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Direito Comercial Sumários

Capítulo I

Noções Gerais

1. Direito Comercial

 sistema jurídico-normativo que visa regular, em especial, os comerciantes e os actos

de comércio (sendo estes os principais destinatários). Além disso, regula outros actos que, pese

embora serem abrangidos pela legislação especial, não são considerados actos de comércio, como

é o caso das firmas e das marcas

 Carácter Privado

O Direito Comercial está inserido no Direito Privado uma vez que aquele regula as relações

entre os particulares ou então entre os particulares e o Estado quando este esteja desprovido do

seu ius imperii, isto é, do seu poder de autoridade.

Sendo um ramo de Direito Privado, podemos ainda inserir o Direito Comercial no âmbito do

Direito Privado Especial dado destinar-se a certas pessoas em especial, ao contrário do que

sucede com o Direito Privado Comum (ex. Direito da Família, Direito das Coisas, etc.) que se

destina a todos.

2. Comércio

O comércio, em sentido económico, abrange a interposição de trocas, como por exemplo, um

contrato de compra e venda, aluguer, etc. Ao invés, no seu sentido jurídico abarca, para além da

interposição de trocas, a indústria e a prestação de serviços, exceptuando-se:

 indústrias artesanais

 indústrias extractivas

 profissões liberais

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Como exercem os comerciantes a sua actividade?

Normalmente os comerciantes desenvolvem a sua actividade através de uma empresa, que

não mais é do que um conjunto de meios e pessoas que visam o desenvolvimento de uma actividade.

A maior parte dos actos comerciais são praticados no âmbito das empresas.

Empresa ≠ Sociedades Comerciais (que são comerciantes)

Empresa ≠ Comerciante (pode ou não ser sociedade)

Capítulo II

Actos de Comércio

1. Relevância Jurídica

Depois de qualificar um acto como acto de comércio vamos dizer que as obrigações são

comerciais.

 Ao qualificar um acto como comercial, as obrigações daí decorrentes são obrigações comerciais

e, consequentemente, ir-se-á aplicar um regime especial que se traduz em três pontos essenciais:

a) solidariedade entre os co-obrigados (art. 100.º CCom.)

compra de automóvel
Ex. A + B C (25.000€)

Contrato compra e venda  acto de comércio

Se C cumprir e A e B não cumprirem com a obrigação, pelo facto de o contrato de compra e

venda se tratar de um acto comercial, estamos perante uma obrigação comercial, o que significa

que C pode accionar qualquer um dos devedores faltosos uma vez que eles são solidariamente

responsáveis

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b) as dívidas que decorrem de actos de comércio presumem-se contraídas no

exercício do comércio (art. 15.º CCom. e art. 1691.º, n.º 1/d CC)

Casal casado em regime de comunhão de adquiridos:

A B

Comerciante 

Dívida de 5.000€

Como B tem proveito no dinheiro, também é responsável pelas dívidas, o que não

aconteceria se eles se encontrassem casados em regime de separação de bens.

c) taxa supletiva de juros de mora (actualmente é de 11,20%)

Se em causa estiver um acto de comércio, se houver direito ao pagamento e se

não se proceder ao mesmo, o devedor entra em mora e começam a cotar-se os

respectivos juros.

Refira-se que a taxa é definida para cada semestre pelo Banco Central

Europeu, pelo que a actual taxa de juros apenas vigorará até 30 de Junho de 2008.

Cálculo da Taxa de Juro:

Montante em dívida x número de dias x taxa

3651

 Qualificar como comerciante o sujeito que os pratica

1
O divisor pode ser 365 ou 366, dependendo se o ano em questão é ou não bissexto

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2. Qualificação dos Actos de Comércio

Os actos de comércio podem ser:

 objectivos

 subjectivos

Assim, pode acontecer que tenhamos:

 actos objectivamente comerciais

 actos subjectivamente comerciais

 actos objectiva e subjectivamente comerciais

2.1 Actos Objectivamente Comerciais (art. 2.º, 1.ª parte do CCom.)

São objectivamente comerciais os actos regulados no Código Comercial e que são:

1.º fiança (art. 101.º CCom.)  este é um acto acessório, dado que a dívida em causa deve ser

comercial

2.º empresas (art. 230.º CCom.)

 existem duas teses: uma qualifica aos seus actos como subjectivos ao passo que a outra

os qualifica como sendo objectivos

 são objectivamente comerciais os actos praticados no âmbito das empresas do art.

230.º CCom. (o primeiro ponto respeita à indústria transformadora), desde que os mesmos

se destinem à concretização da actividade que desenvolvem

 art. 230.º CCom.  qualifica como comerciais determinadas actividades, logo as

empresas que as desenvolvem praticam actos objectivamente comerciais

3.º mandato (art. 231.º CCom.)  trata-se de uma ordem, pedido, praticado por pessoas com

capacidade, isto é, ordem para que outrem (mandatário) pratique determinado acto em nome do

mandante

O mandato só é comercial quando o acto praticado pelo mandatário for um acto comercial.

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O acto praticado pelo mandatário é sempre autónomo, ao invés do mandato em si que é

sempre um acto acessório. Tal significa que só sabemos se o mandato é um acto de comércio se o

acto autónomo for, também ele, um acto de comércio.

4.º transporte (art. 366.º CCom.)  é um acto autónomo, não dependendo de nenhum outro acto

mas sim de um requisito: que o condutor tenha “constituído empresa ou companhia regular e

permanente”

Para estes efeitos, “condutor” deve ser entendido em termos jurídicos. Assim, o legislador

está a referir-se não ao motorista mas sim a quem tenha a direcção efectiva, isto é, quem tomar

para si a conservação e cuidado do veículo.

5.º empréstimo (art. 394.º CCom.)  acto acessório

 teremos que ver para que serviu a coisa emprestada: se a coisa emprestada for para a

prática de um acto de comércio, o empréstimo será, também ele, mercantil

6.º penhor (art. 397.º CCom.)  tem requisitos idênticos aos da fiança: a dívida em causa deve

ser comercial, o que significa que o penhor só é comercial se o acto autónomo (a dívida) também o

for, pelo que é um acto acessório

7.º depósito (arts. 403.º e 408.º CCom.)  é um acto acessório pois temos que ver para que

serve a coisa guardada

8.º compra e venda (art. 463.º CCom.)  é, por excelência, o acto de comércio, sendo constituído

pelo acto da compra e pelo acto da venda

Acto da compra (art. 463.º, 1.º parágrafo):

 é um acto de comércio se tiver como destino (momento que está em causa: prática do

acto) a revenda ou o aluguer, sendo assim um acto autónomo

 excepções (art. 464.º, 1.º parágrafo): não será acto comercial se a compra se destinar

ao uso ou consumo do comprador ou da sua família, ainda que depois venha a revender essa

coisa

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Acto da venda (art. 463.º, 3.º parágrafo):

 é um acto de comércio quando se tenha comprado uma coisa com o intuito de a revender

 art. 464.º, 2.º parágrafo  vendas não comerciais

9.º aluguer (art. 481.º CCom.)  é um acto autónomo; para ser acto comercial, a compra tem que

ter como destino o aluguer

2.1.1 Actos Objectivamente Comerciais por Interpretação Extensiva

Refira-se que existem certos actos que embora não venham previstos, actualmente, no

Código Comercial já nele estiveram regulados e que, por isso, devem ser considerados, por

interpretação extensiva da expressão “neste código” prevista no art. 2.º, 1.ª parte do CCom.,

actos comerciais.

2.1.1.1 Actos Objectivamente Comerciais por Leis que Substituem Normas

do Código Comercial

 arts. 104.º a 206.º CCom.  depois de 1994 foram substituídos pelo Código das Sociedades

Comerciais

Acto constituinte das Sociedades Comerciais:

 o contrato de sociedade era considerado um acto objectivamente comercial, porém

actualmente não vem previsto no Código Comercial. Coloca-se, portanto, a questão de saber

se será ou não um acto comercial

 assim sendo, far-se-á uma interpretação extensiva da expressão “neste código” (art.

2.º, 1.ª parte CCom.). Logo, abrangerá as leis que substituíram normas do Código Comercial,

tal como o Código das Sociedades Comerciais

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 arts. 278.º a 343.º CCom.  regulava os cheques, letras e livranças; ora, este deixou de ser

regulado no CCom. e começou a ser regulado na LULL – Lei Uniforme das Letras e Livranças – e na

LUCH – Lei Uniforme dos Cheques (inclui o Regime Jurídico do Cheque sem Provisão)

Também o aceite (quando a pessoa aceita a ordem de pagamento) e o saque (ordem de

pagamento) são actos objectivamente comerciais através da interpretação latu sensu.

 arts. 351.º a 361.º CCom.  operações de bolsa que presentemente se encontram reguladas no

Código dos Valores Mobiliários

2.1.1.2 Actos Objectivamente Comerciais por Leis que se Autoqualificam

de Comerciais

Acrescente-se que também podem ser tidos como actos objectivamente comerciais aqueles

em que, não obstante não se encontrarem previstos no CCom., a lei se autoqualifica como

comercial, ou mais precisamente, qualifica (directa ou indirectamente) actos como comerciais.

Assim, deveremos autoqualificar como comerciais:

 leis que se autoqualificam de leis comerciais ou que qualificam de comerciais

determinados actos; leis que pela sua leitura temos a presunção de que o legislador as quis

qualificar como comerciais

 ex. arts. 1109.º e 1112.º CC  foram alterados pelo NRAU mas foram introduzidos no

CC. O art. 1109.º fala da locação de estabelecimento, em particular dos estabelecimentos

comerciais. Já o art. 1112.º respeita ao trespasse

Locação de Estabelecimento

 o estabelecimento é uma coisa móvel

 Estabelecimento conjunto de bens que permite o desenvolvimento de uma

actividade; apesar de ser uma coisa móvel, regra geral funciona dentro de um imóvel

 Locação de Estabelecimento determinadas pessoas permitem a utilização do

estabelecimento mediante o pagamento de uma certa prestação a título de renda

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A contrato de locação B (locatário)

Proprietário do  explora o estabelecimento durante determinado

estabelecimento tempo

 o art. 1109.º qualifica automaticamente a locação como acto comercial; não é o CC que

se autoqualifica como comercial, é o artigo em si, sucedendo o mesmo quanto ao trespasse

Transmissão definitiva do estabelecimento


trespasse
A B

Proprietário É como uma compra e venda, porém com outro nome

 quer a locação, quer o trespasse estão inseridos em artigos que se autoqualificam

comerciais por interpretação extensiva e que se encontram reguladas noutros Códigos, nos

quais encontramos artigos que se consideram actos comerciais

 Locação Financeira (leasing) o regime é considerado um acto comercial; esta

lei considera-se na totalidade como comercial

Agência

Trata-se de um contrato pelo qual uma certa pessoa se encarrega de angariar clientes e de

fazer contratos, recebendo uma certa percentagem sobre isso.

2.1.1.3 Actos Objectivamente Comerciais por Analogia

Devem ainda considerar-se objectivamente comerciais certos actos através da analogia, a

qual pode ser iuris ou legis.

Analogia legis tem em conta o espírito da lei, ou seja, o espírito do legislador no

momento em que elaborou a lei.

Aqui o intérprete aplica directamente o regime previsto para o caso omisso.

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Analogia iuris traduz-se na procura, regulamentação de um ou vários casos de

afirmação de um princípio mais geral que não está expressamente enunciado e se aplica a todos os

demais casos que caibam no seu âmbito.

Não se aplica um preceito mas sim um princípio.

Guilherme, construtor civil, concluiu, em Janeiro de 2008, a grande obra da sua

carreira: o maior centro comercial da Península Ibérica. Em consequência da obra realizada,

Guilherme não pagou a vários dos seus fornecedores, entre eles, a Hélder que, hoje,

pretende reaver o seu dinheiro e os respectivos juros. Porém, enquanto Guilherme entende

que a taxa de juros a aplicar será de 4%, Hélder, por sua vez, pretende aplicar à dívida a

taxa supletiva de juros moratórios aplicada às dívidas mercantis.

Quid iuris?

Estrutura da resposta:

 trata-se de uma empresa de construção  teremos que ver, então, se os actos praticados, de

acordo com o art. 2.º, 1.ª parte e com o art. 230.º, ambos do CCom., se são ou não actos de

comércio

 art. 230.º, n.º 6 CCom.  diz-nos que são comerciais se as empresas pretenderem construir

casas; ele refere-se única e exclusivamente a “casas”. Assim sendo, teremos que recorrer à

analogia

 existe a analogia iuris (falamos de um Princípio Geral do Direito; advém de vários artigos) e a

analogia legis (resulta de um só artigo)

 o acto praticado por Guilherme autoqualifica-se como comercial porque embora o acto não se

encontre directamente previsto num artigo que esteja especialmente regulado no Código

Comercial, tal como prevê o art. 2.º, 1.ª parte do CCom., podemos fazer uma interpretação

analógica do art. 230.º, n.º 6 CCom.. De facto, através da analogia legis podemos considerar que

são empresas comerciais aquelas que se propõe a construir edifícios em geral

 se a empresa de Guilherme é comercial, o acto praticado é um acto objectivamente comercial,

logo a dívida é comercial pelo que teremos de lhe aplicar o respectivo regime; teríamos ainda de

ver se Guilherme era ou não casado para apurar a responsabilidade da dívida

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 por se tratar, então, de um acto comercial, ter-se-ia que aplicar a respectiva taxa de juros

moratórios que, actualmente, é de 11,20%, aplicada até ao final do 1.º semestre de 2008

2.2 Actos Subjectivamente Comerciais (art. 2.º, 2.ª parte CCom.)

Para serem subjectivamente comerciais, os actos devem respeitar três requisitos

(cumulativos):

 teremos que ver se os actos praticados foram praticados por comerciantes (vide art.

13.º CCom.)

 o acto em causa não pode ter natureza exclusivamente civil

 acto exclusivamente civil  actos relacionados com direitos pessoais, de

personalidade, quase todos do âmbito da família

 analisa-se o acto em geral, em abstracto

 A contrato compra e venda B


de automóvel para revenda

Neste âmbito devemos ver se o contrato de compra e venda, em geral, tem natureza

exclusivamente civil. Aqui nós sabemos que não tem porque o contrato de compra e venda é

o acto de comércio por excelência, pelo que este acto em concreto tem também natureza

comercial

 não pode resultar do próprio acto que ele seja não comercial, uma vez que o “contrário”

de “comercial” é “não comercial”. Deste modo, vamos analisar o acto em concreto

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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2.3 Actos Bilateral e Unilateralmente Comerciais 2

Actos Bilateralmente Comerciais aqueles em que se verifica comercialidade em ambos

os lados da venda

Actos Unilateralmente Comerciais aqueles em que apenas se verifica comercialidade

em um dos lados da venda

2.4 Actos Substancial e Formalmente Comerciais

Actos Substancialmente Comerciais aqueles que têm origem no comércio

Actos Formalmente Comerciais aqueles em que existe uma forma comercial a que nós

não podemos “escapar” (ex. cheques, letras, livranças, …)

Capítulo III

Comerciantes

1. Sujeitos Qualificáveis como Comerciantes e não Comerciantes

O art. 13.º CCom. vem-nos dizer quem é considerado comerciante:

 n.º 1  pessoas físicas e jurídicas

 n.º 2  sociedades comerciais

 são sempre comerciantes:

- sociedades por quotas (Lda.)

- sociedades em comandita (simples ou por acções)

- sociedades anónimas (SA)

2
Apenas teremos que averiguar se um acto é bilateral ou unilateralmente comercial quando em causa esteja um contrato
de compra e venda

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- sociedades em nome colectivo (filhos & companhia)

1.º as sociedades comerciais têm que adoptar um tipo comercial

Ex. José Pimenta e Manuel Ferreira formaram uma sociedade de advogados  não se trata

de uma sociedade comercial em virtude de não adoptar um dos tipos previstos no CCom.

2.º além do tipo comercial, as sociedades comerciais também têm que ter um objecto comercial

Ex. José Pimenta e Manuel Ferreira formaram uma sociedade: Oleiros, Lda.  apesar de

adoptar um tipo comercial (a saber, sociedade por quotas), não poderá ser considerada uma

sociedade comercial uma vez que tem um objecto civil

3.º os sócios nunca são comerciantes, eles agem em nome da sociedade, logo a sociedade é que é

comerciante

 Pessoas Físicas (art. 13.º, n.º 1 CCom.)

Requisitos:

 capacidade

 de exercício de direitos  exigida para se ser comerciante (art. 7.º CCom.)

 de gozo

À partida, um menor não pode ser comerciante, porém, se estiver representado, poderá sê-

-lo. Isto significa que até mesmo os incapazes podem ser comerciantes desde que estejam

devidamente representados e, bem assim, desde que respeitem os demais requisitos.

Se, por exemplo, A for menor e tiver a sua mãe a representá-lo, é A quem é considerado,

para todos os efeitos, comerciante, e não a sua mãe.

Vide art. 1889.º, n.º 1/c CC  sem autorização do tribunal, os pais, enquanto
representantes do filho, não podem “adquirir estabelecimento comercial […] ou continuar a

exploração do que o filho haja recebido por sucessão ou doação”.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 praticar actos de comércio

 temos que qualificar o acto

 falamos de actos objectivamente comerciais porque os actos subjectivamente

comerciais pressupõem a qualidade de comerciante do seu autor, enquanto que os actos

objectivamente comerciais qualificam o seu autor de comerciante

 regularidade da prática dos actos

Os actos praticados devem fazer-se regularmente, isto é, deve fazer-se disso profissão,

porém esta não tem que ser única, podendo nós ter mais que uma profissão; não tem que ser

ininterrupta.

Ex. exploração de um bar durante as férias de Verão – não deixa de ser comerciante por

ser unicamente praticado no Verão

Quem não é comerciante:

 actividades artesanais

 actividades agrícolas: silvicultura & criação de animais

 artistas

 escritores

 profissões liberais

 cabeleireiros (mas se, por exemplo, venderem champôs ou outros produtos já serão

comerciantes)

Art. 230.º, n.os 1, 2 e 3, e art. 464.º, n.º 2, ambos do CCom.

 Pessoas Colectivas (art. 13.º, n.º 1 CCom.)

- Entidades Públicas Empresariais (EPE) Desde que pratiquem actos de

- Empresas Municipais (EM) comércio são comerciantes, pelo

- Empresas Intermunicipais (EIM) art. 13.º, n.º 1 CCom.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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- Agrupamento Complementar de Empresas (ACE)  são formadas por várias empresas e não

visam o lucro; o objectivo é a satisfação das necessidades

- Agrupamento Europeu de Interesse Económico (AEIE)  é igual a um ACE com a nuance de ser

composta por membros (empresas) de países diferentes

- Cooperativas  não são sociedades porque não visam directamente o lucro mas sim o interesse

dos seus membros

São comerciantes desde que pratiquem actos de comércio (art. 13.º, n.º 1 CCom.)

Quem não pode ser comerciante:

 art. 14.º, n.º 1 CCom.  associações (que não tenham por objecto fins materiais)

- que tenham por objecto fim interessado de cariz económico não

lucrativo (ex. associações sindicais, mutualistas, como, por exemplo, o

Montepio,…)

Estas associações - que tenham por objecto fim altruístico/desinteressado (ex. SOL)

não se encaixam no - que tenham por objecto fim interessado mas ideal (ex. associações

art. 14.º, n.º 1 desportivas, recreativas…)

CCom. mas sim no

art. 17.º CCom.

 estas associações podem praticar actos de comércio mas não podem ter actos de

comércio por profissão. Se a associação deixar de praticar os actos que se encontram nos seus

estatutos, recorrer-se-á aos arts. 294.º e 295.º CC que prevêem a nulidade desses actos que

extravasam o seu fim

 art. 14.º, n.º 2 CCom.  impedimentos

- relativos (ex. gerentes comerciais – art. 253.º CCom.  é relativo

porque o impedimento pode ser levantado e porque se restringe àquela

actividade; sócios nas Sociedades em nome colectivo – art. 180.º, n.º 1

CSC; gerentes das Sociedades por Quotas – art. 254.º, n.º 1 CSC;

administradores das Sociedades Anónimas – art. 398.º, n.º 3 CSC)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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- absolutos: titulares de órgãos de soberania e outros altos cargos

públicos & magistrados (quer judiciais, quer do MP)

O que acontece se alguma destas pessoas exercer comércio?

Vai ser comerciante do ponto de vista jurídico-mercantil. Vai ter é

implicações no seu cargo originário, ou seja, vai sofrer as sanções que

se encontram consignadas nos respectivos estatutos

 art. 17.º CCom.

- Estado

- Regiões Autónomas
pese embora poderem praticar actos de
- Freguesias e Municípios
comércio, não podem ser comerciantes
- Associações de Fim Altruístico

- Fundações

Em Janeiro de 2008, António, construtor civil, adquiriu à “Constructor – materiais de

construção, SA” uma grua e uma betoneira. A “Constructor” tinha adquirido a grua para

revenda e a betoneira para uso próprio, porém, como António pagou um bom preço, acabou

por vender a referida betoneira a este. As dívidas contraídas ascenderam ao montante de

50.000€ e não foram pagas na respectiva data de vencimento.

No início do mês de Março, António adquiriu à “Belas Artes – LDA” um quadro da

famosa pintora portuguesa Maluda para colocar na sala de uma “moradia modelo” que tinha

acabado de construir num condomínio de luxo. António pretendia, aquando da venda da

moradia, oferecer o predito quadro à sua esposa, admiradora de Maluda. Porém, Belmiro,

comprador da referida “moradia modelo”, ofereceu a António um valor irrecusável pela

compra do quadro. Assim, António optou por vender o quadro a Belmiro.

Qualifique, do ponto de vista jurídico-mercantil, os actos supra referidos.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Primeiramente teremos que identificar os sujeitos e que são: António, construtor civil;

“Construtur – materiais de construção, SA”; “Belas Artes, Lda.”; Belmiro, comprador da casa; e

por fim, a esposa de António.

A esposa de António, embora tenha capacidade, não temos indicação de que a mesma

pratique actos objectivamente comerciais, assim qualificamo-la como não comerciante ao abrigo

do artigo 13.º do CCom..

Quanto a Belmiro e de acordo com o mesmo artigo, este não é comerciante uma vez que só

comprou a casa para uso próprio.

Relativamente à sociedade “Belas Artes”, é uma sociedade por quotas que será comerciante

se tiver por objecto um objecto comercial e também se adoptar um tipo comercial: esta

sociedade compra quadros para revenda, assim tem um objecto comercial, que é a compra e

venda, e um tipo comercial que é o facto de ser uma sociedade por quotas. Assim a “Belas Artes,

Lda.” será comerciante ao abrigo do artigo 13.º, n.º 2 CCom.. No concernente à “Construtur”,

sabemos que tem um tipo comercial (sociedade por quotas) e tem, igualmente, um objecto

comercial que é a actividade da construção ( vide art. 13.º, n.º 2 CCom.).

No que respeita a António sabemos que tem capacidade, pelo art. 13.º CCom.. Este, para ser

comerciante, tem que praticar actos de comércio. Para justificar que ele pratica actos comerciais

deveremos recorrer ao artigo 230.º, n.º 6 CCom. que se refere às empresas: ou se aplica pela

letra da lei (se construir casas) ou por analogia legis (se construir pontes, estradas, etc.) A

conclusão será que António é comerciante pois pratica actos de comércio em nome próprio, faz

disso a sua profissão.

Quanto aos actos, temos em causa a compra e venda da betoneira, a compra e venda da

grua, a compra e venda de um quadro, a compra e venda da moradia e, por fim, a compra e venda

do quadro por Belmiro. Traduzem-se em dez actos pois temos que analisar tanto a compra como a

venda.

Para a análise concreta de um acto temos que aferir se ele é objectivamente comercial,

subjectivamente comercial ou ambas cumulativamente. Basta uma classificação para o acto ser

comercial

Quanto à compra da grua, temos que verificar, primeiramente, se se trata de um acto

objectivamente comercial (art. 2.º, 1.ª parte CCom.).. Sendo uma compra vamos ao artigo 463.º do

mesmo diploma.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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A questão que devemos colocar é se pelo art. 463.º CCom. esta grua é para revenda ou

aluguer? Nem para uma coisa, nem para outra. Assim não é pelo 463.º CCom. um acto comercial

pois não se destina à revenda ou aluguer. Esta compra é para consumo próprio de António? Não, é

para consumo da empresa. Assim, não é considerado comercial pelo art. 463.º, n.º 1 CCom., mas

também não é tido como acto objectivamente comercial porque não é para uso próprio. Assim

sendo, teremos que inserir este acto no art. 230.º, n.º 6 CCom.: dado tratar-se de uma empresa

comercial e António necessitar de praticar esses actos para a concretização da sua actividade.

Logo esses actos são objectivamente comerciais.

Para um acto ser subjectivamente comercial é necessário que este preencha 3 requisitos

previstos no art. 2.º, 2.ª parte CCom.. Quanto ao primeiro requisito, este está preenchido pois

António é comerciante; no que respeita ao segundo, o acto não tem natureza exclusivamente civil,

pelo que também ele está cumprido; por último, o terceiro requisito: que do acto em concreto não

resulte o seu contrário, não resulta do acto que ele seja não comercial; de facto, também este

está cumprido, pelo que o acto da compra é subjectivamente comercial. Assim a compra é

objectivamente e subjectivamente comercial.

Quanto ao acto da venda da grua, as vendas são comerciais quando sejam para revenda.

Assim de acordo com o art. 463.º, n.º 3 CCom. a venda é objectivamente comercial.

Quanto à classificação como subjectivamente comercial verificam-se os três requisitos.

Assim a venda da grua é subjectivamente comercial.

Em conclusão quanto à compra e venda da grua conclui-se que é um acto bilateralmente

comercial (pois verifica-se comercialidade em ambos os lados da venda), substancialmente

comercial porque tem origem no comércio, e é um acto autónomo pois não depende de outros.

Quanto à compra da betoneira, foi comprada pela empresa de António, assim vai ter a

mesma resolução que o acto da grua pois a compra da betoneira segue o mesmo raciocínio, pois

também vai ser usada na obra. É também subjectivamente comercial pois verificam-se igualmente

os três pressupostos.

Quanto à venda da betoneira, a sociedade é proprietária, titular de uma empresa de

construção, por isso é comerciante, existe um estabelecimento comercial. Por ser para consumo,

apesar deste factor, ele é objectivamente comercial pelo art. 230.º e já não pelo art. 463.º, n.º 3,

ambos do CCom.. O acto é subjectivamente comercial pois verificam-se os três requisitos já

referidos anteriormente. Assim a venda é objectiva e subjectivamente comercial. Logo o

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

contrato de compra e venda da betoneira é bilateralmente comercial, substancialmente comercial

e autónomo.

Já quanto à venda do quadro e segundo o art. 463.º, n.º 3 CCom., é objectivamente

comercial pois a “Belas Artes” é uma sociedade comercial que compra quadros para revenda. Será

subjectivamente comercial, porque se verificam os três requisitos. Assim a venda do quadro é

objectiva e subjectivamente comercial.

Já quanto à compra do quadro, e neste caso em concreto, embora ele tivesse comprado com

o intuito inicial de o dar à mulher, o quadro acaba por servir para promover a casa, podendo então

classificar-se como objectivamente comercial pelo art. 230.º, n.º 6 CCom., pois o quadro acaba

por ser para uso da empresa, para promover a moradia. Quanto à classificação como

subjectivamente comercial verificam-se os três requisitos logo ele é subjectivamente comercial.

Assim a compra é objectiva e subjectivamente comercial.

Assim, a compra e venda do quadro é bilateralmente comercial, substancialmente comercial

e autónomo.

Quanto à venda da moradia é objectivamente comercial por aplicação do art. 230.º, n.º 6 e

não do art. 463.º, ambos do CCom.. Quanto à classificação como subjectivamente comercial

verificam-se os três requisitos, logo é subjectivamente comercial. Quanto à compra da moradia,

Belmiro não compra com o intuito de revenda, para além de que não é comerciante. Assim, e de

acordo com o art. 464.º, n.º 1, a compra não é objectivamente comercial. Subjectivamente

também não é comercial pois Belmiro não é comerciante e sendo os requisitos cumulativos, torna-

se desnecessário analisar os demais pressupostos.

Assim a compra e venda da moradia é unilateralmente comercial, substancialmente

comercial e autónoma.

Quanto à compra do quadro por Belmiro é igual à compra da moradia. Quanto à venda do

quadro é comercial.

Quanto aos 50.000€, estamos perante dívidas comerciais, pois os actos são comerciais.

Sendo dívidas comerciais, derivam obrigações comerciais, pelo que terá que se aplicar o regime

especial de pagamento:

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 solidariedade dos co-devedores (art. 100.º CCom.)  in casu, não se aplica porque

António é o único devedor

 art. 15.º CCom.  só não se aplica se Antónia e a sua esposa estiverem casados em

separação de bens, pois não há proveito comum do casal, segundo a presunção do art.

1691.º, n.º 1/d CC. Ora, esta é uma presunção ilidível (art. 350.º CC), o que significa que

pode ser afastada mediante prova em contrário, isto é, se a esposa de António provar que

as dívidas não foram contraídas em proveito comum do casal

 taxa supletiva de juros de mora  aplica-se sempre que devedor entra em mora (a

taxa actual é de 11,20%, taxa esta fixada semestralmente)

Cristiana, Dalila e Eva, com o objectivo de constituírem uma sociedade por quotas,

celebraram um contrato de sociedade e fizeram reconhecer presencialmente as suas

assinaturas no Notário.

No dia seguinte ao da celebração do predito contrato, Cristiana, gerente da

sociedade, celebrou com Filipe um contrato, nos termos do qual a sociedade teria direito a

explorar o restaurante deste pelo prazo de 5 anos, contra o pagamento de 25.000€.

Numa perspectiva mercantilista, como qualifica os actos mencionados no caso prático

em apreço?

O primeiro acto em causa, no caso sub judice, é o acto de constituição de sociedade. Este

acto é objectivamente comercial uma vez que se encontra consagrado no CSC, que é uma lei que

veio substituir normas do CCom.. Assim, através de interpretação extensiva da expressão “neste

código” (art. 2.º, 1.ª parte do CCom.), considerá-lo-emos objectivamente comercial.

O segundo acto em questão é o da locação de estabelecimento, que é um acto

objectivamente comercial porque se encontra consagrado no art. 1109.º CC, este que foi

introduzido pelo NRAU. Assim, concluímos que este acto é objectivamente comercial por leis que

se autoqualificam de comerciais.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

André, proprietário do “Leirikarting”, o maior e mais moderno kartódromo da Península

Ibérica, sito em Leiria, solicitou, a 1 de Maio de 2005, a Beatriz que adquirisse à

“BestKart, revenda de karts, SA” (fornecedora habitual de Karts a André) um Kart marca

“Dino” (registada a favor de X e notória entre o público a que se destina) equipado com

motor “Honda” de 250 cc e de 6,5 cavalos a 4 tempos, que se destinava ao uso pessoal de

André. Beatriz, a pedido de André, solicitou a Catarina que guardasse o Kart em causa num

seu armazém, pelo prazo de 15 dias.

A 10 de Maio de 2007, André adquiriu à “Laranjas do Lis – produção de laranjas,

Lda.” 150 kg de laranjas para vender no restaurante que funciona no “Leirikarting”.

a) Identifique e qualifique, do ponto de vista jurídico-mercantil, os sujeitos e os actos

acima mencionados.

Temos os sujeitos André, Beatriz, “Bestkart, revenda de karts, SA”, Catarina e “Laranjas

do Lis, Lda.” Os actos são o mandato entre André e Beatriz, a compra e venda do kart entre

Beatriz e a “Bestkart, revenda de karts, SA”, o depósito entre Beatriz e Catarina e a compra e

venda entre André e a “Laranjas do Lis, Lda.”.

André é comerciante pois tem capacidade, pratica actos de comércio pois a empresa

compra karts para alugar (art. 463.º, n.º 1 CCom.), pelo que André é comerciante. Beatriz apesar

de ter capacidade e ainda que pratique actos de comércio não os pratica em nome próprio logo

não é comerciante, o mesmo acontecendo com Catarina. A “Bestkart, revenda de karts, SA” se

revende karts é porque os compra para revenda e, por isso, é comerciante pois tem objecto

comercial e também tipo comercial (sociedade anónima), pelo artigo 13.º, n.º 2 CCom..

A “Laranjas do Lis, Lda.” produz laranjas e sendo uma actividade agrícola não é comercial

(art. 13.º CCom.): tem tipo mas não tem objecto comercial.

Quanto aos actos, há que referir que o mandato é um acto acessório, pelo que teremos que

ver o acto principal (compra e venda do kart) pois aquele está dependente deste para o podermos

qualificar como objectivamente comercial ou não, o que significa que se a compra for comercial o

mandato é comercial, se a compra não o for o mandato é civil.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Assim, analisando a venda do kart, esta é objectivamente comercial de acordo com o 463º,

n.º 3 CCom.. É subjectivamente comercial pois preenche os três requisitos do art. 2.º, 2.ª parte,

CCom. Assim a venda é objectiva e subjectivamente comercial.

Quanto à compra (acto principal): relativamente à objectividade comercial, André comprou

com o intuito de o usar pessoalmente. A compra para uso próprio não é objectivamente comercial

pois não é feita no âmbito comercial de acordo com o art. 464.º, n.º 1 CCom.. Quanto à

subjectividade comercial, André é comerciante (apesar de ter sido Catarina a comprar mas em

nome de André): o primeiro requisito está cumprido uma vez que André é comerciante; quanto ao

segundo requisito - o acto não é exclusivamente civil. Já relativamente ao terceiro requisito não

resulta o contrário do próprio acto pois a “Bestkart” é a fornecedora habitual e não sabia que

aquele kart era para uso pessoal. Assim, a compra do acto não é objectivamente comercial mas é

subjectivamente comercial. Assim, a compra é comercial, pelo que por “arrasto” também o

mandato um acto comercial. O acto acessório – o mandato é comercial pelo acto principal ser por

sua vez também um acto comercial.

Deste modo, a compra e venda é bilateralmente comercial, substancialmente comercial e é

um acto autónomo.

Quanto ao Depósito: trata-se de um acto acessório, que por sua vez está ligado a outro

acto acessório (o mandato), este que está ligado ao acto principal, que é a compra do kart. Assim,

por associação de ideias, o depósito é considerado um acto objectivamente comercial.

Quanto ao último acto, a compra das laranjas é objectivamente comercial pelo 463.º, n.º 1 e

é também subjectivamente comercial dado verificarem-se os três requisitos.

Quanto à venda, e sendo produção para revenda, aplica-se o art. 464.º, n.º 2 que faz com

que a venda das laranjas não seja objectivamente comercial. Não é subjectivamente comercial

pois a “Laranjas do Lis, Lda.” não é comerciante.

Desta feita, o acto em causa é unilateralmente comercial, substancialmente comercial e

acto autónomo.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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b) Suponha que André, casado com Diana, no regime de comunhão de adquiridos, não

procedeu, até à presente data, ao pagamento da dívida referente à compra do Kart. A

quem e em que termos poderá a “BestKart, revenda de karts, SA” exigir o pagamento?

Tratando-se de uma dívida comercial, decorrem daí obrigações comerciais, pelo que

teremos que aplicar o regime especial:

 solidariedade dos co-devedores (art. 100.º CCom.)  in casu, não se aplica porque

André é o único devedor

 art. 15.º CCom.  só não se aplica se Diana ilidir a presunção do art. 1691.º, n.º 1/d CC.

Caso não o faça, a “Bestkart, revenda de karts, SA” poderá exigir-lhe a ela o pagamento da

dívida pois também ela é responsável, por aplicação do artigo supra

 taxa supletiva de juros de mora  aplica-se sempre que devedor entra em mora (a

taxa actual é de 11,20%, taxa esta fixada semestralmente)

Alberto Ferreira Dias, proprietário da papelaria “Pote de Papel”, faleceu em Janeiro

de 2006. Bruno Ferreira Dias, 15 anos, filho de Alberto, sucedeu-lhe na titularidade da

referida papelaria.

Em Fevereiro de 2006, Cristina, mãe de Bruno, conselheira do Supremo Tribunal de

Justiça, adquiriu a Daniela um atlas, pelo valor de 10.000€ para vender na papelaria. O

atlas, exemplar exclusivo, tinha sido totalmente criado por Daniela – a melhor no

desempenho desta arte.

Igualmente em Fevereiro de 2006, Cristina adquiriu à “Hiper Vigilância – sistemas de

vigilância, Lda.” um sistema de vigilância que foi aplicado na papelaria.

Identifique e qualifique, do ponto de vista jurídico-mercantil, os sujeitos e os actos

acima mencionados.

No concernente aos sujeitos, temos um menor, havendo portanto uma incapacidade. Os

incapazes não podem ser comerciantes, contudo a incapacidade pode ser suprida pela

representação, sendo necessária a aprovação do Ministério Público. Alberto era comerciante pois

era proprietário de um estabelecimento que faz compra e venda de produtos relacionados com a

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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papelaria. Assim, Bruno será comerciante com a aprovação do Ministério Público, com a

representação da mãe. Refira-se, no entanto, que quem é comerciante é Bruno e não a sua mãe.

Ela não é qualificada como comerciante porque a representação não é mandato.

Já Daniela não é comerciante (art. 13.º), logo a venda não é comercial. Quanto ao acto da

compra não é comercial porque não se verificam os requisitos.

Quanto à “Hiper Vigilância, Lda.”, esta presta serviços sendo assim uma actividade

comercial (art. 230.º CCom.) – faz-se assim uma analogia iuris da prestação de serviços (art.

230.º, n.os 2, 3 e 4 CCom.) uma vez que o legislador quis consagrar como comerciais as empresas

que prestam serviços.

Assim, sempre que surgir um caso de prestação de serviços trata-se de analogia iuris: o

legislador não consagrou esta empresa em particular pois na altura não o podia fazer.

Por fim, é uma sociedade comercial por isso pratica actos comerciais.

2. Firmas

2.1 Noção

Firma antes de mais é uma obrigação de quem é comerciante 3, tal como refere o art.

18.º CCom. Poder-se-á dizer ainda que dá nome ao comerciante, tendo por objectivo identificar os

comerciantes, distinguindo-os de outros.

Assim, a firma é um sinal distintivo, encontrando-se regulada no Registo Nacional de

Pessoas Colectivas (RNPC).

2.2 Classificação das Firmas

(1) firma nome  nome do comerciante ou nome do sócio

(2) firma denominação  siglas ou expressões fantasia (ex. ABC)

(3) firma mista  ambos

3
Podem, no entanto, os não comerciantes adoptar uma firma porém essa firma deverá ser designada de denominação

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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2.3 Composição

As firmas têm que ser compostas de acordo com a lei, variando a sua composição consoante

se trate de comerciantes em nome individual (registam-se na Conservatória do Registo Comercial)

ou de sociedades comerciais (registam-se no Registo Nacional de Pessoas Colectivas).

Comerciantes em Nome Individual

Elementos obrigatórios:

 tem que ser composta pelo nome “completo ou abreviado”, por forma a identificar

correctamente o comerciante. Tal requisito é necessário pois os comerciantes com o

respectivo património têm que ser responsáveis pelas dívidas contrídas no exercício do

comércio

Elementos Facultativos:

 podem ainda os nomes das firmas ser antecedidos por títulos (académicos,

nobiliárquicos, profissionais), tal como nos diz o art. 38.º, n.º 3 RNPC

Assim, posso usar o meu nome mas não posso utilizá-lo como firma porque poderão haver

mais pessoas com o mesmo nome. Em Portugal só é registável se tiver mais alguma coisa – o

comerciante pode aditar ao seu nome “alcunha ou expressão alusiva à actividade exercida (art.

38.º, n.º 1 RNPC

Exemplo:

“Maria Inês Gonçalves – comércio de roupa”  Maria Inês exerce a sua actividade

em Leiria, pelo que é na Conservatória do Registo Comercial de Leiria que é

registável. Contudo, apenas vai abranger o âmbito territorial da Conservatória de

Leiria, pelo que se outra pessoa com o mesmo nome se dedicar, por exemplo, ao

comércio de roupa em Coimbra, poderá fazê-lo



Vejamos, porém, que Maria Inês Gonçalves, de Leiria, pretende expandir o seu

comércio a todo o território nacional. Para isso tem que fazer, antes da Maria Inês

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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de Coimbra abrir uma firma com o mesmo nome, em Coimbra, um requerimento ao

Director-Geral dos Registos e do Notariado (art. 38.º, n.º 5)  aqui será

imprescindível indicar o objecto do comércio

O comerciante em nome individual pode ter um património autónomo distinto do património

pessoal. De facto, a lei permite que eles constituam um EIRL (Estabelecimento Individual de

Responsabilidade Limitada). Assim sendo, o titular de um EIRL tem que aditar ao nome da firma a

sigla EIRL (ex. “Maria Inês Gonçalves – comércio de roupa, EIRL”)  vide art. 40.º RNPC

Sociedades Comerciais

 Sociedades em Nome Colectivo (art. 177.º CSC)

Elementos obrigatórios:

 deve ser composta pelo nome completo ou abreviado de pelo menos um dos sócios

 deve fazer ainda referência à existência de outros sócios (ex. Alberto Ferreira &

companhia, Alberto Ferreira & irmãos, Alberto Ferreira & filhos…)

Elementos facultativos:

 pode fazer referência ao objecto social (apesar de o artigo nada dizer), por analogia do

art. 38.º, n.º 1 RNPC

 ainda é possível que apareçam expressões de fantasia ou siglas, por aplicação analógica

do art. 42.º, n.º 1 RNPC

Nota: vide art. 175.º, n.º 1 CSC  responsabilidade ilimitada e solidária perante credores sociais

 Sociedades por Quotas (art. 200.º CSC)

Elementos obrigatórios:

 o nome da firma terá que conter o aditamento “Limitada” ou “Lda.”

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Elementos facultativos:

 nome dos sócios  não é obrigatório que figure no nome da firma o nome de um ou de

alguns dos sócios porque o património da sociedade é independente do património pessoal,

pelo que a responsabilidade é limitada

 siglas, denominações, iniciais

 objecto social  não é obrigatório desde o DL n.º 111/2005, de 8 de Julho (o seu art.

17.º alterou o art. 10.º CSC, tendo sido eliminada a parte final do n.º 3)

 Sociedades Anónimas (art. 275.º CSC)

Segue um regime idêntico ao das Sociedades por Quotas, apenas se substituindo “Limitada”

ou “Lda.” por “Sociedade Anónima” ou “SA”.

Apenas há uma excepção: apesar de ser possível, não é conveniente identificar o nome dos

sócios

Nota: as sociedades cotadas por mercada são sempre Sociedades Anónimas

 Sociedades em Comandita (art. 467.º CSC)

Este tipo de sociedades pode ser simples ou por acções e os seus sócios podem ser

comanditados (assumem uma responsabilidade ilimitada perante credores sociais) ou comanditários

(assumem uma responsabilidade limitada)

Elementos obrigatórios:

 nome ou firma de um, alguns ou todos os sócios comanditados

 aditamento “em Comandita” ou “& Comandita” (nas sociedades comerciais simples)

 aditamento “em Comandita por Acções” ou “& Comandita por Acções” (nas sociedades em

comandita por acções)

Elementos facultativos:

 pode (mas não deve) figurar o nome ou firma dos sócios comanditários (art. 467.º, n.os 2 e

3)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 pode integrar expressões alusivas ao objecto social

 siglas, expressões de fantasia, …

À partida, o registo é feito no RNPC, este que emite um certificado de admissibilidade da

firma (apenas para as sociedades e já não para os comerciantes em nome individual). Somente com

este certificado é que a pessoa fica com o uso exclusivo da firma.

As firmas que não respeitarem os elementos obrigatórios não poderão ser registadas.

De referir que se se tratar de um ACE, a firma terá que aditar ao seu nome ACE, se for

AEIE será AEIE, Empresas Municipais – EM, Entidades Públicas Empresariais – EPE e, Empresas

Intermunicipais – EIM.

Para as cooperativas será:

 “…, cooperativa”

 “…, união de cooperativa” ou responsabilidade limitada


+
 “…, federação de cooperativa” ou responsabilidade ilimitada

 ou “…, confederação de cooperativa”

Sem necessidade de requerimento, todos têm protecção de âmbito nacional, salvo se se

provar que a firma apenas exerce uma actividade de âmbito local.

Nota: vide art. 42.º RNPC, respeitante às Sociedades Civis sob Forma Civil

2.4 Princípios das Firmas

1.º Princípio da Verdade (art. 32.º RNPC)

Ex. José Aníbal da Silva Cavaco Lopes  se ele pretender usar Aníbal Cavaco Silva está a

induzir em erro e, como tal, está a ir contra o Princípio da Verdade.

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Vide art. 32.º, n.º 4/a RNPC  as firmas e denominações não podem conter palavras, expressões,

abreviaturas, etc. que induzam em erro quanto à caracterização jurídica dos respectivos titulares

(ex. “Associação de Importadores de Automóveis, Lda.”, para uma sociedade por quotas)

O que acontece quando um sócio tem o nome na firma e se retira como sócio ou morre?

Ex. Sociedade entre Alberto, Beatriz e Catarina – “Alberto Dias, companhia, Lda.”

Teremos que alterar o nome da firma para se dar cumprimento ao

Princípio da Verdade (art. 32.º, n.º 5 RNPC).

Contudo, é possível que o nome da firma se mantenha caso Alberto dê o

seu consentimento por escrito (no caso de apenas se ter retirado da

firma como sócio) ou, no caso de ter falecido, se os seus herdeiros

autorizarem

Esta situação consubstancia uma excepção ao Princípio da Verdade

2.º Princípio da Novidade ou Exclusividade

Os titulares das firmas validamente constituídas e registadas definitivamente (art. 35.º,

n.os 1 e 4 RNPC) têm direito ao uso exclusivo da firma que registaram.

Porém, para se ter direito ao uso exclusivo é necessário que a firma seja nova (daí o

Princípio da Novidade associado ao da Exclusividade) uma vez que as demais firmas que são

registadas posteriormente têm que ser novas em relação às que já se encontram registadas (art.

33.º RNPC).

Assim, só há exclusividade se houver novidade porque esta dá cumprimento àquela.

Mas quando é que uma firma é nova? Vide art. 33.º, n.os 1 e 2 RNPC e art. 10.º, n.os 2 e 3 CSC

Quando em causa estão as firmas das sociedades comerciais, para que

elas sejam consideradas novas é necessário analisar o seguinte:

 grafia

 efeito fonético

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 proximidade das suas actividades

 núcleo caracterizante da firma (ex. “BPN, banco …, SA” e

“BPN, peças de automóveis, Lda.”  o facto de ambas serem

admitidas pode levar a problemas respeitantes com a

reputação)

Se o público de normal capacidade, diligência e atenção compreender

estas características, não as confundindo com as de uma firma já

existente, então considerar-se-á que a firma é nova

3.º Princípio da Capacidade Distintiva (art. 33.º, n.º 3 RNPC, introduzido pelo DL n.º 111/2005)

As denominações não podem bastar-se com designações genéricas (ex. “Sociedade

Bancária, SA”, “Sociedade de Seguros, SA”), vocábulos de uso comum para designar actividades

ou produtos (ex. “Sociedade Ideal, Lda.”), topónimos ou indicações de proveniência (ex.

“Sociedade Conimbricense, SA”).

Tais elementos, de per si não distintivos, hão-de ser associados a outros, de modo a que o

conjunto seja capaz de distinguir (ex. “Sociedade Conimbricense Editora, SA”).

4.º Princípio da Licitude Residual (art. 32.º, n.º 4/b/c/d RNPC)

Significa um conjunto de vários requisitos que têm obrigatoriamente que ser cumpridos

para que as firmas sejam lícitas.

5.º Princípio da Unidade (art. 38.º, n.º 1 RNPC)

Tal princípio significa que os comerciantes só podem ter uma firma.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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2.4 Alteração da Firma

A alteração da firma pode ser:

 voluntária  quando o comerciante entender que deve alterar o nome da firma deve fazê-lo

(art. 56.º, n.º 1/b RNPC)

 obrigatória

- quando o sócio deixa de ser sócio e tem o seu nome na firma da sociedade e, nesse

caso, a firma tem o prazo de um ano para proceder à alteração, salvo se tiver havido autorização

expressa por parte do ex-sócio ou por parte dos herdeiros, se o sócio tiver morrido (art. 32.º, n.º

5 RNPC)

- quando há alteração do objecto social

- quando há transformação da sociedade

- quando há proibição do uso ilegal de uma firma (art. 62.º RNPC)

- quando há transmissão da firma inter vivos ou mortis causa (art. 44.º RNPC). Para

haver transmissão da firma tem que haver:

1.º transmissão do estabelecimento (contudo a transmissão do

estabelecimento não implica a transmissão da firma)

2.º acordo escrito das partes quando figura o nome do comerciante na firma.

Mas, quando o transmitente seja uma sociedade cuja firma contenha nome de sócio,

além daquele acordo, é ainda indispensável a autorização do titular do nome (art.

44.º, n.º 2 RNPC)

3.º o adquirente deve aditar à sua própria firma menção de sucessão e a firma

adquirida (ex. “António Silva, Comércio de Automóveis” passa a ser “Beatriz Costa,

sucessora de António Silva, Comércio de Automóveis”)  vide arts. 38.º, n.º 2 e 44.º,

n.º 3 RNPC)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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2.5 Extinção do Direito à Firma (art. 60.º RNPC)

Perda do Direito ao Uso da Firma:

 não exercício durante 2 anos  após o decurso deste prazo e mediante prova desse facto,

qualquer interessado pode pedir, junto do Registo Nacional, que aquela pessoa perca o direito ao

uso da firma (vide art. 61.º RNPC)

 quem não tem a firma registada, excepto se o titular tiver registado a firma num dos países

pertencentes à Convenção da União de Paris e se a firma for notória em Portugal; neste caso, não

é necessário fazer o registo em Portugal

Capítulo IV

Sinais Distintivos do Comércio

1. Marcas (art. 222.º CPI)

1.1 Noção

Marca sinal distintivo de produtos e serviços. Além do mais, é necessário que seja

susceptível de representação gráfica

1.2 Classificação

Quanto à Composição

 nominativas  as que são constituídas por nomes ou palavras

 auditivas (sons)  ex. “O que é Nacional é bom”

 figurativas (desenhos)

 tridimensionais (formas)

 mistas (ex. Lacoste, Adidas, Nike, …)  é a mais comum

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Quanto à Natureza da Actividade

 marcas industriais  assinalam produtos da indústria transformadora e extractiva

 marcas de comércio  assinalam bens comercializados por grossistas e retalhistas

 marcas agrícolas ou de agricultura (em sentido amplo, abrangendo a silvicultura, a

pesca, …)

 marcas de serviços  assinalam actividades do sector terciário (ex. bancos,

transportes, seguradoras, …)

Quanto ao Grau de Notoriedade

 marcas ordinárias  têm um baixo grau de notoriedade, sendo conhecidas por pouca

gente

 marcas notórias  são aquelas que são conhecidas por grande parte do público que as

consume, a que se destinam; mas também podem ser conhecidas por algumas pessoas que

não as utilizam (ex. a Compal é conhecida mesmo por quem não bebe)

 marcas de prestígio  há que atender à qualidade (que deverá ser acima da média –

tem que ter boa reputação) e quantidade (em termos de conhecimento)

Nota: há a possibilidade de termos uma marca de prestígio sem que seja muito notória

Quanto à Protecção

 marcas registadas

 marcas não registadas, de facto ou livres

Quanto às Funções

 função distintiva  destina-se a distinguir produtos similares (produtos de um

comerciante dos produtos de outro comerciante, que sejam confundíveis), produtos que

tenham entre si uma grande afinidade (ex. caneta e esferográfica, vinho maduro e vinho

verde, etc.) e, ainda, produtos que se complementam (ex. fios de lã e vestuário de lã)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Isto implica dizer que a marca respeita o Princípio da Especialidade (que é o Princípio que

rege as marcas), o que significa que podemos ter marcas iguais para produtos diferentes

(ex. Dove – é um chocolate e um sabonete)

 função de origem ou proveniência da marca (está intrinsecamente associada à função

distintiva)  o público em geral atribui a mesma origem aos produtos afins ou

complementares

 função publicitária (é uma função autónoma, dissociada das acima mencionadas)  visa

proteger o valor económico da marca, o valor que a marca ganhou no mercado

Trata-se de uma função que apenas se interliga às marcas de prestígio uma vez que

estas não carecem de respeitar o Princípio da Especialidade. Ao não o respeitarem,

significa que elas podem impedir qualquer firma (mesmo aquelas que tenham um objecto

comercial totalmente diferente) de registar qualquer produto que seja que pretenda

utilizar a mesma marca; isto porque as marcas de prestígio têm uma protecção abrangente

(ex. Louis Vuitton).

1.3 Princípios

1.º Princípio da Especialidade (art. 239.º/m CPI)

 vigora apenas para as marcas ordinárias e notórias

 não vigora, como já vimos supra, para as marcas de prestígio

2.º Princípio da Verdade (art. 239.º/i CPI)

3.º Princípio da Capacidade Distintiva (arts. 222.º e 223.º, n.º 1/a/b/c CPI)

Segundo este princípio, não se pode utilizar o mesmo nome do produto para produtos que já

se distinguem. Assim, não são marcas os sinais (exclusivamente) específicos (ex. a palavra “ovo”

ou o retrato de um ovo não podem ser marcas de ovos), descritivos (ex. “Pura Lã”) e genéricos

(ex. “Refresco” para laranjada).

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Excepções: art. 238.º, n.º 3 CPI  teoria do segundo sentido, segundo a qual um signo sem

significado (enquanto marca) adquire, através de certo uso, um segundo sentido, passando a

distinguir em termos de marca (“vulgarizar”) – ex. Gillette, Tupperware, Jipe, Termo, etc. - o

produto deixa de ser conhecido per si, passando a ser conhecido pela marca

4.º Princípio da Licitude Residual (art. 239.º, alíneas a) a j) CPI)

5.º Princípio da Novidade ou da Exclusividade (art. 239.º/m CPI)

Por força deste princípio, as marcas têm de ser novas, distintas ou inconfundíveis, mas tal

novidade apenas tem que afirmar-se no âmbito de produtos idênticos ou afins (ver também o art.

245.º, n.º 1/b CPI)

1.4 Protecção da Marca

A marca registada (®) tem direito ao uso exclusivo da marca:

 se for uma marca ordinária ou notória tem direito ao uso exclusivo da marca dos produtos

similares, complementares ou afins

 se for uma marca de prestígio tem direito ao uso exclusivo da marca em todos os produtos

Vide art. 336.º CPI (ilícito contra-ordenacional  coima) e art. 323.º CPI (ilícito criminal – pena

de prisão)

Quanto às marcas não registadas, há, ainda assim, uma certa protecção:

 no que concerne às marcas ordinárias, o legislador dá-lhe prioridade no registo se a firma

utilizar a marca por um período máximo de 6 meses, tendo prioridade durante esse período de

tempo. Se, porém, esse prazo decorrer, deixa de haver essa prioridade (art. 227.º, n.º 1 CPI)

 no que toca às marcas notórias, há sempre prioridade no registo (art. 241.º CPI), sem

necessidade de observar o prazo de 6 meses. Contudo, só tem prioridade para produtos idênticos,

afins ou complementares

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 relativamente às marcas de prestígio, estas têm sempre prioridade em face de todos os

produtos

Vide art. 246.º, n.º 1 CPI  também têm cá validade as marcas registadas no estrangeiro e que
tenham alguma notoriedade em Portugal, por força do Acordo de Madrid Relativo ao Registo

Internacional de Marcas e do seu Protocolo

1.5 Cedência da Marca

O titular de uma marca pode:

(1) utilizar a marca

(2) ceder o uso da marca (≠ merchandising  só existe para as marcas de prestígio: o titular da

marca (registada) de prestígio concede a outrem o direito de usar o signo para distinguir

produtos não idênticos nem afins dos produtos para que ela foi registada – ex. Ferrari: carro e

roupa)

 art. 31.º CPI  transmissão da marca (o titular da marca transmite

definitivamente/vende a marca a outrem), mas somente para os mesmos produtos

 art. 32.º CPI  licença de exploração/permite a utilização, mas somente para os

mesmos produtos, não podendo ser definitiva

2. Nome e Insígnia de Estabelecimento (arts. 282.º e ss CPI)

2.1 Noção

Nome do Estabelecimento sinal nominativo que designa ou individualiza um

estabelecimento, visando essencialmente distingui-lo de estabelecimento(s) de tipo idêntico ou

similar pertencente(s) a outro(s) titular(es)

Insígnia de Estabelecimento sinal figurativo ou emblemático individualizador de um

estabelecimento, visando essencialmente distingui-lo de estabelecimento(s) de tipo idêntico ou

similar pertencente(s) a outrem

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

2.2 Princípios

1.º Princípio da Verdade (art. 285.º, n.º 1/i CPI)

Os nomes e insígnias podem não dar qualquer indicação quanto à natureza, actividade, etc.

dos estabelecimentos. Porém, os elementos componentes dos nomes e insígnias que contenham

tais indicações devem ser verdadeiros.

2.º Princípio da Capacidade Distintiva

Enquanto sinais distintivos de estabelecimentos, os nomes e insígnias hão-de ser

constituídos por forma a poderem desempenhar a função individualizadora e diferenciadora (ex.

não se poderá dar o nome de “Restaurante” a um restaurante ou de “Padaria” a uma Padaria, etc.).

3.º Princípio da Exclusividade ou da Novidade (art. 285.º, n.º 1/h CPI)

Os nomes e insígnias dos diversos estabelecimentos devem ser distintos, “novos”.

4.º Princípio da Licitude Residual

Este princípio significa um conjunto de variados requisitos plasmados no art. 239.º CPI,

para que remete o art. 285.º, n.º 1/f CPI.

5.º Princípio da Unidade (art. 289.º, n.º 1 CPI)

Nota: não confundir firma, produto e nome de estabelecimento

3. Denominação de Origem e Indicação Geográfica (art. 305.º CPI)

 não são para um titular em particular

Denominação de origem certas denominações tradicionais, geográficas ou não, que

designam produtos originários de uma região ou local determinado, cuja qualidade ou

características se devem essencialmente ao meio geográfico e cuja produção, transformação ou

elaboração ocorrem nas áreas geográficas delimitadas

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Ex. pastéis de Belém, ovos moles de Aveiro

Indicações geográficas nome de uma região, de um local determinado que serve para

designar um produto originário dessa zona e cuja reputação, determinada qualidade ou outra

característica podem ser atribuídas a essa origem geográfica e que é produzido, transformado ou

elaborado na área geográfica delimitada

Ex. vinho do Porto, maçãs da Cova da Beira

A principal diferença entre elas é que as denominações de origem identificam produtos

cuja qualidade global ou características se devem essencialmente ao meio geográfico, ao passo

que as indicações geográficas designam produtos que, podendo embora ser produzidos com

idêntica qualidade noutras zonas geográficas, devem a sua fama ou certas características à área

territorial delimitada de que deriva o nome/indicação geográfica.

Capítulo V

Negócios sobre Empresas: Trespasse e Locação de Estabelecimento

1. Trespasse

1.1 Noção

Não existe qualquer noção legal de trespasse, sendo que apenas o encontramos regulado, de

forma muito genérica, no art. 1112.º CC.

Assim sendo, para encontrarmos uma noção de trespasse teremos que atender às suas

características.

Trespasse negócio jurídico que tem por objecto um estabelecimento (que não tem que

ser comercial) visando a sua transmissão definitiva; trata-se, no fundo, de uma transmissão da

propriedade do estabelecimento

Ora, a transmissão da propriedade pode operar de várias formas:

 contrato de compra e venda

 contrato de doação

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 troca/permuta

 dação em cumprimento

Concluímos, deste modo, que o trespasse pode ser um negócio jurídico quer a título

gratuito, quer a título oneroso, para além de que é um negócio inter vivos.

Sujeitos:

 trespassante  o que transmite a outra pessoa

 trespassário  aquele que adquire a propriedade do estabelecimento

1.2 Âmbitos

 Âmbito Mínimo

Engloba os elementos necessários para que tenhamos um trespasse, ou seja, os elementos

caracterizadores do estabelecimento em concreto (sem eles o público deixa de conseguir

identificar o estabelecimento como sendo aquele).

Só há trespasse se forem transmitidos os elementos deste âmbito, caso contrário teremos,

isso sim, uma venda isolada de elementos.

 Âmbito Natural

Refere-se aos elementos que se transmitem no silêncio das partes, isto é, quando as partes

nada dizem.

Quais esses elementos? Praticamente todos os que contribuem para a prática e organização da

actividade desenvolvida naquele estabelecimento. Exemplos:

 máquinas

 ferramentas

 mobiliários

 matérias-primas

 mercadorias

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 utensílios

 know-how
 marca, nome e insígnia do estabelecimento, excepto quando neles figure o nome do

trespassante (neste caso é necessária autorização do trespassante – vide art. 31.º, n.os 3, 4

e 5 CPI)

 prestações laborais (art. 318.º CPI), de modo a assegurar a estabilidade dos

trabalhadores

Há imóveis que pertencem ao âmbito mínimo mas se não pertencerem e se nada se disser

transmitir-se-á a propriedade do imóvel? Em princípio sim, salvo se resultar da interpretação do

negócio jurídico que as partes não pretenderam transmitir a propriedade do imóvel.

Nota: nunca se transmite naturalmente uma firma

 Âmbito Convencional

Respeita aos elementos que ficam na disponibilidade das partes por não descaracterizarem

um estabelecimento, ou seja, são aqueles que podem ou não ser transmitidos, consoante a vontade

das partes.

Exemplo de elementos que apenas se transmitam por vontade das partes:

 firma  só será transmitida se houver acordo entre as partes

 marca e nome de estabelecimento quando neles figure o nome do trespassante  esta

transmissão é obrigatoriamente convencional, pelo que se não houver acordo não se transmite

Regra geral, o nome do estabelecimento e da marca não são transmissíveis, salvo se

tratando do âmbito mínimo. Se não houver influência no âmbito mínimo: se nada se disser

transmitem-se a não ser que tenha o nome do trespassante; se não se quiser transmitir poder-se-

á fazer mediante convenção.

Por convenção também se poderão transmitir os créditos, bastando, para tal haver acordo

entre as partes, não sendo, como tal, necessária autorização do devedor.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Quanto aos débitos, para que possam ser transmitidos, para além da necessidade de

intervenção do trespassante e do trespassário, torna-se, além do mais, estritamente necessária a

intervenção do credor, sendo fundamental a sua autorização, tal como o articulado no art. 424.º

CC.

1.3 Obrigação Implícita de não Concorrência e Limites da Concorrência

Depois de transmitido o estabelecimento, o trespassante tem a obrigação implícita de não

concorrência devido, sobretudo, à clientela que é um elemento preponderante (isto porque tem

que haver entrega efectiva do estabelecimento).

É óbvio que poderá haver concorrência, mas neste caso ela será “desleal”.

Limites:

(1) objectivo  impede-se que o trespassante abra um estabelecimento com uma mesma

actividade, ou seja, restringe-se apenas àquela actividade

(2) espacial  restringe-se ao raio de acção do estabelecimento trespassado, que variará

consoante o tipo de estabelecimento

(3) temporal  não existe um elemento objectivo, entende-se, antes, que é o tempo necessário

para a entrega efectiva4

Esta obrigação implícita de não concorrência recai sobre:

 trespassante

 cônjuge do trespassante, independentemente do regime de bens  excepção: se estiver

separado de facto, o cônjuge já não estará sujeito àquela obrigação

 filho(s) do trespassante, quando com ele tenha colaborado na exploração da empresa

transmitida (mas há que analisar concretamente – ex. se não se vêem há muito tempo, etc.)

 se o trespassante for uma sociedade, essa obrigação recai, igualmente, sobre os sócios

(aqueles que têm efectivos conhecimentos da administração do estabelecimento)

4
O prazo máximo, regra geral, e segundo a jurisprudência, é de um ano

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

1.4 Trespasse do Estabelecimento Instalado em Prédio Arrendado

Quando o estabelecimento se encontra a funcionar em imóvel tomado de arrendamento e há

trespasse do mesmo, há, no fundo, uma cessão da posição contratual: de A – B para A – C.

contrato de arrendamento trespasse


A B C
Proprietário do imóvel  proprietário do  trespassário
& senhorio de B estabelecimento

 arrendatário de A

 trespassante

O art. 1112.º, n.º 1 CC vem-nos dizer que havendo trespasse se dispensa a autorização do

senhorio para a cessão da posição contratual.

Já, o n.º 2 do mesmo artigo indica-nos as situações em que não há trespasse. Há, contudo,

que fazer uma interpretação restrita deste preceito de modo a que se depreenda que não há

trespasse quando não se transmitem apenas os elementos do âmbito mínimo e não todos os

elementos do estabelecimento, como nos leva a crer o artigo supra. Não há, igualmente, trepasse

quando desde o início da transmissão se vise o desenvolvimento de uma outra actividade.

Acrescente-se que o senhorio tem direito de preferência, este que está legalmente

estipulado no art. 1112.º, n.º 4 CC, estando, por isso, sujeito a todas as regras da preferência:

 o senhorio tem que ser notificado de todas as condições do contrato (preço, qual o

promitente comprador, etc.)

 o senhorio tem o prazo de 8 dias para dizer alguma coisa – neste prazo ele pode

preferir, renunciar ao seu direito de preferência ou até mesmo nada dizer, extinguindo-se,

deste modo, o seu direito por caducidade (arts. 414.º, 416.º e 1410.º, todos do CC)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Art. 1112.º, n.º 5 CC ≠ art. 1112.º, n.º 2/b CC

Houve trespasse mas depois há   se isto se cumprir não há trespasse

alteração do ramo de

actividade  neste caso o

trespassante tem direito de

resolver o contrato

É criticado porque não existe limite de tempo para a resolução do contrato

2. Locação

 contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o gozo temporário de

um estabelecimento, mediante retribuição (art. 1022.º)

Na locação, a transmissão é temporária, pelo que no final o locatário tem que entregar o

estabelecimento. Assim sendo, conclui-se que, contrariamente ao trespasse, não há transmissão

da propriedade.

Tem um regime idêntico ao do trespasse: os mesmos âmbitos, obrigação, limites, etc.

Especificidade: rege o art. 1109.º CC

Segundo o n.º 2 do referido artigo, a falta de autorização do senhorio não constitui

fundamento para a resolução do contrato, todavia o senhorio tem que ser notificado.

Nota: aqui, o nome do estabelecimento e a marca transmitem-se obrigatoriamente ainda que

tenham o nome do locador

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

3. Violação da Obrigação Implícita de não Concorrência

Quando não se cumpre a obrigação implícita de não concorrência, o trespassário e o

locatário podem intentar as seguintes acções:

 art. 798.º CC  indemnização por perdas e danos

 art. 801.º, n.º 2 CC  resolução do contrato

 art. 817.º CC  acção para cumprimento – encerramento do estabelecimento (vide também o

art. 829.º CC)

 art. 829.º-A  requerer sanção pecuniária compulsória

Guilherme, proprietário de um parque de campismo sito na praia do Pedrógão,

pretende transmitir definitivamente o seu negócio a Hélder.

a) Suponha que no contrato apenas se refere que se transmite o estabelecimento

comercial com “todo o seu activo e todo o seu passivo”. Quais os elementos que são

transmitidos para Hélder?

Quanto aos elementos do âmbito mínimo têm que se transmitir, por exemplo, o espaço

físico (imóvel em que está situado o parque de campismo), as infra-estruturas que o parque tenha.

No concernente aos elementos do âmbito natural, transmitir-se-ão as prestações laborais, no

caso de Guilherme não ter levado os empregados para o seu novo estabelecimento, e os créditos,

uma vez que houve convenção entre as partes. Quanto aos débitos, os mesmos não se

transmitirão uma vez que apenas houve acordo entre as partes, não se fazendo referência se

houve ou não autorização por parte do credor: assim, presume-se que essa autorização não

existiu e, por conseguinte, os débitos não se transmitiram.

b) Imagine que a transmissão supra enunciada ocorreu no mês de Janeiro do corrente

ano e que Guilherme inaugurou, hoje, um parque de campismo na Nazaré. Hélder entende

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

que tem fundamentos para exigir o encerramento do parque de campismo sito na Nazaré.

Terá razão? Em caso afirmativo que poderia, além do mais, exigir Hélder de Guilherme?

A questão que se levanta nesta alínea respeita à obrigação implícita de não concorrência

(explicar). Ora, essa obrigação recai, in casu, sobre Guilherme, o trespassante.

Quanto aos limites: o objectivo não está verificado dado que Guilherme abriu um

estabelecimento com a mesma actividade; o limite temporal também não está preenchido (três

meses é muito pouco tempo para se considerar que houve entrega efectiva do estabelecimento); e

relativamente ao limite espacial, este verifica-se, pelo que não havia possibilidade de Hélder

pedir o encerramento do parque de campismo. Isto significa que Hélder não tem razão.

No caso se tivesse razão, Hélder poderia pedir uma indemnização por perdas e danos, a

resolução do contrato ou requerer sanção pecuniária compulsória até haver o encerramento do

estabelecimento.

Afigure que André pretende construir e comercializar Karts. Para o efeito solicita,

junto do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o registo das marcas infra

enumeradas e junto do Registo Nacional de Pessoas Colectivas o registo da firma infra

descrita solicitando, igualmente, protecção de âmbito nacional. Aprecie a viabilidade dos

registos solicitados.

a) dyno” (registada a favor de X e notória entre o público a que se destina) para

distinguir os karts

b) “onda” para apor nos motores

c) “vollante” para marcar volantes desportivos

c) “BestKart, SA”

O caso em apreço insere-se no âmbito dos sinais distintivos. In casu, temos três sinais

distintivos de produtos e serviços – “dyno”, “onda” e “vollante” – e um sinal distintivo de

comerciantes – a firma “Bestkart”.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Quanto às marcas, poderemos dizer que estas têm por objecto distinguir os produtos de

um comerciante de outro comerciante. Contudo, apenas pretende distinguir os produtos iguais,

complementares ou afins.

As marcas têm algumas funções: a distintiva, que é a função fundamental e abrange a

função de origem, e a função publicitária, esta que só existe para as marcas de prestígio.

Existem várias espécies de marcas:

 quanto à composição podemos ter marcas nominativas, figurativas, auditivas,

tridimensionais, etc. No caso em concreto são marcas nominativas

 quanto à natureza da actividade temos marcas industriais, agrícolas, de serviços e de

comércio. No nosso caso, as três marcas subsumem-se nas marcas de comércio

 relativamente ao grau de notoriedade podemos ter marcas ordinárias, notórias e de

prestígio. No caso em apreço, não obstante nenhuma destas marcas estar registada a favor

de André, existe uma marca igual àquela que André pretende registar, a favor de X, e que é

notória. Existe também uma marca que é confundível com a marca “Honda”, esta que é

classificada como marca de prestígio. Quanto à marca “vollante”, esta não é conhecida e,

como tal, ordinária

 no concernente à protecção da marca podemos ter marcas registadas e não registadas.

No caso em epígrafe, “dyno”, “onda” e “vollante” são não registadas, porém existe uma

marca já registada: a marca “dyno” a favor de X, e a marca “Honda”, a favor de outra

pessoa que não André, esta que é uma marca similar

 quanto aos princípios:

Relativamente à marca “dyno”

(1) Princípio da Licitude Residual – está respeitado

(2) Princípio da Exclusividade – a marca “dyno” viola este princípio uma vez que já existe

uma marca registada para produtos iguais, que, precisamente por ser registada e respeitar

à mesma actividade da marca que se quer registar, tem o uso exclusivo da marca

(3) Princípio da Novidade – está associado ao princípio supra e, por sua aplicação, a marca

“dyno” está a violar este princípio porque a marca que André quer registar já existe e, além

do mais, para produtos iguais, pelo que também se estaria a violar o Princípio da

Especialidade

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

(4) Princípio da Verdade – é violado porque ao teremos dois produtos iguais com a mesma

marca iremos sempre associá-lo à mesma pessoa, não se estando a distinguir os dois

produtos. Podemos, assim, referir também que não se está a dar cumprimento à função

distintiva

(5) Princípio da Capacidade Distintiva – está cumprido

Relativamente a esta marca (“dyno”), André verá indeferido o seu registo.

Relativamente à marca “Onda”

(1) Princípio da Licitude Residual – está cumprido

(2) Princípio da Capacidade Distintiva – está cumprido

(3) Princípio da Exclusividade – a marca “Onda” pode ser confundida com a marca “Honda”

porque em termos de fonética são iguais, pelo que têm um grande grau de semelhança.

Assim, por esta via não será registada. Acresce que ambas as marcas fabricam os mesmos

produtos (motores), pelo que nunca seria possível o registo. Deste modo também se violam

os Princípios da Novidade, da Especialidade e da Verdade

Assim sendo, André verá indeferido o seu registo da marca “Onda”.

Relativamente à marca “vollante”

(1) Princípios da Verdade, da Exclusividade, da Novidade e da Licitude Residual – estão

cumpridos

(2) Princípio da Capacidade Distintiva – é violado uma vez que não distingue: o nome da

marca tem o mesmo nome do produto que é comercializado

Deste modo, o registo desta marca será indeferido.

Quanto à firma “Bestkart, SA” – teremos que dar a noção de firma, esta que dá nome ao

comerciante, obedece, na generalidade, quase aos mesmos princípios que as marcas e tem regras

quanto à sua composição.

É precisamente sobre as regras da sua composição que teremos que nos debruçar: in casu,

temos um comerciante em nome individual dado que apenas André quer comercializar – se ele

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

quisesse constituir uma sociedade, o máximo que poderia era ser uma sociedade unipessoal. Assim

sendo, o nome da firma “Bestkart, SA” não pode ser registado porque no nome da firma tem que

constar o nome completo ou abreviado do comerciante e também tinha que colocar mais alguma

coisa pois André queria registá-la5.

Se André quiser pedir protecção nacional tem que indicar o objecto e solicitar ao Director-

Geral dos Registos e Notariado para que lhe seja alargada protecção.

Vamos, assim, concluir que esta composição é para distinguir Sociedades Anónimas e não

comerciantes em nome individual, pelo que André veria o seu pedido indeferido.

Filipa, Guilherme e Hélder pretendem constituir uma sociedade em nome colectivo cujo

objecto social visa o fabrico e venda de acessórios para barcos e canoas.

Para iniciarem a sua actividade pretendem requerer os seguintes registos:

 “Ferrare” para distinguir os motores que fabricam para barcos

 “Vela” para aporem nas velas que fabricam para serem aplicadas aos barcos

 “Remix” para distinguirem os remos que criaram

 “ABC – Acessórios para barcos e canoas & Companhia”

Pronuncie-se, justificando, quanto à viabilidade da admissão dos registos requeridos

sabendo, além do mais, que:

 Ivo utiliza a marca “Vella” desde Março de 2006 para distinguir velas de aniversário

 Joana utiliza, desde o ano de 2004, a marca “Remix” para distinguir barcos de borracha

 Luísa e Maria registaram, no ano de 2000, a firma “ABC – Acessórios de moda, Lda.”

“Ferrare”

Já existe uma marca confundível que é a “Ferrari”, esta que é uma marca de prestígio e

registada, o que significa que o dono da “Ferrari” tem o uso exclusivo desta marca, pelo que

poderia impedir que Filipa, Guilherme e Hélder utilizassem uma marca similar, quer a nível de

fonética quer a nível de grafismo. Refira-se que ambas as marcas visam produzir motores, pelo

5
Caso André não a quisesse registar, bastaria o seu nome completo ou abreviado no nome da firma

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

que ainda que a “Ferrari” não fosse uma marca de prestígio, ainda assim o registo da marca

“Ferrare” não seria possível.

Dizer ainda que apenas não se violam os Princípios da Capacidade Distintiva e da Licitude

Residual.

“Vela”

Já existe uma marca, usada por Ivo, que é similar, podendo nós classificá-la como ordinária

e não registada, livre ou de facto. Não sendo registada, tem uma protecção: no prazo de 6 meses

Ivo tem prioridade no registo (art. 227.º CPI). Bem passando esse prazo, como aconteceu no caso

em epígrafe, Ivo já não tem esse direito, o que significa que, à partida, “vela” poderia ser

registada uma vez que não viola os Princípios da Exclusividade, da Novidade e da Verdade. Porém,

viola o Princípio da Capacidade Distintiva, bem como a marca usada por Ivo, pelo que não poderia

ser registada, podendo, todavia, ser utilizada.

“Remix”

Já existe esta marca, utilizada por Joana, para distinguir barcos de borracha. Esta marca

usada por Joana é ordinária (pelo que não goza de uso exclusivo) e não registada (e Joana já não

tem prioridade no registo dado que já excedeu o prazo de 6 meses). Não obstante não serem

produtos diferentes, são produtos complementares, o que significa que Filipa, Guilherme e Hélder

podem registar a marca “remix” visto Joana já não ter prioridade, podendo posteriormente

impedi-la de usar a marca “remix” para os barcos de borracha.

Assim sendo, o registo seria deferido.

“ABC – Acessórios para Barcos e Canoas & Companhia”

Quanto ao tipo de sociedade está correcto. De facto, eles querem constituir uma sociedade

em nome colectivo.

O problema é que na sua composição tem que constar obrigatoriamente o nome completo ou

abreviado de, pelo menos, um dos sócios, o que não sucede neste caso. Assim, o pedido seria

indeferido.

De qualquer forma já existia uma firma com nome similar: assim teríamos que recorrer à

grafia, à fonética e ao núcleo caracterizante. No que respeita ao núcleo caracterizante, este é

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

igual (mas não notório) – “ABC”. Relativamente à grafia e à fonética depende da posição que cada

um adopte.

Aprecie, justificando, a viabilidade do registo dos seguintes pedidos:

a) “Pikolin” para marcar colchões de água

Não poderia ser registada pois é uma marca que se confunde com uma outra que

distingue colchões, pelo que viola os Princípios da Novidade, da Verdade, da Exclusividade e

da Especialidade

b) “Quinta de Mateus” para marcar queijos e vinhos produzidos integralmente na

Quinta de António Mateus que, desde 1950, é apelidada de “Quinta de Mateus”

À partida seria registável porém, in casu, é confundível com outras marcas,

nomeadamente:

 “Mateus”  é uma marca de vinhos

 “Casa de Mateus”  serve para marcar doces – não é confundível porque marcam

produtos diferentes

Isto significa que para os queijos poderia ser registada, contrariamente aos vinhos.

c) “Tromba Rija” para distinguir um estabelecimento comercial que se dedica à

restauração em Aveiro

Neste caso, já não estamos no âmbito das marcas mas sim no domínio do nome e

insígnia de estabelecimento.

A protecção do nome do estabelecimento é nacional pelo que se já existe (pelo menos

um, em Leiria) não se poderia abrir um outro, mas apenas porque se destina à mesma

actividade porque no caso de o “Tromba Rija” que se pretende registar desenvolvesse uma

actividade diversa, aí já seria possível o seu registo.

Acrescente-se que, deste modo, o registo seria indeferido e que apenas não estaria a

violar os Princípios da Capacidade Distintiva e da Licitude Residual.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

d) “Morcegofly – associação dos amigos dos morcegos, Lda” para distinguir uma

sociedade por quotas que visa comercializar morcegos

O que está em causa é uma firma que pretende distinguir: uma associação e uma

sociedade por quotas, o que não está correcto – ou é uma coisa ou outra. Deste modo, está

a induzir em erro quanto à natureza da pessoa em causa, violando, assim, o Princípio da

Verdade, pelo que esta mfirma não seria registável.

e) “Microsofte” para comercializar programas de computador

Já existe uma marca com esse nome que também se dedica aos mesmos produtos e

que é uma marca de prestígio. Assim não poderia ser registada.

Maria Fernanda Pereira de Sousa, conhecida nacionalmente pelo nome de Ágata,

herdou de seu pai, Fernando Pereira de Sousa, um estabelecimento comercial, sito em

Lisboa, que se dedica à compra e venda de música, denominado de FPS.

Maria Fernanda pretende agora alterar o nome de FPS para “Ágata”, porém soube que

a “Saboaria e Perfumaria Confiança, SA” denomina a perfumaria que explora em Leiria de

“Ágata”.

Maria Fernanda, porque foi informada que caso utilizasse a firma de seu pai

“Fernando Pereira de Sousa” violava o Princípio da Verdade relativo à constituição das

firmas, pretende solicitar o registo da seguinte firma: “Ágata – discoteca” e pedir

protecção de âmbito nacional.

Quid iuris?

Este caso prático insere-se no âmbito do nome de estabelecimento. Maria Fernanda

pretende mudar FPS para Ágata. Ela quer alterar, pode? Sim, pois o objecto é diferente, um é

compra e venda de música e a outra compra e venda de perfumes.

Pode usar a firma do pai? Pode mas não viola forçosamente o Princípio da Verdade desde

que adite a expressão “herdeira de” e o seu nome, para que a firma do seu pai não viole o dito

princípio. Pode pedir protecção de âmbito nacional? Não, pois com esta firma não consta o nome

completo e abreviado do requerente e o objecto da mesma. No entanto, e quanto ao pseudónimo

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Ágata que identifica a artista Maria Fernanda Pereira de Sousa, sendo esta mais conhecida por

Ágata do que pelo seu próprio nome, admite-se quando os pseudónimos são notórios e

completamente identificativos do comerciante, assim Ágata é suficiente para a identificar, logo

seria possível registar “Ágata – discoteca” com protecção de âmbito territorial e de âmbito

nacional caso houvesse requerimento ao Director-Geral dos Registos e Notariado.

Daniel é proprietário do parque aquático “Aquarius” sito na Praia de São Pedro de

Moel. O “Aquarius” é nacionalmente famoso pelo facto de albergar a maior piscina de ondas

artificiais e um dos mais relaxantes centros de SPA.

Ontem, Daniel decidiu emigrar para o Brasil onde comprou uma quinta e onde pretende

passar o resto da sua vida. Assim, propôs a Emília que ficasse com o “Aquarius”. Porém,

hoje conheceu Filipe que lhe propôs comprar a máquina das ondas, os equipamentos

referentes ao SPA, as mesas da esplanada e um quadro da pintora Paula Rego que decorava

a parte da restauração.

1. Daniel pretende saber se pode transmitir, por um lado, o “Aquarius” a Emília e, por

outro lado, a máquina das ondas e os equipamentos do SPA a Filipe. Classifique o tipo de

negócio em causa e refira o que diria a Daniel.

Estamos no âmbito do trespasse, que não é mais do que um negócio jurídico inter vivos que

tem por objecto um estabelecimento, visando a sua transmissão definitiva. Em causa está um

estabelecimento comercial que é um conjunto de meios que permite o desenvolvimento de

determinada actividade.

Uma vez que o estabelecimento é constituído por múltiplos elementos é necessário atender

aos diferentes âmbitos:

 âmbito mínimo (dar noção)  máquina de fazer ondas e equipamentos referentes ao

SPA, pelo que não poderão deixar de ser transmitidos a Emília.

Assim, Daniel não pode transmitir os equipamentos referentes ao SPA a Filipe, ou então

poderá fazê-lo mas nesse caso estaremos perante um contrato de locação e não um

trespasse, dado tratarem-se de objectos que descaracterizam o estabelecimento.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 âmbito natural  prestações laborais, salvo se Daniel levasse os trabalhadores para o

Brasil

 âmbito convencional  quadro da Paula Rego, mesas da esplanada, os créditos (basta

apenas o acordo entre as partes) e os débitos (aqui, além do acordo entre as partes, é

necessária a intervenção do credor, que pode ou não autorizar)

2. Suponha que o “Aquaqrius” funciona num prédio rústico tomado de arrendamento a

Guilherme e que este pretende ficar com o estabelecimento em causa para si. Quid iuris?

Se funciona num prédio tomado de arrendamento, para haver trespasse tem que haver

autorização do senhorio (art. 1112.º CC), sendo que este tem um direito legal de preferência

(arts. 414.º, 416.º e 1410.º CC). Se não considerarmos que tenha havido trespasse não é

necessária autorização do senhorio, não tendo este o direito de preferir (art. 1109.º CC).

Capítulo VI

Sociedades Comerciais

1. Noção

A sua noção deveria constar no art. 980.º CC, contudo este artigo estipula,

verdadeiramente, a noção de contrato de sociedade (sociedades civis). Assim sendo, teremos que

nos socorrer dos seus elementos.

 Elemento Pessoal/Agrupamento de Pessoas

A regra é a de que uma sociedade seja constituída por duas ou mais pessoas, segundo o

previsto nos arts. 980.º CC e 7.º, n.º 2 CSC, ou seja, tem que haver uma pluralidade de sujeitos.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Contudo, existe uma excepção, que é a unipessoalidade, isto é, sociedades constituídas apenas por

um único sujeito6.

A unipessoalidade pode ser:

 originária  situações em que, ab initio, a sociedade é constituída apenas por um sócio.

Aqui podemos ter:

(1) sociedades unipessoais por quotas (arts. 270.º-A e ss CSC)

(2) sociedades anónimas, compostas apenas por um único sócio, tendo um sócio que

ser, obrigatoriamente (sempre uma pessoa jurídica): Sociedade Anónima, Sociedade por

Quotas ou Sociedade em Comandita por Acções (art. 481.º, n.º 1 CSC)

 superveniente  a sociedade foi constituída com uma pluralidade de sujeitos, porém,

por alguma razão, num momento posterior, a sociedade foi reduzida a um único sócio

(1) é uma sociedade transitória (≠ definitiva nas sociedades unipessoais originárias)

uma vez que não poderá ser para sempre constituída por apenas um sócio, salvo se

este transformar a sociedade em unipessoal

(2) pode voltar a pluralidade à sociedade (art. 142.º, n.º 1/a CSC)

(4) pode haver dissolução da sociedade comercial no prazo de um ano quando não se

devolve a pluralidade de sujeitos à sociedade (art. 142.º, n.º 1/a CSC); quanto às

sociedades civis, o prazo é de seis meses, segundo o articulado no art. 1007.º/d CC

 Elemento Patrimonial

Inicialmente, os sócios têm que contribuir através de entradas, estas que podem ser:

 dinheiro  são admitidas em todas as sociedades

 bens (entradas em espécie)  são admitidas em todas as sociedades

 serviços (entradas em indústria)  não são admitidas nas sociedades por quotas

Vide arts. 202.º e 203.º CSC (para as SQ) e arts. 276.º e 277.º CSC (para as SA)

6
Não confundir a unipessoalidade com o comerciante em nome individual ou com o EIRL (Estabelecimento Individual de
Responsabilidade Limitada (art. 40.º RNPC)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Quanto às entradas em espécie é necessário fazer uma avaliação prévia, competindo essa

avaliação ao Revisor Oficial de Contas (ROC), nos termos do art. 28.º CSC. Mas, nas Sociedades

em Nome Colectivo, há a possibilidade de ser o próprio sócio a avaliar o bem, segundo prevê o art.

179.º CSC, com a consequência de todos os sócios ficarem responsáveis solidariamente pelo valor

do bem.

Posto isto se conclui que o ROC é obrigatório nas Sociedades Anónimas e nas Sociedades

por Quotas.

Nota: nem todas as sociedades têm que ter capital social, como é o caso das Sociedades em

Nome Colectivo

 Objecto Social

Para haver objecto social:

 tem que haver um exercício em comum

 tem que haver o exercício de uma actividade económica, esta que pressupõe a aquisição

do lucro, como, por exemplo, o comércio, a indústria, a maioria das prestações de serviços

 não pode ser de mera fruição (ex. comproprietários, “sociedade” para entrar num

concurso – esta não é uma sociedade pois para além de não ter uma actividade continuada,

trata-se de um acto isolado)

Nota: falamos em gerentes nas Sociedades por Quotas e em administradores nas Sociedades

Anónimas

 Fim da Sociedade

O fim da sociedade é o lucro:

 lucro objectivo  quer-se que a sociedade, no final do exercício, tenha mais património

do que tinha no início

 lucro subjectivo  repartição dos lucros pelos sócios; é o que interessa mais ao sócio

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Sujeição a Perdas (não vem previsto no art. 980.º CC)

Este elemento diz-nos que não se podem isentar os sócios das perdas, nem afastá-los dos

lucros – trata-se do designado pacto leonino, previsto no art. 994.º CC ( vide também o art. 22.º,

n.º 3 CSC).

Para a sociedade ser comercial necessitamos, assim, dos cinco elementos supra, do objecto

comercial, segundo nos diz o art. 1.º, n.º 2 CSC (que implica a prática de actos de comércio), para

além de que tem que adoptar um tipo comercial, segundo o estatuído no art. 1.º, n.º 3 CSC.

De facto, no art. 1.º, n.º 3 CSC encontra-se consagrado o Princípio da Tipicidade que vem,

deste modo, cercear o Principio da Autonomia Privada, na sua vertente da Liberdade Contratual.

Contudo, restringe a Liberdade Contratual apenas relativamente ao tipo uma vez que as partes

continuam livres de contratar, havendo, igualmente, liberdade na escolha dos sujeitos com quem

contratar.

2. Modos de Constituição das Sociedades

Processos de Constituição:

 Processo Tradicional (art. 7.º CSC)  admissível para todas as sociedades

1.º Passo

Regra geral: documento particular e assinaturas reconhecidas presencialmente (quem pode

reconhecer as assinaturas são os Solicitadores e Advogados – art. 38.º, n.º 1 do DL n.º 76-

A/2006, Câmaras de Comércio e Indústria, Conservadores e Notários)

Excepção: quando há entradas em espécie de bens imóveis continua a exigir-se escritura

pública

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

2.º Passo

Posteriormente, há lugar ao registo, este que confere dois efeitos fundamentais:

 confere personalidade jurídica (art. 5.º CSC)

 os efeitos decorrentes do art. 19.º CSC

3.º Passo

Por último, temos as publicações7 que permitem opor os efeitos do contrato a terceiros

 Processo Inovador (art. 18.º CSC)  não é admitido quando há entradas em espécie

Trata-se de um processo em tudo idêntico ao Processo Tradicional, com a única diferença

de neste processo ser necessário um registo prévio do contrato de sociedade, este que é

provisório por natureza.

Seguem-se então a constituição do contrato, o seu registo definitivo e o processo de

publicações.

 Constituição com Apelo à Subscrição Pública (arts. 279.º e ss CSC)

Apenas é admissível para as Sociedades Anónimas que têm por objectivo serem

imediatamente cotadas na bolsa (as designadas Sociedades Anónimas abertas).

Os promotores fazem um projecto completo do contrato de sociedade, no qual deverão

especificar ao máximo as características da sociedade, sendo esse projecto registável.

Pretende-se capturar capital até realizar o capital total, fora dos promotores.

Este processo também engloba a Comissão de Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM).

Nota: vide art. 35.º, n.º 4 do CRCom.

7
www.mj.gov.pt/publicacoes

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Empresa na Hora (DL n.º 111/2005)

É admissível para as Sociedades por Quotas e para as Sociedades Anónimas. Porém,

segundo o disposto no art. 2.º do DL mencionado, não se aplica quando:

 há entradas em espécie

 a constituição da sociedade exige autorização especial

 se trata de uma Sociedade Anónima Europeia

A constituição das sociedades, segundo este processo, é feita num único acto presencial.

1.º Passo

Tem que se optar por uma firma que já se encontre registada na Bolsa de firmas do Estado

ou apresentar certificado de admissibilidade de firma emitido pelo RNPC, de acordo com o

previsto no art. 3.º/a CSC.

2.º Passo

Segundo o extrapolado no art. 3.º/b CSC, tem que se optar por um dos pactos previamente

aprovados pelo Director-Geral dos Registos e do Notariado.

 Empresa On-line (DL n.º 111/2006)

É admissível quer para as Sociedades por Quotas, quer para as Sociedades Anónimas.

Porém, segundo o disposto no art. 2.º do DL mencionado, não se aplica quando:

 há entradas em espécie de bens imóveis

 se trata de uma Sociedade Anónima Europeia

 Sociedades Anónimas Europeias (Regulamento 2157/2001 do Conselho)

Para que possam ser identificadas, as firmas têm que ter no seu nome SE.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Exemplo: uma SA portuguesa, uma SA espanhola, uma SA francesa e uma SA italiana  estas

sociedades podem constituir uma SE, podendo constituir-se por:

(1) fusão

(2) transformação (aqui, uma SA nacional de um Estado-membro transforma-se em SE,

sendo, para tal, necessário que tenha pelo menos duas filiais, estas que têm que estar em países

diferentes e que têm que exercer a sua actividade há mais de dois anos naqueles países – no

fundo tem que haver contacto entre, pelo menos, três países)

(3) holding é aberta às SA com presença comunitária seja através de sedes em Estados-

membros distintos, seja através de filiais ou sucursais e países que não o da sede

3. Momentos da Constituição das Sociedades

Quais os momentos?

1.º depois do registo

2.º antes da celebração do contrato

3.º entre a celebração do contrato e o registo definitivo

3.1 Depois do Registo

 Sociedade em Nome Colectivo (art. 175.º, n.º 1 CSC)

 responsabilidade que os sócios assumem perante a sociedade  é uma responsabilidade

individual pela entrada a que se obrigaram, ou seja, não têm que responder pela entrada dos

outros sócios

 responsabilidade que os sócios assumem perante credores sociais (terceiros)  é

subsidiária em relação à sociedade (isto significa que o credor social não pode executar o

património do sócio sem antes executar o património da sociedade) e é solidária entre os

sócios. Além do mais a responsabilidade é ilimitada

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Sociedade por Quotas

 responsabilidade que os sócios assumem perante a sociedade  nos termos do art.

197.º, n.º 1 CSC, os sócios são responsáveis solidariamente pelo valor de todas as entradas

convencionadas

 responsabilidade que os sócios assumem perante credores sociais:

Regra: segundo o previsto no art. 197.º, n.º 3 CSC, pelas dívidas/obrigações perante

os credores sociais responsabiliza-se apenas a sociedade, isto é, é responsável apenas o

património social

Excepção: segundo o art. 198.º CSC, os sócios podem ser responsáveis perante

terceiros, sendo, porém, necessário que haja cláusula contratual nesse sentido (não

havendo convenção não se aplica o art. 198.º CSC). Mas, para que tal cláusula seja válida ela

tem que:

1.º determinar o montante, pelo facto de se tratar de uma responsabilidade

limitada

2.º indicar a sua natureza, isto é, se é solidária ou subsidiária relativamente

ao património social

3.º facultativamente, na convenção pode ficar patente que o sócio só se

responsabiliza se a sociedade entrar em liquidação (no caso de estar para se

extinguir)

4.º também se pode convencionar que o direito de regresso contra a

sociedade, por parte do sócio, seja afastado. Mas nunca pode haver direito de

regresso desse sócio sobre os demais sócios

 Sociedade Anónima (art. 271.º CSC)

 responsabilidade que os sócios assumem perante a sociedade  a responsabilidade dos

sócios é individual e relaciona-se com o valor das acções subscritas

 responsabilidade que os sócios assumem perante credores sociais  inexiste

responsabilidade

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Sociedade em Comandita (art. 465.º CSC)

Nas Sociedades em Comandita Simples:

 sócios comanditados  têm uma responsabilidade idêntica à dos sócios das Sociedades

em Nome Colectivo

 sócios comanditários  têm uma responsabilidade idêntica à dos sócios das Sociedades

por Quotas

Nas Sociedades em Comandita por Acções:

 sócios comanditados  têm uma responsabilidade idêntica à dos sócios das Sociedades

em Nome Colectivo

 sócios comanditários  têm uma responsabilidade idêntica à dos sócios das Sociedades

Anónimas

3.2 Antes da Celebração do Contrato (art. 36.º CSC)

Art. 36.º, n.º 1 CSC

Relaciona-se apenas com uma responsabilidade perante terceiros.

Visto haver uma falsa aparência da sociedade, a tutela da confiança de terceiros impõe que

a responsabilidade dos sócios aparentes seja ilimitada e solidária.

Art. 36.º, n.º 2 CSC

Aqui não há falsa aparência. Tem que haver, isso sim, um acordo de sociedade e aí

responderá, via de regra, a sociedade e pessoal e solidariamente, mas a título subsidiário, os

sócios, perante terceiros, nos termos dos arts. 996.º e ss CC.

No concernente às relações entre os “sócios” aplica-se o regime previsto nos arts. 983.º e

ss CC.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

3.3 Entre a Celebração do Contrato e o Registo Definitivo

Aqui teremos que ver:

(1) relações entre os sócios (art. 37.º CSC)

(2) relações da sociedade com credores sociais

 art. 38.º CSC  Sociedades em Nome Colectivo

 art. 39.º CSC  Sociedades em Comandita Simples

 art. 40.º CSC  Sociedades por Quotas, Sociedades Anónimas e Sociedades em

Comandita por Acções

(1) Relações entre os sócios (art. 37.º CSC)

Art. 37.º, n.º 1

O art. 37.º, n.º 1 CSC, consagra o regime geral, isto é, no período compreendido entre a

celebração do acto constituinte e o seu registo definitivo “são aplicáveis às relações entre os

sócios, com as necessárias adaptações, as regras estabelecidas no contrato” e no CSC.

Assim, apesar da falta de registo, o regime das relações internas nesta fase é, em

princípio, o aplicável depois de registado o acto constituinte. Daí que se no contrato de sociedade

houver uma cláusula que dispense o consentimento da sociedade para a transmissão de

participações sociais, não é necessário o consentimento da sociedade, embora o art. 288.º nos

diga que para a transmissão inter vivos das participações sociais é necessário que o adquirente

seja sócio, cônjuge, descendente ou ascendente do transmitente.

Art. 37.º, n.º 2

Aqui não se aplicam as regras do contrato nem o art. 288.º, consubstanciando esta norma

uma excepção ao n.º 1 do mesmo preceito, o que significa que se exige o consentimento unânime

dos sócios para os casos contemplados neste preceito.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Exemplo:

Uma sociedade por quotas, cujos sócios são:

 Alberto  quota de 5.000€

 Beatriz  quota de 5.000€

 Catarina  quota de 5.000€

Celebraram o contrato de sociedade em 1 de Abril de 2008, cujo registo foi efectuado em

2 de Maio do mesmo ano.

No dia 2 de Abri, Catarina pretende transmitir a sua quota a Daniel, seu namorado.

Quid iuris?

Teremos que aplicar o art. 37.º, n.º 2 uma vez que Catarina pretende efectuar a dita

transmissão antes do registo, o que exige a unanimidade de todos os sócios.

(2) Relações da sociedade com credores sociais

Art. 38.º - Sociedades em Nome Colectivo

O art. 38.º, n.º 1 diz-nos que tem que haver acordo expresso ou tácito por parte dos sócios,

acordo esse que se presume, presunção esta que é ilidível, segundo o art. 350.º, n.º 2 CC.

Se o sócio conseguir afastar a presunção não será responsabilizado pelo cumprimento da

obrigação, segundo o estatuído no art. 38.º, n.º 2 CSC. No caso de a presunção não ser afastada,

todos os sócios serão responsáveis, sendo essa responsabilidade solidária e ilimitada.

Art. 39.º - Sociedades em Comandita Simples

O n.º 1 deste preceito supra diz-nos que o consentimento dos sócios comanditados pelos

negócios realizados no âmbito destas sociedades se presume, respondendo todos eles pessoal e

solidariamente. No caso de essa presunção ser afastada, apenas respondem pessoal e

solidariamente pelas obrigações os sócios que deram o seu consentimento.

Já o n.º 2 do mesmo artigo refere, quanto aos sócios comanditários, que também estes

ficam com responsabilidade idêntica à dos sócios comanditados se tiverem consentido no começo

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

das actividades sociais, “salvo provando ele que o credor conhecia a sua qualidade”, ou seja, se

fizer prova de que o terceiro tinha conhecimento de que ele era sócio comanditário.

Exemplo: numa Sociedade em Comandita Simples:

 A  comanditado: consentiu (art. 39.º, n.º 1)

 B  comanditado: não consentiu e afastou a presunção

 C  comanditado: não consentiu e não afastou a presunção (art. 39.º, n.º 3)

 D  comanditário: não consentiu o início das actividades sociais

 E  comanditário: consentiu o início das actividades sociais

 F  comanditário: consentiu o início das actividades sociais e prova que o credor

sabia que ele era sócio comanditário

Posto isto se conclui que apenas A, C e E assumiriam uma responsabilidade solidária e

ilimitada. Quanto a B, D e F responderiam pessoal e solidariamente pelas obrigações que advêm

dos negócios celebrados em nome da sociedade.

Art. 40.º - Sociedades em Comandita por Acções, Sociedades por Quotas e SA

Todos os sócios que agiram em representação da sociedade ou que tenham autorizado os

negócios realizados no âmbito da sociedade “respondem ilimitada e solidariamente”.

Quanto aos demais sócios, isto é, aqueles que não agirem nem autorizaram/consentiram tais

negócios assumem uma responsabilidade limitada ao montante da entrada a que se obrigaram.

Súmula

1.º contrato 2.º registo 3.º

Art. 36.º Art. 37.º  relação entre os sócios Art. 175.º Art. 19.º

Art. 38.º Art. 197.º

Art. 39.º Art. 271.º

Art. 40.º Art. 465.º

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

1.º Momento anterior à realização do contrato

2.º Momento entre a constituição do contrato e o registo

3.º Momento após o registo do contrato

Assim:

 Numa obrigação/dívida assumida no momento 1 e exigida no momento 2 aplicamos o art. 36.º

CSC

 Numa dívida assumida no momento 1 e exigida no momento 2 aplicamos o art. 36.º CSC

 Numa dívida assumida no momento 1 e exigida no momento 3 aplicamos o art. 19.º (art. 175.º,

197.º, 271.º ou 465.º CSC, responsabilidade da sociedade consoante o caso) se se verificarem os

requisitos aí exigidos, caso contrário aplicamos o art. 36.º

 Numa dívida assumida e exigida no momento 2 aplicamos o art. 38.º, 39.º ou 40.º CSC,

consoante o tipo de sociedade

 Numa dívida assumida no momento 2 e exigida no momento 3 aplicamos o art. 19.º (art. 175.º,

197.º, 271.º ou 465.º CSC, responsabilidade da sociedade consoante o caso), se se verificarem os

requisitos aí previstos, se não aplicaremos o art. 38.º, 39.º ou 40.º CSC

 Numa dívida assumida e exigida no momento 3 aplicamos o regime geral, ou seja, o art. 175.º,

197.º, 271.º ou 465.º CSC, consoante o caso)

4. Assunção das Obrigações pela Sociedade

O art. 19.º CSC refere-se à assunção pela sociedade das obrigações decorrentes de

negócios jurídicos celebrados antes do registo do contrato de sociedade, o que significa que a

sociedade vai chamar a si aquelas obrigações, responsabilizando-se pelo cumprimento dos

contratos.

Assim, o art. 19.º CSC vai afastar a aplicabilidade dos arts. 36.º, 38.º e 39.º e 40.º CSC.

Existem dois tipos de assunção:

 assunção de forma automática ou de pleno direito  isto significa que no momento em

que há registo, há assunção das dívidas, não sendo necessário dar conhecimento de tal

facto aos credores

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Casos:

a) obrigações que se relacionam com a constituição da sociedade (ex. honorários

de solicitador, pagamento de escritura ou de registo, pagamento de estudos de mercado,

etc.  todas estas dívidas, independentemente do momento em que foram contraídas,

serão assumidas automaticamente desde que haja registo definitivo)

b) despesas relacionadas com o estabelecimento, ou seja, casos em que a

actividade da sociedade é explorar um estabelecimento, o que pode ocorrer por duas

razões:

(1) a sociedade tenha comprado um estabelecimento

(2) um sócio tenha entrado com um estabelecimento

c) dívidas contraídas apenas antes do contrato, sendo que nesse contrato há-de

haver uma cláusula na qual se refere que a sociedade assume aquela obrigação, caso

contrário aplicaremos o art. 36.º CSC. Acrescente-se que essas obrigações têm que ser

ratificadas

d) negócios jurídicos celebrados depois da celebração do contrato de sociedade e

antes do registo com autorização de todos os sócios, autorização essa que tem que ser

expressa

 assunção que depende de decisão ou deliberação (no caso de se tratar de um órgão

colectivo) do órgão de gestão  neste caso tem que haver comunicação aos credores,

notificação essa que deve ser feita no prazo máximo de 90 dias a contar da data do registo

Se se aplicar o art. 19.º CSC, deixam de ser os sócios responsáveis, nos termos do disposto

do art. 19.º, n.º 3. A questão que se coloca é saber o porquê de apenas os sócios mencionados no

art. 40.º CSC ficarem excluídos de tal responsabilidade e já não os dos arts. 38.º e 39.º CSC.

Tudo se prende pelo facto de nos termos do regime geral dos arts. 38.º e 39.º CSC, os sócios aí

referidos responderem sempre perante credores sociais, independentemente do momento.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

5. Elementos Obrigatórios do Contrato de Sociedade

Podem ser de duas naturezas:

(1) elementos gerais  aqueles que têm que estar no contrato de sociedade, independentemente

do tipo de sociedade (art. 9.º e arts. 10.º, 11.º e 12.º, todos do CSC)

(2) elementos específicos  aqueles cuja existência varia consoante o tipo de sociedade:

 Sociedades em Nome Colectivo – arts. 9.º e 176.º CSC

 Sociedades por Quotas – arts. 9.º e 199.º CSC

 Sociedades Anónimas – arts. 9.º e 272.º CSC

 Sociedades em Comandita – arts. 9.º e 466.º CSC

Notas:

 dois sócios casados um com o outro não podem ambos assumir uma responsabilidade ilimitada

solidária, quer nas Sociedades em Nome Colectivo quer nas Sociedades em Comandita

 o objecto da sociedade tem que ser concreto e não abstracto primar por forma a identificar

concretamente qual o tipo de actividade da empresa

 nos termos do art. 199.º/b, quando não é paga a totalidade da entrada é feito um diferimento

de entradas

6. Invalidades

6.1 Vícios no Contrato de Sociedade

Quando há vícios no contrato de sociedade há que atender nos arts. 41.º e ss CSC.

Vícios no Contrato de Sociedade antes do registo (art. 41.º CSC)

depois do registo

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

6.1.1 Vícios no Contrato de Sociedade antes do Registo (art. 41.º CSC)

Vícios no Contrato:

Aplica-se o art. 52.º CSC  entrada da Sociedade em liquidação que faz com que ela

desapareça, no caso de a consequência ser a nulidade ou a anulabilidade:

 art. 52.º, n.º 2 CSC – eficácia dos negócios jurídicos celebrados em nome da sociedade

(arts. 38.º, 39.º e 40.º CSC)

 art. 52.º, n.º 3 CSC – não há eficácia dos negócios celebrados em nome da sociedade

quando houve simulação e não há esta eficácia para terceiros de má fé

 art. 52.º, n.º 4 CSC – os sócios continuam responsáveis pela realização das suas

entradas e perante credores sociais quando a lei o exige

 art. 52.º, n.º 5 CSC – se em causa estiver um incapaz, este não responde (EXCEPÇÃO)

6.1.2 Vícios no Contrato de Sociedade depois do Registo

Vícios no Contrato SNC e Sociedade em Comandita Simples (art. 43.º CSC)

depois do Registo SQ, SA e Sociedades em Comandita por Acções (art. 42.º CSC)

Art. 42.º - SQ, SA e Sociedades em Comandita por Acções

O art. 42.º CSC apresenta-nos um elenco taxativo das causas de nulidade do contrato

registado:

a) Dois sócios fundadores  nulo

 art. 145.º, n.º 1/a – se tiver 3 sócios pode acrescentar, no prazo de um ano, os

restantes sócios

b) Falta de menção de objecto  nulo

c) Menção de objecto ilícito  nulo

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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d) Falta de cumprimento dos preceitos legais  nulo

e) Falta de forma  nulo

Estas nulidades são sanáveis, nos termos do art. 42.º, n.º 2 CSC. Assim, a sociedade tem

que ser interpelada para que venha a sanar o vício, sendo que tem o prazo de 90 dias para o fazer.

De referir apenas que o vício é sanável através de uma deliberação dos sócios.

No caso de não serem sanáveis teremos que aplicar o art. 44.º CSC: a acção de declaração

de nulidade pode ser intentada no prazo de 3 anos a contar da data do registo, porém o MP não

está limitado a esse prazo de 3 anos, podendo intentá-la a todo o tempo.

Quem tem legitimidade para intentar a acção de declaração de nulidade? Órgão de

Administração e Fiscalização, sócios ou um terceiro.

Art. 43.º - Sociedades em Nome Colectivo e Sociedades em Comandita Simples

Este preceito já não é taxativo mas meramente exemplificativo.

Fundamentos da invalidade do contrato:

 vícios do título constitutivo

- art. 43.º, n.º 2 CSC (art. 42.º, n.º 1/b CSC)  não inclui o objecto

- art. 43.º, n.º 3 CSC (art. 42.º, n.º 1/b CSC)  inclui o objecto

 causas gerais da invalidade dos negócios jurídicos

6.2 Vícios nas Declarações de Vontade dos Sócios

Vícios nas Declarações de Vontade antes do registo

depois do registo

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Quais os Vícios?

 vícios da vontade  dolo, coacção e erro

 usura

 incapacidade  menoridade, interdição e inabilitação

6.2.1 Vícios nas Declarações de Vontade antes do Registo (art. 41.º CSC)

Se se verificarem, estes vícios não são oponíveis a terceiros, pelo que


Vícios da Vontade
significa que continuam responsáveis perante os credores sociais.
Usura
Porém, tais vícios são oponíveis aos sócios  consequência: nulidade

Incapacidade  aplica-se o regime aplicável aos incapazes, isto é, os incapazes podem opor a sua

incapacidade quer aos sócios, quer a terceiros: não têm que ser responsáveis perante credores

nem realizar entradas; no caso de já as terem realizado têm direito a receber o que hajam

prestado

6.2.2 Vícios nas Declarações de Vontade depois do Registo

Sociedades Anónimas, Sociedades por Quotas e Sociedades em Comandita por Acções

Nos termos do art. 45.º, n.º 1 CSC, os vícios da vontade e a usura podem ser invocados

como justa causa de exoneração. Havendo, assim, exoneração do sócio, este tem o direito a

receber o valor real da sua participação social, calculado com referência à data da declaração da

intenção de se exonerar (vide art. 240.º CSC).

No caso dos incapazes, diz-nos o art. 45.º, n.º 2 CSC que a incapacidade de um dos

contraentes torna o negócio jurídico anulável relativamente ao incapaz. Anulada a declaração de

vontade do incapaz, tem ele o direito de reaver o que prestou e não pode ser obrigado a

completar a sua entrada (art. 47.º CSC).

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Sociedades em Nome Colectivo e Sociedades em Comandita Simples

Dever-se-á aplicar o art. 46.º CSC, que nos diz que os vícios da vontade, a usura e a

incapacidade determinam a anulabilidade do contrato ( vide art. 52.º no caso de ser declarado

nulo).

Contudo, é possível o negócio manter-se válido com os outros sócios, salvo se não puder

haver redução (vide art. 292.º CC).

Se estivermos perante um vício da vontade ou usura, os sócios mantêm-se responsáveis

perante terceiros, segundo dispõe o art. 47.º CSC. No caso de se tratar de um incapaz, este tem

direito a reaver tudo quando prestou e direito a não realizar o remanescente das entradas ainda

não realizadas.

7. Transmissão de Participações Sociais

As participações sociais são um conjunto de direitos e obrigações de que o sócio é titular.

A transmissão das participações sociais tanto pode ser por efeito de um acto inter vivios

como mortis causa.

7.1 Transmissão de Participações Sociais inter vivos

Esta transmissão pode suceder pois os sócios podem não querer ficar vinculados ad eterno

à sua quota.

A transmissão inter vivos obedece a um regime específico que variará consoante o tipo

de sociedade:

 Sociedades em Nome Colectivo (art. 182.º CSC)  é necessário o consentimento unânime dos

sócios, independentemente de a alienação ser a um terceiro ou a qualquer outro sócio (trata-se

de uma regra imperativa)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 Sociedades por Quotas (art. 228.º CSC)  dispensa consentimento da sociedade a

transmissão de participações sociais quando ela tem por adquirente outro sócio, cônjuge,

ascendente ou descendente do transmitente. Aqui, para além do transmitente ter que comunicar

a alienação aos demais sócios, segundo o art. 228.º, n.º 3 CSC, é necessário que ele solicite a

promoção do registo, nos termos do art. 242.º-A CSC. Mas, esta é uma regra supletiva, o que

significa que o contrato de sociedade pode aumentar ou diminuir o número de pessoas às quais a

alienação não carece de consentimento da sociedade. Deste modo, a sociedade no seu contrato

pode estipular que, independentemente da natureza do adquirente é necessário o consentimento

da sociedade (nota: vide art. 229.º CSC - o sócio pode exonerar-se caso a sociedade impeça a

transmissão; art. 230.º CSC – “pedido e prestação de consentimento”)

 Sociedades Anónimas (art. 328.º CSC)

 acções ao portador, que são aquelas nas quais não se regista o nome do proprietário na

própria acção  não é possível impor limites à transmissão, pelo que não é necessário o

consentimento da sociedade, apesar de os sócios terem que tomar conhecimento

 acções nominativas, que são aquelas onde existe o registo do titular  a regra é a da

livre transmissibilidade, mas existem limites:

- consentimento da sociedade

- direito de preferência dos sócios

- impor requisitos à transmissão

 Sociedades em Comandita (art. 469.º CSC)

Ana, Bruna, Cristina, Dália e Eva pretendem explorar, em conjunto, um restaurante.

Para o efeitos decidiram constituir uma sociedade anónima cuja firma seria “Crisdal –

restauração, SA”. Ana, Bruna, Cristina e Dália entraram com 20.000€ cada. Eva entrou

com o imóvel onde iria funcionar o restaurante, no valor de 100.000€.

Ideias a reter:

 estamos perante uma SA

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 esta SA é constituída por 5 sócios

 Ana, Bruna, Cristina e Dália entraram com dinheiro (20.000€ cada), já Eva fez uma

entrada em espécie (entrou com um bem imóvel)

 Não poderia ser Eva a avaliar o bom com que entrou mas sim o Revisor Oficial de Contas

(ROC) (art. 28.º CSC) porque ela não é sócia de uma Sociedade em Nome Colectivo

 Quais os processos de constituição possíveis? Não são possíveis o SA Europeias, apelo à

subscrição pública (vistos não estarmos perante SA abertas), empresa na hora (porque não

admite entradas em espécie), empresa on-line (porque não admite entradas em espécie

quando o bem é imóvel) e o processo inovador (uma vez que o registo prévio não admite

entradas em espécie). Assim, só seria possível o método tradicional, porém não se bastando

com o reconhecimento presencial - é necessária escritura pública porque, in casu, está em

causa um imóvel, que exige aquela forma

Suponha que:

1. A escritura pública da “Crisdal – restauração, SA” foi outorgada a 2 de Janeiro de 2008

e, em data anterior, Eva, com o consentimento de Ana e Bruna, tinha celebrado com Filipe

um contrato nos termos do qual assumiu, em nome da sociedade, uma dívida no valor global

de 50.000€. Eva comunicou a Filipe que o contrato de sociedade ainda não fora celebrado,

mas estava na iminência de o ser.

1.1 No dia 1 de Janeiro de 2008, data de vencimento da dívida supra referida, Filipe

solicita o pagamento a Eva que se recusa a fazê-lo. Quem e em que termos pode Filipe

responsabilizar pelo pagamento da dívida?

Uma vez que a dívida foi contraída e exigida antes da celebração do acto constituinte

somos remetidos para a aplicação do art. 36.º CSC.

Porque Eva informou Filipe que ainda não havia contrato de sociedade, não se pretendeu dar

falsa aparência sobre a existência de uma sociedade comercial. Por este facto temos de aplicar o

n.º 2 do art. 36.º CSC. Nos termos deste artigo somos remetidos para o regime das sociedades

civis (art. 983.º CC), o que implica que todos os sujeitos “futuros sócios” intervenientes nesta

situação serão responsáveis de forma ilimitada e solidária mesmo que não tenham consentido

aquele negócio em particular. Esta é a única forma de proteger terceiros, uma vez que ainda não

existe contrato da sociedade.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

1.2 E se a dívida em causa fosse contraída no dia 3 de Janeiro e exigida antes de

celebrado o registo da sociedade daria a mesma resposta sabendo, além do mais, que Dália

tem 15 anos e Cristina foi coagida a celebrar o contrato de sociedade?

Tendo sido a dívida contraída e exigida depois da celebração do contrato e antes do registo

do mesmo devemos aplicar o art. 40.º CSC porque se trata da relação com terceiros e porque

estamos no âmbito de uma sociedade anónima. De acordo com este artigo respondem, de forma

solidária e ilimitada, perante Filipe as sócias Eva porque agiu e Ana e Bruna porque consentiram.

Dália e Cristina porque não consentiram a realização do negócio com Filipe apenas serão

responsáveis até 20.000€, uma vez que a sua entrada corresponde a este valor.

No entanto, verificamos que as declarações negociais tanto de Dália como de Cristina estão

viciadas (apresentam vícios). Dália por ser menor apresenta um vício decorrente da incapacidade

e Cristina porque foi coagida apresenta uma declaração negocial com o vício de vontade. Desta

forma, somos remetidos para a aplicação do art. 41.º CSC que se pronuncia quanto aos vícios que

afectam as declarações negociais do contrato da sociedade antes deste ser submetido ao

respectivo registo.

De acordo com o n.º 2 do artigo 41.º CSC verificamos que o vício que afecta a declaração

negocial de Dália é oponível tanto a terceiros como aos sócios e, por sua vez, aquele que afecta a

declaração negocial de Catarina é meramente oponível aos restantes sócios.

Significa isto que Dália não tem de responder perante Filipe (oponibilidade a terceiros) e

tem direito a reaver tudo quanto prestou (oponibilidade perante os sócios). Já Catarina continua

responsável perante Filipe, nos termos do art. 40.º CSC, isto é, até 20.000€.

Na eventualidade de se verificar o efectivo pagamento perante Filipe, tem Catarina direito

de regresso na totalidade do valor prestado perante os restantes sócios, menos perante Dália

(que é menor). Catarina tem também direito a reaver tudo quanto prestou à sociedade porque o

vício da sua declaração negocial é oponível aos sócios.

1.3 Tendo em conta os elementos referidos em 1.2, refira quem seria

responsabilizado caso a dívida apenas fosse exigida em momento posterior ao da celebração

do registo do contrato de sociedade.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Para que esta dívida fosse assumida automaticamente por mero efeito do registo era

necessário que decorresse uma das quatro hipóteses apresentadas no n.º 1 do art. 19.º CSC.

No caso em concreto, não poderia decorrer da hipótese apresentada na alínea c) do artigo

19.º porque o negócio em causa foi celebrado depois de constituído o contrato de sociedade e

esta alínea refere-se aos negócios celebrados no momento anterior a este.

Na eventualidade de não podermos aplicar nenhuma das alíneas referidas, sempre poderia a

sociedade assumir a dívida através da aplicação do n.º 2 do mesmo artigo, isto é, mediante a

decisão da Administração e comunicado à contraparte, no prazo de 90 dias, a contar da data do

registo (nota: A decisão da Administração não poderia ocorrer depois desta data porque não

seria eficaz).

2. Ainda antes do registo do contrato, Ana e Bruna pretendem alterar a cláusula quinta do

contrato de sociedade. Ana, Bruna, Cristina e Dália concordam com tal alteração, mas Eva

discorda. Sabendo que para a tomada de tal deliberação a lei exige uma maioria de dois

terços dos votos emitidos, quid iuris?

Estamos perante uma situação no âmbito das relações entre sócios, no momento posterior

ao da celebração do contrato e anterior ao da celebração do registo. Devemos, por isso, aplicar o

art. 37.º CSc. Decorre do n.º 1 deste artigo que, no momento anterior referido, as relações entre

os sócios são regidas pelas regras/cláusulas contratuais, bem como pelos preceitos legais

estatuídos no CSC aplicáveis aquele tipo de sociedade.

Porém, o n.º 2 apresenta duas ressalvas: uma respeitante à alteração do contrato da

sociedade e outra referente à transmissão das participações sociais. Nestas duas situações não

devemos aplicar as regras decorrentes das cláusulas contratuais nem as aplicáveis a este tipo de

sociedade, exigindo-se, para qualquer uma delas, consentimento unânime dos sócios.

Em conclusão, não é possível alterar a cláusula quinta do contrato da sociedade porque esta

alteração não obteve acordo unânime dos sócios.

3. Efectuado o registo do contrato de sociedade, Ana transmitiu a participação social à sua

irmã. Porém, a “Crisdal – restauração, SA” entende que a referida transmissão não tem

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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qualquer eficácia uma vez que não foi efectuada com o prévio consentimento da sociedade.

Quid iuris, sabendo que o contrato de sociedade não se pronuncia sobre esta questão?

Neste caso em concreto, uma vez que nada foi estabelecido no contrato, aplicamos a regra

geral de livre transmissibilidade, ou seja, não é exigido o consentimento da sociedade, bastando a

comunicação da transmissão.

De qualquer forma, se as acções fossem ao portador, não haveria possibilidade legal de

impor limites à transmissibilidade. Sendo nominativas as acções, os limites não podem exceder o

estipulado no art. 328.º, n.º 2 CSC (328.º porque se trata de uma SA).

8. Estrutura Organizatória

As Sociedades Comerciais actuam através de órgãos, que não mais são do que centros

institucionalizados de poderes funcionais a exercer por pessoas com o objectivo de formar e/ou

exprimir a vontade juridicamente imputável às sociedades.

Quais são, então, os órgãos de uma sociedade?

 órgão deliberativo

 órgão de representação (executivo)

 órgão de fiscalização

 secretário  apenas existe para as SA cotadas em bolsa

Sociedades em Nome Colectivo

Tem apenas órgão deliberativo e órgão de representação.

 Órgão Deliberativo (arts. 189.º e 190º CSC)

Este órgão também pode ser designado por Assembleia de Sócios e Colectividade de Sócios

e tem por função tomar as decisões de fundo, aprovar relatórios de contas, etc.

Quem pertence à Assembleia de Sócios são, logicamente, os sócios, sendo que cada um tem

direito a um voto, nos termos do art. 190.º CSC.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Diz-nos o art. 189.º, n.º 4 CSC que o sócio só pode ser representado pelo cônjuge,

ascendente, descendente ou outro sócio  trata-se de uma cláusula absolutamente imperativa

pois não se permite ampliar ou restringir o número de pessoas que podem, efectivamente,

representar um sócio.

 Órgão de Representação

Este órgão é comummente designado de gerência e tem como missão executar as

deliberações dos sócios.

Quem é gerente? A regra (supletiva) é a de que são todos os sócios, independentemente de

serem ou não fundadores, salvo se se previr o contrário no contrato de sociedade, segundo o

previsto no art. 191.º, n.º 1 CSC. Contudo, até mesmo um estranho à sociedade pode ser gerente

(é a excepção), mas aí é necessária uma decisão unânime de todos os sócios, nos termos do art.

191.º, n.º 2 CSC.

Vide o art. 192.º CSC no que concerne às competências dos gerentes.

Sociedades por Quotas

Tem o órgão deliberativo (Colectividade de Sócios), o órgão de representação (Gerência) e,

facultativamente, o órgão de fiscalização.

 Órgão Deliberativo (arts. 246.º CSC)

O n.º 1 do predito artigo dá-nos uma competência imperativa que fica sob alçada da

deliberação dos sócios, ou seja, refere-se a competências que são obrigatoriamente submetidas

às deliberações dos sócios.

Já o n.º 2 do mesmo preceito fala-nos das competências supletivas.

Exemplos: - o art. 246.º, n.º 1/h CSC respeita à alteração do contrato de sociedade. Por se

tratar de uma competência imperativa, se houver alguma cláusula que diga que essa

competência não é dos sócios, a cláusula será considerada nula e, consequentemente, o

contrato será reduzido

- o art. 246.º, n.º 2/a CSC refere-se à designação dos gerentes, tratando-se de uma

competência facultativa  se nada for dito no contrato serão os sócios a deliberar. Mas,

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

no caso do contrato de sociedade estabelecer que as deliberações nesse domínio ficam a

cargo da gerência, então, deixarão os sócios de ter competência para deliberar, passando a

ser competência efectiva da gerência. Ora, isto significa que o contrato de sociedade

derroga o disposto no art. 246.º, n.º 2 CSC

Segundo o art. 249.º CSC, a representação apenas existe na Assembleia, não podendo

haver representação nas deliberações tomadas por escrito.

De acordo com o n.º 5 do preceito supra, o sócio pode ser representado pelo cônjuge,

ascendente, descendente ou outro sócio, salvo se o contrato de sociedade permitir outros

representantes. Assim, conclui-se que o contrato de sociedade pode ampliar o leque de pessoas

que podem surgir em representação de um sócio mas já não é possível que o restrinja. Trata-se,

portanto, de uma cláusula relativamente imperativa, que permite o mais (a cláusula será válida)

mas não permite o menos (a cláusula será nula).

Quanto aos votos, um voto corresponde a 0.01€, nos termos do disposto no art. 250.º CSC

(vide também o art. 251.º que nos fala do impedimento do voto).

Ex. A  25% Em Assembleia Geral, D não compareceu, A votou Sim, B votou Não e C

B  25% absteve-se. Ora, isto significa que houve 50% do Capital Social a votar

C  25% foram A e B, mas que representam 100% dos votos emitidos.

D  25%

 Órgão de Representação (art. 252.º CSC)

 art. 257.º CSC  destituição de gerentes

 art. 258.º  renúncia de gerentes (atender sobretudo no seu n.º 2)

 Órgão de Fiscalização (arts. 413.º e ss CSC)

Este órgão será um Conselho Fiscal, órgão este que, no âmbito das Sociedades por Quotas,

é meramente facultativo.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Se a sociedade não determinar a existência de um Conselho Fiscal pode ser obrigada a

designar o ROC quando se verifique, durante dois anos consecutivos, dois dos três limites

referidos no n.º 2 do art. 262.º CSC.

Sociedades Anónimas

 Órgão Deliberativo

No concernente à representação há que atentar no art. 380.º CSC.

A regra é a de que um voto corresponde a uma acção, nos termos do que dispõe o art. 384.º

CSC. Mas, esta regra, devido à sua natureza supletiva, pode ser afastada, havendo, porém, um

limite: a cada 1.000€ de capital tem que corresponder pelo menos um voto, segundo o estatuído

no art. 384.º, n.º 2/a CSC.

Quanto ao quórum há que atender ao art. 383.º CSC e no concernente às maiorias há que

ver o art. 386.º CSC.

Na Administração das SA podemos ter três modalidades, nos termos do art. 278.º CSC:

 Conselho de Administração (arts. 390.º e ss CSC) e Conselho Fiscal (arts. 413.º e ss

CSC)  isto é o geral mas pode ser necessário designar o ROC (arts. 278.º, n.º 3 e 413.º,

n.º 1/b e n.º 2 CSC): no lugar de ter o Conselho de Administração é possível substituí-o por

um Administrador único (art. 390.º, n.º 2 CSC)

 Conselho de Administração, que compreende uma Comissão de Auditoria (arts. 423.º e

ss CSC) e o ROC

 Conselho de Administração Executivo (art. 424.º CSC), Conselho Geral e de Supervisão

(art. 484.º CSC) e ROC

A qualquer uma destas modalidades pode acrescer o secretário (art. 446.º-A CSC).

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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9. Deliberações dos Sócios

O art. 53.º CSC consagra o numerus clausus, o Princípio da Taxatividade das formas de

deliberação dos sócios.

Os sócios podem deliberar através de:

 Deliberação por voto escrito  são apenas admitidas para as Sociedades por Quotas (art.

247.º CSC) e para as Sociedades em Nome Colectivo (art. 247.º CSC por remissão do art. 189.º

do mesmo diploma)

 Assembleia Geral (convocada)  é admitida para as SNS, SA e SQ (art. 54.º CSC)

É precedida de um acto convocatório.

 Assembleia Universal  é admitida para as SNS, SA e SQ (art. 54.º CSC)

Não há convocatória ou a mesma foi feita de uma forma que a lei a considera inexistente,

segundo o consagrado no art. 56.º, n.º 2 CSC.

Mas, para que se possa tomar uma decisão válida é necessário que se verifiquem três

requisitos cumulativos:

 presença de todos os sócios

 assentimento unânime em constituírem uma Assembleia

 consentimento unânime para deliberarem sobre determinado assunto (ex. os assuntos

A, B, e C. Os sócios consentem na deliberação dos assuntos A e B, mas não do C, o que

acontece? A Assembleia é válida e se se deliberar sobre o assunto C sem consentimento

unânime dos sócios, essa deliberação será anulável, pois relativamente a este assunto este

último requisito não se verifica)

 Deliberação unânime por escrito  é admitida para as SNS, SA e SQ (art. 54.º CSC)

Não há qualquer reunião.

Um elemento prévio é que todos consintam na dispensa da Assembleia, isto é, em deliberar

por escrito.

Aqui todos têm que votar, fazendo-o por escrito, não sendo permitida representação.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Deliberação por voto escrito  é admitida para as SQ (art. 247.º CSC) e SNC (art. 247.º

CSC por remissão do art. 189.º do mesmo diploma)

Aqui temos vários passos a seguir:

(1) o contrato de sociedade pode afastar esta deliberação, sendo que no silêncio do

contrato esta deliberação é admitida. Contudo, pode ocorrer que a lei exija que determinada

deliberação deva ser tomada em Assembleia Geral, o que afastaria esta forma de deliberação.

Deste modo, para que seja possível a deliberação por voto escrito é necessário silêncio do

contrato e que a lei não imponha a sua deliberação em Assembleia Geral.

(2) posteriormente, não havendo qualquer impedimento, o gerente, através de carta

registada, consulta os sócios sobre a proposta a deliberar. Esta consulta também tem que referir

que o silêncio no prazo de 15 dias corridos após a expedição da carta equivale a consentimento da

dispensa da Assembleia

(3) se os sócios não dispensarem a Assembleia, não se pode deliberar por voto escrito. No

caso de todos dispensarem a Assembleia ou não responderem, a deliberação processar-se-á deste

modo e o gerente envia novamente uma carta registada aos sócios com a proposta em concreto, os

elementos necessários à formação do voto e com a informação do prazo para votar, que não

poderá ser inferior a 10 dias

(4) finalmente, os sócios votam e o gerente conta os votos e aprova ou não a deliberação

consoante a maioria legal ou contratualmente exigida (mas esta deliberação não tem que ir toda

no mesmo sentido!)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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9.1 Vícios das Deliberações

Ineficácia em Sentido Amplo

Ineficácia Invalidade:

em Sentido Estrito  nulidade (arts. 56.º e 57.º

(art. 55.º CSC) CSC)

 anulabilidade (arts. 58.º e

59.º)

9.1.1 Ineficácia em sentido Estrito

Alguns sócios podem ter direitos especiais, nos termos do art. 24.º CSC. Exemplos:

 direito especial à gerência (art. 257.º, n.º 3 CSC)

 voto duplo (art. 250.º, n.º 2 CSC) nas Sociedades por Quotas

 direito de veto nas alterações (art. 265.º CSC)

Estes direitos são atribuídos aos sócios por contrato da sociedade. Porém, para tal ser

possível, tem que haver consentimento de todos os sócios, segundo o consignado no art. 24.º, n.º 5

CSC. No caso de não haver consentimento, a deliberação do direito especial é ineficaz em sentido

estrito, o que decorre da lei.

9.1.2 Invalidade

As deliberações podem padecer de vícios:

 de procedimento

 de conteúdo

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 Vícios de Procedimento

Ocorrem em todo o caminho que se percorre até formarmos a deliberação. Pode assim ter

lugar na votação, na convocação, na contagem dos votos, na Assembleia, etc.

O vício do procedimento ocorre durante os espaços obrigatórios para tomarmos a

deliberação.

Sanções:

 regra: anulabilidade

 excepção nulidade, nos casos do art. 56.º, n.º 1/a/b

 Vícios de Conteúdo

Aquilo que se deliberou. É a própria proposta que padece do vício.

Sanções:

 nulidade  no caso de haver violação de uma norma imperativa

 anulabilidade  no caso de haver violação de uma norma supletiva ou de uma norma do

contrato

Ex. no contrato de sociedade consta a seguinte cláusula (imperativa): “O sócio pode ser

representado pelo cônjuge, ascendente, descendente ou outro sócio, bem como por advogado ou

solicitador”.

Ocorre que os sócios querem: “O sócio só pode ser representado em Assembleia Geral por

um advogado”. A esta proposta todos os sócios consentem. Contudo, esta cláusula é nula uma vez

que sofre de um vício de conteúdo pois não se pode deliberar sobre normas legalmente

imperativas.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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9.1.2.1 Nulidade

Art. 56.º, n.º 1 CSC

a) a Assembleia Geral não convocada gera a nulidade (por vício de procedimento), e a

Assembleia tem-se por não convocada quando efectivamente não há convocatória. Porém, o n.º 2

do preceito supra considera inexistente a convocatória:

 assinada por quem não tenha competência (ex. numa Sociedade por Quotas tem

que ser o gerente a assinar)

 que não menciona a data, hora e local da Assembleia Geral

 que, não obstante mencionar a data, hora e local da Assembleia Geral, a reunião

tenha decorrido em data, hora ou local diverso

Salvo se estiverem presentes todos os sócios.

A presença dos sócios vem sanar a nulidade!

Ora, na Assembleia Universal precisa-se:

 presença de todos os sócios  a sua falta implica a nulidade, nos termos do art. 56.º, n.º 1/a

 consentimento unânime em constituírem Assembleia

 e, consentimento unânime em deliberaram sobre determinado assunto

Se uma destas duas exigências for violada, gera-se a anulabilidade

uma vez que a sua violação, contrariamente ao que sucede com o primeiro

requisito, não está consagrada no art. 56.º, n.º 1/a que acarreta consigo a

nulidade da deliberação.

b) é, igualmente, um vício de procedimento e refere-se unicamente às deliberações por

voto escrito, estas que apenas podem ser tomadas nas Sociedades por Quotas e nas Sociedades

Anónimas

Que procedimento têm que seguir as deliberações por voto escrito (art. 247.º CSC)?

 consulta aos sócios para saber se estes aceitam ou não deliberar por escrito

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 se todos dispensarem a Assembleia há um convite aos sócios para votarem

 contagem dos votos

 acta

Ora, esta alínea b) do art. 56.º, n.º 1 CSC, vem exigir que o convite a votar seja feito a

todos os sócios, caso contrário acarreta a nulidade, salvo se todos os sócios tiverem dado por

escrito o seu voto.

Não obstante os sócios terem estado ausentes ou não representados ou não terem

participado na deliberação, a deliberação é sanável (não será nula) se eles tiverem dado o seu

consentimento por escrito (art. 56.º, n.º 3).

Já a consulta aos sócios (momento 1), a contagem dos votos (momento 3) e a acta (momento

4), se faltarem, geram a anulabilidade e não a nulidade uma vez que não estão previstos no art.

56.º, n.º 1/b CSC. O mesmo sucede se no lugar do gerente enviar o convite por carta simples o

fizer por carta registada, isto é, leva também à anulabilidade da deliberação.

c) trata-se de um vício de conteúdo

Ex. - se no contrato de uma Sociedade por Quotas houver uma cláusula que diga “A

designação de gerentes compete à gerência”, esta cláusula é válida pelo art. 246.º, n.º

2. Mas se se disser na ordem de trabalhos que se vai deliberar sobre “Designa-se

para gerente X”, tal deliberação será nula por força do disposto no art. 56.º, n.º 1/c.

- um outro exemplo é deliberar sobre assuntos que não constem no art. 376.º

(SA)

d) é um vício de conteúdo e vem-nos dizer que o conteúdo da deliberação é nulo quando a

proposta ofenda os bens costumes ou viola preceitos imperativos.

O que fazer quando a deliberação é nula?

Acção de declaração de nulidade, nos termos do art. 57.º CSC.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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O órgão de fiscalização tem a obrigação de, em Assembleia Geral, dar a conhecer aos

sócios a existência de uma deliberação nula. Quando não houver órgão de fiscalização, essa

obrigação recai sobre o gerente, segundo o previsto no art. 57.º, n.º 4 CSC.

Os sócios, perante este conhecimento, podem:

 promover a acção em tribunal (acção de declaração de nulidade)  a acção tem que ser

intentada contra a sociedade

 renovar a deliberação (art. 62.º CSC)  apenas podem ser renovadas as deliberações

das alíneas a) e b) do art. 56.º, n.º 1 CSC. Renovar a deliberação não é mais do que

aproveitar o seu conteúdo, sanando-se, assim, o vício de procedimento. Não se podem

renovar as deliberações que sofram de vício de conteúdo pois estar-se-ia a sanar algo que é

ilegal

 não fazer nada  se os sócios nada fizerem, o órgão de fiscalização tem o dever de ser

ele a promover a acção se, no prazo de 2 meses, os sócios não renovarem a deliberação ou

não promoverem a acção, nos termos do disposto no art. 57.º, n.º 2 CSC

9.1.2.2 Anulabilidade

Art. 58.º, n.º 1 CSC

a) é uma norma residual

b) deliberações abusivas  as que beneficiam um ou mais sócios em detrimento da

sociedade

c) falta de fornecimento aos sócios dos elementos mínimos de informação

Nota: vide o art. 58.º, n.º 2 CSC

O que fazer quando a deliberação é anulável?

Acção de anulação, segundo o estatuído no art. 59.º CSC.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Quem tem competência para arguir a anulabilidade?

 órgão de fiscalização (não tem a obrigação de, mas um simples poder)

 qualquer sócio desde que o sócio que a está a arguir não tenha votado no sentido em que

a deliberação fez vencimento e desde que não tenha dado o seu consentimento posterior de

forma expressa ou tácita

Prazo para arguir a anulabilidade

Apesar de o regime geral estabelecer como prazo 1 ano, a regra é a de que o prazo, neste

domínio, seja de 30 dias, cuja contagem se deverá iniciar a partir da data em que foi encerrada a

Assembleia (art. 59.º, n.º 2/a CSC).

Nos termos do art. 59.º, n.º 2/c CSC, quando a deliberação que sofre de um vício incide

sobre um assunto que não constava na ordem de trabalhos, o prazo de 30 dias começa a contar-se

a partir da data em que o sócio teve conhecimento dessa deliberação.

A alínea b) do art. 59.º, n.º 2 apenas é utilizada quando há deliberação por voto escrito.

Aqui, tem-se 30 dias para arguir a anulabilidade, que se contam a partir do terceiro dia da data

de expedição da acta.

10. Convocatória (art. 248.º CSC)

Sociedades por Quotas

O art. 248.º CSC remete para as Sociedades Anónimas (ex. art. 377.º, n.º 5 CSC).

Competência: gerente (art. 248.º, n.º 3 CSC)

Forma: carta registada

Esta forma é obrigatória ser observada, porém pode acrescer-lhe outras formalidades

desde que estejam expressas no contrato, e aí já serão uma exigência, pelo que, por exemplo, se à

carta registada no contrato de sociedade se exigir também o aviso de recepção, e esta exigência

não for respeitada, gera-se a anulabilidade

Prazo: 15 dias antes da data de realização da Assembleia

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Ora, relativamente a este prazo há uma imperatividade relativa uma vez que é permitido o

mais mas não o menos, ou seja, é permitida uma dilação do prazo mas não uma diminuição.

Sociedades Anónimas

Competência: Presidente da Mesa (art. 377.º, n.º 1 CSC)

Forma: publicação (na Internet é obrigatória) (art. 377.º, n.º 2 CSC)

Mas, o art. 377.º, n.º 3 CSC diz-nos que poderão acrescer outras formalidades:

 o contrato pode estabelecer formas diferentes de publicação (art. 377.º, n.º 3, 1.ª

parte CSC)

 substituir a publicação:

- se todas as acções forem nominativas

- por carta registada (entre a data da expedição e a data da Assembleia têm que

decorrer 21 dias, que na realidade são 23 pois não se conta o dia da expedição nem o

dia da realização da Assembleia)

 e/ou por correio electrónico com aviso de leitura8, sendo necessário o consentimento

dos sócios (art. 377.º, n.º 3, 2.ª parte)

“Entre a última divulgação e a data da reunião da Assembleia deve mediar, pelo menos, um

mês…”, nos termos do art. 377.º, n.º 4 CSC  o prazo conta-se a partir da recepção do último

recibo enviado pelo sócio.

Elementos que a convocatória deve ter em conta: art. 377.º, n.º 5 CSC

Voto por Correspondência: art. 377.º, n.º 5/f e 384.º, n.º 9 CSC

 os sócios não estão presentes nem representados mas querem votar à distância através

de: correspondência postal ou correspondência electrónica

 depois de encerrada a Assembleia

8
Num caso prático, aquando da análise de um contrato de sociedade, é importante ver em que data foi recepcionado o
recibo de leitura

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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- dá-se mais 5 dias para a emissão de votos (art. 384.º, n.º 9/b CSC)

- ou determina-se que os votos assim emitidos valham como votos negativos (art.

384.º, n.º 9/a CSC)

Local onde são efectuadas as Assembleias: art. 377.º, n.º 6 CSC

 na sede

 noutro local

 através de meios telemáticos (Internet, vídeo-conferência, etc.)

11. Quórum e Maioria

 Na Primeira Convocação

Regra:

Quórum  art. 383.º, n.º 1 CSC

Não é preciso quórum (“qualquer que seja o seu número”).

A Assembleia vai deliberar independentemente do capital presente ou representado.

Maioria  art. 386.º, n.º 1 CSC

Por maioria simples dos votos emitidos.

Excepção:

Quórum  art. 383.º, n.º 2 CSC

É preciso quórum quando em causa estão deliberações sobre:

 alteração do contrato

 transformação da sociedade

 dissolução

 fusão ou cisão

 outros assuntos para os quais a lei exige maioria qualificada

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Existe quórum quando estão presentes ou representados sócios que tenham capital igual ou

superior a 1/3 do capital social.

Neste caso, a maioria exigida é de, pelo menos, 2/3 dos votos emitidos, nos termos do art.

386.º, n.º 3 CSC.

 Na Segunda Convocação (art. 383.º, n.º 3 CSC)

Quórum: não há

Maioria: aprovação com 2/3 dos votos emitidos

 Excepções:

 art. 386.º, n.º 4 CSC  sócios que detenham, pelo menos, ½ do capital social: no

lugar de se exigir 2/3 é suficiente maioria simples

Nos termos do art. 383.º, n.º 4 CSC, entre a primeira e a segunda convocatória têm que

decorrer mais de 15 dias.

A, B, C, D e E são sócios, em partes iguais, da sociedade “LeiriConstrói, construção

civil, Lda.”. Os sócios A e B são os gerentes da referida sociedade.

Em 15 de Novembro de 2002, o sócio E colocou um comunicado na porta da sede da

dita sociedade com o seguinte teor:

“Caros sócios,
Sou a informar V. Ex.as, que irá decorrer no próximo dia 18 de Novembro de 2002,
pelas 19 horas, uma Assembleia Geral.
Agradeço a presença de todos os sócios.

Com os melhores cumprimentos,


O sócio A”

No dia 18 de Novembro os sócios B e C não compareceram à referida reunião.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Os sócios A e D votaram a favor da proposta em causa e o sócio E votou contra. O

sócio B deu, posteriormente, o seu consentimento à aprovação da deliberação.

Sabendo que a proposta em causa visava inserir no contrato social a seguinte cláusula

“A convocação das Assembleias Gerais compete a qualquer sócio”, diga se a deliberação em

análise padece de algum vício?

Sociedades por Quotas

A e D – Sim

E – Não

B – deu consentimento posteriormente.

A – 20% do Capital Social – Gerente

B - 20% do Capital Social – Gerente

C - 20% do Capital Social

D - 20% do Capital Social

E - 20% do Capital Social

Estamos perante o tema do acto deliberativo, nomeadamente nas deliberações dos sócios.

As deliberações dos sócios têm que respeitar o Principio da Taxatividade consagrado no art. 53.º

do CSC. De acordo com este princípio os sócios têm quatro formas de deliberar: Assembleia

Geral Convocada (art. 54. CSCº), Assembleia Universal (art. 54.º CSC), Deliberação por Voto

Escrito (art. 247.º CSC) e por fim Deliberação Unânime por Voto Escrito (art. 54.º CSC).

De acordo com os dados fornecidos, os sócios tinham a intenção de deliberar em

Assembleia Geral Convocada. Os requisitos desta assembleia encontram-se no art. 248.º, n.º 3

CSC. Tendo em conta que a Assembleia Geral Convocada é precedida de um acto convocatório

temos que ver então se respeita os requisitos deste acto. Este artigo diz-nos de imediato que a

convocatória tem que ser feita por carta registada, com 15 dias de antecedência e feita por um

gerente. A tem legitimidade pois é gerente, ou seja a convocatória foi feita e assinada por quem

de direito. No entanto esta convocatória não respeita os requisitos necessários para a forma e o

prazo. Quanto à forma, não foi feita por carta registada, foi apenas fixada na porta, e quanto ao

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

prazo não respeita o prazo de 15 dias fixado na lei. Consequentemente estamos perante um vício

de procedimento.

Esta deliberação está ferida por um vício de procedimento pois ainda estamos na

convocatória. Os vícios de procedimento podem ter duas consequências, tendo por regra a

anulabilidade como principal consequência, e como excepção a nulidade prevista no art. 56.º, n.º

1/a/b CSC. Desde já podemos excluir a alínea b) pois apenas se aplica nas deliberações por voto

escrito. A alínea a) refere que são nulas as deliberações não convocadas, o que remete para o

artigo 56.º, n.º 2 CSC. Para já pode dizer-se que este vício de procedimento conduz à

anulabilidade. Mas existem outros vícios, ou seja na convocatória não é indicado o local. Assim

teremos que observar o artigo 377.º, n.º 5 CSC por remissão do artigo 248.º, n.º 1 CSC. Não

constando o local temos um novo vício de procedimento, de acordo com os arts. 56.º, n.º 1/a e

56.º, n.º 2 CSC. Assim, estamos perante um vício de procedimento que conduz à nulidade, tendo

assim de ser aplicado o artigo 57.º CSC. Temos em seguida de verificar se pode haver renovação

da deliberação que é possível quando em causa estão vícios de procedimento (vide art. 62.º CSC

para a renovação e art. 57.º, n.º 1 CSC para admissibilidade de renovação).

Se B e C não compareceram não houve Assembleia Universal, logo não podem ser sanados os

vícios.

Quanto à questão das maiorias, em causa estava a alteração do contrato de sociedade e

sabemos que a regra é a maioria, no entanto o art. 265.º CSC diz-nos que as alterações no

contrato de sociedade só podem ser feitas mediante 75% do Capital Social, o que significa que

tínhamos que ter quatro sócios a votar. Assim não existe maioria suficiente, pelo que nos

deparamos com um vício de procedimento que conduz à anulabilidade.

Quanto à análise do conteúdo, a proposta em causa consistia que as Assembleias Gerais

poderiam passar a ser convocadas por qualquer sócio. Existirá algum vício? Sim, esta formulação

não é possível pois vai desrespeitar a regra do art. 248.º, n.º 3 CSC que é uma regra imperativa, o

que conduz à nulidade (art. 56.º, n.º 1/d CSC). Sendo este um vício de conteúdo não pode existir

renovação (art. 62.º CSC).

Em conclusão temos:

 nulidade que advém do vício de conteúdo (art. 56.º, n.º 1/d CSC) que, como não pode ser

renovada, conduz à acção da declaração de nulidade, prevista no art. 57.º CSC (dizer quais

os passos)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 nulidade pelo vício de procedimento (arts. 56.º, n. os 1/a e 2 CSC), que podia ser

renovada

 anulabilidade por vícios de procedimento: pela falta de forma e prazo e pela maioria.

Quem pode arguir a anulabilidade é E e C, como promana o art. 59.º CSC (dizer todos os

requisitos), nomeadamente o art. 59.º, n.os 1 e 2/a CSC.

Afira a validade e eficácia dos seguintes actos e consequente deliberação:

Catarina Crespo convocou mediante carta registada com a antecedência mínima de 21

dias (visto que todas as acções são nominativas), uma Assembleia Geral da “Soaroma” com

vista à alteração do tipo de sociedade para uma sociedade por quotas.

Sabendo que:

 compareceram na referida reunião os sócios António Antunes e Catarina Crespo

 a sócia Fernanda Felgueiras foi representada pelo sócio António Antunes a quem se

agrupou na expectativa de ambos poderem votar

 os restantes sócios não compareceram

 deliberaram em primeira convocação

 Catarina Crespo votou a favor da alteração, ao contrário de António Antunes e

Fernanda Felgueiras que votaram contra

 Catarina Crespo não obstante o estipulado no contrato social contabilizou os votos de

António Antunes e Fernanda Felgueiras

Contrato de Sociedade

A 1 de Fevereiro de 2005, compareceram:

 António Antunes, solteiro, maior, natural da freguesia de Leiria, Concelho de Leiria,

residente na rua das flores n.º 1, Leiria, portador do Bilhete de Identidade n.º 1234567,

emitido em 5/1/2005 pelo Arquivo de Identificação de Leiria e contribuinte n.º

456.456.456

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Beatriz Bernardes, solteira, menor, natural da freguesia de Leiria, Concelho de Leiria,

residente na rua 1.º de Maio n.º 11, Leiria, portadora do Bilhete de Identidade n.º 5435348,

emitido em 3/7/2002 pelo Arquivo de Identificação de Leiria, contribuinte n.º 123.123.123

 Catarina Crespo, casada com Vasco Vitorino no regime da comunhão de adquiridos,

natural da freguesia de Leiria, Concelho de Leiria, residente na rua Almirante Reis, n.º 211,

Leiria, portadora do Bilhete de Identidade n.º 2344568, emitido em 5/5/2003 pelo

Arquivo de Identificação de Leiria, contribuinte n.º 167.677.767

 Daniel Duarte, solteiro, maior, natural da freguesia de Leiria, Concelho de Leiria,

residente na Av. Marquês de Pombal n.º 2, Leiria, portador do Bilhete de Identidade n.º

6353849, emitido em 12/5/2000 pelo Arquivo de Identificação de Leiria, contribuinte n.º

654.876.098

 Eva Edmundo, casada no regime da separação de bens, natural da freguesia de Leiria,

Concelho de Leiria, residente na Av. N. Sr.ª. de Fátima, n.º 33, Leiria, portadora do Bilhete

de Identidade n.º 67893456 emitido em 23/7/2001 pelo Arquivo de Identificação de

Leiria, contribuinte n.º 324.245.453

 Fernanda Felgueiras, divorciada, natural da freguesia de Leiria, Concelho de Leiria,

residente na Av. N. Sr. de Fátima, n.º 13, Leiria, portadora do Bilhete de Identidade n.º

87676456 emitido em 12/1/2001 pelo Arquivo de Identificação de Leiria, contribuinte n.º

324.767.777

Declaram que celebram por esta escritura, na qualidade em que respectivamente outorgam,

um contrato de sociedade nos termos seguintes:

Cláusula Primeira

É constituída uma sociedade anónima com a firma “Soaroma – fabrico e venda de perfumes,

SA”.

Cláusula Segunda

A sociedade tem por objecto o fabrico e a comercialização de perfumes, nos mercados

interior e exterior e, bem assim, a compra e revenda de quaisquer outros produtos permitidos

por lei.

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Direito Comercial Sumários

Cláusula Terceira

A sede fica estabelecida na Av. Marquês de Pombal, n.º 23, 1º direito, fracção “F”, Leiria,

sem prejuízo de a administração a deslocar livremente dentro do mesmo concelho.

Cláusula Quarta

O capital social é de 100.000,00 euros (cem mil euros) e divide-se em 200 acções

nominativas, do valor nominal de 500 euros, todas subscritas ao par, como segue:

 o sócio António Antunes subscreve 1 acção, totalmente realizada em dinheiro

 a sócia Beatriz Bernardes subscreve 1 acção, totalmente realizada em dinheiro

 a sócia Catarina Crespo subscreve 78 acções, totalmente realizadas em dinheiro

 o sócio Daniel Duarte subscreve 59 acções, totalmente realizadas em dinheiro

 a sócia Eva Edmundo subscreve 60 acções, totalmente realizadas em dinheiro

 a sócia Fernanda Felgueiras subscreve 1 acção, totalmente realizada em dinheiro

Cláusula Quinta

A mesa da assembleia-geral integrará um presidente e um secretário eleitos por quatro

anos de entre accionistas.

Cláusula Sexta

Ficam desde já nomeados como presidente e secretário da mesa da assembleia-geral, nos

termos da cláusula anterior, as sócias Eva Edmundo e Catarina Crespo, respectivamente.

Cláusula Sétima

As assembleias serão convocadas exclusivamente por anúncio e de forma a mediarem, pelo

menos, 40 dias entre a data designada e a última publicação.

Cláusula Oitava

A assembleia só poderá deliberar em primeira convocação com a participação de sócios que

representem 25% do capital social, ou 40% no caso de a reunião visar a alteração do contrato ou

a fusão, cisão, transformação e dissolução da sociedade.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Cláusula Nona

Será proibida a representação de accionistas.

Cláusula décima

Contar-se-á um voto por 3 acções.

Cláusula Décima Primeira

A transmissão de acções, entre vivos e mortis causa, está sujeita a consentimento do

conselho de administração.

Cláusula Décima Segunda

O conselho de administração será constituído por três membros efectivos e um suplente,

eleitos por quatros anos em assembleia-geral.

Cláusula Décima Terceira

A fiscalização da sociedade competirá a um revisor oficial de contas.

Cláusula Décima Quarta

As despesas relativas à aquisição da sede da sociedade no montante global de 25.000,00

euros serão suportadas pela sociedade.

Assim declaram e outorgam.

Foram exibidos: declaração de depósito das entradas em dinheiro e bilhetes de identidade de

todos os sócios.

Os outorgantes foram advertidos da obrigação de registo e respectivas publicações.

Sociedade Anónima

100% de acções nominativas

Pretendeu convocar uma Assembleia Geral, sendo que quem convocou foi Catarina Crespo.

Proposta: transformação de SA para SQ

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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Presentes: sócio A e C, sendo que F foi representado por A.

Capital Social = 100.000€ = 200 acções nominativas

1 acção = 500€

A  1 acção = 0,5 votos

B  1 acção = 0,5 votos

C (secretário)  78 acções = 39 votos

D  59 acções = 29, 5 votos

E (presidente)  60 acções = 30 votos

F  1 acção = 0,5 votos

No contrato: 3 acções = 1 voto, o que significava que tínhamos um voto por cada 1.500€, o que

por lei não é admissível (art. 384.º CSC)

No concernente à convocatória temos que atender no art. 377.º, n.º 1 CSC, que nos vem

dizer que é o presidente da mesa que tem que convocar e Catarina não é presidente. Logo, não

tem legitimidade, pelo que estamos perante um vício de procedimento (art. 56.º, n. os 1/a e 2 CSC).

Assim, esta deliberação é nula.

A forma de convocar é a publicação (regra), contudo a cláusula sétima vem exigir mesmo a

publicação/anúncio. Mas, esta forma não foi respeitada pois a convocatória foi levada a cabo por

carta registada, o que nos leva a concluir que estamos diante um vício de procedimento que

conduz à anulabilidade (art. 58.º CSC).

O prazo também não está correcto pois o contrato estipula o prazo de 40 dias.

Conclusões:

 a AG não foi convocada pelo presidente da mesa (art. 56.º, n. os 1/a e 2 CSC)

 a forma e o prazo têm vícios de procedimento, o que gera a anulabilidade  subsumem-

se no art. 58.º, n.º 1/a e no art. 59.º CSC

A proposta é a transformação da sociedade, pelo que se exige o quórum de 1/3 (art. 383.º,

n.º 2 CSC), mas isto legalmente. Ocorre que uma cláusula contratual vem exigir 40% de quórum e

nós vamos respeitar esta cláusula pois é válida.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Assim, em primeira deliberação, os sócios só podem deliberar se estiver lá 40% do capital

social a votar. Tendo comparecido A, C e F (este representado), temos que na Assembleia esteve

precisamente 40% do capital social presente, o que significa que eles podem deliberar em

primeira convocação.

Qual a maioria necessária? O art. 386.º, n.º 3 CSC vem-nos dizer que é necessária uma

maioria de 2/3 dos votos emitidos.

Ora, a maioria exigida era assim de 66,6%. Ocorre que se obteve 97,5% (39 x 100 / 40 –

regra de três simples), pelo que a deliberação é aprovada.

40% – 100 x = 39 x 100 = 97,5%

39% – x 40

Ainda assim, apesar de não haver vícios de conteúdo, há vícios de procedimento (os supra

mencionados).

A 1 de Junho de 2005, A, presidente da mesa da assembleia-geral da “Lisplazza –

centro comercial, SA”, dirigiu aos sócios uma carta registada com aviso de recepção com o

objectivo e os convocar para a realização de uma assembleia-geral, da referida sociedade,

a ter lugar a 21 de Junho de 2005.

O ponto único da ordem de trabalhos era a alteração de uma cláusula do contrato

social.

Tendo em conta os seguintes dados sobre a sociedade supra referida, aprecie a

validade da deliberação tomada:

 a constituída pelos sócios A, B, C, D, E e F

 os sócios A, B, C e D detêm 20% do capital social, cada um

 os sócios E e F detêm 10% do capital social, cada um

 os sócios A e B compareceram presencialmente

 os sócios D e E foram representados, o primeiro pelo seu advogado e o segundo pelo

sócio A

 o sócio F não compareceu

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 os sócios A, B, C e D votaram a favor da alteração da cláusula do contrato social

 sócio E votou contra a alteração da aludida cláusula

Sociedade Anónima

A é presidente da mesa.

A convocatória foi feita por carta registada, no dia 1 de Junho de 2005.

A AG teria lugar no dia 21 de Junho de 2005.

Ponto único: alteração de um elemento do contrato de social.

A  20%

B  20%
votaram sim
C  20%

D  20%

E  10% - votou contra

F  10% - não compareceu

Pretendeu-se deliberar por Assembleia Geral.

Pode-se dizer que não tem á partida vícios de conteúdo.

Falar de todos os elementos, forma, prazos, etc. Vide art. 377.º CSC. A forma de carta

registada é admitida por lei mas é necessária que todas as acções sejam nominativas e que esteja

presente no contrato. No entanto o presidente da mesa não respeitou o prazo pois a lei exige uma

mediação de 21 dias, logo o prazo não estava correcto, havendo vício de procedimento o que

conduz á anulabilidade (vide arts. 58.º e 59.º CSC).

Segundo o art. 383.º, n.º 2 CSC é necessário quórum. Está presente 90% do capital social,

que delibera em primeira convocação.

90% – 100 x = 80 x 100 = 88,8%

80% – x 90

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Afonso, Bernardo e Cristiano são sócios gerentes da sociedade “ABC – Construção e

manutenção de piscinas, Lda.”. A referida sociedade conta ainda com mais três sócios, a

saber, Diana, Eva e Flávia. Os três primeiros sócios (Afonso, Bernardo e Cristiano) detêm

uma quota no valor de 2.000€ cada. Diana e Eva são titulares de uma quota no valor de

1.500€ cada e, por fim, Flávia é titular de uma quota no valor de 1.000€.

Cristiano tem um direito especial à gerência, nos termos do qual apenas pode ser

destituído com justa causa. Flávia, famosa modelo portuguesa, consentiu entrar para a

sociedade em causa apenas com a condição de cada um dos seus votos equivaler a dois.

A 15 de Janeiro de 2007, Afonso convocou os restantes sócios para comparecerem na

Assembleia Geral da sociedade “ABC – Construção e manutenção de piscinas, Lda.”, a ter

lugar na sede social no dia 25 de Janeiro de 2007. A ordem de trabalhos englobava dois

pontos: 1) destituir da gerência o sócio Cristiano; 2) fazer corresponder 1 voto da sócia

Flávia a apenas 1 voto (e não a dois). Na data agendada compareceram todos os sócios, não

obstante a sócia Flávia ter referido que apenas pretendia deliberar sobre o ponto 2) da

ordem de trabalhos. Os restantes sócios assentiram em deliberar sobre ambos os pontos.

Assim procederam às votações. Ambos os pontos foram aprovados por todos os sócios

excepto por Cristiano que se absteve.

Pronuncie-se sobre o sentido das deliberações em causa bem como sobre os eventuais

vícios de que ambas podem padecer.

Pretendia-se deliberar em Assembleia Geral:

 houve legitimidade  A é gerente

 carta registada  teremos que dizer que era esta a forma a que deveria obedecer, não

obstante nada nos ser dito

 prazo: 15 dias  não está preenchido. Trata-se de um vício de procedimento, que

conduz à anulabilidade (art. 58.º, n.º 1/a e art. 247.º, n.º 3 CSC)

Não há referência à hora, logo gera-se a nulidade, por aplicação dos arts. 56.º, n.os 1/a e

2 CSC). Porém, esta nulidade é sanável com a presença de todos os sócios, tal como refere a

parte final do art. 56.º, n.º 1/a, pelo que não poderemos arguir a nulidade. Porém, ainda subsistem

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

vícios e, a única forma de os sanar é deliberar em Assembleia Universal, no lugar de ser por

Assembleia Geral.

Ponto 1 Ponto 2

 presença de todos os sócios  presença de todos os sócios

 assentimento em constituir assembleia  assentimento em constituir assembleia

 F não concorda em deliberar  concordam em deliberar

Relativamente ao ponto 2, a Assembleia Universal não padece de vícios de procedimento.

No concernente ao ponto 1, não temos Assembleia Universal uma vez que o último requisito

não está preenchido. Assim, não temos Assembleia Universal mas sim uma Assembleia Geral com

vício na convocação que, neste caso, gera a anulabilidade.

Ponto 1

Capital Social = 10.000€ = 100%

Cristiano tem 2.000€ = 20%  ele absteve-se

Temos 80% do capital social a dizer que sim

Temos 100% dos votos emitidos a dizer que sim assim, esta deliberação é válida

Consentimento de F

Ponto 2

A  20%

B  20% 70% do capital social votou sim

C  15% 100% dos votos emitidos foi no sentido do sim

E  15%

Ora, o art. 24.º CSC obriga ao consentimento de Cristiano. Como ele se absteve, esta

deliberação seria ineficaz em sentido estrito, por aplicação do art. 55.º CSC.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Quanto à destituição de C e de acordo com os arts. 24.º e 55.º CSC, porque C se absteve,

até ele dar o seu consentimento esta deliberação é ineficaz para todos. O assunto 2 é aprovado,

não padece de nenhum vicio e o facto de C se ter abstido não é relevante pois o direito especial

em causa é de F, não de C.

Capítulo VII

Títulos de Crédito

1. Letra (e Livranças)

Nota: aplica-se às livranças o mesmo regime que se aplica às letras

1.1 Noção

Quais os sujeitos e actos da letra?

Actos

 saque  é a ordem de pagamento, isto é, corresponde à emissão da própria letra. É

efectuado pelo sacador

 aceite  é dado pelo sacado e consiste na declaração da responsabilidade deste pelo

pagamento da letra na data de vencimento, ou seja, é o acto pelo qual se aceita a ordem de

pagamento

 aval  acto pelo qual alguém garante o pagamento da letra

 endosso  acto pelo qual se transmite a letra a alguém

Sujeitos

 sacador  corresponde normalmente ao credor; é a entidade que ordena o pagamento;

e, é também a entidade que emite a letra

 sacado  entidade que tem a pagar e que normalmente é o aceitante

 avalista  aquele que garante o pagamento da letra

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 tomador  pode ser o sacador ou um terceiro

 endossante  aquele que transmite a letra

 endossado  o que recebe a letra

 portador  último possuidor da letra

Ora, tendo em conta estes dados, o que se poderá entender por letra?

Letra é o título pelo qual uma entidade (o sacador) ordena a outrem (sacado), o

pagamento de uma certa importância (valor nominal da letra), a si ou a outra entidade (tomador),

numa determinada data (vencimento)

Exemplo:

A (devedor) celebrou com B (credor) um contrato de compra e venda de um carro, no valor

de 10.000€.  trata-se da relação jurídica subjacente

Porém, no âmbito da letra, surge-nos uma outra relação jurídica: aquela em que B emite a

ordem de pagamento a A.

Supondo que A aceita a ordem de pagamento a favor de C, que este a endossa a D, este por

sua vez endossa-a a E, este que é o portador da letra.

Quem são os sujeitos?

 B é o sacador

 A é o sacado

 C é o tomador e endossante

 D é endossado e endossante

 E é endossado e portador

1.2 Requisitos

Os requisitos da letra vêm previstos no art. 1.º da LULL (Lei Uniforme das Letras e

Livranças):

 tem que conter a palavra “letra”: este requisito está sempre cumprido uma vez que as

letras são compradas, vindo já com a denominação

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 o mandato (ordem de pagamento  saque) puro e simples (uma vez que não pode estar

sujeito a condições) de pagar uma quantia determinada

 o nome do sacado

Se estes três primeiros requisitos não forem cumpridos, a letra não é tida como título

executivo, ou seja, não irá produzir os seus efeitos, muito embora possa ser um documento de

prova a juntar na acção declarativa.

 época de pagamento  data de vencimento. Existem quatro modalidades:

 em dia fixado

 a certo termo de data

 a certo termo de vista

 pagável à vista  esta modalidade é meramente supletiva (art. 2.º LULL), pelo

que é esta modalidade que se aplica quando não há indicação da data de vencimento

 lugar do pagamento  na ausência temos a regra supletiva do art. 2.º LULL, que nos vem

dizer que o lugar do pagamento é o do domicílio do sacado

 nome do tomador  se este requisito não for cumprido a letra não vale enquanto tal, não

produzindo os seus efeitos

 Temos aqui duas exigências:

 data da letra (data do saque)  não existe qualquer regra supletiva, o que significa

que se faltar este requisito a letra não produz os seus efeitos

 lugar onde é passada  na falta de indicação, considera-se o domicílio do sacador

 assinatura do sacador  uma vez mais, se este requisito não se verificar, a letra não

produzirá os seus efeitos

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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1.3 Características

 Autonomia

A letra goza de autonomia uma vez é um direito independente do que decorre da relação

jurídica que lhe está subjacente.

 Legitimação

Significa que a letra legitima/incorpora o próprio direito. De facto, a letra é o título

legítimo para invocar o direito.

 Abstracção

Como a letra é autónoma da relação jurídica subjacente, ela abstrai-se dos vícios desta.

Apenas quando não há terceiros é que os vícios daqueloutra relação podem ser invocados pois não

há uma frustração de expectativas (art. 17.º LULL).

Assim, esta característica não vigora quando há terceiros, isto como forma de os proteger.

 Literalidade

Tal característica significa que só tem validade jurídica o que está escrito na letra.

1.4 Modalidades do Vencimento (arts. 33.º e ss LULL)

1.ª Em dia fixado (art. 38.º LULL)

É fixado um dia e a data de vencimento é esse dia estabelecido pelas partes. Há, contudo,

uma tolerância de dois dias úteis.

2.º Pagável à vista

É pagável à apresentação, não havendo um dia determinado nem determinável, e o aceitante

tem de pagar a letra no dia em que o sacador lhe apresentou a letra, contando que a apresentação

ocorra no prazo de um ano a contar da data do saque (art. 23.º LULL)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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3.º A certo termo de data

Estipula-se um termo, ou seja, é o termo que as partes quiserem, começando o prazo a

correr a partir da data do saque.

Ex. “Pague-se a 30 dias de data”  a letra só pode ser exigível no dia em que perfizer os

30 dias, mas podem correr mais dois dias úteis, nos termos do art. 38.º LULL.

4.º A certo termo de vista

Estipula-se um termo.

Ex. “Pague-se a 30 dias de vista”  aqui o prazo começa a contar-se a partir da data do

aceite (arts. 21.º e ss LULL).

Regra: a letra deve ser apresentada a aceite até à data do vencimento.

Ora, esta regra não serve para esta modalidade uma vez que o aceite depende da data de

vencimento e esta daquele. Assim, aplica-se o art. 23.º LULL, que nos vem dizer que o aceite

ocorre dentro do prazo de um ano a contar do saque.

Ex. Saque a 1 de Junho de 2007


Posteriormente ao dia 1 de Junho de
Aceite até 1 de Junho de 2008
2008, contam-se os 15 dias de vista por

forma a calcular a data de vencimento


Se for a 15 dias de vista

1.5 Acção por Falta de Pagamento (art. 43.º LULL)

 Contra quem pode ser intentada

A acção pode ser intentada contra “os endossantes, sacador e outros co-obrigados”.

 Momento em que pode ser intentada

No vencimento, quando não há pagamento ou antes do vencimento quando há recusa de

aceite, seja esta recusa total ou parcial.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Quando não há aceite ou vencimento, é necessário o protesto que, nos termos do art. 44.º

LULL, é um acto formal a ser feito na presença de um notário.

 Prazos para o protesto

Protesto

Por falta de aceite Por falta de pagamento

 prazo indicado para apresentação  dia fixado

a aceite (art. 21.º LULL), ou seja, até  a certo termo de data

à data de vencimento  a certo termo de vista

 até um ano a contar da data do 

saque, quando o vencimento é a certo Num dos dois dias úteis seguintes à

termo de vista (art. 23.º LULL) data de vencimento

 pagável à vista  o protesto tem

de ser feito dentro do prazo de um

ano a contar do saque (neste caso o

legislador dá-nos mais um dia)

Contudo, podem as partes prescindir do protesto, sendo que aí é necessário haver uma

cláusula na letra que diga “sem protesto” ou “sem despesas”, nos termos do estatuído no art. 46.º

LULL.

 Não Cumprimento do prazo para protesto

Art. 53.º LULL

Se o portador não respeitar os prazos previstos neste artigo supra, perderá o direito de

reclamar, salvo contra o aceitante, se tiver expirado:

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Prazo para a apresentação de uma letra à vista (um ano a contar do saque) ou a certo termo de

vista (um ano a contar do aceite, sendo que o aceite é no prazo de um ano a contar do saque)

 Prazo para fazer protesto por falta de aceite ou de pagamento (quando na letra não consta

uma cláusula de dispensa do protesto)

 Quando a letra tenha cláusula de dispensa do protesto, prazo para apresentação a pagamento

 Prescrição (art. 70.º LULL)

Prescrição para portador

Contra o aceitante Contra os restantes

Três anos a contar do vencimento Um ano a contar da data do protesto

ou da data do vencimento, no caso de

se dispensar o protesto

Quanto à prescrição para os endossantes, o prazo é de “seis meses a contar do dia em que

o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi accionado”.

2. Cheque

Cheque ordem de pagamento dada a um banqueiro onde “nós” temos uma conta

Caracteres gerais:

 os seus requisitos constam no art. 1.º LUCH (Lei Uniforme dos Cheques)

 a pessoa que emite o cheque tem que ter provisão

 é pagável à vista, ou seja, pagável no dia da apresentação (art. 28.º LUCH)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 art. 29.º LUCH  prazo para apresentação a pagamento: 8 dias, sob pena de não ser

título executivo. Após este prazo o cheque pode ser revogado, nos termos do que dispõe o

art. 32.º LUCH

2.1 Cheque sem Provisão (DL n.º 454/91, de 28 de Julho)

Caracteres importantes:

 art. 2.º  comunicações

 art. 8.º  obrigatoriedade de pagamento (quando o valor é superior a 150€, há lugar a

processo criminal)

 art. 11.º  crime de emissão de cheques sem provisão

 art. 11.º-A  crime:

- público: não é necessário fazer queixa

- semi-público: é preciso queixa e não acusação

- particular: depende de queixa e acusação

Em 1 Junho de 2007, André sacou sobre Bruno uma letra, sem data de vencimento,

que este aceitou para pagamento do preço na compra de um automóvel.

O supra citado título foi tomado por Catarina, que o endossou a Diana que, por sua

vez, o endossou a Edgar.

Na data de vencimento da dívida cambiária, Edgar, demandou Bruno para pagamento,

mas este recusou-se, invocando o facto de o negócio da compra do automóvel ter sido

anulado com base em dolo do vendedor.

a) Aprecie a validade das razões invocadas por Bruno e refira se deverão ter sucesso

na sua defesa.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

A letra é um título de crédito e é uma ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado a

favor dele próprio ou a favor de um terceiro.

Quem intervém é o sacador, o sacado, o tomador, avalista, endossado, endossante e o

portador, este que tem o direito de acção.

A letra apresenta quatro características: autonomia, legitimação, abstracção e literalidade

(explicar cada uma delas).

Temos que identificar os sujeitos e os actos.

Sujeitos Actos

André  sacador Saque: 01/06/2007

Bruno  sacado e aceitante Aceite

Catarina  tomador e endossante Endosso

Diana  endossado e endossante

Edgar  endossado e portador

Posteriormente temos que dizer que a letra só vale enquanto letra se se verificarem os

requisitos do art. 1.º da LULL. Mas, quanto ao vínculo, quando não há nada escrito, o que é o caso,

a letra é pagável à vista, vinculando-se com a apresentação. Contudo, ela tem que ser apresentada

no prazo máximo de um ano a contar da data do saque.

Assim, Edgar deveria apresentar ao Bruno a letra a pagamento até ao dia 1 de Julho de

2008 (art. 34.º LULL), ou seja no prazo de um ano.

Acontece que Bruno se recusou a pagar aquando da prestação da letra por parte de Edgar

invocando vícios. Contudo, pela característica da abstracção, este vício da vontade (data) não

poderá ser invocado (chamado à colação) pois não podemos deixar que os vícios da relação

subjacente prejudiquem a letra.

Este argumento apenas seria válido caso a letra não tivesse saído da esfera jurídica dos

intervenientes na relação jurídica, ou seja, A e B (art. 17.º LULL).

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Hoje, a que sujeitos e em que termos poderá, Edgar, exigir o crédito cambiário?

Hoje é dia 13 de Junho de 2008 e Edgar apenas poderia apresentar a letra a pagamento

até ao dia 1 de Junho de 2008.

A partir do momento em que há recusa do pagamento, o portador tem o direito de

protestar. Mas o protesto não é obrigatório quando houver uma cláusula de dispensa de protesto.

Se não havia cláusula de dispensa, Edgar poderia protestar nos termos do disposto no art.

44.º LULL, podendo, neste caso, protestar até ao dia 1 de Junho de 2008 ou até 2 de Junho de

2008 se a apresentação tiver sido feita no último dia do prazo.

Protesto dentro do prazo:

 se sim: Edgar pode accionar A, B, C e D  tem o prazo de 1 ano a contar da data do

protesto para contestar – art. 70.º, 2.º§ LULL; contra B têm 3 anos a contar da data de

vencimento

 não: art. 53.º LULL  Edgar perde o direito de acção contra A, C e D. Só não perde o

direito de acção contra o aceitante, que é B; contra o B, Edgar teria até 2010 (art. 70.º

LULL) – são 3 anos – art. 70.º, 1.º§ LULL

A, C e D podem accionar-se uns aos outros – o prazo de prescrição é de 6 meses a contar da

data em que pagou ou foi accionado – art. 70.º, 3.º§ LULL

A 1 de Junho de 2006, Guida e Hélia celebram um contrato de compra e venda nos

termos do qual a primeira comprou à segunda um computador portátil de marca “Toshiba”,

pelo valor de 1.500 €. Como forma de pagamento Guida passou, no dia em que celebraram o

predito contrato, um cheque a Hélia sacado sobre a instituição de crédito “Y” no valor de

500€, bem como aceitou uma letra, a 8 dias de vista, no montante restante.

Hélia endossou ambos os títulos a Ivo, seu credor.

Ivo deslocou-se ontem à instituição de crédito “Y” para proceder ao levantamento do

valor inserto no cheque. Porém, foi informado que Guida revogara o cheque em causa.

Hoje, Ivo apresenta a letra a pagamento a Guida que se recusa a efectuar o mesmo.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Guida invoca como fundamento de revogação do cheque e de não pagamento da letra o

facto de o computador nunca ter funcionado.

Quid iuris?

Temos que identificar os sujeitos e os actos.

Sujeitos Actos

Guida  sacado e aceitante Saque: 01/06/2006

Hélia  sacador, tomador e endossante Aceite: 01/06/2006

Ivo  endossado e portador

Época de vencimento: a certo termo de vista:

8 dias a contar do aceite

Dia do vencimento: 09/06/2006

Apresentada a pagamento em

09/06/2006 ou nos 2 dias úteis seguintes

(prazo em que poderia ser exigida).

Em termos reais poderia ser exigível

até 13/06/2006 (art. 38.º LULL) porque:

 10/06/2006  feriado

 11/06/2008  domingo

Hoje é dia 13 de Junho de 2008.

Ao abrigo artigo 53.º LULL, Ivo perde o direito de acção contra Hélia. Contudo, mantém-se

esse direito contra Guida porque esta aceitou a letra.

9 de Junho de 2006 + 3 anos = 9 de Junho de 2009  prazo para accionar de acordo com o art.

70.º LULL

Conclusão:

 Ivo perderia o direito de acção contra Hélia e não contra Guida

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
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 fundamento de Guida não tinha qualquer valor jurídico, atendendo à característica da

abstracção da letra (explicar)

 o não cumprimento aqui não funciona porque há um terceiro (que precisa de ser

protegido)

Quanto ao Cheque:

Sujeitos Actos

Guida  sacador (porque é ela que dá a Cheque: é uma ordem de pagamento a um

ordem de pagamento) banqueiro

Hélia  tomador e endossante Saque

Ivo  endossado

“Y”  sacado

Data de vencimento: pagável à vista

Apresentação do cheque: 8 dias a contar do

saque (art. 29.º LUCH)  após este prazo, o

cheque deixa de valer como título executivo

O fundamento apresentado por Guida como justificação da revogação do cheque não tem

valor devido à característica de abstracção, também patente no cheque. Mas, porque já passaram

mais de 8 dias da data do saque, Guida pode revogar o cheque livremente sem causa de

justificação, nos termos do art. 32.º LUCH.

A 20 de Janeiro de 2006, Filipa sacou sobre Gorett uma letra, a um mês de vista,

como forma de pagamento de um automóvel que aquela vendeu a esta. O referido título foi

tomado por Hélder.

A 20 de Fevereiro de 2008, Hélder apresentou a letra a Gorett para que esta a

aceitasse. Nessa mesma data Gorett aceitou voluntariamente a letra.

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

Qual foi o dia de vencimento da letra em causa? Caso, na data de vencimento, Gorett

se recusasse a pagar o valor inserto no título que atitude deveria Hélder tomar? Poderia,

em último caso, Hélder intentar uma acção em Tribunal de forma a ver satisfeito o seu

crédito? Em caso afirmativo contra quem e em que prazos o poderia fazer?

Temos que identificar, primeiramente, os sujeitos e os actos.

Sujeitos Actos

Filipa  sacador Saque: 20/01/2006

Gorett  sacado Aceite: 20/02/2008

Hélder  tomador

Época de vencimento: a certo termo

de vista: 1 mês a contar do aceite.

Logo, o dia de vencimento é 20

de Março de 2008.

A letra deveria ter sido apresentada a aceite no prazo de 1 ano (regra) ou seja até 20 de

Janeiro de 2007 (vide art. 23.º LULL).

Tendo em conta que o aceite se deu em 20 de Fevereiro de 2008, depreende-se que teve

de existir uma cláusula que veio alargar o prazo do aceite, cláusula essa constante da letra

(característica de literalidade – explicar). Assim, a data de vencimento seria no dia 20 de Março

de 2008.

Hélder poderia fazer protesto e recusar o pagamento (art. 44.º LULL). Assim, nos dias 21 e

22 de Março de 2008 Hélder poderia deslocar-se ao Notário para fazer o protesto, excepto se a

letra tivesse uma cláusula “sem despesas”.

Hélder, ao fazer o protesto, iria ganhar o direito de acção sobre Filipa (sacador) uma vez

que sobre Gorett (aceitante) já tinha esse direito.

Conclusão:

Porque respeitou todos os prazos constantes do artigo 53.º Hélder poderia intentar uma

acção em Tribunal e accionar:

 Filipa até 1 ano a contar do protesto (art. 70.º LULL)

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008
Direito Comercial Sumários

 Gorett até 3 anos a contar do vencimento (art. 70.º)

Nádia sacou sobre Marta uma letra, à sua própria ordem. Marta veio a aceitar a

letra, mas com a condição – com a qual Nádia concordou – de ela não ser exigida antes de

certa data posterior ao vencimento indicado no título. Entretanto, Nádia endossou a letra a

Paula, a qual, logo após o vencimento, veio exigir o pagamento a Marta. Esta recusou,

alegando o acordado com Nádia quanto à dilação do pagamento e que, mesmo que isso se

considere não relevante, sempre é certo que ela só aceitou na convicção de que esse acordo

revelaria – com erro, portanto - por outro lado, invocou que Paula estava a par do acordado

com Nádia.

Quid iuris?

Temos que identificar os sujeitos e os actos.

Sujeitos:

 Nádia  sacador e tomador

 Marta  sacado e aceitante

 Paula  endossado e portador

In casu, está presente a literalidade da letra. Tendo em conta esta característica, só tem
valor em termos jurídicos o que consta da letra, pelo que os acordos feitos à margem da lei não

contam (não têm importância neste âmbito).

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Solicitadoria – 2.º ano – 2.º Semestre – 2007/2008

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