do conceito de desenvolvimento sustentável


A relação homem-natureza
O meio ambiente torna-se um problema
A problemática ambiental pós-guerra fria
O papel das organizações não-governamentais
O desenvolvimento sustentável como novo paradigma
2. As empresas e o ambiente externo local
A responsabilidade empresarial e a legislação ambiental
A demanda por qualidade de vida
A singularidade da administração ambiental
3. As empresas e a cultura ambiental interna
Uma reflexão sobre a política ambiental
A cultura ambiental nas organizações
As perspectivas no desenvolvimento da cultura ambiental
4. A gestão ambiental nas organizações
Um esboço histórico
A gestão ambiental
A família de normas ISO 14.000
5. Ética e desenvolvimento social
Ética na organização
Ética nas negociações
A relação ética e desenvolvimento social
A norma SA 8000
6. Plano de desenvolvimento sustentável
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IV - Estratégias de Trabalho

O curso contará com equilíbrio teórico – prático por meio de exposições e discussão de
casos práticos, utilizando:
Aulas expositivas
Aulas reflexivas com análise de casos
Dinâmica de grupos
Seminários
Vídeos
Debates

Será sempre indicada a bibliografia básica e específica necessária ao acompanhamento do


curso e orientação do aluno na vida acadêmica e profissional.

A exposição será feita por meio de colocação dos pontos a serem discutidos de forma
esquemática, seguida de apresentação por parte do professor. Para todas as exposições e
para todos os pontos deverão ser utilizadas apresentações de casos práticos.

V- Avaliação

Duas provas teóricas/práticas bimestrais e trabalhos individuais ou em grupo, mais o projeto


PIM, sempre envolvendo os assuntos voltados à gestão das organizações, sendo que a
média do semestre será constituída por 40% da nota da P1, 40% da nota da P2 e 20 % da
nota do PIM.

VI – Bibliografia

Bibliografia Básica

DIAS, R.; ZAVAGLIA, T.; CASSAR, M. Introdução à administração: da competitividade à


sustentabilidade. Campinas: Alínea, 2003.
MATA, Henrique T. Costa et al. A ética ambiental e o desenvolvimento sustentável. São
Paulo: Revista Economia Política, v. 22, nº 1, jan./mar. 2002.

Bibliografia Complementar

BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de


mudanças da agenda 21. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
ISO, International Standartization Organization. The desirability and feasilibity of ISO
Corporate Social Responsibility Standards. Suíça: ISO, 2002.
NBR ISO 14.001. Sistema de gestão ambiental: diretrizes gerais sobre princípios,
sistemas e técnicas de apoio. Rio de Janeiro: ABNT, 1996.
NBR ISO 14.001. Sistema de gestão ambiental: especificações e diretrizes para uso.
Rio de Janeiro: ABNT, 1996.
SAI, Social Accountability International. Social Accountability 8000 (SA 8000). USA: SAI,
2001.
SOUZA, N. Desenvolvimento econômico. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.

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