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NOVAS PERSPECTIVAS PARA ENSINAR DIREITO:


O ENSINO JURÍDICO POR INTERMÉDIO DE HABILIDADES

Luciana Barbosa Musse

NEW PERSPECTIVES ON LAW TEACHING:


TEACHING LAW THROUGH ABILITIES

RESENHA
AGUIAR, R OBERTO A. R. DE . H A B I L I D A D E S : ENSINO JURÍDICO
E CONTEMPORANEIDADE . R IO DE J ANEIRO : DP&A, 2004. 270 P.

O professor Roberto Armando


Ramos de Aguiar propõe-se, na
obra “Habilidades: ensino
jurídico e contemporaneidade”, a tratar
de uma temática pouco explorada tanto
título “Ensino Jurídico: diagnóstico,
perspectivas e propostas” (RODRI-
GUES, 1995, p. 52-3). Nessa mesma
linha, Roberto Aguiar edita a obra “A
crise da advocacia no Brasil”.
no ensino como no mercado editorial Sua afinidade com a teoria crítica
jurídico: as habilidades. do direito transparece ao longo de
O autor, advogado e filósofo do todo o trabalho, tomando como ponto
direito, integrou, em 1991, a comissão de partida a necessária transformação
de ensino jurídico do Conselho Federal do ensino jurídico contemporâneo e
da Ordem dos Advogados do Brasil dos seus atores, para que os futuros
(OAB) – nomeada para realizar um profissionais do direito dêem conta
mapeamento da situação vivenciada à das demandas geradas pela nova ordem
época pelo ensino jurídico e pelo merca- social globalizada. Propõe, então, que
do profissional dos advogados. O resul- essa mudança seja operada por meio
tado desse trabalho foi publicado com o de habilidades.
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Sob a denominação de manutenção da existência humana, que


“habilidades” estão reunidas denomina “habilidades básicas ou de
várias acepções e entendimentos, sobrevivência”. Na seqüência, apresenta
que tangenciam as significações uma análise, em capítulos distintos, das
de aptidão, destreza e talento. habilidades de se relacionar, pensar,
A “habilidade” é a aptidão que enxergar, fazer e propõe um rol parti-
tem o ser humano de lidar, cular de sub-categorias de cada uma
operar, entender, interferir dessas habilidades.
e dialogar destramente com Para Roberto Aguiar, toda e qual-
o outro, a natureza, os artefatos quer habilidade é influenciada por algu-
criados e a se criar, a sociedade ma circunstância, tal como: (i) a sua
e consigo mesmo. A habilidade complementação por uma ou mais habi-
é uma camada consciente do lidades; (ii) a hegemonia de uma delas
ser humano, é relacional, sobre as outras; (iii) a imposição de
comportamental, de conduta habilidades com vistas à reprodução de
e teleológica, fazendo parte dominações; (iv) o prestígio que certas
do complexo que desenha as profissões da moda atribuem a certas
personalidades dos seres humanos. habilidades em detrimento de outras. As
(AGUIAR, 2004, p. 17). habilidades, por sua vez, segundo o
autor, requerem desafios existenciais,
Percebe-se, entretanto, que a preo- gnoseológicos, participativos, sociais,
cupação com as habilidades não é exclu- naturais, econômicos e valorativos.
siva ao universo educacional. Essa temá- A partir do capítulo onze, o autor
tica também ganhou espaço no mundo trata das habilidades específicas ao ensi-
corporativo, cuja exigência é por profis- no jurídico e seus atores, para propor, ao
sionais que agreguem ao conhecimento final, transformações do status quo dos
o saber fazer, ou seja, as habilidades. cursos jurídicos e dos seus egressos.
Aliás, esses dois sistemas se interpene- Para efetivar essa transformação,
tram. Com suas mudanças, o mercado Roberto Aguiar propõe a ruptura com o
exige das instituições de ensino profis- ensino tradicional do direito, de caráter
sionais com habilidades específicas téc- eminentemente “conteudista” e a imple-
nicas – saber-fazer - ou pessoais – saber- mentação de uma educação jurídica cal-
ser – requeridas pelos cargos ou funções cada em habilidades que possibilitem ao
que poderão ocupar. aluno agir num mundo globalizado,
O autor, contudo, não se limita a complexo, contraditório e em rápida e
analisar as habilidades específicas neces- permanente mudança.
sárias a um futuro profissional ou acadê- A preocupação com as habilidades a
mico do direito – ele vai além, inician- serem desenvolvidas pelos alunos dos
do sua análise a partir da descrição das cursos de graduação em direito integra a
habilidades requeridas para a própria regulamentação do ensino jurídico pela
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primeira vez por intermédio da portaria proporcionalmente justa para


do Ministério da Educação e Cultura com a necessidade que ela
(MEC) n. 1.252/2001, que dispunha sugerir a fim de atuar da melhor
sobre as diretrizes curriculares do curso maneira possível.
de direito. A obra, publicada em 2004,
traz, como referencial, essa portaria. A ausência de uma análise sobre a
Atualmente, as diretrizes nacionais do relação entre competências e habilida-
curso de graduação em direito são disci- des não tolda o pioneirismo e a contri-
plinadas pela resolução do CNE/CES n. buição da obra de Roberto Aguiar, que
09, de 29 de setembro de 2004. No arti- termina apresentando uma proposta
go 4o dessa resolução fala-se indistinta- de inclusão das habilidades e de “atua-
mente em habilidades e competências. lização pedagógica e estrutural do
Essa norma reproduz uma confusão ensino jurídico”.
recorrente na literatura educacional. A Trata-se de um rico material que
difícil empresa de diferenciá-las não é deve pautar as ações e reflexões de ges-
enfrentada pelo autor. tores de cursos jurídicos e professores
A título exemplificativo trazemos de direito que queiram repensar suas
a contribuição de três educadores práticas administrativas e pedagógicas.
que refletiram sobre a díade habilida- Diz-se “deve pautar” porque, percebe-se
des-competências. que, no Brasil, a despeito de os projetos
Bernardeth Gatti (s.d., p. 2) asseve- pedagógicos dos cursos jurídicos traze-
ra que se pode compreender habilidade, rem no seu bojo esses assuntos – habili-
em sentido amplo, “[...] como modos de dades e atualização pedagógica e estru-
ação e técnicas generalizadas para tratar tural do ensino jurídico –, em consonân-
com situações e problemas.” cia com as diretrizes curriculares traça-
Nilson José Machado (2002, p. 145) das pelo MEC e, mais recentemente,
apresenta as habilidades como formas de com o Sinaes – Sistema Nacional de
realização das competências. Um con- Avaliação do Ensino Superior - na práti-
junto de habilidades dá ensejo a uma ca, a implementação da proposta apre-
competência. senta algumas dificuldades.
Para Cristina Dias Alessandrini Primeiramente, porque a ruptura
(2002, p. 164), a competência, por do paradigma hegemônico do ensino
sua vez, jurídico – calcado no conteúdo – encon-
tra resistência por parte dos envolvidos:
[...] refere-se à capacidade mantenedores, gestores, professores e
de compreender uma alunos, quer na graduação, quer na pós-
determinada situação e reagir graduação lato sensu ou stricto sensu. Tais
adequadamente frente a ela, obstáculos advêm do impacto dessa
ou seja, estabelecendo uma mudança de modelo no âmbito da (i)
avaliação dessa situação de forma metodologia de ensino; (ii) avaliação
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discente; (iii) gestão institucional; (iv) por parte do corpo docente.


relação entre ensino e mercado. Por outro lado, para que o corpo
O impacto na metodologia de ensi- docente tenha condições de atuar em
no dá-se na medida em que o ensino conformidade com as exigências de uma
baseado em conteúdo é satisfatoriamen- pedagogia pautada pelas habilidades, os
te atendido por meio de aulas expositi- mantenedores e gestores educacionais
vas, centradas no professor. Aulas que deverão investir em programas de capa-
visam desenvolver habilidades devem citação docente, tecnologia de ponta,
privilegiar metodologias participativas, contratação de profissionais titulados
tais como seminários e simulações – em regime de trabalho de dedicação
dramatização (role play) e método do parcial e integral, implementação de
caso –, que, de um lado, requerem pre- plano de carreira docente, plantão de
paração prévia e uma postura ativa dos atendimento aos alunos, dentre outras
alunos, por serem centradas nas suas estratégias que requerem mais investi-
ações atuais e futuras e, de outro, exi- mentos em recursos humanos e menos
gem maior tempo, criatividade e atuali- destinação de recursos financeiros para
zação dos professores. outros setores da atividade, como é fei-
Na medida em que as aulas desen- to pela maioria dos empresários do ensi-
volverem habilidades dos alunos, a ava- no, atualmente.
liação discente deverá aferir a apreensão O mercado – setores privado e
dessas habilidades, ou seja, deve apre- público – destino final dos egressos dos
sentar-lhes situações fáticas, preferen- cursos jurídicos, deve ser ouvido pela
cialmente atuais, que exijam raciocínio academia, pois é nesse contexto que as
crítico-reflexivo e indutivo, e não ques- habilidades serão aplicadas com maior
tões meramente conceituais ou que ou menor competência. Mas, o ensino
envolvam a subsunção do fato à norma jurídico, por sua vez, não deve adotar
jurídica. Essa forma de avaliar deve ser uma relação de subserviência ao merca-
realizada em diferentes momentos do do, sob o risco de perder seu caráter
curso – avaliação continuada – o que, formativo – sobretudo o da graduação,
uma vez mais, exige maior dedicação foco central da obra resenhada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLESSANDRINI, Cristina Dias. O desenvolvi- professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre:


mento de competências e a participação pessoal na Artmed, 2002. cap. 7.
construção de um novo modelo educacional. In: GATTI, B. A. 6 habilidades cognitivas e compe-
PERRENOUD, Philippe et. al. As competências tências sociais. Disponível em:
para ensinar no século XXI: a formação dos <http://www.unesco.cl/medios/biblioteca/
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documentos/6habilidades_cognitivas_sociais.pdf>. PERRENOUD, Philippe. Construir as com-


acesso em: 06 out. 2006. petências desde a escola. Porto Alegre:
MACHADO, Nilson José. Sobre a idéia de com- Artmed, 1999.
petência. In: PERRENOUD, Philippe et. al. As RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Novo currí-
competências para ensinar no século XXI: a culo mínimo dos cursos jurídicos. São Paulo:
formação dos professores e o desafio da avaliação. Revista dos Tribunais, 1995.
Porto Alegre: Artmed, 2002. cap. 6.

Luciana Barbosa Musse


M ESTRE E D OUTORA EM D IREITO PELA PUC/SP
P ROFESSORA DE M ETODOLOGIA DO E NSINO
E DA P ESQUISA J URÍDICA

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