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É provável que, de início, devido ao seu gênero de vida (uma vez que o fato de
subir às árvores atribuía às mãos uma função diferente da dos pés), esses macacos
foram, pouco a pouco, desacostumando-se de empregar as mãos ao caminhar em
solo plano, adotando uma marcha mais ou menos ereta. Dessa maneira, foi dado o
passo decisivo para a transição do macaco ao homem. (....)
Mas a mão não estava só. Era uma parte apenas de todo um organismo altamente
complicado. E o que era proveitoso para a mão era igualmente útil para todo o
corpo, a cujo serviço ela se encontrava. E essa atividade era duplamente
proveitosa. Em primeiro lugar, em virtude da lei de correlação do desenvolvimento,
como a denominou Darwin. Segundo essa lei, determinadas formas de uma certa
parte do organismo, estão sempre ligadas a certas formas de outras partes que,
aparentemente, não têm relação com aquelas. Assim é que todos os animais que
têm glóbulos vermelhos, sem núcleo, e cujo crânio está unido à coluna vertebral
por intermédio de uma dupla articulação - os côndilos - possuem, sem exceção,
glândulas mamárias para alimentação de suas crias. Os mamíferos portadores de
cascos bifurcados têm sempre um duplo estômago para a ruminação. As mudanças
de determinadas formas determinam mudanças nas formas de outras partes, sem
que possamos explicar sua correlação.
Os gatos brancos, de olhos azuis, são quase sempre surdos. O refinamento gradual
da mão humana e a conformação do pé para tornar possível o caminhar ereto,
repercutiu, por certo, sobre outras formas do organismo, devido a essa correlação.
Mas essa influência tem sido, até agora, muito pouco investigada para que
possamos ir além de consignar sua constância, em termos gerais.
No estado natural, nenhum animal considera uma falha o fato de não poder falar ou
não compreender a linguagem humana. Mas outra coisa se passa, quando
domesticado pelo homem. O cão e o cavalo adquirem, através do trato com o
homem, um ouvido de tal forma afeiçoado à linguagem articulada, que chegam a
entender facilmente qualquer idioma naquilo que abrange seu raio de
representações. Adquirem também a aptidão para nutrir sentimentos que antes
lhes eram alheios, tais como o carinho pelo homem, a gratidão, etc. (...)
O cão tem um olfato muito mais refinado que o do homem para rastrear; mas não
distingue a centésima parte dos olores que, para o homem, são características
definidas de diferentes coisas (5). E o sentido do tato que existe no macaco, sob
forma apenas muito rudimentar, somente com a mão do homem e pelo trabalho foi
que se desenvolveu e aperfeiçoou.
Tudo isso, porém, não constituía trabalho propriamente dito. Este começa, na
realidade, com a confecção de ferramentas. E, entre estas, quais são as mais
antigas que conhecemos? As mais antigas entre os objetos legados pelo homem
pré-histórico, as mais antigas se considerarmos o modo de viver dos povos mais
primitivos, assim como dos atuais selvagens mais rudimentares? São ferramentas
para a caça e para a pesca; e, simultaneamente, as primeiras armas.
A caça e a pesca implicam na passagem da alimentação exclusivamente
vegetariana ao consumo associado de carne: um novo passo no sentido da
humanização. O alimento cárneo contém, sob uma forma quase completa, os
elementos essenciais de que necessita o corpo animal para o seu intercâmbio vital;
sendo mais curta a sua digestão, torna-se menor o tempo requerido pelos demais
processos vegetativos do corpo, correspondentes à natureza dos vegetais, assim
ganhando tempo, mais substância e maior força para a vida propriamente animal. E
o homem em formação, quanto mais se afastava dos vegetais, tanto mais se
colocava num plano superior ao da besta. Assim como o hábito da alimentação
vegetal associada à carne, transformou o gato e o cão selvagens, em servidores do
homem, da mesma forma o hábito da alimentação cárnea associada aos vegetais,
contribuiu positivamente para dar ao homem, em formação, maior vigor físico e
independência. Mas a principal ação do alimento cárneo foi sobre o cérebro, a que
as substâncias necessárias para a sua alimentação lhe eram fornecidas com muito
maior abundância do que antes e que, por esse motivo, podia desenvolver-se mais
rápida e completamente, de geração em geração. (...)