Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
ESPE CIAL
abril de 2007
Ano 32 – Nº 187
PASTORAL DA TERRA 2 ESPECIAL abril 2007
N
o dia 8 de março, Dia Interna- Outra vitória da ação das mulheres
Por que este ato provocou foi a de tornar melhor conhecida a forma
a Aracruz iniciou impressionante guerra
cional da Mulher, 2.000 mu- contra os índios, tentando fazer a cabe-
lheres militantes da Via dani- reação? como a Aracruz tem agido no Brasil, de ça do povo contra eles. Publicou cartilhas
ficaram instalações, material É porque as mulheres foram direto modo muito especial no Espírito Santo. para serem distribuídas nas escolas, patro-
genético, mudas e sementes de eucalipto não às mudas, mas à raiz do problema. Há mais de 40 anos esta empresa se esta- cinou palestras e espalhou painéis de pro-
do laboratório e Horto Florestal da fábri- Elas acertaram em cheio o coração do beleceu por lá. Ocupou terras de índios e paganda pelo estado. O material dizia que
ca Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, capital. Atacaram um dos símbolos do de quilombolas e tem usado de mentiras, os Tupinikim e Guarani não eram índios,
Rio Grande do Sul. O objetivo da ação era capitalismo mundial, a Aracruz Celulose. ameaças e violência contra os índios Tu- afirmava que os índios nunca tinham vivi-
o de denunciar o “latifúndio verde” criado Mesmo que ninguém tenha sido agredido, pinikim e Guarani e as comunidades de do naquelas terras e assim por diante. Uma
pela monocultura de eucalipto e suas con- isto não interessa. As mudas e o laborató- remanescentes de quilombos. das placas de propaganda dizia: “A Aracruz
seqüências sociais e ambientais. Nenhuma rio valem, para o capital, muito mais que trouxe o progresso. A Funai, os índios”.
pessoa sofreu agressão. as pessoas. A Aracruz Celulose foi tão longe que o
A reação foi violenta. A ação foi con- A ação das mulheres expressou a de-
2006 foi um ano violento Ministério Público Federal exigiu a ime-
denada por empresários, autoridades fesa da agricultura camponesa, da pro- No dia 20 de janeiro, 120 agentes da diata retirada destes materiais.
e imprensa. Foi qualificada de excesso, dução de alimentos. Escancarou a neces- Polícia Federal expulsaram as pessoas das Em dezembro de 2006, os Tupinikim
de insanidade e de banditismo. A polí- sidade de um outro modelo de desenvol- aldeias Olho d’Água e Córrego do Ouro e Guarani ocuparam o porto da empre-
cia militar, dias depois, invadiu a sede do vimento. dos povos Tupinikim e Guarani, no muni- sa exigindo a demarcação de suas terras.
Movimento das Mulheres Camponesas Esta ação atingiu os objetivos, pois cípio de Aracruz (ES). Tratores da Aracruz A empresa respondeu com a polícia, blo-
(MMC), em Passo Fundo (RS), onde de- conseguiu levantar em todo o Brasil a destruíram todas as casas. Duas lideranças queio de estradas e colocou os trabalha-
teve oito militantes, recolheu materiais e discussão sobre o avanço do eucalipto indígenas foram presas e outras 12 pessoas dores contra os indígenas. Quase houve
ficaram feridas. violência física.
O poder da empresa é maior do que
João Ripper
os direitos garantidos pela Constituição
Brasileira aos povos indígenas e se impõe
ao ministro da Justiça e ao presidente da
República. Só faltava a assinatura de-
les para os índios terem reconhecido seu
território. No início de março de 2007, o
ministro devolveu o processo à Funai para
que a mesma tente uma negociação entre
índios e Aracruz.
Com os quilombolas aconteceu a mes-
ma coisa. Até 1970 existiam na região apro-
ximadamente 100 comunidades de rema-
nescentes de quilombos. Praticamente todas
foram afetadas pela presença da empresa,
quando não totalmente desestruturadas.
Os quilombolas continuam resistindo
e sofrendo violência. No dia 17 de julho
de 2006, no município de Linhares (ES),
100 quilombolas foram presos quando
juntavam restos de eucalipto.
No dia 1 de agosto, cerca de 300 qui-
lombolas cortaram árvores e realizaram
uma cerimônia religiosa em homenagem
a seus ancestrais, nas terras do cemitério
ancestral da comunidade quilombola Li-
nharinho, ocupada pela Aracruz.
N
trão para fazer dos, comandados pelo ex-prefeito de o m u n i c í p i o d e Va r g e m
acerto de con- Murici, Remi Calheiros. Grande, Maranhão, as 30
tas referente ao O cerco ao acampamento come- famílias da comunidade São
período em que çou por volta das 22h, quando Ailton Malaquias, formada por lavrado-
trabalhou como José da Silva e um adolescente foram res de origem negra que moravam
vaqueiro. O pa- presos por vigilantes da fazenda Boa na área há mais de 100 anos, foram
trão o ameaçou Vista, de propriedade do deputado fe- despejadas por 60 policiais acompa-
dizendo que se deral Olavo Calheiros. Os agressores nhados de 20 pistoleiros, no dia 19
ele “procurasse chegaram ao acampamento atirando. de maio de 2006. Suas casas foram
o Ministério do Bêbados e encapuzados jogaram gaso- todas destruídas. Um dos moradores
Trabalho, toda a lina nos barracos e atearam fogo. havia falecido naquele mesmo dia e
sua família mor- Os sem-terra foram obrigados a era velado em sua casa. Os parentes
reria.” arrancar a bandeira do movimen- do morto tiveram que transferir o
No dia se- to e jogá-la ao fogo. Em seguida 23 corpo para ser velado em outra co-
guinte, 04 de trabalhadores foram levados para a munidade, enquanto sua morada era
junho, três fi- casa-grande da fazenda Boa Vista, do derrubada e queimada.
Maquiando a realidade lhos menores de Sidney passavam de deputado Olavo Calheiros onde fica- Um tal de Antônio Rodrigues
bicicleta pelas terras do fazendeiro ram detidos por várias horas. Entre Dias se apresentou como dono das
A
Destilaria Gameleira, muni- Ronan. Como a bicicleta em que es- eles duas mulheres. Uma delas grávi- terras. Tinha até mais de um docu-
cípio de Confresa, MT, ficou tavam apresentou problemas, o mais da passou muito mal com o susto. Um mento, cada um com limites diferen-
conhecida porque, em 2005, o velho seguiu adiante. Os outros dois, dos capangas jogou a filha dela de um tes e confusos. Ele entrou na justiça e
Grupo Móvel do Ministério do Tra- Henrique, de 11 anos, e Jhonata, de ano e dois meses no chão. A outra foi a juíza da Comarca, Dra. Janaína de
balho fez a maior operação de resgate oito, resolveram tomar banho no rio. ameaçada de estupro, o que não acon- Araújo de Carvalho, decidiu em favor
de trabalhadores em regime de tra- Segundo Jhonata, três empregados de teceu pela intervenção de Remi. “Ele dele.
balho escravo, quando libertou 1003 Ronan tomavam banho no mesmo lo- me reconheceu porque meu irmão é O absurdo é que o processo se refe-
trabalhadores. Era a quarta vez que o cal. Dois deles, Ronaldo e Cícero, for- motorista dele”, disse ela. ria a 10 famílias, mas o despejo atingiu
Ministério do Trabalho fiscalizava a çaram as crianças a beber cachaça até Um dos agressores foi chamado de 30. Outro grande absurdo é que a juíza
empresa. Em 2001, o Grupo Móvel ficarem totalmente bêbados. Jhonata tenente e outros usavam coturnos da po- nem sabia o que eram os quilombolas,
encontrou e libertou 76 pessoas em foi encontrado pela família deitado às lícia. Outro foi reconhecido como Beto segundo disse José Pereira da Silva, da
condições de escravidão. Em 2003 margens do rio. Já Henrique não esta- Doido, funcionário da Prefeitura Muni- Secretaria de Agricultura do municí-
resgatou outros 272 trabalhadores. A va. O corpo do menino foi encontra- cipal de Murici, cujo prefeito é Renanzi- pio de Nina Rodrigues (MA), que foi
Destilaria acabou na “Lista Suja” do do só no dia 7, boiando nas águas do nho, filho do senador Renan Calheiros. conversar com ela.
Ministério do Trabalho e Petrobrás e rio. Segundo o laudo da polícia, Hen-
Ipiranga deixaram de comercializar rique morreu por afogamento depois Maristela Vitória CPT/Nacional
seu álcool. de ter sido embriagado e ter tido a ju-
Em 27 de maio de 2006, para gular cortada. Ainda segundo o laudo,
ver se limpava o nome, esta desti- sua orelha direita havia sido retirada
laria passou a chamar-se Destilaria a faca. Forma característica de crimes
Araguaia. A empresa que pertencia sob encomenda.
ao grupo pernambucano Queiroz Foi apenas uma trágica coincidên-
Monteiro, passou para a Zihuatanejo cia ou faz parte da metodologia adota-
do Brasil, Açúcar e Álcool. Acontece da, como mensagem para quem ousar
que a empresa que comprou a Ga- desafiar o poder dos fazendeiros?
meleira é do mesmo grupo Queiroz
Monteiro. Só foi feita uma maquia-
gem para ver se dava para distrair os
observadores. Políticos destroem
acampamento e agridem sem-
terra em Alagoas
Vidas destruídas
N
o dia 6 de fevereiro de 2006,
O
trabalhador Sidney Apareci- 29 famílias ligadas ao Movi-
do Ribeiro, depois de ter tra- mento Terra Trabalho e Liber-
balhado três anos e meio na dade (MTL), despejadas de outras áre-
fazenda Estrela do Xingu, de proprie- as, ocuparam 572 hectares da Fazenda
dade de Ronan Garcia dos Reis, em São Bernardo, em Murici, Alagoas.
São Félix do Xingu, Pará, no dia 3 de Dois dias depois, na madrugada de 8
PASTORAL DA TERRA 10 ESPECIAL abril 2007
A
comparação dos Conflitos dizer, o número de denúncias recebi- Vamos acompanhar com atenção se chamou de criminalização dos mo-
no Campo (1997-2006) traz das; na segunda o número de assassi- este último bloco vimentos sociais. FHC até inventou
alguns dados dos últimos 10 natos ligados ao trabalho escravo. uma tal de Reforma Agrária pelo Cor-
anos para acompanharmos A terceira linha apresenta o núme- Até o ano 2002 o número de con- reio. Bastava o sem-terra se inscrever
como é que está se dando a evolução ro de pessoas submetidas ao trabalho flitos ficava abaixo de 1.000, menos no no Correio que logo, logo o governo
dos conflitos. escravo. ano de 1998, quando foram registra- ia arranjar uma área para ele. Só que
Na quarta linha estão registrados dos 1.100. A partir de 2003, primeiro ninguém viu isto.
os números de ocorrências de supe- ano do governo Lula, o número de Com a vitória de Lula, o povo
A tabela está dividida em conflitos aumentou consideravel-
rexploração e desrespeito trabalhis- acreditou que ele iria fazer a Refor-
cinco blocos: ta, na seguinte o número de assassi- mente. Foram 1.690 em 2003, 1.801 ma Agrária como havia prometido.
O primeiro é de Conflitos por Ter- natos e na última o número de pes- em 2004 e 1.881 em 2005. O menor Aí então aumentaram muito as ações
ra. Ano a ano, na primeira linha estão soas envolvidas nos conflitos em que número de conflitos desde que Lula dos movimentos com ocupações e
as ocorrências de conflitos, na segunda houve superexploração e desrespeito assumiu a presidência foi em 2006, acampamentos. É só dar uma olhada
as ocupações, na terceira os acampa- trabalhista. 1.657 conflitos. no primeiro bloco. As ocupações que
mentos. Na quarta linha se faz a soma em 2002 tinham sido 184 passaram
de todos os conflitos por terra. É bom Conflitos pela Água é o terceiro Por que com o governo Lula os para 391 em 2003 e para 496 em 2004.
observar que os acampamentos só co- bloco. conflitos aumentaram? Depois caíram. Os acampamentos que
meçaram a ser registrados em 2001. Como se pode observar o registro em 2002 foram 64 passaram para 285
dos Conflitos pela Água só começou a É bom lembrar que o governo an-
Na quinta linha aparece o número de terior de FHC tentou de toda forma em 2003. Só as ocorrências de confli-
assassinatos havidos a cada ano em ser feito em 2002. Há registros somen- tos é que permanecem mais ou menos
te do número de conflitos e do núme- impedir a ação dos movimentos do
conflitos por terra. Abaixo vem o nú- campo. Baixou medidas que proi- estáveis. Estes dados mostram que até
mero de pessoas envolvidas nos con- ro de pessoas envolvidas. 2004 o povo ainda esperava que Lula
O quarto bloco traz os Outros biam a vistoria de áreas ocupadas, o
flitos e o número de hectares. assentamento de pessoas que tivessem cumprisse o prometido. Já a partir
Conflitos, que são Conflitos em Tem- de 2005, esta crença foi diminuindo
O segundo bloco se refere a Con- pos de Seca, Sindicais e em Áreas de participado de manifestações de pres-
são ao governo, criou uma Divisão de como mostram os números de ocupa-
flitos Trabalhistas. Garimpo. O último bloco é o total de
Conflitos Fundiários na Polícia Fede- ções e acampamentos.
Na primeira linha aparecem as conflitos, de assassinatos, de pessoas
ral, entre outras. Este processo todo Olhando o número de assassinatos
ocorrências de trabalho escravo, quer envolvidas e de hectares. vemos um salto grande entre 2002, 43
e 2003, 73. Nos outros anos voltaram
a ser 39 em 2004, 38 em 2005 e 39 em
2006. Mais de três assassinatos por
mês! Em 2003 chegaram a mais de 6!
O que aconteceu?
Como os sem-terra acreditaram
que Lula iria fazer a reforma agrária,
os latifundiários e empresários do
agronegócio também acreditaram nis-
so. Usaram de toda força para barrar
os movimentos dos trabalhadores.
Logo, porém, perceberam que Lula
não iria cumprir sua promessa. Por
isso o número de assassinatos caiu
para 39 e está se mantendo.
Ao olhar estes números é preciso
prestar atenção no texto da página
7. Como alguns colocam a culpa do
aumento da violência nos trabalha-
dores, os professores citados no tex-
to fizeram uma análise dos números
e descobriram que onde o povo mais
atuou, ocupou e acampou, a violên-
cia foi menor. Já na Amazônia, onde
as ocupações e acampamentos fo-
ram menores, a violência foi maior!
É bom voltarmos a ler o texto para
refletirmos mais uma vez sobre esses
dados.
PASTORAL DA TERRA 15 ESPECIAL abril 2007
Conflitos Trabalhistas
Ocorrências de Trabalho 17 14 16 21 45 147 238 236 276 262
Escravo
Assassinatos 1 2 3
Pessoas Envolvidas 872 614 1.099 465 2.416 5.559 8385 6.075 7.707 6.930
Ocorrências de 49 56 28 33 25 22 97 107 178 136
Superexploração e
Desrespeito Trabalhista
Assassinatos 1 5 2 1
Pessoas Envolvidas 24.788 366.720 4.133 53.441 5.087 5.586 6.983 4.202 3.958 8.010
Outros ***
Nº de Conflitos 12 279 69 50 129 52 2
Assassinatos 4
Pessoas Envolvidas 3.288 109.162 164.909 62.319 106.104 43.525 250
Total
Nº de Conflitos 736 1.100 983 660 880 925 1.690 1.801 1.881 1.657
Assassinatos 30 47 27 21 29 43 73 39 38 39
Pessoas Envolvidas 506.053 1.139.086 706.361 556.030 532.772 451.277 1.190.578 975.987 1.021.355 783.801
Hectares 3.034.706 4.060.181 3.683.020 1.864.002 2.214.930 3.066.436 3.831.405 5.069.399 11.487.072 5.051.348
Fonte: Setor de Documentação da Secretaria Nacional da CPT.
*** Outros: registra-se Conlitos em Tempos de Seca, Sindicais, e em Áreas de Garimpo. No ano de 2006 foram registrados somente Conflitos em Tempos de Seca.
PASTORAL DA TERRA 16 ESPECIAL abril 2007
Luciney Martins - Arquivo Rede Rua - Manifestação dos 10 anos do massacre dos Karajás
Um retrato
do campo
Companheiros e companheiras, camponeses e trabalhadores do campo vidas na ação ou que sofreram a violência.
Aqui, neste Pastoral da Terra especial, vocês encontraram um retrato do que 5º - quem praticou a agressão? – Se possível saber o nome do fazendeiro, ou do
vivem no dia-a-dia. Mas está muito longe da realidade que é muito maior e mais jagunço, ou do policial, etc.
violenta.
Vocês sabiam que podem tornar este retrato mais próximo da realidade? Depois de tudo isso registrado vocês enviam para:
Isso mesmo. Quando vocês tiverem conhecimento de um conflito ou de uma Setor de Documentação da CPT
violência contra os trabalhadores do campo é só colocarem num papel o que Rua 19, nº 35, 1º andar – 74030-090 – Goiânia – GO.
vocês estão sabendo.
É preciso colocar com clareza: Se vocês quiserem podem telefonar para (xx62) 4008-6400.
1º - o que aconteceu? Vocês também podem procurar alguém da CPT que conhecem e passar para
2º - quando aconteceu? – o dia, o mês, o ano ele as informações e pedir que as escreva.
3º - onde aconteceu? – o lugar – fazenda, assentamento, acampamento, comuni- Com isso, certamente, vamos ter um retrato bem mais próximo da realidade e
dade, município, estado. com a sua participação.
4º - quem sofreu a ação, a agressão? – o número de pessoas que estavam envol- Vocês topam?