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CURITIBA
2008
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À GUISA DE INTRODUÇÃO
Ao pensar no que deveria escrever para o início da questão proposta para o título
dessas reflexões, vieram-me à lembrança idéias que palmilharam minha trajetória
intelectual, pequena, mas minha. Não são apenas marcas no caminho percorrido,
mas é o chão sobre o qual andei perambulando. Infelizmente não tinha lâmpada de
Diógenes que iluminasse o meu caminhar. Pois o caminhar é feito pelas decisões, e
nada, nem no, nem na terá, segundo Sartre, podem me indicar a direção a seguir,
pois a decisão só é minha, e ninguém pode fazê-la em meu lugar.
ser de massa. (2008). A pessoa está sempre diante do que Becker denomina de
Unbekannte Ich, o eu desconhecido.
Diante desses indivíduos que vemos nas ruas, nos ônibus, nos aeroportos,
nos shoppings, uma massa que parece ser feita de apêndices de celulares ou de
outros aparatos mais sofisticados em banda larga ou em G3, o homem se procura,
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Essa procura, no entanto, se faz cada vez mais difícil. Basta lembrarmo-nos
de Milan Kundera, no seu romance A INSUSTENTÁVEL LEVEZADO SER: Não há
ensaio para a vida, a vida se vive a cada segundo de cada vez, envelhecemos no
segundo segundo de nosso existir, por mais que queiramos disfarçar por colágenos,
plásticas ou bótox. O homem, em geral parece mais um ser lusco-fusco-
lantejoulesco que procura o brilho fugaz das purpurinas coloridas ter mais e, saber
mais, e poder mais. No entanto, lembra Luc Ferry em APRENDER A VIVER, é
necessário “esperar um pouco menos e amar muito mais. Esperar menos por que a
esperança é ilusão: nunca saberemos tudo. E´frustração porque nunca satisfaremos
nossos desejos. E´impotência porque nunca seremos capazes de dirigir e comandar
e ter o poder sobre tudo.
Alguém disse que homem é ao a pessoa que marco um encontro como outra
pessoa, e quando chega ao lugar do marcado, a pessoa vira a esquina. Assim é o
homem, sempre uma passo atrás e uma passo à frente de si mesmo, nunca está
satisfeito consigo mesmo, pois se procura onde não deve descobrir-se.
Espero que o leitor seja benevolente e, talvez, encontre algum elemento para
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refletir sobre o tema, cujas reflexões foram escritas há mais dez anos.
SUMÁRIO
1 OS PRINCÍPIOS DE DECISÃO.............................................................................. 1
1.1 AS INCERTEZAS................................................................................................. 2
1.2 DECISÃO BIOÉTICA, RACIONALIDADE E HERMENÊUTICA........................ 4
2 A DECISÃO EM BIOÉTICA....................................................................................13
2.1 A INCERTEZA DO PRINCÍPIO DE BENEFICÊNCIA...........................................14
2.2 AS DIFICULDADES DA AUTONOMIA..................................................................17
2.3 A JUSTIÇA NO DESAFIO.....................................................................................18
2.4 A DIMENSÃO ÉTICA NA RELAÇÃO MÉDICO/PACIENTE..................................20
2.4.1 Sujeito-unidade-holismo....................................................................................20
2.4.2 Exigências da medicina em mutação................................................................21
2.4.3 As pressões do futuro........................................................................................22
2.5 A DIFÍCIL EXPERIÊNCIA DA DECISÃO BIOÉTICA.............................................24
2.5.1 Os momentos do conflito na decisão................................................................24
2.5.1.1 Os princípios...................................................................................................24
2.5.1.2 A norma ética..................................................................................................25
2.6 A AÇÃO NA SITUAÇÃO: A SABEDORIA PRÁTICA..............................................27
3 A DECISÃO BIOÉTICA NOS QUADROS DA MUTAÇÃO ATUAL.........................30
3.1 AS FASES DA DECISÃO......................................................................................32
3.2 A DELIBERAÇÃO SEGUNDO ARISTÓTELES Ética, VI, I..............................36
3.3 DELIBERAÇÃO ÉTICA E A DECISÃO PRUDENTE.............................................37
3.4 REFERÊNCIAS PARA A ANÁLISE DO PARA UMA TOMADA DE DECISÃO
EM BIOÉTICA.......................................................................................................38
3.4.1 Ponto de vista sistemático.................................................................................39
3.4.2 A questão dos princípios....................................................................................40
3.4.3 Referências fundamentais.................................................................................41
3.4.4 As mutações num referencial de c. pinto de oliveira (1987).............................42
4 A CRIATIVIDADE NA DECISÃO BIOÉTICA...........................................................43
4.1 FINALIZAÇÃO A PRIORI......................................................................................47
4.2 A INVENÇÃO DAS NORMAS DE AÇÃO.............................................................48
5 OS FUNDAMENTOS DA BIOÉTICA NA PERSPECTIVA FILOSÓFICA OU
PENÚLTIMA...........................................................................................................50
5.1 OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO BIOÉTICA..................................................51
5.2 O FUNDAMENTO NA ÉTICA DA DISCUSSÃO...................................................56
5.2.1 Apel: uma fundamentação na sociedade de comunicação...............................57
5.2.2 Habermas: ética e pragmática universal...........................................................60
5.3 DA DISCUSSÃO AO FUNDAMENTO DA DECISÃO............................................62
5.3.1 A fundamentação...............................................................................................65
5.3.2 Habermas: a ética da discussão........................................................................69
6 CONCLUSÃO CONSEQUÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROFESSORES..............73
REFERÊNCIAS......................................................................................................76
1 OS PRINCÍPIOS DE DECISÃO
humana se decide em vistas de fins e metas que, em última análise, visam o bem
sob certos aspectos pelo menos. A decisão que se orienta especificamente em vista
(1973), para apenas citarmos dois. Há subjacente nas atitudes dos antigos, uma
visão cósmica, a tal ponto que os desequilíbrios vitais eram tidos como urna quebra
da harmonia total. Por outro lado, tal postura holística auxiliava a entender as
realidade.
Por outro lado, esta postura sempre presente, impunha limites éticos em
particular. Há urna unidade em ética e perícia que não podem ser separadas, pois a
em conceitos éticos: "o melhor", antes de tudo era o BEM, o BEM global da
descobertas a cada instante estão sendo superadas por outras mais novas e
como também colocam problemas éticos novos e faz surgir a Bioética como estudo
interdisciplinar.
1.1 AS INCERTEZAS
cap. 9, 1967).
pacientes/médicos/sociedade/recursos/técnicas/valores.
acrescentam nós, é hoje urna hermenêutica, urna interpretação. Não urna simples
seres vivos, sobretudo quando nos referimos aos seres que possuem sensibilidade,
e muito mais quando possuem consciência, são rodeados por um mundo semântico,
por um halo de valores que são tão determinantes, ou até mais, que os dados que
tradicionais pois um novo mundo cria um novo homem, tendo em vista que o
ou de mundos com novos limites, o homem busca apoio para solucionar sua
é o apelo à palavra revelada própria da religião, que não cabe nas pretensões deste
trabalho.
Viu-se que a experiência ou a ciência informa o que sabemos mas não impõe
*
Conferência pronunciada no Rio de Janeiro, em 1992, e publicada no Boletim da Associação dos
Professores de Filosofia. Rio de Janeiro, 1992.
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o homem possua para realizar algo. Trata-se de uma dimensão da existência que
seu existir ou do seu ser. A existência, antes de tudo é vivida "como recepção de si
constantemente a partir daquilo que eu sirvo da fonte daquilo que é; do ser. Neste
demais seres existem como manifestação e são tanto mais existentes quanto mais
como aproximação: eis o ato próprio de que se denomina "razão". Logo, a razão é
universo tem sua leis, das quais o implacável rigor está em contraste total com a
loc.cit.)
A razão encontra, então, o seu lugar próprio, que é o puro inteligível, tal como
começa a forjar um projeto de existência. Vale dizer que a razão se é dada no inicio,
não é dada como saber de si mesma, mas toma-se progressivamente pela sua
poder autoconstituinte:
uma nova forma de vida, onde se devem considerar os atos ou as ações, e onde a
felicidade, que não é o mundo das formas. Parece que é no mundo das formas que
a razão tem o seu reino e o seu domínio. No mundo da vida, no cotidiano a razão
errático".
no próprio interior do homem o conflito, uma luta: o saber e o querer. A razão indica
uma visão que contemple o universal e o global, que vai além do simples domínio
operatório.
estrutura existencial dada que se efetiva nos atos concretos. A vida não é apenas
reconhecer o seu "telos", a sua finalidade, que designa uma realidade a vir, mas
que já está presente no próprio vir-a-ser como steresis, isto é, como privação que
exige ser preenchida. A "privação de" é aqui "exigência de", como finalidade a que
dimensão do ser como vir-a-ser, do ser como telos do ser como intencionalidade. É
telos* do seu ser, donde se faz necessária a interpretação que exige o uso da
razão.
existência se dá no tempo.
vindos de um vir-a-ser, de um DASEIN que não sabe ler o seu caminho pois que
(1935), é um mistério jogado entre o querer SER e o querer TER, entre o agora e o
estético que vive o instante e o estágio ético que procura o permanente, entre o
que se pode. A razão se descobre ao se constituir e ao realizar a vida ética que não
que o homem não é um ignorante, mas uma decisão entre vários saberes. Não há
no céu nem na terra, dirá SARTRE quem indique ao homem qual decisão tomar E
deixado ao seu destino no conflito das necessidades para decidir, pagando por seus
singular, do ser que é eu e que decide numa situação cujos limites não são
"Esta interpretação das relações entre ética e razão choca-se no entanto com
uma dificuldade maior. O ato é o fato de uma iniciativa singular, ele é o traço
pontual do ato profundo de recuperar a existência. Mas em sua concretude
ela é sempre necessariamente interação. E qualquer que seja o tipo de
objetividade que ela institui, ela é sempre mediata ou imediatamente, dirigida
a outro. Mas pode ser para um outro singular ou para um outro generalizado,
por intermédio da instituição. O valor da instituição é sua capacidade de dar
já, no sistema das relações humanas que ela instaura, uma antecipação, tão
limitada que seja, da comunidade autêntica, e a comunidade autêntica,
segundo a fórmula célebre, é uma comunidade fundada sobre o
reconhecimento mútuo das pessoas. A relação com a instituição tem valor na
medida em que é relação mediatizada com o outro". (LADRIÈRE, op. cit., p.
22).
o eu, pelo menos acompanha o nós (MOUNIER, 1958). "As causalidades que a
com o tu. Há, pois, a mediação do alter-ego na constituição do ego. A razão nos
concreta essa mediação não é universal, mas singular e determinada. Há, pois,
acolhe são muito mais fortes do que a sobredeterminação da razão que Descartes,
imposição que será imposto por uma boa vontade que se dirige pelo dever, segundo
são concordes para os cientistas, e o são muito menos para o eu situado que
mas não a suprime, exige-a. (akrasia= ter o desejo de fazer algo, e não fazê-lo, ou
fazer o contrário).
"razões", não porém formais, mas razões que são claras apenas ao sujeito. A
Por que um estudo especial da decisão bioética, se toda decisão pode ser
de tal caso), querendo com isto dizer que essas decisões se revestem de uma
de novo surge quando se trata da responsabilidade pela vida, que mais do que
sagrado. Parece que nada determina os limites das decisões, nada impedindo ao
homem o poder reestruturar sua vida. As decisões sobre a vida trazem a carga
sobre os seres vivos e conscientes que deseja permanecer, que não querem
morrer.
Decidir da vida de alguém, mesmo que se julgue que seja melhor para o que
sofre eis a questão. Pois não significa que o doente aceite esse "melhor': Donde o
"excesso" de responsabilidade.
lhe confira a competência, o médico deve responder por seus atos tanto ao
imprevistos e imprevisíveis. Donde se segue que aquilo que parece bom ao médico,
poderá não o ser para o paciente. Assim essa incerteza do bem esperado pode ser
realístico, (assim como para sua família), e o apelo vem do profundo de sua
Do mesmo modo, é muito difícil ou quase impossível aos que prestam serviço
(beneficência) (fazer o bem) ainda pode ser vista do lado da reciprocidade que é
reciprocidade exige que "se faça o outro o que se deseja para si mesmo", mas como
isto é possível numa situação tão desigual? Nestas reflexões seguimos as idéias
poder. Foram chamados a ajudar e isto lhes confere uma superioridade, acrescida
pela desestabilização da doença. Pode ser reduzida, diz Ricoeur, pela solicitude do
Como o afirma CADORÉ "’o doente‘ apela para a humanidade do médico, de tal
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modo que este não pode se subtrair à exigência de extrair os esforços das suas
moral dos que tratam da saúde é posta em questão. Não há apenas a exigência
vivenciar sua estrutura moral ou sua dimensão ética, o que exige uma tomada de
se no compasso de sintonia com o outro que é doente, mas que, é ele e não um
outro doente.
bioética. O atendente não escolhe a situação; é escolhido por esta, para decidir na
medicina não são dominadas nem pelo médico, nem pela equipe. Então, a decisão
Como afirma POINCARÉ (1978): embora uma certa causa determine efeitos
Contudo, há que haver uma decisão em que o médico fará a síntese das
necessário chegar até o leito do doente, para se dar conta desse fato. Basta
Assim, "o atendente médico, o que trata da saúde vai muitas vezes perceber
além do mais que não possui outros meios para indicar vias de resolução da
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dificuldade a não ser do que apelar para a autonomia das pessoas, muitas vezes
médico, como autonomia do doente que deve dar seu consentimento informado. O
justiça.
profissional, contando com sua capacidade ética, eis que as decisões cada vez mais
saúde é um cidadão que tem deveres para com os outros cidadãos e para com as
responsabilidade.
doenças (CDI) quando não é chamado para explicações ulteriores por equipes de
público. Por outro lado, o médico deveria portar-se de acordo com seus deveres e
responder perante a lei, pois o certificado pode causar prejuízos até ao Estado,
confronta-se com a Ética. O que fazer então?. Tudo seria fácil se não houvesse os
cupão básico para cada cidadão... Há países que empregam mais de 600 a 1000
dólares por ano por habitante. No Brasil não chega a 40 dólares ano/habitante.
Milagres seriam feitos se o governo aplica-se 300 dólares por ano por pessoa, o que
daria uma soma de 45 bilhões de dólares que nem é 10% do PIB do Brasil. O
enxugada. Se a soma parecer importante, observamos que o país é feito por seus
problemas ético-jurídicos.
nenhuma consideração especial por parte dos médicos e muita menos dos que
deveres morais considerados normais. Mas esta relação complica-se cada vez mais,
2.4.1 Sujeito-unidade-global.
O doente que se dirige ao médico pede ser tratado como ele é, isto é, uma
unidade global, e não apenas um como doente. No entanto, o médico por sua
Como tratar cada um como um sujeito específico? Não possuí condições seja de
tempo, seja psicológicas para isso. O homem não é um organismo doente, como
"apenas não é uma boca aberta" (afirma Vitório Bonacin em sua dissertação).
(1994)
21
Não existem todas as condições, nem o médico pode saber até que ponto há
uma somatização, mas a exigência existe e requer, portanto, mais cuidados éticos
nas decisões. A medida em que o médico trata do paciente criam-se mais relação,
tome cada vez mais forte, é preciso que o médico não esqueça que o primeiro
serviço, que deve oferecer aos seus clientes/pacientes é a competência das suas
intervenções.
médico diante de exigências inéditas que dificultam até para definir o que seja a
saúde. Por exemplo, uma pessoa pode apresentar sintomas físicos e, de fato, isto
apenas pode ser um modo pelo qual se manifesta seu desequilíbrio na sociedade, a
e da criação de novas formas de vida, tanto como no modo de viver. Pode-se “curar”
a dor da rejeição por meio de drogas. E, se é isso possível, poderá ser feito? Disso
O século XXI será ético, ou não existirá afirma Jaques Testard (1991),
indicando que o futuro será regido pela dimensão ética como constituinte
cada vez mais fácil o desaparecimento do homem. Há cada vez mais pessoas com
então, como pode ele ser formado para isso, diante da enorme soma de
conhecimentos que lhe são exigidos, assim como na experiência da prática diária é
fazem pesquisas e novos tratamentos. As pessoas vivem mais tempo o que põe
Tudo isto cria dificuldades para que se possa elaborar um discurso crítico
acordo com Bruno Cadoré (1994, p.113 e ss). É preciso que o médico consiga que
as pessoas se tratem por si mesmas o que pode suscitar pressões em três direções.
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a
1 - o tratamento é, sem dúvida, uma relação humana entre médico e
paciente, mas é também uma relação técnica. Então é preciso que não se
direitos da pessoa. Pode aconselhar diante das técnicas, mas ao paciente compete
qual já se tratou. No caso dos pacientes pobres surge a pergunta: se não se pode
ter uma medicina menos tecnológica e tão eficiente como a outra? A pergunta se
simples decisão que tomamos em casos do cotidiano. A decisão bioética, como toda
a decisão normal, processa-se numa tensão entre o que se pode e o que se deve
fazer. Paul RICOEUR (1993) descreve a situação da decisão como se dando entre
dois pólos: o pólo dos princípios que motivam nossas escolhas, que é o fim que
2.5.1.1 Os princípios
contrário não seria ética. A aceitação dos princípios éticos, a determinação dos fins
si mesmo. É uma escolha livre que é determinada por uma capacidade criativa. Do
papel e a função de cada um. Como sou livre se atuo de acordo com a instituição
justiça", havendo uma tensão entre o legal e o legítimo. Quem dita as normas? Na
desta, que todos possam ter igual acesso aos serviços. E, este acesso está fora do
alcance do médico, pois os dados já estão lançados, e a sorte não é a mesma para
todos. Há, pois, o conflito da ação biomédica que se move entre os processos de
promulgada e exigida.
desigualdade.
unicamente segundo a máxima que faz que tu possas querer ao mesmo tempo que
chegar à mesma universalidade? Os sujeitos não são tão racionais como KANT os
regra, é um desideratum que não surge do simples calcular, nem de reduções, por
b) Agir de modo que o outro jamais seja um meio, mas um fim. É o respeito
pelo outro, pela sua autonomia. Violência é precisamente não levar em conta a
que corre o risco de se tomar cada vez mais vazia ou, o que é mais desastroso,
normas que foram tratadas por John RAWLS (1981) sob o tema da fairness e de
equidade (que visa reestabelecer a igualdade que nas sociedades reais não existe).
"Cada pessoa deve ter um direito igual ao amplo sistema das liberdades de
base, igual para todos e que seja compatível com o próprio sujeito e com os
outros (igualdade na cidadania). As desigualdades sociais e econômicas
devem ser organizadas de modo que, ao mesmo tempo: a)se possa esperar
que sejam vantajosas para todos; b) sejam atribuídas as posições e as
funções abertas para todos. Trata-se pois de maximizar a parte minimal: "é o
mais justo a repartição desigual tal que o aumento de vantagens dos mais
favorecidos seja compensada pela diminuição das desvantagens dos mais
desfavorecidos". (RICOEUR, 1992, p. 264).
Mas a questão é, e eis aqui o conflito, saber se, de fato, isto é posto em prática, se
as regras são uma desfiguração da realidade. Foi pelo princípio de igualdade que se
quis impor uma doutrina a grupos culturais diversos, igualdade que destruiu obras
milenares de cultura como no caso dos astecas, maias e incas, por exemplo. O
adiante, sob o nome de phronesis que é mais uma sabedoria prudencial. Nesta
bom senso, fruto de uma prática refletida e avaliada no dia a dia. A decisão põe em
confronto o saber do bom senso, a sabedoria prática que sabe como as coisas
novos saberes, fruto das pesquisas em casos determinados e cujas variáveis foram
previamente controladas.
isso, - se é que conseguem - afirmar a sua superioridade olímpica; o que nos parece
pode ocorrer, de querer mostrar-se sábio. A decisão se processa, pois, num espaço
que se situa entre o saber teórico e o caso prático. Os procedimentos que se devem
que podem ser comuns mas que no seu aparecimento apresentam-se de modos
diferentes.
Há também o conflito dos recursos para a saúde à qual todos têm direito.
mundial.
Platão a justiça era a virtude das virtudes (1994). Não foi por acaso o sucesso da
lado?
a solicitude versus respeito. Como se poderá atender ao pedido que o doente faz
para que morra e o direito à vida? Do mesmo modo o caso da procriação a que
hereditárias graves, constitui uma questão muito séria porque supõe o princípio da
demandos do nazismo.
(loc. cit.,1994).
3 A DECISÃO BIOÉTICA NOS QUADROS DA MUTAÇÃO ATUAL
Trataremos das referências sistemáticas para a análise da decisão, assim como dos
conhecimento racional.
Vimos o que é uma decisão Bioética. Pode-se afirmar que se trata de uma
Ética impõe limites à ação em quanto esta significa tudo o que se pode fazer ou
realizar, determinados por uma decisão livre. Não há imposição de limites físicos ou
pode decidir em meu lugar" e a decisão tomada tem que ser aceita e assumida em
primeira pessoa. Há, assim, uma solidão radical nessa decisão, como SARTRE o
que são limites de "consciência", constituindo uma ordem invisível a reger o visível.
(ought) daquilo que é? 3) Enfim, para resumir todos outros, usamos a palavra
outros; 4) Não se deve omitir o aspecto religioso, como o faz notar, entre outros,
KIERKEGAARD (1973).
se dramática. São decisões que envolvem a vida tanto no seu aparecimento, como
na sua manutenção, como na sua extinção (morte). As questões bioéticas não são
seria substantivo.
lugar.
éticas a uma outra instância decisória. Procura-se manter uma "certa neutralidade"
31
analisarmos as, esse modo será abraçado apenas a titulo de fio condutor das
fixação dos atos a fazer e da maneira que se deve operar. Numa palavra, decidir
necessárias ou causais).
32
de três modos: sensação, pensamento e tendência que intervém nas três fases da
prazer que alheiam o homem e o turvam no seu ato de reflexão, impedindo-o de ver
(1973), fala da possibilidade do erro apesar da iluminação divina, lembra que isso se
de modo lógico e necessário, mas é uma norma ideal que indica, antes de mais
quando estão em jogo os bens humanos que são de categorias diversas e que
Traité des Passionss de l'âme (1958) assim como as lições de Espinosa na Ética
(1973).
visão clara e distinta da realidade. O julgamento é sobre a que é útil a cada um, e
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útil a si. Ora, adverte ARISTÓTELES (I. VI, cap. 8), (1967) não se chega a isso
apenas pela lógica e pelo estudo; é necessário a experiência de vida, o que nos leva
a situações complicadas.
Nesse caso, as decisões são sobre a vida do paciente: tanto sua manutenção ou
extinção, como o modo de subsistência. A vida é, sem dúvida, o bem mais precioso
Se não existissem tais conflitos, a decisão não seria bioética, mas puramente
Aqui se tem uma questão ética e não apenas técnica ou econômica, pois
que se dá sem o exame deliberativo: uma espécie de intuição que não é fruto do
Não há uma busca na opinião, não procura retificar. Ao passo que "o homem
que delibera, tanto quando sua deliberação é satisfatória se não o é, busca alguma
coisa e calcula". A deliberação é, assim, um ato da inteligência que reflete. Mas não
conseqüências diversas.
de retidão, para distingui-la das deliberações dos homens maus. A deliberação boa
"consiste num acordo exato ao que concerne nossos interesses, entre o fim, os
curso possível das ações em relação a um fim particular a que deve estar
(1967).
juízo de acordo com a utilidade e com referência a algum fim", no caso o bem do
alerta, próprio das inteligências que são aptas para o estudo, que não pode ser
justa decisão.
37
de buscar o impossível.
procedimentos.
Ora, essas reflexões nos conduzem a propor vários quadros para análise de
aspecto formal. A esse respeito, para trazer a análise mais coloca à realidade,
Cada decisão bioética, cada decisão biomédica põe em jogo cada um dos
por essa seita (cultura e administração). Uma decisão que não põe problema algum
39
forças. A simples consideração do diagrama sugerido pelo autor que nos inspira nos
examinar a questão.
(CADORÉ, 1994,P.143)
Cada pólo determina o estilo das diferentes teorias morais que configuram a
ação bioética.
40
normas e valores podem também ser vistos de acordo com os quatro pilares a
seguir visualizados.
várias linhas de orientação, conflitos que surgirão mais claros quando comparamos
Por isso, por várias vezes, como o vimos no início, o Prof. Jean LADRIÉRE
sempre em novos patamares. A pessoa humana se faz pelas suas escolhas, dado
que o homem é antes uma existência que se realiza no tempo pelo uso de sua
sejamos sempre nós mesmos como designando o que nos é próprio. Ricoeur
através do tempo, que é uma conquista. Ser o mesmo e ser na sua ipseidade são
exige uma instância de consciência, que a princípio não existe de modo tão claro
nos animais.
Ora, perguntar-se-á como pode a decisão bioética, como toda decisão ética
aliás, pôr em questão essa identidade? É o fato de voltar atrás em suas decisões; é
todas as coisas" (HERÁCLITO) (1973); "tomar-me o que sou" (LAO TSÉ). "A
Uma decisão muda uma vida, às vezes, tanto diante do próprio sujeito, como
em relação com os outros. As vezes a decisão ética pode gerar e gera muitas vezes
a angústia. É quando surge a fratura entre o ser que o sujeito é e o que desejará
trânsito: um conta com o outro, como nos casos em que se depende de decisões
uma dimensão social: "Se o tu não precede, pelo menos acompanha a nós", e o
acaso a decisão ética, como uma certa criação de si mesmo, se dá em três pólos: a
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assume como um sujeito em si mesmo e que não pode ser substituído por outro:
Por essas três dimensões pode, então, a pessoa humana tomar uma decisão
e sanções caso as decisões não estejam de acordo com as normas legais. Pela
responsabilidade ética só eu, como sujeito, respondo por mim mesmo: eu me julgo
ligado ou determinado por mim mesmo, a partir de minha decisão, a realizar a ação
impor ao seu ser um dever ser individual como coletivamente, o homem se arrisca
seu UMWELT. A ação forja suas máximas nas circunstâncias próprias de seu
exercício, a ação se põe como ética, como humana, na invenção axiológica. Ora,
emergência de algo novo. Mas esta criação não é gratuita, pois que a norma se
fixa cada vez mais livremente suas relações com o meio e o modo como entende
assumir suas vidas. Ao passo que aqueles que ficam marginalizados, fora do
desesperadamente para sobreviver, quando não lhes resta como único recurso
senão o apelo a meios de revolta e ao recurso a soluções violentas: não que sejam
preço, escapar.
O que importa para o homem é o modo como valoriza sua vida, como a
procura trabalhar para dele sair, nesse caso, porém, as coações, não o deixam livre
anárquicas.
Parece que aquilo que poderia definir o que determina a vida como exigência
que ultrapassa ao mesmo tempo em que a recolhe: pode ser designado pelo termo
do meio externo para seus fins. Designaria também um estilo de vida em que tudo é
experimenta levado por uma irrupção incessante que o impregna com o sentimento
da alegria.
Parece que devemos recorrer a um a priori que se impõe à ação. Mas que a
acordo racional.
"que não se faça aos outros o que não se quer que se faça a si mesmo". E aqui,
mais do que a justiça, imperará o amor "A plenitude da lei é o amor". Não o amor
dada e acessível, pronta para a reflexão que retiraria dela seu conteúdo. A Ética do
reflexão, que ela pode se descobrir, mas somente depois, quando se engajou em
mesma, ela não pode se desvendar senão por meio daquilo que manifesta de si,
isto é, por meio de suas obras. A ação é auto-reveladora, porque é somente pondo-
se à prova que revela seus poderes: não no sentido em que o autor toma aparentes
potencialidades escondidas, mas num sentido mais forte que determina seu futuro
Ver xerox
Fundamentar é, pois, lançar as bases do saber para que seja aceito de modo
Habermas (1973) para as ciências. Para a Ética a pergunta apenas será posta a
segundo o demonstra Eric WEIL (1969 ). Como a palavra ethos, o diz, cada homem
sente-se em casa (metáfora) e não contesta o que faz muitas vezes do mesmo
modo. É o hábito que constitui uma segunda natureza, uma casa (habitare), o que
elimina a discussão ou a crítica, haja vista a própria reflexão até quando a própria
discutido, de um modo de ser que jamais era posto em dúvida, de uma maneira de
agir que nunca se pensou ser apenas uma entre outras. Com a perda da certeza
específico da filosofia: qual a garantia do saber ético quais as suas credenciais para
que seja aceito pelo homem e que não leve para algo que o desvie de sua
trajetória?
Nada mais necessário do que saber o que se deve fazer. Essa questão é
parte e respondida por grandes filósofos, embora importe que cada qual a ponha e
acordo: "Você tem razão, mas não diga que também eu não tenha", pois toda vista
subjaz ao que se denomina hoje "Ética da discussão”, exposta por K. OTTO APEL e
segredo, sendo este o ponto de vista Emmanuel LEVINAS (1991) que se apóia na
Ética o que lembra ao homem a volta ao seu ser que esqueceu. Trata-se de restituir
o ser ao ente, isto é, tomar-nos os seres a que fomos destinados e de cujo centro
nos desviamos em nossa trajetória errática que não mais ouve o apelo do ser que
se toma possível.
esperar; não se criam ilusões, é preciso que aproveite da vida com alegria. A Ética
terrestre, ligado a um conatus pleno, sem culpa, sem tristeza, estranha a toda ilusão
como ao significado.
apenas mostrando uma faceta do seu ser? Como recompor o homem, que se perde
Eis, pois, que a Ética precisa fundamentar sua decisão por uma
argumentação sólida.
conseqüente avaliação.
1) Pela força como é o caso das leis ou das normas positivas, que em
universalizibilidade da norma.
que é uma pessoa racional. Para isso é preciso uma instância avaliadora; essa
Do mesmo modo os utilitaristas afirmam que uma ação é moral quando dela
Essa maioria não pode ser posta de modo racional, pela Lógica, se não cairíamos
Por isso, Engelhardt propõe que se funde a ação Bioética, como a Moral em
ideal que deva possuir o senso moral, o conhecimento suficiente para estabelecer a
De toda forma, parece que o autor acima citado supõe uma Bioética ou Moral
1) É necessário que se saiba o que é correto: não basta que uma autoridade
prejudiciais.
Mas de onde vem a autoridade legítima? Esta não pode ser imposta, por isso
das pessoas conscientes como elas são. Traça limites e emprega uma
negociações pacificas. Mister se faz que se tenha em mente que o que vale para
uma sociedade ou comunidade restrita, não vale para uma comunidade mais ampla
refere simplesmente aos casos médicos, mas situações mais amplas, como a
específicos.
tendo sempre em conta que a Bioética deve situar-se entre uma Moral secular e as
princípio de reciprocidade.
consentimento das pessoas, pois somente ela sobe o que melhor ela convém (o que
minimização da dor. A autoridade deve propor um projeto comum e não para dar
da ação moral.
55
4) Outra base da ética (logo da Bioética) é a justiça que, como vimos acima,
cria conflitos.
primazia da pessoa.
queira como um fundamento último, sempre nos levará ao conflito como já foi
obscura o entendimento do mundo, mundo que é feito por uma linguagem não
Para isso é necessário que a análise do caso ético passe por uma pesquisa
Realizar uma pesquisa ética consiste em tomar como base do trabalho dos
HABERMAS.
ética, para uma sociedade em que se fala de natureza e que está na iminência de
"Todo aquele que refletir sobre a relação que tem entre si ciência e ética na
sociedade industrial moderna no momento de sua planetarizacão, se
encontra a meu ver, frente a uma situação paradoxal. De um lado, a
necessidade de uma ética universal, isto é susceptível comprometer a
sociedade na sua totalidade, nunca foi tão urgente como nos nossos dias,
quando ao mesmo tempo aos sistemas, através das descobertas
tecnológicas da ciência, ao estabelecimento, em escala planetária, de uma
sociedade unificada. Mas por outro lado a tarefa da filosofia para fundar na
razão uma ética universal nunca foi tão árdua, haja visto das esperada do
que nesta época científica "(APEL, 1987, p 43).
Faz eco portanto a Jacques Monod (1982) que escreveu que o homem de
hoje souffre do mal da l'ãme (Sofre do mal da alma) e constrói a chamada ética da
pelos analíticos, Wittgenstéin, Schlick, Hare (e tantos outros). Não chega a fundar a
fundá-lo:
esta suposição é uma exigência ética: acertar normas é uma postura ética.
pessoas com seus problemas nas suas situações concretas, que é o caso da
"para que tu passas dialogar é preciso que entres de acordo com as regras da
qualquer ciência, pois toda justificação, seja baseada nas formas empíricas, seja
palavras:
de comunicação seriam um fundamento ético? Embora Apel diga que até o diabo
supomos, como parece ser o caso, que as normas de comunidade são um a priori
para o diálogo que elas existam e que precisam ser reconhecidas, cai-se, de nov, na
de cumprir o dever que não se deve impor a mim apenas, mas categoricamente
que a ética é decisória, isto é, cada pessoa decide conforme seu conhecimento,
avaliação da situação e seus desejos. A isto, sob a influência de Karl Otto Apel,
Várias são as obras desse autor sobre Ética e Moral (não confundir as
"Aquele que quer considerar qualquer coisa do ponto de vista moral não deve
se deixar extrair do contexto intersubjetivo dos participantes na comunicação
que se comprometem em relações interpessoais".
Mas é necessário que um trabalho hermenêutico seja feito para que se abram
das perspectivas).
mesmo modo que expurga, do seu discurso filosófico, a metafísica, pois somos os
A Ética pois deve ser fundada pela mediação da linguagem e dos signos,
acordo entre os sujeitos e guia a teoria da ética. A atividade racional, portanto, que
Como pode essa atividade fundar uma ética? Fundará a ética porque, sendo
outro é uma pessoa, logo livra e autônomo (com seus limites) que não pode ser
tratado como objeto. Estabelece-se assim o reino da ética, pois pressupor que todo
você age de um modo um tanto mais curioso, tenho o direito de perguntar-lhe: "O
que é você que você faz?" e "o que é que você disse?" pressupondo que você
Russ (op cit. p. 67), pois representa, pergunta se a passagem de uma norma
universalizável a uma norma ética particular é evidente. Não parece sê-lo: uma
outra é estabelecer a eticidade do discurso. Dizer que as pessoas não são objetos e
que são responsáveis parece um a priori (que nos mesmos não negamos), mas daí
nível da transação ética e prática das normas que se procuram resultados visíveis e
imediatos" (1994 p. 165). Donde, o interesse mais pela descrição das normas e dos
legitimação.
em países subdesenvolvidos.
HABERMAS.
62
outro lado, essa argumentação pode estabelecer luzes sobre as questões dos
são ouvinte uma mensagem, há um falar e um ouvir. Para que haja autenticidade
nesse diálogo é preciso que critérios de validade sejam satisfeitos: é necessário que
condições cuja análise estão fora da pretensão destas reflexões. Por outro lado,
vontade de por em prática o que foi estabelecido de modo consensual: "O recurso à
análise ética do discurso pode auxiliar na medida do alcance deste assunto, pois
63
modo solidário?
5.3.1 A fundamentação
entende que possa haver justiça diferente. Logo, não promete a felicidade pois
categórico de KANT, pois a ética da discussão não faz totalmente abstração dos fins
como o citado pensador o fez. Por sua vez, APEL discorda de HABERMAS, pois,
para este autor os homens entram em discussão animados por um impulso que os
dialética com uma convicção. Portanto, refuta ele qualquer ética moral
64
À primeira vista, essa discussão pode parecer estratosférica. Para que tudo
elucubrações.
"Será que da ética da discussão não decorre nenhum princípio que sirva para
a ação individual? Mas simplesmente um princípio (um critério de julgamento)
destinado a legitimar publicamente as normas?” (1988 p. 160)
Para Apel, portanto o único princípio não leva em consideração "o problema,
não enquanto ela constitui o estágio superior da ética da razão ao mesmo tempo
efeitos são previsíveis em termo, como pode ser outro diferente do que foi previsto
determinadas, não pode ser prevista. Nem tudo o que se decide num acordo seguirá
criação (poiesis) pela sabedoria prática, phronesis, que considera meios --> fins
--> fins últimos. A discussão ética deve fugir do egoísmo meios-fins fundada em
universalização (U) deve ser completado por um principio supletivo (S) que é
teleológico, isto é que estabelece os fins (telos) que pode ser assim formulados:
"O telos que é preciso pressupor aqui não resulta de uma concepção
substancial da vida boa (nem de uma filosofia especulativa da história que seria o
seu contra peso, nem enfim de uma utopia: vai concomitante com o
à fundação última da ética. Contudo, pode parecer, repetimos, mais uma vez, que
essa discussão está longe dos casos concretos da biomedicina ética e da ética
clínica.
resumiremos em parte.
fundacional tem como efeito permitir aos pacientes, envolvidos no caso, o aceitento
história.
para tomar decisões práticas fora de qualquer perspectiva que não considere a
teleologia, pois a ética e moral visam à ação humana, pelo menos é o objetivo da
decisão (decide-se para agir). Ora, a ação se faz em vista de um fim. Não seriam
"Sabe-se que uma vida teve êxito se sua finalidade não se decide segundo
os critérios da conversão normativa - mesmo se os critérios instuitivos,
dificilmente explicáveis, de uma vida, digamos-lo antes de um modo
negativo: não falha, não variam de modo totalmente independente dos
critérios morais. Desde Aristóteles a filosofia trata da relação entre felicidade
e justiça sob o título de bem. Ao exemplo das histórias da vida, as formas de
vida se cristalizam em tomo de identidades particulares (...) a substância de
uma maneira de viver não pode nunca justificar-se do ponto de vista
universalista." (HABERMS, 1992, p. 47).
O que quer dizer, que racionalizar uma vida não significa tornar o envolvido
mais feliz ou menos feliz por isto. A vida possui algo de idiossincrásico, próprio a
cada um, e não é o racional que faz a felicidade do homem. Porque o sujeito
humano multidimensional como o diz Freud e não possui uma idealidade modelar
que pretende determinar sua forma. E algo que se faz por bosquejos aproximativos
de uma aspiração que está lá no seu interior, mas que não foi escolha sua.
"Como no caso da aplicação, uma moral universalista que não quer ficar
suspensa no ar das boas intenções é reenviada a um meio favorável e eficaz
do ponto de vista da socialização. Ela é remetida a modelos de socialização e
a processos de aprendizagem que fornecem o desenvolvimento do eu dos
membros das jovens gerações, e conduzem os processos de individuação
além dos limites de uma identidade tradicional, que está ligada a papéis
sociais determinados" (Op..cit, p. 44).
68
decisão. Mas não quer ficar na pura abstração, dando razão ao princípio que Hegel
exige da moral, que seria determinada pela tendência ao Absoluto.è preciso que se
aceitem que são próprias da ética; caso contrário o que restaria da liberdade
human? Mas afirma claramente que a pretensão da teoria moral precisa ser bem
mais modesta.
riquezas sociais, isto tanto nas nações industriais ocidentais, como nas
talvez uma decepção. Mas isto também pode ser um estímulo (um aiguilln) ,pois, a
filosofia não dispensa ninguém de sua responsabilidade própria. Nem tão pouco o
filósofo, aliás, que como todos os outros homens, enfrenta problemas práticos e
lugar, uma imagem clara de sua própria situação. Para isso as ciências históricas e
175):
(op.cit, p. 37)
Jonas : o respeito pela vida, como um imperativo categórico A todos os que tem
podem sentir-se cada vez mais empurrado para a marginalização na vida social.
donos do poder do primeiro mundo como os seus jovens são cegos, pois se
de outros vícios.
Sem dúvida, o filósofo moral não possui o poder de decisão mas atua como
um aguilhão, pois não dispensa ninguém, nem o próprio filósofo da reflexão sobre a
situação real, apelando para o auxílio das informações das crônicas históricas e
sociais. Se Horkheimer julgava que para sanar tais problemas a (filosofia) postula
que a moral formalista de Kant não basta, e que era preciso recorrer ao
materialismo dialético (1933, p. 175), pois este quer o engajamento político (não
GHANDI, por exemplo. Pois o materialismo apela para á violência que leva à
destruição e ao ódio, durante o seu domínio e após depois (como está acontecendo
sobre aqueles que lhes são sensíveis e que não é o efeito de um raciocínio lógico.
comenta com o poeta e com o senador americano que, durante seu curso
Não é nossa opinião. Tratar dos limites da ação humana cabe a todos os seres
conscientes. Há trabalhos sobre esse assunto que não são tão recentes e que não
primeiro lugar não há receitas. Não há técnicas. Mais do que nunca soa a posição
bem, a histórica universal que, para Popper, “é uma narração dos crimes
internacionaisS (1985).
73
3o. Convém não esquecer, e aqui cito de memória, o que dizia Erich Fromm
poder do não.
tempestades dobram; dobram, mas não arrancar dele o que lhe pertence: O
AUSTIN, John. How to do things witt words. Oxford : Univ. Press, 1972.
BACON, Francis. Norrum Organon. Pensadores. São Paulo : Abril Cultural, 1973.
MEIRIEU, Philippe. Apprendre oui, mais comment? 13. ed. Paris : ESF, 1994.
POPPER, Karl Raymund. Lógica das Ciências Sociais. Brasília : UNB, 1978.
ROGERS, Carl e outros. A pessoa como centro. São Paulo : Cultrix, 1974.