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01- Ação Civil Pública - Corte de água Limeira

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA


COMARCA DE LIMEIRA – SP.

ASSOCIAÇÃO DE DEFESA E PROTEÇÃO DOS DIREITOS DO


CIDADÃO, entidade civil de direito privado, registrada no 2o oficio de
registro civil de pessoas jurídicas de Limeira- SP, com endereço na Rua Padre
Joaquim F. de Camargo Júnior, n. 92, Jardim Montezuma, Limeira – SP.,
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO PARQUE RESIDENCIAL
BELINHA OMETTO, entidade civil de direito privado, registrado no 1o
Registro de Pessoas Jurídicas de Limeira -SP sob o nº 1410, com endereço
nesta Cidade à Rua 28, nº 150, devidamente representado por seu presidente
conforme seu estatuto, ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES E AMIGOS
DA ESTANCIA PARAISO, entidade civil de direito privado, registrado no
1o Registro de Pessoas Jurídicas de Limeira - SP sob o nº , com endereço
nesta Cidade ao lote 10(dez), Estancia Paraíso/SP devidamente representado
por seu presidente conforme estatuto, ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES
DO RESIDENCIAL ABILIO PEDRO, 5A E 6A ETAPA rua 59, 580,
Parque Abílio Pedro devidamente representada por seu Presidente conforme
estatuto, ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO JARDIM
AEROPORTO, entidade civil de direito privado, registrado no 1o Registro de
Pessoas Jurídicas de Limeira -SP sob o nº , com endereço nesta Cidade à
Rua Antônio Franzini, nº 151, devidamente representado por seu presidente
conforme seu estatuto, ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES E AMIGOS
DO JARDIM DOM OSCAR ROMERO entidade civil de direito privado,
registrado no 1o Registro de Pessoas Jurídicas de Limeira - SP
sob o nº com endereço nesta Cidade, sito na rua 02(dois), nº312,
Jardim Oscar Dom Romero, ASSOCIAÇÃO UNIFICADA DOS
MORADORES DO PARQUE RESIDENCIAL NOSSA SENHORA DAS
DORES 2º, 3º E 4º ETAPAS, entidade civil de direito privado, registrado no
1o Registro de Pessoas Jurídicas de Limeira -SP sob o nº , com endereço
nesta Cidade à Avenida Jaime Cheque, nº 372, Parque Residencial Nossa
Senhora das Dores, Limeira/SP devidamente representado por seu presidente
conforme seu estatuto, ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES PARQUE
RESINDENCIAL SANTA EULALIA, entidade civil de direito privado,
registrado no 1º Registro de pessoas Jurídicas de Limeira – SP sob nº ,
com endereço na rua 13(treze), nº 251, Residencial santa Eulalia, Limeira/SP,
devidamente representado por seu presidente conforme seu estatuto, vem,
respeitosamente, por via de seus procuradores abaixo-assinados (docs.1),
propor, nos termos da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil
Pública) e da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do
Consumidor), a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE
LIMINAR, visando à tutela de interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, em face de AGUAS DE LIMEIRA S/A -
empresa inscrita no CGC/MF sob o nº , inscrição estadual nº , com endereço
nesta Cidade à Rua Boa Morte, nº, 775, centro tudo em face dos fatos e
fundamentos a seguir descritos:

A AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO VIA PROCESSUAL ADEQUADA A


IMPEDIR E REPRIMIR DANOS AO CONSUMIDOR
A ação civil pública, disciplinada pela Lei 7.347/85 e supletivamente pelo
Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), é vocacionada à tutela do
consumidor em sua dimensão coletiva, podendo ser utilizada para proteger
tanto interesses difusos como coletivos, e mesmo os denominados individuais
homogêneos.
No regime do Código de Defesa do Consumidor, são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar a adequada e efetiva tutela dos direitos
dos consumidores (art. 83). Se a Lei 7.347/85 restringia a ação civil pública à
defesa de interesses difusos e coletivos, o Código de Defesa do Consumidor,
em seu art. 90, possibilitou a tutela coletiva de interesses individuais, quando
decorrentes de origem comum, evitando com isso o ajuizamento de milhares
de ações, proporcionando economia de tempo e dinheiro para as partes e para
o Poder Judiciário.
A classificação de um direito ou interesse como difuso, coletivo ou individual
homogêneo encontra-se intimamente relacionada ao tipo de pretensão
jurisdicional pleiteada, sendo possível, e mesmo comum, encontrar, em uma
mesma ação, pedidos relativos a mais de uma espécie de interesse.
Segundo Nelson Nery Júnior, "a pedra de toque do método classificatório é o
tipo de tutela jurisdicional que se pretende quando se propõe a competente
ação judicial. Da ocorrência de um mesmo fato, podem originar-se
pretensões difusas, coletivas e individuais." (Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor. Forense Universitária, 1992, p. 621).
Vale mencionar que a ação civil pública ora aviada revela-se um meio eficaz
para sobrepujar as dificuldades que obstaculizam a cada um dos
consumidores a pleitear a tutela jurisdicional em busca de proteção aos seus
direitos lesados ou ameaçados.
Não obstante, tem o remédio, ora manejado, o objetivo de pôr fim a discussão
travada pela imprensa e que até agora não surtiu nenhum efeito prático na
defesa dos interesses dos consumidores que utilizam do serviço prestado pela
requerida ÁGUAS DE LIMEIRA e pela Prefeitura Municipal como poder
concedente.
DA LEGITIMIDADE DAS REQUERENTES
As requerentes, estão qualificadas no preâmbulo desta exordial, estão
legalmente legitimadas para proporem a presente ação civil pública, conforme
se infere do art. 5º da Lei de Ação Civil Pública, alterada pelos arts. 110 a 117
do Código de Defesa do Consumidor e do disposto no art. 82, III, da Lei nº
8.078/90.
Assim sendo, as associações foram equiparadas ao Ministério Público para o
fim de postular a tutela judicial protetora dos direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores, no caso sub judice, dos interesses
dos consumidores que são a cada dia lesados pela empresa requerida ao
penalizar o atraso nos pagamentos com multas superiores ao teto estipulado
pelo §1o do artigo 52 do CDC.
Dispõe o art. 82 do Código de Defesa do Consumidor:
"Art. 82 - para os fins do art. 100,
parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os Estados, os Municípios e o
Distrito Federal;
(...)
IV - as associações legalmente constituídas
há pelo menos um ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos
interesses e direitos protegidos por este
Código, dispensada a autorização
assemblear. (grifos nossos)
Ainda o artigo 5o, da Lei 7.347/85 diz:
Art. 5º A ação principal e a cautelar poderão ser
propostas pelo Ministério Público, pela União, pelos
Estados e Municípios. Poderão também ser propostas
por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade
de economia mista ou por associação que:(grifado).
Como se vê, as associações qualificadas no preâmbulo conquistaram o status
deferido ao Ministério Público para a propositura de ação civil pública em
defesa do direito de toda a sociedade (cópia dos estatutos e mandatos em doc.
1 a ).
In casu, conforme os fundamentos fáticos mais adiante consignados, trata-se
de discussão judicial envolvendo o polêmico aumento de tarifas causado pela
reestruturação da tabela 7.2.1.A de cobrança no pagamento da conta mensal
dos serviços de água e esgoto pela requerida ÁGUAS DE LIMEIRA.
Portanto, os cidadãos podem e devem se organizar para criar associações que
visem defender seus interesses, movimentando a máquina estatal a fim de
conseguir uma efetiva tutela de seus direitos, fazendo assim, cessar os abusos
cometidos por quem quer que seja.
Neste sentido o Jurista PEDRO DA SILVA DINAMARCO em seu livro
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, pág. 247 diz:
“Os cidadãos não podem confiar mais no paternalismo do
Estado, sendo necessário que se organizem para uma
atuação mais ativa, formando-se uma sociedade mais
solidária (CF , art. 3o, inc. I).”
Presente, pois, o elemento da legitimidade ativa, de forma a atender às
exigências processuais da condição da ação.
DA DISPENSA DO REQUISITO DE UM ANO DE FUNDAÇÃO

Ocorre porém, que a Associação de Proteção e Defesa dos Direitos do


Cidadão, não possui ainda um ano de constituição, pois foi fundada em 21 de
fevereiro de 2003 e portanto tem apenas 4 meses de existência.

Como é sabido pela Lei 8.078/90 em seu artigo 82 e artigo 5 o da Lei 7.347/85
foi dada a Associação a legitimidade para a propositura de todas as ações que
visem a defesa dos direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor.

Este mesmo artigo acima citado em seu parágrafo primeiro trata da dispensa
do requisito da pré constituição quando a ação tratar de assunto de relevante
valor social e da relevância também, do bem a ser protegido, senão vejamos:

Lei 8.078/90
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são
legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito
Federal;
III - as entidades e órgãos da administração pública,
direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos
interesses e direitos protegidos por este Código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo
menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este Código, dispensada a autorização
assemblear.

§ 1º O requisito da pré-constituição pode ser


dispensado pelo juiz, nas ações previstas no art. 91 e
seguintes, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano,
ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
(grifei).

Lei 7.347/85
Art. 5º A ação principal e a cautelar poderão ser
propostas pelo Ministério Público, pela União, pelos
Estados e Municípios. Poderão também ser propostas
por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade
de economia mista ou por associação que:
I - esteja constituída há pelo menos um ano, nos
termos da lei civil;
II - inclua entre suas finalidades institucionais a
proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no
processo como parte, atuará obrigatoriamente como
fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras
associações legitimadas nos termos deste artigo
habilitar-se como litisconsortes de qualquer das
partes.
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono
da ação por associação legitimada, o Ministério
Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa.
§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser
dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser
protegido

Neste sentido o Superior Tribunal de Justiça já decidiu na forma que deve ser
dispensado este pré requisito quando o interesse social e o bem a ser
protegido for relevante, o que pedimos vênia para citar:
Acórdão
RESP 140097 / SP ; RECURSO ESPECIAL
1997/0048568-4
Fonte
DJ DATA:11/09/2000 PG:00252
RDR VOL.:00018 PG:00342
RSTJ VOL.:00136 PG:00333
RT VOL.:00785 PG:00184
Relator
Min. CESAR ASFOR ROCHA (1098)
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E DIREITO DO
CONSUMIDOR. DEFESA DOS INTERESSES OU
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
DISPENSA DE PRÉ-CONSTITUIÇÃO PELO
MENOS HÁ UM ANO. INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. IMPOSSIBILIDADE DA AÇÃO
COLETIVA SUPERADA.
Presente o interesse social pela dimensão do dano e
sendo relevante o bem jurídico a ser protegido, como
na hipótese, pode o juiz dispensar o requisito da pré-
constituição superior a um ano da associação autora da
ação de que trata o inciso III do parágrafo único do
art. 82 do Código de Defesa do Consumidor, que cuida
da defesa coletiva dos interesses ou direitos individuais
homogêneos. (grifado) A regra contida no art. 6º VII
do Código de Defesa do Consumidor, que cogita da
inversão do ônus da prova, tem a motivação de igualar
as partes que ocupam posições não-isonômicas, sendo
nitidamente posta a favor do consumidor, cujo
acionamento fica a critério do juiz sempre que houver
verossimilhança na alegação ou quando o consumidor
for hipossuficiente, segundo as regras ordinárias da
experiência, por isso mesmo que exige do magistrado,
quando de sua aplicação, uma aguçada sensibilidade
quanto à realidade mais ampla onde está contido o
objeto da prova cuja inversão vai operar-se. Hipótese
em que a ré/recorrente está muito mais apta a provar
que a nicotina não causa dependência que a
autora/recorrida provar que ela causa.
Ainda que possa a inicial ter confundido a ação que
objetiva promover a defesa coletiva dos interesses ou
direitos individuais homogêneos, com a ação que tem
por fito defender interesses pertinentes a pessoas já
definidas e identificáveis, mediante a legitimação
ordinária de certas entidades associativas para
representarem judicialmente os seus filiados, na defesa
de seus direitos, prevista no inciso XXI do seu art. 5º,
da Constituição Federal, pode-se permitir o
prosseguimento do feito desde que se perceba, como na
hipótese, que o objetivo primordial é o de defender
os direitos individuais homogêneos, uma vez que se
deve extrair da inicial o que possa haver de maior
utilidade, relevando certos deslizes formais que sejam
periféricos para a compreensão da controvérsia, pois o
processo judicial moderno, como já lembrava Couture,
não é uma missa jurídica, de liturgia intocável.
Ação proposta contra companhias fabricantes de
cigarros.
Recurso não conhecido.
Data da Decisão
04/05/2000
Orgão Julgador
T4 - QUARTA TURMA
Decisão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os
Srs.
Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer
do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros
Ruy Rosado de Aguiar, Sálvio de Figueiredo Teixeira e
Barros Monteiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr.
Ministro Aldir
Passarinho Júnior.

Ainda neste mesmo sentido decidiu também a Instância Especial:

Acórdão
RESP 106888 / PR ; RECURSO ESPECIAL
1996/0056344-6
Fonte
DJ DATA:05/08/2002 PG:00196
Relator
Min. CESAR ASFOR ROCHA (1098)
Ementa
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E
DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE
CADERNETA DE POUPANÇA. DEFESA DOS
INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. DISPENSA DE PRÉ-
CONSTITUIÇÃO PELO MENOS HÁ UM ANO.
IMPOSSIBILIDADE DA AÇÃO COLETIVA
SUPERADA. LITISCONSÓRCIO
ATIVO. ADMISSÃO.
- O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) é
aplicável aos
contratos firmados entre as instituições financeiras e
seus clientes
referentes à caderneta de poupança.
- Presente o interesse social pela dimensão do dano e
sendo relevante o bem jurídico a ser protegido, como
na hipótese, pode o juiz dispensar o requisito da pré-
constituição superior a um ano, da associação autora
da ação, de que trata o inciso III do parágrafo único do
art. 82 do Código de Defesa do Consumidor, que cuida
da defesa coletiva dos interesses ou direitos individuais
homogêneos. (grifado).
- A inclusão de litisconsortes, na ação civil pública,
segue as regras do Código de Processo Civil, sendo
admitida, de regra, apenas em momento anterior à
citação da ré. Na presente hipótese, contudo, constou
expressamente da petição inicial o pedido de
publicação do edital para a convocação dos
interessados, o que somente se deu após a citação, por
inércia do magistrado de primeiro grau. Não se
pretendeu alterar o pedido ou a causa de pedir, sendo
aberta vista à parte contrária, que teve a oportunidade
de se manifestar sobre a petição e os documentos a ela
acostados, de forma que não houve qualquer prejuízo
para o exercício de sua ampla defesa, sendo-lhe
assegurado o contraditório. Destarte, admissível, ante
às peculiaridades do caso e apenas excepcionalmente, o
litisconsórcio ativo após a citação.
- Recurso especial conhecido e provido.

Data da Decisão
28/03/2001
Orgão Julgador
S2 - SEGUNDA SEÇÃO
Decisão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os
Srs. Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por maioria, vencidos os Srs.
Ministros Carlos Alberto Menezes Direito e Aldir
Passarinho Júnior, conhecer do recurso e lhe dar
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy
Rosado de Aguiar, Ari Pargendler, Nancy Andrighi,
Antônio de Pádua Ribeiro, Waldemar Zveiter e Sálvio
de Figueiredo Teixeira.

Desta feita tratado da possibilidade da dispensa e demonstrado julgamentos


do Superior Tribunal de Justiça neste sentido cabe-nos apenas agora
demonstrar o interesse social e o bem protegido por esta demanda.

Cabe frisar que a lesão que vem acontecendo em nossa cidade está afligindo
todos os consumidores de água do município, pois houve um aumento
irregular e realizado de forma obscura e isto vem afetando o orçamento
familiar de toda a população limeirense, inclusive a classe menos favorecida.

O bem a ser protegido é o Direito do Consumidor, é seu direito a um serviço


público digno, continuo, eficaz e que não onere seu bolso de forma a faltar-
lhe o que comer em casa.

Portanto percebemos que é relevante o interesse social da questão e do bem a


ser protegido com ela, cabendo portanto a dispensa deste requisito de pré
constituição.

Ante ao exposto requeremos desde já a dispensa do requisito de pré


constituição para que a Associação de Proteção e Defesa dos Direitos do
Cidadão possa figurar de forma legitima a presente ação civil pública.

DOS FATOS
A requerida em 2/06/1995 assumiu nesta cidade como Concessionária
prestadora de serviço público de abastecimento de água, coleta e tratamento
de esgotos sanitários do Município de Limeira, que incluí o bombeamento,
tratamento, distribuição e adução de água, coleta, tratamento e a destinação
final de esgotos sanitários, com a execução de obras públicas, nos termos do
Edital n. 68/94 da Concorrência Pública 07/94, em especial seus itens 6.2.1 a
6.2.21, e da Proposta do Consórcio vencedor.

Os consumidores dos serviços de água e esgoto na cidade de Limeira, que têm


a Ré como fornecedora desses serviços públicos essenciais, estão sendo
constrangidos com a suspensão do fornecimento de água quando não podem
no vencimento quitar seus respectivos débitos.

O fato é público e notório sendo, inclusive, pactuado no contrato de


concessão (artigo 48, alínea a) esta previsão de corte em caso de
inadimplência ferindo frontalmente normas federais, estaduais e a
Constituição Federal conforme será demonstrado.

Essas suspensões no fornecimento dos serviços de água vêm se repetindo e se


tornando a cada dia mais comum. E a falta de água em inúmeros municípios
de Limeira é preocupante, haja vista que uma das causas das epidemias é a
falta de água tratada para o consumo humano.

Além desse interesse da saúde pública, também se observa que o


constrangimento aos cidadão é irreversível, pois mesmo após o pagamento da
dívida, já estará atingida a sua dignidade da pessoa humana, essência da
festejada cidadania brasileira.

Neste caminho, consequentemente, o dano moral consumado impregna o


consumidor com o conceito de caloteiro, no mínimo, perante os seus
familiares, vizinhos, amigos e a comunidade que o conhece.

É a dor da personalidade de milhares de brasileiros, cidadãos consumidores


no Município de Limeira, marginalizados pelo estigma de uma sociedade que
se autodenomina de civilizada e às portas do terceiro milênio deixa-os sem
esse serviço essencial e ainda põe em perigo a saúde da coletividade.

A continuidade do mencionado serviço interessa não somente ao indivíduo,


mas sim e especialmente à sociedade.

Entretanto, se negando esse direito essencial à sobrevivência da pessoa


humana, fatalmente se atingirá o corpo social como um todo.

De outro lado, a Ré quer receber o seu crédito, é seu direito, mas jamais
poderá interrompe o fornecimento desse serviço sem afrontar à cidadania
brasileira.

Destarte, não se pode admitir que essa prestadora de serviço público, por sua
vontade unilateral, interrompa o fornecimento de água destinada ao
consumidor final, usurpando por essa via o direito a esse serviço
indispensável à cidadania; pois, o sistema jurídico brasileiro não contempla a
justiça privada, mas sim prevê medidas judiciais, quer civil, quer penal para
responsabilizar o cidadão que se encontre inadimplente ou que tenha
cometido qualquer ilícito previsto nestas searas jurídicas; porém, deverá
passar antes pelo crivo do due process of law, quer seja administrativo, quer
seja judicial com o direito ampla defesa e o contraditório. É o império da lei.

Por fim, não havendo outra alternativa para que seja restabelecido, no
interesse maior da coletividade, a continuidade e a essencialidade do serviço
público de água e esgoto é que se propõe a presente ação civil pública.

SUBMISSÃO DA ÁGUAS DE LIMEIRA AO CÓDIGO DE DEFESA


DO CONSUMIDOR

A empresa Águas de Limeira é uma concessionária de serviço público


submetida como veremos ao Código de Defesa do Consumidor.

O Estado com o objetivo de melhorar seus serviços optou por descentralizar


suas amplas e complexas atividade de prestação de serviços públicos e de
utilidade pública que se outorgam às autarquias e entidades paraestatais, ou se
delegam a concessionários, permissionárias e autorizatários, ou se executam
por acordos sob a modalidade de convênios e consórcios administrativos.. E o
fez com a publicação da lei 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 onde “Dispõe
sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos
previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências.” Tal lei
seguiu o preceito do artigo 22 do CDC, prevendo sobre “Serviço Adequado”,
Capítulo II, o art. 6., parágrafo 1o a 3o , que dispõe que toda concessão ou
permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento
dos usuários, conforme as normas pertinentes que a lei ou respectivo
contrato estabelecem, conceituando, ao depois, que “Serviço Adequado é o
que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”
(art. 6o, parágrafo 1o ).

No Capítulo III “Dos Direitos e Obrigações dos Usuários” em seu artigo 7a diz
que “As concessionária de serviços públicos, de direito público e privado, nos
Estados e no Distrito Federal, são obrigadas a oferecer ao CONSUMIDOR e
ao usuário,”.......

Vislumbra-se até agora que a Lei 8.987/95 que dispõe sobre o regime de
concessão, não fica adstrito somente a sua regulamentação e sim remete
também “nas normas pertinentes” (art. 6) que é o Código de Defesa do
consumidor em consonância com o artigo 22 do CDC. De outro lado o
próprio artigo 7o A . da Lei 8.987/95 se dirige ao “consumidor” – “As
concessionárias de serviços públicos, de direito público e privado, nos
Estados e no Distrito Federal, são obrigadas a oferecer ao
CONSUMIDOR”....Desta feita entre a Águas de Limeira e seus clientes
existe uma relação de consumo e que a ela se aplica, então, o Código de
Defesa do Consumidor.

E não é só, o artigo 3o do CDC define fornecedor como “toda pessoa física
ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.”,
enquadrando perfeitamente a atividade da Águas de Limeira dentro do
conceito de fornecedor do CDC fornecida pelo referido artigo.
Além do que o parágrafo 1o do artigo 3 do CDC dispõe de forma clara que
“produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.” A água
neste caso também é tratada com cloro e filtrada agregando serviço. “Tanto a
água encanada é produto que pode ser considerada objeto de crime contra o
patrimônio”, foi o que decidiu a Terceira Turma Cível na Apelação
44.739/97, relatora Desa. Sandra de Santis e Revisor Campos Amaral TJDF.

Vale ainda destacar a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Minas


Gerais na Apelação no 45.376-1, da comarca de Pará de Minas que decidiu:

“COPASA – SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA


APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – SENTENÇA CONFIRMADA.
A relação de fornecimento de água entre a COPASA e
seus clientes é uma relação de consumo; aplica-se o
Código de Defesa do Consumidor”

No mesmo sentido:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO


GRANDE DO SUL
No 599361623
Relator: ARNO WERLANG
APELAÇÃO CÍVEL

EMENTA
Corsan. Hidrômetro danificado. Valor gasto da reposição.
Multa. I – a corsan mantém com seus usuários típica
relação de consumo, sendo tais relações protegidas pelo
código de defesa do consumidor. II – os artigos 93 e 94
do regulamento dos serviços de água e esgoto estabelecem
a cobrança do valor gasto com a reposição do Hidrômetro,
sendo perfeitamente admitidos, uma vez que não são
abusivos. III – o artigo 132 do mencionado regulamento,
entendido como cláusula do contrato de adesão, ao deixar
a critério exclusivo da corsan estabelecer quando haverá
cobrança de multa e qual será o seu valor, coloca o
consumidor em exagerada desvantagem, devendo, pois ser
considerada nula de acordo com o código de defesa do
consumidor. Recurso improvido. Sentença confirmada.
(apelação cível n. 599361623, segunda câmara cível,
tribunal de justiça do rs, relator ; des. Arno werlang,
julgado em 13/10/99)

Desta feita, os requerentes estão ao abrigo do Código de Defesa do


Consumidor, cujas normas de ordem pública e interesse social foram impostas
nos termos dos art. 5o, inciso XXXII, e 170, inc. V, da Constituição Federal.

DO DIREITO

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor em 1990, Lei 8.078/90,


ficou constituída a relação de consumo entre os usuários do serviço público
de abastecimento de água e as empresas concessionárias deste serviço.
Acontece porém que desde a Constituição Federal de 1988, os serviços
públicos considerados essenciais devem e são oferecidos de forma contínua
não havendo possibilidade de corte no seu fornecimento devido aos danos que
podem causar a estes consumidores.

A Ré, fornecedora de um serviço público essencial, interrompe sem qualquer


amparo legal o fornecimento de água sob o argumento da falta de pagamento
do consumo mensal ou qualquer outro débito imputado ao consumidor final.

Esse serviço visa primeiramente o interesse da saúde pública, bem maior da


sociedade.

Portanto a sua supressão constituem sérios riscos a esse interesse da


coletividade (saúde pública) e à dignidade da pessoa humana, posto que se
persegue também à sobrevivência da pessoa humana, como pretendem os
povos civilizados.

Desta feita, tem-se que no primeiro se busca assegurar o direito da


coletividade à saúde; enquanto no segundo se visou o bem estar do indivíduo
como da integrante da sociedade.

Por oportuno, faz-se conveniente analisar a Lei Estadual nº 7.835/92 em seu


artigo 16 garante aos usuários e consumidores que receberão do
concessionário o devido serviço adequado senão vejamos:

CAPÍTULO V
Dos Direitos e Deveres do Concessionário
Artigo 16 – Incumbe ao concessionário:
I – prestar serviço adequado a todos os usuários;

Ainda a Lei Federal nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que


coincidentemente o seu art. 6º, § 3º, inciso II, também se expressa da mesma
forma, em outras palavras:

CAPÍTULO II - Do Serviço Adequado (artigo 6º)


TEXTO:
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a
prestação de serviço adequado ao pleno atendimento
dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas
normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
regularidade, CONTINUIDADE, eficiência,
segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua
prestação e modicidade das tarifas.

O parágrafo 3o e incisos deste artigo supra citado prevêem a possibilidade de


corte com o seguinte texto:

§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do


serviço a sua interrupção em situação de emergência
ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações; e
II - por inadimplemento do usuário, considerado o
interesse da coletividade.

A própria Lei de concessões prevê o corte por inadimplemento, mas


desautoriza o mesmo caso haja interesse da coletividade, o que de demonstra
de forma contundente quando se fala de Saúde Pública e de riscos à
coletividade devido a falta de água tratada aos consumidores mais carentes.

Não fornecendo água tratada aos consumidores inadimplentes, sendo que


existem outros mecanismos de cobrança, colocaria em risco toda a
coletividade trazendo enormes prejuízos a saúde da população devido a falta
de higiene que impregnaria o local sem a água tratada que é essencial para a
vida humana.

Com efeito, sobre a impossibilidade da interrupção de serviço público de


caráter essencial, se traz o ensinamento da doutrina pátria, analisando esse
dispositivo legal:
"(...)
A hipótese do inc. II não autoriza, porém, a suspensão
de serviços obrigatórios, cuja prestação se faz no
interesse público ou é essencial à dignidade da pessoa
humana. Essa é a situação específica do fornecimento
de água tratada e de coleta de esgotos. A instalação de
rede de distribuição de água tratada e de coleta de
esgotos não se faz como meio de satisfação do interesse
individual dos usuários. Trata-se de instrumento de
saúde pública. Através desses serviços, eliminaram-se
quase totalmente as epidemias, transmitidas
anteriormente através da contaminação da água. A
suspensão dos serviços de água e esgoto represaria
risco à saúde pública, na medida em que alguns dos
integrantes da comunidade poderiam adquirir
doenças, evitável através do tratamento de água e
esgoto. Algo similar pode ser afirmado no tocante ao
fornecimento de energia elétrica para fins residenciais,
em situação que possa colocar em risco sua
sobrevivência. Em suma, quando a Constituição
Federal assegurou a dignidade da pessoa humana e
reconheceu o direito de todos à seguridade, introduziu
obstáculos invencível à suspensão de serviços públicos
essenciais. Nesses casos, o Estado dispõe de duas
escolhas. A primeira é promover a cobrança
compulsória do valor correspondente aos serviços que
continuam a ser prestados. A Segunda é, verificando a
carência de recursos, custear a manutenção da
prestação dos serviços ...".
(In Concessões de Serviços Públicos / Marçal Justen
Filho. – São Paulo : Dialética, 1997, pág. 130 – sem grifos
no original).

Por esta trilha segue a jurisprudência nacional, reconhecendo a


impossibilidade da suspensão do serviço público que seja essencial, conforme
se verifica nas decisões que se transcreve:

"RECURSO ESPECIAL Nº 20.112 – SANTA


CATARINA (99/0004398-7).
RELATOR: MIN. GARCIA VIEIRA.
RECTE: COMPANHIA CATARINENSE DE ÁGUAS
E SANEAMENTO – CASAN.
ADVOGADO: MARIA ATHERINO NEVES.
RECDO: ADEMAR MANOEL PEREIRA.
ADVOGADO: CARMEM DIVA LADEWING
PEREIRA E OUTRO.
EMENTA
FORNECIMENTO DE ÁGUA - SUSPENSÃO –
INADIMPLÊNCIA DO USUÁRIO – ATO
REPRÓVAVEL, DESUMANO E ILEGAL –
EXPOSIÇÃO AO RÍDICULO E AO
CONSTRANGIMENTO.
A Companhia Catarinense de Água e Saneamento
negou-se a parcelar o débito e cortou-lhe o
fornecimento de água, cometendo ato reprovável,
desumano e ilegal. ELA É OBRIGADA A FORNECER
ÁGUA À POPULAÇÃO DE MANEIRA ADEQUADA,
EFICIENTE, SEGURA E CONTÍNUA, NÃO
EXPONDO O CONSUMIDOR AO RIDÍCULO E AO
CONSTRANGIMENTO.
Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os
Exmºs. Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior
Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar
provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs.
Ministros Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz
Pereira.
Ausentes, justificadamente, o Srs. Ministros Demócrito
Reinaldo e José Delgado.
Brasília, 20 de abril de 1.999 (data do julgamento)".
(Vide Relatório, voto, Acórdão e certidão de julgamento
em anexo – docs. 19/23).

"Acórdão: RESP 167489/SP ; RECURSO ESPECIAL


(98/0018591-7)
Fonte: DJ DATA:24/08/1998 PG:00024
Relator: Ministro JOSÉ DELGADO (1105)
Ementa: TRIBUTÁRIO. SERVIÇO DE
FORNECIMENTO DE ÁGUA. TAXA. NATUREZA
TRIBUTÁRIA.
1. O serviço de fornecimento de água e esgoto é
cobrado do usuário pela entidade fornecedora como
sendo taxa, quando tem compulsoriedade.
2. Trate-se no caso em exame, de serviço público
concedido, de natureza compulsória, visando atender
necessidades coletivas ou públicas.
3. Não tem amparo jurídico a tese de que a diferença
entre taxa e preço público decorre da natureza da
relação estabelecida entre o consumidor ou usuário e a
entidade prestadora ou fornecedora do bem do serviço,
pelo que, se a entidade que presta o serviço é de direito
público, o valor cobrado caracterizar-se-ia como taxa,
por ser a relação entre ambos de direito público; ao
contrário, sendo o prestador do serviço público pessoa
jurídica de direito privado, o valor cobrado é preço
público/tarifa.
4. Prevalência no ordenamento jurídico das conclusões
do X Simpósio Nacional de Direito Tributário, no
sentido de que "a natureza jurídica da remuneração
decorre da essência da atividade realizadora, não
sendo afetada pela existência da concessão. O
concessionário recebe remuneração da mesma
natureza daquela que o Poder Concedente receberia, se
prestasse diretamente o serviço". (RF, julho a
setembro. 1987, ano 1897, v.299, p.40).
5. O art. 11, da Lei nº 2312, de 3.09.94 (Código
Nacional de Saúde) determina: "É obrigatória a
ligação de toda construção considerada habitável à
rede de canalização de esgoto, cujo afluente terá
destino fixado pela autoridade competente".
6. "No Município de Santo André/SP, as Leis
Municipais nºs 1174/29.11.56 e 2742/21.03.66 obrigam
que todos os prédios se liguem à rede coletora de
esgotos, dispondo, ainda, que os prédios situados em
locais servidos de rede de distribuição de água devem a
ela ser ligados, obrigatoriamente" (Memorial
apresentado pela recorrente).
7. Obrigatoriedade do serviço de água e esgoto.
Atividade pública (serviço) essencial posta à disposição
da coletividade para o seu bem estar e proteção à
saúde, no Município de Santo André/SP.
8. "A remuneração dos serviços de água e esgoto
normalmente é feita por taxa, em face da
obrigatoriedade da ligação domiciliar à rede pública"
(Helly Lopes Meirelles, "in" "Direito Municipal
Brasileiro", 3ª ed., RT - 1977, p.492).
9. "Se a ordem jurídica obriga a utilização de
determinado serviço, não permitindo o atendimento da
respectiva necessidade por outro meio, então é justo
que a remuneração correspondente, cobrada pelo
Poder Público, sofra as limitações próprias de tributo".
(Hugo de Brito Machado, "in" Regime Tributário da
Venda de Água, Rev. juríd. da Procuradoria-Geral da
Fazenda Estadual/Minas Gerais, nº 05, pg. 11).
10. Adoção da tese, na situação específica examinada,
de que a contribuição pelo fornecimento de água é
taxa. Aplicação da prescrição tributária, em face da
ocorrência de mais de cinco anos do início da data em
que o deferido tributo podia ser exigido.
11. Recurso especial provido.
Data da Decisão: 02/06/1998
Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA
Decisão: Por unanimidade, dar provimento ao
recurso."
"Acórdão: ROMS 8915/MA; RECURSO
ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
(97/0062447-1)
Fonte: DJ DATA: 17/08/1998 PG: 00023
Relator: Ministro JOSÉ DELGADO (1105)
Ementa: ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
SEGURANÇA. ENERGIA ELÉTRICA. AUSÊNCIA
DE PAGAMENTO DE TARIFA. CORTE.
IMPOSSIBILIDADE.
1. É condenável o ato praticado pelo usuário que desvia
energia elétrica, sujeitando-se até a responder
penalmente.
2. Essa violação, contudo, não resulta em reconhecer
como legítimo ato administrativo praticado pela
empresa concessionária fornecedora de energia e
consistente na interrupção do fornecimento da mesma.
3. A energia é, na atualidade, um bem essencial à
população, constituindo-se serviço público
indispensável subordinado ao princípio da
continuidade de sua prestação, pelo que se torna
impossível a sua interrupção.
4. Os arts. 22 e 42, do Código de Defesa do
Consumidor, aplicam-se às empresas concessionárias
de serviço público.
5. O corte de energia, como forma de compelir o
usuário ao pagamento de tarifa ou multa, extrapola os
limites da legalidade.
6. Não há de se prestigiar atuação da Justiça privada
no Brasil, especialmente, quando exercida por credor
econômica e financeiramente mais forte, em largas
proporções, do que o devedor. Afronta, se assim fosse
admitido, aos princípios constitucionais da inocência
presumida e da ampla defesa.
7. O direito do cidadão de se utilizar dos serviços
públicos essenciais para a sua vida em sociedade deve
ser interpretado com vistas a beneficiar a quem deles
se utiliza.
8. Recurso improvido.
Data da Decisão: 12/05/1998
Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA
Decisão: Por unanimidade, negar provimento ao
recurso."

Ainda neste sentido o STJ decidiu:

Acórdão MC 2543 / AC ; MEDIDA CAUTELAR


2000/0020332-7 Fonte DJ DATA:11/06/2001 PG:00094
JBCC VOL.:00192 PG:00208
RJADCOAS VOL.:00024 PG:00030
RSTJ VOL.:00153 PG:00108 Relator Min.
FRANCISCO FALCÃO (1116)
Ementa PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. CORTE NO FORNECIMENTO
DE ÁGUA.
ESTADO INADIMPLENTE. IMPOSSIBILIDADE.
MEDIDA CAUTELAR PROCEDENTE.
- O corte no fornecimento de água em prédios do
Estado atinge não somente aquele ente da Federação,
mas o próprio cidadão, porquanto a inviabilidade da
utilização do prédio e a conseqüente deficiência na
prestação dos serviços decorrentes atingem
diretamente todos os munícipes.
- O corte, utilizado pela Companhia para obrigar o
usuário ao pagamento de tarifa, extrapola os limites da
legalidade, existindo outros meios para buscar o
adimplemento do débito.
- Precedentes.
- Medida cautelar procedente
Data da Decisão 13/03/2001 Orgão Julgador T1 -
PRIMEIRA TURMA Decisão Vistos e relatados os
autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, julgar procedente a Medida Cautelar, na
forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos
autos, que ficam fazendo parte integrante do presente
julgado. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro
FRANCISCO FALCÃO. Votaram de acordo com o
Relator os Srs. Ministros HUMBERTO GOMES DE
BARROS e MILTON LUIZ PEREIRA.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros GARCIA
VIEIRA e JOSÉ DELGADO.
Resumo Estruturado
ILEGALIDADE, AUTARQUIA,
ESPONSABILIDADE, FORNECIMENTO, AGUA
POTAVEL, INTERRUPÇÃO, PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO, PREDIO, ORGÃO PUBLICO,
OBJETIVO, RECEBIMENTO, TARIFA, ATRASO,
DECORRENCIA, NATUREZA JURIDICA,
SERVIÇO ESSENCIAL, NECESSIDADE,
AFASTAMENTO, PREJUIZO, CIDADÃO,
USUARIO, SERVIÇO PUBLICO.

O próprio subscritor desta peça inicial em seu artigo no site

www.tiroequeda.com.br em data de 22.08.2002 já fazia alusão a

impossibilidade do corte do fornecimento senão vejamos:

PODE HAVER CORTE DE ÁGUA?


2002-08-05 - 13:16:33 A pergunta que respondo neste
artigo é: PODE HAVER CORTE NO
FORNECIMENTO DE ÁGUA POR FALTA DE
PAGAMENTO?

Após concessão de liminar que diminuiu de 10% para


2% a multa que incide sobre atraso de pagamento nas
contas de água e esgoto, a Empresa Águas de Limeira
vem sistematicamente indicando que o caminho a ser
tomado por ela é o CORTE DE ÁGUA como
mecanismo de “coação” para o pagamento em dia do
serviço prestado.

Vejamos o que determina a lei:

Determina o Código de Defesa do Consumidor em seu


artigo 22 que “os órgãos públicos, por si ou suas
empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes,
seguros E, QUANTO AOS ESSENCIAIS,
CONTÍNUOS”.(grifado), e seu parágrafo único - “nos
casos de descumprimento, total ou parcial, das
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas
jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados na forma prevista neste código”.

Ao encontro disso vem o artigo 42 do mesmo Código


determinando que na cobrança dos débitos de
consumidor inadimplente não deverá ficar à amostra
ao ridículo e nem submetido a ameaça.

Não resta dúvida e ninguém questiona que o serviço de


água é um serviço essencial, ou seja, é um serviço
público indispensável à vida em comunidade. A falta
de tal serviço à um único lar poderá causar uma
epidemia em toda a comunidade através das diversas
formas de transmissão de doenças como, por exemplo,
o mosquito etc...Daí a necessidade de tal serviço ser
“CONTÍNUO”.

Não pode o Prestador de Serviço Público cobrar seu


débito utilizando de ameaça, coação, constrangimento
moral ou de qualquer outro procedimento que
exponha o consumidor a ridículo, tudo como preceitua
o artigo 71 do CDC.

ART.71 - Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,


coação, constrangimento físico ou moral, afirmações
falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu
trabalho, descanso ou lazer:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

O Corte de água pela Concessionária tem o único


objetivo em compelir o consumidor ao pagamento da
“água” em atraso e com isso coloca o consumidor em
um verdadeiro escárnio provocando um
constrangimento moral, tudo o que proíbe a legislação
consumista.
Desta feita o corte da “água”, como forma de compelir
o consumidor ao pagamento da mesma ou multa,
extrapola os limites da legalidade. A permitir que tal
procedimento continue estaremos “autorizando” A
JUSTIÇA PRIVADA NO BRASIL.

É certo porém, que não podemos permitir o


enriquecimento sem causa, ou seja, que o inadimplente
fique sem honrar seu compromisso perante a
Concessionária. Não! Para tanto tem a Prestadora de
Serviços Público mecanismo legal para receber seu
crédito através de ações de cobrança por via de
Execução, pois o exercício arbitrário das próprias
razões não pode substituir ação de cobrança. Antes
disso, tem ainda, o mecanismo do parcelamento da
dívida com o consumidor inadimplente.

O que está sendo escrito aqui, não é nenhuma tese e


sim o retrato fiel do que tem decidido nossos tribunais
e em especial o Superior Tribunal de Justiça que é a
máxima instância quanto se trata de normas
infraconstitucionais, no caso o Código de Defesa do
Consumidor. Para tanto terminamos com a transcrição
de todos os acórdãos proferidos por esta Colenda Corte
que proibiu cortes tanto em energia elétrica como em
serviços de água e esgoto para os consumidores
inadimplentes.

ACÓRDÃO, RELATOR, PUBLICAÇÃO:

EARESP 279502/SC; EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO AGRAVO
REGIMENTAL NO RESP (2000/0097801-9)
Min. FRANCISCO FALCÃO
DJ DATA:03/06/2002 PG:00146

EARESP 298017/MG; EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO
RESP (2000/0144950-8)
Min. FRANCISCO FALCÃO
DJ DATA:15/04/2002 PG:00172

RESP 206219/RS RECURSO ESPECIAL


(1999/0019387-3)
Min. MILTON LUIZ PEREIRA
DJ DATA:25/03/2002 PG:00181

AGRMC 3982/AC ; AGRAVO REGIMENTAL NA


MEDIDA CAUTELAR (2001/0092137-1)
Min. LUIZ FUX
DJ DATA:25/03/2002 PG:00177

AGRESP 298017/MG ; AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL (2000/0144950-8)
Min. FRANCISCO FALCÃO
DJ DATA:27/08/2001 PG:00230
MC 2543/AC ; MEDIDA CAUTELAR (2000/0020332-
7)
Min. FRANCISCO FALCÃO
DJ DATA:11/06/2001 PG:00094
JBCC .....VOL.:00192 PG:00208
RJADCOAS VOL.:00024 ..PG:00030

RESP 122812/ES ; RECURSO ESPECIAL


(1997/0016898-0)
Min. MILTON LUIZ PEREIRA
DJ DATA:26/03/2001 PG:00369
JBCC VOL.:00189 PG:00442
LEXSTJ VOL.:00143 PG:00104
RJADCOAS VOL.:00024 PG:00042

RESP 223778/RJ; RECURSO ESPECIAL


(1999/0064555-3)
Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS
DJ DATA:13/03/2000 PG:00143
RSTJ VOL.:00134 PG:00145

AGA 248297/SE; AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO (1999/0055461-2)
Min. NANCY ANDRIGHI
DJ DATA:11/09/2000 PG:00246

AGA 307905/PB; AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO (2000/0047716-8)
Min. JOSÉ DELGADO
DJ DATA:27/11/2000 PG:00145 JBCC
VOL.:00186 PG:00355

RESP 265177/RJ; RECURSO ESPECIAL


(2000/0064285-1)
Min. RUY ROSADO DE AGUIAR
DJ DATA:18/12/2000 PG:00207

RESP 278532/RO ; RECURSO ESPECIAL


(2000/0095857-3)
Min. FRANCISCO FALCÃO
DJ DATA:18/12/2000 PG:00166
JBCC VOL.:00187 PG:00252
RSTJ VOL.:00143 PG:00146

RESP 174085/GO ; RECURSO ESPECIAL


(1998/0033219-7)
Min. JOSÉ DELGADO
DJ DATA:21/09/1998 PG:00096 LEXSTJ
VOL.:00114 PG:00239

ROMS 8915/MA ; RECURSO ORDINARIO EM


MANDADO DE SEGURANÇA (1997/0062447-1)
Min. JOSÉ DELGADO
DJ DATA:17/08/1998 PG:00023
Isto posto não resta nenhuma dúvida que o corte no
fornecimento de água e esgoto como mecanismo de
coagir o consumidor a quitar seus débitos ofende de
forma direta e frontal os artigos 22, 42, 71 do Código
de Defesa do Consumidor.
por MÁRIO BUCCI

Com efeito, conclui-se que a prestação adequada do serviço público que tenha
a natureza essencial, como o tem o fornecimento de água tratada, deve ser
efetivado de forma continua para que se preserve a saúde pública e à
dignidade da pessoa humana, não podendo, portanto, ser suspenso por
inadimplemento ou por qualquer outra hipótese que não seja visando o
interesse da coletividade (situações de emergências que ponham em perigo a
comunidade, ou ainda o próprio consumidor), restando tão somente a Ré
utilizar os meios judiciais disponíveis para receber o seu crédito de forma
civilizada.

O mesmo tratamento têm às pessoas jurídicas, quer de direito público, quer de


direito privado, prestadoras de serviços de natureza essencial, tendo em vista
que objetivam assegurar o direito à dignidade das pessoas que são atendidas
por seus serviços indispensáveis ao bem estar da população (hospitais, casa de
saúde etc.).

Por outro lado, com relação a qualquer outra classe de consumidores finais,
cite-se as pessoas jurídicas de direito privado, ainda que haja o
inadimplemento, não há também como admitir que a Ré, sem o devido
processo legal, esquecendo-se da ampla defesa, do contraditório etc., possa
fazer justiça de mão própria, justiça privada, assuma a função do Poder
Judiciário e decida a seu belo prazer suspender o fornecimento de água
tratada.

Por conseguinte, a atitude da Ré infringe, entre outros, o disposto no art. 1º,


inciso III, art. 5º, incisos LIV e LV, art. 170, caput, e seu inciso V, combinado
com o art. 175, Parágrafo único, II e IV, todos da Constituição Federal, que
assim expressam:

"Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada


pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III – a dignidade da pessoa humana;
(...)
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade,
nos termos seguintes:
(...)
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal;
LV – aos litigantes, em processo judi-cial, aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
V – defesa do consumidor;
(...)
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.
Parágrafo único. A Lei disporá sobre:
(...)
IV – a obrigação de manter serviço adequado."

Fica confirmado, sem hesitação, que a conduta da Ré suspendendo o


fornecimento de água como vem acontecendo, além dos dispositivos
constitucionais e de ordem normativa ordinária, acima citados, também
infringe os preceitos contidos no Código de Defesa do Consumidor, mais
especificamente as determinações inseridas no art. 4º, inciso III, art. 6º, inciso
X, art. 22, e ainda no art. 42 e 71, ora transcritos:

"Art. 4º - A Política Nacional das Relações de


Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das
relações de consumo:
(...)
III – Harmonização dos interesses dos participantes das
relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os
princípios nos quais se funda a ordem econômica (art.
179 da Constituição Federal), sempre com base na boa-
fé e equilíbrio entre os consumidores e fornecedores.
(...)
Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
(...)
X – Adequada e eficaz prestação prestação dos serviços
públicos em geral.
(...)
Art. 22 – Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra
forma de empreendimento, SÃO OBRIGADOS A
FORNECER SERVIÇOS ADEQUADOS, eficientes,
seguros E, QUANTO AOS ESSENCIAIS, CONTÍNUOS.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as
pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os
danos causados, na forma prevista neste Código.
(...)
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor
inadimplente não será exposto a ridículo, nem
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça. "

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,


coação, constrangimento físico ou moral, afirmações
falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu
trabalho, descanso ou lazer:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e
multa.
Neste sentido ainda tem-se a sentença da 22a vara cível da comarca de Belém
- Justiça do Pará, em mandado de segurança que pedimos a máxima Vênia
para citar:

“PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
22o. VARA CÍVEL DE BELÉM
Ruth do Couto Gurjão
Juíza da 22ª Vara Cível de Belém
Juíza: Dra. Ruth do Couto Gurjão
Impetrante: Maria da Glória Rabelo Costa
Advogado: Dr. Mário Antônio Lobato de Paiva
Impetrado: Diretor-Presidente da Companhia de
Saneamento do Pará- COSANPA
Ação de Mandado de Segurança
Autos de nO: 2000131144-6
Vistos, etc...
MARIA DA GLÓRIA RABELO COSTA, devidamente
qualificada e legalmente representada, impetra
MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE
LIMINAR INALDITA ALTERA PARS, contra
DIRETOR- PRESIDENTE DA COMPANHIA DE
SANEAMENTO DO PARÁ- COSANPA, pelos fatos e
fundamentos:
Alega a impetrante que no mês de dezembro de 2000 foi
surpreendida por funcionários da COSANPA que, sem
maiores explicações, interromperam o serviço de
funcionamento de água, não permitindo que a impetrante
fosse procurar os comprovantes de pagamento.
Ressalta que o serviço funcionamento de água é uma
relação de consumo, considerado fornecedor a empresa de
Saneamento- COSANPA, na forma do art.3º do código de
defesa do consumidor, e os seus usuários são
consumidores na forma do art. 2º, parágrafo único da
mesma norma.
Aduz que o art. 6º, inciso x, do código da defesa do
consumidor, consigna que é direito básico do consumidor
"a adequada é eficaz prestação dos serviço público em
geral". O art. 4º do CDC estabelece a política nacional das
relações de consumo, cujo objetivo é atender às
necessidades dos consumidores, respeitando a sua
dignidade, saúde e segurança, providenciando a melhoria
de sua qualidade de vida, citando ainda o art. 175,
parágrafo único, inciso IV da constituição Federal.
Destaca o art. 4º, inciso VI do CDC, o qual consagra a
ação governamental de coibição e repressão eficiente de
todos os abusos no mercado de consumo, pois cada dia
torna –se mais comum relações contra o fornecedor pelos
serviços prestados, sendo muitas vezes o consumidor
surpreendido com o débito indevido em suas contas,
recebendo a orientação de pagar para depois discutir,
sobre pena de corte do fornecimento.
Ao final, requer a concessão da medida liminar,
suspendendo o ato abusivo e ilegal de corte de
fornecimento de água, com notificação da autoridade
como coatora para prestar as devidas informações.
Concluso, foi concedida a liminar.
A autoridade coatora, COSANPA, ao prestar suas
informações alega que:
No mandado da citação da liminar, ocorreram fatos
processuais capazes de tumultuar o regular andamento do
feito, pois contava no mesmo, ordem não proferida no
despacho de fls.23, sendo entre tanto obedecido.
A natureza jurídica da remuneração exigida pelo
fornecimento da água aos usuários de tal serviço, não é
taxa específica do gênero tributo, mas sim pagamento de
um serviço. é preço de serviço que só aparece com a sua
utilização, com tipificação diferente de taxa.
O STF tem admitido que a remuneração de serviços
prestados por departamentos, companhia ou empresa de
saneamento, constitui preço público e também consagrou
legitimidade da interrupção do fornecimento de água por
falta de pagamento da tarifa.
O serviço publico é prestado mediante a remuneração de
tarifas, sendo essa remuneração que sustenta a
comunidade do serviço. Sem a cobrança de tarifas, o
sistema de fornecimento de água não existe. Determinar a
"religação" do fornecimento de água ao consumidor
inadimplente, impede à autoridade impetrada um óbice
mortal à prestação dos serviços.
O serviço publico não é gratuito e se assim fosse, assistiria
razão a impetrante, contudo tal gratuidade não pode ser
presumida em função de essencialidade do serviço
prestado, ao contrário, deve ser definitivamente afastada
para manutenção e continuidade do serviço.
Estando caracterizada a mora do usuário, o corte do
fornecimento de água não pode estar eivado de qualquer
ilegalidade, pois o Regulamento das Instalações Prediais
de águas e Esgotos Sanitários da cidade de Belém,
homologado pelo decreto nº 60656,de 09.05.1969, assim
autorizada.
O contrato de prestação de serviços de fornecimento de
água e esgoto, na verdade tem natureza de contrato de
adesão, onde o usuário de serviço adere as clausulas
contratuais automaticamente, com a simples autorização
do serviço. A relação Jurídica entre a contratante e o
contratado, pressupõe um contrato liberal, de cunho
oneroso, prevalecendo o previsto no art. 1.092 do código
civil.
Que, com o advento do código do consumidor, o art. 22
prescreveu um fator do consumidor obrigatoriedade dos
órgãos público, por si ou empresas concessionárias ou
permissionárias de fornecer serviços adequados, seguros e,
quantos aos essenciais continuos, o que desconsidera
espancado este equivoco do código do consumidor.
Invoca o art. 3º, parágrafo 2º da lei nº 8.078/90 do mesmo
código, porque tais serviços de remuneração pelo
pagamento de taxas ou tarifas, portanto, não tem
remuneração específica e por isso não pode ser prestigiado
o consumidor inadimplente que os serviços essenciais
sejam suspensos por motivos injustificados. Assim, os
órgãos públicos ou entidades paraestatais estão obrigados
a fornecer os serviços essenciais como água e energia
elétrica, desde que sejam pagos, dependendo disto a sua
continuidade.
Considera que estando em casos interesses individuais de
determinado usuário, a oferta de serviço pode sofrer
solução de continuidade, caso não estejam observadas as
normas administrativas, porque a norma visa interesse da
coletividade e não do indivíduo consumidor.
Ao final, requer a denegação do mandado e a condenação
da impetrante nas custas e normas de advogado.
Junto aos autos documentos de fls. 57/58.
Às fls. 59, o Recurso de Agravo interposto pela impetrada,
nos termos dos art. 529 do CPC, sem tudo juntar a cópia
do agravo
Com vista ao Ministério Publico, entende que sendo o
serviço de água específico, divisível, facultativo e de
execução indireta, o seu fornecimento pode ser
interrompido mormente pela inadimplência, devendo o
usuário ser comunicado dessa interrupção com o prazo
mínimo de 15 dias de antecedência.
Ao final, por entender que o serviço de água domiciliar
não goza do caráter de essencialidade obrigatória,
indivisibilidade e nem de obrigatoriedade de um poder
publico o prestar de maneira direta, opina pelo
indeferimento do mandado de segurança, uma vez que não
houve violação a direito liquido e certo a reclamar pela
interrupção desse serviço em domicilio comum, por
inadimplência do usuário.
Ë o relatório.
Ao Mérito.
Na verdade, o serviço de água é, indubitavelmente relação
de consumo, considerada fornecedora a COSANPA, na
forma do art. 2º, parágrafo único e 3º do CDC, sendo os
seus usuários os comunicadores.
"O serviço de fornecimento de água é
PÚBLICO E ESSENCIAL, subordinado ao
princípio da continuidade (o grifo é
nosso), na forma do art. 22 do código
do consumidor, da mesma forma que o
serviço de telefonia e energia
elétrica".
Enuncia o art. 22 e seu parágrafo único do CDC que: "Os
órgãos públicos, por ou suas empresas, concessionárias,
permissionária ou sob qualquer outra forma de
empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
continuos".
Examinado os autos, constato que a liminar concedida,
embasada nos arts. 5º, inciso XXXII e 170, inciso V da
Constituição Federal, c/c o art.. 7º, inciso II da Lei
nº1.533/51, inquinou-se necessária, haja visto que :
É a própria jurisprudência pátria que vem determinando
em seus julgados como consta na EMENTA :
MANDADO DE SEGURANÇA. CORTE NO
FORNECIMENTO DE ÁGUA, EM VIRTUDE DE
ATRASO NO PAGAMENTO DE CONTAS.
QUESTÕES PRÉVIAS REJEITADAS.
ABASTECIMENTO DE ÁGUA É SERVIÇO
PÚBLICO, POR SER UMA UTILIDADE FRÍVEL
PELOS ADMINISTRADOS E POR ESTAR
JUNGINDO A UM REGIME JURIDICO DE
DIREITO PÚBLICO. ESSENCIALIDADE DO BEM
(ÁGUA) QUE DESAUTORIZA O CORTE, MANU
MILITAREI, COM FEITO DE OBRIGAR O
DEVEDOR A PAGAR. CREDITO QUE HÁ DE SER
BUSCADO EM OUTRAS VIAS. ORDEM
CONCEDIDA.
1.Mandado de Segurança ajuizado com o azo de assegurar
ao independente a ligação do fornecimento de água de seu
imóvel, cortado em virtude de atraso no pagamento.
2.Matéria prévia de inadequação da via eleita e de
interesse de agir afastadas, posto que cabível o writ, desde
que aja direito liquido e certo a ser tutelado, e que há
necessidade da tutela jurisdicional e utilidade da via eleita
3.Ausência do direito liquido e certo e inexistência de
impossibilidade de discussão de matéria fática no writ que
se confundem com o mérito, onde devem ser analisados.
4.Questões previas rejeitadas.
5.O serviço de abastecimento de água e saneamento é
serviço público (por ser uma utilidade por todos frivél-
substrato material de sua noção- e por estar junjindo a um
regime jurídico próprio, de direito público, erigido pela
Constituição Federal e pelas leis nº 8.987/95- traço formal
de sua noção).
6.O fornecimento de água é hoje em dia, para quem já teve
acesso ao mesmo, uma assencialidade. Com relevo,
denominado "liquido precioso" serve para a higiene do ser
humano, para sua alimentação, para saciar sua sede, enfim,
para tudo o mais que sabemos e ressabemos da maior
importância.
7.Ante essa conjuntura, é desarrazoada a ruptura no
fornecimento para compelir o consumidor a arcar com as
tarifas em atraso, valores estes que haverão de ser
buscados em outras vias idôneas. Inteligência, ademais do
art. 22, da Lei nº 8.078/90 (Código do consumidor).
8.Procedência do writ.
Notificada a autoridade coatora, pede vista dos autos,
enquanto que o cartório, desavisadamente faz a remessa
dos autos ao Ministério Público, o qual na sua
manifestação, inicialmente pede a revelia da parte
suplicada por entender que a mesma não se manifestou
nos autos em tempo hábil, e em sua exposição opina pelo
indeferimento de writ, por entender que o serviços de água
domiciliar não tem o caráter de essencialidade obrigatória,
acompanhando corretamente doutrinária e referindo-se em
especial, neste aspecto, nos estudos esposados por HELLY
MEIRELES e JOSÉ CRETELLA JÚNIOR.
Obsta-se entretanto a este entendimento, a norma do
consumidor no art.4º, inciso I da CDC.
O fato de que a impetrante se encontrava em débito para
com a recorrida, não lhe autorizava submete-la a qualquer
constrangimento ou ameaça, coação ou qualquer outro
procedimento que exponha ao ridículo ou interfira com o
seu trabalho, descanso ou lazer. A ÁGUA É
REALMENTE NECESSÁRIA PARA A
SOBREVIVÊNCIA DO SER HUMANO.
É um direito natural a vida. A água é vida, portanto, o
CDC se impõe nos seus art. 42 e 71, proibindo que a
cobrança do fornecedor de água, possa interromper o
serviço o serviço publico essencial do usuário consumidor.
É portanto, o fornecimento de água serviço essencial, o
que concede a qualquer ofendido pleitear a medida judicial
a defesa do seu direito básico, para que seja observado o
fornecimento de produtos e serviços (relação de consumo)
a teor de art. 6º, incisos VI e X, c/c o art. 22 do CDC.
Tal principio proíbe o retrocesso, porque o seu art. 5º,
inciso XXXII, 170 e art. 48 e suas disposições transitórias,
vem protegidos pelo art.1º do CDC, o que atende à política
a política nacional de relação de consumo, cujo o objetivo
é o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito a dignidade, saúde4 e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade
de vida, bem como a transferência e harmonia de relações
de consumo (art.4ºcaput, do CDC).
Assim é que o jurista Marcos Maselle Gouveia afirma: "A
defesa do consumidor é uma garantia fundamental prevista
no art. 5º, inciso XXXII, bem como um princípio de
relação econômica, previsto no art. 170, item V da CF"
O direito do consumidor possui garantia fundamental na
constituição e, a interrupção no fornecimento, alem de
causar uma lesão, afeta diretamente a sua dignidade e
flagrante retrocesso ao direito do consumidor.
Assim é que a prática abusiva do corte já vem sendo
conhecida em casos de fornecimento de água, pois a água
é de necessidade da população, de consumo
imprescindível e não pode ser cortada sob nenhum
propósito.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça assim se
pronunciou:
"Seu fornecimento é serviço público subordinado ao
princípio da continuidade, sendo impossível a sua
interrupção e muito menos por atraso em seu
pagamento "(Decisão unânime do stj, que rejeitou o
recurso da Companhia Catarinense de Água e
Saneamento- CASAN. Proc. RESP. 201112).
Esta decisão do STJ fundamentou-se em que:
"O fornecimento de água, por se tratar de serviço
público fundamental, essencial e vital ao ser humano,
não pode ser suspenso pelo atraso no pagamento das
respectivas tarifas, já que o poder público dispõe dos
meios cabíveis para a cobrança dos débitos dos
usuários".
Para o Ministro Garcia Vieira, a água deve ser servida
a população de maneira adequada, eficiente, segura e
continua e, em caso de atraso por parte do usuário, não
pode ser cortado o seu fornecimento porque expõe o
consumidor ao ridículo e ao constrangimento "não
podendo fazer justiça privada porque não estamos
mais vivendo nessa época e sim no império da lei,
sendo os litígios compostos pelo Poder Judiciário e não
pelo particular. A água é bem essencial a saúde e
higiene da população".
Neste sentido é o inteiro entendimento deste Juízo por se
tratar da defesa de um direito básico da consumidora, não
podendo a pessoa Jurídica criar descontinuidade, pois os
serviços essenciais se tornam indispensáveis para a
conservação, preservação da vida, saúde, higiene,
educação e trabalho das pessoas, o que, ainda para o
Ministro Garcia Vieira, "na época moderna
exemplificadamente se tornam essenciais, nas condições
de já estarem sendo prestados, o transporte, água, esgoto,
fornecimento de eletricidade com estabilidade, linha
telefônica, limpeza urbana, etc".
Para o jurista Mário de Aguiar, "uma inovação trazida pela
atual constituição é a extensão do mesmo critério às
concessionárias ou permissionárias dos serviços públicos.
Comentando o art.22 do CDC, o jurista Antônio Herman
de Vasconcelos e Benjamim, assim se expressa: "A
Segunda inovação importante é a determinação que os
serviços essenciais- e só eles- devem ser contínuos, isto é,
não podem ser interrompidos. Cria-se para o consumidor
um direito à continuidade do serviço, podendo o
consumidor postular em juízo que se condene a
administração a fornecê-lo".
Tal situação está reconhecida por nossas Câmaras Civis,
como por exemplo do tribunal Catarinense, cujo reexame
de sentença de ação de mandado de segurança confirmou a
sentença a qual, fundamentado-se em que: "Se houver
débito a cobrança devera ser feita pela via própria. O que
não pode é o usuário ser coagido a pagar o que julga
razoavelmente não deve sob teor de ver interrompido o
fornecimento de água, bem indispensável para a vida
humana".
Entendendo este Juízo que o art. 5º, inciso XXXXV da
Constituição Federal que: "A lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direita
e, a ré está resguardada pelo Principio da Isonomia para
ingressar em juízo e cobrar o que lhe é devido.
Isto Posto, JULGO PROCEDENTE O MANDADO DE
SEGURANÇA impetrado por MARIA DA GLÓRIA
RABELO COSTA contra ato do DIRETOR
PRESIDENTE DA COMPANHIA DE
SANEAMENTO DO PARÁ- COSANPA, declarando a
ilegalidade do ato ruptura do fornecimento de água no
imóvel da impetrante, fundamentando esta decisão nos
termos do art. 6º, inciso VI e X e art. 22, ambos do código
de defesa do consumidor, c/c o art. 170 e art.5º, inciso
XXXXV da lei básica prática.
E para que surta seus efeitos legais,
P.R.I.C.
Belém, junho de 2001
Ruth do Couto Gurjão
Juíza da 22O. Vara Cível de Belém”

Por essas razões, tem que ser restabelecido, resguardando a saúde pública, o
direito à dignidade da pessoa humana, o caráter essencial e continuo do
fornecimento de água e ainda o due process of law nas cobranças de débitos
atrasados dos consumidores finais em referência.

Por consequência, há de ser condenada a Ré na obrigação de fazer, no sentido


de ser prestado de forma continua a água tratada aos consumidores finais,
devendo, portanto, retornar todos os fornecimentos que tenham sido
suspensos por inadimplência atribuída a esses usuários; e, ainda, compelindo-
a não suspender mais a parti da decisão liminar, ou definitiva proferida nesta
ação civil pública, para tanto cominando-lhe a pena de multa pelo não
cumprimento da respectiva decisão judicial, quer liminar, quer definitiva, em
qualquer caso, após o prazo determinado por esse douto Juízo, nos exatos
termos do Parágrafo único, do art. 84, § 4º do Código de Defesa Consumidor.

04. DA LIMINAR

Faz-se inevitável que em caráter liminar inaudita altera pars seja


determinado à Re a não suspender o fornecimento de água tratada de qualquer
que seja o consumidor e, ainda, que refaça todas as ligações que interrompeu
por conta de inadimplemento, sob pena de continuar pondo em perigo à saúde
pública e afrontar à dignidade da pessoa humana, à essencialidade do
mencionado serviço público e ainda ao devido processo legal.

Também deve ser cominada a pena de multa, por cada consumidor que venha
ou continue a sofre com a suspensão do fornecimento de água tratada, no
valor de 2% (dois por cento), pelo não cumprimento da decisão liminar por
parte da Ré, calculando-a sobre o maior faturamento mensal da citada
empresa, ocorrido neste ano, por força do preceito contido no § 4º, do art. 84,
do Código de Defesa do Consumidor.

Consequentemente, sem maiores esforços se constata que a existência do


fumuns boni iure é indiscutível, basta se atentar para plausibilidade desta ação
civil pública vir a ser julgada procedente com base no direito coletivo
defendido, consoante foi detidamente demonstrado anteriormente, inclusive
com fundamento em decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça.
O mesmo se pode afirmar do periculum in mora, pelo o simples fato de que se
não for coibido incontinenti o abuso praticado pela Ré, que vem suspendendo
o fornecimento de água tratada, constrangendo os consumidores em flagrante
desrespeito à dignidade da pessoa, não atendendo à essencialidade do referido
serviço público, ao devido processo legal, certamente cada um desses atos
ilegais causará danos morais e patrimoniais de caráter irreversível a cada um
desses usuários, sem no entanto esquecer de que a falta de água tratada fará
com que essas milhares de unidades consumidoras passem a propiciar
maiores estragos na saúde pública, especialmente aumentando os casos de
cólera e dengue, entre outros.

Deste modo, presentes o fumus boni iure e o periculum in mora se tem


autorizada à concessão da liminar requerida com esteio no § 3º, do art. 84, do
Código de Defesa do Consumidor.
05. DOS PEDIDOS
Em face do exposto, requer,
LIMINARMENTE:
1. inaudita altera pars, que seja
determinando à Ré a não proceder mais a
interrupção do fornecimento de água de
qualquer que seja o consumidor, por conta de
inadimplemento ou qualquer outro motivo,
com exceção das situações de perigo à
comunidade, ou ao próprio usuário, sob pena
de multa diária de R$ 1.000,00 pelo
descumprimento.
2. inaudita altera pars, ainda que refaça
imediatamente todas às ligações que
suspendeu pelos mesmos motivos acima, sob
pena de multa diária de R$ 1.000,00 pelo
descumprimento.
NO MÉRITO:
1. a citação da Ré, na pessoa de seu
representante legal, para no prazo legal, se
defender, querendo, sob pena de revelia,
ficando ciente que os fatos alegados e não
contestados serão tidos como verdadeiros, e
finalmente que seja condenada a não
suspender o fornecimento de água tratada,
assim como refazer todas as ligações que
interrompeu de seus consumidores por
inadimplemento, ou qualquer outra causa,
excepcionando as situações de perigo à
comunidade ou ao próprio usuário,
devidamente comprovadas.

2. também que, por cada consumidor


que tenha sofrido a suspensão em alusão ou
que não tenha sido restabelecido o
fornecimento de água tratada, seja aplicada a
pena de multa de 2% (dois por cento),
devidamente atualizada quando de seu
pagamento, sobre o maior faturamento
mensal verificado neste ano na contabilidade
da Ré, tanto no caso do descumprimento da
liminar, quanto da decisão definitiva;
devendo ser requisitado os balancetes
mensais desse período; por ser de direito e de
JUSTIÇA;

3. ainda que seja publicado edital para


que os consumidores interessados, que
desejarem, possam intervir no processo na
qualidade de litisconsortes;

4. a total procedência da presente ação


condenando-se a ré ao pagamento das custas,
honorários advocatícios e demais
cominações de estilo.

5. Requer a inversão do ônus da prova


com base no artigo 6o, inciso VIII do CDC.

6. Seja notificado ao MP para que


acompanhe o presente feito, conforme dispõe
a Lei 8078/90;

7. Requer-se ainda a dispensa do


pagamento das custas, emolumentos e outros
encargos (Lei 7.437/85, art. 18; CDC, art.
87).

8. Requer ainda o prazo de dez dias para


a juntada dos mandatos judiciais referentes a
associações constantes do cabeçalho desta
ação.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitido,


especialmente a ouvida de testemunhas, arroladas na oportunidade própria,
perícia, juntada de novo documentos para prova em contrário, tudo desde já
requerido.

Dá à causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

Nestes termos
Espera deferimento.

Limeira, 30 de junho de 2003

Mario Cesar Bucci


OAB/SP 97.431

Carlos Renato Monteiro Patrício


OAB/SP 143.871

Fabiano D’Andréa
OAB/SP 186.545

Marco Antônio Bosqueiro


Associação de Defesa e Proteção dos Direitos do Cidadão
Presidente

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