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TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO: INCIDÊNCIA PENAL E SUA

ADEQUAÇÃO CONSTITUCIONAL E PRINCIPIOLÓGICA

Aldeci Sandro Pierog1

RESUMO

Este trabalho apresenta uma breve reflexão sobre o artigo 149, do Código Penal
Brasileiro, que prevê como crime, de modo geral, a prática de conduta que reduza o
ser humano no desenvolvimento de sua atividade laboral cotidiana a condição
análoga à de escravo.

Palavras-chave: Direito Penal. Trabalho Escravo. Adequação. Constitucional.


Principiológica.

1
Acadêmico graduando do curso de Direito da Faculdade Campo Real, Guarapuava – PR, cursando
o 6º período.
1. INTRODUÇÃO

Sem a pretensão de esgotar o tema, o presente artigo tem como escopo


promover uma breve investigação histórico-legal quanto ao trabalho escravo,
visando a legislação penal, diante da necessidade de compreender o Direito Penal
como um instrumento de combate ao “trabalho escravo”, fazendo uma breve análise
quanto sua adequação com os preceitos constitucionais e princípios do direito penal.

O Brasil é signatário de vários tratados internacionais relacionados ao


“trabalho escravo” nos quais assume a responsabilidade de combatê-lo, havendo
farta legislação a ser estudado, no entanto, este trabalho deter-se-á a análise de
parte desta, a qual pode ser tida como mais relevante para os fins propostos.

2. LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL E CONSTITUIÇÃO

A escravidão foi abolida no Brasil a partir da Lei Áurea, a qual é fruto de


projeto de lei votado e aprovado pela Câmara Geral, e sancionado pela Princesa
Isabel conjuntamente com o Conselheiro Rodrigo Augusto da Silva, razão pela qual
não é correto falar em trabalho escravo, vez que a figura estigmatizada do escravo
não existe no ordenamento pátrio desde o dia 13 de maio de 1888.

Na realidade social, a entrada em vigor da Lei Áurea implicou apenas na


abolição do “trabalho escravo”, mas não do trabalho em condições análogas ao de
escravo, como pode ser percebido, pois passados cento e vinte um anos pós-
abolição escravista, a sociedade brasileira esforça-se no combate a exploração do
trabalho do ser humano em condições degradantes, que o coloca em condições
semelhantes àquele.

A legislação em geral dita diretrizes a serem adotadas pelo governo para o


combate e extinção deste mal.

A começar pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela


Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, da qual o Brasil
é signatário, temos que: Art. IV. “Ninguém será mantido em escravidão ou servidão,
a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas”
(Assembléia Geral das Nações Unidas , 1948).

No dia 14 de julho de 1965, o Decreto Legislativo n. 66, em seu art. 1º,


autorizou o governo brasileiro “a aderir à Convenção sôbre a Escravatura, assinada
em Genebra, em 25 de setembro de 1926, e emendada pelo protocolo aberto a
assinatura ou a aceitação em 7 de dezembro de 1953 e a Convenção Suplementar
sôbre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos, e das Instituições e
Práticas Análogas à Escravatura, firmada em Genebra a 7 de setembro de 1956”
(Congresso Nacional, 1965).

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, tem como um dos


seus fundamentos os valores sociais do trabalho (art. 1º. IV da Constituição
Federal), pregando-o como um direito social (art. 6º. da CF), sendo que a ordem
econômica deve ser fundada na valorização do trabalho humano, isto para
assegurar a todos existência digna (art. 170 da CF), ou seja, assegurar a dignidade
da pessoa, que é outro fundamento da República (art. 1º. III da CF).

Portanto, o trabalho, enquanto ferramenta de desenvolvimento do ser humano


no meio social e da própria sociedade, possui seu valor elevado diante da Carta
Magna, por consequência também o trabalhador é reconhecido e valorizado pelo
papel que desempenha, cabendo à sociedade e ao próprio Estado propiciar
condições para que as opções do Constituinte e os compromissos internacionais
assumidos sejam respeitados e atendidos, valendo-se dos meios que tiver ao
alcance, inclusive da legislação infraconstitucional para criar meios de atuação, seja
fomentando determinadas práticas, seja punindo, reprimindo e desestimulando
outras.

É a figura intervencionista do Estado, presente no texto de quase toda a


Constituição. Nas lições de Celso Antonio Bandeira de Melo, ao dissertar quanto a
intervenção do Estado no domínio social, citando o papel do trabalho e do
trabalhador (2008, p. 807):

Em síntese: há um programa constitucional em que está luminosamente


explícita a prioridade ao que seja favorecedor do trabalho e dos
trabalhadores, relegando-se a segundo plano o que favoreça ao capital e
aos interesses dos capitalistas. Isto, evidentemente, não significa
menoscabar seja a importância, seja a valia desta segunda ordem de
interesses, por certo também de alta relevância; mas significa que a
realização deles há de estar entrosada com a realização dos primeiros e
atrelada à satisfação deles.

Neste sentido, eventual legislação já existente sobre o tema veio a ser


recepcionada pela Constituição de 1988, desde que não esteja em conflito com as
demais normas constitucionais e sua ideologia.

3. LEI PENAL

O Estado, já em 1940, buscou dentre as várias ferramentas disponíveis, usar


do direito penal, para punir de forma severa as pessoas que reduzam outras à
condição análoga à de escravo.

Em um primeiro momento pode ter parecido estranho, pois algo que há


alguns anos era permitido e fomentado pelo Estado, passa a ser proibido, inclusive
passando a ser considerado crime. Hodiernamente tem-se compreendido que tudo
que é proibido em um dado momento foi permitido, e tudo o que é permitido pode vir
a ser proibido, Luigi Ferrajoli ao dissertar em sua obra Direito e Razão: Teoria do
Garantismo Penal, afirma que (2006, p.424):

Tampouco pode-se dizer que existem delitos castigados em todo tempo e


lugar por ser oporem à moralidade média, ao sentimento comum ou a
critérios similares. Ao contrário, não existe conduta delituosa que não tenha
sido permitida em outros tempos, nem conduta lícita que não tenha sido,
outrora, proibida. “Quem quer que leia com olhar filosófico os códigos das
nações e seus anais” – escreve Beccaria –, “verá quase sempre que são
trocados os nomes de vício e de virtude, de bom cidadão ou de réu, com as
revoluções dos séculos... Verá muitas vezes que as paixões de um século
são a base da moral dos séculos que lhe seguem, que as paixões fortes,
filhas do fanatismo e do entusiasmo, debilitadas e corroídas (por assim dizê-
lo) pelo tempo que iguala os fenômenos físicos aos morais, vêm, pouco a
pouco, a representar a prudência do século, constituindo-se em instrumento
útil nas mãos de forte e do prudente.

Como dito, o Código Penal brasileiro, em sua redação original datada de


1940, previa como crime a redução do trabalhador a condição análoga a de escravo.
In verbis:

Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo:


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
O presente dispositivo, por não definir o que seria a condição análoga à de
escravo, gerou debates, não obstante, os tribunais construíram um entendimento do
referido dispositivo:

PENAL. REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. ART. 149


DO CP. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. DOLO.
SIMULAÇÃO DE PARCERIA RURAL. MODO DE EXECUÇÃO DO DELITO.
CONSENTIMENTO DA VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. PENA-BASE.
REDUÇÃO. CONFIGURAÇÃO DA REINCIDÊNCIA. CRIME
PERMANENTE. SUBSTITUIÇÃO DA PENA. 1. A conduta criminosa
prevista no art. 149 do CP consiste na sujeição de uma pessoa ao domínio
do agente, que restringe a liberdade e a própria personalidade do indivíduo,
privando-o das mais elementares garantias constitucionais. 2. O conjunto
probatório dos autos demonstra sobejamente que o réu reduziu os
trabalhadores da sua fazenda a condição análoga à de escravo, obrigando-
os a viver em condições subumanas, a cumprir jornada de trabalho
excessiva, a sofrer descontos injustificados nas suas remunerações e a
suportar dependência econômica, sendo impedidos de se afastar da
propriedade rural e da situação de exploração a que estavam submetidos. 3.
O dolo, na espécie, configura-se na vontade livre e consciente do agente de
submeter determinada pessoa ao seu domínio, suprimindo-lhe a liberdade
no plano real (e não jurídico), o que ficou demonstrado no presente caso. 4.
Ainda que o réu tente se eximir da responsabilidade pelos fatos imputados
na denúncia, aduzindo que celebrou com os trabalhadores contratos de
parceria rural, o que afasta qualquer obrigação trabalhista porventura
alegada pelo órgão acusador ou pelos fiscais da Delegacia Regional do
Trabalho, tal argumento não pode, de modo algum, prevalecer. Isso porque
ficou evidenciado que as parcerias agrícolas referidas nos autos não
passaram de simulações, que, na verdade, encobriam relações de
dependência econômica e de submissão efetivamente existentes na
propriedade rural do acusado. 5. Deve-se ressaltar que o delito narrado na
denúncia pode ser praticado das mais variadas maneiras, uma vez que não
há qualquer limitação legal quanto aos meios de execução. Logo, não é
apenas o uso da força física e de cárceres, como alega o apelante, que
configuram o crime ora tratado. 6. Vale dizer, também, que o consentimento
da vítima não é capaz de descaracterizar o crime ora tratado, pois o status
libertatis, bem jurídico protegido pela norma, não é passível de disposição.
7. Pena-base reduzida para adaptar-se às circunstâncias judiciais previstas
no art. 59 do CP. 8. Para a caracterização da agravante da reincidência
basta o cometimento de novo crime após o trânsito em julgado da sentença
condenatória anterior. Importa apenas esse aspecto temporal da conduta
praticada e não a natureza do delito. 9. O crime de redução a condição
análoga à de escravo é permanente, não comportando a incidência das
disposições do art. 71 do CP (continuidade delitiva). 10. Pena privativa de
liberdade definitivamente fixada em 2 anos e 8 meses de reclusão, a ser
cumprida inicialmente em regime semi-aberto (Súmula 269 do STJ). 11. A
substituição da pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de
direitos, uma de prestação de serviços à comunidade e uma de prestação
pecuniária, é recomendável no presente caso, uma vez que somente uma
circunstância judicial é desfavorável ao acusado, o que não impede a
concessão do benefício. 12. Apelação parcialmente provida. (TRF4, ACR
2001.04.01.045970-8, Sétima Turma, Relator Fábio Bittencourt da Rosa, DJ
27/11/2002)

O legislador, com a aprovação da lei n. 10.803/03, veio definir o que é a


redução do trabalhador a condição análoga ao de escravo, seguindo
aproximadamente o que vinham entendendo os Tribunais, restringindo em parte o
alcance da norma, assim prevendo:

Art. 149 – Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer


submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-
o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou
preposto:
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente
à violência.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador,
com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de
documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no
local de trabalho.
§ 2º - A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Como se vê, o legislador acrescentou dois parágrafos antes inexistentes,


criando, no primeiro, duas modalidades do mesmo delito em forma equiparada, e, no
segundo, acrescentou duas causas de aumento da pena, para garantir uma punição
mais severa quando: as vítimas são crianças ou adolescentes, muito mais visadas e
atingíveis que adultos; a vitimização se der por razões de raça, cor, etnia, religião ou
origem, o que reflete maior desvalor na conduta do agente atingindo de forma mais
intensa a dignidade da pessoa.

O Título IV – Dos Crimes Contra a Organização do Trabalho, do Código Penal


traz outros crimes que podem ser praticados contra o trabalhador, dentre eles os
arts.:

(...) 197, que trata do constrangimento ilegal; 203, que tipifica a frustração
de direito assegurado por lei trabalhista; e 207, relativo ao aliciamento de
trabalhadores, aplicando especificamente aos chamados “gatos”, que se
encarregam do recrutamento de mão-de-obra escrava. (Ministério do
Trabalho e Emprego, 2008, p.27)

Importante destacar o recente posicionamento do STJ quanto à competência


para julgar os crimes contra a organização do trabalho e o de redução à condição
análoga à de escravo, reconhecendo a competência da Justiça Federal de forma
ampla:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ART. 149 DO CP. DELITO


CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. ART. 109, INCISO VI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1.
Na esteira do atual entendimento do Supremo Tribunal Federal e desta
Corte, o crime de redução a condição análoga à de escravo, ainda que
praticado contra determinados grupos de trabalhadores, por se enquadrar
na categoria de delitos contra a organização do trabalho, é de competência
da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso VI, da Constituição
Federal. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal, o
suscitante. (CC 62.156/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 27/06/2007, DJ 06/08/2007 p. 464)

No mesmo sentido: CC 65.715/MT, Rel. Ministro CARLOS FERNANDO


MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão
Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009, DJe
17/09/2009; e, CC 63.320/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/02/2009, DJe 03/03/2009.

3.1. Conformação constitucional

Consoante dissertamos no item 2. supra, a Constituição valoriza o trabalho, e,


assim, também o trabalhador, sendo certo que nestas condições não aceita a
redução do trabalhador à condição análoga a de escravo, primeiro, porque vai contra
a valorização pregada, que tem como escopo o desenvolvimento da sociedade em
condições de igualdade, não apenas formal, mas material; segundo, porque sendo o
respeito a dignidade da pessoa humana um dos fundamentos da República, a
submissão dele em condições degradantes no trabalho implica em séria violação e
descumprimento dos preceitos constitucionais.

O bem juridicamente tutelado pelo tipo de forma direta é a liberdade individual


do trabalhador, que é direito fundamental, previsto no caput do artigo 5º, da
Constituição Federal.

Portanto, a previsão penal e o exercício do jus puniendi estatal, quando da


ocorrência da violação dos direitos do trabalhador, atingindo sua liberdade, está
respaldada constitucionalmente.

3.2. Adequação principiológica

O resultado de uma análise principiológica sobre um tipo penal incriminador


depende, essencialmente, do posicionamento adotado, que determina o nível e tipo
de contemplação do mesmo, em relação à possibilidade de intervenção estatal
através da utilização do direito penal.

Faz-se necessário, então, uma breve enunciação dos posicionamentos


existentes, em uma classificação geral.

3.2.1. O Direito Penal e suas concepções

Inegavelmente o Movimento de Lei e Ordem, que prega o discurso do Direito


Penal Máximo, tem seu charme, tendo concepções extremamente atraentes, pois
faz “a sociedade acreditar ser o Direito Penal a solução de todos os males que a
afligem” (CITAR, LIVRO p. 12).

Uma visão mais extremista, dentro dos que pregam o Direito Penal Máximo, é
a do Direito Penal do Inimigo, que não enxerga um cidadão que delinquiu, mas sim
inimigos do Estado, a serem combatidos (CITAR, LIVRO p. 18).

No outro extremo, existe o posicionamento pelo Abolicionismo do Direito


Penal, no qual se encontram autores que defendem a sua não-utilização. Conforme
escreve Rogério Grecco (CITAR, LIVRO p. 8): “Sem dúvida, são autores
comprometidos com o princípio da dignidade da pessoa humana, que chegaram às
suas conclusões diante da irracionalidade do sistema penal.”

Numa posição mais equilibrada, temos o Direito Penal Mínimo, segundo o


qual (CITAR, LIVRO, p. 24):

O homem, aqui, deve ocupar o centro das atenções do Estado, que, para a
manutenção da paz social, deverá somente proibir os comportamentos
intoleráveis, lesivos, socialmente danosos, que atinjam os bens mais
importantes e necessários ao convívio em sociedade.

Dentre os posicionamentos acima apontados, ficamos com o do Direito Penal


Mínimo, isto porque se trata de uma visão crítica e razoável do Direito Penal,
desvinculada dos extremos, que refletem a paixão humana.

3.2.2. Uma análise do art. 149 do Código Penal sob a ótica do Direito Penal
Mínimo
A análise do tipo penal, quando feita sob as concepções do Direito Penal
Mínimo, deve partir do princípio da intervenção mínima, que implica na verificação
da relevância do bem jurídico tutelado, a necessidade da utilização do direito penal e
a não-aceitação pela sociedade da conduta a ser proibida, ou seja, sua inadequação
social.

O bem juridicamente tutelado neste caso é a liberdade pessoal do


trabalhador, que não deve ser constrangido ou compelido a desempenhar uma
atividade laboral em determinadas condições, que pela gravidade, extrapola mera
violação aos direitos trabalhistas, atingindo sua dignidade, colocando-o em uma
situação de submissão e impossibilidade de crescimento pessoal.

A Constituição Federal, ao prever a liberdade como um direito fundamental e


os valores sociais do trabalho como um fundamento da República, demonstra que o
bem jurídico tutelado pelo tipo penal é de relevância, sendo merecedor da tutela
neste nível.

A próxima pergunta a ser feita é se os outros ramos do direito são suficientes


para proteger o bem jurídico tutelado, o que dispensaria a atuação do direito penal.
A análise da realidade social demonstra que embora existam consequências civil-
trabalhista e administrativa, estas não tem sido suficiente, logo a resposta do
Estado, valendo-se do direito penal se justifica. James L. Bischoff, ao dissertar sobre
o trabalho escravo e o direito, no seu artigo “Forced Labour in Brazil: International
Criminal Law as the Ultima Ratio Modality of Human Rights Protection”, posicionou-
se neste sentido (BISCHOFF, 2006).

A sociedade não aceita a redução do ser humana em condição análoga à de


escravo como outrora se dera. O que se tem vislumbrado é que a população em
geral deseja que o ser humano seja respeitado pelo que é. Repudiam-se as
violações do direito de liberdade individual e ao trabalho com dignidade. Portanto a
conduta não está adequada socialmente, podendo o tipo penal atuar positivamente
contra aqueles que se comportarem de forma inaceitável, não havendo aqui violação
do princípio da adequação social da conduta.
A propósito, não há como se obter aqui dados negativos quanto a conduta
analisada e posta como proibida no tipo penal, sendo que a conclusão decorre do
fato de não se ter como comum no meio social a prática da conduta analisada e
posta como proibida no tipo penal.

Inegavelmente a conduta descrita no tipo penal em análise atinge a esfera de


terceiro, ou seja, atinge direito de pessoa diversa da que prática a conduta, havendo
um sujeito passivo que tem sua liberdade pessoal violada, logo há lesividade,
respeitando-se o princípio de mesmo nome.

Assim, o delito estudado pode fazer parte do rol de condutas proibidas e


puníveis pelo direito penal – principalmente diante da nova redação dada pela Lei n.
10.803/03, que especificou a conduta proibida, acabando com o risco de violação do
princípio da taxatividade – respeitando a natureza fragmentária deste.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do estudo proposto e a da reflexão indutiva e dedutiva do material


pesquisado, concluí-se que o tipo penal previsto no art. 149 do Código Penal, está
em conformidade com a Teoria Moderna do Direito Penal, resistindo à análise
principiológica.

Outrossim, verificou-se que a norma proibitiva decorrente da previsão legal,


encontra respaldo constitucional para sua existência e incidência, por estar em
consonância com a ideologia refletida pelos fundamentos da República.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Assembléia Geral das Nações Unidas . (10 de dezembro de 1948). Ministério da


Justiça. Acesso em 09 de outubro de 2009, disponível em
http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm

BISCHOFF, J. L. (2006). Forced Labour in Brazil: International Criminal Law as the


Ultima Ratio Modality of Human Rights Protection. Acesso em 02 de novembro de
2009, disponível em OIT - Organização Internacional do Trabalho:
http://www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/brasil/documentos/bischoff_brazilian_forc
ed_labour_ljil_mar_2006.pdf
Congresso Nacional. (14 de julho de 1965). Senado Federal. Acesso em 09 de
outubro de 2009, disponível em Sistema de Informações do Congresso Nacional:
http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=115821

Ferrajoli, L. (2006). Direito e Razão: teoria do Garantismo Penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais.

Melo, C. A. (2008). Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros Editores.

Ministério do Trabalho e Emprego. (2008). Trabalho escravo contemporâneo: a


experiência brasileira na erradicação. Brasília: ASCOM.

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