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A PROMOÇÃO DA LIBERDADE RELIGIOSA INTERNACIONAL NA POLÍTICA

EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS. Luiza Rodrigues Mateo (Programa de pós-


graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas - Capes).

1- Introdução.

A pesquisa em andamento se dedica ao entendimento do marco de entrada do elemento


religioso na política externa dos Estados Unidos. Ainda que amplamente influenciados pela
ethos cristão e pela religião civil enraizadas na sociedade, o Estado norte-americano
preservou, desde seus primórdios, a completa separação vis-à-vis a Igreja ou qualquer
delimitação religiosa de sua institucionalidade. Neste ínterim, a política externa, reflexo
também do padrão secular, incluiu a promoção da liberdade religiosa ao redor do mundo
como uma missão particular da nação norte-americana. São objetos de estudo, destarte, a
maneira pela qual o aparato de política externa conceitua religião e liberdade religiosa, quais
as estratégias para a viabilização do projeto, e como a empreitada se relaciona com a
identidade nacional e com a Agenda mais ampla da política externa dos Estados Unidos.

2 – Religião e liberdade religiosa enquanto projeto de política externa.

A religião sempre foi uma das mais importantes forças na política, nas políticas, na
identidade e na cultura norte-americanas. A religião molda o caráter da nação, ajuda
a formar as idéias dos americanos sobre o mundo e influencia a maneira como os
americanos reagem a acontecimentos fora de suas fronteiras. Ela explica tanto a
visão que os americanos têm de si mesmos como povo escolhido quanto sua crença
de que têm o dever de espalhar seus valores pelo resto do mundo. 1
Os EUA são considerados um dos países mais dinâmicos e diversos em matéria de
religião, sendo que cerca de 95% de seus cidadãos se auto-afirmam belief in God e mais de
40% attending religious services on any given Sunday 2. Em levantamento realizado em 2006
pelo Pew Forum on Religion & Public Life em parceria com o Pew Research Center for The
People & Press3, 67% da população norte-americana consideram seu país uma nação cristã.
A crescente heterogeneidade do cenário religioso nos Estados Unidos, o notável
dinamismo das comunidades de fé e a presença marcante da religião na esfera pública se
evidenciam em vários momentos. Evidenciam-se quando da formação da opinião pública –
notadamente em assuntos como casamento homossexual, pena de morte, pesquisas com
células-tronco, dentre outros – da pressão junto ao Legislativo, ou mesmo da expressiva
organização em épocas de pleito político, que culminaram na eleição, por exemplo, de George
W. Bush e considerável bancada religiosa no Congresso.
Em se tratando de política externa, o papel da religião não é menos importante, já que
a fé é um componente-chave do excepcionalismo norte-americano – a convicção de que os
EUA estão sob proteção divina e tem um destino mais elevado, uma missão universal a
cumprir. Essa percepção remonta aos mitos fundacionais protestantes - como as idéias de
povo escolhido, providência divina, e da cidade sobre a colina (os EUA enquanto referência
de moralidade cristã) 4. As idéias religiosas, que no início da colonização serviram de
estímulo e conforto, acabaram sendo introjetadas pelos norte-americanos, agregando doses de
1
MEAD, Walter R. País de Deus? Política Externa, São Paulo, v. 15, n. 3, 2006/2007, p. 103.
2
DEMERATH, N.J. e STRAIGHT, Karen S. Religion, politics and the state: cross-cultural observations. Cross
Currents, v.47, n.1, primavera 1997. p.7.
3
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS e THE PEW FORUM ON RELIGION
AND PUBLIC LIFE. Many Americans uneasy with mix of religion and politics. Washington, DC: Pew
Research Center, ago. 2006
4
FONSECA, Carlos da. Deus está do nosso lado: excepcionalismo e religião nos EUA. Contexto
Internacional. Rio de Janeiro, v. 29, n. 1, jan/jun 2007. p. 157-164.
idealismo à nascente comunidade imaginada e dirigindo um projeto de país associado à
religião civil.
É sob essa perspectiva histórica que muitos afirmam, no início do século XXI, que os
EUA são especialmente protegidos por Deus e que a fé ocupa a centralidade da força e do
sucesso do país – 48% e 58%, respectivamente5. Para além das questões subjetivas e difusas
que compõem o imaginário sócio-político dos Estados Unidos, pode-se observar, no fim do
século XX, um compromisso normativo do establishment norte-americano para com a questão
religiosa. O International Religious Freedom Act of 1998 representa a preocupação dos
líderes e da própria sociedade norte-americana com a intolerância religiosa que, à época,
chegava a níveis alarmantes – o próprio documento estimou que mais de metade da população
mundial sofresse restrições ou proibições do livre exercício de sua fé. 6
Tendo sido aprovado por ampla maioria congressual, o Ato de 1998 visou à
construção de um olhar vigilante que utilizasse a variada gama de ferramentas da política
externa norte-americana para trazer uma mudança durável, promovendo o avanço da
liberdade religiosa mundial.7
These strategies are carried out in a variety of ways, using the range of diplomatic
tools available, including both formal and informal bilateral negotiations with
foreign government authorities; participation in multilateral fora such as the United
Nations and the Organization of Security and Cooperation in Europe; cooperation
with human rights and faith-based NGOs; and meetings with victims of
persecution.8
Para tanto, o dispositivo jurídico previu a criação de três entidades que deveriam
trabalhar cooperativamente para o monitoramento da perseguição religiosa no mundo. São
estas: a Secretaria de Liberdade Religiosa Internacional, liderada por um Ambassador at
Large, no Departamento de Estado norte-americano; uma Comissão de Liberdade Religiosa; e
um conselheiro especial em Liberdade Religiosa Internacional no Conselho de Segurança
Nacional.
Assim, as medidas de política externa passariam a considerar o respeito à liberdade
religiosa, contando com a infra-estrutura e assessoramento necessários para tanto. As
informações sobre o panorama religioso global são constantemente renovadas pelos
Relatórios Anuais confeccionados pelo Departamento de Estado. Além de abranger 200
países – identificando os casos de infração à liberdade religiosa, enumerando as atitudes do
governo local, bem como dos EUA, para com o assunto – este relatório faz a nomeação direta
dos casos mais graves de intolerância ou perseguição religiosa, os countries of special
concern. A presidência precisa, após consulta prévia ao Secretário de Estado, ao embaixador
em Liberdade Religiosa Internacional e ao conselheiro do Conselho de Segurança Nacional,
dar uma resposta pragmática quanto aos countries of special concern.
O Ato de 1998 transpõe a religião, destarte, ao patamar de prioridade na política
externa dos EUA: “Advancing religious freedom remains a high priority of U.S. foreign
policy, both as a universal human right and as a cornerstone of stable and free societies”9.
Em diversos momentos, é visível como a preocupação com esta questão é transcrita em
termos do zelo norte-americano para com a salvaguarda de princípios como pluralismo
religioso e livre manifestação das consciências individuais. Os já referidos Relatórios Anuais,

5
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS. Americans struggle with religion's
role at home and abroad. Washington, DC: Pew Research Center, mar. 2002.
6
International Religious Freedom Act of 1998. U. S. Department of State.
7
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS. International Religious Freedom:
religion and international diplomacy. Washington, DC: Pew Research Center, maio 2007.
8
2004 Report on International Religious Freedom. U. S. Department of State.
9
2003 Report on International Religious Freedom. U. S. Department of State.
também neste sentido, apontam para o papel da liberdade religiosa enquanto valor estruturante
da identidade política norte-americana:
[...] religious freedom is a hallmark of our nation’s history, and it is a blessing that
we seek to share. Our nation’s impulse to protect and champion this freedom is born
of our history, is strengthened by our resolve to advance all fundamental human
rights, and is enriched by the priority which many Americans continue to place on
the importance of religious faith in their own lives.10
Além das alusões aos primeiros colonos, que cruzaram o Atlântico em função da
intolerância e perseguição religiosa, é freqüente a retomada da figura dos Pais Fundadores,
cuja preocupação com as liberdades fundamentais enfatizava aspectos de consciência e
religião. A linguagem empregada nos referidos documentos sugere, ainda, a noção de que os
EUA têm um papel histórico como defensor dos direitos inalienáveis, humanos e políticos, e
mais especificamente, grande responsabilidade na salvaguarda do livre-arbítrio em matéria de
religião:
The right to freedom of religion undergirds the very origin and existence of the
United States. Many of our Nation's founders fled religious persecution abroad,
cherishing in their hearts and minds the ideal of religious freedom. They established
in law, as a fundamental right and as a pillar of our Nation, the right to freedom of
religion. From its birth to this day, the United States has prized this legacy of
religious freedom and honored this heritage by standing for religious freedom and
offering refuge to those suffering religious persecution.11
Nota-se, desta maneira, que a religião ocupa um papel não marginal enquanto fonte de
identificação e compromisso político nos EUA. A religiosidade não é representada somente
como componente da linguagem mítica que sobreviveu ao tempo através da liturgia civil –
exemplificada pela presença de expressões religiosas nos discursos oficiais, como em “God
bless America” e “In God we trust” –, mas enquanto um conceito-chave na estratégia de
inserção internacional deste país.
A proteção da liberdade religiosa para além das fronteiras dos EUA se pauta,
inclusive, na percepção de que não somente a nação norte-americana, mas todas as nações do
mundo compartilham das mesmas prerrogativas de direitos fundamentais, ou seja, pauta-se na
universalidade dos parâmetros de entendimento de religião e livre exercício da fé. Isso fica
claro, por exemplo, quando o Ato de 1998 retoma normas de direito internacionais, criando o
espaço de legitimidade necessário para atuação norte-americana em escala global:
Freedom of religious belief and practice is a universal human right and
fundamental freedom articulated in numerous international instruments, including
the Universal Declaration of Human Rights, the International Covenant on Civil
and Political Rights, the Helsinki Accords, the Declaration on the Elimination of All
Forms of Intolerance and Discrimination Based on Religion or Belief, the United
Nations Charter, and the European Convention for the Protection of Human Rights
and Fundamental Freedoms.12
A premissa da universalidade dos direitos humanos traz consigo o questionamento
sobre a validade e o grau de consenso subsistentes a idéias-valor tais como a de liberdade.
Outro fator complicante é a não sujeição dos EUA à análise e sistematização feitos pela
Secretaria de Liberdade Religiosa Internacional. Enquanto única exceção dentre 198 países
monitorados, os EUA acabam tomando para si o parâmetro de respeitabilidade à liberdade
religiosa. Logo, muitas críticas derivam da percepção de que os EUA estariam levando ao
mundo uma noção americana de religião e de liberdade religiosa, bem como as soluções
previstas para as violações deste direito fundamental.

10
2004 Report on International Religious Freedom. U. S. Department of State.
11
International Religious Freedom Act of 1998, sec. 2. U. S. Department of State.
12
Ibidem.
Se a religião é posta pela sociedade norte-americana em termos de uma política
externa que promove liberdade religiosa internacionalmente, faz-se necessário examinar até
que ponto as definições e estratégias para esta idéia-valor são válidas na construção de um
diálogo que viabilize, em termos bi e multilaterais, a edificação de um panorama capaz de
assegurar a liberdade religiosa no mundo. Tal reflexão constitui ponto angular na
materialização da expectativa, por parte da política externa dos EUA, de construir uma
trajetória apta a extrapolar os limites do mero combate à perseguição de minorias religiosas e
à privação do livre professar de seus credos.
Todas estas questões são especialmente relevantes para uma realidade internacional na
qual a religião evidencia-se, cada vez mais, como fator motivador de ações, fonte de
legitimidade e, ao mesmo tempo, premissa de choques culturais que podem acarretar
violência. Neste ínterim, o estudo da conjuntura norte-americana pode ser um importante
instrumento para o aprofundamento e problematização do papel da religião em um sistema
internacional marcado pela prerrogativa de um modelo político secular, mas que vêm
sofrendo sucessivas interconexões com o mundo da religião.

Bibliografia.

Annual Report to Congress on International Religious Freedom, 1999/2007. U. S.


Department of State. Disponível em: <http://www.state.gov/g/drl/irf/rpt>. Acesso em: 21 jul.
2008.
DEMERATH, N.J.; STRAIGHT, Karen S. Religion, politics and the state: cross-cultural
observations. Cross Currents, v.47, n.1, p.1-12, primavera 1997.
FONSECA, Carlos da.“ Deus Está do Nosso Lado”: Excepcionalismo e Religião nos EUA.
Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v.29, n.1, p. 149-185, jan. 2007.
International Religious Freedom Act of 1998. U. S. Department of State. Disponível em:
<http://www.state.gov/g/drl/irf/c2132.htm>. Acesso em: 16 set. 2008.
MEAD, Walter R. País de Deus? Política Externa, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 103-130,
2006/2007.
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS. Americans struggle
with religion's role at home and abroad. Washington, DC: Pew Research Center, mar.
2002.
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS; THE PEW FORUM
ON RELIGION AND PUBLIC LIFE. Many americans uneasy with mix of religion and
politics. Washington, DC: Pew Research Center, ago. 2006.
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS. Legislating
International religious Freedom. Washington, DC: Pew Research Center, nov. 2006.
THE PEW RESEARCH CENTER FOR THE PEOPLE & THE PRESS. International
Religious Freedom: religion and international diplomacy. Washington, DC: Pew Research
Center, maio 2007.

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