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O Congresso aos seus pés
É simultânea no circuito internacional a afirmação do arquitecto e do patrono ou
divulgador da arte africana. Em Paris, com a publicação do artigo de A. de
Alpoim Guedes, "Les Mapogga", sobre as casas pintadas do povo Ndebele, da
África do Sul, que surgiu como capa da outra revista dirigida por André Bloc,
Aujourd'hui: Art et Architecture (Paris, nº 37, Juin 1962, pp 58-65). Não foi
exactamente uma descoberta, mas a publicação é apontada como pioneira - “o
primeiro a sublinhar o formalismo arquitectural e escultural das habitações” (N4)
- e teve depois sequência aprofundada por parte de autores que lhe são próximos,
Elizabeth Schneider e Peter Rich.
Entretanto, o patrocínio de Malangatana vinha de 1959, a “escola de Verão” de
Lourenço Marques data de Janeiro de 1961, a projecção crítica internacional
daquele acontece na revista Black Orpheus (nº 10, 1962), fundada em Ibadan por
Ulli Beier, sendo o artigo também de Julian Beinart. Outro evento de maior
destaque é o 1º Congresso Internacional de Cultura Africana, organizado por
Frank McEwen para discutir a estética da arte contemporânea africana, em
Salisbúria (Harare, Zimbabwe; 1 - 11 de Agosto de 1962). Director desde 1956
da Galeria Nacional, depois de uma década em Paris como delegado do British
Council, McEwen fundara uma escola-oficina informal onde se recriava a
tradição do “afro-expressionismo” com ambição primitivista e moderna.
Estiveram presentes entre os 37 delegados (N5), Alfred Barr, do Museu de Arte
Moderna de Nova Iorque; William Fagg, do British Museum; Jean Laude, da
Sorbonne; Roland Penrose, pintor surrealista e presidente do Institut of
Contemporary Art, ICA, de Londres, acompanhado pela fotógrafa Lee Miller;
James Porter, da Howard University, Washington; Udo Kultermann, autor de
vários livros sobre arquitectura moderna; o poeta dadaísta Tristan Tzara; John
Russel, então crítico do The Sunday Times (ver edição de 12-08-62); Hugh
Tracey, musicólogo da África do Sul, e o historiador nigeriano e vice-chanceler
da Universidade de Ife, Saburi O. Biobaku, que abriu o congresso, indicando o
apoio da Nigéria - mas esteve ausente Ulli Beier, que era uma figura menos
institucional. A Fundação Ford foi o principal mecenas, e o segundo congresso
ficou logo anunciado para o Rio de Janeiro em 1964, como parte de uma série
bienal planeada pelo Congresso para a Liberdade da Cultura, que também
apoiava a revista Black Orpheus. O contexto geo-estratégico era o da Guerra Fria
e, em 1967, a denúncia do financiamento norte-americano canalizado
descuidadamente através da CIA iria dar azo ao refluxo de várias meritórias
actividades.
Apresentado na qualidade de arquitecto e grande promotor da arte africana,
Amâncio / Pancho Guedes foi um dos oradores da sessão inaugural. A sua
comunicação posterior, sobre a obra própria de arquitecto e artista em África
(“As coisas não são o que parecem ser – a hora auto-biofársica”, trad. em
Pancho Guedes, 2007), teve a apresentá-lo a cumplicidade dadaísta de Tzara
(idem). Na abertura, Pancho Guedes afirmou que ainda não sabia qual o tema
que Frank McEwen lhe propunha: “trouxe algumas coisas sobre que posso falar.
Uma é sobre os meus trabalhos (...) A segunda pode ser sobre “Outra
Arquitectura – uma Arquitectura com Menos Janelas e Mais
Sentimentos” [feeling, nas actas – mas o autor corrige agora para o plural]. A
terceira pode ser alguma coisa sobre os Mapoggas. A quarta pode ser sobre
alguns pintores africanos de Lourenço Marques e talvez alguma leitura de
poemas de Malangatana que trouxe já traduzidos para inglês. A quinta pode ser
sobre Gaudi, e penso que pode haver mais alguns.” Temas que ficaram para
sessões noutros locais.