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Gênero e meio ambiente:

a atualidade do ecofeminismo

Por ROSÂNGELA ANGELIN


Militante Feminista. Doutoranda em Direito Ambiental, na Universidade de
Osnabrück, Alemanha.

A preocupação com o meio ambiente tem aumentado no decorrer dos anos.


Já não é mais possível esconder a relação existente entre as catástrofes
naturais e a destruição e poluição do meio ambiente. A crise ambiental está
gerando problemas de caráter alarmante, os quais, além de comprometer a
qualidade de vida, em muitos casos danificam o meio ambiente de forma
irreversível, colocando em risco a vida do planeta para as gerações atuais e
futuras.
Os problemas ambientais não devem ser entendidos isoladamente, visto que
são sistêmicos, interligados e interdependentes. O capitalismo, centrado na exploração de
recursos naturais e seres humanos tem contribuído decisivamente para o aprofundamento da
destruição ambiental. Como já afirmava Engels: “não devemos vangloriar-nos demais com as
vitórias humanas sobre a natureza, pois para cada uma destas vitórias, a natureza vinga-se às
nossas custas” (ENGELS, 1972: 452).
No decorrer da história da humanidade, as mulheres têm
desenvolvido uma relação diferenciada com a natureza em
comparação aos homens. Neste texto, analisamos a pré-
disposição das mulheres em proteger o meio ambiente e qual a
relação existente entre a exploração e dominação da natureza
e a dominação e subordinação das mulheres nas relações de
gênero. Nesta análise, o movimento ecofeminista apresenta
elementos importantes para a compreensão desta relação,
contribuindo para a superação de visões simplificadoras acerca
do tema.
1. A relação das mulheres com a natureza
Uma das primeiras representações divinas criadas pelos seres
humanos foi a figura da “Deusa”, que representava a “mãe
terra”. Conforme a mitologia grega, a Grande Mãe criou o
universo sozinha, sendo Gaia a criadora primária, a “Mãe
Terra”. Também as religiões pagãs antigas, como dos Vikings
e Celtas, mantinham uma relação próxima com a natureza e
cultuavam deusas, concedendo um destaque especial para as
mulheres, pois estas tinham uma proximidade muito grande
com a “Mãe Terra”, possuindo ambas o poder da fertilidade. Na mitologia celta, as mulheres
eram invulneráveis, inteligentes, poderosas, guerreiras e líderes de nações. As mulheres
também foram os primeiros seres humanos a descobrir os ciclos da natureza, pois era possível
compará-los com o ciclo do próprio corpo. Com o cristianismo, a sociedade ocidental afastou-
se destas origens pagãs de contato com a natureza e a mulher perdeu seu destaque, já que o
Deus cultuado passou a ser masculino. A única figura feminina sagrada preservada foi a de
Maria, mas não como uma divindade, e sim como uma intermediária de Deus, uma
coadjuvante.
Diante da crise ambiental mundial e da consciência de que a Terra precisa ser preservada para
garantir a sobrevivência das espécies, inclusive a humana, houve um despertar de valores
ecológicos, ou seja, valores ligados à “Deusa” cultuada pelos povos pagãos, como o respeito a
todas as formas de vida no planeta, a convivência na diversidade, etc.
2. O “cuidado” como tarefa feminina
A opressão e submissão das mulheres surgiram muito antes do capitalismo. Seu surgimento
pode ser verificado historicamente desde que os povos deixaram de ser nômades e utilizaram
a divisão social do trabalho como forma de organização. Assim, as mulheres permaneceram
mais ligadas ao lar e aos filhos, enquanto os homens se ocupavam prioritariamente com as
caçadas, por serem, na maioria das vezes, dotados de maior força física. Assim, as mulheres
descobriram a agricultura e passaram a ter uma relação mais próxima com a natureza. Com a
descoberta do papel masculino na reprodução, entretanto, era necessário saber quais os filhos
que pertenciam a determinado homem para garantir a sucessão da herança. Inicia-se, desta
forma, o controle sobre o corpo da mulher e o fato de mantê-la no âmbito do lar e cuidando da
prole de um relacionamento monogâmico, facilitava tal intuito.
Através do desenvolvimento do capitalismo, as diferenças de gênero foram intensificadas. As
mulheres foram, estrategicamente, encarregadas do trabalho doméstico, cuidando da casa,
das crianças, dos velhos e doentes, além de “servirem” o marido, sendo caracterizadas como
“rainhas do lar”. O trabalho doméstico foi considerado gratuito e denominado como trabalho
não produtivo. Ao capitalismo a submissão social da mulher serviu inicialmente para diminuir os
custos de reprodução do trabalho, uma vez que o salário do homem não precisava ser tão alto,
pois ele não necessitava pagar pelos serviços domésticos (MIES, 1989: 47).
Simone de Beauvoir (BEAUVOIR, 1968) denuncia em seu livro O Segundo Sexo a exclusão
das mulheres do espaço público em função da naturalização do papel feminino na reprodução.
Desta forma, a mulher passa a ter uma vida cíclica, quase inconsciente, enquanto aos homens
são reservados todos os benefícios da “civilização”1. Esta “naturalização” da tarefa feminina na
reprodução e na vida doméstica, bem como a responsabilidade pela alimentação e saúde da
família, acabou aproximando a mulher da natureza. Em muitas culturas as mulheres são as
responsáveis pela manutenção da biodiversidade. Elas produzem, reproduzem, consomem e
conservam a biodiversidade na agricultura (MIES/SHIVA, 1995: 234). Portanto, a tendência é
que, para as mulheres, o equilíbrio do meio ambiente venha a se apresentar como um fator
fundamental para a qualidade de vida da família, concebendo, assim, a natureza como fonte de
vida que precisa ser preservada2. Enquanto isto, na visão capitalista patriarcal, a natureza não
passa de um mero objeto de exploração, dominação e poder.
Os filósofos adeptos à ecologia profunda3 afirmam que, se os homens estivessem mais
próximos às tarefas domésticas e de reprodução, haveria um ganho na qualidade de vida e,
conseqüentemente, na proteção ambiental, uma vez que eles teriam uma percepção real da
unidade e interdependência dos seres humanos com o meio ambiente. As mulheres já fazem
isto, porque a elas foi deixada a tarefa do cuidado e da manutenção da vida (CAPRA, 1996).
3. Ecofeminismo
O ecofeminismo originou-se de diversos movimentos sociais – de mulheres, pacifista e
ambiental – no final da década de 1970, os quais, em princípio, atuaram unidos contra a
construção de usinas nucleares. O movimento ecofeminista traz à tona a relação estreita
existente entre a exploração e a submissão da natureza, das mulheres e dos povos
estrangeiros pelo poder patriarcal (MIES/SHIVA, 1995: 23). Assim, a dominação das mulheres
está baseada nos mesmos fundamentos e impulsos que levaram à exploração da natureza e
de povos. Tanto o meio ambiente como as mulheres são vistos pelo capitalismo patriarcal
como “coisa útil”, que devem ser submetidos às supostas necessidades humanas, seja como
objeto de consumo, como meio de produção ou exploração. Além disso, o capitalismo
patriarcal apresenta uma intolerância diante de outras espécies, seres humanos ou culturas
que julga subalternas ao seu poder, buscando, assim, dominá-las. Neste contexto estão
inseridos tanto o meio ambiente quanto as mulheres.

1
Embora as mulheres tenham conquistado um certo nível de emancipação e ingressado no mundo do trabalho assalariado,
elas continuam sendo exploradas e menosprezadas através de salários menores que os dos homens e tendo que assumir, na
maioria das vezes, jornadas duplas de trabalho.
2
Percebe-se, no decorrer da história, que as mulheres são mais fortemente comovidas por catástrofes naturais que os homens
e, ao mesmo tempo, são as primeiras a protestar contra a destruição ambiental (MIES/SHIVA, 1995: 9).
3
A ecologia profunda possui uma visão holística do mundo, concebendo-o como um todo e não como um conjunto de partes
dissociadas, sendo os seres humanos considerados como parte integrante do meio ambiente. Esta concepção está baseada
no questionamento profundo dos paradigmas existentes na sociedade, numa perspectiva ecológica (CAPRA, 1996).
O ecofeminismo pode ser dividido em três tendências:
a) Ecofeminismo clássico. Nesta tendência o feminismo denuncia a naturalização da mulher
como um dos mecanismos de legitimação do patriarcado. Segundo o ecofeminismo clássico, a
obsessão dos homens pelo poder tem levado o mundo a guerras suicidas, ao envenenamento
e à destruição do planeta. Neste contexto, a ética feminina de proteção dos seres vivos se
opõe à essência agressiva masculina, e é fundamentada através das características femininas
igualitárias e por atitudes maternais que acabam pré-dispondo as mulheres ao pacifismo e à
conservação da natureza, enquanto os homens seriam naturalmente predispostos à
competição e à destruição;
b) Ecofeminismo espiritualista do Terceiro Mundo. Teve origem nos países do sul, tendo a
influência dos princípios religiosos de Ghandi, na Ásia, e da Teologia da Libertação, na
América Latina. Esta tendência afirma que o desenvolvimento da sociedade gera um processo
de violência contra a mulher e o meio ambiente, tendo suas raízes nas concepções patriarcais
de dominação e centralização do poder. Caracteriza-se também pela postura crítica contra a
dominação, pela luta antisexista, antiracista, antielitista e anti-antropocêntrica. Além disso,
atribui ao princípio da cosmologia a tendência protetora das mulheres para com a natureza;
c) Ecofeminismo construtivista. Esta tendência não se identifica nem com o essencialismo, nem
com as fontes religiosas espirituais das correntes anteriores, embora compartilhe idéias como
antiracismo, anti-antropocentrismo e anti-imperialismo. Ela defende que a relação profunda da
maioria das mulheres com a natureza não está associada a características próprias do sexo
feminino, mas é originária de suas responsabilidades de gênero na economia familiar, criadas
através da divisão social do trabalho, da distribuição do poder e da propriedade. Para tanto,
defendem que é necessário assumir novas práticas de relação de gênero e com a natureza.
PULEO alerta para a debilidade teórica existente nas duas primeiras tendências, como também
para um possível risco de se afirmar a utilização de estereótipos femininos na sociedade. O
ecofeminismo construtivista, por sua vez, desconsidera a importância da mística, o que acaba
dificultando a mobilização das mulheres em torno do tema, elemento este que para o
ecofeminismo espiritualista tem representado uma força prática efetivamente mobilizadora.
As mulheres pobres do Terceiro Mundo, que vivem em uma economia de subsistência, são as
maiores vítimas da crise ambiental em seus países, pois são as primeiras a sentirem o reflexo
da diminuição da qualidade de vida causadas pela poluição ou escassez dos recursos naturais,
os quais são explorados indiscriminadamente para satisfazer as “necessidades” do Primeiro
Mundo. A lógica do capitalismo tem se demonstrado incompatível com as exigências
ecológicas para a sustentabilidade da vida no planeta. Portanto, ao contrário do que muitos
ecologistas pensam, não é possível ecologizar o capitalismo, assim como também não é
possível acabar com a dominação e exploração do gênero feminino sem superar as estruturas
capitalistas patriarcais que a mantém. Deste modo, tanto a solução da crise ambiental quanto a
da opressão das mulheres não devem ser tratados como problemas isolados. A salvação da
vida no planeta, assim como a emancipação não só das mulheres como de todos os seres
humanos, dependem de uma mudança estrutural e organizacional da sociedade. E para isto, é
imprescindível a ação conjunta dos movimentos sociais contra seu opressor comum: o
capitalismo patriarcal.

Referências bibliográficas:
BEAUVOIR, Simone de. Das andere Geschlecht: Sitte und Sexus der Frau. Hamburg: Rowohlt, 1968.
CAPRA, Fritijof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.

ENGELS, Friedrich. Dialetik der Natur. MEW 20. Berlin: Dietz Verlag, 1972.

MIES, Maria. Patriarchat und Kapital. Frauen in der internationalen Arbeitsteilung. Zürich: Rotpunktverlag,
1996.

MIES, Maria/SHIVA, Vandana. Ökofeminismus: Beiträge zur Praxis und Theorie. Zürich: Rotpunkt-Verlage,
1995.

PULEO, Alicia H. Feminismo y ecología. Disponível no site: http://www.nodo50.org/mujeresred/ecologia-


a_puleo-feminismo_y_ecologia.html
PUSCH, Luise F. Feminismus – Inspektion der Herrenkultur. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1983.

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