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Os dados da história podem ser descritos de diferentes formas, existem os estudos dos
eventos históricos, das vidas dos protagonistas da história ou mesmo o estudo de fases ou
eras. De um modo geral, pode-se utilizar o modelo personalista ou naturalista para
escrever sobre história de uma determinada área ou ciência. A teoria personalista envolve
o estudo das realizações ou contribuições de certos indivíduos, já a teoria naturalista
pesquisa a história baseada no contexto em que os fatos se desenvolvem, ou Zeitgeist
(espírito ou clima intelectual da época) considerando que a época faz a pessoa. Estes dois
modos de descrever a história são interessantes no estudo da Psicologia e aqui
utilizaremos um misto de relato que envolva as duas concepções.
A história da Psicologia não é única, assim podemos dizer que existem as histórias das
Psicologias, como afirmam Bock, Furtado e Teixeira (1999). As diferentes fases da história
da Psicologia foram marcadas pela constituição de escolas de pensamento também
chamadas de abordagens teóricas ou sistemas da Psicologia. Como exemplo podemos
citar as escolas: Estruturalismo, Funcionalismo, Associacionismo, Behaviorismo,
Psicologia da Gestalt, Psicanálise, Psicologia Humanista e assim por diante.
Nos séculos XVII e XVIII o mundo estava encantado com a revolução das máquinas.
Operava em todos os lugares a criação de instrumentos mecânicos que aprimoravam o
trabalho do homem otimizando seu tempo e esforço. Iniciava-se assim um clima intelectual
baseado no pensamento mecanicista que tinha como prerrogativa compreender que a
natureza e as pessoas tinham um funcionamento semelhante à máquina, utilizando para
isto a metáfora do relógio. A idéia de que um movimento leva a outro, e de que tudo que
ocorre produz o seu efeito é assim utilizada para explicar o funcionamento de um relógio,
bem como o funcionamento do tempo, das questões naturais e do comportamento do ser
humano.
O espírito mecanicista foi o Zeitgeist que implementou o terreno para duzentos anos
depois em 1879 Wundt desse início à ciência psicológica. O pressuposto mecanicista
trouxe consigo a idéia de determinismo, que se resume à crença de que todo ato é
determinado por eventos passados. Assim como é possível prever os movimentos que
ocorrerão num relógio, também se aplica ao universo ou pessoas. A pergunta é: será que
o universo é organizado, previsível, observável e mensurável, assim como os seres
humanos? Bom, a idéia da época dizia que sim. Neste sentido nasceram as ciências
quantitativistas que buscavam com suas teorias realizar tal intento. O chamado método
científico nasce baseado nestes pressupostos. O método científico, fundamentava-se nas
idéias de unir a teoria e a prática utilizando-se de formas de investigação por meio da
razão associada à experimentação para tentar desvendar, descrever, medir e previr um
determinado fenômeno.
René Descartes (1596-1650) trouxe como contribuição para a semente da futura ciência
psicológica idéias sobre a relação mente-corpo. Questionava-se se o corpo mental e o
mundo material eram de natureza distintas, se existiria ou não uma separação mente
corpo. Desde Platão esta questão era discutida entre os filósofos e Descartes propôs que
mente e corpo eram de natureza diferentes e que existe uma relação entre os dois. Para
Descartes a mente influencia o corpo e este pode exercer influência sobre a mente. As
idéias de Descartes ficaram conhecidas como teoria cartesiana de mundo que incluía
além deste pressuposto a idéia de que o corpo funcionava como uma máquina, e de que a
existência dependia essencialmente da atividade racional traduzida na famosa frase:
“penso, logo existo”.
Descartes também introduziu uma polêmica que viria a se tornar outro tópico de estudo da
Psicologia: a questão das idéias inatas e idéias derivadas. As inatas não são produzidas
por objetos do mundo externo enquanto que as derivadas nascem da aplicação de um
estímulo externo como o som de um sino ou visão de uma árvore. Inato diz respeito aquilo
que nasce com a pessoa. Vê-se que este assunto tomou parte das preocupações
subseqüentes sobre a natureza do modo como o homem se comporta no mundo.
Resumindo, podemos dizer que as raízes epistêmico-filosóficas que deram origem ao
estudo científico da Psicologia têm como principais expoentes os movimentos:
mecanicista, determinista, racionalista e cartesiano.
Descartes foi uma grande influência para as idéias que hoje constituem temáticas da
Psicologia Moderna por instaurar a discussão da dualidade mente-corpo, bem como
o determinismo racional na explicação dos fenômenos.
Empiristas e Asociacionistas
Jonh Locke (1632-1704) foi uma figura importante do pensamento positivista e trouxe
como contribuição para a emergente Psicologia o interesse pelo funcionamento cognitivo
(intelectual), pelo modo como a mente adquire o conhecimento. Para Locke
diferentemente de Descartes não existem idéias inatas e para ele os seres humanos não
estão equipados ao nascer com qualquer espécie de conhecimento. Locke comparou a
mente humana a um papel em branco ou tábula rasa em que precisam ser impressas as
letras, ou seja o conhecimento. As idéias de Locke versavam sobre o processo de
aquisição do conhecimento por parte do ser humano e trouxe a dicotomia do pensamento
sobre inatismo ou ambientalismo temática muito discutida posteriormente na Psicologia
cientifica.
A fisiologia deu sua contribuição a Psicologia também por explorar as funções cerebrais e
sua relação com os fenômenos psíquicos como emoção, pensamento, alem das
psicopatologias.
A Psicologia científica nasce na Alemanha no final do século XIX com base nos
estudos fisiológicos e experimentais.
Apesar do livro “Elementos de Psicofísica” de Fechner ter sido publicado em 1860, a data
histórica do nascimento da nova ciência foi a fundação do Laboratório de Psicologia
Experimental na Universidade Leipzig na Alemanha em 1875. É creditado a Wundt a
fundação da nova ciência por ele ter formulado a concepção unificada da Psicologia, bem
como ter contribuído para sua divulgação e expansão. Em 1873 ele escreve “Princípios de
Psicologia Fisiológica” com intuito de delimitar a nova ciência.
O pai da Psicologia dizia que os elementos devem ser identificados, mas o mais
importante é como estes elementos se compõem na experiência perceptiva, a junção dos
elementos de forma criativa (síntese criativa) foi denominada de apercepção ou seja, a
organização dos vários elementos em um todo compreensível por parte do sujeito.
Wundt estudou desta maneira fenômenos psíquicos tentando criar leis gerais que
explicassem os fenômenos da atividade consciente. Para ficar em apenas um exemplo
Wundt estudou a reação pessoal aos estímulos de um metrônomo (maquina que produz
cliques audíveis em intervalos regulares). Ele identificou que ao final de vários cliques a
experiência se tornava mais agradável, que havia uma certa tensão inicial ao se esperar o
clique seguinte e um alivio quando o mesmo ocorria, alem disto, quando a velocidade dos
cliques aumentava uma certa excitação e ao diminuir um sentimento mais calmo. Chegou
a conclusão de que os sentimentos tem três dimensões prazer-desprazer, tensão-
relaxamento e excitação-depressão.
De um modo geral as idéias de Wundt eram delimitar o campo de estudo da nova ciência e
estabelecer a forma de investigação. Para ele a Psicologia deveria se preocupar as
seguintes tarefas 1)analisar os processos conscientes até chegar nos seus elementos
básicos, 2)descobrir como esses elementos são sintetizados e organizados, 3)determinar
as leis de conexão que governam a sua orientação (Schultz & Schultz, 1998, p. 83).
Com o tempo aqueles que foram até a Alemanha estudar com Wundt foram criando suas
divergências teórico-metodológicas com o mestre e instituindo em alguns casos
verdadeiras novas correntes de pensamento e em outros casos influenciando a criação
posterior de uma escola ou sistema em Psicologia.
Carl Stumpf 1848-1936) foi o precursor das idéias da fenomenologia que refere-se ao
estudo da experiência não distorcida, tal como ela ocorre. Ele discordava de Wundt ao
decompor a experiência em elementos analisáveis e propunha o estudo da experiência
como um todo e não de forma artificial e abstrata. Edmund Husserl, aluno de Stumpf
propõe mais tarde a corrente filosófica fenomenologia que foi precursora da escola da
Psicologia da Gestalt.
Oswald Kulpe (1862-1975) defende uma modificação no método introspectivo pedindo ao
sujeito para descrever após a experiência vivida como esta tinha sido. Esta forma
retrospectiva não agradava a Wundt pois achava que a experiência deveria ser estudada
como ocorria e não a memória da experiência. Kulpe também descobriu em seus estudos
que as percepções ou o conteúdo da experiência as vezes era descrito por elementos não
conscientes, ou seja, haveria um aspecto não sensorial na consciência, o que veio a
influenciar posteriormente as idéias sobre o inconsciente desenvolvidas por Sigmund
Freud.
O Estruturalismo
Aluno de Wundt, Titchener levou suas idéias para os Estados Unidos e criou a escola de
pensamento denominada Estruturalismo. Apesar de se dizer fiel as idéias de seu mestre
a Psicologia de Titchener era bem mais objetiva e pratica do que a de Wundt. Wundt se
interessava pelos elementos da consciência, mas sua atenção estava na organização ou
síntese dos mesmos por meio da apercepção. “Titchener enfatizava as partes, enquanto
Wundt destacava o todo“ (Schultz & Schultz, 1998, p. 109).
Titchener, aluno de Wundt leva suas idéias para os Estados Unidos e funda uma
nova escola de pensamento na psicologia – o estruturalismo.
Funcionalismo
A influencia das ideias de Darwin é fundamental no funcionalismo. Darwin com sua teoria
da evolução das espécies postulava que na natureza o processo de seleção natural resulta
na sobrevivência de organismo mais bem preparados para seu ambiente e na eliminação
daqueles que não se ajustam. Na luta pela sobrevivência, os mais aptos sobrevivem
perpetuando as características que o ajudaram a sobreviver. O livro A origem das
Espécies de Darwin rompe definitivamente com as explicações míticas ou religiosas sobre
como o homem se desenvolveu no mundo. O funcionalismo utiliza-se do conceito
darwininista de pensamento por acreditar que o funcionamento do psiquismo obedece as
leis da evolução, ou seja, a mente funciona a partir da melhor forma adaptativa, buscando
equilíbrio e adequação ao ambiente.
Influenciado pelas ideias de Darwin, Francis Galton buscou aplicar o espirito da evolução à
psicologia a partir de seu trabalho sobre a herança mental. Galton acreditava que a
inteligência humana estava relacionada a herança de pais para filho, pois “...sua tese [e,
em resumo, que homens eminentes têm filhos eminentes” (Schultz & Schultz, 1998, p.
133). Ele cria a ideia da eugenia , ciência que trata os fatores capazes de aprimorar as
qualidades hereditárias da raça humana. Galton acreditava e defendia o aprimoramento da
raça humana a partir de cruzamentos ou seleção artificial. Para Galton deveriam se
desenvolver testes de inteligência para ser usados na escolha de homens e mulheres mais
brilhantes para acasalamento seletivo. Neste sentido este teórico foi um dos primeiros a
utilizar métodos de medida estatística na pesquisa sobre as características psicológicas,
fundou as origens da psicometria.
Galton pode ser considerado o primeiro clinico da psicologia pela criação de seus testes
mentais que buscavam medir as capacidades sensoriais e a inteligência humana. Galton
introduziu ainda a ideia de estudar as associações de idéias e as imagens mentais que se
utilizou pela primeira vez de um questionário psicológico. No questionário pedia-se aos
sujeitos que recordassem uma cena e tentasse evocar imagens desta cena e deveriam
dizer como era a imagem – tênue, nítida, clara, escura, etc.
William James modifica a Psicologia então existente por trazer uma nova concepção de
consciência. Para ele o objeto de estudo da Psicologia são fenômenos e condições. Por
fenômeno entende-se a pesquisa da experiência imediata e condições dizem respeito a
importância do corpo ou cérebro. Ele enfatiza a importância da pesquisa as estruturas
físicas da consciência, ação do cérebro sobre a consciência. Ele teorizou ainda sobre as
emoções a partir de investigação com aplicação de estímulos para compreender o medo, a
raiva, etc. Ele enfatiza sobretudo as influencias fisiológicas nos fenômenos.
John Dewey (1859-1952) geralmente [e considerado um dos pais do funcionalismo, este
pesquisador contribuiu para aplicação da psicologia aos problemas da educação e
fundamentava suas ideias na relação da teoria da evolução e estudos fisiológicos. Para ele
a consciência produz o comportamento apropriado que capacita o individuo a progredir e
sobreviver.
Francis Galton, Herbert Spencer, William James, John Dewey, cada um com suas
ideias contribuíram para uma maior aplicabilidade dos estudos psicológicos a
problemas e questões do mundo real.
Comportamentalismo
Pavlov explica então que a salivação quando o pão é colocado na boca do animal ee uma
resposta reflexa natural do sistema digestivo. Como não há necessidade de aprendizagem
da mesma, esta é chamada de reflexo não condicionado ou inato. Contudo, salivar apenas
com a visão ou com o som dos passos do cuidador e uma associação feita pelo cão que
lhe permite antecipar que a comida será servida. Assim a salivação antecipada e uma
resposta que tem que ser aprendida por sucessivas repetições e por isto e chamada de
reflexo condicionado. O reflexo condicionado e aquele que necessita de uma associação
ou conexão entre a visão da comida e sua subseqüente ingestão. Assim Pavlov descobre
que qualquer estimulo pode produzir a resposta de salivação condicionada, desde que
fosse treinado o animal. Ele poderia acender uma luz toda vez que iria servir o alimento e
após sucessivas associações o cão salivava apenas com o estimulo da luz. Ele descobre
que a salivação só ocorre se a luz for seguida de alimento assim nasce a ideia de
reforço. O reforço (ou ser alimentado) e necessário para que a aprendizagem aconteça.
A Psicologia behaviorista trouxe assim a ideia de que o comportamento humano pode ser
passível de condicionamento, e que portanto e possível exercer um controle
comportamental a partir da manipulação de variáveis como estímulos e reforços. No livro
Walden Two Skinner descreve uma comunidade totalmente controlada por reforços
positivos e trazia a ideia de manipulação do comportamento humano a partir de estudos
controlados e traz de volta a ideia do ser humano como uma maquina passível de ser
operada, orientada, modificada e moldada pelo uso adequado das variáveis como reforço
e estímulos adequados.
Para a Psicologia da Gestalt o todo é mais que a soma das partes. Isto significa
dizer que estudar apenas os elementos da experiência não nos fornece clareza
sobre como realmente o fenômeno ocorreu, pois o mesmo, ao associar seus
elementos, ou os juntar, forma uma nova configuração ou forma.
Este movimento psicológico é considerado por alguns não como uma escola de
pensamento como as outras, mas como um novo campo de conhecimento, havendo
alguns teóricos que dizem que a Psicanálise é completamente independente da
Psicologia e vice-e-versa.
Entretanto, o termo psicanálise foi introduzido por Sigmund Freud e diz respeito a uma
teoria, um método de investigação e uma prática terapêutica. Como teoria, a
psicanálise desenvolveu vários conceitos dentre os quais a idéia de que os fenômenos
psicológicos são determinados por mecanismos inconscientes, ou seja, o psiquismo
humano não deve ser entendido por elementos da consciência, mas sim por fatores não
conscientes. O conceito de inconsciente é formulado por Freud e em toda a sua obra ele
defende o pressuposto de que os elementos inconscientes são determinantes para
explicar os fenômenos psi.
Novas Escolas
Referências