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Francisco de Assis viveu no período de transição da Alta (século V d.C até o século X
d.C) para a Baixa Idade Média (séculos X a XV) e vivenciou ativamente as constantes
crises que marcaram esse período. Com a Idade Média, a Europa presenciou a economia
mercantil e imperial romana ser substituída pela economia agrária feudal, onde o
comércio praticamente deixou de existir e quase todas as relações jurídicas se resumiam
à relação de suserania e vassalagem. Somado a isso, o cristianismo se torna a força
soberana da Europa, onde o Papa dispunha de tronos como o da Dinamarca e o do
Reino de Castela a seu bel prazer. Os judeus, sem pátria desde sua colonização pelo
Império Romano, vagam pelo mundo sendo expulsos de território a território. Muitos
acabam se convertendo ao cristianismo recebendo a alcunha de cristãos novos. Isso tudo
prepara o cenário para a Baixa Idade Média. Nesse período as relações sociais acabam
por se diversificar. Os judeus e os cristãos novos, proibidos de possuir terras, estavam
excluídos do sistema feudal e por isso obrigados a se dedicar a trabalhos manuais e ao
comércio, que eram desprezados à época como ocupações indignas e inferiores. Mas,
com o tempo, as relações comerciais começam a se estabelecer e o comércio se torna a
base econômica da Baixa Idade Média, o que mais tarde abriria espaço para o
surgimento da burguesia. O Papa Inocêncio III era inclusive filho de uma família de
prósperos comerciantes.
Surge toda uma nova concepção da religião. A Igreja estabelece uma série de reformas,
condenando a simonia, a licenciosidade sexual dos sacerdotes e todas as práticas que
entendiam ir contra o espírito original do cristianismo. Tal pensamento deu origem a
uma série de ordens religiosas que buscavam viver o cristianismo na sua essência, como
os valdenses e os umiliati. Além do voto de pobreza essas ordens pregavam o acesso
direto à bíblia, em língua vulgar, sem o intermédio sacerdotal, a vida devotada à
caridade e ao trabalho e a licença pública para espalhar a palavra de Deus. Por óbvio a
Igreja não gostou de ser suprimida de seu papel de mediadora entre Deus e os homens e
condenou tanto valdenses como umiliatis como hereges, ao lado dos cátaros e
cartaginenses. A Europa vê as cruzadas, antes dirigida contra mulçumanos e infiéis, se
voltarem contra os próprios cristãos. É nesse ambiente que o filho de uma próspera
família de Assis, Francisco, começa a perceber as terríveis contradições que sua época
apresentava. Se por um lado o desenvolvimento comercial enriqueceu a muitos,
milhares de outros viviam em condições de miséria absoluta, tendo que lidar com a
fome e as intempéries. Ao se refugiar na leitura das sagradas escrituras, Francisco
pretendia encontrar uma explicação para tal realidade, mas mais que isso encontra uma
missão: a de viver, sine glosa (sem diferenças ou interpretações) o exemplo dado por
Cristo nos evangelhos. Para ele, Cristo era o exemplo a ser seguido por todos os
homens, o que confere a seus ensinamentos um caráter universal que refletirá no
pensamento de Francisco.
Movido pela inspiração da palavra sagrada, São Francisco doa todos os seus bens e
funda uma ordem de irmãos mendicantes, vocacionada a pregar os evangelhos para os
humildes. Seu auditório comum eram os leprosos, os doentes, os abandonados. Aos
membros da ordem ensinava o desprendimento e a caridade, bem como o amor aos
miseráveis. Para Francisco é a vida em pecado que nos afasta dos humildes:
Seus princípios políticos estavam calcados na mais pura igualdade. Francisco defendia a
igualdade e a dignidade universal de tudo o que fora criado por Deus. Em seu famoso O
Cântico das Criaturas, essa defesa fica clara ao louvar a sabedoria de Deus ao criar não
só o sol e o vento, mas também a doença e a morte, chamados todos igualmente de
irmãos:
1
Il Signore cosi donó me, frate Francesco, la grazia di cominciare a far penitenza: quando ero ancora
nei peccati, mi pareva troppo amaro vedere i lebbrosi, e Il Signore stesso mi condusse tra loro e con essi
usai misericordia: quando me ne allontanai, quello che prima mi pareva amara, tosto mi si mutò in
dolcezza d’anima e di corpo.
Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.
Louvado sejas, ó meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.
2
Altissimu, onnipotente bon Signore,
Tue so' le laude, la gloria e l'honore et onne benedictione.
Laudato si', mi Signore, per quelli che perdonano per lo Tuo amore
et sostengono infirmitate et tribulatione.
Tomás nasce em Aquino, no ano de 1224, dois anos antes da morte de São Francisco.
Foi o principal pensador da Igreja, cuja obra é marcada ao mesmo tempo por um grande
respeito à tradição e um fervor revolucionário. Ao mesmo tempo que mantém o respeito
escolástico pelo argumento de autoridade, se utilizando sobretudo da redescoberta de
Aristóteles, a quem chamava pela metonímia O Filósofo, Aquino modifica a forma de
fazer teologia ao se utilizar do método dialético grego, em que argumentos contrastantes
se contrapõe em busca da verdade.
Sua Summa Teologica segue tal método e apresenta os princípios básicos da sua
doutrina ética e política.
Tomás de Aquino diz que existem três tipos de leis: a Lei Eterna (Lex Aeterna), a Lei
Natural (Lex Naturalis) e a Lei Humana (Lex Humana). A lei eterna é a da divindade. É
a própria razão divina que governa toda a comunidade do Universo. Dela todas as
demais leis emanam, e, portanto, as coisas humanas devem se sujeitar a ela.
A Lex Naturalis ou Lei Natural é a participação do homem, pela razão concedida a ele
por Deus, na Lei Eterna. A Lei Natural não existe fora da Lei Eterna, mas é aquela
parcela da Lei Eterna que o homem consegue atingir através de seu esforço intelectual.
A ideia de lei natural era comum desde os estóicos. Contudo, os mesmos viam na lei
natural uma ordem imutável, ao contrário de São Tomás que dizia que a Lei Natural era
mutável porque o acúmulo de conhecimento e experiência humana modificariam a
quantidade de percepção que teríamos da Lei Eterna.
A lei humana serve justamente para explicitar, nos casos particulares, os ditames da lei
eterna e da lei natural. A função da lei humana é não deixar dúvidas sobre o que é justo
em cada caso. A intenção da lei humana é promover o bem comum.
Referência
COMPARATO, Fábio Konder, Ética, Companhia das Letras, São Paulo, 2008.
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