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RESENHA DO 1º CAPÍTULO DO LIVRO CASA-GRANDE E SENZALA

Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma


sociedade agrária, escravocrata e híbrida

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: Formação da família brasileira sob o


regime da economia patriarcal. 51 ed. São Paulo: Global, 2006. 15 x 21 cm, R$ 95,00.

Gilberto Freyre nasceu no Recife em 15 de março de 1900, e vindo falecer no dia 18 de


julho de 1987 na mesma cidade. Foi um sociólogo, antropólogo e escritor brasileiro,
considerado um dos grandes nomes da história do Brasil. Viajou para vários países em
que proferiu inúmeras conferências nas mais renomadas universidades do mundo,
durante a sua vida recebeu importantes títulos como o se Sir – ''Cavaleiro Comandante
do Império Britânico'', distinção conferida pela Rainha da Inglaterra em 1971 e prêmios
como o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (conjunto de
obras) em 1962, o prêmio Internacional La Madonnina, Itália em 1969, entre outros.
Também foi membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Portuguesa
de História, ensinou em várias instituições de ensino superior, tanto no Brasil como no
exterior. Fora da área acadêmica exerceu o cargo de Deputado Federal e o de Oficial de
gabinete do governador do Estado de Pernambuco. Além da sua obra mestre Casa-
Grande e Senzala, Freyre publicou diversos artigos e livros os quais podemos citar
Sobrados e Mucambos, 1936; Nordeste, (livro) 1937; Assucar, 1939; Brasis, Brasil e
Brasília, 1968; O brasileiro entre outros hispanos, 1975, entre outros.

No primeiro capítulo do livro Casa-Grande e Senzala, denominado de Características


gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária,
escravocrata e híbrida, Gilberto Freyre procura fazer uma análise dos fatores que
possibilitaram a fixação e colonização portuguesa no Brasil, para tanto ele utilizou
aparentemente dois métodos científicos: o método histórico, que para compreender a
sociedade brasileira na sua atualidade ele recria todo o período colonial com suas
características e singularidades, bem como o período anterior que equivale a toda
experiência cultural vivida por Portugal no século XV e nas três primeiras décadas do
século XVI. E o método comparativo, pois em todo o capítulo ele o utiliza, seja para
comparar a colonização portuguesa com a inglesa ou a espanhola; entre Portugal e
outros países europeus; entre as capitanias hereditárias do nordeste com as do sudeste e
outras várias comparações feitas. Enquanto a um modelo teórico Freyre ''não segue de
forma sistemática a nenhum e isso ocorre devido à influência de Franz Boas''[1].

As principais idéias contidas neste capítulo são:

As características do português que possibilitaram a colonização do Brasil: Foi a partir


deste ponto que Gilberto Freyre começa a desenvolver o capítulo expondo que os
contatos (tanto: culturais e até mesmo sexuais), entre os portugueses com os mouros
durante a Idade Média, foram fundamentais para que o português pudesse realizar bem a
empreitada da colonização. Pois através de vários séculos de lutas contra os mouros, os
portugueses assimilaram algumas de suas características culturais, como se observa nas
palavras de Freyre (2006, p. 66) ''A singular predisposição do português para a
colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu
passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. ''
O Clima, a Terra e a Gente que o Português encontrou: O português diferentemente de
outros povos europeus, especialmente os de origem nórdica, teve uma grande facilidade
em se adaptar em terras de clima tropical, isso se deve segundo Strüssmann (2006) ''pois
o clima de Portugal era equivalente ao clima africano, que por sua vez tinha suas
semelhanças com o Brasil colônia. '' Em compensação, os portugueses teriam
dificuldades em relação à terra devido a irregularidade dos rios, as pragas que atingiam
as plantações, etc. Como nos mostra Freyre (2006, p. 77), ''Tudo era desequilíbrio.
Grandes excessos e grandes deficiências, as da nova terra (...). Enchentes mortíferas e
secas esterilizantes – tal o regime das águas. E pelas terras e matagais de tão difícil
cultura como pelos rios quase impossíveis de ser aproveitados economicamente na
lavoura, na indústria ou no transporte regular de produtos agrícolas – viveiros de larvas,
multidões de insetos e de vermes nocivos ao homem. '' Já em relação aos índios, os
portugueses formaram um forte hibridismo. Logo ao chegarem ao Brasil os portugueses
se surpreenderam com o que viram inúmeras mulheres e todas elas nuas alisando seus
negros cabelos. Aquela cena remetia ao português a uma grande excitação sexual, isso
ocorre pelo fato de que as índias eram muito parecidas com a ''moura encantada'' que
como Freyre (2006, p.71) expõe, era um '' tipo de mulher morena e de olhos pretos,
envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado sempre penteando os cabelos ou
banhando-se nos rios. '' Tal idealização se dá pela influência moura o que favoreceu
para nascer uma nova geração, agora formada por mestiços, ajudando assim a ocupação
do Brasil, tendo em vista que Portugal não possuía um grande contingente populacional
para ocupar o Brasil de forma rápida e, além disso, havia outras colônias na África e na
Ásia que também necessitavam serem ocupadas.

A constituição da Família Patriarcal: A família no Brasil colônia foi a instituição que


mais ajudou na colonização, assumindo uma posição tal que chega até entrar em choque
com a igreja católica sobre a forma da Companhia de Jesus, como também aponta
Basile (2006), mostrando que Freyre ''fala da família como uma instituição tão forte que
chega a criar um antagonismo com a Cia de Jesus'' mesmo sendo necessário para poder
vim ao Brasil ser de religião católica. Tudo gira em torno da família de característica
patriarcal, escravista e aristocrática ''a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo,
instala as fazendas, compram escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra
em política''. Em fim é ela quem dita às regras no Brasil colonial.

O plantio da cana-de-açúcar, a falta de alimento e o problema da nutrição: Este ponto


foi muito trabalhado por Freyre, pois o problema da nutrição que afligia a sociedade
colonial produzia uma população fraca e deficiente em termos nutricionais, tal problema
se dava pela falta de alimentos decorrente da extensa plantação da cana-de-açúcar.
Freyre criticava dizendo que ''a nutrição da família colonial brasileira, a dos engenhos e
notadamente a das cidades, surpreende-nos pela má qualidade: pela pobreza evidente de
proteínas de origem animal (...), pela falta de vitaminas; pela de cálcio e de outros sais
minerais; e, por outro lado, pela riqueza certa de toxinas. '' A ganância da monocultura
da cana-de-açúcar, impedia o desenvolvimento de outras plantações, como o da
mandioca para a produção de farinha e de legumes, além de impedir a criação de gados
e outros animais no litoral, obrigando a se dirigirem ao sertão onde não se tinha
pastagem tornando assim magros os animais. Mesmo quem tinha condição econômica
sofria, pois mandavam trazer alguns alimentos de Portugal, mais estes mal
acondicionados devido à longa viajem chegavam em péssimo estado de conservação. A
exceção neste cenário alimentício no período colonial era o planalto paulista, que não se
prendendo apenas ao cultivo da cana-de-açúcar possuíam ''em abundância a proteína da
carne de seus rebanhos de bovinos como também lhes sobrava a carne de porco (...),
além de copiosa variedade na alimentação cerealífera, como o trigo, a mandioca, o
milho, o feijão etc.'' (Ellis apud Freyre, 2006, p. 106).

A Sífilis: O fato da grande miscigenação que ocorreu no Brasil desde o início da sua
colonização, acabou por favorecer a proliferação da sífilis, tendo em vista que essa
doença foi trazida pelos primeiros europeus que atracando no Brasil logo se misturaram
com a população indígena, e junto a eles, a sífilis. Ela esteve tão presente na vida
cotidiana colonial que era aceita normalmente pela sociedade, chegando ao ponto de
que ''o brasileiro a ostentava como quem ostentasse uma ferida de guerra'' (Martius apud
Freyre, 2006, p. 109).

Neste capítulo Freyre quis concluir que através do levantamento histórico, cultural,
entre outros do período colonial, foi possível ter um entendimento da construção do
Brasil como nação, e que este se deu por bases de antagonismos, como bem expressa
Basile (2006), ''que a formação brasileira tem sido um processo de equilíbrio de
antagonismos. Para compreendermos o hoje é necessário entendermos o ontem''.

Embora esta resenha esteja destinada apenas ao primeiro capítulo de Casa-Grande e


Senzala, fica impossível não perceber a importância desta obra, pois ela nos dá uma
grande contribuição para o entendimento de como ocorreu à formação da sociedade
brasileira, mostrando o modo de vida da sociedade colonial, descrevendo os seus
hábitos e costumes, expondo partes da nossa história que não eram privilegiados por
outros autores até então.

Escrita de uma forma que nos lembra a leitura de um romance, fato este que ajuda na
própria leitura do capítulo e com certeza do livro como todo. Apenas encontro duas
ressalvas na leitura do capítulo: a primeira é a necessidade de sempre recorrer ao
dicionário durante a leitura do capítulo, pois devido o livro ter sido escrito na década de
30 do século passado há um grande número de palavras pouco utilizadas atualmente o
que acaba atrasando a leitura e o segundo é o fato de que Gilberto Freyre ao querer
recriar a vida colonial de forma tão detalhada, o mesmo acaba por repetir algumas
afirmações já expostas. Más tais observações em nada diminui a importância e o grande
valor desta obra, que foi um marco para várias áreas como a história, sociologia,
antropologia entre outras. E que é de fundamental importância a sua leitura, tanto por
leigos quanto por intelectuais, principalmente em todas as instituições de ensino.

Formação do Brasil Contemporâneo Resenha


PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. São Paulo:
Brasiliense; Publifolha, 2000.

Do grupo de historiadores conhecidos como “Redescobridores do Brasil”, Caio Prado


Júnior faz em seu livro Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia, uma análise desse
período de trezentos anos em que vivemos sob a batuta dos colonizadores portugueses,
que com sua forma extrativista e perdulária de administrar foram formando um povo
sem se preocupar em formar uma cultura.
Com seus parágrafos longos e sua forma verticalizada, a obra traça um panorama
econômico e social, através da ótica marxista de seu autor, em um texto bem construído
e dividido por temas e subtemas que são pormenorizados por importância e por regiões
geográficas (Caio Prado Júnior era licenciado em Geografia).
Usando relatos de viajantes estrangeiros que estiveram em nosso país no período – Saint
Hilaire, Von Martius, Luccock e outros – Prado Júnior vai do “Sentido da Colonização”
até as causa que fizeram ruir o sistema colonial, passando por todas as estruturas que
movimentaram o Brasil colônia e até mesmo após 07 de setembro de 1822.

O paulista Caio Prado Júnior (1907 – 1990), foi um militante político marxista, sendo
filado ao Partido Comunista Brasileiro – PCB – e por sua posição e militância foi preso,
perseguido e exilado pela ditadura do Estado novo, nos anos 30 e também pela Ditadura
Militar nos anos 60 – após lançar A Revolução brasileira em 1966, e conceder uma
entrevista, em 1967, criticando a luta armada - tendo também cassado o seu título de
Livre Docente pela faculdade de Direito da USP.
Geógrafo, formado em direito, é na História que Caio Prado finca toda sua obra
literária, iniciada com Evolução Política do Brasil de 1933 e que teve em Formação do
Brasil Contemporâneo, de 1942, um clássico, segundo definiu Florestan Fernandes, e
obra de referência para toda uma geração de historiadores, sociólogos e acadêmicos.

Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia é estruturado em três partes


“Povoamento”, “Vida Material” e “Vida Social” que vem precedidos de um texto
chamado “O Sentido da Colonização”.
Caio Prado diz que a colonização era apenas mais um item da empresa em que estavam
imbuídos os portugueses, mas não é tão rigoroso com a metrópole como é com a
colônia, chegando a comparar as colônias de clima tropical com as de clima temperado
e colocando as tropicais – caso do Brasil – como inferiores.
Na parte dedicada ao “Povoamento”, o livro se divide em Povoamento, Povoamento
Interior, Correntes de povoamento e Raças. Neste capítulo vemos como foi formada a
população do Brasil colônia, onde não se tem precisão sobre a densidade demográfica
do Brasil no período e as informações sobre a população só eram colhidas para fins
eclesiásticos ou militares.
É traçado um panorama sobre a expansão marítima e o comércio europeu –
principalmente Ibérico – em fins do século XV e início do XVI onde há um grande
movimento de expansão por parte principalmente dos ibéricos.
A região nordeste – principalmente Pernambuco e Bahia - tem grande importância no
povoamento da colônia, que era dividido em núcleos como o núcleo litorâneo, que
conferia ao dois estados nordestinos já citados e ao Rio de janeiro um papel de extrema
importância na formação da população colonial.
Caio fala sobre o povoamento do interior do Brasil, com sua agricultura de subsistência,
lugares como Goiás mato Grosso e minas Gerais, além de São Paulo, onde faz uma
ressalva desconsiderando as expedições bandeirantes que não eram povoadoras e sim
exploradoras e de sentido nômade.
As três raças, ou culturas como defendia outro historiador - Gilberto Freyre – são vistas
de forma bem díspares por Caio Prado. Dos portugueses vieram os excedentes
demográficos do Reino, enfraquecido pelo comércio com o Oriente.

O negro aparece com um ser boçal, uniformizado pela escravidão, um braço sem cultura
e sem vontade própria, do qual o colonizador serviu-se de sua força e do forte apelo
sexual de suas mulheres e rejeita a tese que a escravidão foi “(...) um molde comum que
os identificou.” (p. 81).
Ao falar do índio, é dito que “(...) o índio foi o problema mais complexo que a
colonização teve de enfrentar”. (p. 86). O colonizador objetivava retirá-lo da selva e
oferecê- lo uma vida cristã em troca de sua escravidão, situação amenizada pelas
missões jesuítas que mereceram um destaque no livro, além da Legislação Pombalina.
A miscigenação e a mestiçagem do povo brasileiro era feita mais branco/negro e
negro/branco, no livro não se descreve com a mesma ênfase a relação branco/índio e em
escala inferior negro/índio. Há também a escassez de mulheres brancas e também a sua
falada “frieza”.
Nesta primeira parte do livro somos apresentados a um grande diferencial entre Caio e
outros autores que trataram do mesmo tema. Caio analisa mais profundamente as
correntes de povoamento, levando em conta suas diferenças regionais e culturais , não
generalizando, transformando em uma massa uniforme.
Ao falar sobre “Vida Material”, Caio dá uma ênfase à economia colonial, que tem na
agricultura seu mais forte expoente, seguida da mineração e em escala menor a
pecuária. Predominava a monocultura, trabalhada por escravos, era uma agricultura de
coivara, descrita como uma continuação da agricultura indígena, com imenso
desmatamento e totalmente extrativista, sem preocupação em trabalhar o solo e sim
esgotá-lo e abandoná-lo em prol de outro ainda virgem.
A lavoura determinou toda organização social e econômica através da “(...) disposição
das classes e categorias de sua população, o estatuto particular de cada uma e dos
indivíduos que as compõem.” (p. 142). Havia a agricultura de exportação com forte
trabalho escravo e a agricultura de subsistência trabalhada pelo próprio lavrador,
modesto e mesquinho.

Os produtos mais cultivados eram o algodão, a cana de açúcar e o tabaco que “(...)
constituem os fundamentos da agricultura colonial.” (p. 151). Em escala menor era
cultivado o cacau, o arroz e o anil, que é descrito como uma esperança frustrada, pois
não era competitivo perante o anil indiano.
A mineração - a mais conhecida pelo senso comum, através do ouro das Minas Gerais -
é descrita sob a forma de uma indústria mineradora que esgotava os recursos minerais
da colônia e enviava quase toda sua produção para fora do país e (...) deixou to poucos
vestígios, a não ser a prodigiosa destruição dos recursos naturais que semeou pelos
distritos mineradores, e que ainda hoje fere a vista do observador (...)” (p. 173)
A pecuária é analisada sob as particularidades regionais, nos estados do sul era mais
avançada, devido ao domínio espanhol na pecuária da região, outro grande centro foi
Minas Gerais e havia o contrabando interno de bestas, muito úteis na lavoura e no
transporte da produção.
A região amazônica tem seu destaque na cultura extrativista principalmente pela
extração madeireira, além da extração do sal e da caça à baleia – também realizadas em
outras regiões e encerra falando de atividades ligadas as artes e a indústria, onde se
destacam o artesanato, com sua cerâmica e a indústria incipiente e de pouca expressão.
O comércio é analisado através de sua estrutura fincada na base colonial de produção de
gêneros tropicais e matais preciosos para um comércio exterior – feito essencialmente
por via marítima – e o pequeno comércio interno, onde “o contrabando era mais fácil e
proveitoso.” (p.237)
As vias de comunicação e transporte são dissecadas em sua particularidades e
dificuldades. No transporte terrestre, a precariedade de estradas, onde há o predomínio
de matas fechadas, e o transporte fluvial e suas dificuldades diversas, como o grande
número de pedras e quedas em nossos rios e as correntes marítimas que dificultavam a
navegação de cabotagem.
Das três partes em que está calcada a obra, é essa que merece maior atenção e esmero
por parte do autor que traz uma farta e pormenorizada informação sobre a economia
colonial.

Ao falar sobre a “Vida Social”, é deixado claro que a mola mestra pra o funcionamento
da sociedade colonial foi a mão de obra escrava e no início deste capítulo é feito um
paralelo entre a escravidão empregada no Brasil Colônia e a escravidão antiga.
Surge assim um corpo estranho que se insinua na estrutura da civilização ocidental, em
que já não cabia. E vem contrariar-lhe todos os padrões morais e materiais
estabelecidos. Traz uma revolução, mas nada prepara. (...) Nada mais particular,
mesquinho e unilateral. (P. 278)
Caio Prado com essa observação atenua um pouco o discurso racista que usa contra o
escravo negro, que é citado em toda a sua obra e cita que a religião católica, mesclou-se
com rituais e crenças africanas. Mesmo assim mais a frente Caio volta com seu discurso
racista dizendo: “A contribuição do escravo preto ou índio para a formação brasileira é
além daquela energia motriz quase nula.” (p. 280)
A organização social estava centrada na figura da “família patriarcal” – como também
defendeu Sérgio Buarque de Holanda em seu Raízes do Brasil - as cidades tinham uma
hierarquia e organização social herdada dos grandes engenhos. Tudo gravita em torno
da sociedade patriarcal, católica e escravocrata.
Caio neste em que usa várias páginas para discorrer sobre a escravidão, cita também ao
preconceito do colonizador, que não aceitava seus descendentes realizando “trabalhos
mecânicos” que eram destinados a negros ou a libertos, que eram enxergados sob a
mesma ótica.
É citada uma pequena massa de profissionais liberais e é descrita a classe dos vadios,
que sem ocupação oficial, tendem a enveredar pelo crime e praticar desordem.
Habitavam as vilas assim como as prostitutas.
Aqui Caio cunha o conceito de orgânico – no qual insere a família patriarcal e a total
mão de obra escrava. E o inorgânico – formado por essa população livre que praticava a
agricultura de subsistência e pelos “vadios”.
Além da família patriarcal uma segunda esfera de poder na colônia era a igreja, com
seus laços estreitos na família patriarcal, constitui uma base econômica sólida e
centralizada na colônia.

A “Administração Colonial” é definida como desarmônica e caótica onde são mostradas


as diversas esferas de poder com o “Governador das Armas” e o “Governador da
Justiça” a acumulação de tributos e a importância do “Real Erário” e do dízimo
eclesiástico, que foi incorporado aos impostos reais.
È falado também de forma sucinta e concisa das Forças Armadas, e das “milícias não
oficiais” mas que acabam sendo “extra-oficiais.”. É citado também um sistema eleitoral
onde participam os “Homens bons”, ao povo é vedada a participação. È também citado
a Administração dos Índios, a Intendência do ouro e dos diamantes e a Intendência da
Marinha.
Por fim é falado de forma bem reduzida a Vida Social e Política” da colônia onde
“Raças e indivíduos mal se unem, não se fundem num todo coeso: justapõe-se antes uns
aos outros; constituem-se unidades e grupos incoerentes que apenas coexistem e se
tocam.” (p. 353). E aí mais uma vez aparece a escravidão onde vale à pena citar uma
nota de rodapé:
A escravidão foi uma das poucas coisas com vistos de organização que esta país jamais
possuiu... Social e economicamente, a escravidão deu-nos, por longos anos, todo
esforço de toda a ordem que então possuímos e findou toda a produção material que
ainda temos. (p. 386)
O colonizador português vai o Brasil não como uma sociedade ou uma economia e sim,
tão somente como “finanças” à cuidar. O sistema colonial não era “reformável” e
começa a surgir assim o seu enfraquecimento, talvez influenciado pelas revoltas interna
que pululam o Brasil no século XVIII. Aparece aqui também a figura da Maçonaria, que
influencio de forma sutil e indireta as idéias desse início de século
No livro é defendida a tese da Independência, quase que por conveniência, como uma
solução para a metrópole, pois a colônia estava virando um “fardo” difícil de carregar e
que o século XIX, principalmente após a chegada da família real portuguesa seria
desgastante para a metrópole, que assim viu sua colônia independente, mas continuou
administrando-a, através de seus imperadores da família Bragança.

Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia, é uma obra para ser lida e relida, devido a
grande gama de informações nela contidas e que com sua riqueza de detalhes vem

elucidar e desfazer algumas coisas que ficaram como “senso comum” e enraizadas no
inconsciente popular causando visões distorcidas e juízos de valor errôneos sobre as
relações colônia/metrópole, principalmente sob seu viés econômico.
Caio Prado coloca-se assim como uma grande referência – assim como seus
contemporâneos Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda - e leitura obrigatória a
quem quiser entender mais sobre a formação e a organização que originou o que
vivemos hoje.
Com seu olhar materialista Caio nos dá uma excelente fonte de recursos diversos, onde
bebemos e outra gerações beberão, pois é uma obra que perpassa as gerações e com seus
críticos e admi5radores vai atravessando o tempo.

Resenha do livro: Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda

O momento era pós Revolução de 30, de descrença no liberalismo tradicional, quando


os ideais integralistas e socialistas estavam fortemente presentes, e em conseqüente
constante divergência.
Levado por tais tensões contemporâneas, Sérgio Buarque de Holanda procura, em
Raízes do Brasil, não apenas compreendê-las, mas também compreender e explicar o
Brasil e o brasileiro, ou seja, o modo de ser ou a estrutura social e política.
Inovador no tom ensaístico e no conteúdo, Raízes do Brasil tem respaldo teórico na
História Social dos franceses e na Sociologia da Cultura dos alemães, além de conter
elementos das teorias sociológica e etnológica ainda inéditas no Brasil, e perspectiva
psicológica. Num tempo de saudosismo patriarcalista, Sérgio Buarque sugere em Raízes
do Brasil que, do ponto de vista metodológico, o conhecimento do passado deve estar
ligado aos problemas do presente.
Dentre os intelectuais alemães mais falados na época, Sérgio Buarque encontra
identificação na obra de Max Weber, cujo exemplo mais claro de sua influência em
Raízes é a metodologia dos contrários. Utilizando o critério tipológico de Weber, Sérgio
Buarque focaliza em pares de tipos sociais, e não na pluralidade deles, explorando
conceitos polares como rural/urbano, trabalho/aventura, Estado/família patriarcal e
público/privado. O esclarecimento dos conceitos contrários não é a opção por um deles,
mas sim o jogo dialético entre ambos, onde cruzando e misturando conceitos opostos,
chega-se a uma conclusão. Como explica Antônio Cândido no prefácio que faz ao livro:
“A visão de um determinado aspecto da realidade histórica é obtida pelo enfoque
simultâneo dos dois; um suscita o outro, ambos se interpenetram e o resultado possui
uma grande força de esclarecimento” (p. XIV).

No conjunto da obra em questão, houve um capítulo que se destacou, tornando-se


essencial à compreensão da identidade brasileira. Capítulo V – O Homem Cordial
aborda características próprias do brasileiro como conseqüências dos traços do passado.
Sérgio Buarque começa o livro falando sobre nossas origens remotas, os países ibéricos
– Portugal e Espanha -, que, menos europeizados que os demais países europeus, não
tiveram uma hierarquia feudal tão enraizada, tendo como conseqüência disso uma
frouxidão organizacional trazida ao Brasil, além de uma burguesia mercantil precoce em
relação aos demais, que não gostava de trabalho físico, do trabalho regular e das
atividades utilitárias, mas sim de serem senhores.
A frouxidão das instituições abriu portas para o tradicional personalismo, para a cultura
da personalidade que, segundo Sérgio Buarque, é o traço mais decisivo na evolução dos
hispânicos:
“Pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à
autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço,
devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional” (p. 4).

Os ibéricos são conceituados por Sérgio Buarque como aventureiros, ou seja, aquele
que pensa diretamente no objetivo final, busca novas experiências e a mira de seu
esforço tem tanta relevância capital que chega a dispensar os processos intermediários
para chegar ao ponto final. Quer ganhar dinheiro fácil.
Ao contrário do trabalhador – que estima a segurança e o esforço, que enxerga primeiro
o obstáculo a vencer e aceita compensações em longo prazo – o português chegou ao
Brasil graças a seu espírito aventureiro. E aqui permaneceu graças a sua grande
capacidade de adaptação.
Unindo sua forte adaptabilidade e a não disposição para trabalho braçal junto à fidalguia
trazida de sua terra, o português instaurou no Brasil a lavoura de cana como ocupação
da terra e dinheiro fácil unida ao trabalho escravo que resolvia, de maneira lucrativa, a
não disposição ao trabalho, mas sim à senhoria. Antônio Cândido ainda completa:
“A lavoura de cana seria, nesse sentido, uma forma de ocupação aventureira do espaço,
não correspondendo a „uma civilização tipicamente agrícola‟ (pág. 18), mas a uma
adaptação antes primitiva ao meio, revelando baixa capacidade técnica e docilidade às
condições naturais” (p. XVI).

A vida rural foi um marco muito forte na formação da sociedade brasileira. A estrutura
de nossa sociedade colonial era rural, já que quem detinha o poder na época colonial
eram os senhores rurais.
Em 1850 instaura-se a lei Eusébio proibindo o tráfico de escravos. Entre 1851 e 1855 há
notável crescimento urbano por causa das construções das estradas de ferro. O
progresso chegando, o café como nova fonte de capital e os filhos de fazendeiros sendo
mandados para nas cidades estudarem. Dessa classe rica e intelectual veio um progresso
social que demoliu suas próprias bases: a escravidão. A partir daí, os capitais ociosos do
tráfico foram para as cidades, para investimentos e especulações.
Aqui nessa época Sérgio Buarque enfoca a enorme incompatibilidade entre o mundo
tradicional e o moderno, entre rural e urbano. O Brasil não tinha estrutura econômica,
política e social para desenvolver a indústria e o comércio. Os homens do campo que
migravam para a cidade eram os mais importantes, os colonos que diziam que o
trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o intelectual. Dessa forma, é possível
imaginar as dificuldades que chegaram com a Revolução Industrial, onde o homem vira
máquina.
Assim, a vida na cidade se desenvolveu de forma desorganizada e prematura, o que nos
leva ao capítulo seguinte: o estudo da importância da cidade como instrumento de
dominação e como ela foi fundada nesse sentido.
Aqui Sérgio Buarque prende-se um pouco nas colonizações portuguesa e espanhola,
identificando-os como semeador e ladrilhador. O ladrilhador seria o espanhol que
coloniza parte da América construindo cidades planejadas, com a intenção de
estabelecer um prolongamento estável na Metrópole. Suas cidades eram construídas nas
regiões internas do continente tomando conta, assim, de toda cultura local.
Os portugueses, semeadores, agarraram-se ao litoral semeando cidades irregulares, sem
ordem e sem objetivos fortes de dominar a cultura do local, norteados por uma política
de feitoria, querendo fortuna rápida para tornarem-se nobres.
A urbanização no Brasil, irregular que foi, criou um desequilíbrio social. O peso da
família tradicional dificultou a formação da sociedade urbana moderna.
No Brasil, círculo familiar e família patriarcal, muitas vezes são confundidos com
Estado. Sérgio Buarque afirma e reafirma que são completamente diferentes, explicando
que um comportamento pessoal e familiar não funciona numa burocracia democrática,
pois um é individual e o outro é coletivo, um é privado e o outro é público.
“O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de
certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor
exemplo. (…) Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre
o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva” (p. 101).

O homem cordial é aquele que vem da família, é o homem hospitaleiro e generoso. No


entanto, sua polidez é apenas aparente, um disfarce que serve de defesa ante a
sociedade, preservando a sensibilidade e emoções do indivíduo e mantendo sua
supremacia ante o social.
A manifestação de respeito, por exemplo, aqui no Brasil, concretiza-se no desejo de
estabelecer intimidade: os tratamentos pelo diminutivo ou pelo primeiro nome são
exemplos disso. Dessa forma, é possível aproximar pessoas e objetos dos sentidos e do
coração, demonstrando um certo horror à distância.
Sérgio Buarque diz que a mentalidade cordial é uma sociabilidade aparente que não se
impõe ao indivíduo e também não exerce efeito positivo na estruturação de uma ordem
coletiva. Deste fato, ocorre o individualismo do homem cordial manifestando relutância
a alguma lei que o contrarie.
Em seguida, critica a satisfação do brasileiro com um saber aparente, levantando, com
isso, dogmas que levam à confiança máxima nas idéias, mesmo quando inaplicáveis, o
que traz à tona o positivismo no Brasil. Critica o Brasil que acredita em fórmulas.
Aproveita e também afirma que a ausência de partidos políticos na época é um sintoma
de nossa inadaptação ao regime legitimamente democrático, criticando a democracia no
Brasil, numa época em que não se falava nela, dizendo que falta-nos um verdadeiro
espírito democrático.
A salvação para o Brasil, segundo Sérgio Buarque, seria uma revolução que daria fim
aos resquícios da história colonial e começar a traçar uma história brasileira, diferente,
particular e moderna. Trata-se de adotar o ritmo urbano e elevar as camadas oprimidas
da população, pois apenas estas poderão revitalizar a sociedade e propiciar novo sentido
à vida política, já que são fisicamente melhores que a classe alta e também o seriam
mentalmente se as oportunidades fossem favoráveis, como seriam no caso da
“revolução”. Porém, com a cordialidade, o brasileiro dificilmente chegará nessa
revolução.

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