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JC e-mail 3789, de 23 de Junho de 2009

4. Universidades inovam mais que empresas: é para comemorar?, artigo de Rogério


Bezerra da Silva e Renato Dagnino

“Tendo em vista o caráter público das universidades brasileiras que fazem pesquisa e a
exclusão social vigente, seria o incentivo a pesquisas voltadas à demanda das empresas uma
estratégia adequada?”

Rogério Bezerra da Silva é doutorando em Política Científica e Tecnológica pelo Depto. de


Política Científica e Tecnológica da Unicamp. Renato Dagnino é professor titular do Depto. de
Política Científica e Tecnológica da Unicamp. Artigo enviado pelos autores ao “JC e-mail”:

“Universidade inova mais que empresa”, este foi o título do artigo publicado no jornal Valor
Econômico de 12 de junho e reproduzido neste JC e-mail nesse mesmo dia. Ele apresenta
resultados de um estudo da Prospectiva Consultoria sobre os pedidos de patentes das dez
empresas de capital nacional e das dez universidades, que mais inovam no país.

As universidades, entre 2001 e 2008, foram responsáveis pela maioria deles. Elas
protocolaram 1.359 solicitações junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
As empresas: 933.

Comparada a do período anterior, os fatores que explicariam “a guinada das universidades em


relação às empresas na inovação” seriam: i) o governo ter aumentado o volume de recursos
destinado às universidades; ii) um novo arcabouço jurídico que permitiu ao pesquisador
receber parte dos royalties pelo invento; e iii) as universidades estarem mais conscientes da
importância das patentes e terem criado núcleos especializados em auxiliar os pesquisadores
no processo de solicitação.

Apesar dessa “guinada”, especialistas dizem que “ainda há bastante a ser feito,
principalmente para aproximar empresas e pesquisadores”.

Em nossa opinião, parece realmente que há muito a ser feito. A começar pelo debate das
ideias de que patentes registradas pela academia são indicadores de inovação e de que elas
implicam benefícios econômicos, se não para a sociedade, pelo menos para a universidade.

Nos Estados Unidos, país que é sempre citado quando se trata de inovação, o percentual de
patentes de invenção concedidas a universidades americanas é de cerca de 5%, segundo
dados do USPTO. Ou seja, as universidades não são, não pretendem ser e nem tampouco se
supõe que devam ser locais de inovação.
E mais, as empresas não vão buscar o conhecimento necessário para produzir suas patentes
nas universidades. Segundo relatório do Science and Engineering Indicators de 2006, entre os
anos 1994 e 2004, apenas 1,1% do que a empresa privada investiu em P&D foi contratado
com as universidades.

O que indica que o que é importante para as empresas dos países avançados, na sua relação
com as universidades, não é o conhecimento intangível ou incorporado em equipamentos. O
importante é o conhecimento incorporado em pessoas que, ao serem absorvidas pelas
empresas, irão realizar a P&D que garanta sua produtividade. Nos EUA, cerca de 70% dos
mestres e doutores que se formam em ciências "duras" e engenharias vão fazer pesquisa na
empresa privada.

No Brasil haveria um “ambiente” propício à inovação e ao licenciamento de patentes


acadêmicas pelo setor privado?

Segundo a Pintec de 2005, as empresas localizadas no território brasileiro pouco demandam


conhecimento localmente produzido (incorporado em pessoas ou desincorporado). Das
empresas ditas inovadoras no Brasil, mais de 70% declara que a compra de bens de capital
(que, como se sabe, quando fabricados no Brasil possuem tecnologia importada) é sua
principal estratégia de inovação, enquanto 16% apontam a realização de P&D.

As empresas brasileiras não consideram o investimento em P&D como meio de se manterem


no mercado. E para aqueles que advogam que investir em P&D é fundamental para a sua
competitividade, elas estão demonstrando que, mesmo em meio à “crise” econômica recente,
estão se saindo muito bem.

Veja o caso da Unilever: a América Latina está se tornando seu principal mercado fora da
Europa, e isso por meio da comercialização de produtos aqui “velhos conhecidos” e que há
muito já não são aceitos pelo mercado europeu.

É bastante conhecida a pequena capacidade de absorção de mão-de-obra qualificada para o


desenvolvimento de P&D na empresa brasileira. No país são formados anualmente cerca de
30 mil mestres e doutores nas áreas de ciências “duras” e engenharias, número que vem
crescendo a uma taxa media de quase 10% ao ano.

Porém, as empresas — privadas e públicas — localizadas no país possuem apenas 3 mil


mestres e doutores atuando em atividades de P&D segundo a Pintec de 2005. Isso significa
que, caso esse estoque de mestres e doutores nas empresas aumente em 10%, teremos no
ano próximo uma demanda adicional de 300 mestres e doutores para uma oferta de 30 mil
pós-graduados. Ou seja, 1% daqueles que o país vai formar! E isso que a estimativa sobre o
caso dos EUA é de 70%.

A julgar que, mesmo diante da crise econômica, as empresas brasileiras não estão
demandando novos conhecimentos — pelo contrário, estão baseando sua estratégia de
crescimento nos produtos “velhos conhecidos” —, não há boas perspectivas de que haja um
aumento da absorção de mestres e doutores pelas empresas. E são eles que poderiam gerar
as patentes que, assim se quer fazer crer, provocariam o desenvolvimento do país.

Haveria também que discutir qual a relevância da produção de patentes para as universidades
brasileiras. Se analisado o que acontece com a Unicamp, que em 2007 superou a Petrobras
em número de pedidos de patentes ao INPI, elas não são tão relevantes para a receita de
pesquisa da universidade.

De 1989 a 2006, a Unicamp solicitou o registro de 460 patentes ao INPI. Nesse mesmo
período foram concedidos 50 dos registros solicitados, segundo consta no relatório de 2006 da
Agência de Inovação da Universidade.

Nos anos 2004, 2005 e 2006 a Unicamp assinou 16, 28 e 30 contratos de licenciamento de
patentes, respectivamente. Em 2004, havia 16 contratos de licenciamento entre a Unicamp
com atores externos. No ano seguinte, foram firmados mais 12 contratos, que resultaram nos
28 daquele ano.

Em 2006, foram firmados mais 2 contratos, chegando a 30 vigentes nesse ano. Esses
contratos foram firmados com 24 empresas, de pequeno e médio portes, gerando uma média
anual de R$ 250 mil em royalties para a Unicamp, segundo publicado pela “Agência Fapesp”,
em 2007. Esses recursos correspondem a, aproximadamente, 0,02% da receita total da
Universidade e 0,13% de sua receita de pesquisa.

O número de pedidos de patentes concedidas em 2006 foi de 50 e o de contratos de


licenciamento, 30. A diferença se deve a empresas que licenciaram mais de uma patente com
a Unicamp.

Não se dispõe de informação agregada para o caso brasileiro, mas das dezenas de escritórios
de patentes criados nas universidades dos EUA, apenas cerca de 5% deles produziram
resultados econômicos (royalties etc.) que compensaram o investimento realizado para a sua
implantação e funcionamento.

Um relato sobre o caso mexicano, também bastante mais antigo que o brasileiro, ainda que
impressionista, é elucidativo. Em conversas off the record, o encarregado do escritório da
Universidad Nacional Autónoma de México (Unam) nos anos de 1980 revelou que a grande
maioria das patentes que elaborava a pedido dos seus colegas era para que eles pudessem
fazer jus às gratificações que o sistema de merit pay já então implantado concedia aos
“pesquisadores inventores”.

As universidades solicitarem mais pedidos de patentes que as empresas deve ser motivo de
comemoração ou de debate? Tendo em vista o caráter público das universidades brasileiras
que fazem pesquisa e a exclusão social vigente, seria o incentivo a pesquisas voltadas à
demanda das empresas uma estratégia adequada?

JC e-mail 3900, de 30 de Novembro de 2009

1. Ciência e tecnologia precisam de política de Estado, defende presidente da SBPC

Para Marco Antonio Raupp, é preciso que haja uma grande articulação entre os vários níveis
de governo - municipal, estadual e federal -, em sintonia com a comunidade científica e
tecnológica

Para vencer os desafios da sustentabilidade ambiental, social e econômica, "o Brasil precisará
de uma contribuição vigorosa e constante da ciência e da tecnologia", mas para ter essa
contribuição "será necessário que as atividades de C&T sejam alvo de políticas de Estado, e
não apenas de políticas de governo".

O presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp, defendeu essa proposta durante a 3ª


Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação de Santa Catarina, realizada na cidade de
Joaçaba na quinta e sexta-feira da semana passada.

Para Raupp, os investimentos públicos em ciência e tecnologia no Brasil estão sempre sujeitos
a oscilações muito grandes, em razão de o setor ainda ser contemplado por políticas de
governo - afetadas por mudanças nas alternâncias de poder, e não de Estado, o que garantia
planejamento de longo prazo.

"Quando ocorre mudança de governo, muda também a política de C&T, com o consequente
risco de redução ou de reorientação drástica dos investimentos", acentua o presidente da
SBPC. "Para o bem de ciência e do país, esses investimentos têm que ser contínuos; e, para
isso, precisamos fazer com que C&T sejam contempladas por políticas de Estado", defende.

A maneira de essa mudança acontecer, segundo Marco Antonio Raupp, é se promover uma
grande articulação entre os vários níveis de governo - municipal, estadual e federal -, em
sintonia com a comunidade de ciência e tecnologia. "Como existe uma heterogeneidade
nesses níveis de poder, as várias correntes políticas e do pensamento estarão, ao mesmo
tempo, representadas na definição de uma política nacional de ciência e tecnologia e
compromissadas com sua execução de maneira contínua, sem os altos e baixos que temos
hoje".

Desafios
Na opinião do presidente da SBPC, a ciência e a tecnologia estão sob o paradigma da
sustentabilidade ambiental, social e econômica, o que "determina que a produção científica
organizada não pode se basear somente nos valores culturais da própria ciência". A seu ver, "a
sociedade só vai concordar em financiar plenamente as atividades científicas se a ciência der
uma contribuição efetiva para o Brasil enfrentar e superar os desafios da sustentabilidade".

Para tanto, Raupp considera que, além de elevar C&T ao patamar de política de Estado, há
quatro outros aspectos em que os caminhos da sustentabilidade e da ciência e tecnologia se
entrelaçam e "exigem políticas públicas continuadas e vigorosas".

Um desses aspectos, que ele chama também de "desafios", é a superação das desigualdades
regionais nos investimentos e na construção de uma base para produção de C&T no país.
"70% da ciência brasileira estão localizados na Região Sudeste", reclama Raupp. "Por razões
estratégicas e de justiça federativa, é uma situação que não pode perdurar", diz ele ao
enfatizar que "os grandes e frágeis biomas", como a Amazônia e o Pantanal, estão nas regiões
mais desfavorecidas. "É preciso de muita ciência para incorporar esses biomas no sistema
produtivo, sem o risco de serem degradados ou destruídos", afirma.

Outro desafio apontado pelo presidente da SBPC é a necessidade de superar o fosso entre o
conhecimento acadêmico e as atividades de inovação e agregação de tecnologia nas
empresas. Para Raupp, "isso tem a ver com a sustentabilidade econômica das empresas e sua
capacidade de competir no mercado global, o que exige uma interação intensa e urgente entre
as instituições de pesquisa e o ambiente empresarial".

O terceiro aspecto se refere ao déficit do ensino básico no Brasil. Raupp avalia que a educação
básica é altamente deficiente e "se ela atendia sofrivelmente aos requisitos da 'velha
economia', não terá como promover o país à nova economia do planeta". Ele reconhece que
nas décadas mais recentes houve esforços bem sucedidos para a universalização da educação
básica, mas enfatiza que são necessários esforços para que esse nível de ensino tenha
qualidade. "Estamos oferecendo escola, precisamos oferecer também educação", acentua. "A
sustentabilidade social, ambiental e econômica exige cidadãos plenos, ou seja, indivíduos que
tenham recebido uma educação de qualidade".
Por fim, o presidente da SBPC aponta a necessidade de o país estabelecer marcos legais
apropriados às atividades de ciência e tecnologia. Ele cita a relação entre universidades
públicas e empresas para mostrar que a legislação brasileira chega a atrapalhar a realização
de projetos em conjunto.

"As universidades têm que ter capacidade de atuar no mesmo ritmo que as empresas atuam,
mas a legislação que regula as relações entre órgãos públicos e órgãos privados não permite
isso", observa Raupp. "Essa legislação foi feita para outras realidades, para outro tipo de
relacionamento; foi feita para órgão público comprar bens que existem em prateleiras, mas as
atividades científicas são para desenvolver bens ou serviços que evidentemente não são
encontrados em prateleiras", compara.

Na opinião do presidente da SBPC, as atividades de C&T têm que ser objeto de uma
"legislação diferenciada e estimulante". Ele propõe que os controles e a fiscalização sobre as
instituições públicas de pesquisa considerem os procedimentos básicos, mas com alguma
liberdade para os gestores. "A legislação deve possibilitar, e não atrapalhar, que se chegue a
resultados em prazos compatíveis com as características do projeto de pesquisa que estiver
sendo realizado", propõe.

Conferência
A 3ª Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação de Santa Catarina, organizada pela a
Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) e pela Fundação de Apoio à Pesquisa
Científica e Tecnológica (Fapesc), teve a participação de autoridades públicas, dirigentes e
pesquisadores de universidades e centros de pesquisa de todo o Estado, representantes de
órgãos governamentais e de instituições da sociedade civil e empresariais ligadas a CT&I.

O evento catarinense integra os preparativos para a 4ª Conferência Nacional de Ciência,


Tecnologia e Inovação (CNCTI), que ocorrerá de 26 a 28 de maio de 2010, em Brasília.
(Assessoria de Imprensa da SBPC)

JC e-mail 3951, de 18 de Fevereiro de 2010.

3. Discurso de Dilma defenderá "sociedade do conhecimento"

Ministra enfatizará no Congresso do partido o tripé educação, ciência e tecnologia e


infraestrutura

No discurso a ser feito sábado, depois do lançamento de sua candidatura a presidente no 4º


Congresso Nacional do PT, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defenderá a necessidade de
investimentos maciços em educação e ciência e tecnologia. Para a ministra, esses são fatores
essenciais para "aumentar o nível de competitividade da economia brasileira" e colocar o país
na rota de uma "sociedade do conhecimento".

Dilma fará uma defesa enfática das conquistas obtidas nos oito anos de governo Lula e
apontará o que precisa ser feito para o país prosseguir na rota do desenvolvimento. Além
disso, vai reforçar o papel do Estado no planejamento, aliado à capacidade do mesmo em
executar políticas públicas. E dirá que é essencial intensificar as obras de infraestrutura. "O
salto já foi dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nós aprendemos o caminho e
vamos continuar nele", dirá, segundo um aliado da ministra.

A tendência é que Dilma adote um discurso otimista, mostrando que o modo petista de
governar - ao qual ela dará continuidade - conseguiu incluir uma legião de pessoas de baixa
renda na sociedade de consumo sem que isso atrapalhasse a economia ou trouxesse de volta
a inflação. Que o fortalecimento desse mercado interno de massas foi fundamental para o
país entrar em um ciclo de prosperidade econômica que não se via antes.

Mas chegou o momento de avançar para que estas conquistas não se percam. Por isso,
destacará Dilma, a necessidade de intensificar os investimentos em educação e ciência e
tecnologia para que o Brasil possa ser considerado uma nação desenvolvida.

Chamada pelo presidente Lula de mãe do PAC, Dilma também vai abordar a importância de
se remover os entraves ao desenvolvimento provocados pelos gargalos no setor de
infraestrutura. Vai defender os avanços do PAC 1 e reforçar que o PAC 2 virá para intensificar
a presença do Estado nas periferias dos grandes centros, com o aparelhamento público -
postos de saúde, postos policiais, escolas, creches e centros de cultura - para atender a
população mais carente.

O discurso deve fazer ainda a defesa de um Estado indutor e parceiro, que facilita as ações da
iniciativa privada e abre caminhos para a criação de novos pólos econômicos. Embora não
deva ser citada na fala da ministra, um auxiliar da candidata deu como exemplo desta
vertente a inauguração de uma fábrica estatal de fabricação de chips no Rio Grande do Sul,
há duas semanas.

Para exercer melhor esse papel, no entanto, será preciso recompor a máquina pública. Para
Dilma, isso só será possível se o funcionalismo for melhor capacitado do ponto de vista de
formação e melhor remunerado, para não sucumbir ao setor privado.

O documento final ainda está sendo elaborado pela ministra, mas as linhas gerais estão
definidas. Como destacaram ao Valor dois aliados próximos de Dilma, a comparação entre o
governo Lula e a gestão de Fernando Henrique Cardoso - essência da campanha plebiscitária
defendida por Lula - terá menos ênfase no discurso de sábado. "A fala do Congresso é para a
militância petista, é o público da ministra. Durante a campanha eleitoral essa comparação
será exaustivamente trabalhada. Nesse momento, contudo, ela não é necessária", afirmou
um ministro do núcleo dirigente do governo e da campanha.

O discurso da pré-candidata está sendo feito em conjunto com o publicitário João Santana e
com outros aliados que integram o núcleo de seu comando de campanha. Mas a redação final
será decidida por ela. "Não se iludam, ela está cada vez mais confiante e com mais domínio
do diálogo político. Ela vai sempre ouvir o presidente Lula, mas vai adotar um tom mais
independente", assegurou um petista ligado a Dilma.

Todos os principais pontos que serão explorados por Dilma em seu discurso de sábado estão
presentes no programa de governo do PT, coordenado pelo assessor especial para assuntos
internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. O texto terá que ser votado pelos
delegados do PT na sexta-feira e servirá como documento base para ser apresentado aos
demais partidos da coalizão governista.

Nele aparece um Estado mais forte, com participação direta na construção de hidrelétricas e
em obras de saneamento. Há também a proposta de democratização da comunicação social e
fortalecimento das conferências populares como formas de subsidiar as políticas públicas.

No mesmo dia, serão votadas também outras propostas, que, se aprovadas, poderão integrar
o programa de governo do PT para a candidata. Uma delas foi elaborada por Markus Sokol, da
tendência O Trabalho. A proposta diverge de dois pontos essenciais do discurso de Dilma: a
necessidade da aliança com o PMDB e a manutenção da política econômica. Para Sokol, que
teve 1% dos votos no último Processo de Eleição Direta (PED) do partido, o PT deve ter
candidato próprio em todos os Estados e dizer um "não redondo" à aliança com o PMDB. Além
disso, ele defende o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal, das metas de superávit primário e
a implantação de uma política de controle do câmbio.

Já a Juventude petista apresentou documento defendendo o fim do monopólio nos meios de


comunicação, a revisão dos critérios de concessão de emissoras de rádio e televisão e a
constituição de um sistema público de comunicação com controle social e participação
popular.
(Paulo de Tarso Lyra)
(Valor Econômico, 18/2)
JC e-mail 3951, de 18 de fevereiro de 2010

20. Modelo convincente

André Nassar, diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais


(Icone) e coordenador de projeto no BIOEN-Fapesp, fala sobre os estudos que levaram o
governo norte-americano a aprovar o etanol brasileiro

No início deste mês, a Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em


inglês) reconsiderou sua avaliação sobre o etanol de cana-de-açúcar. A agência admitiu que,
em relação à gasolina, o produto brasileiro reduz as emissões de gases de efeito estufa (GEE)
em 61% - e não em 26%, como estabeleciam os cálculos anteriores.

Os novos cálculos, que levaram a EPA a caracterizar o etanol brasileiro como "biocombustível
avançado" - o que é um passo importante para a abertura do mercado dos Estados Unidos
para o produto do Brasil - tiveram base em um novo modelo econométrico desenvolvido no
Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e pelo Instituto de
Pesquisa em Políticas Alimentares e Agrícolas (Fapri, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.

De acordo com o diretor-geral do Icone, André Meloni Nassar, os modelos anteriormente


utilizados pela EPA para calcular a capacidade de redução de emissões dos biocombustíveis
não levavam em conta a realidade brasileira, em especial no que diz respeito à modificação do
uso da terra pelo aumento da demanda de produção de etanol.

Segundo ele, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) teve papel fundamental na


intermediação política necessária para que a EPA aceitasse a contribuição dos pesquisadores
brasileiros na construção de um modelo adequado. Em contrapartida, o modelo brasileiro
forneceu elementos técnicos que deram à Unica os argumentos necessários para influenciar a
decisão da EPA.

Nassar coordena o Projeto Temático "Imulating land use and agriculture expansion in Brasil:
food, energy, agroindustrial and environmental impacts", realizado no âmbito do Programa
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de Pesquisa em Bioenergia
(BIOEN), com o objetivo de aprimorar o modelo brasileiro.

Engenheiro agrônomo graduado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da
Universidade de São Paulo (USP), Nassar é doutor pela Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade (FEA) da USP em negócios e comércio internacional.
Foi assessor econômico da Sociedade Rural Brasileira, pesquisador sênior do Programa de
Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa) e pesquisador visitante da
Universidade de Georgetown, em Washington (Estados Unidos). Atualmente é consultor e
pesquisador em projetos com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco
Mundial e outras organizações internacionais. Leia a seguir trechos de entrevista concedida à
Agência FAPESP.

- O que precisou ser feito para que a EPA aceitasse os argumentos da Unica, caracterizando o
etanol brasileiro como biocombustível avançado?

Para fazer os cálculos e emissões de gases de efeito estufa dentro da metodologia escolhida
pela EPA, é preciso ter um modelo econométrico capaz de indicar quanta terra a cana-de-
açúcar demandará no futuro e que tipo de modificação no uso de terra iria gerar a expansão
da cultura de cana. Nós desenvolvemos um modelo econômico que faz exatamente isso, o
qual chamamos de Brazilian Land Use Model (Blum).

- Qual o diferencial desse modelo?

Os modelos avaliam, quantitativamente, a mudança no uso da terra e as emissões de GEE a


partir do crescimento da demanda por alimentos, biocombustíveis e fibras. O que o Blum tem
de especial é levar em conta a realidade agrícola brasileira. Uma demanda maior de etanol iria
gerar uma expansão da cultura de cana-de-açúcar, mas era preciso também calcular os efeitos
indiretos. A cana pode substituir uma plantação de soja, mas, como a produção de soja
também cresce, essa plantação vai acabar sendo transferida para outro lugar. O modelo leva
isso em conta.

- O Blum continua sendo aprimorado?

Sim. Nosso projeto no âmbito do BIOEN-Fapesp tem o objetivo de aprimorar alguns módulos
dele. Por exemplo, no contexto do BIOEN, uma questão central é saber o que está ocorrendo
na fronteira agrícola. Hoje, não temos no Brasil dados que revelem se uma determinada área
desmatada passou a ser utilizada para cultura de soja, cana-de-açúcar ou pastagens.
Queremos incorporar esses dados ao modelo Blum, para explicar melhor como funciona a
conversão de vegetação natural no Brasil. Para isso, estamos trabalhando com especialistas
em imagens de satélite que vão gerar esses dados para nós. Esses resultados serão
integrados, na forma de equações, ao modelo, que será rodado em diferentes cenários.
- O Blum foi inteiramente desenvolvido no Brasil?

Foi desenvolvido pelo Icone em parceria com um grupo da Universidade de Iowa, nos Estados
Unidos, o Food and Agricultural Policy Research Institute (Fapri), que vinha fazendo cenários
para a EPA. O Fapri entrou com o know-how de modelagem e nós entramos com o know how
da agricultura brasileira. O modelo brasileiro que resultou dessa parceria foi fundamental para
que a EPA aceitasse o etanol brasileiro como um biocombustível avançado. Os resultados
gerados foram transformados em um artigo técnico que foi utilizado pela Unica para fazer sua
argumentação.

- Vocês foram responsáveis, então, pela construção do fundamento técnico para que a EPA
reconsiderasse a eficiência do etanol brasileiro?

Sim. A Unica fez um trabalho político espetacular. Eles abriram as portas para que
pudéssemos ter discussões técnicas com a EPA. Não falávamos com a EPA diretamente, mas
apresentávamos resultados nos workshops técnicos da agência. Em contrapartida, fornecemos
a argumentação técnica para a Unica convencer o governo norte-americano a mudar seu
ponto de vista. Houve outros atores importantes nesse processo, como o professor Isaias
Macedo [do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de
Campinas], que trabalhou na parte das emissões diretas do etanol, que inclui todo o ciclo de
vida da cana-de-açúcar. Ele demonstrou que a EPA deveria repensar não apenas os cálculos
relacionados ao uso da terra - que foi a nossa contribuição -, mas também aqueles relativos
às emissões.

- A EPA estava superdimensionando as emissões da produção de etanol de cana-de-açúcar?

Sim. As emissões diretas e o impacto do uso da terra. No caso das emissões diretas, é preciso
levar em conta diversas variáveis, como a emissão de gás carbônico pelas leveduras, quando
a cana é fermentada, e as emissões do diesel das colheitadeiras, por exemplo. Constatou-se
que a EPA, em seus cálculos, assumia que praticamente 100% da palha de cana era queimada
no Brasil. Esse era um dos pressupostos equivocados, que distorciam o número final das
emissões do etanol brasileiro. De alguns anos para cá a colheita tem sido intensamente
mecanizada e a palha vem sendo queimada cada vez menos. Calcula-se que em São Paulo
95% da cana será colhida sem queima até 2017.

- Em relação à questão de uso da terra, como foi feito para demonstrar que havia distorções?

Os modelos partem de um cenário de base da demanda de etanol e o compara com o cenário


para 2022, que é o ultimo ano do Renewal Fuel Standard - o programa norte-americano
responsável por implementar a regulação relativa a combustíveis renováveis. Quando
rodamos esses cenários em um modelo econômico que calcula a demanda adicional, temos
uma avaliação da provável expansão da área agrícola do Brasil, incluindo todos os produtos,
não só a cana-de-açúcar. Se a área agrícola aumentou em relação ao cenário de base, isso
significaria que houve áreas naturais convertidas em plantações. No nosso cálculo, esse
avanço da fronteira agrícola foi infinitamente menor.

- Por que houve essa distorção?

Um dos fatores que levaram o modelo utilizado anteriormente a superestimar o avanço da


fronteira é que ele não considerava as pastagens. Sabemos que isso é muito importante no
cálculo, porque a expansão de culturas de grãos e cana-de-açúcar utiliza frequentemente
áreas de pastagens. A pecuária pode ser intensificada e, por isso, passa a produzir a mesma
quantidade de carne e leite com uma área menor.

- Até que ponto os erros de cálculo da EPA levaram a subestimar a eficiência do etanol
brasileiro?

Os cálculos preliminares feitos pela EPA indicavam que o etanol de cana-de-açúcar reduzia em
apenas 26% as emissões de dióxido de carbono em relação à gasolina. Só com os
melhoramentos na metodologia de cálculo de uso da terra feitos pelo Icone, a redução
constatada foi de 52% - o que já caracterizaria o etanol brasileiro como biocombustível
avançado. No fim, concluíram que as reduções eram de 61% em relação à gasolina.

- Isso garante a abertura do mercado norte-americano para o etanol brasileiro?

Foi um primeiro passo fundamental e acredito que é questão de tempo até que haja uma
abertura. Mas ainda há um longo caminho pela frente. De fato, o etanol de milho nunca será
tão eficiente e não chegará a ser considerado um biocombustível avançado. A legislação
norte-americana tem um mandato de consumo de etanol avançado que, a partir dessa decisão
da EPA, deverá ser atendido sobretudo pelo etanol de cana-de-açúcar.

- Quais serão os próximos passos desse processo?

Um primeiro passo será superar o problema tarifário. A tarifa norte-americana para o etanol
de cana, de US$ 0,14 por galão, é proibitiva, dependendo do preço do etanol. Com isso não se
consegue garantir o mercado. Se o preço do petróleo estiver baixo, como agora, não se
consegue exportar. Agora temos que torcer para que os norte-americanos concluam que a
redução das tarifas é uma necessidade para garantir o etanol avançado de que precisarão. Por
trás disso, teremos uma pesada discussão política.

- A abertura do mercado, então, não ocorrerá tão rapidamente?

Não é para amanhã. Mesmo porque o mercado norte-americano está superabastecido com
milho. A discussão vai ficar de fato incontornável quando o milho chegar ao limite. Isso deverá
acontecer, mas não sabemos exatamente quando. A legislação norte-americana também
impõe um mandato de consumo de etanol não-avançado e o milho está chegando nesse
ponto.

- Há outros obstáculos à abertura do mercado, além das tarifas?

Sim, há muita coisa. Um fator importante e difícil é que as empresas brasileiras terão que
aprender a lidar com o sistema norte-americano de certificados, por exemplo. Ao comprar
etanol para misturar à gasolina, é preciso certificar essa mistura. Quem usar o etanol de cana-
de-açúcar irá gerar menos emissões do que aqueles que misturarem o etanol de milho,
considerando a mesma quantidade do biocombustível. Portanto, quem usa a mistura de etanol
de cana poderá gerar créditos e vendê-los aos que usam a mistura de etanol de milho. Para
adequar-se a esse sistema, as empresas brasileiras terão que ser cadastradas e, para isso, há
uma série de comprovações necessárias.

- Se o mercado fosse aberto e as tarifas suprimidas repentinamente, o Brasil conseguiria dar


conta da alta demanda de etanol que seria gerada?

Não, mas essa redução repentina de tarifas não vai ocorrer. À medida que as tarifas caírem - o
que só ocorrerá quando os norte-americanos precisarem de fato do nosso etanol -, as
empresas brasileiras investirão mais e se adaptarão ao mercado no ritmo em que a demanda
aumentar. É possível até mesmo que empresas norte-americanas queiram investir no Brasil
para produzir etanol de cana aqui.
(Fábio de Castro, Agência Fapesp, 18/2)

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