Ano VII - Edição no 35 - Agosto à Dezembro de 2010

A re vi sta da ma g i stratura mato - g ro ssense

Balanço
Gestão “Magistrados” avalia
ações do biênio 2009/2011
Pág. 6

A Revista da Magistratura Mato-grossense 1

 Ex p e d i e n t e

Presidente: Juiz de Direito Walter Pereira de Souza

AMAM – Associação Mato-grossense de Magistrados

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necessariamente a opinião da revista.

A Revista da Magistratura Mato-grossense 3

 Nesta edição
Editorial
Entrevista
Matéria
Doutrina
Depoimentos
Desafio da nova realidade associativa
Já vai longe o tempo onde as Associações de Classe
da Magistratura ser viam exclusivamente ao desfrute
social dos seus Associados.
A realidade atual é de que o Associativismo orga-
nizado pode influenciar de forma importante os resul-
tados das políticas do Poder Judiciário para a carreira.
Na seara Estadual, a ADMINISTRAÇÃO MA-
GISTRADOS promoveu importantes intervenções que
resultaram em ganhos para a carreira e deixa um número
expressivo de providências em andamento.
No cenário Nacional, da mesma forma, não poupou
esforços em promover a dignificação da AMAM e da Ma-
gistratura Mato-grossense com inter venções na Entidade
Associativa Nacional, no Conselho Nacional de Justiça,
no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional.
Internamente a ADMINISTRAÇÃO MAGISTRA-
DOS procurou incentivar a participação dos Colegas nas
discussões dos temas aflitivos à Magistratura, democra-
tizando ao máximo o direito de todos verbalizarem suas
opiniões.
De outro lado, não descuidou a Gestão de promover
adequações estruturais necessárias na sede da AMAM vi-
sando melhores condições de administração e o conforto
4 AMAMJUS
5
A Gestão “Magistrados”
6a9 conseguiu imprimir uma
administração absolutamente
10 a 16 democrática e participativa
17 a 68
69 a 72
Uma gestão democrática e de mudanças
dos usuários, proporcionando, inclusive, a participação
nos eventos esportivos e culturais. significativas na Amam
Também no campo político associativo, a ADMI-
NISTRAÇÃO MAGISTRADOS procurou envolver a
Líder da gestão “Magistrados”, depois de dois anos na Ocorre que, dentro desse universo de acontecimentos,
AMAM no cenário Nacional participando das discussões
presidência da Associação Mato-grossense de Magistrados a G estão “Ma g istrados” conseg uiu imprimir uma
importantes de interesse coletivo, inclusive participando
(Amam), o juiz de Direito Walter Pereira de Souza administração absolutamente democrática e participativa.
muitos dos Associados na disputa nas eleições da AMB
faz um balanço do biênio, das conquistas alcançadas Por isso, temas importantes foram encaminhados e
que se avizinham. Só a participação efetiva poderá render
pelos mag istrados, aposentados e pensionistas, e os resultados alcançados. Estamos, inclusive, produzindo
mudanças necessárias ao sistema.
planos para o futuro. Segundo ele, foi um período de um Relatório de Gestão, que será divulgado no final do
Evidentemente muita coisa ficou por fazer, mas é pre-
importantes acontecimentos que afetaram diretamente biênio e mostrará as importantes conquistas e realizações
ciso registrar que a NOVA REALIDADE ASSOCIATIVA
a magistratura mato-grossense e que foram tratados de da Amam neste período.
exige URGENTE transformação do nosso papel central,
maneira democrática e participativa pela gestão.
ou seja, a discussão ASSOCIAÇÃO x CLUBE deve re-
ceber atenção das futuras Administrações e dos próprios
Amamjus - Foi possível implementar todas
Associados para um desfecho que dê sobrevivência aos
Amamjus - Que balanço o sr. faz do biênio as ações previstas inicialmente?
projetos que realmente importam à Magistratura.
à frente da Amam?
Gratificante a todos nós integrantes da ADMINIS-
WPS - Infelizmente a realidade econômica/estrutural
TRAÇÃO MAGISTRADOS poder ter participado da
Walter Pereira de Souza - Absolutamente positivo. da Amam não permitiu o desenvolvimento de todo o
O Poder Judiciário Brasileiro sofreu nos últimos cinco anos planejamento inicial. A conclusão da Gestão “Magistrados”
história da AMAM, contribuindo para seu fortalecimento.
a ocorrência de inúmeras decisões e acontecimentos que é de que o orçamento da Amam não permite conjugar:
Fraternal abraço.
interferiram diretamente na vida do magistrado. Não foi manutenção/investimento na sede do Clube Amam
diferente quando tratamos especificamente o Estado de + investimento tecnológico + obrigações tributárias
Walter Pereira de Souza
Mato Grosso, com inevitável reflexo na vida associativa. + obrigações trabalhistas + subsídio à participação
Presidente da AMAM
A Revista da Magistratura Mato-grossense 5
 em eventos culturais/esportivos + calendário festivo +
interiorização + integração com outras Associações. Como
possível solução, tentamos levar à discussão o projeto de
viabilidade econômica da Associação, não concretizado nesse
período e, certamente, constituirá em um desafio às futuras
administrações que deverão enfrentar o tema.
Amamjus - Uma proposta defendida pela
diretoria foi a democratização das ações
associativas. Como a Amam avançou neste
sentido?
WPS - Uma das melhores bandeiras da Gestão
“Magistrados” constituiu no fomento e oportunização
a todos os associados à participação na vida associativa.
Tanto que vários temas importantes já solucionados
ou em andamento nesta seara surgiram da indicação
das bases. Também nunca se viu na vida associativa local
um grau de participação tão elevado dos associados na
indicação de soluções aos mais variados interesses, tendo
essa administração se ocupado em dar encaminhamento às
propostas sugeridas.
De outro lado, a Gestão “Magistrados” se ocupou
também em dar o mais amplo conhecimento aos associados
de todos os problemas que se apresentaram no período,
buscando as possíveis soluções de maneira conjunta.
A gestão
‘Magistrados’ se
ocupou também em
atender os interesses
dos aposentados e
pensionistas
Amamjus - Um dos principais focos desta
gestão foi a defesa efetiva da magistratura. Quais
foram as conquistas garantidas aos magistrados?
WPS - Sem dúvida alguma, a Gestão “Magistrados”
se empenhou diuturnamente na defesa de seus associados,
garantindo-lhes, imediatamente, respostas aos reclames
apresentados. Na Associação de Magistrados Brasileiros
(AMB), estivemos assiduamente presentes nas reuniões e
deliberações de interesse da categoria, inclusive, levados ao
6 AMAMJUS
excesso na defesa dos magistrados mato-grossenses.
A aproximação com a AMB esteve presente desde o
primeiro momento na Gestão “Magistrados”, buscando
inserir a magistratura mato-grossense nos desafios da política
associativa brasileira. É inevitável que a insatisfação com
a entidade nacional acaba, por vezes, nos afastando do
interesse associativo. No entanto, a visão da atual gestão
sempre esteve calcada na efetiva participação dos associados
no intuito de alterar a realidade que nos afeta. Por isso,
a “Gestão Magistrados” se empenhou em defender não
somente o interesse local, como também se pronunciou nas
matérias de interesse Nacional.
Obviamente, o desejo da Gestão “Magistrados” era
contribuir mais e melhor. Contudo, enormes dificuldades
tiveram de ser vencidas. Uma delas refere-se à assessoria
jurídica da Amam que, ap esar da enorme demanda ,
empenhou-se com todo esforço e elogiável competência no
atendimento das solicitações que lhe foram encaminhadas.
Por fim, é importante registrar que várias providências
toma da s p e la Amam ser viram de p arâmetro p ara a
magistratura nacional. Um dos temas emblemáticos foi a
questão dos afastamentos dos magistrados das comarcas
que após décadas foi solucionado por iniciativa da Amam.
Amamjus - Outra proposta dessa administração
foi a defesa das prerrogativas dos aposentados e
pensionistas. Quais foram os avanços?
WPS - A Gestão “Magistrados” se ocupou também
em atender os interesses dos aposentados e pensionistas.
Exemplo disso foi a busca por uma solução ao caso da
possibilidade de exclusão dos aposentados e pensionistas dos
quadros do Poder Judiciário para integrar Fundo Estadual
de Aposentadoria.
A atual gestão fez representação junto à Associação
de Magistrados Brasileiros (AMB) para ingresso de Ação
Direta de Inconstitucionalidade (Adin), contestando a
constitucionalidade da legislação do Estado no Supremo
Tribunal Federal (STF), dando mais segurança aos associados
aposentados e pensionistas, evitando a ocorrência da
exclusão.
O utr a in i c i ati va d a G e stã o “ Ma g i str a d o s” f o i a
regularização, por meio do acionamento da Assessoria
Juríd ica da Amam, do pa g amento de subsíd ios aos
pensionistas, benefício indevidamente reduzido pela
Secretaria de Administração do Estado (SAD).
Amamjus - O resgate do espaço de lazer
oferecido pela Amam também esteve em pauta.
Eventos foram realizados em prol do lazer dos
associados, a exemplo da IX Copa Regional de
Tênis Centro-Oeste/Sudeste, realizada em junho
de 2009. Quais foram as realizações importantes
na Amam como clube?
WPS - Recentemente, no mês de setembro de 2010,
a Gestão “Magistrados” conseguiu equilibrar as contas da
Amam, garantindo um mínimo de sobra financeira, produto,
obviamente, do corte profundo nas despesas operacionais.
Com o resultado positivo, providências foram tomadas,
como atualização tecnológica da Secretaria, Biblioteca e
Sala Vip; modernização do sistema de telefonia e acesso
à internet; modernização das acomodações da hotelaria;
minirreforma do Salão de Festas e dos quiosques; implantação
dos programas obrigatórios de segurança do trabalho aos
funcionários; subsídio à participação de associados em
eventos culturais e esportivos; entre outras conquistas.
Sem dúvida ainda falta muito, mas é possível afirmar que
os resultados obtidos foram fruto de muito trabalho.
Amamjus - A Amam encampou projetos como
Lei da Igualdade e Mude um Destino. Como a
Associação buscou adesão aos projetos de cunho
social?
WPS - Como dito em linhas anteriores, somente no mês
de setembro deste ano conseguimos um alívio financeiro, o
que adiou ou impediu a realização de vários projetos antes
desse período. Porém, não poderia a Gestão “Magistrados”
se furtar de participar de eventos de cunho social. Bem por
isso, foram disponibilizadas gratuitamente datas de locação
do salão de festas da Amam para realização de eventos dessa
natureza, um sucesso de público e de crítica. Além dessa
providência, a Amam tornou-se membro efetivo do projeto
Justiça Comunitária, participou da proposta do Projeto Lei
da Igualdade, fez parceria na Festa Junina Arraiá do Gasjud,
entre outros.
A m a m j u s - C o nv ê n i o s t a m b é m f o r a m
assinados visando beneficiar os magistrados.
Quais foram eles?
WPS - Assinalamos ser de grande importância a
aproximação da Amam com a Associação Paulista de
Magistrados (Apamagis), hoje presidida pelo desembargador
Paulo Dimas de Bellis Mascaretti. Fruto dessa parceria, foi
celebrado convênio de utilização de todas as sedes daquela
entidade por associados da Amam. Ainda, celebramos
convênios com Gasjud, Brasclean Lavanderia Ltda-ME,
Hotel Sesc Porto Cercado, Hotel Paiaguás, Kenko Light
Photon, Agroforest Pneus Ltda, Mario Gonçalo Zeferino
e outros.
Amamjus - Qual é o sentimento ao deixar a
presidência da Associação e os planos para o
futuro?
WPS - O sentimento é de ter contribuído para o
fortalecimento associativo. No mais, devo retomar a
jurisdição para com os meus estimados colegas promover a
Justiça tão desejada pelo cidadão e contribuir com o Poder
Judiciário na construção da democracia Brasileira.
A Revista da Magistratura Mato-grossense 7
 CNJ e a Magistratura Brasileira
Desde a sua criação em 31 de
de zembro de 2004, p or meio da
Emenda Constituciona l n° 45, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é
alvo de críticas e elogios especialmente
no que concerne aos limites de sua
atuação. Instituído em obediência à
Constituição Federal, o órgão está
voltado à reformulação de quadros
e meios no Judiciário, sobretudo
no que diz respeito ao controle e
à transparência adm in istrativa e
processual, visando, entre outras
coisas, o controle administrativo e o
aperfeiçoamento no serviço público
da prestação da Justiça.
No i n t u i t o d e a n a l i s a r c o m
mais propriedade as reformas
constitucionais e infraconstitucionais
registradas no Brasil, o juiz de Direito
mato-grossense, Antonio Veloso Peleja
Junior, foi responsável por assinar o
livro “Conselho Nacional de Justiça e
a Magistratura Brasileira”, publicação
de 376 páginas da Editora Juruá. “O
norte foi conhecer de uma maneira
mais específica a figura do ‘juiz’, o
Poder Judiciário e os Conselhos de
Justiça e, com o tempo, tudo fluiu para
a concepção da obra”, revela.
A publicação busca analisar
o i m p a c t o q u e o C N J o c a s i o na
no Poder Judiciário. Para isso, há
abordagens sobre o poder normativo
primário, do exercício de controle de
constitucionalidade e da influência
nas decisões jurisdicionais dos
juízes monocráticos e coleg iados.
S eg undo o ma g istrado, o tema é
novo e cercado de polêmicas
crescentes, principalmente no seio
da magistratura - primeira a sentir
os reflexos da atuação do conselho.
O m a g i s tr a d o e x p l i c a q u e a
concepção inicial do CNJ se deu
n a Eur o p a e é i n a t a a o s p a í s e s
parlamentaristas, quando o Judiciário
não é um Poder de Estado. Segundo
8 AMAMJUS
Pe l e j a , c i r c u n s t â n c i a s d i v e r s a s
impuseram à concretização de
Conselhos de Justiça na América
Latina e no Caribe, com decisiva
influência do Banco Mundial, assim
como demonstra o Documento Técnico
319. “Ao contrário dos países europeus,
onde os Conselhos foram instituídos
para dar ma is indep endência ao
Judiciário, a instituição dos Conselhos
de Justiça na América Latina se deu
para o estabelecimento de prestação
de contas, responsabilização,
fiscalização e modernização do
funcionamento interno do Poder, o
combate ao nepotismo, à corrupção, a
má gestão e aos desperdícios”, revela.
No entanto, a dificuldade se deu
em moldar uma instituição criada
para estreitar o relacionamento do
Judiciário com os demais Poderes em
países parlamentaristas para que atue
em federações onde isso já acontece,
caso do Brasil.
Segundo o magistrado, estudos
demonstram que o Executivo e o
Leg islativo se prepararam melhor
para as aspirações sociais, fomentadas
pelo processo de redemocratização
vivida no Brasil. “O Judiciário padeceu
por muito tempo e não se preparou,
pelos mais variados fatores, para
a ava lanche de pro c essos que se
fez nítida, principalmente após o
surgimento de um Judiciário como ator
de destaque nas mudanças clamadas
pela sociedade”, compara.
A l ém d e f i s c a l i z a r a s ta re f a s
exercidas pelos juízes, o CNJ
surg iu tamb ém p ara mel horar o
funcionamento do Judiciário como
um todo e homogeneizar, quando
possível, sua atuação.
Ponto d e e qu i l íbr i o - Ne ss e
sentido, o ma g istrado re conhe ce
a atuação benéfica do CNJ para o
aperfeiçoamento do Judiciário, que
além das metas, trilha o acesso à justiça,
por meio da realização de campanhas
e mutirões de cidadania , além do
oferecimento de cursos aos juízes e
encontros nacionais e premiações
às práticas inovadoras. “ Tudo isso
demonstra que o CNJ é de vita l
importância para o aperfeiçoamento da
máquina judiciária estatal”, diz.
Ma s é p r e c i s o e n c o ntr a r um
equilíbrio para que, no combate às
mazelas do Judiciário, o CNJ não
interfira em sua estrutura como Poder.
“Contudo, a partir do momento em
que há supressão o autogoverno do
Judiciário, desrespeito a leis estaduais
que atuam em espaço que lhes é
reservado, exercício do controle de
constitucionalidade e interferência
via resoluções administrativas nas
decisões judiciais, o CNJ extrapola
suas normais funções”, pontua.
Em razão da recente história do
órg ão, o mag istrado acredita que
as situações ora apresentadas são
considerada s norma is até que a s
atividades desse novo modelo se
estabilizem conforme os limites para
os quais foi idealizado. “A solução
para a tensão deve ser encontrada quer
pelo próprio órgão, via sistema de
autocontenção ou pelo STF ao aplainar
eventuais atos exorbitantes, quando
provocado”, discorre.
Ainda assim, Peleja acredita que
a função fiscalizadora e corretiva do
CNJ é necessária. Contudo, deve ser
exercida de forma sóbria, de maneira
a chegar perto do aperfeiçoamento
da máquina judiciária . “A prática
demonstra que no seio do CNJ a
função fiscalizatória e correicional
é o u f o i , em a l g un s m o m ent o s ,
exponencializada. Inclusive, alguns
conselheiros, ao chegar às cidades
para apuração de fatos, antecipavam
à imprensa , mesmo que em tese,
punições, fatos que são explorados
intensivamente e o ca sionam um
A Revista da Magistratura Mato-grossense 9
 enfraquecimento maior ao Judiciário”.
Outro fator destacado pelo
mag istrado é o papel do CNJ em
estabelecer uma “linguagem comum”
e ntr e o s d i v e r s o s tr i b una i s e o
compartilhamento de inovações e
medidas bem-sucedidas no combate
à m o r o s i d a d e p r o c e s s u a l . “ Um
planejamento central e a fiscalização
eram necessários. É tapar os olhos para a
realidade, negar que o órgão contribuiu
para a celeridade das demandas,
principalmente no estabelecimento de
metas e no planejamento estratégico”.
Em 2010, durante o 3° Encontro
Nacional do Judiciário, representantes
do Judiciário brasileiro definiram
10 Metas Prioritárias para 2010. A
iniciativa , seg undo o mag istrado,
apesar de induzir à melhoria do sistema
e contribuir para a homogeneização
dos tribunais, não deve ser
reducionista. “Não se pode atribuir
10 AMAMJUS
ao Judiciário a culpa pela lentidão
e morosidade, porque sabemos que
se trata de um problema complexo
que envolve o comportamento das
partes e advogados, a complexidade
da causa e o comportamento do órgão
Judiciário”, conceitua.
V isando a melhoria do órg ão,
modificações já foram feitas no âmbito
da composição do CNJ, conforme
prevê a Emenda Constitucional n°
61/2009. No entanto, segundo Peleja,
há três mudanças que são essenciais.
A primeira delas é a instituição de
um “secretário-executivo”, ou seja,
um membro do CNJ cuja finalidade
é filtrar as denúncias infundadas e se
necessário colher, preliminarmente,
junto à Corregedoria dos Tribunais,
subsídios acerca da conduta funcional
d o m a g i s tr a d o r e p r e s e nt a d o . A
seg unda das medidas propostas é
que o CNJ atue no âmbito recursal,
o que possibilitaria que as denúncias
fossem apuradas, primeiramente, nas
instâncias inferiores nas Corregedorias
dos Tribunais. “Tem-se que entender
que o CNJ não é uma panacéia, um
remédio para todos os males, o ‘irmão
mais velho’. Logo após sua criação,
houve uma avalanche de denúncias,
muitas infundadas, o que de certa
forma sufocou sua atividade judicante”,
lembra. A terceira modificação trata da
ampliação da participação da Justiça
Estadual no órgão.
Esmagis/MT – Instrumento permanente de
aperfeiçoamento dos magistrados mato-grossenses
Ao longo de duas décadas e meia de fundação, a Escola
Superior da Magistratura de Mato Grosso (Esmagis/MT)
vem se consolidando como um meio de aperfeiçoamento
permanente dos magistrados mato-grossenses, a fim de
auxiliar no processo de consolidação do Judiciário do Estado
como um instrumento célere e eficaz da Justiça brasileira.
Criada em 06 de setembro de 1985, por meio do ato do
presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT)
à época, desembargador Ernani Vieira de Souza, a iniciativa
contemplou um esforço conjunto de diversos magistrados
que, ao longo dos anos, buscou a capacitação dos operadores
do Direito mato-grossenses por meio de convênios com a
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Coube ao desembargador João Antonio Neto o título de
primeiro diretor da Esmagis/MT. Também foram diretores
os desembargadores Licínio Carpinelli Stefani, Márcio Vidal
e Rui Ramos Ribeiro e os juízes de Direito Agnelo Bezerra
Neto e Antônio Horácio da Silva Neto.
Atualmente, quem responde pela diretoria da Esmagis/
MT é o desembargador Rui Ramos. O desembargador Márcio
Assessoria de Comunicação TJMT
Vidal atua como vice-diretor e os desembargadores Mauro
José Pereira, Juvenal Pereira da Silva, Omar Rodrigues de
Almeida, Guiomar Teodoro Borges e Clarice Claudino da
Silva e o juiz de Direito José Mauro Bianchini Fernandes
integram o Conselho Consultivo da escola.
A história da Esmagis/MT está umbilicalmente ligada à
da Associação Mato-Grossense de Magistrados (Amam). Isso
porque os seus primeiros dirigentes eram também diretores
da Associação. Nesse sentido, o funcionamento da Escola
é marcado pelas alternâncias de responsabilidades entre a
Amam e o TJMT.
Vale destacar que a Escola da Magistratura do Estado
de Mato Grosso está entre as mais antigas do Brasil – mais
precisamente, a sétima, sendo precedida apenas pelas Escolas
de Minas Gerais (1977); do Rio Grande do Sul (1980);
do Paraná e da Paraíba, ambas de 1983; a da Bahia e a do
Espírito Santo, estas duas últimas do mesmo ano (1985) que
a Esmagis/MT, embora de alguns meses antes.
Em 2004, por meio da Emenda Constitucional n°
45/2004, foi criada a Escola Institucional Pública para
A Revista da Magistratura Mato-grossense 11
 Magistrados, o embrião do que hoje é a Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam). Uma
nova concepção de escola de magistratura no Brasil, dada
à persistência do ministro do Supremo Tribunal de Justiça
(STJ), Sávio de Figueiredo, estava desenhada.
Em Mato Grosso, após o trabalho desempenhado por
uma comissão, a Esmagis/MT retornou em definitivo ao
TJMT, em 2006, e, com a publicação da Lei Complementar
n° 257/2006, passou a integrar a estrutura organizacional do
Tribunal. “Agora, a expectativa é de que galgue novos espaços
e alcance novas dimensões, em face da sociedade que reclama,
cada vez mais, melhor atuação e, por conseguinte, do Poder
Judiciário”, revelou o assessor da Esmagis/MT, João Luiz
Bettini de Albuquerque Lins.
Atualmente instalada no prédio da Escola dos Servidores,
a Esmagis vem funcionando devidamente reestruturada e
adequada com salas e auditório. Diversos magistrados do
TJMT por intermédio da Esmagis/MT participaram entre
os anos de 2008 e 2010 de eventos realizados em diversas
instituições, como Associação de Magistrados Brasileiros
(AMB), Escola Nacional da Magistratura (ENM) e outras,
além de cursos, seminários, palestras e outras iniciativas.
Assim, na atualidade, a escola da magistratura destina-se a
Assessoria de Comunicação TJMT
12 AMAMJUS
essa missão: formação, inicial e continuada, dos magistrados,
em prol do aprimoramento da prestação jurisdicional.
A Esmagis/MT oferece, ainda, cursos de aperfeiçoamento
para magistrados que possibilitam atender aos critérios de
merecimento, e de vitaliciamento, no plano de elevados
estudos e em regime de palestras, pesquisas, conferências,
debates, soluções de casos concretos e discussões de temas de
Direito, assim como a organização de cursos de pós-graduação
lato sensu, mestrado e doutorado, para melhor aprimoramento
da magistratura nacional.
Em 2009, a Esmagis/MT sediou o XVI Colégio
Permanente de Diretores de Escolas Estaduais da Magistratura
(Copedem), prova de que a instituição mato-grossense está no
rol das instituições de capacitação mais respeitadas do país.
Além das iniciativas de renome nacional e internacional, a
intenção é que em breve todo o material aplicado nos cursos
possa ser disponibilizado no site da Esmagis/MT. “Estamos
trabalhando com o aprimoramento dos nossos sistemas de
informática para aperfeiçoar o acesso a esses materiais tão
ricos para a magistratura”, pontuou o assessor.
Cursos – Para 2010, outros cursos estão em andamento
ou farão parte do calendário até o final do ano. Dentre eles,
o Programa de Pós-Graduação – MBA em Poder Judiciário;
Cursos de Aperfeiçoamento para Magistrados em Direito
Eleitoral, Direito Sanitário, Direito Ambiental e Direito
Eletrônico; Curso de Gestão de Pessoas e Gerenciamento para
Resultados; Curso de Técnica de Conciliação – Resolução
Alternativa de Conflitos; Curso de Capacitação para
Magistrados e Equipe Multidisciplinar em Atendimento ao
Provimento n° 04 – CNJ; Curso de Atualização em Direito
Notarial e Registral ; Curso de Dosimetria das Penas e
Decretação de Prisão.
Destaque para dois cursos: Jurisdição Civil - iniciado em
março de 2007, dividido em 24 módulos e 43 magistrados
capacitados; e Programa de Pós-Graduação – MBA em Poder
Judiciário, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV),
iniciado em agosto de 2007, também dividido em 24 módulos
e 44 magistrados capacitados.
Em 2011, a intenção é a realização de 14 cursos, incluindo
a nova turma de Programa de Pós-Graduação – MBA em Poder
Judiciário. “Todas essas iniciativas garantem aos magistrados,
além do conhecimento, a oportunidade de trocar experiências
das realidades que vivem”, lembrou João.
Meta 8 – Durante o 3º Encontro Nacional do Judiciário,
ocorrido em fevereiro deste ano, que reuniu os dirigentes de
Juiz do TJMT lança nova edição
de livro sobre Direito Penal
O juiz Wanderlei José dos Reis, da 1ª Vara Cível e diretor
do Foro da Comarca de Sorriso, lançou uma segunda edição
do livro jurídico Direito Penal para Provas e Concursos
(250 pág.), pela editora Juruá. A nova versão da obra (a
1ª saiu em 2001) chega revisada, atualizada e ampliada,
tratando de forma prática novos temas como o Estatuto do
Desarmamento, Lei Maria da Penha, Nova Lei de Tóxicos,
Lei de Recuperação Judicial (Nova Lei de Falências), Lei
Seca e Nova Lei do Júri.
Contendo amplo índice alfabético remissivo para facilitar
o acesso e a pesquisa dos leitores, a obra está sendo vendida
em todo o país e se destina, sobretudo, aos acadêmicos e
candidatos aos concursos jurídicos. Foi realizada com base
na experiência do magistrado, que lecionou vários anos as
disciplinas de Direito Penal e Processo Penal na UNIC
(Universidade de Cuiabá), no IPC (Instituto Preparatório
para Concursos) e na ESUD (Escola Superior de Direito de
Mato Grosso) e buscou tratar da matéria de forma objetiva
e de fácil compreensão, trazendo à baila temas que são
frequentes nos concursos para as carreiras jurídicas.
todos os segmentos do Sistema de Justiça brasileiro, foram
definidas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 10 Metas
Prioritárias para 2010. As Escolas da Magistratura também
auxiliará para o cumprimento dessas medidas. Trata-se da
Meta 8, que estimula a promoção de cursos de capacitação em
administração judiciária, com no mínimo 40 horas, para 50%
dos magistrados brasileiros, o que representa cerca de sete mil
juízes.
Conforme o acordo de cooperação firmado entre o CNJ e a
Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados
(Enfam), os cursos serão oferecidos, prioritariamente, por
intermédio de ações de ensino à distância. O acordo pretende
auxiliar ainda no cumprimento da Meta 5, também fixada pelo
CNJ para 2010, que prevê a adoção de método de gestão de
processos de trabalho, também para 50% dos magistrados. “O
objetivo não é somente valorizar a magistratura mas também
conseguir melhorar o atendimento à sociedade”, disse. “O
pensamento final é a melhoria na qualidade do ser viço
jurisdicional prestado à população”, finalizou o assessor.
Fonte: Pau e Prosa Comunicação com Assessoria Esmagis/
MT e CNJ
O autor
O juiz Wanderlei José dos Reis é escritor ; ocupa
a cadeira 5 da Academia Mato -grossense de Letras
(AML); ex-delegado de polícia; doutorando em Direito;
MBA em Poder Judiciário
pela FGV; bacharel em
Direito ; graduado em
Matemática (com ênfase em
informática); especialista
em Educação pela UFRJ, em
Direito Público avançado
e em Direito Processual
Civil Avançado. Possui
ainda outras obras, como
Temas de Direito Penal ;
Recursos Penais; Toga e
Pelerine e Diretoria de Foro
e Administração Judiciária
(no prelo).
A Revista da Magistratura Mato-grossense 13

Obras na sede para melhor atender os magistrados – A
atual administração está fazendo melhorias na estrutura
física da Amam, com reforma e pintura de apartamentos
e portaria. Também foram providenciadas novas camas,
aparelhos de ar condicionado, TVs e instalada TV por
assinatura para a parte de hotelaria.
14 AMAMJUS
Eleições da Amam
Em 08 de novembro deste ano, último dia
para inscrição de chapas para disputa da próxima
administração da Amam, biênio 2011/2013,
houve registro apenas da chapa “MUDANÇA
E INTEGRAÇÃO”, composta pelos seguintes
magistrados:
Diretoria administrativa:
Agamenon Alcântara Moreno Junior
Presidente
Alex Nunes de Figueiredo
1º Vice Presidente
Carlos Alberto Alves da Rocha
2º Vice Presidente
Aristeu Dias Batista Vilella
1º Secretário
Anderson Gomes Junqueira
2º Secretário
Edileuza Zorgetti Moneiro da Silva
1º Tesoureira
Juvenal Pereira da Silva
2º Tesoureiro
Conselheiros:
Alexandre Delicato Pampado
Alexandre Elias Filho
Clarice Claudino da Silva
Gilberto Giraldelli
Gonçalo Antunes de Barros Neto
João Thiago de França Guerra
Jurandir Florêncio de Castilho
Lídio Modesto da Silva Filho
Luis Octávio Oliveira Sabóia Ribeiro
Luis Otávio Pereira Marques
Márcio Aparecido Guedes
Michell Lotfi Aparecido da Silva
A administração “MAGISTR ADOS”
reconhece que o fato de haver uma única CHAPA
na disputa das eleições da Amam representa
maturidade da Magistratura neste momento em
que é preciso unir e reunir esforços para a luta dos
interesses coletivos.
O sucesso da Amam depende fundamentalmente
da participação dos Associados.
Do Descumprimento do Princípio do Juízo
Natural - CNJ não possui Competência
Originária para Instaurar Processo
Administrativo Disciplinar Contra
Magistrado - Princípio da Subsidiariedade
O processo administrativo disciplinar do Magistrado
segue o disposto da Lei Complementar nº 35/79, apesar
dela ser lacunosa sobre os aspe ctos processua is da
tramitação da investigação interna, deixando espaços para
o intérprete completá-la.
Verificada a lacuna, a Emenda Constitucional nº
45/2004, acrescentou o artig o 103-B, na CF, e por
intermédio do qual foi criado o Conselho Nacional
de Justiça - CNJ. E o artigo 75, de Regimento Interno
do Conselho Nacional de Justiça, de maneira correta,
estabeleceu que o respectivo processo administrativo
disciplinar instaurado contra membros integrantes do
Poder Judiciário obedecerá ao procedimento previsto na
Lei Orgânica da Magistratura, aplicando-se no que não
for incompatível, a Lei nº 8.112/90 e a Lei nº 9.784/99.
A formalidade legal do desenvolvimento do processo
administrativo do Mag istrado não desperta maiores
d iverg ência s, p o is a s re g ra s são b em del ineada s e
estabelecidas segundo a cláusula do due process of Law.
Contudo, após a instalação do CNJ, foi gerada uma
grande celeuma quanto à competência originária para
o início da persecução disciplinar, se a mesma seria de
competência do Tribunal ao qual o Magistrado está
vinculado, ou se o próprio Conselho possuiria a competência
concorrente para dar início ao processo disciplinar.
Entendemos que a competência do CNJ, para fins
disciplinares, é subsidiária aos Tribunais aos quais se
vinculam o Magistrado investigado, seg undo a regra
constitucional de prerrogativa de função.
Reza o artigo 93, VIII, da CF: “93 - Lei Complementar
de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre
o Estatuto da Magistratura, obser vados os seg uintes
princípios: (...) VIII - o ato de remoção, disponibilidade
e aposentadoria do magistrado, por interesse público,
fundar-se-á em decisão por voto da maioria do respectivo
Tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada
a ampla defesa.”
Essa condicionante entre o respectivo Tribunal, ou
Conselho Nacional de Justiça - CNJ, como regra de
competência para a tramitação e o julgamento do processo
disciplinar do Mag istrado, pode ter g erado alg uma
dúvida inicial ao próprio CNJ, no sentido dele possuir
originalmente, ou concorrentemente, a dita competência.
Sucede, que essa não é a melhor exegese das regras
constitucionais, pois não foi essa a intenção da CF, que
estabeleceu cláusula de competência (juízo natural) dos
Tribunais respectivos, delegando ao CNJ, subsidiariamente,
poderes condicionados para também promover a apuração
disciplinar, que será descrito a posteriori.
Po r o utro l a d o , o p ri n c í p i o d o j u í z o nat ur a l ,
materializado em dois incisos do artigo 5º, da Constituição
Federal ( X X XVII – “não haverá juízo ou Tribunal
de exceção ;” e LIII – “ninguém será processado nem
sentenciado senão p ela autoridade comp etente ;”)
é plenamente aplicado ao pro cesso administrativo
disciplinar. (CF. MIRANDA, Gustavo Senna. Princípio
do Juiz Natural e a sua aplicação na Lei de Improbidade
Administrativa . São Paulo : RT, 2006, p. 80; NERY
JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civi na União
Federal., 5. ed. São Paulo: RT, p. 66).
Estabelece o princípio sub oculis, uma jurisdição
administrativa diretamente focalizada para o devido
processo legal e para a isonomia, equânime, realizado
em qualquer grau de jurisdição, por uma autoridade
administrativa legalmente competente.
Ada Pellegrini Grinover, ao discorrer sobre o princípio
do juízo natural destaca quatro significados, que funcionam
como garantias: 1 – a vedação de juízos extraordinários,
constituídos após o fato (ex post facto); 2 – a proibição
de subtração do juiz constitucionalmente competente; 3
– a proibição de julgamento por Órgão constituído após
a ocorrência do fato; e 4 – a necessidade de observar a
ordem taxativa de competência dos juízes pré-constituídos.
O juízo natural do processo administrativo disciplinar é a
autoridade administrativa competente para instaurar e julgá-
lo, segundo os ditames legais e constitucionais vigentes.
A Revista da Magistratura Mato-grossense 15

Nesse particular, destaca-se a incompetência do CNJ
para instaurar originariamente Processo Administrativo
Disciplinar, porquanto lhe compete apenas e, tão somente,
avocar o já existente, diante da regra de competência
estabele cida no § 4º, inciso III, do art. 103 - B, da
Constituição Federal, que se segue:
“Art. 103 - B (...)
III - receber e conhecer das reclamações
c o n t r a m e m b r o s o u ó r g ã o s d o Po d e r
Judiciário, inclusive contra seus ser viços
auxiliares, serventias e órgãos prestadores de
serviços notariais e de registro que atuem por
delegação do poder público ou oficializados,
sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional dos tribunais, podendo avocar
processos disciplinares em curso e determinar a
remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria
com subsídios ou proventos proporcionais
ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa;
Em face dessa regra de competência, principalmente a
que vai estabelecida no § 4º, inciso III, do art. 103-B, da
Constituição Federal, verifica-se que o Conselho Nacional
de Justiça pode receber e conhecer das reclamações contra
membros ou órgão do Poder Judiciário, inclusive contra
seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de
serviços notariais e registro que atuem por delegação do
16 AMAMJUS
poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência
disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar
processos disciplinares em curso e determinar a remoção,
a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou
proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras
sanções administrativas, assegurada ampla defesa.
C o m o s e o b s er va n o t e o r d o c i ta d o d i sp o s i ti vo
constitucional (art. 103-B, § 4º, inciso II, CF), o recebimento
e conhecimento das reclamações contra Magistrados e
órgãos do Poder Judiciário devem obedecer a seguintes
situações fáticas e, conseqüentemente, jurídicas bem
claras e definidas. Primeiro, como conseqüência de lógica
jurídica o recebimento e o conhecimento das reclamações
somente poderão ocorrer, por evidente, após a criação e
instalação do Conselho Nacional de Justiça deverão se dar
sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos
Tribunais. Segundo, por se tratar de órgão judiciário criado
pelo constituinte derivado, sem regra expressa de exceção
competencial, sua atuação avocatória exige que exista
processo disciplinar em curso contra os membros ou órgãos
do Poder Judiciário.
Portanto, tais situações jurídicas realçam que a atuação
disciplinar do Conselho Nacional de Justiça vai encontrar
limites nos direitos e g arantias individuais e demais
princípios jurídicos que regem o Estado Democrático de
Direito, entre os quais tem destaque o princípio do due
process of law, onde se encontra o postulado juiz natural,
que afasta expressamente a possibilidade de instituição de
juízos ou tribunais de exceção.
Isso significa dizer que a instauração e a condução de
qualquer processo, disciplinar ou não, no nosso sistema
jurídico deverá se realizar por juízes, tribunais e órgãos
previamente contidos na Constituição Federal, ou seja,
nunca por juízes, tribunais e órgãos judiciários criados e
constituídos ex post facto a ser investigado, para futuro
processo e julgamento.
Por sua vez, o mestre Luigi Ferrajoli não deixa margem
a dúvida sobre a definição da relevância da garantia do juiz
natural ao lecionar que:
“La garantia del juez natural indica esta
normalidad, del régimen de competencias,
preconstituida por la ley al juicio, entendiendo
por competencia la medida de la jurisdicción
de cada juez es titular. Significa, precisamente,
tres cosas distintas aunque relacionadas entre sí:
la necessidad de que el juez sea preconstituido
por la ley y no constituido post factum; la
inderog abilidad y la indisponibilidad de
las competencias; la prohibición de jueces
extraordinarios y especiales”.
(Derecho y razón – teoria del garantismo
penal, 5.ª edicion. Madri: Editorial Trotta,
2001, p. 590, 2001)
Quanto à amplitude que se deve dar ao referido princípio,
o ex-Conselheiro Nacional de Justiça Alexandre de Moraes
acentua que: “o referido princípio deve ser interpretado
em sua plenitude, de forma a não só proibir a criação
de Tribunais ou juízos de exceção, como também exigir
respeito absoluto às regras objetivas de determinação de
competência, para que não seja afetada a independência do
órgão julgador.” (MORAES, Alexandre de. Constituição do
Brasil interpretada e legislação constitucional. São Paulo:
Editora Atlas S/A., 2002, p. 304).
E a finalidade do princípio do juiz natural foi definida
magistralmente pelo Supremo Tribunal Federal ao definir
que “o princípio do Juízo – que traduz significativa conquista
do processo penal liberal, essencialmente fundado em bases
democráticas – atua como fator de limitação dos poderes
persecutórios do Estado e representa importante garantia da
imparcialidade dos juízes e tribunais”. (STF - 1ª Turma – HC
n. 69.601/SP – Relator Ministro Celso de Mello, Diário da
Justiça, Seção I, 18 dez. 1992, p. 24.377).
Tem, portanto, caráter dúplice a garantia do juízo
natural, que é manifestado com a proibição de juízos e
Tribunais extraordinários e com impedimento à subtração
da causa ao juízo ou Tribunal competente. Não pode julgar
o órgão que foi criado ou instalado depois do fato que exige
o processo e julgamento.
As conclusões dessas regras basilares levam a definição
de que juiz natural é o próprio juiz constitucional, ou seja,
aquele juiz que é criado pela Carta Magna e cujas regras
de competência vêm nela definidas a priori, pois reafirma
o pacto da nossa República Federativa com o primado do
Estado Democrático de Direito e com a prevalência dos
princípios referentes aos Direitos Humanos (art. 1º. e 4º.,
da Constituição Federal).
Não obstante a dimensão nacional do CNJ, que serve de
modelo a ser seguido pelo Judiciário, “não se pode deixar de
reconhecer que os corpos judiciários locais, por qualificarem-
se como coletividade autônomas institucionalizadas, possuem
um núcleo de autogoverno que lhes é próprio e que, por isso
mesmo, constitui expressão de legítima autonomia que deve
ser ordinariamente preservada porque, ainda que admissível,
é sempre extraordinária a possibilidade de interferência,
neles, de organismos posicionados na estrutura central do
Poder Judiciário Nacional.” (Despacho que concedeu a
medida liminar requerida no MS nº 28.801-MC/DF, cuja
tese que se defende no presente estudo foi referendada).
A ss im , s e g un d o o t e xt o c o nsti t u c i o na l vi g ent e ,
orig inária é a competência dos respectivos Tribunais
e subsidiariamente do Conselho Nacional de Justiça
para avocar processos e rever julgados administrativos
proferidos há menos de um ano, pois não existe, em tema de
competência a possibilidade de tornar concorrente algo que
o constituinte derivado assim não qualificou, porquanto
os institutos jurídicos não se confundem e não podem ser
distorcidos pelo intérprete especializado.
Isso porque o tema da distribuição de competências
(exclusiva, concorrente, cumulativa, privativa, etc.) tem
a sua lógica no princípio da predominância do interesse,
significando dizer que, havendo conflito de competências
acerca de determinada matéria, a atribuição competente será
concedida ao ente que tenha predominantemente o interesse
sobre o assunto. E num primeiro momento, o interesse de
apurar a conduta funcional do magistrado é sempre do
Tribunal ao qual este se encontra subordinado.
Já a competência concorrente é utilizada , para os
devidos fins legislativos, visando o estabelecimento de
padrões, de normas gerais ou específicas sobre determinado
tema e prevê a possibilidade de disposição sobre o mesmo
assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa
(União, Estados e Municípios), consoante dispõe o art. 24,
da Constituição Federal.
Não se pode estender esse conceito para buscar consagrar
competência concorrente a órgão administrativo, o que
exigiria fórmula expressa nesse sentido por força da criação
do legislador, seja ele constituinte originário ou derivado,
ou ainda infraconstitucional. Portanto, não há como
A Revista da Magistratura Mato-grossense 17
 dizer que existe “legitimidade autônoma concorrente”
e muito menos competência concorrente no caso de
recebimento e processamento de reclamações contra
magistrados, disputando o Conselho Nacional de Justiça
com os Tribunais a primazia para a análise das condutas
18 AMAMJUS
administrativas funcionais.
Até porque esse elastério exegético da Constituição da
República, em especial do seu art. 103-B, § 4º., inciso III,
chega ao ponto de com ele levar o intérprete a vislumbrar
a possibilidade da escolha do foro administrativo às
conveniências das partes ou das autoridades administrativas
processantes, o que é impensável ante o princípio
constitucional da impessoalidade (art. 37, da Constituição
Federal) e a responsabilidade do Conselho Nacional de
Justiça em cumprir tal princípio (art. 103-B, § 4º., inciso
II, da Constituição Federal). 1
Daí ser necessário reafirmar que a atuação do Conselho
Nacional de Justiça para o processo administrativo
disciplinar envolvendo magistrado é sempre derivada
(subsidiaria) e a do órgão competente a que pertença ou
esteja subordinado administrativamente o magistrado,
no caso os Tribunais, é sempre originária. O Conselho
Nacional de Justiça vai atuar sempre e tão somente
nas hipóteses do figurino constitucional, respeitando
as situações excepcionais traçadas pelo constituinte
derivado, de forma subsidiaria.
Contudo, não se pode deixar de anotar ser razoável
admitir que, após a criação do Conselho Nacional
de Justiça , o órg ão tamb ém p ossa determinar ao
Tribunal Pleno ou Órgão Especial do Poder Judiciário
a que pertença ou esteja subordinado o magistrado a
instauração do processo administrativo disciplinar, à
vista das reclamações, denúncias ou representações
que lhe forem formuladas (art. 103-B, §§ 4º e
5º, inciso I, da Constituição Federal), dando
início à instauração da instância administrativa
disciplinar.
De outro lado, para a efetiva consagração
do direito fundamental do indivíduo e do
cidadão – e o magistrado se insere nesse
contexto -, ao devido processo legal, ao juiz
natural e à ampla defesa e ao contraditório
se impõe o dever a todos os órgãos
judiciários e administrativos à estrita
observância das regras procedimentais
de regência. Afastar-se delas significa
negar tais postulados do Estado
Democrático de Direito.
Dessa forma, ao caso sub oculis
de verão ser ap l icada s na sua
plen itude a s d isp osiçõ es da
Lei Orgânica da Magistratura
Naciona l , sabidamente
recepcionada pela
Constituição Federal vigente, a qual assim dispõe:
“A r t . 2 7 . O p r o c e d i m e n t o p a r a a
decretação da perda do cargo terá início
por determinação do Tribunal, ou do seu
Órgão Especial, a que pertença ou esteja
subordinado o Mag istrado, de ofício ou
mediante representação fundamentada do
Poder Executivo ou Legislativo, do Ministério
Público ou do Conselho Federal ou seccional
da Ordem dos Advogados do Brasil.
[...]
§ 6º. O julgamento será realizado em sessão
secreta do Tribunal ou de seu Órgão Especial,
depois de relatório oral, e a decisão no sentido
da penalização do Magistrado só será tomada
pelo voto de dois terços dos membros do
colegiado, em escrutínio secreto.”
Há de se ressaltar, porque importante para a compreensão
dessa tese, que o texto legal faz literal referência aos
desembargadores, quando disciplina a competência dos
Tribunais ou de seus Órgãos Especiais para processar o
magistrado estadual pertencente à respectiva unidade
judiciária ou que a ele esteja subordinado.
Nesse sentido já decidiu o Egrégio Superior Tribunal de Justiça:
RECLAMAÇÃO. PROCESSO
DISCIPLINAR. DESEMBARGADOR.
Ainda que os fatos relatados na portaria
que instaura processo administrativo contra
desembargador descrevam fatos que, além
de faltas disciplinares, também caracterizam
delitos, a competência para julgá-lo é do
Tribunal ; o Superior Tribunal de Justiça
apenas é competente para o julgamento de
desembargador no âmbito da competência
criminal. Reclamação julgada prejudicada em
parte e improcedente no mais.
(STJ – Reclamação nº 1.153-CE, Rel.
Ministro Ari Pargendler, j. 19-12-2002).
No que interessa a essa assertiva, não se pode perder de
vista que entre as atribuições conferidas pela Constituição
Federal ao Conselho Nacional de Justiça está a de zelar pelo
cumprimento do Estatuto da Magistratura2, o que implica dizer
que também deve fiel cumprimento às suas prescrições para
o desenvolvimento do processo administrativo disciplinar.
Aliás, o próprio Conselho Nacional de Justiça teve esse
cuidado ao colocar no mundo jurídico a sua Resolução n. 30,
de 7 de março de 2007, onde vai disposto expressamente que:
“Art. 6º. Para os processos administrativos
disciplinares e para a aplicação de quaisquer
penalidades previstas nos artigos anteriores,
é competente o Tribunal Pleno ou o Órgão
Especial a que pertença ou esteja subordinado
o magistrado.
Ar t . 7 º . O p ro c e ss o t er á in í c i o p o r
determinação do Tribunal Pleno ou do Órgão
Especial por proposta do Corregedor-Geral,
no caso de magistrado de primeiro grau, ou
do Presidente do Tribunal, nos demais casos”.
Frise-se ainda a respeito da observância dessa competência,
como marco regulatório do princípio do due process of
law, que a Lei Federal n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999,
disciplinadora do processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal, é de aplicação subsidiária
por força do art. 22, da Resolução n. 30/2007, do Conselho
Nacional de Justiça, dispondo em caráter cogente o seguinte
sobre a irrenunciabilidade : “Art. 11. A competência é
irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que
foi atribuída como própria, salvo nos casos de delegação e
avocação legalmente admitidos”.
Ainda a respeito da observância da competência, como
marco do princípio do devido processo legal, reitere-se
que a Lei Federal n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999,
reg uladora do processo administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal, e já mencionada como de
aplicação subsidiária aos processos administrativos por
força do art. 22 da Resolução n. 30/2007, do Conselho
Naciona l de Justiça , d i sp ôs em caráter c o g ente ser
irrenunciável a competência e que deve ser exercida pelos
órgãos administrativos a que foi atribuída como própria,
ressalvadas a avocação e a delegação legais e constitucionais.
Assim, não se pode ignorar que o Conselho Nacional
de Justiça está outorgado pela Constituição da República
a exercer a competência revisional e derivada. Pretendendo
processar desde logo e originariamente ao magistrado, por via
oblíqua, ainda obsta que este alcance o direito constitucional
ao duplo grau recursal na via administrativa, resultando
em cerceio não permitido pelo nosso sistema de direitos e
garantias individuais.
Todos os indivíduos têm o direito à ampla defesa e ao
contraditório com os meios e os recursos a ela inerentes
(art. 5º, inciso LV, Constituição Federal), com o que já não
mais se discute sobre a existência de direito ao duplo grau
de jurisdição, ou seja, ao exercício da legítima interposição
de recursos nas vias administrativa e judicial.
O Supremo Tribunal Federal, em decisões recentes, tem
reafirmado que se situa entre as garantias fundamentais do
cidadão na República Federativa do Brasil o direito ao recurso
administrativo no mesmo processo que responde, norteando
a melhor interpretação jurídica para essa regra constitucional.
Esse é o ensinamento que se retira do julgamento da
Suprema Corte no Recurso Extraordinário n. 388.359/PE,
A Revista da Magistratura Mato-grossense 19
 encerrado em 28-3-2007, onde os eminentes ministros “Essa interpretação mais larga, mais
consig naram va liosas lições sobre o tema nos seus à solta, leva-me a entender que existe um
respectivos votos, os quais se passam a citar como excertos: direito de petição em todas as instâncias
administrativas, ganhando, portanto, uma
O Ministro Joaquim Barbosa: conotação de petição recursal, se necessário.”
“O direito ao recurso em procedimento O Ministro Celso de Mello:
administrativo é tanto um princípio geral
de direito como um direito fundamental.” “Isso significa , pois, que assiste, ao
interessado, mesmo em procedimentos de
(...) índole administrativa, como direta emanação
da própria garantia constitucional do “due
“Situados no âmbito dos direitos pro c ess of law ” ( indep endentem ente,
fundamentais, os recursos administrativos p o r ta nt o , d e haver, o u nã o , p re vi s ã o
g ozam entre nós de dupla proteção normativa nos estatutos que regem a atuação
constitucional, a saber: art. 5º, incisos XXXIV dos órg ãos do Estado), a prerro g ativa
(direito de petição independentemente do indisponível do contraditório e da plenitude
pagamento de taxas) e LV (contraditório).” de defesa com os meios e recursos a ela
inerentes
in ( inclusive o direito à prova)
O Ministro Carlos Britto: consoante
c prescreve a Constituição da
República,
R em seu art. 5º, incisos LIV e LV.”
Ainda o Mi
Ministro Joaquim Barbosa, julgando a Ação
Direta de Inconstitucionalidade
Incon n. 1.976-7, assentou com
absoluta precisão
precisã que: “Da necessidade de se proporcionar
um procedime
procedimento administrativo adequado surg e o
imperativo de se consagrar a possibilidade de se recorrer
dentro do próprio
p procedimento.”
E o Ministro
Min Eros Grau, na AO 1498AgR/SP, Pleno
(DJ de 5.02.2009),
5.0 fulcrando-se no posicionamento
da Mini
Ministra Ellen Gracie na AO nº 587, DJ de
30.06.06,
30.06.06 averbou:
“(...) 3. A mesma alegação de interesse da
magistratura
m na questão do que decorreria
a atribuição de “g eneralidade” à causa ,
não
n permite, por si só, o deslocamento da
competência
c do Tribunal local. Precedente
(AO
(A nº 587, Rel. Ministra Ellen Gracie, DJ
de
d 30.06.06). (...)”
E monocraticamente
mo o Ministro Eros Grau
deferiu medida
m liminar nos autos do MS nº 28.350,
onde bbaseando-se na CF, externou que o CNJ não
possui poderes para instaurar diretamente
processo administrativo disciplinar
contra Magistrado, podendo, contudo,
avocar os já instaurados, mas jamais
alterar a competência constitucional
que lhe foi outorg ada , como no
presente caso, litteris:
“13. A concessão de medida liminar
em mandado de segurança pressupõe
a coexistência da plausibilidade do
20
20 AMAMJUS
AM
A MAM
AMJJU
US
direito invocado pelo impetrante e do receio
de dano irreparável pela demora na concessão
da ordem.
14. O arquivamento de processo
judicial contra a impetrante não implica,
n e c e s s a r i a m ent e , a i mp o s s i b i l i d a d e d e
instauração de pro c esso adm in istrativo
disciplinar, em virtude da independência das
instâncias penal, cível e administrativa. A
avocação pelo Conselho Nacional de Justiça,
nos termos da competência definida no art.
103- B, § 4º, III da Constituição do Brasil,
seria possível somente após a instauração do
processo administrativo disciplinar.
15. O preceito constitucional e o inciso IV
do artigo 4º do Regimento Interno do CNJ são
expressos quanto à possibilidade de avocação
de processos disciplinares em curso.
16. O próprio Tribunal de Justiça da
Bahia certifica a inexistência de processo
administrativo disciplinar instaurado contra
a magistrada [fls. 211/212]. Outra certidão
indica que o Expediente n. 42940/08 “não
cheg ou a ser transformado em Pro cesso
Administrativo Disciplinar, sendo, antes,
avocado pelo Conselho Nacional de Justiça
para onde foram os autos encaminhados”
[fl. 213].
17. A competência avocatória do
Conselho Nacional de Justiça pressupõe a
existência de procedimento administrativo
de caráter disciplinar instaurado e em curso.
O ato de avocação não pode ser praticado
na s fa ses ante ce dentes à instauração do
processo administrativo disciplinar, tais
como as indicadas nos artigos 27, caput e §
1º da LOMAN.
18. Os preceitos dos artig os 50, 51 e
53 da LOM AN referem-se ao Conselho
Nacional da Magistratura. Não se aplicam aos
procedimentos instaurados perante o Conselho
Nacional de Justiça. Esse órgão disciplinou a
avocação de processos administrativos em seu
regimento interno e na Resolução n. 30/07,
nos termos da competência definida no art.
103-B, § 4º da Constituição.
19. O periculum in mora é evidente, na
medida em que o ato coator determinou
o afastamento da magistrada da atividade
jurisdicional. Defiro a medida liminar para
suspender os efeitos da decisão proferida
pelo CNJ na Sessão Ordinária de 15.9.09,
nos autos da Reclamação Disciplinar
n . 2 0 0 9 1 0 0 0 0 0 2 4 7 2 5 , s em p re ju í z o d e
reapreciação após a vinda das informações.
Notifique-se a autoridade coatora para prestar
informações, no prazo do art. 7º, inciso I, da
Lei n. 12.016/09.
Comunique-se, com urgência,
encaminhando-se cópia desta decisão para o
Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
Publique-se.
Brasília, 27 de outubro de 2009.
Ministro Eros Grau - Relator.”
Com o mesmo brilho, enfrentando o tema em questão,
o Ministro Celso de Mello no MS 28.801/DF, deferiu a
liminar por nós requerida, onde ele observa que o exercício
da competência do Conselho Nacional de Justiça, para fim
disciplinar é subsidiária, de tal modo que a atuação desse
órgão deve ser colocada em prática anômalamente, nas
seguintes hipóteses legais:
“(a) a inércia dos Tribunais na adoção
d e m e d i d a s d e í n d o l e a d m i n i s tr a ti v o -
disciplinar, prática dos atos de fiscalização e
controle ou (d) a incapacidade de promover,
com independência, procedimentos
administrativos destinados a tornar efetiva a
responsabilidade funcional dos Magistrados.”
Em seguida, o decano do Supremo Tribunal Federal, em
verdadeira harmonia com o plasmado constitucional, averba
sobre o desempenho da atividade subsidiária do Conselho
Nacional de Justiça, para fins disciplinares:
“Isso significaria que o desempenho da
atividade fiscalizadora (e eventualmente
p un i ti va ) d o C o n s e l h o Na c i o na l d e
Justiça deveria ocorrer somente nos casos
e m q u e o s Tr i b un a i s - h a v e n d o t i d o a
possibilidade de exercerem, eles próprios, a
investidos - deixassem de fazê-lo (inércia)
ou pretexta ssem f a zê-lo (simu lação) ou
demonstrassem incapacidade de fazê-
l o ( f a l ta d e i n d ep en d ên c i a ) o u , a i n d a ,
dentre outros comportamentos evasivos,
protelassem, sem justa causa, o seu exercício
A Revista da Magistratura Mato-grossense 21
 (procrastinação indevida).
Dessa maneira , a incidência do postulado da
subsidiariedade, como requisito legitimados da prática
concreta, pelo Conselho Nacional de Justiça, de uma
competência complementar em matéria correicional,
disciplinar e/ou administrativa, não só harmoniza o
exercício dessa jurisdição censória com o princípio da
autonomia institucional dos Tribunais, como conferira,
também, maior coeficiente de leg itimidade jurídica
à atuação desse órgão estatal, propiciando -se, desse
modo, nos termos da abordagem ora preconizada, a
análise do tema sob a perspectiva dos múltiplois valores
constitucionais envolvidos.”
Como visto, não há previsão constitucional para se
aderir à tese da competência originária do Conselho
Nacional de Justiça - CNJ, para julgar Mag istrados
disciplinarmente.
A competência subsidiária do CNJ será sempre
acionada nas situações anômalas descritas pelo Ministro
Celso de Mello, quando for ineficiente a atuação do
respectivo Tribunal, que possui o dever de instaurar e de
julgar os atos de seus membros.
Aderindo a tese da impossibilidade da legitimação
concorrente entre o CNJ e a dos Tribunais, pois senão
não haveria razão para a CF estabelecer a possibilidade de
advocação do processo disciplinar, cumpre verificar, ante a
pertinência de seu conteúdo, parte do voto proferido pelo
Ministro Marco Aurélio no julgamento do MS 28.884-
MC/DF, citado pelo Ministro Celso de Mello no despacho
do MS 28.801-MC/DF, litteris:
“Salta aos olhos a relevância do pedido
formulado quanto à necessária determinação
ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais no
sentido de julgar o processo administrativo,
glosada a atividade monocrática, a atividade
do corregedor. Incabível é cogitar-se, na
MS 28.801-MC / DF situação concreta,
de legitimação concorrente, sob pena de
menosprezo à organicidade e à dinâmica do
Direito, vindo-se a agasalhar avocação que
se distancia da previsão do inciso III do § 4º
do artigo 103-B da Constituição Federal – a
revelar competir ao Conselho Nacional de
Justiça ‘receber e conhecer das reclamações
c o ntr a m em b r o s o u ó r g ã o s d o Po d er
Judiciário, inclusive contra seus ser viços
auxiliares, serventias e órgãos prestadores de
serviços notariais e de registro que atuem por
delegação do poder público ou oficializados,
sem prejuízo da competência disciplinar
22 AMAMJUS
e c o rre c i o na l d o s tri b una i s , p o d en d o
avocar processos disciplinares em curso e
determinar a remoção, a disponibilidade
o u a ap o s enta d o ri a c o m su b s í d i o s o u
proventos proporcionais ao tempo de serviço
e aplicar outras sanções administrativas,
asseg urada ampla defesa’. Relativamente
aos processos disciplinares de juízes e
membros de tribunais, a revisão, de ofício
ou mediante provocação, pressupõe, a teor
desse inciso e também do inciso V – ‘rever,
de ofício, ou me diante provocação, os
processos disciplinares de juízes e membros
de tribunais julgados há menos de um ano’
–, o exaurimento da atuação na origem,
mesmo porque, conforme o inciso VIII
do artigo 93 da Carta da República – e
incumbe interpretá-la de forma sistemática
–, cabe ao Tribunal, de início, o ato de
remoção, disponibilidade e aposentadoria do
magistrado, por interesse público, observado
o voto da maioria absoluta.”
Esse aspecto da questão, que exige do aplicador da lei
adotar uma interpretação sistemática do art. 93, inc. VIII,
da CF, põe em destaque a autonomia constitucional dos
Tribunais no aspecto disciplinar, sem retirar a competência
subsidiária do CNJ.
Do contrário, haveria, como de fato estava ocorrendo,
invasões indevidas da competência disciplinar e correicional
dos Tribunais, de modo que estes deixaram de ser a complementar em relação aos Tribunais, disciplinar e administrativa.
instância constitucional originária, para se transformarem atuando sobretudo quando constatada a Assim ficou ementada a aludida medida liminar deferida
em meros coadjuvantes do Conselho Nacional de Justiça. ineficácia dos mecanismos ordinários de pelo Min. Celso de Mello no MS nº 28.801, litteris:
Não resta dúvida que o CNJ possui competência administração e repressão. A outra previsão “Conselho Nacional de Justiça. Jurisdição
subsidiária à dos Tribunais, reser vando sua inter venção rele vante para a viabilização das tarefas Censória . Apuração da Responsabilidade
para um momento posterior, caso ela seja necessária, ao disciplinares do Conselho, diz respeito à Disciplinar de Magistrados. Legitimidade
seu juízo. possibilidade de o Ministro - Correg edor da imposição, a eles, de sanções de índole
Por essa razão, o CNJ possui poderes de “avocar ‘re qu i s i ta r e d e s i g nar ma g i str a d o s , administrativa. A responsabilidade dos Juízes:
processos disciplinares em curso” e também de rever os deleg ando -lhes atribuiçõ es, e re quisitar uma expressão do postulado republicano.
PAD’s contra Magistrados julgados há menos de um ano. ser vidores de juízos ou tribunais, inclusive Ca r á t e r na c i o na l d o p o d e r Ju d i c i á r i o .
Sobre esse aspecto da questão, releva citar a análise de nos Estados, Distrito Federal e Territórios’, Auto g overno da Ma g istratura : g arantia
Flávio Dino, Hugo Melo, Leonardo Barbosa e Nicolau a teor do art. 103-B, § 5º, inciso III.” constitucional de caráter objetivo. Exercício
Dino, transcrita pelo Ministro Celso de Mello no despacho prioritário, pelos Tribunais em geral, do poder
no MS 28.801-MC/DF, quanto ao papel subsidiário do (Reforma do Judiciário: Comentários à disciplinar quanto aos seus membros e aos
CNJ na questão em foco: Emenda nº 45/2004, p. 108/109, 2005, Impetus). juízes a eles vinculados. A questão das delicadas
“Ou seja, o CNJ não pode ter a Por fim, é de se destacar o desprendimento jurídico e relações entre a autonomia constitucional dos
pretensão de transformar-se em um ‘Big o alto grau de independência do Ministro Celso de Mello, Tribunais e a jurisdição censória outorgada ao
Brother’, dando conta do que se passa em que ao despachar o pedido de liminar no MS nº 28.801/ Conselho Nacional de Justiça. Existência de
milhares de unidades jurisdicionais em DF, já citado, mesmo em posição embrionária, antecipou situação de tensão dialética entre a pretensão
todo o território nacional, investigando o provimento cautelar requerido, observando a incidência de autonomia dos Tribunais e o poder do
juízes e ser ventuários. Deve, ao contrário, do princípio da subsidiariedade como requisito legitimador Conselho Nacional de Justiça na estrutura
reser va-se um papel subsidiário e do exercício, pelo Conselho Nacional de Justiça, de uma central do aparelho judiciário. Incidência do
competência complementar em matéria correicional, princípio da subsidiariedade como requisito
A Revista da Magistratura Mato-grossense 23
 legitimador do exercício, pelo conselho
Nacional de Justiça, de uma competência Da possibilidade de compensação dos
complementar em matéria correcional,
disciplinar e administrativa. papel relevante,
nesse contexto, porque harmonizador de
créditos alimentares dos magistrados e
prerrogativas antagônicas, desempenhado
pela cláusula de subsidiariedade. Competência
servidores estaduais com a contribuição
disciplinar e poder de fiscalização e controle
do Conselho Nacional de Justiça: exercício, previdenciária oficial e o IRPF
pelo CNJ, que pressupõe, para legitimar-
se, a ocorrência de situações anômalas e
A compensação constitui causa de permanente ou durante certo prazo, pendentes de pagamento em 13/9/00
excepcionais reg istradas no âmbito dos
extinção do crédito tributário (CTN, em situações específicas. e os que decorram de ações ajuizadas
Tribunais em geral (hipóteses de inércia, de
art. 156, II), que de acordo com Hugo Decorre, ainda, que “cuida-se de até 31/12/1999, trazida pela
simulação investigatória, de procrastinação
de Brito Machado “é como um encontro compensação de créditos tributários Emenda Constitucional 30/2000
indevida e/ou de incapacidade de atuação).
de contas. Se o obrigado ao pagamento com créditos de qualquer natureza, (ADCT, art. 78), que “terão, se não
Pre s en ç a c umu l ati va , na e sp é c i e , d o s
do tributo é credor da Fazenda Pública, desde que líquidos e certos, vencidos liquidadas até o final do exercício a
requisitos configuradores da plausibilidade
poderá ocorrer uma compensação pela ou vincendos, do sujeito passivo que se referem, poder liberatório do
jurídica e do “periculum in mora”. Suspensão
qual seja extinta sua obrigação, isto é, o c o m a Fa z e n d a Públ i c a . O b j e t os pagamento de tributos da entidade
cautelar da eficácia da punição imposta
crédito tributário”1. d a c o mp e n s a ç ã o , n e s t e c a s o , s ã o , devedora” (ADCT, art. 78, § 1º).
p e l o C o n s e l h o Na c i o n a l d e Ju s t i ç a ,
Ainda seg undo o ilustre de um lado, um crédito tributário, Ricardo Cunha Chimenti defende
consistente em aposentadoria compulsória
doutrinador, “o direito de compensar que é por natureza líquido e certo, que “trata-se de uma nova espécie de
do Magistrado, por interesse público (CF,
é decorrência natural da garantia dos posto que constituído pelo reg ular compensação, cujo fundamento decorre
Art. 93, VIII, c/c o art. 103-B, § 4º, III).
direitos de crédito, que consubstanciam p r o c e d i m e n t o a d m i n i s t ra t i v o d e diretamente da Constituição, e que,
Medida Liminar deferida.”
parcelas do direito de propriedade, lançamento; e, de outro, um crédito segundo entendo, é auto-aplicável e afasta
Após o deferimento da respectiva medida liminar,
c o mb i n a d a c o m o u t r o s p r e c e i t o s de qualquer natureza que o sujeito a regra geral do art. 170 do CTN.” 4
está aberta uma nova reflexão sobre tão relevante tema, de
constitucionais. Seria absurdo pretender passivo daquela relação tributária Pois bem, constatado direito à
interesse da Magistratura Nacional e de toda coletividade.
que alguém, sendo credor e, também, tem junto à Fazenda Pública.” 3 compensação dos créditos salariais,
devedor da mesma pessoa, pudesse exigir Assim, conclui-se que os créditos seja com a edição de lei estadual ou
daquela o pagamento de seu crédito, sem alimentares, líquidos e certos, dos diretamente fundada na Constituição
que estivesse também obrigado a pagar o magistrados e ser vidores públicos Federal, com quais tributos poderiam os
Mauro Roberto Gomes de Mattos, seu débito. A compensação é, na verdade, do Poder Judiciário de Mato Grosso créditos alimentares ser compensados?
bacharel em Direito um efeito inexorável das obrigações podem ser objeto de compensação dos Ora, todos aqueles previstos no
jurídicas, e desse contexto não se pode tributos devidos à Fazenda Pública art. 155 da Constituição Federal, quais
excluir a Fazenda Pública.” 2 estadua l , ba stando e d ição de lei sejam: ITCMD, ICMS e IPVA.
Regulamentando a matéria, o art. autorizadora para tanto. Mas não se pode deixar de incluir
170 do CTN dispõe que “a lei pode, nas Exemplo de lei dessa natureza no a contribuição previdenciária oficial
condições e sob as garantias que estipular, âmbito federal é Lei 9.430/96, cujo e o imposto de renda, diretamente
Notas ou cuja estipulação em cada caso atribuir art. 74, com a redação alterada pela descontados pelo Tribunal de Justiça,
à autoridade administrativa, autorizar Lei 10.637/02, autoriza “o sujeito na qualidade de substituto tributário,
1
a compensação de créditos tributários passivo que apurar crédito, inclusive nas folhas de pagamento.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, com créditos líquidos e certos, vencidos os judiciais com trânsito em julgado, Como acima mencionado, os
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: ou vincendos, do sujeito passivo contra relativo a tributo ou contribuição créditos de qualquer natureza, incluindo
Art. 103-B. § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário a Fazenda pública”. administrado pela Secretaria da Receita os alimentares, poderão ser compensados
e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura: II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou Da leitura do referido dispositivo, Federal, passível de restituição ou de com quaisquer espécies de tributos, aí
mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder verifica-se a necessidade de existência ressarcimento, poderá utilizá-lo na incluída a contribuição previdenciária
2
Art. 103-B. § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder de lei da competência do ente compensação de débitos próprios relativos oficial recolhida pelos magistrados e
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
político titular da capacidade para a quaisquer tributos e contribuições servidores aos cofres do Tribunal de
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo instituição do tributo, autorizando a administrados por aquele Órgão”. Justiça, para sua futura aposentadoria.
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; compensação, fixando suas condições Mas existe também a hipótese “ No âmbito federal, observem-
para os tributos em g era l ou de de compensação das prestações se as Leis n. 8.383/91 (art. 66),
uma espécie determinada, de modo anuais decorrentes dos precatórios 9.430/96 (art. 74) e 10.637/2002,

24 AMAMJUS A Revista da Magistratura Mato-grossense 25

 o Decreto n. 2.138/97 e as Instruções
Normativas SRF n. 21/97 e 73/97,
que reg ulamentam a compensação
entre tributos e contribuições da mesma
espécie, de diferentes espécies e até
mesmo a compensação de crédito de um
contribuinte com o débito de outro.” 5
A possibilidade de compensação
com o imposto de renda decorre do
fato de, em se tratando de magistrados
e servidores estaduais, seu produto
pertencer à Fazenda Pública Estadual,
e não à Federal, em consonância com
o art. 157, I da CF:
“Art. 157. Pertencem aos Estados e
ao Distrito Federal:
I – o produto d a arrecad ação
do imposto da União sobre renda
e proventos de qualquer natureza,
incidente na fonte, sobre rendimentos
pagos, a qualquer título, por eles,
26 AMAMJUS
suas autarquias e pelas fundações que
instituírem e mantiverem.”
Embora se trate de repartição
de receita tributária, o imposto de
renda é diretamente repassado pelo
Tribunal de Justiça à Fazenda Pública
Estadual, em consonância com o
parecer emitido pela Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional, verbis:
“A nova disciplina constitucional
(CF/88, arts. 157, I, e 158, I), por não
ter estabelecido quaisquer restrições ou
formalidades especiais à incorporação
da receita, nem tratamento diferenciado
quanto às retenções efetuadas por pessoas
jurídicas de direito público interno e
suas autarquias e fundações, a nosso
ver, admite a imediata incorporação
do produto arrecadado às receitas dos
Estados, Municípios e Distrito Federal,
independentemente de autorização de
Notas
1 Curso de Direito Tributário, Malheiros, 29ª Edição, p. 208.
2 Op. cit., p. 210.
3 Hugo de Brito Machado, op. cit., p. 210.
4 Direito Tributário, Coleção Sinopses Jurídicas, v. 16, Saraiva,
12ª Ed., p. 91.
5 Ricardo Cunha Chimenti, op. cit., p. 92.
6 PGFN/CAT/n. 557-A/95.
qualquer órgão federal.” 6
Concluindo, a compensação
tributária dos créditos alimentares
dos ma g istrados e ser vidores do
Poder Judiciário com a contribuição
previdenciária oficial e o imposto
de renda beneficiará a todos. Aos
mag istrados e ser vidores, vez que
fina lmente terão adimplidos seu
créditos, decorrentes de árduo trabalho
prestado à sociedade mato-grossense.
Ao Tribunal de Justiça, que disporá de
uma forma transparente e equitativa de
saldar seu passivo, sem comprometer
seu orçamento. E ao Governo do
Estado, responsável final pela dívida,
que não pre cisará suplementar o
o r ç a m e n t o d o Ju d i c i á r i o , n e m
tampouco suportar inúmeras ações de
cobrança contra si.
Alexandre Delicato Pampado,
juiz de Direito do TJMT
Um Suposto “Direito de Mentir” a Bem da
Não-Autoincriminação
Introdução
Seria correto falar em “direito de
mentir”? Ou afirmar que a “mentira
é um direito”? Como é tratado o
mentiroso na condição de acusado no
Direito brasileiro? As perplexidades
que nos conduziram a essas indagações
não são despropositadas, mas surgiram
da observância prática na lide forense.
Como Juiz Cooperador, durante a
“Semana várzea-grandense do Tribunal
Popular do Júri”, no período de 30 de
novembro a 04 de dezembro de 2009,
no plenário da Câmara Municipal de
Várzea Grande - MT, ao presidir Sessão
Extraordinária, deu-se, a seguinte,
afirmação categórica, por parte de um
digno Promotor de Justiça, que referia:
“O réu não tem o direito de mentir!”.
Passados dois dias, no mesmo local,
presenciamos um ilustre advogado,
incisivamente, declarando: “O réu tem
o direito de mentir!”.
Diante de afirmações
absolutamente contrárias,
posteriormente, entrevistamos os
autores das mesmas e os questionamos
a respeito de suas divergências, no
entanto, eles não convenceram nem
a si próprios com o conteúdo de suas
respostas. Também, indagamos de
outras pessoas sobre o assunto. E,
ser vidores, assessores, advog ados,
defensores públicos, ninguém trouxe
uma resposta satisfatória . Assim,
exceto aquele Promotor de Justiça, as
demais pessoas foram unânimes em
afirmar que o acusado tem o “direito
de mentir”. Argumentaram que, em
Processo Penal, no Brasil, o acusado
tem a sseg urada a Ampla D efesa ,
por isso, ao mentir em juízo, está
exercendo a sua defesa e, assim, não
pode ser punido. Então, a mentira
seria corolário do princípio da não-
autoincriminação?
Portanto, justifica-se a dúvida
sobre a natureza do ato de mentir
em juízo, como meio de autodefesa,
quando o acusado é interrogado em
processo-crime, qual seja, encontra-
se amparado no princípio da não -
autoincriminação. Deste modo, a
mentira seria legitimada pelo direito
da ampla defesa? Isso equivaleria a
dizer que o acusado tem “direito de
mentir”? Sabemos que o acusado o
qual se utiliza da mentira como meio
de defesa não recebe punição alguma. E
isso leva tantos a falarem na existência
de um “direito de mentir”. Contudo,
temos que a mentira em hipótese
alguma possa ser elevada à categoria
d e d ire i t o . Ne ss a c irc unstâ n c i a ,
demonstraremos que “a mentira é um
falso direito” e, em atinência a este
objetivo, desenvolveremos uma sucinta
abordagem com conotação teológica,
filosófica e jurídica. Lógico, sem o
aprofundamento que g ostaríamos
devido ao exíguo espaço dedicado a
um singelo artigo, no entanto, com
a s motivaçõ es e f undamentaçõ es
ne cessária s ao emba samento dos
arg umentos apresentados, cuja
finalidade é dissipar a dúvida quanto
à ideia de que a mentira seja detentora
de qualquer conotação de direito.
1. A Mentira Sob a
Ótica Teológica
Ao examinarmos o texto bíblico,
encontraremos a mentira considerada
como vício, portanto, em antagonismo
à virtude, e, por consequência , o
mentiroso é tomado como pecador.
O ato de mentir é abominado por
Deus. No capítulo derradeiro do
último livro da Bíblia, Deus lança uma
admoestação final ao dizer que fica de
fora de seu Reino todo àquele que ama
e pratica a mentira (Ap 22.14).
São Tomás de Aquino, no volume
VI, de sua notável Suma Teológica,
na Questão 110, disp õ e sobre A
Mentira . Na verdade, a resp eito
da mentira , suscita e resp onde a
quatro questionamentos: 1. A mentira
sempre se opõe à verdade por conter a
falsidade? 2. As espécies de mentira.
3. A mentira é sempre pecado? 4. É
sempre pecado mortal?
Quanto à primeira indagação: a
mentira sempre se opõe à verdade?
São Tomás amplia e aprofunda a
argumentação de Santo Agostinho,
lançando como resposta um incisivo sim.
E aduz que é patente que a mentira se
opõe diretamente à virtude da verdade.
Atinentemente à segunda indagação:
a mentira se divide suficientemente em
oficiosa, jocosa e perniciosa? São Tomás
de Aquino não se dá por satisfeito.
Cita Santo Agostinho, o qual divide a
mentira em oito partes: 1. Na doutrina
da religião; 2. Que não causa benefício
a ninguém, mas causa dano a alguém;
3. Que é útil a alguém, mas prejudica
um outro; 4. A que provém apenas do
prazer de mentir e enganar; 5. A que
procede do desejo de agradar; 6. A
que não prejudica a ninguém e ajuda
alguém a conservar seu dinheiro; 7. A
que não prejudica a ninguém e ajuda
alguém a evitar a morte; 8. A que não
prejudica ninguém e ajuda alguém a
evitar a imundícia corporal. Lembra
que Aristóteles divide a mentira em
jactância e ironia. São Tomás opera a
divisão da mentira em três partes, quais
sejam: 1. Tomada da própria natureza da
A Revista da Magistratura Mato-grossense 27
 mentira, que é de uma divisão própria e
essencial; 2. Considera a razão de culpa
segundo aquilo que agrava ou diminui
a culpa da mentira em função do fim
desejado; e 3. Considera a ordenação
ao fim, pouco importando saber se
isto agrava ou diminui a culpa da
mentira. E conclui ponderando existir
um escalonamento quanto à gravidade
da mentira, tendo-se por base o grau
de intenção, causando dano ou não,
contudo, todas as espécies de mentira
são reprováveis, eis que a honra e a
virtude valem mais que a vida corpórea.
Sobre a terceira indagação: a mentira
é sempre pecado? São Tomás de Aquino
responde afirmativamente, de forma
absoluta, sem qualquer exceção. E
28 AMAMJUS
comenta: 1. Que os escritores da Bíblia
em momento alg um incorrem em
mentira, pois, ao apresentarem versões
aparentemente antagônicas, isso ocorre
dadas a circunstâncias nas quais se
encontravam; 2. Que as parteiras do
Egito foram recompensadas por Deus,
não por mentirem ao Faraó, e sim em
razão do temor e da boa vontade; 3.
Que autores de certos feitos, na Sagrada
Escritura, são exemplos da perfeita
virtude, e não mentirosos. É o caso de
Abraão, que não mentiu ao dizer que Sara
era sua irmã, ele queria ocultar a verdade,
no entanto, de fato, ela era sua irmã
por parte de pai. Em outras situações,
falta o modelo de perfeita virtude, mas
o que conta é a boa intenção; 4. Que
reconhece a mentira como mal em sua
própria natureza, não podendo ser meio
a servir a qualquer bom propósito, muito
embora ressalve a ocultação da verdade
com prudência; 5. Que quem promete
e não cumpre, porque houve mudança
de circunstâncias, não é mentiroso; 6.
Que algumas locuções hiperbólicas ou
figurativas da Bíblia, expressas em sentido
figurado, não constituem mentiras.
Alusivamente à quarta indagação:
toda mentira é pecado mortal? São
Tomás de Aquino responde que toda
mentira é pecado, no entanto, nem toda
mentira se constitui em pecado mortal,
pois, dadas as circunstâncias, há mentira
que corresponde ao pecado venial. São
Tomás de Aquino expressa uma minuciosa
classificação da mentira sob o ponto de
vista da moral teológica. E fica evidente
que toda e qualquer mentira é um
pecado, não importa a dimensão ou
consequência de sua prática.
A República Federativa do Brasil
se constitui em Estado laico, qual seja,
em momento algum, externou opção
por qualquer religião; e assegurou o
livre exercício dos cultos religiosos
(CRFB, art. 5.º VIII). Entretanto,
laico é diferente de ateu, pois significa
apenas que não se lig ou a uma
denominação religiosa oficialmente,
mas o Brasil é um país “crente”,
haja vista que, ao promulgar a sua
Constituição, fez “sob a proteção de
Deus”, como se lê no preâmbulo da
mesma. Em vista disso, já se percebe
que o Direito brasileiro não poderia
albergar, no seu âmago, um “direito
de mentir”, seria um antagonismo.
2. A Mentira Sob a
Ótica Filosófica
Immanuel Kant é categórico em
repreender a mentira em todas as
suas nuanças, não lhe facultando
q ua l q u er e sp a ç o , m í n i m o q u e
seja. Ele não tolera a mentira em
quaisquer de suas espécies e formas,
seja em benefício próprio, seja em
favor de terceiras pessoas. Entre a
morte e a mentira, não titubeia em
escolher a morte, pois esta não afronta
a dignidade humana. O que nos leva
a parafrasear o Marechal Rondon e
dizer: “Morrer se for preciso, mentir
nunca”. Assim sendo, não admite
flexibilização quanto ao dever de dizer
a verdade, esta é soberana. Desde já
se verifica perfeita consonância entre
a ética kantiana e a moral teológica,
ambas elevam a virtude da verdade em
categoria universal e absoluta.
Em um texto intitulado “ Um
p r e t en s o d i r e i t o d e m enti r p o r
amor à humanidade”, Kant noticia
que se deparou com crítica a esse
princípio moral de dizer a verdade,
de forma absoluta, por parte de seu
contemporâneo Benjamin Constant,
o qual, da França, afirmou que a ideia
de Kant é inviável de ser praticada.
Chegou até a enunciar que a sociedade
se tornaria impossível - nesse particular,
cremos que usou apenas força de
expressão, visto que em momento
alg um externou fundamentação a
esse respeito. A seguir, exemplificou
que a obediência a esse princípio
implicaria no absurdo de pretender
classificar como crime uma mentira
dita a assassinos em potencial, que,
por ventura , perg untassem-lhe se
um seu amigo, possível vítima, teria
se refugiado em sua casa. Assim, o
filósofo francês refutou a tal princípio
aduzindo que o de ver de dizer a
verdade só prevalece em relação àqueles
que têm direito à verdade.
Em sua resposta, Kant reafirmou
o seu ponto de vista, não alterou seu
pensar, permaneceu impávido. Primeiro,
criticou a expressão “ter direito à
verdade”, asseverando ser desprovida de
sentido, pois, segundo ele, todo homem
tem direito à sua própria verdade. Em
seguida, suscitou duas questões: 1. Em
saber se o homem, quando não pode
se recusar a responder sim ou não, tem
a faculdade (direito) de ser inverídico;
2. Em saber se não está absolutamente
obrigado, em certa declaração a que
o obriga uma injusta coação, a ser
inverídico a fim de evitar um crime
que o ameaça ou ameaça outra pessoa.
Em resumo, reforça que: “É, portanto,
um sagrado mandamento da razão,
que ordena incondicionalmente e não
admite limitação, por qualquer espécie
de conveniência, o seguinte: ser verídico
(honesto) em todas as declarações”.
E consolida sua resposta da seguinte
forma: “Cada homem, porém, tem não
somente o direito, mas, até mesmo,
o estrito dever de enunciar a verdade
nas proposições que não pode evitar,
mesmo que prejudique a ele ou a outros”.
Entretanto, a mentira teima em ser
companheira do ser humano, tema ao
qual já nos referimos em outro contexto.
3. A Mentira Sob a
Ótica Jurídica
Um suposto “direito de mentir”, a
bem da não-autoincriminação, advém
dos seguintes instrumentos jurídicos:
1. A 5.ª Emenda à Constituição dos
Estados Unidos consagra que ninguém
será obrig ado, em processo penal
condenatório, a servir de testemunha
contra si ; 2. No Bra sil , vig ora o
princípio da não-autoincriminação, o
qual assegura ao preso e ao acusado em
geral o direito de permanecer calado e
não produzir prova contra si mesmo
(CRFB, art. 5.º, LXIII); 3. O Código
de Processo Penal brasileiro (art.
186) detalha o direito de permanecer
calado e de não responder perguntas,
asseg urando que seu silêncio não
significa confissão e que não pode ser
interpretado em seu desfavor.
Esses dispositivos leg ais em
nenhuma circunstância expressam
“direito de mentir” ao acusado. Isso
seria despautério, quando muito,
configurar-se-ia em “falso direito”,
pois, em juízo, o acusado tem o dever de
falar a verdade. Aliás, dizer a verdade
continua sendo reg ra imp erativa
para todas as pessoas e em quaisquer
circunstâncias. Lembremos que a
verdade real é princípio norteador
do Direito Processual Penal, o qual só
excepcionalmente se contenta com a
verdade formal. Percebe-se facilmente
que a verdade, sim, é que se apresenta
como direito, a qual, por si mesma,
afasta a possibilidade da mentira vir
a constituir-se em Direito.
O magistrado, ao iniciar a segunda
parte do interrogatório, deve assegurar
ao acusado que este tem três caminhos
a seguir: 1. Permanecer calado e, caso
queira, responder as perguntas que
lhe interessar; 2. Apresentar a versão
que melhor lhe favoreça; 3. Confessar
e beneficiar-se de uma atenuante.
Assim, temos de indagar onde está
assegurado ao acusado o “direito de
mentir”? Em lugar algum, isso existe.
Acrescentemos que magistrado algum,
jamais, dirá ao acusado que este tem
o “direito de mentir”. E isto porque
a opção do silêncio, total ou parcial,
ou de apresentar a versão que melhor
interesse à defesa do acusado, é garantia
do Estado Democrático de Direito ao
acusado em geral. E lembremos que se
o acusado optar pela não revelação da
verdade (mentira por ação ou omissão)
terá que contar com o fator sorte para
obter alguma vantagem, pois deve ser
desmentido pelo conjunto das provas,
caso contrário, houve ineficiência
do Estado na instrução probatória.
O óbvio se apresenta, e o que tem
aparência de direito, qual seja , o
“direito de mentir”, desaparece frente
à verdade.
O Estado contemporâneo,
mormente, o Democrático de Direito,
nunca permite a confissão forçada, e
mesmo quando espontânea deve se
amparar no maciço probatório, pois,
solitária, não se presta à condenação
do acusado. Assim, inibe qualquer
espécie de tortura. De maneira que
ao acusado é assegurado o direito à
ampla defesa, ao estado de inocência
A Revista da Magistratura Mato-grossense 29

e a p ermane cer ca lado, com isso
estabelece a não-autoincriminação, a
qual significa que não tem de produzir
qualquer prova contra si mesmo.
Compete ao Estado arreg imentar
provas, por isso o interrogatório se
constitui essencialmente em meio de
defesa. Portanto, não é verdade que
o acusado tenha “direito de mentir”.
Entretanto, estando em situação de
ser interrogado, momento que lhe
30 AMAMJUS
confere o legítimo direito de não se
autoincriminar, é como se estivesse
num estado de necessidade artificial,
isto é, de sua responsabilidade, pois,
deu causa a suposto ato ilícito anterior
que resultou em encontrar-se numa
situação limite.
Ao deparar-se com seu cidadão
na condição de acusado, o Estado
Democrático de Direito deixa ao seu
livre-arbítrio a forma de se conduzir
Abel Balbino Guimarães,
Juiz de Direito do TJMT
a sua própria defesa; ao não puni-lo,
assegura-lhe a mais ampla defesa que,
de outra forma, ficaria prejudicada. E
esse Estado admite um “espaço livre
de direito”, ou seja, ao não punir o
acusado flagrado em mentira, deixa
na consciência dele, acusado, o livre
a g ir, isto é, não re g u lamenta de
forma a afirmar ser lícita ou ilícita
tal conduta do acusado, por isso resta
impune quanto ao ato de mentir. E
como não poderia ser diferente, o
Estado Democrático de Direito se
reveste de tolerância, a qual é positiva
ta nto p a r a o a p r i m o r a m ent o d a
Democracia como à perfectibilidade
do ser humano.
Conclusão
Não existe “direito de mentir”, e
sim direito a não-autoincriminação,
o que não é a mesma coisa. Todos têm
direito à verdade, essa exclui, de forma
absoluta, a mentira, não permitindo
que esta seja alçada à condição de
direito. Na visão moral teológica,
qualquer que seja a mentira será sempre
um pecado. Na ética, sobretudo a
kantiana, a mentira é reprovável de
forma absoluta. No aspecto jurídico,
a mentira é rejeitada como direito,
porém, a bem da ampla defesa, para
asseg urar a não -autoincriminação,
o Estado Democrático de Direito a
tolera. Deixa o acusado no seu livre-
arbítrio, que, caso envere de pela
mentira, ficará impune, pois, neste
particular, o Estado deixou a mentira
no “espaço livre de direito”, qual
seja, não a inscreveu em seu sistema
jurídico como lícita ou ilícita.
Penal. Coimbra: Editora Coimbra, 1974. v.I. PASCAL, Georges. Compreender Kant. 2. ed.
Bibliografia GUIMARÃES, Abel Balbino. A Justiça é a Petrópolis/RJ: Vozes, 2005.
Esperança. Cuiabá: Tanta Tinta, 2006. v.I. RAMOS, João Gualberto Garcez. Curso de
AGOSTINHO. A cidade de Deus. Lisboa:
KANT, Immanuel. Textos seletos. 4. ed. processo penal norte-americano. São Paulo:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.
ARISTÓTELES. Ética a Nicómaco. 2. ed.
Petrópolis/RJ: Vozes, 2008. Revista dos Tribunais, 2006.
KAUFMANN, Arthur. Filosofia do direito. 2. ROXIN, Claus. La prohibición de
Lisboa: Quetzal, 2006.
ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, autoincriminación y de las escuchas
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. São
2007. domiciliarias. Buenos Aires: Hammurabi,
Paulo: Loyola, 2005. v.VI.
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, 2008.
BÍBLIA de Estudo Vida. Trad. de: João
Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo TOURINHO FILHO, Fernando da Costa.
Ferreira de Almeida. São Paulo: Vida, 1999.
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Processual
Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. Manual de Processo Penal. 6. ed. São Paulo:
São Paulo: Saraiva, 2008. Saraiva, 2004.
(KANT, Immanuel, Op. Cit., p. 75). privilégio contra a auto-incriminação forçada
Notas explicativas Ibidem, p. 76. (RAMOS, João Gualberto Garcez. Curso de
GUIMARÃES, Abel Balbino. A Justiça é a processo penal norte-americano. São Paulo:
O Livro Sagrado referenciado é a Bíblia de
Esperança. Cuiabá: Tanta Tinta, 2006. v.I. Revista dos Tribunais, 2006. p. 135-142). A
Estudo VIDA, 1999. No Índice de Assuntos,
deparamos com a palavra mentira em: Êx
p. 120-121. No texto intitulado: “Para não 5.ª Emenda à Constiuição americana, data de
dizer que não falei da mentira”, sentíamos 1791.
1.19; 1Sm 21.2; 2Rs 8.10 10.19; 2Cr 18.22; Sl
a necessidade de mais verdade no mundo. Traduzindo em uma metáfora podemos dizer
62.4; Jr 38.27; At 5.5,10. Na Concordância,
Ademais, chegamos a pensar que Jesus Cristo, que mentira e verdade não podem se dar as
aparecem as palavras: mentir em: Gn 21.23;
Nm 23.19; 1Rs 13.18; Pv 14.5; At 5.3; Cl 3.9.
ao dizer: “aquele que dentre vós estiver sem mãos e saírem juntas num mesmo palco, pois,
pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” caso assim procedessem, seriam passistas de
Mentira em: Sl 62.4; Sl 119.69; Sl 119.163;
( Jo 8.7), bastaria ter dito, “quem estiver livre um samba cujo enredo teria como tema a
Is 28.15; Jr 27.10; Jo 8.44; Rm 1.25; Ef 4.25;
da mentira atire a primeira pedra”, e a adúltera morte do Direito.
2Ts 2.11; Ap 14.5. Mentiroso em: Sl 31.18;
estaria salva da morte. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa.
Sl 109.2; Sl 116.11; Pv 6.17; Jo 8.55; Rm 3.4;
1Jo 5.10; Ap 21.8.
No HC 75.257, Rel. Moreira Alves, julgado Manual de Processo Penal. 6. ed. São Paulo:
em 17-6-1997, DJ de 18-8-1997, o qual é Saraiva, 2004. p. 509.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica.
referenciado em: MENDES, Gilmar Ferreira; Arthur Kaufmann discorre sobre: A Doutrina
São Paulo: Loyola, 2005. Questão nº 110,
COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, do “Espaço Livre de Direito”, enfatizando que,
p. 611-624. Também, houve consultas a:
AGOSTINHO. A cidade de Deus. Lisboa:
Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito na Alemanha, trata-se de corrente minoritária
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. p. (KAUFMANN, Arthur. Filosofia do direito. 2.
Fundação Calouste Gulbenkian, 2000; e
673. Neste, Gilmar Mendes se refere a um ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
ARISTÓTELES. Ética a Nicómaco. 2. ed.
chamado “direito de mentir”, cuja expressão 2007. p. 337-349. Cap. 15).
Lisboa: Quetzal, 2006.
foi, propositalmente, colocada entre aspas, a Como enfatiza Jorge de Figueiredo Dias, em
Encontramos o texto kantiano de 1797,
significar sentido figurativo. Portugal, “já se pretendeu concluir que ao
no livro: KANT, Immanuel. Textos seletos.
O livro de Claus Roxin porta uma mensagem arguido caberia um verdadeiro direito a mentir.
4. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2008. p. 72-
atualizada do direito alemão sobre o Esta opinião deve, porém, ser repudiada”. E
78; também, no livro: PASCAL, Georges.
assunto (ROXIN, Claus. La prohibición prossegue: “Que concluiremos então? Não
Compreender Kant. 2. ed. Petrópolis/RJ:
de autoincriminación y de las escuchas existe, por certo, um direito a mentir [...]”.
Vozes, 2005. p. 158-163, sob a rubrica A
domiciliarias. Buenos Aires: Hammurabi, Portanto, para o acusado não há punição da
mentira.
2008). mentira (DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito
A citação foi extraída do texto: “Um suposto
direito de mentir por amor à humanidade”
O livro de João Gualberto Garcez Ramos Processual Penal. Coimbra: Editora Coimbra,
traz boas considerações sobre a cláusula do 1974. v.I. p. 450-451).
A Revista da Magistratura Mato-grossense 31
 O Poder Judiciário no Contexto do Estado
Contemporâneo: novo paradigma e
necessidade de concretização do Direito Ético
1. Introdução
Busca-se fundamentar uma nova mentalidade sobre a
atividade jurisdicional, mesmo porque, a partir da nova
realidade constitucional e da atualidade sócio-político
do Estado Contemporâneo, revela-se a necessidade de o
Poder Judiciário abandonar a clássica postura legalista-
positivista, para assumir nova postura como verdadeiro
Poder do Estado, sendo necessário conscientizar que
o juiz não pode ser simples técnico condutor de uma
“máquina” de garantia do sistema e do controle das
ma ssa s, ma s, ao contrário, imp or tante ator so cia l ,
verdadeiro Político do Direito.
Neste sentido, busca-se avaliar que o Juiz deve exercer
a jurisdição a partir de uma nova postura, com o abandono
do extremismo de uma posição legalista-positivista e
tecnoformal, para atuar com base nos postulados do
Direito justo, ético, humano e solidário, trilhando -
se, assim, nas perspectivas e possibilidades do Estado
Democrático de Direito.
Pretende-se desvelar que, para cumprir tal missão, o
Juiz necessita estar consciente de seu papel de Magistrado
e de Político do Direito, profissional que exerce a atividade
jurisdicional para além da prática positivista do Direito.
2. Necessidade de concretização da
Justiça a partir do Direito Ético
O Direito não pode ser visto como simples técnica
social específica e coativa de controle das condutas
humanas [2], mas sim como meio ético realizador da justiça,
mesmo porque, como afirmado, não é qualquer Direito que
se entende legítimo, mas somente aquele Direito que não
se apresenta insensível “diante dos apelos de uma sociedade
marcada pelas disparidades econômicas, pelo agravamento
dos conflitos étnicos, religiosos e sociais, pela degradação
da qualidade de vida e pela violência generalizada” [3]. E isso
só ocorre pelo crivo da ética e da estética [4], do Direito que
guarda uma dimensão utópica [5] a orientar a práxis que leve
a concretizar o Direito Humanista [6], comprometido com
32 AMAMJUS
a realidade social.
Dias [7], ao citar Calera, ensina que:
“[...] a eficácia do Direito está
intimamente ligada a sua legitimidade social.
O Direito precisa legitimar-se socialmente
porque constitui um condicionante da
liberdade do homem e da sociedade e,
aceito o princípio da soberania popular,
não se pode admitir que alguém decida o
que convém eticamente ao outro, nem que
defina o que convém à sociedade do ponto de
vista de Justiça. A exigência de legitimação
social e democrática do Direito não constitui
um imperativo teórico, abstrato, mas uma
demanda viva da práxis jurídica, porque um
Direito não legitimado só se cumprirá pela
força que o avalize ou pela passividade social
que o suporte”.
O Direito leg ítimo de ve ser re velado na prá xis
e a permanente valorização dos direitos com quatro acepções de Justiça, complementares entre si,
jurídica, na qual os profissionais do Direito [8], eticamente
fundamentais do homem. Cada vez mais se e emanadas do corpo social, conforme os ensinamentos de
preparados e conscientes, em sintonia com o sentido social
vai percebendo que o discurso ético é o único Melo [13], que são:
de justiça atuam sempre levando em consideração os valores
capaz de iluminar os significados da ação Ju s ti ç a c o m o i d e a l d e l i b er d a d e e
éticos, humanos, universais e históricos, de acordo com a
humana, ajuizando-lhe os correspondentes igualdade: a norma que obstacularizar ou
consciência do justo e do injusto produzido pelos próprios
créditos e descréditos. fraudar as aspirações de coparticipação será
valores culturais da sociedade. Neste sentido, a teoria
No mesmo contexto, o ético e o estético se interligam e considerada injusta; Justiça como relação
aristotélica de justiça necessita ser entendida como práxis
devem ser considerados na busca da realização do Direito entre reivindicações da sociedade e a resposta
e não somente no campo teórico do conhecimento do que
seja justo ou injusto, pois não é isso que irá transformar o
ético, porque, segundo a enfática afirmação de Michel que lhes dê a norma: se houver inadequação
Maffesoli [11], “o ético, como fundamento do vínculo social, nessa relação, o sentimento resultante será
homem em um ser mais ou menos virtuoso. [9]
depende estruturalmente do estético: é essa capacidade de que trata de norma injusta; Justiça como
Neste sentido, deve-se estar atento na
de experimentar emoções, compartilhá-las, transformá- a correspondência entre o conhecimento
lapidar lição de Melo [10] quando ensina que:
las em cimento de toda sociedade”. Também, na esteira científico sobre o fato (conhe cimento
Não é demais insistir que a Ética, a Política
dos ensinamentos de Dias [12], para assegurar a realização empírico da realidade) e a norma em questão:
e o Direito são expressões diferenciadas mas
concreta da Justiça, necessário se faz um Direito ético, a norma cujo sentido não corresponda à
interagentes da conduta humana. Cabe à
constituído a partir de um projeto político ético-estético, verdade empiricamente demonstrada e
Ética decidir qual seja a resposta sobre o que
que nestes tempos de globalização supere todas as formas socialmente aceita, será norma injusta e;
é moralmente correto, ao Direito, sobre o
de totalização cultural, social, política e jurídica, para Justiça como legitimidade ética: a norma do
que é racionalmente justo e à Política, sobre
incluir pessoas, etnias, povos. direito que conflitar com a norma de moral
o que seja socialmente útil. Não há pois
Importa frisar neste momento que, na perspectiva da poderá ser considerada injusta.
que, necessariamente, ocorrerem conflitos
Política Jurídica, a Justiça é examinada como categoria Portanto, Justiça deve resultar de uma meta prioritária
insanáveis nessas três vertentes de padrões de
social e de utilidade social. Levando-se em consideração as de busca ética pela concretização do Direito Humanista,
conduta, se o sentimento e a idéia fundantes
necessidades sociais, o Político do Direito, pode trabalhar racional e sensível. Somente pela práxis sensível-racional
de todas elas forem o re conhe cimento
A Revista da Magistratura Mato-grossense 33
 de um profissional do Direito comprometido com os
postulados do Direito ético é que se pode concretizar
a justiça na “harmonia e na beleza que rescende dos
atos do convívio que se apóiam na Ética e no respeito à
dignidade humana” [14] , e “atingir questões essenciais que
estejam ligadas à apreensão das necessidades materiais e
espirituais do homem” [15] .
Assim, para se ter a possibilidade de realização da justiça
pelos postulados do Direito ético, a práxis do juiz tem que
ser direcionada pela Política Jurídica, tanto em relação à
crítica ao direito vigente quanto a um agir ético na busca
das representações jurídicas do imaginário social.
3. Poder Judiciário no contexto da nova
realidade do Estado Contemporâneo
O Estado, como criatura da Sociedade, foi forjado
no decorrer do processo histórico, podendo, como bem
assinalou Motta [16], ser pesquisado sob infinitos ângulos:
sociológico, político, jurídico, ético, histórico e outros,
sendo possível, igualmente, investigar o fenômeno do
Estado quanto à origem, quanto à estrutura, quanto à
forma, quanto aos fins. Porém, por não ser objeto de
investigação neste trabalho, apenas alguns aspectos do
fenômeno Estado serão analisados.
Importa destacar que sob o ângulo histórico, pode-se
afirmar que o conceito de Estado varia segundo o tempo, o
lugar e o momento político e social. [17] Através dos séculos,
várias formas [18] de Estado foram adotadas, tipos históricos
como os antigos Estados Orientais, o Estado Helênico,
o Estado Romano, o Estado da Idade Média, o Estado
Moderno e o Estado Contemporâneo; [19] porém, frisa-se,
em cada época histórica, adotou-se a concepção de Estado
de acordo com a ideologia dominante, como por exemplo,
o que aconteceu em certo momento histórico em que se
estabeleceu o Estado Liberal.
Sobre o Estado Liberal assinala Motta [20]:
A idéia de Estado Liberal passa,
primeiramente, pelo conceito de Estado
Moderno. Entende-se, por Estado Moderno,
o modelo de organização político-jurídico
no qual se destaca , ainda que de forma
incipiente, a separação das funções públicas
relativas à administração ; a produção de
leis gerais e abstratas criadas por órgão
legislativo; as atividades da justiça pública,
desempenhadas por órgãos especialmente
criados para essa finalidade. [...] O Estado
34 AMAMJUS
Moderno, reconhecido como nova fase de
organização política da sociedade, destaca-se,
entre outros, pelos seguintes pressupostos: a)
Teoria da Separação das Funções do Estado,
erigida por Montesquieu, em sua obra Do
Espírito das Leis; b) Estado de Direito ou
Estado Constitucional; c) concepção liberal
dos direitos individuais; d) concepção do
Estado mínimo de atuação da sociedade.
O Estado Absolutista foi a primeira forma stricto sensu
de Estado moderno [21], surgido talvez no século XVIII [22],
resultante de estratégias de construção de uma nova
forma estatal, que restou alicerçada na idéia de soberania
e território, caracterizado pela concentração de poderes
nas mãos dos monarcas, dando orig em às chamadas
monarquias absolutistas, podendo-se afirmar, assim, de
um ponto de vista descritivo, que se trata daquela “forma
de governo em que o detentor do poder exerce este último
sem dependência ou controle de outros poderes, superiores
ou inferiores” [23].
Assinala Motta [24] que:
Em sua segunda fase, o Estado Moderno
evolui para o que se convencionou ou chamar
Estado Liberal. Portanto, Estado do Liberal
significa postura política adotada tada pelo
Estado Mo derno na conduçãoo mínima
s o b re a s ati vi d a d e s e c o n ô m i ccaa s ; l i vre
desenvolvimento do mercado, na liberdade
contratual; reduzida atuação legislativa ativa sobre
direitos individuais; acentuado domínio omínio da
economia sobre os interesses individuais; dividuais;
exagerada crença no individualismo smo como
forma do crescimento econômico..
O Estado Liberal tinha a concepção de quee o Estado
devia ter poderes e funções limitados e, em contraposição traposição
ao Estado Absoluto, incorporou a teoria de separação aração dos
poderes [25], assim, cabia ao Executivo atuar apenas as quando
autorizado por lei e nos seus exatos limites, e ao Judiciário
apenas o poder de aplicar a lei sem mesmo poder interpretá-
la; já o Legislativo era quem tinha a tarefa única e exclusiva
de criar o direito.
O Estado Liberal assumiu a defesa da liberdade iberdade
humana com fundamento no binômio: liberdade dade e
igualdade e, neste contexto, o Estado não poderia oderia
intervir na sociedade sob pena de, tal interferência, erência,
representar inadmissível violação na esfera da liberdade iberdade
humana já que pela teoria liberal perseguia-se se o ideal
burguês de liberdade pelo qual se restringe o poder er coletivo
para dilatar a esfera de autodeterminação
i n d i v i d u a l [26], c o n c e b e n d o - s e c o m o
fundamental a proteção dos cidadãos
contra os abusos do poder público, porém, levando-se afirmar-se que, a partir das Constituições do México, de
sempre em consideração que tal modelo de Estado não tinha 1917 e da República de Weimar, de 1919, diversos Estados
preocupação com as diferentes necessidades sociais dos do mundo contemp orâne o pa ssaram a re conhe cer o
cidadãos, mas preocupação com a defesa contra eventuais compromisso institucional da proteção dos direitos, em
agressões à liberdade. que o homem passa a ser visto em uma concepção social. [31]
Por tal concepção, para não violar a liberdade e a Assim, no atual contexto do Estado contemporâneo, vive-
ig ualdade, a lei deveria g uardar as características da se uma nova realidade histórica onde urgente é a necessidade
generalidade e da abstração. O juiz, reconhecido como de atuação do Poder Judiciário em consonância com os
simples agente tecnoformal, não poderia, no exercício da princípios do Estado Democrático de Direito [32], modelo
jurisdição, interpretar a lei ou considerar circunstâncias este que representa “a vontade constitucional de realização
especiais ou concretas em favor dos direitos fundamentais do Estado Social” [33] . Neste sentido, enquanto guardião
sociais, sob arg umento de, em assim ag indo, colocar das promessas democráticas e da ordem constitucional, ao
em risco a “certeza do direito” e promover a quebra do Poder Judiciário convém atuar a partir de uma perspectiva
princípio da generalidade e abstração da lei. Conforme transformadora, com objetivo de emancipação do homem
assinala Barroso [27], a concretização das propostas contidas na sociedade, do seu pleno desenvolvimento humano e da
na normativa constituciona l ficava invariavelmente consolidação da Justiça Social e Ambiental.
condicionada à liberdade de conformação do legislador ou Na atualidade, o Poder Judiciário tem importante missão
à discricionariedade do administrador. Ao Judiciário não de completar, reconhecer e concretizar novos direitos,
se reconhecia qualquer papel relevante na realização do a m p l i a n d o o s e sp a ç o s d e
conteúdo da Constituição. cidadania, porque por se
A partir do primeiro quartel do século XX, para explicar tratar de poder político
determinados fenômenos que ocorreram nas sociedades convém desempenhar
políticas que se caracterizaram pela acentuada intervenção um papel proeminente
no domínio econômico e social, os teóricos do Estado na salvaguarda de
desenvolveram estudos sobre o novo modelo de Estado, direitos e g arantias
nas mais diversas concepções, dando a denominação que
lhes pareceu adequada: Estado Contemporâneo, Estado
Inter vencion ista , Estado Te cno crático, Estado -
Providência ou WelfareState, Estado Social. [28]
Para Bobbio [29] , o Estado Contemporâneo
caracteriza-se pelos âmbitos: a) estrutura formal
do sistema jurídico, com garantia das liberdades
fundamentais, mediante aplicação de lei geral
abstrata por parte de órg ãos de jurisdição ;
b) estrutura material do sistema jurídico, com
liberdade de concorrência de mercado; c) estrutura
social do sistema jurídico, com as questões sociais
e as políticas reformistas de integração das classes de
trabalhadores; d) estrutura política do sistema
jurídico, com distribuição das funções do
poder político.
Para Pasold[30], o Estado Contemporâneo
caracteriza-se, do ponto de vista descritivo,
pelo compromisso formal de atender aos
anseios da sociedade. Nesse
sentido, pode
A Revista
Reevi
evvi
vist
ssta
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M gistra
gi
ggis
isstra
ttrrrattu
tur
ur
u a Ma
M
Mato-grossense
ato
ato
at
to -grossense
g 35
 fundamentais e de socorro aos mais fragilizados. Este
ideal somente será alcançado com uma hermenêutica
comprometida com os valores éticos e com os princípios
constitucionais do Estado Democrático de Direito, para
fazer com que todas as normas infraconstitucionais passem
necessariamente por um “banho de imersão” ou por uma
“filtragem constitucional” [34], para que o homem possa ser
reconhecido e valorizado como ser humano.
Porém, em busca do alvorecer de uma nova realidade,
importante é reconhecer que, no Brasil, existe um grande
paradoxo no que diz respeito aos direitos fundamentais [35]
p ois, ap esar de ta is direitos estarem forma lmente
consagrados no texto da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, em termos concretos, quase
sempre, encontram-se relegados a mera condição de uma
pauta política a ser executada oportunamente, conforme
os interesses políticos da classe dominante que se encontra
no exercício do Poder.
C o m o b e m a s s i n a l o u Fa r i a [ 3 6 ] , “o s d i r e i t o s
fundamentais em termos concretos quase nada valem
quando os homens historicamente localizados se vêem
reduzidos à mera condição genérica de humanidade”.
Nesta mesma linha de raciocínio, pode-se afirmar que
nada valem porque, sem a proteção efetiva de um Estado
capaz de identificar as diferenças e as singularidades
dos cidadãos, de promover justiça social, de corrigir as
disparidades econômicas e de neutralizar uma iníqua
distribuição tanto de renda quanto de prestíg io e
de conhecimento, a consagração formal dos direitos
fundamentais no texto da Constituição, nada representa
em termos concretos de benefícios sociais e humanos.
Nesse viés, revela-se a importância do juiz como
agente político-jurídico para a concretização dos direitos
fundamentais [37], já que o magistrado se qualifica como
um dos atores do processo político de desenvolvimento,
expansão e afirmação dos direitos humanos e sociais
normatizados na Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988.
O Poder Judiciário encontra-se em um momento
crucial de sua história, tendo em vista que se transformou
em um daqueles “lócus onde desembocam” [38] as tensões
sociais. Neste importante momento, o Judiciário terá
de enfrentar grandes tensões e conflitos provocados,
de um lado, pela inércia do Executivo em promover
as ações políticas tendentes à satisfação dos direitos
constitucionalmente assegurados à Sociedade e, de outro,
pela “inflação legislativa”[39] provocada pelo grande número
de textos legislativos abstratos levados a efeito pelo
Poder Legislativo. Nesse cenário de inflação legislativa,
o Judiciário necessitará utilizar juízos valorativos na
aplicação dos princípios constitucionais para solucionar
36 AMAMJUS
AM
MAMJU
JUS
os litígios e, para isso, será necessário mudança de ótica e
rompimento com os paradigmas vigentes na modernidade,
o que representará o desapego ao rigor lógico-formal
imposto pelo positivismo normativo.
Diante de tal situação, o Poder Judiciário como
Poder de Estado que é tem a responsabilidade de,
substancialmente, tutelar os direitos fundamentais do ser
humano. Tal responsabilidade será exigida do Judiciário,
principalmente pelo fato de que atualmente se vive em um
mundo globalizado, sustentado por uma política econômica
globalizada, que impõe ao Estado-Naçãoseu modo de ser
dominante, e que quase sempre transforma os Estados
menos preparados ou em processo de desenvolvimento, em
uma espécie de Estado Neocolonial [40], forçados que são,
pelo contexto da globalização, a manterem uma estrutura
político-jurídica que favoreça a política econômica em
detrimento dos direitos humanos e sociais [41] e a refletir
de maneira drástica em relação aos direitos daqueles seres
humanos em processo de desenvolvimento.
Portanto, ao juiz como um importante ator social e
agente de política jurídica, convém que tenha consciência
de que o advento da globalização é um processo histórico
da humanidade que não pode ser barrado ou impedido,
porém, que também tenha consciência crítica a respeito
das vertentes desumanas da g loba lização, ou seja ,
consciência de que a globalização econômica tem um
fo co amplamente dire cionado para o
mercado, para o capitalismo, sendo descompromissado
com os valores éticos necessários para o convívio social, e
que isso pode e convém que seja combatido ou impedido
em prol de um convívio humano-social ético e harmônico,
já que progresso não pode ser entendido como sinônimo
de escravidão.
Neste contexto, a postura do juiz não pode ser
compreendida como simples distorção das funções
judiciais ou como pura e simples ameaça à certeza jurídica
e per versão à seg urança do processo. Ao contrário,
deve ser vista como busca de efetivação das garantias
c o ns a g r a d a s em b en e f í c i o d o s er human o e c o m o
necessidade de concretização dos direitos fundamentais
formalmente normatizados na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
Assim, no atual contexto histórico, o juiz não pode se
contentar em ser simples garantidor, aplicador tecnoformal
e passivo da ordem jurídica, mas, acima de tudo, em ser
um agente político-jurídico consciente de seu papel e
das consequências de seus atos perante a sociedade em
uma nova realidade no contexto de mundo globalizado,
ou seja, ter consciência do papel que exerce na sociedade
como importante ator social, com objetivo de concretizar
os direitos humanos e sociais constitucionalmente
normatizados.
Como membro do Poder Judiciário, convém que o
juiz seja profissional proativo, ético e sensível para, assim,
ter condições de “reconhecer e aplicar a norma em sua
maneira mais profunda – através dos fenômenos culturais
e das diferenças que identificam e justificam a existência
sublime de cada ser humano” [42]. Ainda, o juiz necessita
compreender a dimensão estética da vida cotidiana local
e a manifestação do imaginário social para que possa
concretizar um direito humanista, já que o imaginário
social é “habitado pelo desejo de uma vida com qualidade,
pela esperança de realização de um Direito legítimo,
justo, útil e ético” [43].
Além disso, e de uma forma mais incisiva, o juiz
necessita compreender o mundo tal como se mostra na
vida cotidiana, ou seja, necessita compreender e valorizar
o mundo na sua dimensão estética, reconhecendo o valor
do conhecimento do senso comum [44] e identificando na
contemporaneidade, a “religação” entre o indivíduo e seu
ambiente social e natural e o estar-junto [45]. Compreende-
se o “estar-junto” assim como assinala Maffesoli [46] que:
[...] o estar-junto não precisa mais se
dotar de uma racionalização distante, de um
progresso social ou de um paraíso celeste
por vir, preferindo viver o instante. [...]
Chama a atenção, com efeito, para além
das idéias convencionadas sobre o suposto
desânimo geral, uma inegável serenidade
no “corporalismo” contemporâneo, jogos
do corpo, jogos sobre o corpo. Tatuagens,
piercing , “body-building”, barroquização
da vestimenta e cosmetização exaltam um
corpo cuja finitude é conhecida, mas isto
feito numa perspectiva “mística”. São rituais
de união, sacramentos que tornam visível
uma força invisível. A repetição dos “signos”,
cor dos cabelos, escarificações, uniformes
vestimenta s, leitmotive de ling ua g em,
exprimindo uma saúde selvagem, natural,
que, além ou aquém das ideologias, traduz um
hedonismo tribal, no qual a solidariedade,
a ajuda mútua e a generosidade têm lugar.
[...] O imag inário que assim se esboça
é essencialmente estético, o imaginário
d a s vi b r a ç õ e s c o muns . Um e sta d o d e
espírito que nada mais tem a ver com o
“melhorismo” do progresso, [...].
Com efeito, em todos os atos emanados do Poder
Jud iciário imp or ta que ten ha sempre em vista a
necessidade de concretização do Direito humanista ;
necessitando, para que isto efetivamente aconteça, muita
atenção à dimensão estética do Direito, o que exigirá
do juiz capacidade de, assim como se depreende dos
A Revista
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Mato
Mato-grossense
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nsee 377
 ensinamentos de Maffesoli [47], despir-se de suas verdades
absolutas e romper com as idolatrias da Razão e do
Progresso para, por meio da sensibilidade, compreender
o ritmo da vida contemporânea construído no dia-a-dia
das cidades, onde já não mais prevalece a simplista visão
de tudo aquilatar entre o público e o privado, mas sim
compreender e pautar suas ações de acordo com as estéticas
múltiplas dos espaços urbanos.
S obre a dimensão estética do Direito,
assinala Cunha [48]:
[...] nesse novo paradigma-luz estético,
o Direito não pode valer apenas por suas
premissas internas, mas somente se realiza na
concreção democrática de tais premissas, tal
qual a obra de arte que atinge sua realização
na interação com o público ; lembrando
q u e e ss a int er a ç ã o é n e c e ss a ri a m ent e
dialética, portanto particular e universal,
ao mesmo tempo. [...] o Direito não estará
baseado na conser vação e manutenção
de comp or tamentos, como sistema de
controle, mas sim no estímulo ao fazer
social, sinalizando mudanças permanentes
que favoreçam um caminhar histórico rumo
a utopia. [...] O compromisso desse Direito
não poderá ser meramente instrumental, mas
deverá ter em conta uma dimensão axiológica
formada esteticamente p or princípios
constitutivos que informem sua finalidade e
o próprio método, valorizando, sobretudo, a
práxis libertária que dignifica cada sujeito.
Assim sendo, não cabe ao Direito estabelecer
conceitos pretensamente verdadeiros,
justificados por uma naturalidade ou por
uma positividade, mas sim abrir-se às novas
situações concretas experimentadas a cada
dia, e em cada uma delas instituir níveis de
convivência radicalmente livres, igualitários
e justos, a partir de uma compreensão racional
e sensível da problemática apresentada.
Importa frisar que, com o advento da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, instaurou-se no
Brasil, o constitucionalismo de Estado Democrático Social
de Direito [49]. Esta opção político-constitucional traz a
necessidade do Poder Judiciário, como Poder fundamental
do Estado [50], para efetivar o exercício de uma jurisdição
constitucional que realmente concretize os direitos e as
garantias sociais normatizados no texto constitucional.
A tal respeito, Bonavides [51] assinala que:
[...] o verdadeiro problema do Direito
Constitucional de nossa época está, a nosso
38 AMAMJUS
ver, em como juridicizar o Estado Social,
como estabelecer e inaugurar novas técnicas
ou institutos processuais para garantir os
direitos sociais básicos, a fim de fazê-los
efetivos. Por esse aspecto muito avançou
o Estado social da Carta de 1988, com
o mandado de injunção, o mandado de
segurança coletivo e a inconstitucionalidade
por omissão. O Estado Social brasileiro
é, portanto, de terceira geração, em face
desses aperfeiçoamentos: um Estado que
não concede apenas direitos sociais básicos,
mas os garante.
[...]. O novo Direito que a sociedade
industrial produziu não poderia ser
outro senão o Direito Constitucional do
Estado Social. A esse Direito o Brasil se
prende como nunca desde o advento da
Constituição de 1988.
[...]. Com efeito, não é possível
compre ender o constituciona lismo do
Estado social brasileiro contido na Carta
de 1988 se fecharmos os olhos à teoria dos
direitos sociais fundamentais, ao princípio
da igualdade, aos institutos processuais que
garantem aqueles direitos e aquela liberdade
e ao papel que doravante assume na guarda da
Constituição o Supremo Tribunal Federal.
Assim, pela nova ordem constitucional vigente no
Brasil, o Poder Judiciário deve fazer valer a força normativa
dirigente e compromissória da Constituição da República
Fe derativa do Brasil de 1988, com o propósito de
concretização dos direitos humanos e sociais fundamentais,
mesmo que isto represente uma intervenção da jurisdição
constitucional na esfera do Executivo. Tal atuação
interventiva do Judiciário é legítima, já que representa
atuação constitucional como Poder do Estado para dar
concretude às normas constitucionais.
Streck [52] assinala que:
[...] a força normativa da Constituição
– e, se assim se quiser, o seu papel dirigente
e comprom issório – sempre te ve uma
direta relação com a atuação da justiça
constitucional na defesa da implementação
dos direitos fundamentais-sociais previstos
na Lei Maior.
Neste sentido, convém que o Poder Judiciário afaste
o discurso fundamentado na teoria da independência
dos poderes para justificar uma não atuação concreta
na implementação dos direitos fundamentais
constitucionalmente previstos, já que tal discurso apenas
reacende a tradição do modelo de Estado Liberal clássico,
no qual se sustentava a tese de que o Judiciário deveria
manter-se inerte, sem interferir na esfera do Executivo ou
do Legislativo, mesmo em caso de omissão destes.
Quando se utiliza o referido discurso como justificativa
tal, esquece-se de que o Judiciário também é Poder do Estado;
esquece-se, também, que no Estado Democrático de Direito,
como o que se vive no Brasil após o advento da Constituição
de 1988, existe o poder-dever de efetivar/concretizar a norma
constitucional garantidora dos direitos humanos e sociais.
Ne s t e c o n t e x t o , c o n f o r m e a s s i n a l a
FARIA [53]:
[...] os juízes deverão aceitar a realidade da
transformada concepção do direito e da nova
função do Estado, do qual constituem também,
afinal de contas, um ramo. E então será difícil
para eles não dar a própria contribuição à
tentativa do Estado de tornar efetivos tais
programas, de não contribuir, assim, para o
que eles podem fazer controlando e exigindo
o cumprimento do dever do Estado de intervir
ativamente na esfera social, um dever que, por
ser prescrito legislativamente, cabe exatamente
aos juízes fazer respeitar.
No Estado Democrático de Direito o Poder Judiciário
deixou de ser um Poder passivo e inerte para efetivamente se
tornar um Poder constitucionalmente garantista[54], em busca
do ideal de uma sociedade justa, ética, fraterna e solidária.
Neste contexto, ressalta ROSA [55]:
[...] A teoria geral do garantismo, entendida
como modelo de Direito, está baseada no
respeito à dignidade da pessoa humana e seus
Direitos Fundamentais. Isso porque, diante da
complexidade contemporânea, a legitimação do
Estado Democrático de Direito deve suplantar
a mera democracia formal, para alcançar a
democracia material, na qual os Direitos
Fundamentais devem ser respeitados, efetivados
e g arantidos sob pena da desleg itimação
paulatina das instituições estatais.
Assim, para bem representar o novo Poder Judiciário
surgido a partir da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, o juiz deve atuar como agente de política
jurídica [56], consciente de sua missão ética em concretizar
os direitos fundamentais, utilizando-se, para tanto, da
necessária sensibilidade para realizar justiça de acordo com
as estéticas múltiplas dos espaços-sociais, com os princípios
do Estado Democrático de Direito e com o compromisso
ético de construção de um mundo melhor, justo e solidário.
4. Considerações finais
A p a r ti r d a n o va r e a l i d a d e c o n s ti t u c i o na l e d a
atualidade sócio -político do Estado Contemporâneo
fazia-se necessário o abandono da clássica postura legalista-
positivista pelo Poder Judiciário, para assumir uma nova
postura de guardião do Estado Democrático de Direito e
de verdadeiro Poder do Estado.
A sociedade exige do Juiz, como membro do Poder
Judiciário, uma atuação jurisdicional que demonstre estar
consciente da responsabilidade jurídico-ético-social e, neste
contexto, ficou assinalado que o juiz não pode se portar como
um simples técnico condutor de uma “máquina” que garanta
a legalidade e o controle das massas, mas, ao contrário, que o
juiz se revele como um importante ator social, um verdadeiro
Político do Direito.
Neste contexto, o Juiz tem que exercer a Jurisdição a
partir de uma nova postura, com o abandono do extremismo
de uma posição legalista-positivista e tecnoformal, para
atuar com base nos princípios da Ética e da Solidariedade,
trilhando-se assim nas perspectivas e possibilidades do
Estado Democrático de Direito, com vistas a concretizar
uma Jurisdição Constitucional Inclusiva.
O Juiz deve direcionar sua atividade jurisdicional para
o real propósito de concretizar o Direito ético e humanista,
e não um Direito como simples técnica, desvinculado
da perspectiva ética. Mesmo porque, em referência ao
ensinamento de Aristóteles de que “a justiça e a equidade
são a mesma coisa, porém, que a equidade é melhor” [57],
entende-se que “justo” somente existe quando a justiça for
concretizada sob a perspectiva ética do Direito.
Assim, para que realmente se realize a Justiça no atual
mundo globalizado, necessário se faz que o Direito não seja
visto, entendido e aplicado como simples técnica social
específica e coativa de controle das condutas humanas, mas
como meio ético realizador da justiça, resultado da Práxis
do Direito ético-humanista.
Rhamice Ibrahim Ali Ahmad Abdallah,
juiz de Direito do TJMT
A Revista da Magistratura Mato-grossense 39

5 Referências
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Trad. Mário da Gama Kury. 3. ed. Brasília:
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Advogado Ed., 2006.
Notas
[1]
Bacharel em Direito – UFMT. Mestre em
Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale
do Itajaí - UNIVALI-SC. Doutorando em
Ciências Jurídicas. Pós-Graduado em Direito
Civil e Processo Civil – Universidade Cândido
Mendes. Pós-Graduado Direito Penal e
Processo Penal. Juiz de Direito no Estado de
Mato Grosso, jurisdicionando na 3ª Vara Cível
da comarca de Alta Floresta - MT. E-mail:
rhamice.abdallah@tj.mt.gov.br.
[2]
“Em síntese, há três ingredientes a partir dos
quais Kelsen constrói sua idéia de “direito”: o
primeiro é o formal; o segundo é o material; e
o terceiro é o funcional. O “ingrediente formal”
consiste na percepção de que as normas são
estruturas de “dever” e que, portanto, o direito
é composto por “normas”, por “prescrições” para
as condutas humanas, enfim. O “ingrediente
material” respalda-se no entendimento de o
conteúdo das normas jurídicas serem “sanções
negativas”, isto é, são, sempre, previsões de
coação. O terceiro ingrediente, “ingrediente
funcional”, apóia-se na compreensão de o direito
ser uma “específica técnica social”. In: SGARBI,
Adrian. John Austin. Hans Kelsen. Alf Ross.
Herbert L. A. Hart. Ronald Dworkin. In:
Clássicos da teoria do direito. Rio de Janeiro:
Lumen Júris, 2006, p. 40
[3]
DIAS, Maria da Graça dos Santos. A justiça e o
imaginário social. p. 39.
[4]
Melo ensina que “a concepção Estética como
construção e como sensibilidade forma o juízo
estético sobre algo existente. Se a percepção
sensorial é de que se produziu o belo, poder-
se-á, por um processo de recriação constante,
objetivar alcançá-lo.” E arremata: “No caso
específico de nosso estudo, estamos atribuindo
ao político do Direito a possibilidade da contínua
criação normativa de um mundo de relações que,
fundamentado na Ética, venha ensejar beleza
na convivência humana, atingindo questões
essenciais que estejam ligadas à apreensão das
necessidades materiais e espirituais do homem”.
Cf. MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos
da política jurídica. p. 61.
[5]
Utopia no sentido de sua função
transformadora, mesmo porque, Melo assinala
que “As utopias unindo inteligência e emoção,
razão e sentimento, funcionam como projetos
sociais de transformação e mudança, melhor
dizendo, como projeto da sociedade que deve ser”.
E ainda afirma que: “A função transformadora
das utopias faz com que estas se apresentem não
só como manifestações críticas em oposição aos
paradigmas vigentes, mas também como projetos
do que venham a ser bandeiras de lutas”. In:
MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos da
política jurídica. p. 55.
[6]
Cunha assinala que o Direito Humanista
é aquele Direito que tem o homem como
marco fundante, que faz, portanto, uma opção
teleológica pela vida como bem supremo, e que,
concomitantemente, constrói-se a partir dessa
condição humana. Cf. CUNHA, José Ricardo
Ferreira. Direito e estética, fundamentos para
um direito humanístico. Sergio Antonio Fabris
Editor: Porto Alegre, 1998, p. 21.
[7]
DIAS, Maria da Graça dos Santos. A justiça e
o imaginário social. p. 41. Ressalta-se que apenas
o destaque em itálico é expressão de Calera:
In: CALERA, Nicolás Maria López. Cronica
y utopia:filosofia de mi tiempo (1973-1991).
Granada: Editorial Comares, 1992, p. 10.
[8]
Juízes, Advogados, membros do Ministério
Público, membros da Defensoria Pública,
Procuradores, Assessores jurídicos e outros
profissionais de igual formação superior, e,
também, o Legislador.
[9]
BITTAR, Eduardo C. B. Teorias sobre
a justiça: Apontamentos para a História da
Filosofia do Direito. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2000, p.34-35.
[10]
MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos
da política jurídica. p. 58-59.
[11]
MAFFESOLI, Michel. O ritmo da vida:
variações sobre o imaginário pós-moderno.
Tradução de Clóvis Marques. Rio de Janeiro:
Record, 2007, p. 12.
[12]
Dias, com sabedoria afirma: “Globalizar
sem incluir pessoas, etnias, povos é totalizar.
A exclusão constitui mecanismo próprio da
totalização, que nega e expropria o ser do Outro”.
In: DIAS, Maria da Graça dos Santos. Direito
e pós-modernidade. In: Política jurídica e
pós-modernidade. Florianópolis: Conceito
Editorial, 2009, p. 30.
[13]
MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos da
política jurídica. p. 108-109.
[14]
MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos da
política jurídica, p. 16-18.
[15]
MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos da
política jurídica, p. 61.
[16]
SILVA, Moacyr Motta da. Do Estado:
Fundamentos teóricos. In: A tutela jurisdicional
dos direitos da criança e do adolescente, São
Paulo: LTr, 1998, p. 16-32.
[17]
SILVA, Moacyr Motta da. Do Estado:
Fundamentos teóricos, p.17. In: A tutela
jurisdicional dos direitos da criança e do
adolescente, p. 17.
[18]
Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu.
Elementos de teoria do estado. São Paulo:
Saraiva, 1987, p. 51.
[19]
Esta é a divisão encontrada em PASOLD, Cesar
Luiz. Função social do estado contemporâneo.
3. ed. Florianópolis/SC: OAB/SC Editora co-
edição Diploma Legal, 2003. p. 29-34
[20]
SILVA, Moacyr Motta da. A tutela
jurisdicional dos direitos da criança e do
adolescente, p. 21.
[21]
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis
Bolzan. Ciência política e teoria do estado. 5.
ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Ed., 2006, p. 42.
[22]
Cf. BOBBIO, Norberto. Dicionário de
política. Trad. João Ferreira. 13. ed. Brasília:
Universidade de Brasília, 2007, vol 1, p. 1-7.
[23]
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis
Bolzan. Ciência política e teoria do estado, p. 45.
[24]
SILVA, Moacyr Motta da. A tutela
jurisdicional dos direitos da criança e do
adolescente, p. 22.
[25]
Montesquieu foi autor da obra que idealizou a
teoria da separação de poderes recepcionada pelo
Estado Liberal, “De l’esprit des lois (Do espírito
das leis) publicada pela primeira vez em 1748.
[26]
Cf. CADERMATORI, Daniela Mesquita
Leutchuk de. O diálogo democrático. Curitiba:
Juruá, 2006, p.32
[27]
BARROSO, Luis Roberto.
Neoconstitucionalismo: o triunfo tardio do
direito constitucional no Brasil. Disponível
em: http://conjur.estadao.com.br/static/
text/43852,1. Acesso em 10 nov. 2008.
[28]
Conferir SILVA, Moacyr Motta da. A tutela
jurisdicional dos direitos da criança e do
adolescente, p.27.
[29]
BOBBIO, Norberto. Dicionário de política.
Trad. João Ferreira. 13. ed. Brasília: Universidade
de Brasília, 2007, vol 1, p.401.
[30]
PASOLD, Cesar Luiz. Função social do
estado contemporâneo. p. 37-38.
[31]
Conferir SILVA, Moacyr Motta da. A tutela
jurisdicional dos direitos da criança e do
adolescente, p.27 e 30.
[32]
“[...] entendido como aquele [Estado
Contemporâneo] que intervém nos domínios
econômico, social e cultural, obedecidos os
parâmetros mínimos de cidadania política,
justiça, representatividade, legalidade e
legitimidade”. CRUZ, Paulo Márcio. Política,
poder, ideologia & estado contemporâneo. 3.
ed. Curitiba: Juruá, 2003, p.153.
[33]
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica
e(m) crise: uma exploração hermenêutica da
construção do Direito. 7. ed. rev. atual. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007, p.
37.
[34]
Cf. BODNAR, Zenildo. O acesso e a
efetividade da justiça ambiental. Monografia
apresentada no Concurso Internacional da
UICN (União Internacional de Conservação da
Natureza) em 2008 (no prelo).
[35]
Direitos Fundamentais são sempre Direitos
Humanos, única distinção reside no fato de que
o termo “direitos fundamentais” se aplica para
aqueles direitos do ser humano, reconhecidos e
positivados na esfera do direito constitucional
positivo de um determinado Estado. Em
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos
A Revista da Magistratura Mato-grossense 41

fundamentais. 7. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007, edição, revista, atualizada e
ampliada, p. 35-36.
[36]
FARIA, José Eduardo. O judiciário e os
direitos humanos e sociais: notas para uma
avaliação da Justiça Brasileira. Artigo. In: Direitos
humanos, direitos sociais e justiça. José Eduardo
Faria (ORG). 1. ed. São Paulo: Malheiros, 4ª
tiragem, 2005. p. 95.
[37]
Deixa-se claro que a importância do Juiz, como
tratado neste trabalho, em nenhum momento
deve ser visto ou entendido como excludente
da importância de outros atores sociais, ou
profissionais do direito.
[38]
ROESLER, Claudia Rosane. Debate sobre
a função social do operador jurídico e seus
pressupostos, p. 242. Cf. tb, STRECK, Lenio
Luiz. Hermenêutica jurídica e(em) crise: uma
exploração hermenêutica da construção do
Direito, p. 54.
[39]
Entende Faria que a ampliação do espaço de
atuação do judiciário é conseqüência direta dessa
“inflação legislativa”, fazendo com que o Juiz seja
mais um protagonista na vida social, política
e econômica. Conferir FARIA, José Eduardo.
Direito na economia globalizada, p. 130-131.
[40]
BONAVIDES, Paulo. Do país constitucional
ao país neocolonial. São Paulo: Malheiros, 2000,
p. 22.
[41]
Cf. NEUNER, Jörg. Os direitos humanos
sociais. In: Jurisdição e direitos fundamentais:
anuário 2004/2005/Escola Superior da
Magistratura do Rio Grande do Sul – AJURIS;
coord. Ingo WolfgangSarlet. Porto Alegre:
AJURIS: Livraria do Advogado Ed., 2006, v. 1,
t.2. p. 146.
[42]
MARTINS, Janine Stiehler. Estética da
convivência: a função jurisdicional perante o ser
humano e o social. Revista eletrônica direito e
política, Itajaí, v. 2, n. 3, 3º quadrimestre de 2007.
Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica.
Acesso em: 17.03.2008.
[43]
DIAS, Maria da Graça dos Santos. Direito e
pós-modernidade. In: Revista novos estudos
jurídicos. Itajaí/SC: UNIVALI - NEJ, Vol. 11 –
n. 1 – jan/jun 2006. p. 111.
[44]
Segundo Santos, a mais importante de todas as
formas de conhecimento “é o conhecimento do
senso comum, o conhecimento vulgar e prático
com que no quotidiano orientamos as nossas
acções e damos sentido à nossa vida. A ciência
moderna construiu-se contra o senso comum que
considerou superficial, ilusório e falso. A ciência
pós-moderna procura reabilitar o senso comum
por reconhecer nesta forma de conhecimento
algumas virtualidades para enriquecer a nossa
relação com o mundo. [...] Na ciência moderna
a ruptura epistemológica simboliza o salto
42 AMAMJUS
qualitativo do conhecimento do senso comum
para o conhecimento científico; na ciência pós-
moderna o salto mais importante é o que é dado
do conhecimento científico para o conhecimento
do senso comum. O conhecimento científico
pós-moderno só se realiza enquanto tal na
medida em que se converte em senso comum.
Só assim será uma ciência clara que cumpre a
sentença de Wittgenstein, ‘tudo o que se deixa
dizer deixa-se dizer claramente’. Só assim será
uma ciência transparente que faz justiça ao desejo
de Nietzsche ao dizer que ‘todo o comércio entre
os homens visa que cada um possa ler na alma
do outro, e a língua comum é a expressão sonora
dessa alma comum’. In: SANTOS, Boaventura de
Sousa. Um discurso sobre as ciências. 4. ed. São
Paulo: Cortez, 2006, p. 88-89.
[45]
Assinala Maffesoli que “Essa ‘religação’, às
vezes chocante para um pensamento moderno
habituado ao individualismo, não passa em
suma de uma outra tática, já aplicada no
Oriente, acentuando as correspondências, as
concordâncias entre todos os elementos, todos
os aspectos de uma vida que é fundamentalmente
individível”. In: MAFFESOLI, Michel. O ritmo
da vida: variações sobre o imaginário pós-
moderno. Tradução de Clóvis Marques. Rio de
Janeiro: Record, 2007, p. 48.
[46]
MAFFESOLI, Michel. O ritmo da vida:
variações sobre o imaginário pós-moderno. p.
42-43.
[47]
MAFFESOLI, Michel. O ritmo da vida:
variações sobre o imaginário pós-moderno. p.
25-48.
[48]
CUNHA, José Ricardo Ferreira. Direito
e estética: Fundamentos para um Direito
humanístico.Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris, 1998, p. 155-156.
[49]
O artigo 1º. da Constituição Federal/1988
prescreve que a República Federativa do Brasil
se constitui em um Estado Democrático de
Direito fundamentado na dignidade da pessoa
humana e tendo como objetivos, dentre outros,
o de construir uma sociedade livre, justa,
solidária e fraterna, estabeleceu uma ideologia
que deve iluminar todo o ordenamento jurídico
constitucional e infraconstitucional em todos os
campos do direito.
[50]
Em nota de rodapé de n.17, assinala Faria:
“Como afirma Louis Jaffe, ‘não nos lembramos
suficientemente de que a magistratura é um
dos grandes ramos da árvore do government de
determinado país. Com isto quero dizer, antes de
tudo, que ela é parte do governo (i.e, do Estado;
grifo meu) e, em segundo lugar, que também
o seu poder sujeita-se a crescer e diminuir. As
condições que agem sobre o Executivo e o
Legislativo, determinando o caráter dos seus
Intervenção Judicial nas Taxas de Juros
poderes, agem também sobre o Judiciário. E a
forma assumida pelos outros poderes da grande
árvore, que é o Estado, está em função da medida O cré dito tem sido objeto de com re cursos momentaneamente conforme a fonte da qual o banco
do Judiciário’. Cf. English and American Judges c o nstante re g u l a ç ã o , s en d o f at o ociosos, e os tomadores de empréstimos, obtém o d in heiro que repa ss ará
as Lawmakers, apud MauroCappelletti, op.
cit.,p. 42” . FARIA, José Eduardo. O judiciário h i s t ó r i c o , q u e q ua l q u e r ma nua l que utilizam estes recursos, seja na ao mutuário, podendo citar-se as
e os direitos humanos e sociais: notas para uma sobre direito bancário revela, que a aquisição de bens de consumo, seja cadernetas de poupança, os depósitos
avaliação da Justiça Brasileira. In: Direitos necessidade do dinheiro e a natural na r e a l i z a ç ã o d e i nv e s ti m e nt o s , r emun er a d o s d o s c o rr enti s ta s e
humanos, direitos sociais e justiça. José Eduardo
Faria (ORG). 1. ed., p. 109.
desig ualdade entre as partes pode sendo o spread bancário a diferença aplicadores e moe da estrang eira .
[51]
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito ensejar o estabelecimento de regras entre a ta xa de juros pag a ao Ev i d ent em ent e , o b a n c o d e v er á
constitucional. 22. ed. atualizada e ampliada. São que favoreçam o fornecedor. poupador e a cobrada do tomador devolver o dinheiro devidamente
Paulo: Malheiros, 2007, p. 373.
[52]
A taxa de juros é o preço cobrado do empréstimo, constituindo -se, remunerado com o índice contratado
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso.
Constituição, hermenêutica e teorias discursivas. p e l a c e s s ã o d e u s o d e r e c ur s o s portanto, na remuneração do serviço ou previsto na lei, conforme a hipótese.
Da possibilidade à necessidade de respostas monetários durante um certo período de intermediação. A existência de diversas ta xas
corretas em direito. 2. ed. revista e ampliada. Rio de tempo. Tipicamente, a taxa de juros Assim como os preços, os juros de juros no mercado reflete a
de Janeiro:Lumen Juris, 2007, p. 23.
[53]
Cf. CAPPELLETTI, Mauro. Juízes cobrada para um empréstimo depende são obtidos mediante o somatório de multiplicidade de prêmios de risco
legisladores? Tradução de Carlos Alvaro de das oportunidades de investimento diversos componentes do custo final existentes. Se esse não fosse o caso,
Oliveira. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris disponíveis ao investidor e do risco do dinheiro, tais o custo de captação, i s t o é , s e a s d i f er ent e s ta x a s d e
Editor, p. 41-51.
[54]
A Teoria do Garantismo, desenvolvida na
de que o devedor honre sua dívida no a taxa de risco, custos administrativos j ur o s n ã o r e f l e t i s s e m c u s t o s d e
Itália por Luigi Ferrajoli, muito embora tenha prazo pactuado. (pessoal, estabelecimento, material empréstimos distintos, os bancos
origem no Direito Penal, atingiu status de Teoria As instituições financeiras são de consumo, etc.) e tributários e, simplesmente dire cionariam seus
de Direito e se consubstanciou sob três diversos
responsáveis pela intermediação dos finalmente, o lucro do banco. recursos para as modalidades que
significados: “[...] num primeiro significado
‘garantismo’ designa um modelo normativo recursos entre os poupadores, agentes Os custos de captação variam apresentem a maior taxa de juros.
de direito [...]. Em um segundo significado
‘garantismo’ designa uma teoria jurídica da
‘validade’ e da ‘efetividade’ como categorias
distintas não só entre si mas, também, pela
‘existência’ ou ‘vigor’ das normas. Segundo um
terceiro significado ‘garantismo’ designa uma
filosofia política que requer do direito e do Estado
o ônus da justificação externa com base nos bens
e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia
constituem a finalidade”. FERRAJOLI, Luigi.
Direito e razão: Teoria do garantismo penal. 2.
ed. ver. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2006, p. 785-787.
[55]
ROSA, Alexandre Morais da. O que é o
garantismo jurídico? Florianópolis: Habitus,
2003, p. 20-21.
[56]
Como bem ressalta ROSA, “inexistem
mais feudos decisórios no âmbito do Estado
Democrático de Direito, sendo a legitimidade
aferida no processo hermenêutico realizado
no controle de validade, formal e material,
do ordenamento jurídico”. ROSA, Alexandre
Morais da. Garantismo jurídico e controle de
constitucionalidade material. Florianópolis:
Habitus, 2002, p. 128.
[57]
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
Trad. Mário da Gama Kury. 3. ed. Brasília:
Universidade de Brasília. C 1985, 1992, p.109.
A Revista da Magistratura Mato-grossense 43
 Esses prêmios de risco refletem
tanto os incentivos e punições existentes
para os inadimplentes quanto o prazo
médio esperado de recebimento de
eventuais garantias oferecidas.
Em resumo, a s ta xa s de juros
desempenham o papel adicional de
procurar g arantir incentivos para
que o tomador de empréstimos se
esforce em honrá-los. Modalidades
de crédito distintas estão associadas
a possibilidades distintas de que os
pagamentos sejam honrados.
Além disso, essas modalidades
também estão associadas a mecanismos
específicos de recuperação dos recursos
emprestados caso os tomadores de
empréstimo se tornem inadimplentes,
o que geralmente se faz pela exigência
de garantias idôneas (aval, fiança,
penhora, hipoteca, etc.)
As penalidades impostas em caso de
inadimplência têm por objetivo tanto
remunerar o banco pela expansão não
programada no prazo do empréstimo
44 AMAMJUS
- que se generalizada pode resultar
em insolvência bancária - quanto
desestimular a maior ocorrência de
seleção adversa e risco moral.
É cer to que não cab e ao ju iz
interferir genericamente no mercado
para estabelecer ta xas, mas é seu
dever intervir no contrato que está
julgando, isso para reconhecer
quando o princípio do equilíbrio
contratua l foi violado, a fim de
preser var a e qu iva lência entre a
prestação oferecida pelo financiador
e a contraprestação que está sendo
exigida do mutuário.
É função dele aplicar o dispositivo
legal que proíbe cláusulas potestativas,
sendo sua função ainda verificar se no
modo de execução do contrato não
há perda substancial de justiça, com
imposição de obrigação exagerada ou
desproporcionada com a realidade
econômica do contrato.
Para isso, sequer necessita invocar
o disposto no Código de Defesa do
Anderson Gomes Junqueira, André Barbosa Guanaes Simões, Caroline
Schneider Guanaes Simões, juízes de Direito do TJMT
Consumidor, uma vez que o sistema
do nosso Direito Civil, notadamente
após a reforma de 2002, é suficiente
para permitir a devida adequação.
Digno de nota é o fato de que,
quando tudo é permitido e liberado,
quando to dos praticam a s ta xa s
elevadas, não há para o necessitado
do dinheiro sequer a liberdade de
escolha, surgindo daí a possibilidade
de um contro le jud icia l efetivo,
devendo ser destacado que a atividade
judicial é apenas um dos meios de
controle das atividades financeiras.
É, também, forma indireta de tutela,
pois que alheia ao campo financeiro.
Assim, a atuação judicial deve
o b e d e c e r a um r i g o r o s o e b e m
delimitado campo. De ve inter vir
apenas de forma excepcional naquilo
que foi livremente pactuado pelas
partes e apenas quando necessária à
readequação do ajuste aos termos já
bem definidos pelo próprio mercado.
As Primeiras Impressões Quanto as
Alterações Legislativas nos Crimes
Sexuais no Código Penal
Das Inovações Trazidas Pela Lei
Nº 12.015/2009 Concernentes aos
Crimes Contra a Dignidade Sexual
Com advento da Lei 12.015/2009, o Código Penal
sofreu substanciais reformas a começar pela denominação
dada ao Título VI, que a partir de agora passa a se chamar
de “Crimes contra a dignidade sexual”, em substituição
à arcaica denominação “Crime contra os costumes”,
utilizada pelo código de 1940, que talvez, à sua época,
tivesse razão de ser nominada dessa maneira, o que não
se justifica mais na atualidade.
Sem qualquer pretensão de esgotar toda a temática,
cabe concluirmos de início que a Lei 12.015/2009 trouxe
mudanças também ao Estatuto da Criança e do Adolescente,
à Lei dos Crimes Hediondos e da Execução Penal.
Por seu turno, numa leitura superficial fica evidente
que a intenção do legislador, ao elaborar a nova redação,
era punir com mais vigor aqueles que cometem crimes
contra a liberdade sexual, principalmente quando há o
envolvimento de menores de idade.
Assim, nesse particular, a modificação foi valiosa,
todavia, a redação irá beneficiar condenados por crimes
em concurso de estupro e atentando violento ao pudor,
sem imiscuir em alguns trechos polêmicos do texto de lei,
que sem dúvida alguma, serão objetos de intensa discussão
doutrinária e jurisprudencial.
Estupro
Com as introduções insertas nos dispositivos legais
pela novel lei, passamos a ter o estupro em sentido amplo
que abrange agora o antigo atentado violento ao pudor,
tornando-se um delito de conteúdo variado, tipo misto
alternativo ou de ação múltipla.
A redação antiga dada para o crime de estupro era
a de Constranger mulher à conjunção carnal, mediante
violência ou grave ameaça (art. 213 do CP).
Imprimindo a interpretação acerca da redação antiga,
somente cometia estupro aquele que sujeitava a mulher,
mediante violência ou grave ameaça, à conjunção carnal
(cópula vagínica). Qualquer ato libidinoso diverso era
considerado atentado violento ao pudor (exemplos: coito
anal, sexo oral etc).
Entretanto, a seguinte redação foi dada pela nova lei
como a de Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso (art.
213 do CP).
Nesse aspecto concluímos, que a partir de agora, passa
a ser estupro tanto a conjunção carnal quanto os atos
libidinosos diversos. Compete anotar que o tipo penal não
diferencia o gênero da vítima, podendo ser tanto mulher
como o homem, vítimas do crime de estupro.
Estupro de Vulnerável (Estupro
com Violência Presumida)
Outra grande inovação é no que se reporta ao estupro de
vulnerável. Compete destacar que o art. 224, e as alíneas “a”,
“b” e “c” foram empregadas no estupro de vulnerável dando
lugar agora ao art. 217-A do Estatuto Repressivo Penal.
Assim, a figura da vítima de estupro mediante violência
presumida falece deixando de existir no mundo jurídico.
Doravante, intitula-se “estupro de vulnerável”, a
hipótese da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso
diverso contra menores de 14 (catorze) anos.
Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
acima contra alguém que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência, conforme as anotações anteriores.
Posse Sexual Mediante Fraude
Impede ressaltar que a antiga redação do artigo 215 foi
extinta, assim, com a mudança, pode ser sujeito passivo
do delito tanto mulheres com homens. Além disso, além
da fraude, passa a cometer o crime aquele que utilize
meio que “impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima”.
Ad argumentandum tantum a nova lei foi mais além,
pois não só alterou a rubrica do artigo 215, substituindo
“Posse sexual mediante fraude” por “ Violação sexual
mediante fraude”, como alterou substancialmente sua
redação para abarcar não só a conjunção carnal como
qualquer outro ato libidinoso que satisfaça o desejo sexual.
A Revista da Magistratura Mato-grossense 45
 A rigor, faz-se mister trazer à baila, o que dispõe agora
a nova redação alterada do art. 215 da Lei Penal pela novel
Lei 12.015/2009, verbi gratia:
V iolação sexual mediante fraude
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 215. Ter conjunção carnal ou
praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça
ou dificulte a livre manifestação de vontade
da vítima : (R e dação dada p ela L ei nº
12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Se o crime é cometido
com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa. (Redação dada pela
Lei nº 12.015, de 2009)
Assédio Sexual
Passa a ter a pena aumentada caso seja cometido contra
menor de 18 (dezoito) anos.
O interessante é que agora temos o art. 217-A do
Código penal sem existir no entanto, o art. 217 do mesmo
diploma legal.
46 AMAMJUS
Corrupção de Menores
Eis aqui outra modificação significativa que podemos
assinalar, porquanto esse fato só config urará ag ora
corrupção de menores, quando a vítima for menor de 14
(catorze) anos. Induzir é empregado como criar a idéia no
menor visando satisfazer a lascívia de outrem.
Nesse sentido, veja o que reza o aludido dispositivo
legal que cuida do tipo penal:
“Art. 218. Induzir alguém menor de 14
(catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Parágrafo único. (VETADO)”.” (NR)
Sustentamos que a modificação nesse viés é importante,
em face do avanço da espécie humana na ciência e aos meios
de comunicação que propagaram informações relevantes
quanto aos mitos e verdades relativos a vida sexual, não
justificando a previsão arcaica que tutelava pessoa maior
de 14 e menor de 18 anos.
Satisfação de Lascívia Mediante
Presença de Criança ou
Adolescente
Trata-se de um novo tipo penal previsto no art. 218-A,
do Código penal, portanto, de acordo com a nova redação,
comete o crime de satisfação de lascívia mediante presença
de criança ou adolescente quem pratica, na presença de
menor de 14 (catorze) anos, ou o induz a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, desde que seja
para satisfazer a lascívia própria ou de outrem. Confira a
disposição cotejada:
“Art. 218-A. Praticar, na presença de
alg uém menor de 14 (catorze) anos, ou
induzi-lo a presenciar, conjunção carnal
ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer
lascívia própria ou de outrem: (Incluído pela
Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos.” (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)”
A pre visão acima , com cer te za será ferramenta
importante no combate e repressão à pedofilia.
Favorecimento à Prostituição de
Vulnerável
Com a nova lei, a exploração da prostituição de
vulnerável está expressamente descrita no Código Penal.
Também comete o mesmo crime aquele que o pratica contra
menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze). O novo
tipo penal está no art. 218-B do Código Penal.
Ação Penal
Os crimes contra a liberdade sexual deixam de ser
ajuizados mediante queixa. Após a reforma, a regra será a
ação penal pública condicionada – mediante representação
-, salvo quando a vítima for menor de 18 (dezoito) anos,
ou vulnerável, hipóteses que serão objetos de ação penal
pública incondicionada.
Favorecimento à Prostituição de
Maiores de Idade
A redação antiga não sofreu grande alteração. O
legislador incluiu a expressão “exploração sexual” ao tipo,
mas ainda não consegui prever o impacto na prática.
No entanto, a maior mudança é a causa de aumento do
parágrafo primeiro, que considera mais gravosa a conduta
quando cometida por “ascendente, padrasto, madrasta,
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador,
preceptor ou empregador da vítima”, ou por agente que
“assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância”.
Casa de Prostituição
O artigo faz, novamente, menção à exploração sexual.
Tínhamos que Manter, por conta própria ou de terceiro,
casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para
fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação
direta do proprietário ou gerente era suficiente para
caracterizar o crime, apesar da discussão travada quanto o
vigor ou não desse dispositivo enumerado no art. 229 da
Lei Repressiva.
Agora o art. 229 sintetizou a disposição dando maior
amplitude de alcance. Veja:
“Art. 229. Manter, por conta própria
ou de terceiro, estabelecimento em que
ocorra exploração sexual, haja , ou não,
intuito de lucro ou mediação direta do
proprietário ou gerente : (Redação dada
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de dois a cinco anos,
e multa”.
Aliás, o legislador dessa vez legislou em plena sintonia
com o Superior Tribunal de Justiça, que vem entendendo
que não há de fato revogação do aludido delito, sob o
argumento de que costume não é o meio idôneo para surtir
o efeito revogatório da norma penal. Entendemos por ora
que ainda é necessário a habitualidade para configuração
do apontado delito.
Rufianismo
Nas inovações trazidas pela novel Lei nº 12.015/2009
tem-se como causa de aumento de pena, o fato do agente ser
ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador
da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância da vítima.
Ademais, o legislador incluiu a fraude como causa
de aumento.
Tráfico Internacional de Pessoa
para Fim de Exploração Sexual
A Lei nº 12.015/2009 passa a punir quem agencia,
alicia, vende ou compra a pessoa traficada, assim como,
tendo conhecimento dessa condição, a transporta, a
transfere ou a aloja.
Além disso, também há aumento de pena caso o agente
seja ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.
Com certeza, o legislador andou bem, pois, ao menos
inibirá como prevenção geral abstrata que é a norma penal,
que pessoas próxima a pessoa facilitem a prática perniciosa.
A Revista da Magistratura Mato-grossense 47
 Causas de Aumento de Pena
Nos crimes contra a liberdade sexual, caso o agente
engravide a vítima, ou transmita-lhe doença sexualmente
transmissível que sabe ou deveria saber ser portador, a sua
pena será aumentada.
A Hediondez do Estupro
Para dar um fim ao confuso artig o 1º, V, da Lei
8.072/90, a redação foi alterada para “estupro”, sem
qualquer menção à cumulação com outro artigo.
O estupro de vulnerável também foi incluído entre
os crimes hediondos.
Em linha de discussão, veja como ficou a nova redação
do art. 4º da Lei 8.072/1900 in verbis:
“Art. 4º O art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de
julho de 1990, Lei de Crimes Hediondos,
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º ....
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput
e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);”
Numa m er a int er p re ta ç ã o l i t er a l , crem o s q u e a
problemática quanto ao estupro e atentado violento ao
pudor presumido foi definitivamente sepultada.
Os Reflexos da Lei no Estatuto da
Criança e do Adolescente
Foi realizada a inclusão do artigo 244-B, que criminaliza,
in verbis, a conduta daquele que “Corromper ou facilitar a
corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la”.
Entrementes, a maior novidade é o § 1º desse mesmo
artigo, que afirma que também comete o crime quem o
faz por “meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
da internet”.
Peço a devida venia, para trasncrever o que prescreve o
art. 244-B, da Lei 8.069/1990 abaixo:
“Art. 244-B. Corromper ou facilitar a
corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com
ele praticando infração penal ou induzindo-o
a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput
deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios
eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.
§ 2º As penas previstas no caput deste
artigo são aumentadas de um terço no caso de
48 AMAMJUS
a infração cometida ou induzida estar incluída
no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de
julho de 1990.”
Obser ve-se que o leg islador atento a s e voluçõ es
tecnológicas não divorciou da realidade como faz geralmente.
Assim, com certeza, a norma trará relevantes contributos
nessa parte.
Dos Reflexos no Âmbito da
Execução da Pena
Outra alteração interessante é a que toca a fusão em
um único artigo referente aos crimes de estupro e atentado
violento ao pudor e aqui chamamos a atenção dos operadores
de direito, pois, essa mudança para muitos parecem sem
sentido, mas trará imensos reflexos na esfera jurídica,
principalmente para quem fora condenado em concurso
material pelo crime de estupro e atentado violento ao pudor.
Abolitio Ciminis Quanto ao
Atentado violento ao Pudor (Agora
Estupro)? Conclusões
Importante notar, que apesar de revogado o art. 214
Finalizando o presente artigo, não se pode negar que
do Código Penal, não houve abolitio criminis, conforme
o propósito do novo instrumento legal imposto pelo
algumas vozes de forma tímida cogitaram tal idéia quanto
legislador pátrio foi extremamente positivo, porém, de
ao fato típico, já que houve apenas deslocamento desse
fato típico para o art. 213 do Código Penal, ou seja, com
forma exaustiva é prematuro neste momento afirmar se
realmente a corrente punitivista penal terá razão, pois sob
fundamento no princípio da continuidade normativa o fato
nossa ótica, mais uma vez o acusado sai beneficiado com
do antigo art. 214 do Código Penal é agora estupro.
a lei sobretudo quanto aos aspectos atinentes a execução
A partir dessa nova redação, qualquer pessoa (homem
penal, já que aquele que foi processado e condenado por
ou mulher) pode ser sujeito ativo ou passivo do crime
concurso material ou formal pelos arts. 213 e 214 do
de Estupro. No sistema anterior protegia-se, por meio
Código Penal poderá discutir a existência de crime único,
dos crimes sexuais, somente a liberdade de opção sexual
reduzindo-se assim o patamar da pena.
da mulher.
Outras discussões que surgirão será no tocante a
Explicávamos antes, que se o homem fosse constrangido
possível ocorrência do concurso formal, material e do
mediante violência ou grave ameaça a praticar conjunção/
crime continuado quanto ao teor do novel art. 213 do CP
ato sexual com mulher, no máximo configurar-se-ia contra a
a depender do contexto fático.
coatora o crime de constrangimento ilegal (CP, 146, pena de
Ademais, apenas a título de esclarecimento, deixamos
detenção de 3 meses a 1 ano ou multa). Para alguns, em tal
registrados que materializou-se na nova lei em comento
hipótese, mesmo que houvesse previsão legal, não se puniria
a l g uma s improprie dades do leg islador na té cn ica
a tentativa de estupro, por “impropriedade absoluta do meio”,
legislativa, mas que esperamos que ao longo do tempo
isto é, “crime impossível”. Porém, de maneira verdadeira é
sejam superadas pela doutrina e jurisprudência.
que agora a roupagem jurídico-penal mudou e esse nova
direção, tanto o homem pode ser sujeito passivo do crime de
estupro, como a mulher pode ser sujeito ativo dessa mesma
modalidade de delito.
Joaquim Leitão Júnior
bacharel em Direito
A Revista da Magistratura Mato-grossense 49
 O Juiz e a Tecnologia Descrição
Data Primeiro
Processo Vara
Trâmite Arquivado Total Processos
Tempo Médio
Trâmite - Dia

O Poder Judiciário brasileiro inicia uma nova era e será encaminhada ao arquivo – por ausência de bens, por Quinto JE Cível de Cuiabá 25/09/2007 10:21 3117 5375 8492 148
começa a sentir a evolução da tecnologia da informação. A exemplo – e somente a baixa ocorre no sistema. Pronto, neste
Sétimo JE Cível de Cuiabá 28/01/2008 13:31 3408 1943 5351 148
grandeza das ferramentas que estão sendo disponibilizadas exemplo já encontramos uma divergência entre processos
para os julgadores traz à lume pontos importantes para distribuídos, físicos e lançados no Apolo. Sexto JE Cível de Cuiabá 04/10/2007 13:48 3791 1237 5028 120
uma reflexão do que se espera acerca dos atos doravante Ao ser indagado pelo CNJ sobre a quantidade de
praticados por aqueles que estudam a ciência jurídica. processos existentes onde buscar os dados? JE Cível de Primavera do Leste 03/09/2009 11:13 256 44 300 21
Nasce um Juiz com olhos para planejamento estratégico, Um grande laboratório vem sendo edificado no país JE Cível de C. dos Guimarães 23/07/2009 15:34 73 33 106 33
espelhado no ramo administrativo, tendo como norte a e se chama PROJUDI – Processo Judicial Digital – em
tela do computador. Neste espaço pequeno, grande será a plena atividade no Estado de Mato Grosso. Aqui sim JE de Sto. Antônio do Leverger 31/07/2009 14:23 36 0 36 0
quantidade de obrigações que se espera. sabemos a quantidade de ações em tramitação e todos os JE Cível de Sintop 20/08/2009 11:12 342 1 343 0
Acordemos para o futuro. Hoje se reclama acerca atos praticados, inclusive os arquivados. A facilidade de
de inúmeros relatórios que devem ser encaminhados ao tramitação é de uma grandeza que sequer necessita de JE Cível de Paranatinga 04/12/2009 13:25 14 0 14 0
Conselho Nacional da Justiça, no entanto o que se busca maiores observações. Dispensa-se qualquer manipulação JE Cível de Sorriso 23/10/2009 12:57 93 3 96 5
é a estratificação e um painel do que significa o Poder física e não há burocracias. É o processo eletrônico por
Judiciário, não só para a sociedade, mas acima de tudo, aos excelência, onde desde o nascedouro basta o acesso à rede JE Cível de Campo Verde 01/10/2009 12:28 215 2 217 43
usuários internos. mundial para visualizar a realidade.
JE Cível do Rondonópolis 13/08/2009 14:13 528 9 537 60
Será que sabemos a quantidade de processos físicos que Vai-se além, pois a ação buscada no Judiciário fica aos
tramitam, digamos, apenas no judiciário de Mato Grosso? olhos da sociedade, a um ato praticado pelo magistrado, JE Cível de Comodoro 16/11/2009 11:42 22 0 22 0
Ou o que dizer dos veículos, bicicletas, armas, munição etc... servidor, etc.. e, com um simples toque no teclado o recurso
JE Cível de C. Novo do Parecis 12/11/2009 13:37 15 0 15 0
que abarrotam os fóruns? já é remetido ao órgão superior – turma recursal.
Temos noção da quantidade de adolescentes que Começo meio e fim sem papel. JE Cível de Cáceres 05/08/2009 18:25 400 48 448 34
se encontram internados ? E os presos ? O que dizer A expansão do PROJUDI revela dados significativos.
JE Cível de Diamantino 29/10/2009 16:23 52 0 52 0
da quantidade de pretendentes à adoção e aqueles que Em 2008, apenas sete juizados atuavam com o sistema. Em
necessitam ser adotados? 2009, 20 juizados e, em 2010 já se somam 34. Com isso, JE Cível de Alta Floresta 17/09/2009 14:41 87 5 92 12
E quando se fala em produção do magistrado? Será que atualmente 61 juizados especiais cíveis de Mato Grosso já
cada um sabe desvendar esse dilema? estão em plena atividade com o processo eletrônico. JE Cível de Colíder 05/11/2009 10:10 12 0 12 0
O destino do Judiciário brasileiro está formatado e em JE Cível de Jaciara 08/10/2009 15:12 66 0 66 0
plena atividade através de um planejamento estratégico com A celeridade já começa a ser mapeada em termos
metas e, ponto final. comparativos com o físico: JE Cível de Mirassol D’Oeste 03/12/2009 14:32 7 0 7 0
Observem o processo físico, onde o ponto central é JE Cível de Tangará da Serra 24/09/2009 11:01 141 6 147 18
uma quantidade imensa de papel envolto por uma capa,
com etiqueta de identificação, inúmeros apensos, sendo JE Cível do Cristo Rei 25/06/2009 15:20 869 87 956 60
manipulados por um batalhão de servidores, cujo próximo JE Cível Jardim Glória 18/06/2009 14:27 903 132 1035 59
passo seria a inserção de todos os atos num sistema.
É o que denominado “gerenciador de papel”. Basta algum JECível de Barra do Garças 27/08/2009 14:18 444 33 477 30
servidor não lançar o processo no sistema e aí já não se sabe
Primeiro JE Cível de Cuiabá 03/12/2008 12:21 2939 789 3728 74
a realidade e quantidade de ações existentes no judiciário.
Denota-se a presença de sistema principal, depois com Segundo JE Cível de Cuiabá 03/12/2008 10:30 3223 422 3645 78
uma troca de idéia cria-se outro para estratificar os dados;
Terceiro JE Cível de Cuiabá 13/08/2008 11:34 2533 1143 3676 71
outro para buscar dados e após acessar na internet e vai-se
criando problemas para o futuro e nunca se chega a um Quarto JE Cível de Cuiabá 18/12/2008 09:45 3367 166 3533 75
denominador comum.
Total 26953 11478 38431
Lógico que um simples pesquisador notaria que algo
está errado. Tempo Médio Trâmite Geral 60 Dias
Caminhemos: uma ação é distribuída, logo nasce um
processo que é lançado no sistema (hoje denominado Apolo
– em Mato Grosso). Em determinado momento a ação

50 AMAMJUS A Revista da Magistratura Mato-grossense 51

 A preocupação com o meio ambiente e economia são outros fatores importantes:

52 AMAMJUS A Revista da Magistratura Mato-grossense 53

 Por outro lado, de há muito se indaga acerca da migração
para a justiça comum. Em 29 de março de 2010, ocorreu
assinatura do termo de acordo de cooperação técnica entre
o CNJ e Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso,
tendo como objeto o desenvolvimento e aplicabilidade do
Processo Judicial Eletrônico-PJE, a ser utilizado em todos
os procedimentos judiciais.
A meta determinada pelo CNJ é a implantação até
o ano 2014.
Sistema esse desenvolvido em JAVA, com qualidade e
perfeição, cujo código fonte se encontra sob controle do
CNJ e entregue gratuitamente aos Tribunais do país.
A moderna concepção de processo eletrônico passa
exatamente pela segurança de todos os dados ali inseridos.
Daí a preocupação de um controle e fiscalização pelo
Poder Judiciário.
Preocupante é a utilização de sistemas particulares em
prol da coisa pública.
O que dizer acerca de servidores?. Denota-se uma gama
de reclamações, porém, é preciso uma analise bastante
criteriosa sobre o planejamento estratégico neste aspecto.
Com a chegada do processo eletrônico, o administrador
deve focar os olhos não para o processo físico e sim para as
ocorrências futuras. Ora, se não precisaremos autuar papéis,
juntar documentos, serviços manuais com grampeadores e
furadores, etiquetas, seria inócuo um concurso público para
no futuro utilizarmos essa mão de obra em qualquer setor
da instituição. Gastos desnecessários.
E esse diagnóstico de há muito vem sendo observado.
Cito exemplo:
Modernização da Justiça pode
deixar metade dos servidores sem
função
A modernização e a digitalização que hoje fazem parte
do Judiciário poderá deixar 300 mil funcionários do setor
sem função. “Uma vara eletrônica pode manter o mesmo
nível de eficiência com metade dos servidores. Precisamos
criar cargos. Daqui a pouco vai sobrar funcionário”, diz o
ex-secretário-geral do CNJ (Conselho Nacional de Justiça)
e juiz do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 10ª
Região, Rubens Curado. De acordo com o conselheiro
Walter Nunes, do CNJ, a meta é ter até o fim do ano 65% dos
processos em formato eletrônico. Preocupado com a inércia
dos servidores, o CNJ aprovou no início de abril a criação
do Ceajud (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de
Servidores do Poder Judiciário). O centro será coordenado
pelo CNJ e vai promover, em conjunto com os tribunais,
treinamentos, cursos, seminários e outras ações relacionadas
ao aperfeiçoamento dos trabalhadores.
54 AMAMJUS
Informações veiculadas no jornal Valor Econômico
Por outro lado o maior gargalo jurisdicional estaria
exatamente com os magistrados, isso em primeiro e segundo
graus. A visão é cristalina ao se notar que com um simples
“CLIC”, talvez 200 ações – no processo eletrônico – estariam
conclusos ao juiz ou desembargador para apreciação.
Aqui reside a qualidade de que se espera a sociedade.
Ne ste m o m ento é p re c i s o uma a ná l i s e cri t eri o s a ,
objetivando concurso que atenda essa demanda. Pessoas
qualificadas, analistas que sejam bem remunerados à
disposição dos magistrados.
Surge neste instante a figura do juiz gerenciador, onde
com os dados à vista, terá condições de prosseguir rumo à
prestação jurisdicional com celeridade e qualidade.
Não se pode mais pensar num Judiciário pequeno, temos
que seguir com o pensamento voltado para qualidade.
Ao se concretizar o processo eletrônico, resta aos colegas
magistrados edificar a placa com o seguintes dizeres:
“O Ú N I C O PA P E L D O J U D I C I Á R I O S E R Á
JULGAR”
Aristeu Dias Batista Vilella,
Juiz de Direito do TJMT
O Papel do Magistrado
no Acesso à Justiça
I – Considerações Preliminares
O constitucionalismo – “teoria (ou ideologia) que ergue
o princípio do governo limitado indispensável à garantia
dos direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade”1–, em sua versão pós-
moderna, cuja gênese se deu a partir do início do século
XXI, traz à tona uma carga valorativa extrema dos direitos
fundamentais, assegurando ao indivíduo o seu pleno gozo.
Ao comentar a importância desses direitos e a forma como
estão atualmente inseridos no seio constitucional, o ministro do
STF Gilmar Ferreira Mendes2 nos traz o seguinte ensinamento:
O avanço que o direito constitucional
apresenta hoje é resultado, em boa medida,
da afirmação dos direitos fundamentais
como núcleo da proteção da dignidade da
pessoa e da visão de que a Constituição é
o local adequado para positivar normas
asseguradoras dessas pretensões. Correm
paralelos no tempo o reconhecimento da
Constituição como norma suprema do
ordenamento jurídico e a percepção de que
os valores mais caros da existência humana
merecem estar resguardados em documento
jurídico com força vinculativa máxima,
indene às maiorias ocasionais formadas na
efer vescência de momentos adversos ao
respeito devido ao homem.3
II – Análise do Tema
O acesso à Justiça – termo cujo significado tem
apresentado variações ao longo da história, de acordo
com diferentes elementos: de ordem religiosa, filosófica,
sociológica, política, econômica etc. – é, sem dúvida, direito
fundamental 4 resguardado na Constituição da República
que, em seu art. 5º, inciso XXXV, estabelece que a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito, consagrando-se aí o princípio constitucional 5 da
inafastabilidade da tutela jurisdicional:
[...] não há dúvida de que dirimir conflitos
é uma função judicial e que é necessário que
os cidadãos gozem de um eficaz serviço
judiciário e de um amplo acesso a
ele. Neste sentido, a concordância
é muito genérica, ainda que não
o seja no que diz respeito à sua adequada
implementação.6
Apesar de o destinatário principal da norma acima ser o
legislador, o referido comando constitucional atinge a todos
indistintamente, ou seja, ninguém, inclusive o legislador,
pode impedir que o jurisdicionado deduza sua pretensão em
juízo, impedimento que contempla não só os seus direitos
individuais, mas, também, os difusos e coletivos.
À guisa de exemplo, ao comentar o princípio em tela,
Nelson Nery Júnior traz o seguinte posicionamento quanto
à taxa judiciária:
A garantia constitucional do acesso à
justiça não significa que o processo deva ser
gratuito. No entanto, se a taxa judiciária
for excessiva de modo a criar obstáculo ao
acesso à justiça, tem-se entendido ser ela
inconstitucional por ofender o princípio
aqui estudado.7
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por sua
vez, prescreve em seu art. X, que:
Toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, a uma audiência justa e pública
por parte de um tribunal independente
e imparcial, para decidir de seus direitos
e deveres ou do fundamento de qualquer
acusação criminal contra ele.
Analisando-se os dispositivos supra, depreende-se
A Revista
Revi
Revi
e sta da
d Magistratura
Maaggistratur
tura M
Mato-grossense
ato-gr
ato
ato -gr
-gross
-g
g os
ossens
osse e
ens 555
 claramente que o acesso à Justiça
traz em si a marca inconteste de
direito fundamental e concretiza
o princípio da dignidade da
p e ss o a humana , trata n d o - s e d e
cláusula pétrea 8 garantida no texto
constitucional brasileiro de 1988 e
consagrada na Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948 9,
possuindo, em razão disso,
caráter de indisponibilidade 10 e
aplicabilidade imediata.
No mesmo sentido,
Cappelletti leciona que:
O acesso à justiça
é um dos valores
fundamentais da
própria democracia ,
podendo ser encarado
como o mais básico
dos direitos humanos,
inserto em um sistema
jurídico moderno
e ig ualitário que
pretenda g arantir, e
não apenas proclamar
os direitos de todos. 11
“O acesso à justiça deve abranger
o acesso a uma determinada ordem de
valores e direitos fundamentais para
o ser humano, ou seja, acesso a uma
ordem jurídica justa” 12, como muito
bem asseverou Kazuo Watanabe,
referido por Ada Pellegrini Grinover,
tese corroborada por José Roberto
Lino Machado, ao dizer que “o Poder Judiciário, neste novo
século, há de ser, antes de tudo, o guardião dos direitos
individuais e sociais do cidadão e o refúgio dos fracos contra
os poderosos.” 13
No campo processual, depreende-se a supremacia do princípio
do acesso à Justiça em relação aos demais princípios desta esfera,
já que o mesmo, como leciona Cândido Rangel Dinamarco, é:
A síntese de todos os princípios e garantias
do processo, seja a nível constitucional ou
infraconstitucional, seja em sede legislativa
ou doutrinária e jurisprudencial. O acesso à
Justiça é o princípio primeiro que abarca todos
os demais princípios do processo. 14
Nunca é demais frisar que prestar a tutela jurisdicional,
solucionando a lide – conflito de interesses qualificado pela
56 AMAMJUS
pretensão resistida –, consiste na principal atividade exercida
pelo Poder Judiciário como função estatal, responsável pela
pacificação dos conflitos sociais. Assim, o que se busca nele
é a solução para os conflitos e a consequente paz social,
com celeridade, sem que esta jamais signifique supressão de
direitos ou flexibilização de garantias constitucionais, porque
como já bradara Rui Barbosa, no começo do século passado,
“justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e
manifesta” 15, bem como pontuara Cappelletti, ao observar
que “os efeitos da demora são devastadores para o processo”16,
tendo-se em conta sempre que:
Um ju l g amento tard io irá p erdendo
progressivamente seu sentido reparador, na
medida em que se posterg ue o momento
do reconhecimento judicial dos direitos; e
transcorrido o tempo razoável para resolver
a causa, qualquer solução será, de modo
inexorável, injusta, por maior que seja o
mérito científico da decisão.17
Ainda, concebendo o direito à prestação jurisdicional
ágil e eficaz como corolário da garantia constitucional de
amplo acesso ao Judiciário, tenha-se que:
Dessa forma, uma vez que ao sistema
compete não apenas g arantir meios de
abertura da via judiciária, mas igualmente
assegurar a subsequente eficácia da tutela
jurisdicional, ao demandante de uma proteção
jurídica deve ser reconhecida a possibilidade
de, em tempo útil (“adequação temporal”,
“justiça temporalmente adequada”), obter
uma sentença executória com força de caso
julgado – “a justiça tardia equivale a uma
denegação da justiça”.18
Na era da tecnolog ia na qual
vivemos, tempo em que tudo se
s o l u c i o na d e f o rma q ua s e q u e
instantânea, a exemplo das operações
bancárias através dos terminais de
autoatendimento ou, de forma mais
rápida ainda, através da internet,
no horário escolhido pelo cliente,
sem filas, sem transtornos, sem
aborrecimentos, sem trânsito, sem
estresse e tudo resolvido de forma
rápida e segura com apenas alguns
cliques, estar atento aos avanços
tecnológicos tornou-se mais do que
um diferencial, é hoje um imperativo,
uma necessidade, pelo menos
dentro de companhias, empresas ou
instituições que procuram se manter
hígidas. A globalização da economia
só veio acoroçoar essa tendência
implacável, concluindo-se que não há
mais lugar para baixa produtividade,
rotinas contraproducentes, mão de
obra desqualificada e equipamentos
e processos de produção obsoletos,
p o i s j a ma i s , c o m o na s ú l ti ma s
décadas, a palavra tecnologia esteve
tão presente no cenário nacional.
Até mesmo o exemplo escolhido
por Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira, para ilustrar o verbete em
seu dicionário, demonstra o peso
do referido termo na socie dade
contemporânea, senão vejamos:
Tecnologia [Do gr. technología,
‘tratado sobre uma ar te’.] Substantivo
feminino 1. Conjunto de conhecimentos,
esp. princípios científicos, que se aplicam
a um determinado ramo de atividade :
te cn olo g ia me cân ica . 2. A tota l i dade
desses conhecimentos: Vivemos a era da
tecnologia.19 [grifamos]
Nesse diapasão, sob grande influência da mídia, é normal e
até esperado que a população passe a exigir referida eficiência
de toda e qualquer instituição, pública ou privada, crente que
a mesma acompanhará a era da modernidade e essa marcha
inexorável da história, seja impelida pela vontade própria ou
pelos ditames da necessidade, sob pena de, se assim não o fizer,
cair no descrédito.
Assim, vários Tribunais de Justiça Estaduais como, por
A Revista da Magistratura Mato-grossense 57
 exemplo, o do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, e,
em especial, o de Mato Grosso, muito têm se preocupado
com esse aspecto, investindo maciçamente em tecnologia
da informação (TI), buscando acompanhar esse avanço da
era digital, podendo ser citado aqui o desenvolvimento de
projetos como o PROJUDI, que é um software de tramitação
de processos judiciais digitais mantido pelo CNJ e em ampla
expansão em todos os Estados da Federação 20. O processo
judicial digital, também chamado de processo virtual ou
de processo eletrônico, tem como premissa gerenciar e
controlar os trâmites de processos judiciais nos Tribunais
de forma eletrônica, reduzindo, assim, o tempo e os custos,
eliminando o uso de papel e evitando o deslocamento
dos advogados aos fóruns para peticionar. O objetivo
primordial é a total informatização da Justiça, buscando
retirar a burocracia dos atos processuais, permitir o acesso
imediato aos processos, bem como melhorar o desempenho
das funções próprias de cada usuário, já que este acessará
somente o campo que ofereça as funções que ele necessita
para o desenvolvimento de suas atividades. São esforços no
sentido de garantir acesso amplo e célere ao Judiciário.
Nesse contexto de efetivo acesso à Justiça por intermédio
de uma prestação jurisdicional célere, cabe enfatizar o
papel do magistrado. Com efeito, defendemos que para
a concretização das importantes missões da instituição
Poder Judiciário deve-se primeiramente redimensionar a
importância da Justiça de primeiro grau de jurisdição no
Brasil, a qual deve deixar de ser mero “ritual de passagem”.
Para isso, necessita-se de uma legislação que valorize e
empreste mais efetividade às sentenças de primeiro grau,
assim como que a alta administração do Poder esteja atenta e
sensível à realidade e às necessidades vividas na base, Justiça
de primeira instância: o alicerce desse sistema piramidal, o
início obrigatório da carreira21 da magistratura, instância
exatamente mais próxima do cidadão, a mais abarrotada de
processos e a que vive os maiores problemas e dificuldades
para consecução de seu mister, à míngua de recursos
materiais e humanos, condições ideais de trabalho e atenção.
Nesse sentido:
As alternativas até então encontradas,
como a tutela antecipada, a tutela específica
das obrigações de dar, de fazer e não fazer,
a prejudicialidade da ação consignatória,
as alterações no processo de execução, a
n a t ur a l i z a ç ã o d a a ç ã o m o n i t ó r i a , a s
modificações no recurso de agravo, a arbitragem,
a opção pela via extrajudicial do inventário e
partilha, separação e divórcio consensuais
de que tratam a Lei n.º 11.441/2007 etc.,
não foram suficientes para solucionar o
congestionamento do aparelho judiciário, que
58 AMAMJUS
precisa, antes de mudança na lei, reestruturar-
se, atualizar-se, modernizar-se socialmente
para tornar-se administrativamente eficiente
e politicamente democrático. É preciso
extrair do processo a utilidade da pretensão
de direito material deduzida, mas para isso,
as modificações no Judiciário devem começar
por sua base, nos juízos de primeiro grau, não
só na lei processual. 22
Se recorrermos ao dicionário Aurélio, verificaremos que
“juiz de direito é o magistrado judicial que, em cada comarca,
julga segundo a prova dos autos e segundo o direito.” 23 Dos
magistrados advêm decisões fundamentais para o equilíbrio
sistemático da sociedade, as quais interferem diretamente na
liberdade de ir e vir das pessoas, na política, na economia, na
administração, enfim, em todas as áreas sociais, daí asseverar
o ilustre confrade desembargador João Antônio Neto 24
que, sem dúvida, “ser juiz é carregar o peso da jurisdição
que é, como diz a palavra, dizer o direito, missão delicada
e poderosa que move o espírito, em busca de equilíbrio e
unidade, dentro de um mundo conflituoso e múltiplo.”25
Para um dos maiores administrativistas pátrios, o
saudoso Hely Lopes Meirelles:
O juiz de direito é um agente político, já
que estes são os componentes do governo nos
seus primeiros escalões, investidos em cargos,
funções, mandatos ou comissões, por nomeação,
eleição, designação ou delegação para o exercício
de atribuições constitucionais.26
Incluem-se, assim, nessa categoria de agentes políticos
do Estado, os chefes do Poder Executivo Federal, Estadual
e Municipal e seus auxiliares diretos, os membros do Poder
Legislativo, como também os da magistratura, do Ministério
Público, dos Tribunais de Contas e demais autoridades que
atuem com independência funcional no desempenho das
atribuições governamentais, judiciais ou quase judiciais, que
não integram o quadro estatutário de servidores.
O Supremo Tribunal Federal, em diversas ocasiões 27,
referiu-se aos magistrados como “agentes políticos e
detentores de prerrogativas próprias” 28, com unicidade
nacional da carreira 29 e legislação específica30. Da mesma
forma, a Emenda Constitucional n.º 45/2004 acrescentou
os membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e das
Defensorias Públicas Estaduais como integrantes desse rol
de agentes políticos estatais.
“A independência judicial tem como elementos a
independência da magistratura e a independência do
juiz” 31, ressaindo que os magistrados são agentes políticos
e independentes 32, dos quais se espera não se eximirem
do compromisso institucional e não terem uma postura
alheia aos problemas sociais e políticos do país, já que têm a
responsabilidade de julgar demandas judiciais caracterizadas,
na maioria das vezes, por conflitos de interesses entre pessoas
ou entre estas e o Estado, sendo que tais decisões hão de ser
céleres, atendendo às expectativas da população, que deseja
“um novo magistrado, desmistificado, comprometido com a
sociedade civil, judicando com paixão, empenhado na busca
da mínima possibilidade de felicidade”33, pois:
Seria fácil atribuir a culpa pelos males
brasileiros ao Executivo e ao Leg islativo
e esconder-nos (os juízes) sob a capa da
i r r e s p o n s a b i l i d a d e , um a v e z q u e n a d a
administramos, nada legislamos. Mas será
essa a postura correta de alguém que tem
p r i v i l e g i a d a p o s i ç ã o s o c i a l e s tat u s d e
intelectual no Brasil de hoje? 34
Assim, consabido que o processo não é um fim em si
mesmo, mas mero meio de se alcançar a proteção a um
direito, podendo-se afirmar que o serviço judiciário é gênero
de primeira necessidade da população, sendo que o papel dos
magistrados é extremamente importante como garantidores
dos direitos fundamentais da pessoa humana, já que nossa Lei
Fundamental outorgou-lhes o poder de resolução de conflitos,
tanto individuais quanto coletivos.
Portanto, embora se verifique que, muitas vezes pelo
Brasil afora, se torna deveras difícil para o juiz labutar com
as cobranças e exigências da sociedade, já que são muitos os
processos a ele submetidos (na maioria das vezes, na casa
de milhares de feitos), sabendo ele, na prática, que, apesar
de trabalhar incansavelmente por longas horas debruçado
sobre autos, que lhe requereram muito estudo, dedicação,
introspecção, envolvimento e comprometimento a fio,
depois de ter presidido inúmeras audiências no dia, encerra
um expediente exaustivo, concluindo, não raras vezes, que o
trabalho ficou aquém da expectativa social de justiça, nem
por isto os juízes hão de esmorecer ou aceitar a condição de
serem considerados ou reduzidos a “autômatos julgadores”,
a pretexto de que têm que produzir mais e mais decisões
judiciais, já que justiça, não nos esqueçamos nunca, pressupõe
equidade, isto é, arguta ponderação pelo juiz na resolução dos
conflitos a ele submetidos com as características peculiares de
cada caso concreto.
III – Considerações Finais
Consabido que um magistrado, além dos inúmeros deveres35
e proibições36 legais e do preparo técnico-jurídico, deve ser
uma pessoa dotada de: sensibilidade; humildade; dedicação;
profissionalismo; motivação; comprometimento com a carreira;
imparcialidade; coragem; independência; desprendimento;
espírito público e de justiça; tratamento polido, respeitoso
e cortês dispensado às partes, servidores e operadores do
direito; exclusividade, exceção feita apenas ao exercício do
magistério; serenidade e equilíbrio emocional; reserva 37;
isenção; probidade; e atuação calcada na moralidade e eticidade.
A carreira da magistratura gravita, pois, em torno dos
pilares da técnica e da ética38, sendo que a maioria absoluta dos
atributos que um magistrado deve possuir é de índole ética,
ao ponto desta ser tida como paradigma da atividade judicial:
A preocupação com a ética não é nova.
Desde os filósofos gregos e atenienses, ela vem
sendo objeto de estudo. Só para exemplificar,
A ética a Nicômano, de Aristóteles, continua
sendo o catecismo de todo estudo sobre ética.
Na mo dern idade, g randes nomes da
filosofia destacaram-se nos estudos dedicados
à ética, como Kant, Marx, Hegel, Spinoza, etc.
No estágio contemporâneo, temos Perelman,
Adolfo Sánches Vásquez, Hans Jonas, Leonardo
Boff, Peter Singer, dentre outros.
A novidade atual, nesta fase da pós-
modernidade, é que a ética voltou a ser
pro curada e estudada como uma op ção
inteligente de vida para o novo século, a ponto
de o filósofo francês Lipovetsky declarar que
agora é a vez da máxima: “Ou o século XXI
será ético ou não será nada.”39
Por isso sempre afirmarmos e defendermos que a magistratura
é um verdadeiro sacerdócio, que só não é pesado demais para os
que realmente amam a toga e se identificam plenamente com a
judicatura, exercendo-a com ética, amor, comprometimento e
despidos de orgulhos e vaidades, posto que só assim assumirão
a responsabilidade social que lhes é atribuída para a pacificação
dos conflitos, entregando uma prestação jurisdicional à
população no modo e tempo adequados – de forma objetiva,
célere, qualificada, oportuna e econômica para as partes –
atendendo aos legítimos reclamos dos jurisdicionados – fator
essencial ao equilíbrio social e ao regime democrático de direito
pelo qual tanto lutamos – e propiciando ao cidadão não só
amplo acesso ao Judiciário, mas à própria justiça.
Wanderlei José dos Reis,
Juiz de Direito do TJMT
A Revista da Magistratura Mato-grossense 59
 constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I. Público, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares da
Referências Bibliográficas OLIVEIRA, Regis Fernandes de. O juiz na sociedade moderna. 29
Independentemente do ramo da Justiça – estadual ou federal: “A não Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer momento, quanto
São Paulo: FTD, 1997. ser assim, estará escancarada a possibilidade de o Poder Judiciário não se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência;
ANDRADE, Lédio Rosa. Juiz alternativo e Poder Judiciário. 2.
REIS, Wanderlei José dos. Toga e pelerine. Cuiabá: Editora ser considerado como de âmbito nacional, assim como a Magistratura V - residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disciplinar
ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008.
KCM, 2008. que o integra, em detrimento do que visado pela Constituição a que estiver subordinado;
BARUFFI, Helder; CIMADON, Aristides. A metodologia
SCHUCH, Luiz Felipe Siegert. Acesso à justiça e autonomia Federal. Tudo em face da grande disparidade que poderá resultar VI - comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou
científica e a ciência do direito. 2. ed., Porto Alegre: Evangraf,
financeira do Poder Judiciário. Curitiba: Juruá, 2006. de textos aprovados nas muitas unidades da Federação.” (STF, ADI a sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término;
1998.
SEREJO, Lourival de Jesus (org.). A ética como paradigma da 2700 MC, Relator Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em VII - exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e
atividade judicial. São Luís: ESMAM, 2010. 17/10/2002, DJ 07/03/2003, p. 33). no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja
teoria da constituição. 7. ed. rev. Coimbra: Almeida, 1993. 30
TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 15. ed., A Lei Complementar n.º 35/79, dispõe sobre a Lei Orgânica da reclamação das partes;
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário
São Paulo: Editora Malheiros, 1999. Magistratura Nacional. VIII - manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
Aurélio da Língua Portuguesa. 4. ed. Curitiba: Ed. Positivo, 2009. 31 36
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder Judiciário: crise, acertos e PICARDI, Nicola. L’indipendenza del giudice. Justicia y desarrollo Art. 95, parágrafo único, CR: Aos juízes é vedado:
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires;
desacertos. Tradução de Juarez Tavares. São Paulo: Revista dos democrático em Italia y America Latina, p. 279 e segs. I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito 32
Tribunais, 1995. Esse é o posicionamento, também, de Dalmo Abreu Dallari, uma de magistério;
que afirma que “sem juízes independentes não pode existir Estado II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em
democrático”. In: O renascer do direito: direito e vida social, aplicação processo;
do direito, direito e política. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1980, p. 58. III - dedicar-se à atividade político-partidária;
33
ANDRADE, Lédio Rosa. Juiz alternativo e Poder Judiciário. 2. ed. IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições
Florianópolis: Conceito Editorial, 2008, pp. 30 e 95. de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
34
OLIVEIRA, Regis Fernandes de. O juiz na sociedade moderna. São exceções previstas em lei;
Paulo: FTD, 1997, p. 65. V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes
35
Art. 35, LOMAN: São deveres dos magistrados: de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria
I - cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, ou exoneração.
37
as disposições legais e os atos de ofício; No sentido de falar somente nos autos.
II - o voto direto, secreto, universal e Novo Dicionário Aurélio da Língua
Notas explicativas periódico; Portuguesa. 4. ed. Curitiba: Ed. Positivo,
II - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou 38
Tanto que o CNJ editou, em 26/08/2008, o Código de Ética da
despachar; Magistratura Nacional.
1 III - a separação dos Poderes; 2009, p. 1925. III - determinar as providências necessárias para que os atos processuais 39
SEREJO, Lourival de Jesus (org.). A ética como paradigma da
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. 20
IV - os direitos e garantias individuais. Dos 26 Estados brasileiros e o Distrito se realizem nos prazos legais; atividade judicial. São Luís: ESMAM, 2010, p. 9.
Direito constitucional e teoria da 10
Ou intangibilidade, pois, foi retirada Federal, 19 já aderiram ao projeto. IV - tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério
constituição. 7. ed. rev. Coimbra: 21
da esfera de disponibilidade dos Poderes Exceto para aqueles magistrados oriundos
Almeida, 1993, p. 51. Passagem em
constituídos por ser cláusula pétrea (art. 60, do quinto constitucional – art. 94, CR.
que, embora reconheça a existência de 22
§4º, CR). SILVA, José Gomes da. Humanização
vários constitucionalismos nacionais 11
CAPPELLETTI, Mauro; BRYANT, da aplicação do direito para dar-lhe
(o constitucionalismo inglês, o
Garth. Acesso à justiça. Tradução de Ellen o seu verdadeiro sentido. In: Direitos
constitucionalismo americano, o
Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, fundamentais sociais. BARUFFI, Helder
constitucionalismo francês), prefere falar
1988, p. 12. (org.). Dourados: UFGD Editora, 2009, p.
em movimentos constitucionais “porque isso 12
WATANABE, Kazuo. Acesso à justiça e 166.
permite recortar desde já uma noção básica 23
sociedade moderna. In: GRINOVER, Ada FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
de constitucionalismo”.
2 Pellegrin et alli. Participação e Processo. São Op. cit., p. 1161.
Ocupante da cadeira n.º 28 da AML – 24
Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p. 128. Eminente ocupante da cadeira 25 da
Academia Mato-grossense de Letras – e 13
GELBCKE, Séfora Schubert; CANALI, Academia Mato-grossense de Letras – AML.
autor de inúmeras obras jurídicas. 25
3 Karen Francis Schubert. Frases jurídicas. NETO, João Antônio apud REIS,
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO,
Curitiba: Juruá, 2003, p. 60. Wanderlei José dos. Toga e pelerine. Cuiabá:
Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo 14
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Editora KCM, 2008, p. 9.
Gustavo Gonet. Curso de direito 26
instrumentalidade do processo. 6. ed. São MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008, p.
Paulo: Malheiros, 1998, p. 304. administrativo brasileiro. São Paulo: Editora
231. 15
4 BARBOSA, Rui. Oração aos moços. Malheiros, 2002, p. 75.
Acesso à Justiça como direito fundamental 27
Edição popular anotada por Adriano da Como no recurso extraordinário 228.977/
do cidadão interligado à previsão
Gama Kury. 5. ed. Rio de Janeiro: Edições SP, em que foi relator o ministro Néri da
constitucional da autonomia financeira do
Casa de Rui Barbosa, 1999, p. 40. Silveira.
Poder Judiciário, eis a tônica da excelente 16 28
CAPPELLETTI, Mauro; BRYANT, Art. 95, CR: Os juízes gozam das seguintes
obra: SCHUCH, Luiz Felipe Siegert.
Garth. Op. cit., p. 20. garantias:
Acesso à justiça e autonomia financeira do 17
BIELSA e GRAÑA apud CRUZ e I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só
Poder Judiciário. Curitiba: Juruá, 2006.
7 TUTTI, José Rogério. Tempo e processo. será adquirida após dois anos de exercício,
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. dependendo a perda do cargo, nesse período,
processo civil na Constituição Federal. São
65. de deliberação do Tribunal a que o juiz estiver
Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 98. 18
8 CANOTILHO apud MOREIRA, Helena vinculado, e, nos demais casos, de sentença
Por isto, “imexível”, no dizer de alguns.
9 Delgado Ramos Fialho. Poder Judiciário no judicial transitada em julgado;
Art. 60, §4º, CR: Não será objeto de
Brasil – Crise de eficiência. Curitiba: Juruá, II - inamovibilidade, salvo por motivo de
deliberação a proposta de emenda tendente
2009, p. 104. interesse público, na forma do art. 93, VIII;
a abolir: 19
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado
I - a forma federativa de Estado;

60 AMAMJUS A Revista da Magistratura Mato-grossense 61

 Breves Considerações Jurisprudenciais sobre
a Outorga de Poderes pela Pessoa Jurídica
de Direito Privado ao Preposto Quando do
Depoimento Pessoal no Procedimento Comum
Questão interessante enfrentada no singelo artigo diz
com os entendimentos jurisprudenciais referentes à outorga
de poderes pela pessoa fictícia de direito privado, quando
da representação por preposto 1, à prática de depoimento
pessoal no procedimento comum.2
Por primeiro, urge relembrar, na esteira do que abrigado
no inciso VI do artigo 12 do Código de Buzaid, que as
pessoas fictícias nacionais de direito privado, desde que
estejam em regular funcionamento, são representadas em
juízo, ativa e passivamente, por quem os respectivos estatutos
designarem, ou não os designando, por seus diretores.
Com efeito, embora o dispositivo legal mencionado
tenha aludido à representação da pessoa fingida, trata-se,
em verdade, da figura do próprio presentante 3 do ente
jurídico, porquanto designado órgão específico pelos atos
constitutivos ou deliberações subsequentes com o fito de
tornar presente o respectivo sujeito de direitos nos atos
que praticar, judicial ou extrajudicialmente, inclusive, no
concernente ao depoimento pessoal desvelado em solenidade
judicante, objeto da corrente exposição.
Digo eu, consoante o que constatado, usualmente,
na prática forense, as pessoas morais, pelos motivos mais
diversificados4, são representadas validamente5 em oralidades
de instrução e julgamento por prepostos constituídos pelo(s)
órgão(s) do ente fictício mediante famigerada carta de
preposição ou documento similar.
Sabe-se que na maior parte das vezes, os prepostos, ao
comparecerem nas audiências instrutórias às quais foram
destacados, acabam por personificar o ônus (ou dever)
processual de prestar depoimento pessoal acaso provocado,
previamente, pela “ex adversa”, justamente, à produção
do referido meio de prova que, por sua vez, subsidiará a
pacificação da pretensão resistida.
Ocorre que, em muitos casos, os prepostos que, aliás, não
precisam ostentar vínculo empregatício com o preponente,
não exibem poderes específicos para praticar ato processual
referente a depoimento pessoal, apenas para representá-lo
(o ente moral), genericamente, em solenidades.
Ora, se os prepostos não ostentarem poderes específicos
à prática de depoimento pessoal, entendem alguns pela
62 AMAMJUS
inviabilidade da colheita do ato focalizado, evidentemente,
por ausência de delegação específica do presentante
legal 6, impondo, em estando presentes os pressupostos
legais, a aplicação da pena de confesso ao pólo processual
respectivo, à ressalva, por evidente, dos casos expressamente
excepcionados no próprio “codex”7.
Trocando em miúdos, para esses intérpretes, a mera
exibição de carta de preposição com referência a que
o preposto possa representar, genericamente, a pessoa
moral em oralidade relativamente aos atos que se fizerem
necessários, certamente, não terá o efeito de se possibilitar,
pelo juízo, a prática do depoimento pessoal ante a ausência
da outorga da plena e válida representação legal, conforme
assinalado alhures.
Outros, ao reverso, lastreados no mandamento nuclear
da legalidade, fincam entendimento diametralmente
oposto ao anterior, dogmatizando, a seu turno, acerca
da desnecessidade de que as pessoas fingidas outorguem
poderes expressos e específicos a seus prepostos à prática
do depoimento pessoal, por evidente, ao fundamento da
ausência de previsão legal, nesse sentido, no bojo do Código
de Processo Civil8.
Em terceira corrente, ainda, há valorosas opiniões
pontificando da possibilidade em se permitir a prestação de
depoimento pessoal por pessoa jurídica de direito privado
através de preposto com poderes especiais para confessar 9, vez
que se objetiva, com alvitrado meio probatório, a admissão
de fatos, ou seja, a genuína confissão.
Conclusivamente, diante do esposado alhures nota-se
que o tema pautado ainda está a admitir franca divergência
jurisprudencial, exigindo, assim, acurada reflexão do pretor
ao se deparar com as situações processuais assinaladas
sob pena de ocasionar nulidades, em havendo prejuízo, a
determinado contendor.
Gustavo Chiminazzo de Faria,
Juiz de Direito do TJMT
presentante na audiência, desconhecimento dos Câmara Cível. Rel. Desª. Hilda Teixeira da
Notas explicativas
1
Ou gerente, pois considerado preposto
fatos litigiosos etc.
5
A pessoa jurídica pode ser representada em
Costa. DJ de 15/03/2008, TJMG. Apelação
Cível n.º 1.0290.02.007780-3/001. Décima
Juízo por preposto, ainda que este não seja seu Sexta Câmara Cível. Rel. Des. José Amâncio. DJ
permanente no exercício da empresa, na sede
desta, ou em sucursal, filial ou agência (CC,
art. 1.172).
diretor; basta a designação regular. Recurso
especial conhecido e provido. (STJ. REsp n.º
de 14.06.2006 etc.
7
CPC. Art. 347. A parte não é obrigada a depor
2 191078. Terceira Turma. Rel. Ari Pargendler. de fatos: I - criminosos ou torpes, que lhe forem
CPC. Art. 272. O procedimento comum é
ordinário ou sumário.
3
Nesse sentido: O órgão da pessoa jurídica não
DJ de 15/09/2000)
6
Nesse sentido: (...) A pessoa jurídica deve
ser representada por quem seus estatutos
imputados; II - a cujo respeito, por estado ou
profissão, deva guardar sigilo. Parágrafo único.
Esta disposição não se aplica às ações de filiação,
é representante legal. A pessoa jurídica não é
designarem ou por seus diretores, entretanto, de desquite e de anulação de casamento.
incapaz. O poder de presentação, que ele tem, 8
nenhum óbice existe a que possa comparecer (...) Pena de confissão por falta de poderes
provém da capacidade mesma da pessoa jurídica.
à audiência de instrução e julgamento expressos para preposto de pessoa jurídica
(...) Se as pessoas jurídicas fossem incapazes, os
representada por preposto, a quem tenham sido prestar depoimento pessoal. O Código de
atos dos seus órgãos não seriam atos seus. Ora, o
que a vida nos apresenta é exatamente a atividade
outorgados poderes específicos, ressalvando- Processo Civil não exige que a pessoa jurídica
se apenas que, nesse caso, esteja autorizado outorgue poderes expressos a seu preposto ou
das pessoas jurídicas através de seus órgãos: os
a prestar depoimento pessoal. (...). (TJMG. representante para prestar depoimento pessoal.
atos são seus, praticados por pessoas físicas.
Apelação Cível n.° 1.0145.04.142246-3/001. (...). (TJRS. Apelação Cível nº. 70000193797.
(...) Os atos dos órgãos, que não se confundem
com os, dos mandatários das pessoas jurídicas,
Nona Câmara Cível. Rel. Des. Tarcisio Martins Quinta Câmara Cível. Rel. Marco Aurélio Dos
Costa. DJ de 26/10/2007). Na mesma via: 2º Santos Caminha, julgado em 23/03/2000).
são atos das próprias pessoas jurídicas: têm elas 9
TAC. Apelação com Revisão n.° 671.785.00/0. Nesse sentido: STF. RE n.º 85.655. v. u.
vontade, que se exprime. (Miranda, Pontes de.
Décima Câmara. Rel. Juiz Emanoel Oliveira. Segunda Turma. Rel. Min. Cordeiro Guerra,
Tratado de Direito Privado. 1ª. ed. Campinas.
DJ de 29/09/2004, TJMG. Apelação Cível julgado em 05.10.1976 (Revista de Processo n.º
Editora: Bookseller, 1999. p. 482/483.)
4 n.° 1.0079.05.237984-3/001. Décima Quarta 6/307), RT 422/414 e 384/175 etc.
Impossibilidade de comparecimento pessoal do
A Revista da Magistratura Mato-grossense 63
 Vitaliciedade dos Juízes X Imunidade Parlamentar
Pergunta-se, comumente, diante da história vivida :
onde quer ou se queria chegar? Quais seriam os objetivos
pretendidos e os horizontes ideológicos traçados?
Afinal, diante das instabilidades sociais, grandes
descome dimentos foram consolidados. A ditadura
e o totalitarismo são exemplos temporais revelados.
Exatamente por isso, devemos estar atentos às pretensões
maliciosas do discurso.
A Constituição Federal, em seu art. 2º., estabeleceu
como um dos pilares da democracia brasileira, a efetiva
separação e independência dos poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário). De igual forma, estabeleceu
garantias à Magistratura, com as seguintes prerrogativas:
a) vitaliciedade; b) inamovibilidade; e c) irredutibilidade
de subsídios, com movimento de consciência no sentido de
que de nada adiantava prescrever direitos se não houvesse
uma Justiça capaz de realizá-los.
Quanto à vitaliciedade, especificamente, podemos dizer
que esta garante ao Magistrado, após exercício profissional
de 02 (dois) anos, a não perda do cargo, EXCETO por
sentença judicial transitada em julgado. Ou seja, para a perda
do cargo ou da aposentadoria, necessário se faz um processo
judicial, com oferta de denúncia pelo Ministério Público.
A especificidade dessa garantia é livrar o Magistrado
de pressões externas ou internas (do próprio Poder
Judiciário), para que o mesmo não esteja sujeito às
p ena l i dades de correntes de qua l quer tentativa de
intromissão (interferência).
Pretende-se, pois, fazer que o Magistrado decida sempre
conforme a Lei, a Constituição e as Normas Internacionais
de Direitos Humanos, não por atender a interesses outros
de Autoridades X e/ou Y, com grande poder e influência.
Infelizmente, a não democratização interna do Poder
Judiciário cria abismos estruturais e funcionais sérios,
expondo o Magistrado às mais diversas situações.
A problemática dos valores morais e éticos que permeiam
as estruturas de Estado é mais uma aterrorizante tarefa para
os Magistrados independentes. Afinal, não há segurança, não
há proteção, não há qualquer mecanismo eficaz de assistência
ao Juiz para a sua função de julgar...
Mas, nem p or isso deixamos de prestar a nossa
missão : O juramento de cumprir a Constituição e as
Leis, ser vindo à nação.
Corruptos, desonestos ou sádicos sociais temem o
Juiz independente, aprovado, em concurso público, pelos
seus méritos: estudo, capacidade, dedicação, inteligência,
honradez e ficha totalmente limpa (o magistrado não pode
ter condenações para assumir o cargo).
64 AMAMJUS
Mesmo com a redação atual da normativa constitucional,
já sofremos pressões e ameaças demasiadas, em decorrência
de um costume social de coronelismo não superado.
Passei por isso em Alta Floresta, em decorrência
de manter a prisão de uma Advogada que respondia
a inúmeros ilícitos com possíveis outras Autoridades
envolvidas. Com a prisão dela, “questões” poderiam
s er re ve l a d a s . Ma s , inf e l i zm ent e , a Ad vo g a d a f o i
posteriormente solta ( por decisão coleg iada) e, em
seguida, morta (queima de arquivo?).
Passei por isso ao aplicar a Lei Maria da Penha, de forma
escorreita, inclusive contra algumas “Figuras Importantes”
que agrediram esposas, namoradas, noivas. Desses poderosos
sofri pressões das mais diversas.
Imagine se, em um país como o Brasil, os Juízes ainda
estiverem sujeitos a outras perniciosas formas de controle...
Esse patrulhamento ideológico é corrosivo à moralidade
pública e à efetiva independência do Julgador.
Assim, um Juiz não pode perder o cargo por uma
simples decisão administrativa, como pretende a Proposta
de Emenda à Constituição n. 89. É necessário entender a
importância dessa atividade de Estado e as situações reais
que delimitam nossa função. Exatamente por isso, a perda
do cargo somente pode se dar por decisão judicial transitada
em julgado, cumpridas as instâncias necessárias à possível
Martin Luther King
revisão. Esse é o conteúdo da prerrogativa de vitaliciedade, c) A imparcialidade do julgador; e juízes, evitando toda ação ou decisão que
que não poderá sofrer restrições, sob pena de ofensa às d) Do efetivo acesso à Justiça. possa condicionar política, econômica,
demais garantias fundamentais do cidadão. Portanto, a vitaliciedade é garantia do cidadão, atrelada social ou funcionalmente a independência
Aliás, é absurda, subjetiva e extensiva a redação da aos direitos fundamentais. Dispositivos constitucionais e do poder judicial como poder do Estado,
emenda, quanto ao fato da perda do cargo poder se dar princípios basilares na Carta Constitucional brasileira (art. ou, a dos juízes. Além disso, assumem o
sob o pretexto de que o magistrado não agiu conforme 5º, XXXV, XXXVII, LV e §2º. da CF). compromisso de adotar as decisões e ações
procedimento escorreito ou em observância à conduta Aliás, vale-nos inserir a Declaração de Direitos Humanos que melhor contribuam com os propósitos
necessária ao decoro do cargo. de Campeche (Declaração de Campeche), na temática da indicados, garantindo condições favoráveis
Quer situação mais relativa que essa? Independência Judicial (abril de 2008): para o melhor exercício da magistratura
Ora, dessa forma, os bons Magistrados, honestos e 1 . - Os d ire i t o s f un d a m enta i s e a s independente e imparcial, sujeita apenas à
íntegros serão intimidados na sua atuação, sujeitos ao total liberdades dos indivíduos reconhecem como Constituição e a lei, com estrito respeito ao
desprezo e, inclusive, ao desrespeito. garantia de proteção, o direito à tutela judicial princípio de hierarquia normativa e livre de
Essa máscara da PEC 89 precisa ser revelada. efetiva, a cargo de juízes independentes toda pressão, condicionamento ou ingerência
Não é isoladamente a Magistratura que corre riscos. Mas, e imparciais, pertencentes aos poderes indevida externa.
acima de tudo, a própria população e, isso, DIRETAMENTE. judiciais igualmente independentes, que 2.- Sendo a independência e a
Vale-nos inserir que a proibição de um Tribunal contem com as condições que lhes permitam imparcialidade do juiz específico indispensável
de Exce ção e da Inafastabilidade, como princípios garantir aos magistrados aqueles pressupostos para o exercício da função jurisdicional, estas
constitucionais, detêm outras estruturas de conteúdo, que objetivos para o exercício da jurisdição qualidades devem ser preservadas no âmbito
jamais podem ser esquecidas. Quais sejam: com as qualidades indicadas. Os Estados interno dos Poderes Judiciais, de modo a não
a) A garantia de um julgamento independente; signatários comprometem-se a garantir de resultarem direta ou indiretamente afetadas
b) A efetiva garantia do Juiz Natural e não de um modo permanente o respaldo dos poderes pelo exercício de atividades disciplinares,
fantoche com “orientações” tendenciosas ou inibidoras da políticos do Estado para a consolidação da de ajuizamento ou de governo do próprio
livre apreciação judicial, segundo o direito; independência dos poderes judiciais e dos poder. Deve-se assegurar aos juízes que pela
A Revista da Magistratura Mato-grossense 65
 sua atividade jurisdicional, conforme suas
decisões para os casos a eles destinados, esses
não serão premiados ou punidos, estando
estas decisões sujeitas apenas à revisão dos
tribunais superiores conforme indicado pelo
respectivo direito interno.
D e ta l f o rma , trata n d o - s e d e um D ire i t o
Fundamental do Indivíduo ou cidadão, não há como se
retirar o conteúdo originário da vitaliciedade, em razão da
própria restrição do art. 60, §4º., IV da Constituição Federal
do Brasil (cláusula pétrea).
Ainda, não há que se comparar a vitaliciedade do Juiz
com a imunidade parlamentar do político.
Afinal, o Magistrado está sujeito à perda do cargo e de
ser processado criminalmente e responderá judicialmente,
sempre, independentemente de qualquer autorização,
atuando o Ministério Público, na oferta da denúncia, bem
como, em propositura, da Ação Civil Pública.
Agora, na imunidade parlamentar, o processo contra o
político não terá seu curso enquanto não ocorrer autorização
política para o ato... Permanece ele, pois, diante das
circunstâncias normativamente previstas, como alheio à Lei
e à Constituição, com liberdade não desfrutada por qualquer
outra Autoridade Pública ou cidadão deste País.
Responderemos, sim, pelas nossas ações. Mas isso em
66 AMAMJUS
processo judicial, com as devidas garantias constitucionais
e revisões recursais.
Julgar, neste Brasil, é uma das mais difíceis profissões.
Basta colher a realidade humana das ruas... Então,
teremos uma pequena porção do retrato da importância e
lado aterrorizante do nosso dia-a-dia (ameaças, pressões,
riscos à vida, etc.).
Assim, imperativo é o emprenho imediato de todos,
convocando cidadãos e cidadãs deste país para uma análise
apropriada da questão, com a participação, inclusive dos
seguimentos do Ministério Público. Afinal, para estes, a
PEC 89 traz o mesmo resultado, efetivando mais do que
uma Lei da Mordaça às atuações ministeriais.
Lembremos: “A covardia coloca a questão: é seguro?
O Comodismo coloca a questão : é eleg ante ? Mas a
consciência coloca a questão: é correto?... E chega uma
altura em que temos de tomar uma posição que não é
segura, não é elegante, não é popular, mas a temos de fazer
porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude
correta?” (Martin Luther King ).
E, finalizo: Afinal, diante das instabilidades sociais,
grandes descomedimentos foram consolidados. A ditadura
e o totalitarismo são exemplos temporais revelados.
Exatamente por isso, devemos estar atentos às pretensões
avessas ao discurso.
Amini Haddad,
Juíza de Direito do TJMT
Diretores falam sobre experiência
na gestão “Magistrados”
Mais dois anos de associativismo
Colegas.
A minha carreira de Mag istrado não te ve um só momento
divorciada da vida associativa na Amam, inclusive ocupando cargos
ou mesmo disputando eleição para Presidente.
Já vivi momentos de saudade, momentos que já esqueci e outros que
não merecem nem registro. Mas vivo intensamente a nossa Associação.
Na Administração “Magistrados” pude participar assiduamente
das discussões de interesse da Magistratura, em especial a de primeiro
grau, quando discutidas matérias em Plenário defendendo sempre
o interesse coletivo.
Convicto de que não posso tudo, me coloquei verdadeiramente à
disposição dos Colegas para a busca de solução aos problemas a mim
encaminhados.
Esta Administração caminha para o encerramento cumprindo
seu papel, ou seja, fez o possível ao atendimento dos anseios dos
Associados e, certamente outras virão para acrescer aos trabalhos de
mais de 40 anos de existência da Amam.
Felicidade a todos.
Fraternal abraço.
Carlos Alberto Alves da Rocha,
Desembargador, 2º Vice-Presidente da
Amam – Administração “Magistrados”
Compromisso associativo
Conforme propostas de campanha, e considerando a proximidade
do encerramento da Gestão da Administração “Magistrados”, posso com
tranquilidade afirmar o compromisso associativo deste biênio.
Apesar das inúmeras dificuldades financeiras e das obrig ações
associativas, a Gestão “Magistrados” não descuidou nem um instante de
atender às necessidades dos Associados de forma compromissada com a
transparência e democracia necessária.
Infelizmente o nosso ideal é infinitamente superior à nossa capacidade de
realização. Queríamos muito para os Associados, conseguimos realizar o possível.
Por tudo que vencemos, construímos e contribuímos no período para a
vida associativa, tenho que valeu a pena o desafio.
Fraternal abraço.
A Revista da Magistratura Mato-grossense 67
 Desafio cumprido
Colegas Associados,
Logo nos primeiros dias de administração da Gestão
“Magistrados” me impressionei com o tamanho do desafio
que se apresentava.
Durante a Gestão, mais ainda, diante dos inúmeros
acontecimentos que nos surpreenderam na Magistratura, com
reflexos inevitáveis na vida associativa. De qualquer modo,
o desafio tinha sido aceito desde a candidatura, portanto,
enfrentamos tudo com a vontade de fazer o melhor.
Inúmeras conquistas foram alcançadas, mas uma eu
reputo como fundamental, sendo ela a confirmação da
independência da Amam.
A Administração “Magistrados” procurou a todo instante
manter a Amam a serviço de seus Associados de forma coletiva
e democrática e disso me orgulho de ter participado.
Lídio Modesto da Silva Filho,
Juiz, 2º Secretário da Amam – Administração “Magistrados”
Mais uma etapa vencida
Colegas Associados.
O esporte não deixa de ser um parâmetro para que as pessoas
comecem a trabalhar com aspectos como o companheirismo,
a conquista de objetivos e a superação de desafios, os quais, se
remetidas às questões profissionais e pessoais, poderão servir de
estímulo para que superemos nossos limites.
Desde que assumi a Coordenadoria de Esportes da Amam
na atual Gestão, sempre primei em manter a união do grupo de
atletas Associados, com participação efetiva em eventos locais
(campeonato de Tênis na Amam) e nacionais (campeonatos de
futebol), assegurando a integração dos nossos atletas e dos Colegas
de outros Estados.
A Administração “Magistrados” se empenhou em patrocinar
o máximo de condições para que os Associados atletas tivessem o
seu lugar ao sol, e assim deverá continuar.

Caríssimos colegas, valeu a pena Luis Otávio Pereira Marques,

Como é do conhecimento de todos,
aproxima-se o término da atual gestão da
Amam, já estando o pleito eleitoral em
pleno vigor. Eis o momento correto para
analisarmos todo o decorrer de nossa
história frente à nossa querida Associação.
Patrícia Ceni Rodrigues,
Juíza, 1ª Vice- Presidente
Sem dúvida, nossa Gestão pode
ser conhecida como “A sem dinheiro”.
Perdemos os repasses dos Cartórios e isso
atingiu em cheio toda a administração, os
projetos e a forma que devíamos entender
e conduzir a Amam.
O que ainda não
ficou claro para to dos
os associados — e, como
forma de sobrevivê ncia
d a instituição, precisa ,
urgentemente, ser
i n c o r p o ra d o a o n o s s o
imag inário — é que a
Amam não mais se sustenta.
Nós a sustentamos!
Partindo desse princípio,
não podemos mais encarar
nossa associação apenas
como um clube — o que,
sem tecer críticas, ela é para
alguns. Qualquer futura
administração da Amam vai
ter que se debruçar sobre um
item que nossa Gestão tentou,
sem muito sucesso, debater:
Juiz, Coordenador de Esportes da Amam –
Administração “Magistrados”
como tornar a Associação autossuficiente.
É claro que é um assunto espinhoso e
mexe, diretamente, com décadas de tradição.
Porém, não podemos mais fugir dele, sob
pena de estarmos decretando o fim da
Associação Matogrossense de Magistrados.
A par disso, sem qualquer falsa
modéstia, a atual gestão é merecedora de
aplausos. Mas também de críticas.
Imaginar que iríamos acertar em
100% é falacioso. Porém, tenho a mais
absoluta certeza que tudo o que fizemos
não foi em benefício de alguns, mas
na certeza de estarmos defendendo os
interesses maiores da Magistratura.
É claro que, quando lidamos com
interesses, surgem as divergências. Isso
é absolutamente normal. Contudo,
nossa gestão sempre procurou atender e
discutir os objetivos que devem nortear
a Judicatura de nosso Estado e que, quase
nunca, vai ao encontro dos objetivos
individuais de cada um.
Fica aqui a certeza de que, parodiando
O Rappa, “Valeu a pena” ter participado
da atual gestão.

68 AMAMJUS A Revista da Magistratura Mato-grossense 69

 Campanha
Lei Maria da Penha

Violência contra a Mulher Participe

70não AMAMJUS
tem
MAM
MA desculpa,
MJJJU
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US tem Lei. www.cnj.jus.br/leimariadapenha
72 AMAMJUS