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Raganuga BHAKTI
Autor Gadadhar Pran das
PREFÁCIO
(Bhagavatam. 10.33.36)
Ele (Krishna ) assumiu a forma humana para mostrar compaixão para todos os seres e assim
Ele se ocupa nessas brincadeiras, cuja simples audição torna a pessoa inclinada para Ele."
E como o devoto se beneficia ao ouvir esses folguedos íntimos? O Bhagavata
responde dois versos depois.
vikriditam vrajavadhubhir idanca visnoh
sraddhanvito 'nusrnuyad atha varnayed yah |
bhaktim param bhagavati pratilabhya kamam
hrdrogam asvapahinotyacirena dhirah || (Bhag. 10.33.39)
3
"Aquele que com fé ouve sobre os folguedos de Vishnu com as gopis e que os descreve ,
rapidamente alcança a devoção mais elevada ao Senhor e facilmente destrói a doença do
coração, luxúria. "
Esses divertimentos íntimos do Senhor com as gopis são uma espécie de remédio
para curar a doença da luxúria. Jamais se ouviu de alguém que fica esperando ou retardando
tomar um remédio para uma doença aguardando que a doença se cure! Se a doença existe
(luxúria) e existe o remédio (lila smaran) mas a pessoa se recusa a aceitar o remédio, a doença
jamais é curada e o paciente acaba morrendo. Infelizmente essa triste perspectiva está
acontecendo no Ocidente. Assume-se o papel de devoto puro(que é o objetivo) no início do
processo, restringe-se vida sexual, qualquer gozo dos sentidos e o devoto diante do apelo
sensorial no Ocidente enlouquece.
Krishna veio a este mundo para atrair os seres vivos perdidos e sofredores de volta
para o lar, levantando as cortinas e revelando a doçura de suas atividades eternas, então por
que encobrir a personalidade de Deus, escondê-la? Ninguém pode interferir ou atrapalhar a
redendora visita do Senhor Supremo, como Krishna e principalmente como Cheitanya
Mahaprabhu .
E a prática mais poderosa e importante na tradição de Cheitanya , o treinamento de
Smarana/siddha-pranali, que nada mais é que o simples cumprimento do mandamento maior
deixado por Rupa Gosvami, 'lembrar sempre de Krishna e nunca se esquecer de Krishna '
através da lembrança e recordação dos passatempos de Krishna e Mahaprabhu no decorrer de
todo o dia e noite.
Adiante damos um exemplo como a filosofia de Rupa Gosvami está sendo
erroneamente transmitida a partir deste século, claramente colocando 'a carroça na frente dos
burros".
Costuma-se citar que Radhakrsna Goswami (do século XVII) que recomenda a
renuncia da vida familiar como pré-requisito a prática de Smarana. Porém, vamos ver a verdade
- o que RadhaKrishna Gosvami de fato recomenda é celibato(bramacharya)como qualificação
para a prática de Raganuga bhakti, o que essencialmente significa lila-Smarana (Sd.9.27) e para
corroborar sua afirmaçao o Goswami cita um veso do Bhakti-rasamrta-sindhu (Brs 1.4.7):
na patim kamayet kamcit brahmacaryasthita sada |
tam eva murtim dhyayanti candrakantir varanana ||
(Padma Purana )
tradução: "Candrakanti de belo rosto, meditando-ne nessa forma apenas, sempre situada em
celibato não desejando marido. ".
Até aqui tudo correto, a jovem prática celibato. Porém o que não se diz , se omite, de
forma a levar o ouvinte a erro, é que esse verso citado por Rupa Gosvami se encontra na parte
do livro onde se descreve prema, ou seja, Quarta onda da divisão leste. Ou seja, o resultado
final da prática de Raganuga bhakti . Esse é o resultado derradeiro da prática e enfaticamente
NÃO É A QUALIFICAÇÃO PARA SE INICIAR A PRÁTICA. Diante de um simples raciocinio ou
observação mais cuidadosa observar o quão é ABSURDO exigir , que o devoto que começa já
tenha alcançado o resultado da prática antes mesmo que comece a prática , que é o lila
Smarana junto e ao mesmo tempo que o canto da japa/ Hare Krishna mantra. Embora todos
sejamos devedores dos santos que trouxeram o Vaishnavismo para o Ocidente, não implica que
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estamos amarrados a lapsos cometidos, ou medidas de urgência tomadas em circuncunstancias
especiais, mesmo que naquela época tenham tido um bom propósito e bom resultado na
pregação. É hora de corrigir se queremos ver o verdadeiro Vaishnavismo se propagando no
Ocidente ao invés de formarmos homens que nem sequer aprenderam respeito ao próximo e se
colocam na posição de Acharyadevas. Enfim, toda a obra de Rupa Gosvami corrobora o simples
entendimento que Smarana / siddha pranali é uma prática que leva o devoto a perfeição,
desenvolvendo a pouco e pouco suas qualidades, começando com respeito a todos , saber
ouvir, ânimo calmo enfim , modo da bondade , adentrando, depois, em qualidades superiores.
Por isso a exigência da perfeição (sudha sattva) primeiro, como pré-requisito, para
depois praticar Smarana ou receber o siddha pranali é contrário ao bom senso, à logica e as
escrituras. De fato , a prática de lila Smarana é o remédio para os que não conquistaram o
desejo sexual, pois o lila smaran tem como resultado a conquista do desejo sexual, além de
outros efeitos favoráveis ao desenvolvimento de bhakti. Radhakrsna Goswami (9.29) aponta ,
isso sim, uma advertência na prática do Smarana que versam sobre os passatempos
confidenciais de Radha e Krsna, citando uma passagem do Bhakti-sandarbha (para. 338) de
Jiva Gosvami. Jiva Goswami citando o Bhagavatam( verso 'vikriditam...) tece o seguinte
comentário:
"a pessoa deixa a doença do coração, luxúria e demais coisas desfavoráveis ao
avanço espiritual rapidamente ao mesmo tempo que a superioridade dos lilas de Krsna com as
gopis vai sendo estabelecido, e entre esses folguedos o bhajana de Krsna brincando com sua
mais querida amada Radha é o mais elevado. Isso é evidente, porém essas coisas confidenciais
não devem ser adorada por aqueles cujos sentidos ao ler tais lilas passem por transformacoes
(ou seja, erecao do penis ou outras formas de excitacao sexual) e por aqueles cujos sentimentos
sejam de pai, filho ou servo ou contrário ao seu humor. As vezes a confidencialidade do lila é
parcial (quando há abraços e beijos, etc.) e as vezes é completa ( no caso de união sexual). "
Em palavras simples, não se deve praticar Smarana de Radha e Krishna em seus
folguedos íntimos se a pessoa fica excitada sexualmente por esses lilas. Porém, caso alguém se
aproxime desses lilas sinceramente com a identidade siddha deha de uma manjari servil de
Radha cuja responsabilidade é facilitar o prazer do casal Divino e não o próprio prazer egoísta,
evita-se assim a questão de excitacao material do sexo. De fato, essa prática é o ponto central
do bhajan pessoal, aprende-se a gradualmente a consolidar a identidade do sadhaka rumo a
identidade siddha. A aproximacao do lila divino de outra forma a não ser com a idéia de
formaçao e estruturação da troca de identidade de sadhaka para siddha em atitude de serviço, é
cair no voyeurismo , que é uma aberração sexual maliciosa de observar as atividades libidinosas
de outra pessoa, coisa totalmente longe da própria natureza pura e ingênua das manjaris.
A habilitação é simples de se avaliar, caso não se consiga a lembrança dos
passatempos de Radha e Krishna sem sentir erotismo, lascívia ou ereção do penis, então não
pratique até que adquira tal visão mais pura da realidade superior, o que não quer dizer pureza
total, pois é a vizualização do lila que vai levar a essa pureza em sua plenitude. Nem quer dizer
que jamais se sinta erotismo , porque isso é algo inerente ao corpo humano , intrinseco a
natureza. Outro ponto que se questiona é sobre a origem da prática de Smarana/ siddha-pranali.
Bhaktivinoda Thakura na sua obra Jaiva-dharma traça a origem dessas práticas
como sendo originária do próprio Mahaprabhu . Mahaprabhu a entregou a Vakresvara Pandita,
seu companheiro de kirtana, que passou o método a Gopalaguru Goswami e Gopalaguru
passou a seu discipulo Dhyanacandra Goswami. Esses dois últimos escreveram os famosos
manuais com seus 'metodos' (paddhati) . Embora essa prática venha do próprio Cheitanya
Mahaprabhu esses devotos mencionados são pouquissimos conhecidos no Ocidente, o que dá a
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falsa impressão que a prática de Smarana e siddha pranali se desenvolveu apenas em um
pequeno grupo de seguidores de Mahaprabhu e não faz parte da tradição Cheitanya para
aplicacao geral entre os devotos e não é o ponto central do trabalho de Mahaprabhu .
Porém , ao estudarmos os livros dos Gosvamis , vemos que é outra a conclusão que
somos levados. Ouvimos falar de siddha deha que é o ponto central de siddha pranali no texto
de Rupa Gosvami no seu livro Bhakti-rasamrta-sindhu, no famoso verso " seva sadhaka-rupena
" (Brs. 1.2.295). A primeira vez que vamos ler algo sobre manjari é , provavelmente, no livro de
Raghunatha Dasa chamado Vilapa-kusumanjali (tvam rupamanjari sakhi ..., verse 1) ou então,
no livro de Kavikarnapura chamdo Gouraganoddesadipika, uma vez que não se pode precisar
com exatidao as datas que foram escritos.. Contudo, é patente que essas práticas se
desenvolveram no circulo de Vrindavana entre os seguidores de Mahaprabhu , especialmente
adaptado e voltado para a vida simples de Vrindavana.. Gopalaguru se estabeleceu em
Vrndavana após o desaparecimento de Vakresvara Pandita e Kavi Karnapura também se
retirou em Vrndavana.
O fato de Raghunatha Dasa chamar pelo nome " Rupamanjari" bem no começo de
sua obra Vilapa-kusumanjali indica que seu guia Rupa Goswami já estava envolvido com essa
prática naquela época.
Rupa Gosvami mostra um profunda gratidão a seu irmão mais velho, Sanatana
Gosvami, considerando-o como seu mestre. O idéia de que Sanatana já lidava com esses temas
provém de Krsnadasa Kaviraja que ao apresentar seus ensinamentos, inclusive o do siddha
deha, menciona que Sanatana Gosvami recebeu esses ensinamentos do próprio Cheitanya
Mahaprabhu (Cc. Madhya, capítulos. 20-24). Sanatana Gosvami por sua vez passa esse
conhecimento para seu irmão Rupa Gosvami que os registra em seus livros.
Interessante destacar é que o primeiro livro de Sanatana Gosvami, chamado Krishna
lilastava é já um precursor das práticas de lila Smarana/ siddha pranali, onde se combina o canto
dos Santos nomes com os primeiros 45 capitulos do Decimo Canto do Srimad Bhagavatam. O
que nada mais é que nama-kirtana e lila Smarana executados conjuntamente , ao mesmo
tempo. Além dessa menção, não podemos esquecer que na sua obra principal Brihad
bhagavatamrita de Sanatana Gosvami, no capítulo chamado "abhista-labha"(2.6) no qual
Gopakumara visita Goloka, Sanatana apresenta o lila de Krishna em uma forma que se
assemelha ou é quase identica a forma dos passatempos diarios que serão adotados tanto por
Krishnadasa Kaviraja no seu Govinda Lilamrita , quanto por Visvanatha Chakravarti no seu
Krishna Bhavanamrita.
Outro Vaishnavas respeitavel, RadhaKrsna Gosvami (Dasa-sloki-bhasya pagina. 8-
9, edição Haridasa Sastri)no seu Dasa-sloki-bhasya registra que na tradição Cheitanita foi o
próprio Rupa Gosvami que revelou toda essa prática basicamente no seu verso "seva sadhaka
rupena" e vários dos seus stotras, porém devido sua natureza confidencial manteve essa prática
entre seus membros seguidores e jamais escreveu extensamente e de modo circunstanciado
sobre isso em seus próprios escritos. E , quando seus seguidores sentindo a necessidade para
as geracoes futuras de maiores detalhes sobre a prática pediram-lhe que escrevesse mais sobre
o tema, ela já estava muito velho e à beira da morte, por isso , Rupa Gosvami passou esses
ensinamentos a Krishna Dasa Kaviraja para este ensinar os detalhes , sendo atendido na obra
deixada pelo Kaviraja , que é o Govinda Lilamrita
A semente e raiz de todo o desenvolvimento dos passatempos diarios de Radha e
Krishna divididos em oito partes está contido no stotra do Astakaliya-lila-smarana-mangala-
stotra que é atribuido a Rupa Goswami.
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Assim fica patente e comprovado que a prática de smarana/siddha-pranali é uma
das principais práticas dos Gosvamis de Vrindavana, provavelmente concebido por eles mesmos
, divulgado e expandido por eles. Assim é ponto central de todos os setores da tradição
Vaishnavas de Cheitanya Mahaprabhu até nossos dias , exceto as missoes que se propuseram
a pregar no Ocidente por seus próprios motivos.
Basta o simples olhar ao verso 8 do Upadeshamrita de Rupa Gosvami para ser
desvendado a verdade:
A essência de todas as instruções é que os devotos que anseiam por Krishna
devem passar a viver em Vrindavana, gradualmente utilizando-se da mente na lembrança e a
língua no canto dos Seus nomes, formas, atos.
O que pode ser mais claro que isso, a idéia principal na doutrina vaisnavana envolve
o lembrar e o cantar, ou seja, Smarana e kirtana e absolutamente, não se fala de só kirtana ou
só Smarana. É ambos juntos. Se se pretende pregar Vaishnavismo no Ocidente como foi
deixado por Rupa Gosvami (rupanuga) então é hora de se debruçar nos ensinamentos deixados
como eles são , sem adaptações porque simplesmente não funcionam no desenvolvimento
espiritual interno do devoto ocidental, e apenas deformam o caráter , desumanizam as pessoas
e criam megalomaniacos egocentrados que só buscam explorar em nome da religião, pois são
homens sem Smarana, sem alma. Radhe-Shyam!
Nitai das
Tradução:
PREFÁCIO
REVISÃO DA SEGUNDA EDIÇÃO
Para os seguidores de Cheitanya Mahaprabhu desejosos de alcançar Shri
Krishna em Sua morada de Vrindavana, a escolha correta do sadhana é essencial. A esse
respeito, os acharyas Gaudiya Vaishnavas unanimemente apoiam o seguinte sidhanta do
Cheitanya Charitamrita:
Tradução:
“As pessoas que adoram pelo processo de Raganuga bhakti alcançam o filho de
Nanda em Vrindavana. Pelo processo de Viddhi bhakti, todavia, isso não é possível.”
Para executar apropriadamente Krishna bhakti tanto Vaidhi quanto Raganuga
sadhanas são exigidos. Os 64 princípios regulativos de Vaidhi Bhakti formam o processo
externo. Por outro lado, o processo interno de lila Smarana é a base de Raganuga bhakti.
Ambos os processos (interno e externo) são importantes, e devem ser executados
simultaneamente. Esse livrete se destina a compreensão de como uma pessoa pode
praticamente combinar esses dois processos seguindo o caminho dos Acharyas Gaudiya
Vaishnavas.
A pregação de Raganuga Bhakti Sadhana é diretamente relacionada com a
razão principal do advento de Cheitanya Mahaprabhu; esse livro apresentará essa evidência.
Primeiro, contudo, faz-se necessária uma explicação:
1) Qual é a definição exata de Raganuga bhakti?
2) Quem está habilitado para executá-la?
3) Como ela é executada apropriadamente?
Qualquer devoto aspirante eventualmente precisará conhecer esses tópicos. A fim
de apresentar respostas precisas a essas questões, e para isso dez anos de pesquisas nos
textos Vaishnavas foram conduzidos.
Para a pessoa inquisitiva que busca a essência do Vaishnavismo Rupanuga, o
caminho de Raganugasadhana surge como o “elo perdido” para se obter o real sabor e apego
superior. Isso é exigido para se despertar Bhava e Prema no espírito de Vrindavana.
Quanto a questão de como o Senhor Gouranga pregou esse sistema religioso
para as pessoas da Kali-yuga, e de que modo os seus associados pessoais como os seis
Gosvamis levaram a cabo essa missão, a saborearam e a desenvolveram para o aprendizado
das futuras gerações – esses e muitos outros tópicos interligados serão todos discutidos no
decurso desse trabalho. O que deve ficar patente é que tanto Vaidhi quanto Raganuga sadhana
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bhakti são formas de bhajana-kriya e assim precedem o estágio de anartha-nivritti na
caracterização dos noves processos de Rupa Gosvami do desenvolvimento de Bhakti.
Esse é o grande erro cometido por muitos . OU seja, Smarana , que é a principal
prática em Raganuga bhakti, é ramo de sadhana bhakti e jamais pode ser considerada como
pertencente a siddha bhakti . Smarana leva a Krishna rati (amor a Krishna ) , Não é pré-condição
para a prática de Smarana , nem exigência que primeiro se alcance amor para depois se poder
praticar Smarana, pelo contrário, é o Smarana que levará ao amor(rati).
Dina sadhak,
Shri Gadadhar-prana Das
Shri Shri Gadai Gouranga Kunja
Shri Mayapur Ghat, Nadia, W. B. Índia
Tradução:
INVOCAÇÃO
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Avatari prabhu pracarila sankirtan
eho bahye hetu purbe koriache sucan
avatarer ara eka ache mukhya bija
rasika shekhar krishner sei karjya nija
C.C. Adi 4
Tradução:
“Embora o próprio Senhor Supremo, Shri Cheitanya Mahaprabhu tenha tomado
para si a tarefa de Yuga Avatara para propagar o movimento de Sankirtana; isso constitui
somente a motivação externa de Seu advento. O motivo principal floresce da ânsia íntima do
Senhor de ser o ‘Rasika-shekhar’ – o supremo perito das doçuras transcendentais.
Tradução:
diretamente ao rei dos poetas rasikas, Shri Krishna das Kaviraja, falou o seguinte:
C.C. Adi 4
Tradução:
Tradução:
“Esses três desejos não podem ser satisfeitos em Vraja porque lá eu possuo
uma natureza diferente de Shri Radhika.
Só se eu assumir o estado mental e a compleição dEla vou poder satisfazer o
meu capricho. Portanto, aceitarei o bhava de Shri Radha e o anga-kanti de Shri Radha
aparecendo nesse mundo para saborear esses três prazeres.
Incidentemente, enquanto Krishna deliberava , a época para o Yuga avatara
descender também chegou. Como resultado da adoração e os clamores de Adueita Acharya, os
pais e superiores do Senhor nasceram primeiro e finalmente o próprio Cheitanya Deva adveio no
estado mental e compleição corpórea de Shri Radhika do ventre que é que como um oceano de
leite de mãe Sacchi. Assim eu expliquei o significado do Sexto Sloka do C.C.
Meditemos aos pés de lótus de Shri Svarupa Damodara (Lalita Sakhi no Vraja-lila)
por cuja misericórdia o mundo pode conhecer esses segredos divinos.”
Do Mangala Acharana de Shrila Kaviraja Gosvami, do Shri Cheitanya
Charitamrita esse sloka é chamado de hostu-nirdesh (tópico de discussão), para o livro. Uma
vez que Shrila Krishna das vivamente ilustrou o Radhabhava de Shri Gouranga Sundar nesse
verso confidencial, podemos concluir que uma elaborada discussão sobre esse tópico foi sua
intenção principal para toda a obra.
No quarto Capítulo do Cheitanya Charitamrita, Shrila Kaviraja Gosvami inicia o
seu comentário sobre esse sloka como se segue:
Je lagi avatara kahi se mula karan
prema rasa nirjas korite asvadhan
raga marga bhakti loke korite pracaran
rasika sekhar krishna parama karuna
ei dui hetu hoite icchar udgama
Tradução:
12
Essas são as duas razões principais pelas quais, Shri Krishna, o líder de todos os
rasikas (peritos) e personalidades misericordiosas adveio Ele mesmo como Shri Cheitanya
Mahaprabhu.”
Ao reconhecer os dois versos supra mencionados para o advento do Senhor, a
pessoa faria bem em meditar neles a fim de aumentar sua devoção. Com relação a isso, Shri
Krishna das Kaviraja diz:
Tradução:
Tradução:
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“Krishna começou a considerar que: estou pleno de bem aventurança e Minha
divina forma é a corporificação de todas as doçuras transcendentais. De Mim todos no universo
podem experimentar felicidade; mas quem Me pode dar prazer? Desejaria que houvesse uma
personalidade que possuísse centenas de qualidades que “Eu não possuo”.
Desafortunadamente tal pessoa não pode ser encontrada em todo universo. Ainda assim,
somente em Shrimati Radharani, tudo é possível.”
É dito no shruti shastra que Krishna é rasa personificada (‘rasah vai sah’), Rasa
significa ananda, ou prazer. Portanto, Shri Krishna é (sarva-anandamaya), ou o reservatório de
todo prazer. Quem pode, então estar na posição de dar prazer a Krishna? Nesse sloka, Shri
Krishna admite que tal proeza somente pode ser executada por Shrimati Radharani. Por que?
Porque Ela é ‘Maha-bhava-svarupini’ – a personificação de prema (amor divino). Em outras
palavras ,necessita-se de ‘prema’ para saborear ananda.
Krishna elucida o assunto ainda mais:
Tradução:
Tradução:
“Ficou completamente claro para Mim que Radhika foi subjugada por uma rasa
que mesmo Eu não experimentei. Isso, Me deixou excessivamente ansioso por experimentar o
gosto que Ela sente. A despeito de todos Meus esforços, ainda assim não fui capaz de vivenciar
Sua felicidade, pois um mero aroma de Sua felicidade causa uma grande ânsia em Minha
mente. Portanto, farei uma aparição como Cheitanya-Avatar para experimentar esses diversos
tipos de prema. Então, através do exemplo de Minha própria Lila, mostrarei o padrão de
Raganuga bhakti para aqueles que se ocupam nessa ioga.”
Tradução:
“A primeira parte desse sloka afirma que Shriman Mahaprabhu veio para
difundir o Yuga Dharma – Hari Nama Sankirtan. Essa razão, entretanto, é subordinada ao motivo
principal que é corajosamente mostrado na Segunda parte desse verso:
“Nosso Gouranga veio especificamente para fazer o mundo dançar com as quatro
doçuras de Vrindavana, chamadas: dasya, sakhya, vatsalya e madhura rasa.
Uma questão pode ser suscitada nesse ponto: “Como sabemos que o ensinamento
sobre o movimento de Sankirtana é secundário?” Krishna Das Kaviraja responde ao citar as
próprias palavras de Shri Krishna no próximo sloka:
Tradução:
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“Esse Yuga Dharma está sendo propagado por meu angsa (expansão plenária),
mas somente Eu posso outorgar Vraja prema.”
Shri Kaviraja Gosvami também afirma:
Tradução:
Tradução:
Tradução:
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“Quando Svayam Bhagavan aparece pessoalmente todos Seus avataras
descendem juntamente.”
Portanto, como anteriormente Vishnu matou Asuras em favor de Shri Krishna, tendo
a forma do próprio Krishna, a promoção do Sankirtana-Yuga-Dharma foi executada por Vishnu,
de dentro de Cheitanya Mahaprabhu.
Tradução:
Esse karuna é tão raro que não foi dado por ninguém mais desde o advento de
Gouranga no kalpa anterior, pois nenhum outro avatara pôde outorgá-la, mesmo se quisesse.
Por essa razão Shrila Rupa Gosvami chama isso de: ‘anarpita-carim-cirat-karuna’ (misericórdia
há muito tempo não oferecida). Mais sobre esse importante sloka será discutido posteriormente.
Tradução:
“Eu vim para apreciar as doçuras transcendentais. Vou assim saborear muitas
formas de Vraja prema rasa. Estabelecendo o exemplo no saborear dessas doçuras através de
Meu lila, ensinarei Raganuga bhakti, mostrando o padrão de um Raganuga bhakta,
pessoalmente.”
O mistério do aparecimento de Shri Gouranga jaz aqui. Levando Seus associados
confidenciais com Ele, o Senhor provou uma e outra vez a essência de Vraja Prema. Seus
pitorescos lilas podem roubar as mentes daquelas pessoas afortunadas que os ouvem. Ao
mesmo tempo, Shri Gouransundara nos tornou elegíveis para compartilhar o gosto da divina
rasa.
Tradução:
Shri Cheitanya Mahaprabhu disse:
“Eu assumirei o estado mental de um bhakta e assim fazendo, pregarei dharma
ao mundo.”
Um ponto interessante aqui é que o Senhor pessoalmente atuou como um pregador
de Raganuga bhakti; e assim fazendo assumiu o papel de Jagat Guru. No estado mental de um
devoto, Shriman Mahaprabhu executou todos os processos de sadhana que tornam a pessoa
elegível para saborear Vraja Prema bhakti, e também inspirou Seus associados para darem
igualmente, tanto quanto possível um exemplo ideal para todos.
Através de Sua Rasa Lila e passatempos afins, Shri Krishna mostrou o que é estar
aspirando ao reino espiritual, enquanto nosso Gouranga, apresentou os meios para se entrar
naqueles passatempos. Com essa compreensão, os devotos podem naturalmente, ansiar as
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doçuras de Vrindavana e compreender a vantagem de adotar Rupanuga sadhana bhakti. Esse é
o comportamento misericordioso de Gourasundara. Enquanto que no Vraja Lila a karuna do
Senhor foi exibida em sua fase inicial, essa mesma karuna agora amadureceu o seu fruto nos
passatempos de Gouranga.
Alguém pode indagar: ‘De que maneira se relacionam Kali-Yuga-Dharma e Hari
Nama Sankirtana?”
A resposta para essa importante questão é que o Senhor não ensinou os princípios
de Raga bhakti separados da prática de Harinama. Na verdade, Ele pessoalmente executou
Sankirtana. Esse Sankirtana-yajna é exigido para quem seriamente deseja a completa
misericórdia do Senhor. Que fique bem claro que Sankirtana é uma ramificação essencial tanto
de Vaidhi quanto de Raganuga sadhanas. Na realidade kirtana assume um estilo distinto na
tradição Raganuga que é mais poderoso para despertar prema no coração de seus praticantes.
Esse siddhanta é apoiado por Shrila Sanatana Goswami em Seu Brihad Bhagavatamrita
(2/5/219) como se segue:
Tradução:
“Pensamento, meditação e kirtana do Vraja Lila de Shri Krishna são chamados como
‘prema antaranga sadhana’ ou o melhor meio para despertar prema. Mais especificamente no
que concerne a kirtana, os nomes do Ista-devata de alguém (os nomes do Senhor que atraem
especificamente o coração do devoto) são mais efetivos no despertar de prema.”
(Na parte Dois desse livro o tópico Kirtana em relação com Raganunga bhakti será
examinado com maior minúcia).
Tradução:
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“Nesse mundo as pessoas são enamoradas pela opulência. Entretanto, nem a
adoração, nem o amor de tais pessoas me fascinam particularmente.”
Aqui Krishna afirma Sua preferência individual. O que O faz dizer que aisvarya-
mishra bhakti, ou devoção na condição de “temor e reverência” não O comovem especialmente?
A resposta pode ser dada como se segue:
Tradução:
Tradução:
“O universo inteiro pode adorar-Me pelo precesso Vidhi bhakti, mas Vidhi bhakti
não tem a potência, para dar entrada a alguém no estado mental de Vrindavana.”
C.C. Madhya-8
Tradução:
“O que falar desse mundo se mesmo em Vaikuntha, Lakshmi não pode obter o
serviço a Krishna em Vrindavana, devido ao seu apego pelo modo aisvarya de adoração.
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Shrila Kaviraja Gosvami vale-se desse exemplo para provar que Shyamasundara em
Vrindavana é inatingível através do processo Vaidhi bhakti apenas. Com essa compreensão os
devotos devem tornar-se naturalmente relutantes ao modo de adoração de Lakshmi, e aspirar a
seguir os passos dos associados de Vraja de Shri Krishna.
Devido que Raganuga bhakti não ter sido praticada antes da época de Cheitanya
Deva, apenas Vaidhi bhakti não pode prover o seguinte:
1) Uma compreensão das doçuras de Vrindavana.
2) O alcançar o seva direto a Krishna.
3) Entrada em Vrindavana Dham.
Vamos agora examinar porque Shri Krishna mencionou esse verso nesse ponto
da discussão. Já foi afirmado que Krishna não é subjugado pelo amor de Seus aishvarya
bhaktas, mas pelo amor de Seus devotos madhurya. Certamente, alguém pode objetar que:
“Ah! Aqui está um exemplo da parcialidade de Krishna preferindo um tipo de bhakta
a outro! Por que Ele não é equânime a ambos, como prometeu?”
O significado desse sloka do Gita, entretanto, é que Krishna reage igualmente em
conformidade ao estado mental de cada um. O aishvarya-bhakta pode orar ao Senhor Todo
Poderoso, como Sua insignificante parte e parcela; e Krishna certamente reciprocará nesse
humor. Na verdade, o Senhor sempre dá impetuosidade para fortalecer a convicção pessoal no
particular modo de adoração de alguém. Quanto a forma de prema pela qual o Senhor é
subjugado, pode haver dúvida de que Krishna irá concedê-la a Seu Raganuga bhakta? Isso é
chamado de svarupa-anubandhi dharma de Krishna, ou natureza constitucional no bom
relacionamento. Nunca menos que isso, Shri Krishna procede com total amorosidade, louvando
aquele que tenha capturado Seu amor:
Tradução:
“Os devotos que me vêem como seu filho, amigo ou amado, e adoram-Me com
bhakti pura, pensando em Mim como sendo igual ou inferior a eles – somente estes têm o poder
para subjugar-Me com sua afeição amorosa.”
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Nesse verso o termo ‘mora’ ou ‘meu’ é significativo porque por pensar: Shri
Krishna é ‘meu amigo’, ‘meu filho’ ou ‘meu amado’, o devoto faz com que seu sambandha ou
relacionamento amoroso com Krishna se manifeste.
Shri Krishna continua a falar:
Tradução:
“Minha mãe pensa que sou sua criança travessa, podendo amarrar-Me.
Meu sakha (amigo vaqueiro), pode subir em Minhas costas e com pura afeição diz: Você acha
que você é o maioral? Somos iguais. E quando alguma Gopi pune-Me com mana, (ira amorosa
por ciúmes), suas palavras roubam Minha mente como nenhuma récita dos Vedas o faz.”
Testemunhando tal possessividade amorosa nos associados de Vraja de
Krishna, o auto-controlado sábio Shri Shukadeva Muni ficou impressionado com o prodígio. À
Maharaja Parikshit ele falou como se segue (Bhagavatam10-9/13-14):
‘Aquele que não tem lado de dentro e tampouco de fora, que não é limitado pelo
norte, sul, leste ou oeste, e que permeia o universo em todas as direções, Ele cuja forma
verdadeira é o universo – aquele incomensurável Supremo Bhagavan, (“Adhokhsaja”), está
sendo amarrado a um pilão como uma criança castigada pela pura afeição de gopika Yashoda.
Aqui nós encontramos que a vasta e toda penetrante potência do Senhor foi paralisada!”
Em sakha-prema também, após perder uma competição esportiva com Shridama,
Krishna carrega-o em Seus ombros. Veja, o Supremo Senhor cujos pés de lótus não podem ser
vistos na meditação, nem mesmo por grandes sábios e yogis, está agora correndo com um
vaqueirinho em Seus ombros, cujos pés Ele aperta contra Seu próprio peito!
Nesse sloka o termo ‘mana’ (raiva amorosa por ciúmes) aplica-se às Vrajas
Gopis e não às Rainhas de Dvaraka ou às Lakshmis de Vaikuntha. É claro, as rainhas de
Dvaraka podem tornar-se ciumentas de tempos em tempos; mas elas jamais ousariam castigar o
Senhor Supremo, temendo que Ele as abandonasse. Todavia, o aspecto madhurjya do mana-
rasa em Vraja é inigualável. Lá encontramos Priyaji (Shrimati Radharani) em um Kunja tomada
de mana. Ela está repreendendo Shri Krishna que permanece na porta como um mendigo,
culpado de alguma ofensa grave. A fim de subjugar o mana de Radha, Krishna roga o seu
perdão. No final, Ele chega até a prostrar-Se no chão e tocar com Sua pena de pavão nos pés
dela. Porém ainda assim não é exitoso! Apesar de Ele ser o próprio Swayam-Bhagavan, Krishna
cai aos pés de Radharani dizendo:
Tradução
"A fim de outorgar anugraha (misericórdia) aos bhaktas, o Senhor assume uma
forma humana e executa vários passatempos ricamente variados. A narração deles atrairá as
mentes das jivas, assim elas se tornarão bhagavat parayama ou lila parayama (devotos firmes
apegados em ouvir lila Katha)."
Esse verso foi falado por Shukadeva Gosvami a Maharaja Parikshit, que após
ouvi-lo narrar o rasa lila, perguntou: "Se Krishna é apta-kama (auto-satisfeito) por que Ele se
ocupou em romances amorosos com as gopis? A resposta foi: - "Para dar misericórdia aos
bhaktas."
Em seu comentário desse sloka do Bhagavata Shrila Sanatana Gosvami
declara que o termo "bhakta" não apenas se refere as gopis, ou aos outros residentes de
Vrindavana, mas aplica-se a todos os tipos de devotos de Krishna no passado, presente e
futuro. Esse Prakat Bhauma lila foi executado para dar misericórdia a todos. Aos kripa siddhas e
sadhana siddhas bhaktas que há pouco se juntaram a seu lila, isso concede seu desejado
siddha deha em prema. Para os associados nitya do Senhor a misericórdia de Krishna se
manifesta numa nova e variada forma de lila rasa. Em relação aos bhaktas que nascerão no
futuro, ouvir sobre esses passatempos cativantes assegurará a eles a chance de se tornarem
eles mesmos siddha. O que dizer dos bhaktas, pois o lila de Krishna possui uma potência divina
tão incomum que mesmo não devotos podem se converter simplesmente ao ouvi-los. Assim, é
por essas várias razões que Shri Krishna executa seus passatempos. Todavia, além desses
motivos e mesmo além do fato de que Krishna é apta-kama, é para o Seu próprio prazer
transcendental que o Senhor se ocupa em passatempos amorosos.
Após apresentar esse Bhagavat sloka, Krishna Das Kaviraja acrescenta a ele
um breve comentário para clarear ainda mais a sua intenção:
Bhavet kriyaa vidhilim sei iha kaya
Kartabya avasya ei. Anyatha pratyabaya
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Cc. Adi 4
"Ja srutva tat paro bhavet, significa: todos os bhaktas devem se esforçar para
se tornar apegados ao Senhor por meio de ouvir os seus passatempos, pois esse é o vidhi ou
injunção. Negligenciar esse vidhi com certeza dará nascimento a obstáculos no caminho da
devoção."
Ao colocar sua atenção no saborear do rasa encontrado nos passatempos de
Vrindavana de Krishna, Cheitanya Mahaprabhu estabeleceu o caminho a seguir. Aqueles que
seguem os Seus passos descobrirão o encanto divino e se tornarão lila-parayan (apegados a
ouvir Vraja Lila Katha). Como sravanam, kirtanam e smaranam do Vraja Lila formam a base de
Raga-marga, esse é o método prescrito de Shri Gouranga para alcançar Vraja Prema. Assim,
Krishna Dasa Kaviraja incluiu a pregação de Raganuga Bhakti dentro da razão principal para o
descenso de Cheitanya Deva:
'raga marga bhakti loke korite pracaram
Cc. Adi 4
"O Senhor veio para outorgar Raganuga Bhakti às pessoas."
O Bhagavat conclui:
Vamos examinar agora em que contexto Shrila Rupa Gosvami introduz o tópico
de Raganuga Bhakti no Bhakti Rasamrta Sindhu:
Na primeira categoria - Sadhana Bhakti, Shri Rupa relaciona dois tipos: Vaidhi e
Raganuga. Ambos os caminhos se destinam a bhaktas condicionados que aspiram ao avanço
ao estágio de bhava.
Na sua apresentação de sadhana bhakti, Shri Rupa primeiro descreve
os 64 ramos de Vaidhi Bhakti e então diretamente prossegue na explicação de Raganuga Bhakti
sem nenhuma interrupção no fluxo. O trato dele do assunto de Raga é direto e simples. Na
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escola de Shri Rupa o Vaidhi Bhakti Marga leva direto a Raga Marga. Nisso, um após o outro,
sravan, kirtana, smaran e quase todos os sessenta e quatro ramos de Vaidhi Sadhana também
são úteis para o praticante de Raganuga.
Tradução: "Por favor, todos vocês dêem suas bênçãos misericordiosas a Shri
Rupa para que ele possa narrar constantemente os tópicos do Vraja Prema Rasa."
Que papel especial Shri Rupa executa na missão de Shri Cheitanya
Deva, e por que o Senhor estava tão ansioso por vê-lo totalmente pleno de poderes? Por que
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Mahaprabhu queria tornar Shri Rupa Prabhupada o Adi Guru para todas as gerações futuras do
Gaudiya Vaishnava. Por conseguinte, Shri Rupa manifestou o manovista do Senhor ou o desejo
íntimo dEle neste mundo. Shrila Kaviraja Gosvami dá a indicação do anseio interno do Senhor
como segue:
Tradução: "Da mesma forma que o Senhor Supremo deu poder ao Senhor
Brahma para criar o universo, Shri Cheitanya Deva, vendo que os passatempos confidenciais de
Vrindavana (Vrindavana rasa keli bartam) tinham sido perdidos para as pessoas desse mundo,
ansiosamente deu poder a Shri Rupa para outra vez fazer com que esses assuntos fossem
conhecidos.
Enquanto a árvore da misericórdia de Shri Cheitanya Mahaprabhu
cresceu em Shri Rupa, logo deu frutos maduros em livros como Bhakti Rasamrta Sindhu, Ujjvala
Nilamani, Shri Vidagdha Madhava, Shri Lalita Madhava, Dan Keli Kaumudhi, Shri Govinda
Lilamrita (compilado sob suas ordens) e muitos outros. Foi o desejo de Mahaprabhu que as
futuras gerações lessem esses lila-kavya, porque ao fazerem isso, o anseio pelo Braja Prema
Bhakti estava destinado a despertar nos corações dos leitores. Shri Narottama Das Thakura
canta em louvor a Shri Rupa e Sanatana como se segue:
Tradução: "As pessoas cujo ruci foi despertado, mas cuja Raga (atração
espontânea) ainda não se manifestou, podem certamente seguir os passos dos Ragatmikas
Bhaktas. Mesmo um mero reflexo (abhasa) de 'raga' deve aparecer no coração do devoto (que
atua como um cristal refletor), o sadhaka se tornará revigorado e extático. Esse ruci advém pela
audição dos tópicos das escrituras que causam a avidez para obter a boa fortuna e o seva
íntimo como dos Vrajavasis."
Como declarado anteriormente por Shrila Kaviraja Gosvami, esse tipo de
anseio deve ser procurado por aqueles em cujos corações lobha se manifestou, esses são
verdadeiramente afortunados. No Bhakti Rasamrita Sindhu, Shri Rupa diz:
Tradução: "Os devotos cujo ruci ainda não despertaram, mas que se sentem
inclinados em executar Raganuga Sadhana devem fazê-lo combinado com Vaidhi Bhakti, (bem
como aqueles que não estão na plataforma avançada de ruci com o propósito de ensinar aos
outros.) Deve-se notar, contudo, que essa mescla não é equivalente a adicionar algumas
práticas Raganugas ao Vaidhi Bhakti. Preferencialmente, corresponde a adotar o total sistema
de Raga, mantendo as práticas de Vidhi a fim de se manter o equilíbrio."
Uma pergunta relevante surge agora: "Em qual estágio do avanço espiritual
pode o Raganuga Bhakti se iniciar?" Segundo Shri Rupa, Raganuga Bhakti é classificada como
um ramo de sadhana bhakti que vem mesmo antes do estágio de bhava. Então, no verso final
de Shrila Jiva Prabhu a evidência é dada que Raganuga Sadhana pode começar antes de ruci.
No seu livro Ragavartma Chandrika, Shrila Visvanatha Chakravarti discute Raga Bhakti em mais
detalhes e nos informa que o processo pode iniciar mesmo antes do estágio de anartha nivrtti.
Tradução: "Jugal Kishora, Radha Krishna é minha vida, pois eu não tenho outro
objetivo, nascimento após nascimento."
Enquanto uma trepadeira cresce na direção do sol, nossa bhakti lata luta para
crescer na direção dos pés de lótus de Radha Krishna. O sadhana ou o processo de aguar, é
sravan, kirtana e smaran dos nomes, formas, qualidades e passatempos de Radha Krishna. Se
nós negligenciamos nutrir nossa bhakti lata dessa maneira, contudo, a trepadeira da devoção
pode não crescer adequadamente. Em seu Guruvastakam, Shrila Visvanatha Chakravarti
descreve como o Guru ensina esse processo:
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sri radhika madhavayor opara
madhurjya lila guna rupa namnam
protikshan asvadhan lolupasya
vande guroh sri caranaravindam
"Os seis Gosvamis foram a Vrindavana e propagaram ao mundo o nitya Braja lila de
Radha Krishna.
Shriman Gourasundara é Data-Siromani (o Supremo Doador) - porque Ele veio
para dar Radha Krishna prema, a todos. Como a chuva que cai sobre a pedra, no oceano, nas
praias, e planícies, etc., sem considerar onde a água seja necessária, Shri Gouranga derramou
sua misericórdia de Vraja Prema indiscriminadamente a todos. "Aqui está, pegue!" dizia o
Senhor. Nós devemos responder: "Não, nós não podemos discutir o lila de Radha Krishna." Que
má fortuna! Com lágrimas de remorso vamos cultivar o humor de Shri Narottama Dasa Thakura:
"Eu vim a essa forma humana de vida (uma rara oportunidade) mas ao invés de
ouvir as glórias de Radha e Krishna Bhajan, preferi beber veneno.
"Shri Narottama também se lamenta da seguinte forma:
"Oh Senhor Hari! Minhas atividades são desperdício! Nem por um momento,
executei bhajan aos pés de lótus de Radha Krishna. Assim como posso compreender a nossa
relação que se baseia em raga."
Após essa discussão sobre o objetivo da vida, e os meios de alcançá-lo, Shriman
Mahaprabhu inquiriu de Ramananda Raya sobre o dever supremo de todos:
"Meu voto é sempre cantar o lila rasa de meu Prana devata Shri Shri Jugal
Kishora. Quer eu viva ou morra esse é meu único desejo; assim ora o caído Narottama Das.
Lila Smaran é minha vida, a morada madhura do prazer onde o jugal-vilas de
Radha e Krishna forma a nata. Nenhum outro sadhana pode ser tão atrativo; pois essa é a
essência de todos os princípios regulativos.
Eu sou muito desafortunado, a providência me condenou, pois não posso
saturar meus ouvidos com o guna-kirtana de Shri Radha. Mas certamente, aqueles que estão
sempre discutindo sobre o lila, rasa e prema dEla na companhia de Seus devotos alcançarão o
abrigo de Shri Shyamasundara. Por outro lado, aqueles que criticam esse processo jamais
alcançarão a perfeição; nem vamos ouvir os nomes dessas pessoas!"
Devemos acalentar a convicção de que os lilas de Radha Krishna são
completamente transcendentais. Shri Krishna é a corporificação da religião e a fonte original de
todas as encarnações. Além disso, Ele é Rasa-Brahman - a forma final de todas as doçuras
divinas em pessoa. Portanto, o parakiya rasa de Shri Krishna de Vrindavana não se compara
com nenhum romance deste mundo; pois esse é o veredicto dos shastras.
Os Rupanugas Vaishnavas jamais desejam imitar esses passatempos, ao
contrário se esforçam para entrar no passatempo adotando o humor e doçuras adequados. Esse
sistema é diretamente oposto ao abominável comportamento dos prakrita sahajiyas que desejam
imitar o pranaya keli de Radha Krishna na plataforma material. É através desse esforço com fé,
e pelos meios corretos junto ao Rupanuga marga, portanto, que o caráter e inclinações de uma
pessoa vão se purificando. De fato, é a natureza toda auspiciosa dos lilas que atuam como
agente purificador.
O exemplo é dado nos shastras, que embora elementos impuros flutuem nas
águas santificadas do Jaga-pavani (Mãe Ganges), a potência espiritual do Ganga permanece
intacta. De fato, ela limpa todas as impurezas. Da mesma forma, o madhura lilas de Shri Krishna
tem a potência de limpar todos os elementos sujos no coração. A pessoa precisa apenas ouvi-
los com fé e devoção.
Até o ponto que a pessoa fica atraída pelas qualidades encontradas no divino
lila rasa, ela irá automaticamente perdendo o apego aos pretensos prazeres desse mundo; a
atenção dessa pessoa não pode ser direcionada a dois objetos ao mesmo tempo. O nível de
êxtase experimentado por Radha e Krishna e Seus associados gopis está muito além do
desfrute minguado encontrado nesse mundo que os devotos afortunados que se apegaram a
ouvir os passatempos também podem saborear esse êxtase até um determinado grau. De fato,
uma simples gota desse mahananda é poderosa suficiente para fazer a felicidade desse mundo
parecer insignificante. Como Shri Krishna declarou no Bhagavad Gita:
"As jivas podem se restringir do gozo dos sentidos, embora o gosto pelos
objetos dos sentidos permaneça. Porém, ao experimentar um sabor superior, ele definitivamente
abandonará todos os apegos anteriores."
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Como uma lei natural todo ser humano está atraído ao gozo sensorial, o objeto
principal disso é o sexo oposto. É portanto, recomendado se afastar do desejo sexual praticando
celibato, controle dos sentidos, uma dieta regulada e yoga asana, etc. Porém, devido a que
esses métodos, sozinhos não podem proporcionar um gosto superior ao prazer sexual, eles só
conseguem no máximo desatar o nó apertado da luxúria do coração por algum tempo. Porém,
não o desata para sempre. Sendo o sabor máximo desse mundo, o prazer sexual só pode ser
substituído pelo gosto do prazer transcendental. Mas é só após ouvir sobre os romances
amorosos divinos de Radha Krishna e das gopis de Vrindavana que a pessoa compreende a
verdadeira natureza de kama. É devido a kama ser o ponto principal da relação de Radha e
Krishna que todo macho e fêmea desse mundo possui (ele ou ela) em seu coração o desejo que
tudo consome de desfrutar romances amorosos, com o sexo oposto. Essa atração deve ser
compreendida como constitucional em todos os seres porque nasce do kama supremo entre
purusha e prakriti originais. Portanto, se uma pessoa é de fato séria em experimentar não
apenas o gosto espiritual superior mas o máximo em prazer, ela precisa apenas redirecionar sua
atração do romance pervertido desse mundo para os romances amorosos sublimes de Shri Shri
Radha Govinda. Nisso, certamente, o caminho de nivrti, ou abstinência (celibato, controle dos
sentidos, etc.) será o mais efetivo. O gosto material mais elevado será afogado na sua
contraparte espiritual direta - o puro Braja Madhura Rasa. Esse é o param drstva (gosto
superior) ensinado por Shri Krishna no Gita.
Naimittika lilas (passatempos especiais em ocasiões raras) tal como Govardhana Puja,
Radhastami, Janmastami, Dan-lila e muitos outros; nenhum desses passatempos são
excessivamente sensuais.*
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• Para aqueles que são inclinados em executar lila-smaran-sadhana, o Goura lila vai
preceder cada correspondente lila de Radha Krishna. Nesse assunto vasto não há certamente
razão de se sentir hesitante.
UM EXEMPLO VÍVIDO
Iremos agora estudar o modelo da perícia dos Gosvamis em descrever os romances
amorosos de Radha Krishna sem incitar a luxúria material.
O excerto foi selecionado do Vidagdha Madhava de Shri Rupa Gosvami que se
compara ao 'Premananda-rasa-uttal-taranga-maya maha sagar' (o grande bater do oceano de
prema rasa repleto de elevadas ondas das variadas doçuras transcendentais). Aqui, todos os 64
kalas ou aspectos intrincados do Natya shastra, se mesclam para elucidar o sidhanta por detrás
de várias expressões de Vraja prema dharma. Por exemplo, o sistema rasa shastra primeiro
explica o Purva Raga (o estágio antes do encontro) da Nayika (heroina). Assim, no primeiro ato,
Shri Rupa descreve o anuraga de Radharani, ou extrema ansiedade, pela união com Krishna em
três aspectos:
1) Nama anuraga - A intensa atração de Shri Radhika pelas duas sílabas, Kri - shna.
(Após ouvir o verso de Shri Rupa): "Eu desejo milhares de línguas e milhares de ouvidos para
saborear e ouvir os nomes de Krishna, etc." mesmo Haridasa Thakura ficou estupefato diante
dessa extrema atração pelo nome de Krishna!)
2) Guna Anuraga - A mente de Radharani foi roubada pelas inúmeras qualidades de Shri
Krishna, começando com o chamado melodioso de Sua flauta.
Krishna: "Oh idosa senhora injustamente desconfiada, você não precisa ficar preocupada. A
partir do momento que ouvi que ela é sua nora, mantive alta consideração resspeitosa por Ela."
Jatila: "Oh Vishaka, por que você desperdiça tanto tempo?"
Vishaka (sorrindo levemente): "Oh respeitada Jatila, vendo um belo corço diante de nós,
ficamos momentaneamente atônitas (com o sentido de que ao ver Krishna nós fomos incapazes
de nos mover. Nisso falando com palavras de duplo sentido enquanto olhava para o céu):
"Ei corço cruel! Por que você desconsiderou a amorosa corça de Lalita que está
tomada de afeto por você? Por que você perde tanto tempo vagando pelas florestas e falando
eloquentes palavras dolorosas ao coração?"
Madhumangala: "Oh Priya Sakha! Veja como o papagaio macho negligencia desfrutar das
romãs?"
Krishna (Manifestando um doce sorriso, secretamente dirigindo sua atenção a Radha):
"Ei romã sedutora, ao ver a sua cor avermelhada macia o papagaio macho ficou
atraído por você incapaz de advinhar se você está madura por dentro ou não, contudo, o
papagaio ficou indiferente!"
(Vishaka olhando na direção de Radha gesticulando com o olhar).
Radha (Pensando consigo mesma): "Oh coração inquieto, seja paciente, seja paciente!"
(Então falando no ouvido de Vishaka): "Oh Sakhi, devido ao temor eu não pude nem beber a
doçura das palavras nectáreas de Hari; nem fui capaz de com cuidado colocar o meu olhar em
sua bela face. Então, finalmente, quando um momento tranqüilo veio após esperar por tanto
tempo, que má fortuna que tudo foi estragado por essa velha mal humorada!"
Jatila (Pensando consigo mesma): "Ah que assombroso é o efeito do darshan de Krishna.
Exceto por isso, vejo tantos outros elementos perturbadores para minha nora. (Falando alto):
"Oh Vishaka, veja só, a tarde já passou; vamos diretamente para o Surya mandap
executar o puja."
(Dizendo isso, as três partiram)
Krishna: "Oh Priya sakha, esse raio de lua (Shri Radha) segue a lua cheia (Paurnamasi
Devi), assim vamos nos abrigar nela."
Assim termina o segundo ato da peça Vidagdha Madhava de Shri Rupa Gosvami.
Ouvindo essa peça teatral, Shri Ramananda Raya disse a Cheitanya Mahaprabhu:
"Deixe-me louvar a poesia de Shri Rupa com milhares de bocas! De fato, isso não é
poesia, mas uma cachoeira de néctar! Aqui os muitos aspectos da escrita se combinam para
apresentar a essência de todo o sidhanta transcendental. Além disso, as numerosas expressões
de Vraja Prema Bhakti são espantosamente descritas fazendo com que a cabeça e o coração do
ouvinte girem de êxtase!
"Aquele que descende na Kali Yuga como avatara da misericórdia para outorgar Seu
mais precioso tesouro, a saber, o aspecto mais elevado de madhura prema rasa (que jamais foi
concedido antes de Seu descenso no kalpa anterior) e cujas formas são deslumbrantes como o
ouro derretido, que esse Senhor Supremo Shri Sacchinandana sempre se manifeste na câmara
mais íntima de seus corações."
Anteriormente em nossas discussões foi declarado que Shri Gourasundara veio para
dar as quatro doçuras principais de Vrindavan a saber: dasya, sakhya, vatsalya e madhura rasa.
Nesse verso, contudo, Shri Rupa Gosvami exclusivamente direciona sua atenção para madhura
rasa. Por que? Porque o amor conjugal é a posse mais saboreada de Shri Krishna. Shrila
Kaviraja Gosvami declara:
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"Em Vrindavana reside um cupido divino sempre jovem. Sua adoração é conduzida
com o kama bija e o Kama Gayatri. Essa forma de Krishna subjuga entidades masculinas,
femininas e mesmo objetos móveis e imóveis; o que falar da atração que o próprio Cupido Deva
sente!"
Aqueles que adoram com o Kama Gayatri Mantra ao nava-kishora Shyamasundara
porque é "Ele" a quem se está chamando pela entoação diária do mantra. Krishna é o
Kamadeva (cupido) divino de Vrindavana Puspa-banaya (um jovem romantico que atira cinco
tipos de flechas de flores nos corações das Vrajas Gopis) e quando Krishna aparece ante elas
no Seu aspecto mais confidencial, Ele é chamado Ananga.
Dessa maneira, é através do chamar Shri Krishna pelos nomes que designam Sua
forma final e humor que a pessoa pode alcançá-lo da melhor forma. Portanto, o próprio
Cheitanya Mahaprabhu estabeleceu o canto do Kama Gayatri e todos os Gaudiya Sampradayas
fidedignos o transmitiram mediante o parampara. Ainda mais específico, o destino daqueles que
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pronunciam o Kama Gayatri mantra é indicado pela declaração de Shrila Visvanatha
Chakravarti, na abertura do seu comentário do Kama Gayatri:
"Esse maha Kama Gayatri mantra que o sadhaka canta para obter nascimento no
ventre de uma Vraja Gopi
será agora discutido..."
'ADHIKARA'
(Elegibilidade)
Quem tem adhikara para executar o Raganuga Sadhana tanto no aspecto
Sambandhanuga ou Kamanuga? Shri Rupa Gosvami com clareza responde essa pergunta no
Bhakti Rasamrita Sindhu. Antes de consultar suas declarações, contudo, vamos examinar,
cuidadosamente, os seguintes versos do Cheitanya Charitamrita:
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"A disposição de se absorver plenamente nas doçuras não podem ser obtidas
meramente pelas atividades piedosas nem por milhões de nascimentos. Ela pode apenas ser
comprada por um único preço: laulam (avidez intensa). Onde estiver disponível a pessoa deve
comprá-la imediatamente."
Laulam e o anteriormente discutido lobha são idênticos. Apenas quando lobha
desperta o devoto se torna elegível para adotar Raganuga Sadhana. Nada mais é necessário. E
Shri Rupa outra vez confirma essa mesma conclusão, nos seguintes dois slokas:
Tatra adhikari
"Qualquer um que ouça sobre o nishta resoluto dos associados Ragatmika Vrajas de
Krishna, e a partir dessa audição fica ansioso de alcançar essas doçuras - apenas ele é elegível
para executar Raganuga bhakti sadhana."
No verso seguinte Shri Rupa volta sua atenção ao Kamanuga Raganuga Bhakti:
"O objetivo especial de prema seva é dirigido aos pés de lótus do amado de Radha,
Shri Krishna é inatingível por devatas como Brahma, Shiva ou Ananta Shesha. Apenas aqueles
que seguem nos passos dos Vrajavasis com profundo lobha podem alcançar tal tesouro. E para
tal profundo lobha despertar, a pessoa deve executar diariamente o manasi seva do Astakala lila
de Shri Krishna de acordo com o processo de Raganuga Bhakti. Eu ofereço minhas reverências
a esses passatempos prazerosos que continuamente se desdobram na terra de Vrajabhumi."
Agora vamos considerar a pergunta que é feita geralmente de que se Brahma, Shiva,
Ananta Shesha ou mesmo Lakshmi não desfrutam do privilégio de conhecer o lila de Krishna
como podem pessoas caídas como nós ler o Govinda Lilamrita? Esse argumento é às vezes
apresentado para evitar a leitura desse importante livro e também para desencorajar outros a lê-
lo. Porém é essa mentalidade que Cheitanya Mahaprabhu veio promover? Compreendendo a
intensão do Senhor Shrila Kaviraja Gosvami escreve:
"O gupta-bhava-sindhu (oceano de Vraja Prema rasa) é secreto, pois mesmo Brahma
não pode saborear sequer uma gota dele. Contudo, Cheitanya Mahaprabhu distribuiu esse
tesouro para aqueles que estão lutando no samsara. Não considerando tempo ou lugar,
Mahaprabhu veio para dar essa riqueza a qualquer um que anseia por Ele com Sua reputação
de Data-shiromani - o Supremo Doador."
Pela misericórdia de Cheitanya Deva o elevado prema que é durlabha (inacessível)
para Brahma, se torna sulabha (facilmente obtenível) para as pessoas caídas da Kali Yuga. A
única necessidade é o desejo ansioso de obter.
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O gupta bhava sindhu de Shri Vrindavana é especialmente encontrado no Govinda
Lilamrita. A semente desse livro brota quando Shri Rupa Gosvami compôs os dez sutras
intitulados Smaran mangala que apresentam a base do Astakala lila de Shri Krishna( apêndice
em anexo). Quando Shri Rupa observou o poder extraordinário da escrita de Krishna das
Kaviraja, contudo, ele ordenou e abençoou o Kaviraja para desenvolver o tema expandindo a
narração do lila encontrado nos seus dez sutras originais. Assim, essa apresentação detalhada
dos passatempos óctuplos diários de Shri Shri Radha Govinda se tornou conhecida como
Govinda Lilamrita. Na conclusão de cada capítulo, Shri Krishna Das diz:
"Como resultado do seva maduro de Shrila Rupa Gosvami que surge pelo beber do
Madhu dos pés de lótus de Shri Cheitanya Deva, a inspiração de Shri Raghunatha Das, a
associação de Shri Jiva e a bênção de Shri Raghunatha Bhatta, o Govinda Lilamrita fez o seu
advento."
Assim, por meio do maha-kripa desses acharyas originais lobha pode despertar no
coração de todos os leitores para alcançar o nikunja seva de Radha Govinda. Isso, através do
banho diário da mente no oceano nectáreo do Govinda Lilamrita a arte do manasi seva aos
passatempos diários óctuplos de Radha Krishna podem ser compreendidos. Esse livro sagrado
é a nata da literatura dos Gosvamis e com certeza destrói a doença da luxúria do coração. O
Kaviraja (fazendo o papel de um psicólogo divino) prescreve o Govinda Lilamrita como o
remédio ideal para qualquer um que deseje sobrepujar o bhava-roga (doença do apego
material):
"Se Goura não tivesse vindo, ai de mim! O que teria acontecido? Poderia alguém
manter a compostura? Quem transmitiria o superlativo premarasa de Shrimati Radharani?"
Ao fazer de todos, objetos de Sua compaixão, Shri Gourasundara pregou a grandeza
máxima de Radha-prema. Ao fazer isso, o mahabhava grandemente elevado que não apenas
Radha mas as Suas sakhis e manjaris possuem, se tornou obtenível por aqueles que seguem os
passos de Goura Sundara. Antes da aparição de Shri Cheitanya Mahaprabhu essa misericórdia
era inconcebível; mesmo dentro das quatros Sampradayas Vaishnavas anteriores. Vasudeva
Ghosh continua:
"Uma vez que o criador moldou o coração de Vasu Ghosh de pedra, ele não
consegue se derreter."
Tipicamente, Vasudeva Ghosh se apresenta como um devoto neófito, pois essa é a
característica pessoal dos premika-bhaktas de se sentirem desprovidos de prema. Shriman
Mahaprabhu costumava dizer - Eu não adquiri nenhum traço de prema por Shri Krishna." Assim,
'dainya sadhur bhushan' - humildade é o ornamento de um sadhu. Porém a submissa súplica de
Vasu Ghosh contém uma instrução que será benéfica para todos: Ainda que o coração da
pessoa de fato, não se enterneça mesmo ao executar Goura Kirtana, deve-se compreender que
ela deva estar desejando algo além da especial karuna de Mahaprabhu; caso contrário, o
processo de enternecimento já teria acontecido. Essa canção é demasiadamente valorosa para
aqueles que prestarem atenção no seu significado.
"De todas as Vraja gopis em termos de beleza, qualidades, boa fortuna e prema, Shri
Radhika é a melhor."
A supremacia de Shri Radhika entre todos os bhaktas de Krishna, incluindo as Vraja
gopis é explicada por Shri Kaviraja Gosvami como segue:
"Apenas uma pessoa que possui centenas de qualidades que Eu não tenho pode me
dar prazer. Por toda a criação contudo não há ninguém com essas credenciais exceto Shri
Radhika. Minha forma suprema que atrai a todos os três mundos derrota o charme de mesmo
milhões de Cupidos; todavia o tranqüilo darshan de Shri Radhika tranquiliza Meus olhos. O som
de minha flauta atrai todos os seres vivos; porém, o som da voz de Shri Radha, rouba meus
ouvidos. A fragrância de meu corpo é o suficiente para preencher toda a criação; porém o aroma
do corpo de Radharani seduz minha mente e coração. Embora meus lábios sejam a fonte do
gosto universal, o gosto dos lábios de Radha me escraviza. Embora o meu toque seja mais
suave que milhões de lua; o toque de Radha é o Meu único conforto. Eu sou a única causa da
felicidade por todos os três mundos, ainda assim, a beleza e qualidades de Radhika são os
meus únicos meios de subsistência!"
Todos os Vaishnavas desejam a misericórdia de Krishna. O karuna de Shri Krishna contudo
é para ser obtido de seus devotos. Como o próprio Shri Krishna declara no Cheitananya
Bhagavata Adi 1:
amara bhakta puja ama hoite boro
"Oh Narada deixe que a verdade seja falada repetidamente, então outra vez, mais
outra vez, uma vez mais: sem a misericórdia de Shri Radha a Minha misericórdia não pode se
manifestar."
(A declaração enfatizada três vezes é tida como final. Essa repetição séxtupla
portanto, constitui a sanção dobrada de Shri Krishna).
Vamos agora examinar como se tornar um devoto de Shri Radha adequado à missão
de Cheitanya Mahaprabhu. Isso é discutido no verso mangala carana mencionado anteriormente
de Shri Rupa Gosvami.
"Aquele que descende na Kali yuga como o avatara da misericórdia para outorgar o
seu tesouro mais precioso, a saber o aspecto mais exaltado de madhura prema rasa (que não
foi concedido desde o seu descenso no Kalpa anterior) e cuja forma é maravilhosa como ouro
derretido, deixe que o Senhor Supremo Senhor Shri Sacchinandana sempre se manifeste na
câmara mais íntima de seus corações."
Os Acharyas Gaudiya Vaishnavas colocaram ênfase especial no significado interno
desse sloka. Shri Rupa originalmente o compôs como mangala charana da peça Vidagdha
Madhava. Então Shrila Kaviraja Gosvami também o usou no seu Cheitanya Charitamrita para
outorgar bênção:
Que o assunto do sloka de Shri Rupa seja 'dado como uma bênção' para todos pela
misericórdia de Shri Cheitanya Deva!"
Que tipo de bênção Shrila Kaviraja Gosvami especificamente se refere aqui? Todos
os Vaishnavas decerto se beneficiariam em saber. À primeira vista é claro que Shri Gouranga
veio para distribuir a Sua posse mais pessoal:
Unmata ujjvala madhura bhakti rasa. Porém, Shri Rupa também descreve esse
karuna como 'anarpita carim cirat' - uma misericórdia não disponível desde há muito tempo, ou
seja, desde o último descenso de Mahaprabhu na Kalpa anterior. Uma pergunta aqui surge
naturalmente: Como pode ser declarado que anteerior ao Goura Avatara o Vraja Madhura Rasa
não estava disponível?"
Nós podemos citar o exemplo dos sábios de Danyakaranya, que pela graça do
Senhor Ramachandra receberam formas de gopis para servir o Senhor Krishna na Dvapara
Yuga. Os Shrutis também receberam o mesmo tipo de perfeição como declarado pelo
Bhagavata e Cheitanya Charitamrita. Assim o que Shri Rupa quis dizer com essa declaração?
A resposta é que Shriman Goura Hari descendeu para distribuir o madhura
rasa que é diferente do amor conjugal de Shri Radha, Shri Chandravali e de suas outras sakhis.
De fato, esse sloka promove um novo tipo de madhura rasa que objetiva o serviço de
Vrindavana-isvari de Shri Radha. O alvo desse amor não é Krishna sozinho, mas Radha e
Krishna juntos. Esse amor é chamado Radha dasya prema ou Manjari bhava. Esse é o presente
único e especial da misericórdia de Cheitanya Mahaprabhu.
Anarpita-cari maha karunar dana'!
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MANJARI TATTVA
Radha-dasya significa serviço a Radharani na forma de uma manjari Gopi. Esse
sthayi bhava (doçura permanente) estando indisponível desde o avatara anterior de Cheitanya
Mahaprabhu, é raríssimo. Shri Rupa designa o tipo de misericórdia requerida para receber esse
'anarpita cari maha karuna'. Sendo a doçura conjugal última, Radha dasya é chamada 'unnata-
ujjvala' madhura rasa. No Bhaktirasamrta Sindhu Shri Rupa categoriza com mais detalhes a isso
com Bhavollasa-rati:
No Madhura Rasa quando o afeto do devoto por Krishna é igual ou maior que o afeto
a qualquer outra pessoa, é um sthayi bhava conhecido como Shri Krishna rati. O amor desse
devoto por outro Krishna bhakta é um sancari bhava, ou seja doçura subordinada. Porém se o
afeto permanente do devoto por Radha excede o montante de amor por Shri Krishna, esse tipo
de prema não é mais chamado sancari bhava pois alcança o status de permanente como sthayi
bhava chamado Bhavollasa rati.
Para a compreensão clara desse sloka Bhavollasa-rati é necessário consultar o
Ujjvala-nilamani. Nesse texto Shri Rupa descreve cinco tipos de sakhis no grupo de Shri Radha.
Elas são as seguintes:
Shri Rupa nos informa que os grupos acima de gopis podem ter mais afeto por Krishna, um
afeto igual por ambos, Radha e Govinda ou mais afeto por Radha. As Parama prestha sakhis
(lideradas por Lalita e Vishaka) e as Priya sakhis acalentam afeto igual por ambos Radha e
Krishna. As sakhis em geral de Shri Radha tem mais afeto por Krishna do que por Ela. Como
Shri Rupa explica no Bhavollasa-rati sloka esses dois tipos de afeto constituem o aspecto mais
comum de Madhura rasa chamado 'Shri Krishna rati'. No Bhakti rasamrita sindhu essa doçura é
chamada: 'Sambhog-icchatmika' madhura bhakti, pois é a forma nascida do desejo de desfrutar
romances amorosos conjugais com Krishna. Esse tipo de madhura rasa foi anteriormente
alcançado pelos sábios de Danyakaranya e pelos Shrutis. O aspecto especial do madhura bhakti
que Cheitanya Mahaprabhu introduziu chamado Bhavollasa rati pertence as prana sakhis e nitya
sakhis, que são também conhecidas como manjaris.
Uma característica que distingue as manjaris é o seu humor anugatamayi: elas
humildemente servem e seguem os passos das parama presthas, priya e sakhis em geral que
por seu lado são svatantra (servem Radha e Krishna quando eles desejam).
No Bhakti rasamrita sindhu as manjaris prema são chamadas tad-
bhavicchatmika, o que significa que elas não se unem pessoalmente com Krishna. Ao contrário,
a única ambição é servir Radha. As manjaris se satisfazem ao unir Radha com Krishna. Ao vê-
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los assim unidos e executando seva que é necessário para aquele momento, as manjaris
experimentam mais prazer que Radha e Krishna.
Literalmente o termo 'manjari' significa estame ou a parte da flor que produz o pólen. Pode-
se observar que quando uma abelha extrai o mel de uma flor ela deixa sua manjari intacta. A
manjari serve o propósito de seduzir a abelha. Semelhantemente, as serviçais de Radharani
estimulam e induzem a abelha negra 'Shri Madhusudhana' para desfrutar a beleza dourada da
flor champaki (Shrimati Radharani). É portanto devido a sua própria natureza e seu humor de
serviço que essas gopis são chamadas manjaris. No Ujjvala nilamani as manjaris são assim
descritas:
Tradução: "A pessoa não deve desejar se tornar uma Sakhi e ter mais afeto por Krishna ou
afeto igual por Radha e Krishna. Preferivelmente, aspiramos discutir Krishna Katha no humor
das Priya-narma-sakhis (manjaris). Nesse grupo Shri Rupa Manjari é a líder (Shri Rupa
Gosvami) seguida por Shri Rati Manjari (Shri Raghunatha Das Gosvami), Shri Labanga Manjari
(Shri Sanatana), Shri Manjulali (Shri Lokanath), Shri Rasa Manjari (Raghunatha Bhatta) e Shri
Kasturi Manjari (Krishna das Kaviraja), bem como muitas outras gopis ocupadas no prema seva
aos pés de lótus de Radharani. Sirvamos essas manjaris tão intimamente que possamos receber
as ordens delas apenas com gestos."
Shri Raghunatha Das exclama:
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"Vrindavan-isvari Shri Radha é a deusa de minha vida; porque Giridhari Shri Krishna é
o amado do coração dEla, nós adoramos a Ele também."
Tradução: "Sendo uma dasi de Radha, eu apenas dependo dela, pois eu não sou uma
mendiga da misericórdia de Krishna."
Significado: Como uma serviçal confidencial de Radha, as manjaris são ashrayas vigraha de
Radha Prema. Porque Krishna depende de Radha para sua felicidade última, Ele geralmente se
abriga nas manjaris para atingir o objetivo de Sua afeição (Shri Radha). Assim, as manjaris não
precisam mendigar a misericórdia de Krishna; ou melhor, Krishna frequentemente se aproxima
delas como mendigo para satisfazer os Seus mais íntimos desejos.
E outro verso:
tomar kanta bolei shyamsundar ke bhalo lage
kintu paripurna atma-samarpan tomatei
Tradução: "Oh Radhe, uma vez que Shyamasundara é seu amado, eu também sou afetuosa
com ele, mas a minha rendição plena é a seus pés."
As manjaris dizem: 'amara rai-er' (nós pertencemos a Radha)! E com seus corações
radiantes de orgulho da dignidade de Radha elas informam a Shyamasundara: 'rai amader, ei
Katha tomar hridaye lege takuk! "Radha é nossa, que essas palavras fiquem gravadas no Seu
coração!"
Elas continuam: "Shyam, você sabe porque você é tão belo? É porque Sua Priya está
sentada a Seu lado.
radha sangue jada bhati tada madan mohanah
anyatha visva ssvayam madan mohita
Fique avisado que se você causar algum problema, nós, como dasis de Radha, o
escoltaremos para fora do Kunja!"
No Cheitanya Charitamrita se declara:
Tradução: "A alegria dos servos de Krishna é como um vasto oceano; o prazer
experimentado por um milhão de Brahmas não se compara com uma simples gota desse
oceano."
Será que após isso tudo, exista o sabor superior na felicidade dos devotos de Krishna?
Obviamente Shri Raghunatha das afirma isso quando ora:
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"Oh benevolente Radhe, meu coração queima com o intenso desejo de mergulhar no
oceano nectáreo do seu nitya seva. Se você permanecer indiferente, qual será o significado de
minha vida, de minha casa em Shri Vrindavana e até mesmo de Shri Krishna para mim?"
Vilapa kusumanjali - 102
Tradução: "Sem adoração a poeira dos pés de lótus de Radha, sem se abrigar nos kunjas de
Vrindavana, onde os passos dela são exibidos, e sem se juntar às servas dela que possuem
uma profunda compostura, como pode alguém se qualificar para se banhar num lila rasa sindhu
confidencial de Shri Shyamasundara?"
No seu Vrindavana Mahimamrita Shrila Prabhodhananda Sarasvati recomenda o
seguinte:
Tradução: "Vamos nos refugiar nas servas vistosamente decoradas de Shrimati Radharani.
As manjaris nascem no profundo oceano do madhura prema lançado pelos refulgentes pés de
lótus de Radha. Aparecendo em formas kishoris brilhantes, elas são as mais hábeis e de
prazerosa beleza em toda a criação."
Shri Narottama Das Thakura similarmente estabelece um exemplo de como os
Gaudiya Vaishnavas devem formular suas ambições mais elevadas. No seguinte Pada ele ora a
Radharani como se segue:
"Oh Pranisvari! Por favor seja misericordiosa apenas uma vez. Colocando uma palha
entre meus dentes e de mãos postas na minha cabeça oro; bondosmente ouça minha súplica:
Deixe-me vestir você na companhia de suas Priya sahacaris; por favor reserve esse
seva para mim; eu me tornarei a dasi daquelas sakhis que decoram você com chandan
aromático, ornamentos de jóias e refinados tecidos de seda. Eu anseio sempre permanecer em
sua companhia. Eu prepararei o pan adicionando cânfora, fazendo guirlandas com flores
labhanga e malati colocando-as numa cesta de flores especial. Em seguida, eu faria arranjos
para preparar numerosas delícias comestíveis junto com água de rosas refrescante mantida
numa lota de jóias. Quando as sakhis derem o sinal, eu trarei todos esses itens, colocando-os
próximos a Lalitaji. Shri Narottama conclui dizendo: "Dessa maneira eu ficarei ansioso
esperando atrás das sakhis! Quando esse privilégio será meu?"
O direito para o nikunja-seva de Radha Krishna pode apenas ser ansiado ao seguir os
passos das manjaris. Embora Radharani tenha um número ilimitado de Prana-sakhis, nitya-
sakhis, em seu batalhão de manjaris, existem oito serviçais líderes. Da mesma forma que as
astasakhis especialmente predominam, estas astamanjaris dirigem as outras manjaris na
execução de todo o lila-seva.
Na área mais secreta da floresta encantada de Ananda Vrindavana, nas árvores dos
desejos está o Yoga pita mandira. Esse raro mandira, feito de preciosas pedras e gemas
inumeráveis tem o formato de um imenso lótus de mil pétalas. No centro desse lótus ficam Shri
Shri Radha Govinda numa simhasana de jóias. Entre milhões de incontáveis Vraja sundaris que
executam seva, as oito manjaris líderes formam o círculo mais íntimo, agrupando-se em volta do
casal divino no keshora (núcleo) da formação do lótus."
Se alguém deseja seguir nos passos das asta manjaris é imprescindível que se torne
familiar com cada uma da personalidades delas. Por essa razão Shri Dhyanachandra Gosvami
revela no seu arcana padati, seus nomes, idade, tez, vestimenta, seva e Goura-lila Svarupa:
Damos aqui uma pequena explicação sobre os diferentes naturezas das manajaris:
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68
Quanto a BELEZA, DOÇURA e PREMA pode-se dividir a natureza das sakhis e manjaris da
seguinte forma:
ADHIKA =abundante: SAMA= moderada e LAGHU= leve
Natureza = abhisarika
Pele – alçafrão
Sari- cor de cristal
Bhava- adhika mridvi
Seva- trazer cravo-da-india e guirlandas
Idade –14 a 7 m 14 d
Goura lila- Shri Govindananda
Marido- Pitharaka gopa
Pai- Chatura
Mãe – Charcchika
INDULEKHA
Natureza- vama prakara
CHAMPAKALATA
Natureza – vama Madhya
Bhava vasaka sajja
Após descobrir a identidade das oito líderes manjaris de Radha o mistério de Goura-
Avatara será facilmente compreendido. Porque Shri Gourasundara especialmente dotou de
poder essas grandes personalidades para liderarem Sua Sampradaya, foi sua intenção que
futuros Vaishnavas executassem sadhana nos passos delas, como esses Gosvamis são as
Asta-manjaris de Vraja lila, Shriman Gourasundara selecionou-os para promover Manjari
upasana (adoração das manjaris). Entre as Asta-manjaris Shri Rupa não encontra competidores,
e portanto, os seguidores de Cheitanya Mahaprabhu são conhecidos como devotos Rupanugas;
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sua perfeição última virá ao desenvolver nishta ao humor dele. Ao seguir os quatro kirtana-pada
Shri Narottama das Thakura apresenta a conclusão do Sadhana Rupanuga:
Tradução: "Eu ouvi dos sadhus e de todos que o kripa de Shri Rupa é o caminho seguro
para o jugal-charan.
Oh Sanatana Prabhu! Oh associados do Senhor Gouranga! Quando vocês satisfarão
minha ambição? Qualquer um que se renda a Shri Rupa é um grande mahatma; oro a essa
pessoa pela misericórdia de Shri Rupa.
Quando meu gurudeva, Shri Lokanath Goswami, pegará minha mão e me colocará
sob os cuidados de Shri Rupa Gosvami? Apenas então Shri Narottama se tornará elegível para
residir com as priya-nama-sakhis (termo técnico utilizado por Shri Rupa para as manjaris) que irá
dirigir o seva (Narottama das Thakura possui dois nomes manjari ou seja Shri Vilasa Manjari,
que foi dado por seu Guru, e Shri Champak Manjari, que foi dado pela própria Radharani).
Tradução: "Quando Shri Rupa Manjari pessoalmente me chamará? Quantos dias suportarei
antes que ela diga para mim: "Oh dasi, venha aqui, rapidamente traga os artigos para servir
Radha Krishna." Ouvindo essa ordem, extremamente feliz com a consciência renovada,
rapidamente executarei a tarefa. Então, trazendo uma lota dourada com água de rosas
purificada, em uma bandeja ornada de jóias, eu prontamente aparecerei diante do divino casal.
Quando Narottama Dasa será assim afortunado?"
Tradução: "Os pés de lótus de Shri Rupa Manjari são minha única posse, meu único bhajan
e meu único puja.
Eles são a jóia da rasa divina, a perfeição dos meus desejos e o único significado do
dharma védico para mim. Se favorecido pela providência verei a opulência que é como uma jóia
preciosa daqueles dois pés. E, quando a refulgência brilhar no âmago do meu coração, ficarei
sempre repleta de alegria dia e noite.
Sem o darshan desses pés de lótus uma febre escaldante tomou meu corpo, dando
agonia a minha vida.
Ah Ah Prabhupada, Shri Rupa! Por favor dê-me um lugar sob a sombra refrescante de
seus pés de lótus - Shri Narottama apenas ora pelo seu abrigo."
Nota do Autor:
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Esse kirtana-pada é bem conhecido porém é apropriadamente apreciado por
raríssimas pessoas. Na realidade, aqui se descreve o nishta apropriado requerido para que os
Gaudiya Vaishnavas entrem no nitya lila. Os três padas que levam a essa conclusão são
também dignos de nota. Muito embora Shri Thakura Mahashaya fosse iniciado por Shri Lokanath
Prabhu, (que é Manjulali Manjari do grupo de Asta manjari), ele contudo ora que seu Guru possa
levá-lo pela mão e entregá-lo aos pés de lótus de Shri Rupa. Essa convicção de Shri Narottama
é muito instrutiva para todos. Pois é a essência do dharma védico, o objetivo do bhajan e puja e
a fonte vital dos devotos.
As definições tanto de Rupanuga quanto de Raganuga estão muito intimamente
ligadas: anuga, significa seguir os passos. Assim, raga anuga - significa seguir os passos
daqueles que tem raga (apego profundo), i. e. os associados Ragatmika nitya-Vraja. E Rupa-
anuga significa seguir o específico associado Ragatmika, Shri Rupa Manjari, que é Shri Rupa
Gosvami em Goura Lila. Como o pai de Raganuga bhakti, também, Shri Rupa Gosvami é a
corporificação de toda perfeição. Esse é o nishta exclusivo que nós todos precisamos
desenvolver.
O Cheitanya Charitamrita declara que a qualidade distinta de madhura rasa de outras
formas de doçura transcendental é que o próprio corpo é oferecido a Krishna em seva: "nijanga
diya koren sevan' - Cc. Madhya 19. Uma pessoa pode então se perguntar, se as manjaris,
estando totalmente ocupadas no seva a Radha e tendo deixado de lado o desejo de desfrutar
Krishna pessoalmente, estão de fato no humor de madhura rasa?
Não seria isso uma forma de dasya rasa? A resposta a essa reflexão 'é não', porém
antes de revelar como de fato as manjaris saboreiam o anga madhuri (doçura corpórea) de
Krishna, vamos apresentar dois exemplos do Ujjvala nilamani que ilustra o nishta exclusivo
delas:
Tradução: "Um dia Shrimati Radharani pediu a uma Sakhi para arranjar um encontro privado
com Krishna para Mani Manjari. Algum tempo depois, contudo, essa Sakhi retornou dizendo: "Oh
Radhe! Por sua ordem me aproximei de Mani Manjari com as seguintes palavras sedutoras: 'Oh
Sakhi! Dentro dos três mundos pode alguma forma de desfrute se comparar com o anga sanga
de Shri Krishna? Por que você não tenta isso pelo menos uma vez? Considere que Lalita e
Vishaka compartilham de uma relação amigável com Radha e ainda assim desfrutam
passatempos com Krishna como nayikas. Você também pode agora adotar esse humor; por que
você permanece por detrás das outras?' Após ouvir minhas palavras Mani Manjari respondeu: 'Ei
Sakhi! O darshan dos passatempos de Radha com Krishna é a forma excelsa de felicidade para
mim.' Oh Radhe, com essa declaração eu conclui que o coração de Mani Manjari é puro, porque,
mesmo após ter obtido a chance da união conjugal com Krishna, ela o repeliu!"
Tradução: "Certa vez, após notar uma manjari colhendo flores na floresta, Krishna se
aproximou dela dizendo: "Ei atrativa, por que você não torna sua vida um êxito e desfruta comigo
nesse Kunja?" Ouvindo a proposta de Krishna essa manjari respondeu: 'Ei Govinda, as artes
românticas que você habilmente exibe com Radhika me fascina mais. Além disso, tantas Vraja
kishoris saciam os seus desejos ao prestarem serviço nesse humor. Portanto, oh Gokula-indra,
minha mente nunca busca união pessoal com Você, antes, por favor permita me ocupar no seva
a Radhika."
Shri Visvanatha Chakravarti comenta sobre esse verso dizendo: "Colhendo nos
caminhos da floresta, adornos de folhas e flores, as manjaris alcançam o darshan dos
passatempos mais confidenciais de Radha e Krishna, elas experimentam prazer incomparável
mesmo à união direta com Krishna. Assim, ao saborear um padrão superior de gosto, todos os
tipos inferiores de néctar podem ser facilmente abandonados. Esses dois exemplos levam a
descobrir o mais raro e exaltado padrão de êxtase divino. O que falar das servas de Krishna,
mesmo sakhis tão íntimas de Shri Radha, tal como Lalita e Vishaka não podem experimentar
esse encantamento. Apenas as manjaris, porque elas se dedicam exclusivamente ao prazer de
Shri Radha, são elegíveis para esse premio."
No seu Stavavali, Raghunatha Dasa Gosvami glorifica a boa fortuna das manjaris da
seguinte forma:
Tradução: "Eu me abrigo nas manjaris lideradas por Shri Rupa, que são peritas em preparar
pan, massagear os pés, e oferecer água aromatizada, arranjar o abhisara (jornada para
encontrar Krishna de Radharani, etc). Dessas maneiras elas satisfazem Vrindavan-isvari (Shri
Radha) sob todos os aspectos. E, durante os romances confidenciais de Radharani com Krishna
elas estão livres para adentrar o vilasa Kunja para o seva íntimo. Tal privilégio nunca é
concedido mesmo às parama-presthas-sakhis de Radha lideradas por Lalita e Vishaka."
No seu Alamkara Kaustuba, Shri Kavikarnapura também diz:
Tradução: "Mesmo enquanto deitada despida ao lado de Krishna, Shrimati não se sente
embaraçada se uma manjari de repente surge em cena. A razão é que ela se relaciona com as
manjaris como uma segunda forma, expandida com o propósito de seva."
Em termos de idade e posição as manjaris são menos importantes em comparação
com outros grupos de sakhis de Radha. Como elas recebem ordens de Radha, elas também
cumprem as ordens de Lalita, das priya sakhis ou de Vrindadevi, porque a sua posição
constitucional é servir e assim elas estão mais inclinadas a fazer.
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Em relação ao saborear do lila rasa, por outro lado, a atitude das manjaris é mais afim
aos sentimentos de Radha. Vamos tentar entrar no mistério de como as manjaris são elegíveis
para saborear a forma mais elevada do êxtase conjugal:
"Se Mukunda toca Radha, lágrimas, suor, tremores, e arrepios também se manifestam
nos corpos das manjaris. E, se Krishna beija os lábios de Radha, então as manjaris também
experimentarão a intoxicação de Radha; esse é um fenômeno muito assombroso!
Quando as manjaris observam pelas janelas do nikunja mandir para testemunharem o
vilasa maduri de Radha Krishna, elas ficam tomadas de êxtase. Devido a extrema intimidade
com Radha, suas mentes, corações e sentimentos mergulham juntos com os dEla. No Ujjvala
Nilamani, Shri Rupa chama a isso: "visrambha" - indicando que a fé profunda das manjaris e
amor por Radha se torna tão mesclado com o de Radha que eles completamente se identificam
com Ela (abheda-buddhi). Assim os sintomas de Radha de felicidade ou tristeza também se
manifestam nos seus rostos e corpos. No Kandarpa-keli é explicado que as manjaris
experimentam os sentimentos de Radha em seus próprios membros corpóreos simplesmente
por observar: as marcas amorosas feitas por Krishna em Radha simultaneamente aparecem em
seus corpos. A evidência disso pode ser encontrada no Vilapakusum-anjali (primeiro sloka) onde
Shri Raghunatha Das Gosvami (no humor de Rati Manjari) brinca da seguinte forma:
"Oh Rupa Manjari, no Vraja mandala você tem reputação de ser casta. Porém eu
imagino como seus lábios se machucaram, embora o seu marido esteja ausente. Decerto esse
deve ser o trabalho do papagaio exaltado que erroneamente tomou os seus lábios vermelhos e
brilhantes por frutas bimba."
A partir deste enigma pode se pensar que aqui está um exemplo das manjaris tendo
passatempos conjugais com Krishna como o papagaio exaltado mencionado só podendo estar
se referindo a Krishna. Tal presunção é incorreta e vai contra o rasa sidhanta de nossos Gaudiya
Acharyas. Na edição do Vilapa kusumanjali de Ananta Das Babaji do Shri Radha Kunda, um
comentário de seis páginas desse sloka, aparece o seguinte fundamento:
"No estágio final de suas vidas às margens do Radha Kunda, Raghunatha das
Gosvami costumava chorar incessantemente em separação de Radha. Devido a influência de
prema, de momento a momento, diferentes sphurtis, ou visões diretas, do lila de Radha com
Krishna apareciam diante dele. De repente perdendo essas visões, a consciência externa de
Raghunatha retornava. Porém, ele se derretia em lágrimas e orava a Radha pelo mesmo seva
que ele tinha acabado de testemunhar. Um após o outro, vários lilas sphurtis são descritos no
Vilapa kusumanjali. Vilapa é um clamor de lamentação. Kusum-anjali é uma oferenda de flores
nas mãos de alguém. Assim cada sloka de Raghunatha representa flores de lágrimas sinceras e
de desejo por seva, que ele oferece aos pés de lótus de Radharani.
Em relação a esse sloka, um lila ocorreu em Govardhana. Shri Rupa tinha arranjado um
encontro entre Radha e Krishna, em uma caverna retirada da colina de Govardhana. Nisso, a
curta distância ela testemunha a intoxicação divina do madan-ananda-keli de Kishora-Kishori.
Que cena espetacular para observar! Shyamasundara tinha mordido os lábios delicados de
Shrimati. Rhada-dasi, Shri Rupa, apavorada e perdida em espanto, olha boquiaberta e
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completamente fascinada. Devido a absorção total no festival de júbilo de Priyaji, Shri Rupa nem
nota que as mesmas marcas, naquela hora, apareceram em seus lábios! Enquanto isso, Shri
Rupa se lembra dos lamentos sentidos de Shri Raghunatta Das: "Ah! Shri Rati não pode ver
esse lindo jugal vilasa extraordinário. Onde ela está agora? Devo trazê-la aqui imediatamente."
Shri Rupa então deixa Govardhana em busca de Rati. Logo Shri Rupa aparece a Raghunatha
Das em lila sphurti. É então que Raghunatha das no humor de Rati Manjari, oferece o trocadilho
anteriormente citado como um gesto de brincadeira referindo-se aos lábios machucados de Shri
Rupa: "Oh Sakhi Rupa, sua reputação de castidade é reconhecida por toda Vrajhabhumi por
nunca sequer olhar para outros homens além de seu próprio marido. Porém na ausência de seu
marido, como os seus lábios vermelhos brilhantes ficaram machucados?"
No seu Alamkara-kaustubha, Shrila Kavikarnapura descreve a unidade de Radha e suas
manjaris da seguinte forma:
"Se a soma total de muitos festivais de prazer de Krishna pudesse ser medida, esse
maha-ananda seria apenas uma fração comparada com a bem aventurança que as manjaris
experimentam quando mergulham no Prema keli samudhra de Shri Shri Radha-Nikunja nagar.
No seu Nikunja-rahasya-stava Shri Rupa Gosvami diz:
pranayamayashyah kunjarandrapitanga
khititalmanuladhananda murcham patanti
protirati vidadhanou cestiteh cittacitraih
smara nibhrita nikunje radhika krishna candro
Tradução Explicativa: "Nesse verso Krishna pode ser comparado a árvore Tamal negra,
enquanto Radha é o kalpa-lata de Krishna prema (a trepadeira que satisfaz os desejos de
Krishna prema). As sakhis e manjaris de Radha se comparam as folhas e flores dessa
trepadeira; e como tal são produtos diretos da parreira, as sakhis e manjaris de Radha não são
diferentes de Radha em Svarupa, sendo expansões diretas dEla. Portanto, quando no curso do
Krishna Lila as manjaris borrifam o svarna-lata de Radha ao uni-La com Krishna Tamal, elas
também ficam molhadas em uma chuva de néctar. Dessa maneira as folhas e flores
experimentam prazer superior (maior um milhão de vezes) do que a própria lata dourada; o que
é assombroso!"
O Cheitanya Charitamrita esclarece ainda mais:
Tradução: "A natureza das manjaris é indescritível porque elas não tem desejo por intercurso
pessoal com Krishna. Antes, ao prepararem o cenário do jugal-milan de Radha e Krishna elas
experimentam maior prazer (um milhão de vezes mais) do que os próprios Radha e Krishna
experimentam." (A palavra sakhis nesse verso referem-se às Priya-narma-sakhis).
Significado:
Devido ao prazer de Radha ser superior ao de Krishna por ser capaz de saborear a doçura
dEle, Krishna desejou adotar a perspectiva dEla. Isso, já explicamos. Agora estamos no
processo de demonstrar que o prazer das manjaris ultrapassa mesmo o prazer de Radha. A
razão simples é que o objeto de amor de Radha é somente Shri Krishna, enquanto o amor das
manjaris está dirigido à combinação Radha e Krishna. Radha pode ter Krishna, a fonte de todo o
prazer, (akila rasamrita murti) na ponta dos seus dedos, porém as manjaris, não tem apenas
Krishna, mas também Shri Radha, que é a personificação de prema (mahabhava svarupini,
prema lakshmi). Considerado individualmente, Radha e Krishna são ambos inigualáveis, porém
quando se unem o esplendor dEles se multiplica incessantemente. E como os ingredientes de
prema e ananda são assim diretamente combinados pelas manjaris, que pode começar a
estimar a suprema boa fortuna?
Uma questão relevante pode ser levantada: Como o amor das manjaris favorece Radha,
será que Krishna sente algum desconforto sobre o amor delas em relação a Ele? Essa questão
é respondida no capítulo Sakhi prakaran do Ujjvala nilamani:
Tradução: "Um dia Mani Manjari instruiu uma manjari recém chegada: 'Ei habilidosa, deixe-
me aconselhá-la, pela minha experiência. Simplesmente estabeleça sua relação com Radha. Se
você pensa que sem amar Hari, não há utilidade em amar Radha, então eu digo a você: Apenas
quando o seu prema por Radharani amadurecer, é que então o tesouro de Krishna prema será
proveitoso."
O comentário de Shrila Jiva Gosvami sobre esse verso é também muito instrutivo. A
essência dos seus conselhos é a seguinte:
Krishna vê o amor das manjaris por Radha como se segue: 'Ela é muito querida por minha
Priyatama (mais amadaa).' Sob a força do seu sambandha com Shrimati ela recebe mais afeto
de Krishna do que teria se direcionasse seu amor diretamente a Ele. Portanto, pela influência do
amor de Radha prema o amor de Krishna vem automaticamente."
Nós aprendemos das instruções de Shri Jiva que entre as sakhis de Radha as manjaris são
as mais queridas a Krishna. Mais do que qualquer outra, as manjaris sondam a profundidade do
samadhi de Krishna: Krishna é Radhamaya - sempre absorto em Radha, enquanto na
companhia de Sua mãe, Seus amigos, Seus servidores e qualquer outro Vrajavasi, os
pensamentos de Krishna são para Radha. Mesmo associado com Chandravali, Ele lembra de
Radha. Além disso, as manjaris também conhecem a mente de Radha, melhor do que qualquer
outra: Ela é Krishnamayi - sempre absorta em Krishna. Portanto, devido a intimidade delas com
Radha, as manjaris também se tornam Krishnamayi, e inspirando a natureza recíproca de
Krishna, elas também se tornam favoritas dEle.
No livro intitulado Murali-vilasa, mais informação é encontrada sobre as manjaris numa
conversa entre Shri Jahnava Thakurani e seu discípulo Shri Ramai Thakura. Segue-se o excerto:
"Thakura Ramai perguntou: "Por favor explique-me onde bhavollasa-rati pode ser
encontrado? Shri Jahnava Thakurani respondeu: 'Oh filho, ouça cuidadosamente. Apenas em
Vrindavana e além do alcance dos devatas, Shri Shri Kishora Kishori reside. Esse casal divino é
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servido dia e noite por Shri Rupa Manjari, Shri Ananga Manjari, e suas seguidoras. Apenas elas
são o abrigo de Bhavollasa-rati. Não conhecendo nada além da felicidade de Radha Krishna
elas se perdem no oceano de prazer que está além do tempo. O amor das manjaris por Krishna
é um sanchari bhava (doçura subordinada) que nutre seu amor por Radha. De fato, sob todos os
aspectos o Atma e prana delas são afins aos de Radha. A única diferença é que estão em
corpos distintos. Quando os cabelos de Radha se arrepiam durante o momento da união com
Krishna, assim ocorre com as manjaris. De fato as manjaris desfrutam prazer de Radha com
Krishna sete vezes mais do que Ela própria. As manjaris unem Radha com Krishna sempre que
possível, experimentando prazer muitas vezes superior. Assim eu descrevi bhavollasa rati,
aquele que faz com que o próprio Senhor admita: "Eu sou incapaz de pagar a dívida de seu
serviço a Mim."
Tradução: Certa vez em Puri, ao observar uma duna de areia (que lembrava a Ele
Govardhana) Cheitanya Mahaprabhu desmaiou, retornando novamente a semiconsciência
externa, Ele relatou a seguinte sphurti (visão):
"Eu estava indo ao lila de Krishna em Govardhana, por que vocês me trouxeram de volta
aqui? Hoje eu fui a Govardhana onde Krishna apascentava as vacas enquanto tocava Sua
flauta. Ouvindo o melodioso som, Shrimati Radharani de repente apareceu. Sua beleza
encantadora e disposíção mental está além da descrição mesmo para suas sakhis. Levando
Radha com Ele, Krishna então entrou na caverna. Nesse instante as sakhis vieram a Mim,
pedindo para colher flores."
Em outra parte Shriman Gourasundara falou o seguinte no humor de Manjari:
Tradução: "A forma divina de Krishna, Suas qualidades maravilhosas, o Seu toque macio, a
Sua voz encantadora, o sabor de Seus lábios, e o aroma de Seu corpo, são saboreados por
Radha e pelas outras gopis. Após elas desfrutarem, meus cinco sentidos imploram o néctar
delas, sempre permanecendo discípulos submissos delas."
Significado
Para Radhika e as sakhis a forma, qualidades, sabor, cheiro, voz e toque de Krishna
são o meio vital da existência. Essa prasada, contudo, se torna maha prasada para as manjaris,
devido ao sabor intoxicante das características transcendentais de Krishna aumentar múltiplas
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vezes dentro do netra-uttsaba (festival para os olhos) das manjaris. Percebendo a fortuna das
manjaris, Shriman Mahaprabhu enviou os seus cinco sentidos - discípulos para Vrindavana para
implorar às manjaris.
Até aqui todos os tópicos discutidos foram apresentados para servir como um
comentário ao seguinte verso do Cheitanya Charitamrita:
"Eu sou charana dasi de Radha Madhava e uma eterna residente de Svananda
Sukhada Kunja (no Shri Radha Kunda).
Tradução: "Shri Cheitanya Deva disse: Oh Sanatana ouça meu veredicto. Para a execução
apropriada dos deveres religiosos ou atividades piedosas deve-se sempre levar em
consideração a pessoa adequada, o lugar, a hora e a circunstância. Todavia o sadana bhakti
transcende todas as considerações porque qualquer pessoa em qualquer hora ou lugar e em
qualquer situação pode executá-lo."
Existem dois tipos de sadana bhakti
Tradução: "A morada de Cheitanya Lilamrita mesclada com a cânfora do Krishna Lilamrita se
torna a combinação mais saborosa. Com a graça de Guru e sadhu prove esse néctar supremo.
Não negligencie esse Lilamrita e confie em outras formas de dieta, para que sua vida espiritual
não enfraqueça. Por outro lado, uma simples gota desse lila rasa pode grandemente revigorar a
mente e o corpo e fazer você dar gargalhadas, cantar e dançar em êxtase. Portanto, saboreie o
lila rasa e mantenha a fé firme no processo. Pois nada se compara a esse sadhana, advertido-se
a não cair na rede dos argumentos conflitantes, porque tudo estaria perdido."
Durante o festival, a bebida anupana é tomada como digestivo, e aqui Shrila Kaviraja
Gosvami comparou o Gour Govinda Lilamrita com a refeição em si ou a dieta principal para nutrir
o sadhana de alguém. O Anupana se compara a todas as outras formas de sadhana. Em
resumo, ele quer dizer que se a pessoa toma o aperitivo digestivo sem a refeição principal,
resultará por certo em fraqueza.
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XXXXXXXXO conselho do Kaviraja é muito claro. Os Vaishnavas que desconsideram essa
preciosa instrução são de fato desafortunados. Não vamos cair no poço das argumentações
antagonicas e seguir resolutamente a dieta e o remédio como foi prescrito pelo Kaviraja.
"Sempre beba o néctar incomparável do Gour Govinda Lila mantendo fé inabalável nesse
processo!"
No seu famoso comentário ao Cheitanya Caritamrita Shri Radha Govinda nath explica o
significado do verso de Shri Rupa Gosvami.
"O Raganuga sadhana divide-se em duas partes: interna e externa. Uma vez que o smarana
é o braço principal ele é pochya (deve ser mantido); enquanto shravana kirtana ou qualquer um
dos 64 tipos de sadhana bhakti são pochak (mantenedores). Em outras palavras, todos os
outros tipos de vidhi se destinam simplesmente a nutrir lila Smarana e proteger a pessoa da
queda. Esta interpretação é corroborada por um dos mais proeminentes versos do Bhakti
Rasamrita Sindhu:
"O Senhor Vishnu (Shri Krishna) sempre deve ser lembrado e nunca esquecido. Todas as
regras e regulações são servos desse Raja Vidhi e Nisedha (rei das regras e proibições)."
É importante destacar agora a relação entre Smarana e sadhana e Sankirtana. Shri
Visvanatha Chakravarti deixou um lembrete aos sadhakas de Raganuga.
"Embora Smarana seja o braço principal para aqueles que praticam Raganuga bhakti ainda
assim o Smarana deve permanecer subordinado ao kirtana.
Smarana e kirtana são ambos extremamente importantes ramos do Bhakti sadhana. Os
bhaktas raganugas que se apegaram ao Smarana sadhana devem sempre executar kirtana
também, lembrando que o próprio Shri Cheitanya Deva promoveu o movimento de Sankirtana.
Por outro lado, aqueles que apenas enfatizam o canto devem também se lembrar que o nosso
Gouranga cantava com a sua mente fixa em Shri Vrindavana! Devotos experientes não
distinguem Smarana de kirtana, eles ligam os dois processos como uma forma ideal de
sadhana. Isso é o mesmo que dizer que Smarana está contido no canto inofensivo e dentro do
lila Smarana intensivo o Nome também caminha. Consultemos agora Shri Thakura
Bhaktivinoddha na sua obra Harinama Chintamani que é um manual exclusivamente devotado
ao nama sadana. No último capítulo, Bhaktivinodha compara o nome a um botão em flor. O
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nama kusuma floresce em estágios revelando, rasa, Rupa, guna e lila madhurya de Krishna. O
lila representa o esplendor plenamente manifesto do nome:
"A flor do nome revela completamente sua beleza quando os astakala nitya lilas divinos de
Krishna são incluídos." Dessa declaração aprendemos que o exclusivo nama sadhana ou o
canto do nome nunca está completo sem o lila Smarana. De fato, Shrila Visvanatha Chakravarti
também afirma o mesmo na sua obra Krishna Bhavanamrita ao declarar
"Os passatempos diários óctuplos de Radha Govinda são como uma japa mala cravejadas
de jóias quando se combinam, pois cada lila representa uma conta de pedra preciosa." Assim, o
sadhaka experiente não só vai cantar o maha-mantra em uma japa mas também vai contemplar
mentalmente o astakala-lilas de Radha Govinda.
Shri Bhaktivinodha sintetiza a essência de todos os conselhos ao dizer:
"Oh Sanatana, o madhurya de Krishna não pode ser vivenciado por karma, nem pela
recitação de mantras silenciosamente, nem pelo sadhana de yoga. Permanecendo totalmente
desconhecido sua doçura mesmo aos que paraticam vidhi bhakti, tapasya ou meditação
impessoal. Apenas por adorar com anuraga (apego profundo) através do processo de Raganuga
bhakti pode experimentar o sabor do Krishna madhurya."
´Oh, Sanatana, sem bhakti, prema nunca desperta. E sem prema Krishna é inatingível."
Muitos Vaishnavas podem ficar sob a impressão de que Krishna praptki (alcançar Krishna)
aguardam aos que morrem após completar uma vida de devoção. Sim, assim é, para os bhaktas
alcançarem prema. Na referência anterior Cheitanya Mahaprabhu expressou sua opinião.
Aqueles que deixam seus corpos após uma vida de devoção, outra vez nascem no mundo
manterial, se um bhakta afortunada alcança o estágio de bhava (quando a potência shuddha
sattva do Senhor entra no coração) então Krishna se revela a esse devoto através de sphurti
(visão espiritual). Recebendo esse sphurti regular o prema desperta fazendo com que Krishna se
revele. Esse kripa siddha ou sadhana siddha bhaktas alcançam o Senhor ao abandonar o corpo
material. Esse sidhanta é confirmado pelos poetas mahajanas Shri Premananda que é um
associado direto do Senhor Gouranga."
"O sadhana é para este mundo, siddhi também acontece aqui, podendo ser percebido em
bhava. Assim, se nós não vemos Krishna aqui, como o veremos após a morte?"
Existem muitos tipos de Krishna bhaktas e assim muitos níveis de Krishna prema. Falando
comparativamente, o Madanakya Mahabhava prema de Shri Radhika Rishabhanu Mandir é
supremo. As sakhis e manjaris de Radha também possuem mahabhava, porém é levemente
menos potente que o de Radha. O mahabhava prema é o prayojana (necessidade) para os
seguidores rupanugas de Cheitanya Mahaprabhu. Devotos desse mundo podem gradualmente
se elevar pelos estágios de shraddha, sadhu sanga, bhajana kriya, anartha nivrtti, nishta, ruci,
bhava e finalmente alcança o prema. Esse prema, contudo, é bem inferior ao padrão de
mahabhava das sakhis e manjaris de Radharani. Após o despertar de prema existem estágios
progressivos: sneha, mana, pranaya, raga, bhava e mahabhava.
Tradução: Uma dúvida pode surgir agora: ao abandonar o corpo material onde o
sadhana siddha bhakta fica antes de alcançar o seu Gopi Svarupa? A resposta é a seguinte:
esses premika bhaktas mesmo antes de alcançar sneha, mana, pranaya, etc., instantaneamente
alcançam o seu acalentado desejo pelo nitya seva (um exemplo é o modo como Shri Narada
recebeu a perfeição). O corpo espiritual de Gopi que o devoto recebe é dado pela graça de
Yogamaya e toma nascimento no ventre de uma Vraja Gopi. Não há espera uma vez que o
bhauma lila de Krishna é eterno. Tal devoto é imediatamente transferido para universo onde o
bhauma lila de Krishna está manifesto. Dirigindo-se aos ansiosos raganugas sadhakas Shri
Visvanatha Chakravarti conclui: "não se preocupem! O futuro de vocês será auspicioso."
Tradução: "Esse tattva pode ser compreendido pelos param rasikas. Que eu permaneça
sempre na associação deles."
Quanto a questão de discutir lila Katha a associação é adequada e essencial. Aqueles que
desejam mergulhar suas mentes no lila rasa sindhu de Radha Govinda farão bem em buscar o
sanga de rasika bhaktas. Compreendendo essa necessidade Shri Rupa Gosvami aconselha:
srimad bhagavatam arthanam asvado rasikai saba
sajatia asaye snigdhe sadhu sangah svato vare
Bhakti Rasamrita sindhu 1/2/91
FIM
PENDICE
The Eleven Verses
of
Rupa Goswami (Smaran mangalam)
First Verse
may that Krsna protect us, who at night's end enters the
village from the bower, in the morning and evening milks
the cows and eats his meals, in the late morning plays
with his friends and herds the cows, at midday and at
night sports with Radha in the forest, in the late afternoon
returns to the village and in the late evening pleases his
friends.
These are mere indications of Krsna's activities throughout the day. The
most minimal form of this practice, then, is to pause during each of the
eight periods of the day and remember what Krsna is up to at that time.
According to one of the Hindu systems of reckoning, the day is divided
into eight periods: night's end, morning, late morning (or forenoon),
midday, late afternoon (or simply afternoon), evening, late evening, and
night. Each period is two hours and twenty-four minutes long except for
midday and night which are twice as long as the other periods. They are
therefore four hours and forty-eight minutes long. Altogether the eight
periods makeup a twenty-four hour day. The first period, night's end,
begins with a period of time that is considered sacred in many Hindu
traditions called Brahma-muhurta (the period of Brahman). It begins one
hour and thirty-six minutes before sunrise. Thus, if the sun rises at 6:06
A.M., Brahma-muhurta and night's end begin at 4:30 A.M. In this case, the
periods would have the following values:
The exact times change, of course, as the time of sunrise changes. For
the most part only approximations need be followed.
The next nine verses give more detailed descriptions of Krsna's acts in
each of the eight periods.
Verses 3-11