Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
"O desemprego invade hoje todos os níveis de todas as classes sociais, acarretando
miséria, insegurança, sentimento de vergonha, em razão essencialmente dos
descaminhos de uma sociedade que o considera uma exceção à regra geral
estabelecida para sempre. Uma sociedade que pretende seguir seu caminho por uma
via que não existe mais, em vez de procurar outras. (...) Resulta daí a marginalização
impiedosa e passiva do número imenso, e constantemente ampliado, de 'solicitantes de
emprego que, ironia, pelo próprio fato de se terem tornado tais, atingiram uma norma
contemporânea; norma que não é admitida como tal nem mesmo pelos excluídos do
trabalho, a tal ponto que estes são os primeiros a se considerar incompatíveis com
uma sociedade da qual eles são os produtos mais naturais. São levados a se
considerar indignos dela e, sobretudo, responsáveis pela sua própria situação, que
julgam degradante (já que degradada) e até censurável. Eles se acusam daquilo de que
são vítimas. (...)
Não se sabe se é cômico ou sinistro, por ocasião de uma perpétua, irremovível e
crescente penúria de empregos, impor a cada um dos milhões de desempregados – e
isso a cada dia útil de cada semana, de cada mês, de cada ano – a procura efetiva e
permanente desse trabalho que não existe. Obrigá-lo a passar horas, durante dias,
semanas, meses e, às vezes, anos se oferecendo todo dia, toda semana, todo mês, todo
ano, em vão, barrado previamente pelas estatísticas. (...)
É dessa maneira que se prepara uma sociedade de escravos, aos quais só a escravidão
conferiria um estatuto. Mas para que se entulhar de escravos, se o trabalho deles é
supérfluo? (...) Não é pouca coisa que toda uma população (no sentido apreciado
pelos sociólogos) seja mansamente conduzida por uma sociedade lúcida e sofisticada
até os extremos da vertigem e da fragilidade: até as fronteiras da morte e, às vezes,
mais além. (...)" 1
a sociedade de escravos
A exclusão absoluta
"Por acaso os habitantes de outros bairros vêm perambular nesses subúrbios tão
próximos, tangentes às cidades de que estão separados? Não, porque eles são
considerados, muitas vezes com razão, perigosos. Mas será que se imagina que seus
ocupantes já foram, eles próprios, empurrados para o meio daquele perigo que cada um
teme: a exclusão social permanente, absoluta, a ponto de ser banalizada? (...)
Entre esses 'jovens', esses habitantes dos bairros que chamamos 'difíceis' (mas que são
justamente aqueles onde pessoas em grande dificuldade tentam viver), não são os nomes
de metralhadoras, mas o vazio o que substitui o nome de Mallarmé. O vazio e a
ausência de qualquer projeto, de qualquer futuro, de qualquer felicidade pelo menos
visualizada, da mínima esperança, mas que determinado saber poderia compensar,
suscitando até certo prazer em percorrer esses caminhos que levam ao nome de
Mallarmé. (...)
O ensino? Para esses alunos, poderia tratar-se de uma doação, de uma distribuição do
que existe de melhor, de uma porção mágica autorizada, mas também de um único e
último recurso. Um mínimo muito restrito lhes é proposto, interrompido o mais cedo
possível. E essa noção de 'última chance', que sublinha sua miséria e o perigo que os
ameaça, suscita, tanto nos professores como nos alunos, uma angústia insidiosa que
exaspera as tensões." 2