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É preciso desfazer os equívocos existentes na prática pedagógica

Enquanto o mundo se une cada vez mais através de avançadas tecnologias, a


escola continua — na maioria dos casos — trabalhando de forma fragmentada,
por meio de currículos nos quais as disciplinas funcionam com hora marcada,
dissociadas umas das outras, embora orientadas por especialistas em conteúdo
e metodologias.

É nesse contexto que se faz necessário pensar uma prática


pedagógica interdisciplinar. A expressão interdisciplinaridade
está na moda; entretanto, não raras são as vezes em que
é empregada como ilustração de práticas interativas, formas
de funcionamento institucional, propostas de trabalho
coletivo, etc. Mas leituras referentes ao tema demonstram
que muitos equívocos são cometidos quando se pretende
empregar o termo apenas como adjetivação de um exercício
que envolve pessoas de diferentes áreas. Ser interdisciplinar
vai mais além do que participar de um simples grupo composto
de especialistas multidisciplinares.

Juremir Machado apresenta o autor Edgar Morin como sujeito


interdisciplinar que “odeia as especializações que não procuram
o intercâmbio, perdem a visão de globalidade e esquecem
a comunicação com a sociedade”. Segue caracterizando
melhor os especialistas como homens de saber que, “alheios
à dialógica da complexidade, não passam de gafanhotos simpáticos
quando isolados; predadores, em bando”.

As citações anteriores deixam claros alguns princípios presentes


no ato interdisciplinar como um processo que:

• Envolve especialistas, embora não aceite o especialista isolado


do todo que é a vida.

• Implica intercâmbio de saberes, reconhecendo que a especialização


contém informações do todo ao qual pertence.

• Busca a visão de globalidade, pois, segundo Morin, cada


um de nós, com suas próprias peculiaridades, “traz em si,
sem o saber, o planeta inteiro. A mundialização é, ao mesmo
tempo, evidente, subconsciente e onipresente”.

• Necessita da comunicação social como recurso de encontro,


de diálogo, no qual cada um é mestre em sua própria
área, mas que, na harmonia de seu fazer competente, compõe
uma grande sinfonia (a flauta não toca como o piano,
e este difere do tambor e do violino, mas todos, em algum
momento, fazem-se necessários para expressar sua musical
mensagem: ora suave, ora agressiva, em que mesmo o
silêncio pode compor acordes e expressões de valorização
do outro).

• Joga com contrários numa busca de equilíbrio e complementaridade.

• Trabalha dialogicamente com saberes alheios ou próprios,


na humildade de quem se reconhece incompleto e eterno
aprendiz.

• Carrega valores e os expressa por atitudes coerentes que


vão bem além de aparências bonitas e simpáticas, mas que
podem esconder intenções predadoras.

A interdisciplinaridade não é uma proposta pedagógica definida,


uma vez que não há uma pedagogia da interdisciplinaridade,
pois não existe um formato que a caracterize e
nenhuma descrição procedimental elaborada para explicar
sua utilização. Outrossim, pode ser considerada como uma
aspiração emergente que surge da iniciativa de integração
de diferentes saberes disciplinares.

Frigotto, em seu artigo A Interdisciplinaridade como Necessidade


e como Problema nas Ciências Sociais, argumenta que
a “interdisciplinaridade se impõe como necessidade, como

problema fundamentalmente no plano material, histórico-


cultural e no plano epistemológico”. Acrescenta, ainda, que
a interdisciplinaridade não é uma técnica didática nem um
método de investigação, pois os “processos educativos, enquanto
objetivo de investigação ou enquanto práticas pedagógicas,
somente podem ser adequadamente analisados
como objeto das Ciências Sociais”.

As propostas pedagógicas comumente surgem de forma


exógena (criadas por técnicos isolados e conhecidas através
de literatura especializada) e acabam sendo impostas como
práticas que, na maioria das vezes, não condizem nem afirmam
o contexto onde estão sendo lançadas. Aparecem,
geralmente, burocratizadas (através do poder institucional
estabelecido) e são apresentadas como receitas para solução
de problemas, podendo ser identificadas como frágeis,
efêmeras e com elevado grau de elaboração, como nos ensinam
Pombo, Guimarães e Levy.

Assim, na maioria das vezes, a interdisciplinaridade surge


como mais uma entre várias propostas pedagógicas. Quando

colocada em prática, foge ao que se entende por movimento


interdisciplinar, pois acaba sendo justificada por
razões institucionais e apontada como meio ideal para resolver
dificuldades encontradas numa práxis composta de
especialistas multidisciplinares.

Apresentada como modelo, de forma tateante (quando não


contraditória), busca a resolução ou a superação de barreiras
institucionais (onde as práticas profissionais ficam
confinadas ou até subordinadas). As instituições alteram
pequenos hábitos na esperança de verem resolvidos problemas
e acabam assumindo posturas imediatistas, sem maiores
reflexões sobre as reais possibilidades de implantação e
funcionamento coerentes.

Etges, citado por Jantsch, em seu artigo Ciência, Interdisciplinaridade


e Educação, também não reconhece a interdisciplinaridade
como método, mas a vê como um princípio
válido somente para a produção do conhecimento e, mais
concretamente, para a pesquisa quando expressa:

A interdisciplinaridade, enquanto princípio mediador


entre as diferentes disciplinas, não poderá jamais ser
elemento de redução a um denominador comum, mas
elemento teórico-metodológico da diferença e da criatividade.
A interdisciplinaridade é o princípio da máxima
exploração das potencialidades de cada ciência, da
compreensão dos seus limites, mas, acima de tudo, é o
princípio da diversidade e da criatividade.

Princípio da diversidade

Considerando que a interdisciplinaridade surge como decorrência


da especialização, há que se levar em conta a
questão dos diferentes saberes presentes em cada encontro
dialógico.

Embora a diversidade seja um princípio enriquecedor de


qualquer espaço interdisciplinar enquanto processo, ela não
exclui a construção de uma identidade grupal, pois aproveita
a identidade individual, e suas ideias são aceitas como
enriquecimento e complementaridade de aquisição de concepções
coletivas. A interdisciplinaridade, segundo Morin,
é muito mais individual do que se pensa, pois só ocorre
quando cada um dos envolvidos consegue ser autônomo o
suficiente para confiar em si mesmo, para reconhecer o erro
dos outros e para apontar a desordem.

A desordem existe e desempenha um papel produtor no


universo. A cada desvio que se nos apresenta, somos desafiados
a mudar a rota do nosso viver, a criar saídas para
os problemas surgidos, a transformar, a evoluir. É, pois, um
fenômeno surpreendente, em que o diálogo sobre ordem e
desordem faz emergirem as organizações vivas existentes.
Trabalhar com a desordem e com a incerteza não significa
deixar-se submergir por elas, mas ativar um pensamento
enérgico que enfrente o desconhecido e o inesperado.

A desordem significa desacomodação, desequilíbrio, que,


segundo Piaget, na busca de uma nova equilibração, impulsiona
o sujeito rumo à solução de conflitos, discutindo prós
e contras até chegar a novas conclusões bem mais ricas e
significativas que as existentes no momento do enfrentamento
desequilibrador.
Sempre que os homens se encontram, eles também se desencontram,
pois as experiências diversificadas, as diferenças
culturais e axiológicas e a divergência de posicionamentos
são colocadas em xeque, gerando confrontos. Confrontos
de pequeno ou grande portes exigem tratados de paz e de
harmonização constante, que dependem de um fator fundamental:
a comunicação — comunicação que implica ouvir
mais que falar, ouvir o que os colegas têm a dizer, com
a humildade de quem se reconhece eterno aprendiz, pois
há mais ideias e conhecimento em nosso mundo do que os
intelectuais imaginam. Sabemos, se muito especializados,
quase tudo de um quase nada e vivemos num mar de ignorância
que são os saberes dos outros especialistas.

Morin ilustra a ideia de comunicação ao descrever um experimento


científico em que uma árvore foi agredida, tendo
todas as suas folhas arrancadas. A árvore reagiu segregando
uma seiva de proteção contra parasitas, numa tentativa de
criar condições para que novas folhas surgissem, sem se dar
conta de que o parasita era o maior dos parasitas: o homem.
Mas o mais interessante é que as árvores vizinhas da mesma
espécie também começaram a ter a mesma reação. Assim,
fica claro que a comunicação existe entre vegetais, animais
e humanos. Entre os humanos, ocorre algo paradoxal, pois
há comunicabilidade e incomunicabilidade, porém com a
grande vantagem de o sujeito ter consciência desse exercício,
avaliando a presença ou não da comunicação, bem
como o nível em que ela ocorre.

A comunicação é um recurso valioso na avaliação do nosso


agir, pois nem sempre nossas boas intenções são garantia
de procedimentos adequados e válidos. Para avaliar nossas
ações, precisamos dos outros para, juntos, conferir se houve
participação, solidariedade e envolvimento na comunidade
— avaliação que visa à correção de desvios, mas que não
deve impedir o homem de se lançar em novos e ousados
empreendimentos.

Lançar-se ao novo, ao desconhecido, exige encontros com


os outros, e, para tanto, a tolerância precisa ocorrer pela:
• Aceitação da livre expressão do outro, que nem sempre
coincide com o nosso pensar, sentir e agir.

• Vivência da democracia, na qual há espaço para o conflito


de ideias e argumentações de todos — minorias/maiorias,
desviantes ou não.

• Consideração do erro não como contrário da verdade, mas


como uma verdade divergente e, geralmente, uma construção

A tolerância é indispensável, pois, nos dias atuais, constatamos


que precisamos ser pacientes não só com os outros,
mas conosco também. Por vezes, nos tornamos nosso maior
inimigo e nossa maior ameaça.

Guattari nos propõe três ecologias necessárias: a do meio


ambiente, a das relações e a para com nós mesmos (subjetividade
humana); ecologias como saídas contra a deterioração
causada pelo exercício equivocado e desenfreado do
poder. O mundo, a Terra (nossa Terra-pátria) sofre, lentamente,
desequilíbrios, acidentes nucleares, doenças físicas
e mentais, cataclismas, guerras, etc.

Princípio da criatividade

O que justifica novos posicionamentos e a evolução das civilizações


é a possibilidade de criar novas saídas para velhos
impasses.

A criatividade do homem precisa com urgência pensar saídas,


reinventar maneiras de viver em harmonia no interior
da família, do trabalho, das cidades, da natureza. É urgente

o delineamento de ações dinâmicas com vistas à recompensa


da “confiança da humanidade em si mesma”, como nos
fala Guattari, dificultando a invasão do pessimismo e da
passividade (já tão presentes entre nós).
O homem, como ser reflexivo, se debruça sobre suas próprias
experiências ou sobre a dos outros em tentativas de
constatação, avaliação, reestruturação, aperfeiçoamento
reorganizador e complementação enriquecedora.

Sempre que alguém alcança uma meta, surge um novo desejo


acompanhado de insatisfação e uma força energética
que gera motivos para novos esforços, novas buscas, novos
investimentos.

Eduardo Galeano fala da utopia associando-a a um horizonte,


narrando a história de um caminhante que busca chegar
até o horizonte, mas, se ele caminha dois passos, o horizonte
se afasta dois passos; se ele corre, o horizonte corre; se
ele voa, o horizonte voa. Alguém, então, o questiona: “Se o
horizonte nunca é alcançado, por que persegui-lo?”. Ao que

o autor uruguaio responde com muita sabedoria: “Se razão


nenhuma houvesse, teria seu valor por ter dado motivo ao
caminhar de quem o busca”.
Novos horizontes, pois, segundo a personagem de Fernanda
Lopes de Almeida, em A Fada que Tinha Idéias, há muitos horizontes
que são fonte de criação e de inovação.
Em interdisciplinaridade, há necessidade de se estabelecerem
horizontes e novos horizontes como metas a serem perseguidas,
através de procedimentos ainda não experimentados,
de tentativas bem fundamentadas ou da elaboração de
projetos alternativos para problemas antigos e frequentes.
Um equívoco precisa ser controlado quando se fala de criatividade.
É o equívoco de se julgar que a inovação surge do
nada. Criar significa tomar partes valiosas de algumas totalidades
analisadas e experienciadas, reestruturando essas
partes numa nova composição original (ao menos para o
seu criador) que responda às necessidades de um indivíduo
ou de uma sociedade. Ilustrando isso, temos as sete notas
musicais que, combinadas, criam sonatas, sambas, boleros,
bossa nova, etc.; ou as letras do alfabeto, que, reunidas harmonicamente,
viram textos informativos, poéticos, apelativos
e documentos.

Se o exercício interdisciplinar fosse uma vivência frequente


e comprometida, cada sujeito se enriqueceria com os conhecimentos
construídos por seus semelhantes, tornando o
ato criativo mais rico e consistente.

Referências Bibliográficas

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1985.
ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A Fada que Tinha Idéias. 11. ed. São
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FRIGOTTO, Gaudêncio. In: JANTSCH, Ari Paulo; BIANCHETTI, Lucídio
(org.) Interdisciplinaridade: Para Além da Filosofia do Sujeito.
Petrópolis: Vozes, 1995.
GALEANO, Eduardo. El Libro de Los Abrazos. Buenos Aires: Catálogo
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MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-pátria. Porto Alegre:
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POMBO, Olga; GUIMARÃES, Henrique M.; LEVY, Tereza. A Interdisciplinaridade:
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RAMOZZI-CHIAROTTINO, Zélia. Psicologia e Epistemologia Genética
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Revista do professor. Ano XV. n. 57 jan. /mar. 1999.

Aline Reis Calvo Hernandez é psicóloga.

Ivane Reis Calvo Hernandez é doutoranda em Educação e


professora titular da Faculdade de Educação da PUCRS.

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