Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
1
Aluno Mestrando do Programa de Pós Graduação do Curso de Geografia, da Universidade Federal de Goiás,
Campus Catalão – Goiás.
A escolha do garimpeiro para protagonista desta pesquisa se dá por entendê-lo e à
sua atividade como elementos fundamentais na formação recente do município de Três
Ranchos. Ainda hoje traços da personalidade do garimpeiro são perceptíveis na cultura e no
modo de vida da população do município, depois de tanto tempo encerrada a garimpagem.
Considerando que o garimpo de diamantes em Três Ranchos foi interrompido em
1982, em função do alagamento de grande parte do município pelo reservatório da Usina
Hidrelétrica de Emborcação, aqueles conhecimentos (assim como tudo o mais que envolve as
práticas do garimpo) necessitam ser documentados, o que é um dos objetivos da pesquisa.
Caso contrário, corre-se o risco de a historicidade da constituição sócio-econômica e cultural
do município de Três Ranchos ficar alijada do registro de tantos eventos e experiências,
muitos dos quais existem agora somente na memória dos garimpeiros.
É interessante observar que, mesmo em condições precárias de vida e muitas
vezes exposto à insalubridade no trabalho, o garimpeiro é saudoso da vida que levava,
provavelmente em virtude dos sonhos e da esperança que o embalavam cotidianamente.
Privado dessa existência (do “vício louco”2 de sonhar!) por conta do alagamento dos sítios
onde garimpava pelas barragens, no caso a Usina Hidrelétrica de Emborcação, o garimpeiro
tornou-se um excluído típico. Sem outro conhecimento, nem outro interesse que o de achar
diamantes, o garimpeiro simplesmente “acampou”, para se tornar uma espécie de força
ambulante, disponível à “infantaria ligeira do capital, que, de acordo com sua necessidade, ora
a lança neste ponto, ora naquele. Quando não em marcha, ‘acampa’. O trabalho nômade é
empregado em várias operações [...]”3; em virtude da nova configuração econômica imposta
desde que a hidrelétrica foi implantada, com atividades essencialmente voltadas para a
prestação de serviços turísticos, muitos ex-garimpeiros de Três Ranchos dispõem-se a
trabalhos como caseiros, jardineiros, vigilantes etc.
Embora não se possa preterir outros componentes importantes no processo de
constituição e emancipação política de Três Ranchos (a própria antiguidade e densidade
demográfica e o interesse dos habitantes, além da implantação da ferrovia, cujo tráfego pela
região iniciou em 1942) é certo que o garimpo influiu, sobremaneira, para o surgimento do
núcleo urbano do município que, se não se agigantou, também não definhou quando acabou a
garimpagem. Situação oposta à que se viu em várias cidades surgidas em Goiás durante o
ciclo do ouro, completamente sucumbidas quando os veios auríferos exauriram.
Propomos percorrer os caminhos da memória desses trabalhadores, homens e
mulheres que se envolveram no garimpo de diamantes em Três Ranchos, e conferir-lhes a
importância devida, a partir de uma perspectiva temporal e espacial, evitando que sejam
mantidos (a despeito de quão preciosas são suas histórias de vida) como aos diamantes que
restaram no Rio Paranaíba, submergidos.
2
Vários autores da literatura regional consideram a lida do garimpeiro um vício, caso de Mário Palmério que em
Vila dos Confins, chamou o garimpo de “vício louco” (1984, p. 103 - 105).
3
MARX, Karl. O capital. 1984, p. 224.