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Desvendando o

PESQUISA
Código Genético
Um quebra-cabeça que começa a ser montado

Newton Portilho Carneiro Seqüenciamento de Genes – tro lado, o genoma funcional é base-
Ph.D. Biologia Molecular
newtonc@cnpms.embrapa.br
Projetos Genomas ado apenas no seqüenciamento dos
Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas, MG genes expressos e tem a vantagem de
Existem basicamente dois tipos de poder caracterizar a expressão tem-
Andréa Almeida Carneiro
Ph.D. Biologia Molecular projetos genoma. Um chamado estru- poral e local dos genes. O seqüencia-
andreac@cnpms.embrapa.br tural que é o seqüenciamento total do mento no genoma funcional é feito
Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas, MG genoma, e outro funcional, que se em cerca de 800 pares de bases (bp)
Cláudia Teixeira Guimarães baseia no seqüencimento apenas dos de apenas uma das fitas de cDNA.
D.S. Biologia Molecular genes expressos. A estratégia mais Considerando que as bibliotecas de
claudia@cnpms.embrapa.br
Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas, MG
utilizada para genomas estruturais é a cDNA são montadas direcionalmente,
chamada “shotgun”, que é uma se- a maior parte do seqüenciamento é
Edilson Paiva qüência em grande escala de subclo- feito a partir da extremidade 5’ do
Ph.D. Biologia Molecular
edilson@cnpms.embrapa.br
nes de fragmentos de DNA já mapea- cDNA, devido ser a mais informativa e
Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas, MG dos. Estudos estruturais de genomas conservada. Embora possa haver er-
estruturais têm a principal vantagem ros de leitura nas seqüências geradas,
estes não comprometem, na maio-
ria dos casos, a identificação dos
correspondentes genes. Desta for-
Os genes são as unidades biológicas responsáveis em determi- ma, milhares de seqüências podem
nar as características de um organismo. Apesar de atualmente conhecer- ser determinadas com um limitado
mos como as informações contidas nos genes são codificadas em investimento. A terminologia do in-
proteínas, muitas dessas proteínas / genes não possuem uma função glês para etiqueta dos genes é cha-
conhecida. Como descobrir a(s) função(ões) de uma proteína codificada mada de “Express Sequence Tags”
por um determinado gene? Proteínas podem ter funções enzimáticas, (ESTs).
estruturais ou de reserva, a que iremos nos referir nesta discussão, como O banco de dados de ESTs tem
funções bioquímicas. Contudo, funções bioquímicas estão encaixadas mostrado ser uma grande fonte de
em um contexto mais amplo, como por exemplo: proteínas participam identificação, principalmente da fun-
de processos de regulação celular, de defesa, de tolerância a estresses, ção bioquímica de muitos genes e
etc, os quais serão referidos neste texto como função biológica de uma de funções biológicas que podem
proteína. Este artigo tem por objetivo descrever alguns dos mecanismos ser inferidas com base na freqüên-
utilizados para o estudo da função bioquímica e biológica de proteínas cia de certos genes, que são identi-
codificadas por um gene ou em grande escala, por grupos de genes. ficados em bibliotecas de cDNAs
construídas sob diferentes condi-
ções. Exemplificando: uma proteí-
na X pode ser identificada como
de combinarem o seqüenciamento e o uma quinase (função bioquímica) atra-
mapeamento físico dos genes, mas a vés do seqüenciamento do gene que
desvantagem de um elevado custo. a codifica e da comparação com o
Considerando esse aspecto, está sen- banco de dados. Se essa mesma pro-
do feito o seqüenciamento total do teína for identificada apenas em teci-
genoma, apenas de organismos com dos ou orgãos que sofreram o ataque
genomas pequenos ou daqueles que de um patógeno Y , esse fato pode
já têm grande financiamento. Por ou- levantar a suspeita de que a proteína

50 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento


X esteja relacionada com os blicos pode ser acessado no
processos de defesa contra o endereço internet http://
organismo Y (função biológi- www.ncbi.nlm.nih.gov/
ca). dbEST/dbEST_summary.html.
Atualmente (Outubro/ No Brasil, projetos genoma têm
2000), mais de 5 milhões de sido principalmente realizados
seqüências, correspondendo no Estado de São Paulo, com o
a genes de vários organismos auxílio da Fapesp (Fundação
estão disponíveis em bancos de Apoio à Pesquisa, do Estado
de dados públicos. Os proje- de São Paulo).
tos genomas, no início dos Como um seqüenciamento
anos 90, começaram seqüen- per si pode ser útil na determi-
ciando principalmente genes nação da biologia de um gene?
abundantes e indicavam que Dependendo do número de
cerca de 60% das seqüências clones seqüenciados e das va-
eram desconhecidos. Como riedades das bibliotecas de
já era de se esperar, pesquisa- Figura 1 - Mutação por cDNAs construídas, é possível
dores das mais diversas áreas foram antisenso. A – Célula não tirar conclusões relacionadas à abun-
depositando informações de seqüên- mutante contendo o gene “X”; dância, expressão temporal e espacial
cias e suas funções no banco de da- B – Construção contendo o de muitos genes. Apesar de muitos
dos. Para muitos desses genes, as gene “X” na orientação desses seqüenciamentos serem feitos
funções foram determinadas pela uti- antisenso; C - Célula “A” trans- a partir do final 5’ do gene, é possível
lização da combinação de uma série formada com construção “B”. ter toda a região codante do gene
de estudos que envolveu caracteriza- Célula da Planta Mutante na devido à presença de clones de cD-
ção de mutantes, níveis e localizações Proteina X NAs derivados de mRNA de diferentes
da expressão gênica, modificações de tamanhos. A bioinformática pode re-
substratos específicos, hibridação in conhecer um bom seqüenciamento,
situ, mapeamento, interação proteína- gênica ou variações de um alelo. Hoje, retirar regiões dos vetores, submeter
proteína in vitro e in vivo entre outros. projetos genomas descrevem que para automaticamente a análise do “Blast”
Essas seqüências gênicas, cujas fun- um “e value” de 10-25 existem cerca de e montar “contigs” ou grupos de se-
ções já estão determinadas, servem de 35% de genes desconhecidos. qüências que tenham “overlaps” e,
suporte para a identificação da função Existe um grande número de pro- com isso, caracterizar membros de
gênica de novas seqüências deposita- jetos genomas sendo desenvolvidos uma família, alelos, “single nucleoti-
das em bancos de dados. Quantos no mundo. Um resumo dos ESTs deo polymorphism” (SNPs) etc.
genes são desconhecidos hoje, com- depositados em banco de dados pú- Nem sempre os projetos genomas
parando-se com o início dos públicos descrevem as seqüên-
anos 90? A comparação de cias desconhecidas. A vanta-
seqüências pode ser feita a gem de um banco de dados
nível de nucleotídeos, amino- disponibilizar as seqüências
ácidos ou de domínios funci- desconhecidas é a oportuni-
onais. As análises de compa- dade que um pesquisador
ração são feitas enviando-se a poder comparar as expres-
seqüência editada para o ban- sões de um gene em outros
co de dados e os resultados organismos e de sugerir pro-
são devolvidos em uma forma váveis funções. As seções a
chamada de “e value”. Quanto seguir descrevem processos
menor esse valor, maior a si- usados para auxiliar a melhor
milaridade da seqüência com descrição da(s) função(ões)
aquela presente no banco de gênica(s).
dados. Cabe ao pesquisador
responsável determinar qual é Genética Direta e Reversa
o limite mínimo para conside-
rar que uma seqüência está qualitativa Genética direta é um processo que
ou quantitativamente representada no Figura 2 - Co-supressão de envolve, inicialmente, a análise do
banco de dados públicos. Apesar do fenótipo e depois o isolamento e a
promotor. O experimento de
sistema de bioinformática estar bas- identificação do gene responsável pela
SDS-PAGE demonstra
tante sofisticado nesses projetos, é característica. Genes têm sido isolados
que a proteína “X” não existe
difícil para um computador indicar o por clonagem posicional, mutagênese
mais na planta transgênica
que pode ser considerado um novo com inserção de transposons ou de T-
contendo a construção gênica
gene, um membro de uma família DNA, por escrutínio de bibliotecas de
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 51
DNA expresso e por técnicas modificado (homozigose). A
de expressão diferencial (diffe- planta homozigota para o gene
rental display). modificado de interesse pode
Com o aumento da capaci- apresentar ou não um fenótipo
dade de clonar, modificar e aparente, mas as plantas com
examinar as atividades biológi- os fenótipos mutantes eviden-
cas de segmentos de DNA, a tes podem proporcionar uma
caracterização de um gene pode forma rápida de correlacionar
também ser realizada pela uti- o fenótipo com o gene modifi-
lização de uma rota inversa, cado. Métodos de distúrbio da
denominada de genética rever- função gênica, via recombina-
sa. Esse novo processo parte ção homóloga têm sido descri-
de um gene cuja estrutura mo- tos para leveduras e ratos, sen-
lecular é conhecida e procede do poucos os casos descritos
por explorar a contribuição do em plantas. Uma aplicação com
gene para um determinado fe- sucesso da recombinação ho-
nótipo. Assim sendo, um cami- móloga, em plantas foi a de-
nho experimental parte do gene monstrada para o gene AGL
como uma seqüência de nucle- MADS-box, em Arabidopsis.
otídeos para a sua função cor-
respondente. Sendo a seqüência do Figura 3 - Identificação de um Antisenso
gene conhecida, sua função pode ser gene utilizando transposon por
desvendada pela sua inativação por meio de genética direta. A A metodologia do antisenso envol-
meio da recombinação homóloga com grande maioria dos indivíduos ve a introdução, na célula, de molécu-
uma seqüência defeituosa, ou pela F1 do cruzamento entre um las de RNA ou de DNA, construídas
diminuição da sua expressão por téc- indivíduo “A” contendo um artificialmente, que sejam complemen-
nicas de antisenso ou de co-supres- transposon ativo com o indiví- tares (antisenso) ao RNA mensageiro
são. duo mutante de interesse “B” (mRNA) do gene de interesse. Uma
serão normais devido à comple- das hipóteses para explicar o motivo
Técnicas de Genética Reversa mentação do alelo normal da pelo qual o RNA antisenso pode cau-
Usadas para Manipular Genes e linhagem “A”, contudo, em uma sar mutações no organismo transfor-
para Produzir Organismos freqüência baixa na população mado é o fato de que estas moléculas
Mutantes F1, o transposon estará inserido de RNA ou de DNA artificiais se ligam
no locus do indivíduo “A” ao mRNA celular, inativando-o (Fig.
Mutação por Perda da corresponde ao gene mutado do 1). Usando essa tecnologia, o antisen-
Função Gênica indivíduo “B”. Nesse caso, o so do gene da chalcone sintase (chs),
indivíduo F1 será semelhante ao responsável pela pigmentação das flo-
Nesse próximo seguimento de- indivíduo “B”. Dessa forma o res, foi introduzido em plantas de
monstraremos como técnicas de re- alelo mutado do indivíduo “B” petúnia e de tabaco, resultando em
combinação homóloga, antisenso e pode ser substituído pelo plantas com alteração na pigmenta-
co-supressão podem ser empregadas transposon, um marcador ção das suas flores (fenótipo mutan-
para mutar um gene conhecido, fa- conhecido, através de cruzamen- te). Sheehy et al. (1988) também usa-
zendo com que ele se torne não fun- tos, e o gene de interesse ram a tecnologia do antisenso para
cional e a importância das plantas identificado através da constru- inibir a produção de enzimas respon-
transgências como importantes ferra- ção de uma biblioteca genômica sáveis pelo desenvolvimento do fruto
mentas cientifícas para auxiliar na iden- do tomate, produzindo, assim, um
tificação da função gênica. tomate mutante com o amadureci-
mento retardado.
Recombinação Homóloga móloga, criando um organismo mu-
tante. Um gene marcador pode ser o Co-supressão
A recombinação homóloga é a gene bar de seleção para o herbicida
alteração de uma pequena parte da fosfinotricine (PPT). As plantas con- Na técnica de co-supressão, um
seqüência de um gene de interesse tendo o gene modificado com o mar- gene de interesse é engenheirado por
que geralmente é feita com a incorpo- cador são selecionadas na presença meio de técnicas de biologia molecu-
ração de um gene marcador e a rein- do herbicida e, após ficar demonstra- lar, para superexpressar uma proteína
trodução desse gene mutado no orga- do a incorporação do gene modifica- de interesse. Uma vez que a célula
nismo de origem. Uma vez dentro do do no genoma da planta transforma- possui uma maquinaria minuciosa-
organismo de interesse, o gene muta- da, essa é autofecundada e, por estu- mente ajustada, qualquer alteração
do tem a capacidade de substituir o dos moleculares, é possível identificar nos níveis de expressão de uma pro-
gene nativo pela recombinação ho- a planta que tenha apenas o alelo teína produz uma grande confusão
52 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento
contrário do que seria espera- plementar ao final do transposon e
do, forma-se, então, um orga- outro complementar ao final do gene.
nismo mutante, que não pro- Dessa forma, os produtos de Polime-
duz a proteína de interesse. rase Chain Reaction (PCR) só serão
Isso pode acontecer a nível de obtidos se um transposon estiver inse-
gene ou a nível de promotor. rido no gene de interesse. Genes que
Um exemplo de co-supressão tiveram sua expressão alterada pela
a nível de promotor é demons- inserção do transposon são recupera-
trado na Figura 2 onde um dos por meio da amplificação por PCR
mutante foi produzido não na do DNA extraído do indivíduo com
proteína que estava sendo su- fenótipo mutante. Esse processo tem
perexpressa, mas na proteína sido utilizado na identificação de ge-
de onde foi retirado o promo- nes em Caenorhabditis elegans e mi-
tor. Embora seja difícil compre- lho.
ender como a superexpressão A família dos transposons Mutator
de um gene possa ocasionar a (Mu) em plantas apresenta altas taxas
diminuição da síntese de sua de mutações e tem alto grau de con-
proteína, vários experimentos servação nas extremidades das se-
têm sido realizados demons- qüências invertidas. Essas duas carac-
trando a ocorrência desse fato. terísticas são bastante interessantes,
O primeiro resultado de co- pois ajudam a selecionar alelos que
Figura 4 – TUSC (Trait Utility supressão foi obtido por meio de um contenham os elementos Mu cuja se-
System in Corn). Plantas conten- estudo envolvendo a variação da co- qüência é previamente conhecida. In-
do transposons ativos são multi- loração de flores de petúnia pela serções dos elementos Mu podem ser
plicadas para a montagem de introdução do gene da chs sob o identificadas pela amplificação por
uma biblioteca de mutantes. controle do promotor 35S. PCR. O gene mutado pode, então, ser
Conhecendo a freqüência com recuperado e propagado em semen-
que o transposon se multiplica e Mutação por Inserção de tes F2. Outros aspectos importantes
se insere em regiões codantes, Transposon ou T-DNA desse processo, e essenciais para a
pode-se calcular teoricamente o análise de um menor número de plan-
número de plantas necessárias Transposons tas, são o número de transposição e o
para se ter um transposon em número de cópias do transposon Mu
cada gene. Cada planta mutante Transposons são elementos de na planta. A tecnologia de caracteriza-
é autofecundada e as sementes DNA que têm a capacidade de sair de ção de funções gênicas através do Mu
estocadas. Uma reação de PCR é uma região do genoma e se incorpo- foi utilizada pela primeira vez em
feita com DNA extraído de folhas rar em outra. Sendo o movimento do milho pela Pioneer Hi-Bred Co., sen-
de grupos de plantas dessa transposon um processo aleatório, do denominada Trait Utility System
biblioteca de mutantes, usando- quando estes elementos “pulam” em (TUSC) (Fig. 4). Bensen et al. (1995)
se um primer do transposon e um genoma, podem se inserir no utilizaram a técnica do TUSC para
um primer do gene (a seqüência meio de um gene, tornando-o inativo. caracterizar o mutante Anther ear1
de ambos é conhecida). A Em plantas, uma série de transposons (An1), cujo produto gênico está en-
hibridação é feita para auxiliar têm sido usados como ferramenta, volvido na síntese do primeiro inter-
no escrutínio de um grande tanto na genética direta quanto na mediário tetracíclico na via da biossín-
número de plantas. Os grupos de reversa, para isolamento e caracteri- tese de giberelina (GA). A mutação
plantas cujo sinal foram positivos zação de vários genes ou fenótipos. O An1 resultou em um fenótipo respon-
são subdivididos até que seja princípio da técnica está descrito na sivo à GA, que inclui uma altura redu-
encontrada a planta que conte- Figura 3. O primeiro gene de planta zida de planta, atraso na maturidade e
nha o transposon inserido no clonado por transposon, via genética desenvolvimento de flores perfeitas
gene. Para aumentar a chance de direta, foi o gene “bronze”, de milho, em espigas normalmente pestiladas.
encontrar a planta mutante, testa- que codifica UDP-glucose:flavonóide Um projeto financiado pela Natio-
se uma série de primers de um 3-O-glucosiltransferase, uma enzima nal Science Foundation (NSF) coor-
único gene simultaneamente da via metabólica das antocianinas denado pela Dra. Virginia Walbot (Uni-
(Fedoroff et al., 1984). versidade de Stanford, EUA) tem por
A genética reversa usando mutan- objetivo demonstrar a funcionalidade
tes por inserção de transposons foi de genes de milho usando dois méto-
nos mecanismos de regulação celular. descrita, inicialmente, em Drosophila dos complementares: o seqüencia-
Como conseqüência, na maioria das melanogaster. Essa metodologia é ba- mento de DNA genômico flanquean-
vezes, a superexpressão de uma pro- seada em uma reação em cadeia da do as inserções do transposon Mu e a
teína na célula faz com que a produ- polimerase (PCR – Polymerase Chain identificação e caracterização dos in-
ção dessa proteína seja desligada e, ao Reaction), que utiliza um primer com- divíduos mutantes contendo esses
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 53
transposons. Um banco de mu- da, grupos ou supergrupos po-
tantes está sendo criado usando dem ser organizados em matri-
plantas transformadas com os zes de duas ou três dimensões
elementos Mu contendo o plas- para facilitar a determinação fi-
mídeo Bluescript (Fig. 5). A nova nal do indivíduo carregando a
inserção contendo o transposon inserção desejada. As reações
poderá ser seletivamente clona- de PCR são realizadas em su-
da direto em E. coli, gerando pergrupos de DNA usando-se
uma biblioteca de mutação in- combinações de oligonucleotí-
sercional para análise de DNA. deos do gene e do elemento de
Cada planta F2 será autofecunda- inserção. Os produtos de PCR
da e as sementes serão estocadas são carregados em um gel de
no “Maize Genetics Cooperative agarose, transferidos para mem-
Stock Center”, um órgão especi- brana e hibridizados com son-
almente criado para armazenar das produzidas a partir do gene
os estoques de sementes muta- de interesse e do elemento de
das. Os usuários poderão utilizar Figura 5 – Projeto NSF coorde- inserção. Apesar do PCR ape-
a técnica de PCR para seleção de uma nado pela Drª. Virginia Walbot nas permitir a amplificação do gene
coleção de plasmídeos que foram in- (University of Stanford). O mutado pelo elemento de inserção,
seridos em genes de interesse. Cerca transposon contendo uma marca “backgrounds” podem ocorrer. Desta
de 50.000 ESTs, flanqueadas pelo trans- de seleção para resistência à forma, apenas as bandas que hibridi-
poson Mu, já foram completamente ampicilina em bactéria é transfe- zarem com ambas sondas serão leva-
seqüenciados durante o primeiro ano rido para o milho por transfor- das adiante. Uma vez que o produto
do projeto. O objetivo final é seqüen- mação. As plantas são multiplica- de PCR tenha sido confirmado e se-
ciar cerca de 150.000 segmentos de das e são feitas bibliotecas qüenciado, o supergrupo pode ser
DNA genômico contendo inserções genômicas a partir de colunas e subdividido em grupos cada vez me-
do transposon Mu. fileiras de plantas contendo esses nores. A determinação final da linha
transposons engenheirados, mutante pode ser obtida em menor
T-DNA inseridos aleatoriamente no tempo, dependendo do esquema de
genoma. Os plasmídeos origina- agrupamento dos DNAs.
O T-DNA é um segmento de DNA dos da biblioteca genômica
presente no plasmídeo Ti (DNA não contendo esse cassetes são Uso de Microarrays de DNA
cromossômico) de Agrobacterium tu- seqüenciados e as plantas que para Estudar a Expressão de
mefaciens, uma bactéria de solo que contêm os transposons inseridos Genes em Todo o Genoma
causa tumores quando infecta plan- nos genes de interesse são de Um Organismo
tas. O tumor é causado pela capacida- identificadas
de da bactéria de transferir seu T-DNA O microarray é uma metodologia
para as células vegetais. O T-DNA utilizada para comparar a expressão
contém genes que codificam hormô- et al., 1990). de um grande número de genes, si-
nios e aminoácidos necessários à so- Genética reversa em Arabidopsis multaneamente. Essa técnica empre-
brevivência da Agrobactéria dentro da usando grandes populações de plan- ga arranjos (arrays), que contêm um
planta. Cientistas descobriram que tas mutadas, com um elemento de grande número de genes robotica-
podiam alterar este fragmento de DNA inserção, taes como o T-DNA de A. mente distribuídos de forma ordenada
substituindo os genes nativos por tumenfaciens. Grandes populações sobre placas de vidro. A quantificação
qualquer gene de interesse e, que de plantas mutantes foram geradas dos níveis de expressão na tecnologia
esses novos genes continuariam sen- para constituir uma biblioteca de in- de microarray é baseada em experi-
do transferidos para as plantas pelo serção. Em Arabidopsis, uma unidade mentos onde os milhares de clones de
sistema mediado pela bactéria. A par- de transcrição tem em média 2.5 kb cDNA são hibridizados com duas son-
tir dessa descoberta, o T-DNA passou (intron e exon), o que significa que das marcadas com diferentes fluores-
a ser usado como uma ferramenta na um genoma de 100 Mb pode ser cências (geralmente uma que emite
genética direta e reversa de maneira dividido em cerca de 40.000 genes. cor vermelha e outra, verde). As son-
semelhante aos transposons. O T- Para ter 95% de chance de acertar um das podem ser conjuntos de cDNAs
DNA se insere aleatoriamente no meio dos genes, são necessárias 120.000 gerados a partir de células ou de
de genes tornando-os não funcionais inserções aleatórias independentes. O tecidos em duas situações diferentes
e produzindo um organismo mutante. DNA é extraído de plantas mutageni- que se deseje comparar (por exem-
A função do gene Agamous de Arabi- zadas e agrupadas em grupos maio- plo: resistência e suscetibilidade ao
dopsis foi caracterizada como sendo res. Inserções simples podem ser de- alumínio). Os resultados são produzi-
um regulador transcricional necessá- tectadas por PCR em grupos de cerca dos sob forma de diferentes intensida-
rio para o desenvolvimento floral uti- de milhares de indivíduos. Depen- des de fluorescência, que são capta-
lizando essa metodologia (Yanofsky dendo da natureza da população usa- das por microscopia de fluorescência
54 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento
a laser, em função dos diferentes rie de fatores específicos.
níveis de expressão de cada gene. A análise de expressão gêni-
A imagem dos pontos fluores- ca em grande escala oferece
centes é processada por compu- grandes vantagens, porém esse
tadores e programas específicos, processo possui limitações. Uma
sendo gerada simultaneamente clara limitação na aplicação des-
uma grande quantidade de in- sa tecnologia é a grande quan-
formação (Fig. 6). tidade de RNA necessária du-
A tecnologia de microarrays rante a etapa de hibridação. A
não fornece apenas informações quantidade de RNA total para
sobre a função de genes anôni- uma hibridação é de 50 a 200 µg
mos, o que favorecerá bastante (2 a 5 µg para mRNAs). Certa-
os processos de genética rever- mente, os resultados gerados
sa, mas também constitui uma por esse processo não determi-
ferramenta indispensável para nam a função de um gene, mas
estudos globais de expressão fornecem uma forte ferramenta
gênica, com grandes aplicações para a sua compreensão. Os
nos estudos de biologia molecu- resultados fornecidos por esse
lar e fisiologia vegetal. Apesar do processo servem para indicar
microarray ser um dot blot de Figura 6 - Análise de expressão genes candidatos interessantes
RNA, grande número de conclusões gênica usando microarray. O para estudos mais detalhados. Estu-
podem ser tiradas com o uso desse mRNA total de cada situação é dos adicionais terão de ser feitos para
processo. usado para preparar sondas de verificar se os níveis de transcrição
Uma importante aplicação da tec- cDNA usando a transcriptase alterados refletem mudanças na sínte-
nologia de microarray é o fato que reversa na presença de um se ou “turnover”. Além disso, uma
muitos arrays podem ser produzidos nucleotídeo marcado com fluo- resposta diferente pode estar relacio-
para servir como uma plataforma co- rescência. Um dos grupos de nada com processos pós-transcricio-
mum entre vários pesquisadores. Se mRNA é marcado com um nais como fosforilação, metilação, gli-
aclopado para o desenvolvimento de nucleotídeo com fluorescência colisação, etc.
um banco de dados centralizado, os verde e o outro, com fluorescên- Devido a essa grande capacidade
pesquisadores serão capazes de pes- cia vermelha. As duas sondas são de análise de transcritos ao mesmo
quisar em multiplos grupos de dados misturadas e hibridizadas com o tempo, a tecnologia de microarray
diferentes padrões de expressão de DNA no microarray. Assim, a pode, muitas vezes, antecipar os pro-
interesse. Com essa tecnologia, será relativa abundância de cada jetos genomas de seqüenciamento es-
possível acessar o impacto de específi- mRNA é comparada por um trutural e funcional. Os microarrays
co tratamento, fatores ambientais, está- analisador de imagem através do hoje são construídos a partir de clones
gios de desenvolvimento e efeitos na sinal gerado pelas duas sondas. O conhecidos. Essa etapa envolve se-
expressão global de todos os genes em objetivo do processo é identificar qüenciamento de genes, identificação
um transgênico, estudos envolvendo genes cujos sinais gerados foram de clones em placas de estoque, ma-
heterosis e produtividade, análise com- mais voltados para o verde ou nipulações desses clones para novas
parativa de organismos de genomas para o vermelho. Aqueles clones, placas de estoque, reações de PCR e
menores, como vírus, melhoramento cujo mRNA não são diferencial- eletroforese em gel de agarose para
assistido por marcadores, fingerprin- mente expressos entre as duas confirmar a eficiência do processo,
ting e escrutínio de germoplasma para populações de mRNA, terão uma etc. Uma nova idéia que tem surgido
identificar genes envolvidos em pro- cor intermediaria entre verde e é o uso de microarrays sem o seqüen-
cessos específicos, entre outros. Devi- vermelho, aqui representada pela ciamento prévio. Clones de bibliote-
do a informação gerada por estudos de cor amarela. Os clones represen- cas normalizadas são submetidos a
microarrays ser quantitativa, mudan- tados pela cor cinza representam amplificação do inserto por PCR e
ças súbitas na expressão de um gene aqueles que estão representados automaticamente transferidos para o
podem ser detectadas e podem substi- em pequenas quantidades nas microarray. Assumindo que a quanti-
tuir metodologias de subtração e “diffe- sondas. Toda a análise de ima- dade de clones raros tenha aumenta-
rential display”. gem é feita em um computador do em relação aos abundantes na
Apesar da obtenção de “cDNAs” de que calcula intensidade de sinal normalização da biblioteca, e que, em
organismos procariotas ser difïcil devi- gerado na hibridação cada lâmina de vidro, podem ser orga-
do principalmente à falta do poli A+ e nizados pelo menos 10.000 clones, o
à alta instabilidade dos mRNAs, esses processo pode tornar-se bem mais
organismos ainda são um excelente variabilidade de mutantes disponíveis. simples e interessante. Clones relacio-
sistema para análise de microarray Estudos de microarrays podem ser nados com o estresse poderiam ser
devido principalmente ao seu genoma usados para comparar o organismo isolados com base na confecção de
pequeno (em torno de 3 Mb) e a grande selvagem com mutantes, em uma sé- uma biblioteca de cDNA de raiz de
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 55
uma planta tolerante ao es- mento de DNA. Isso faz
tresse, e sondas de cDNAs microarrays baseado em
da planta tolerante e da oligonucleotideos parti-
planta susceptível ao mes- cularmente apropriados
mo estresse marcados com para genotipagem e apli-
duas fluorescências dife- cações de seqüencia-
rentes. Um robô de micro- mento. A maior desvan-
array é capaz de colocar tagem do microarray
16 amostras em 48 placas baseado em oligos é que
de vidro, lavar e secar a sua construção depende
sonda para o próximo gru- da disponibilidade de um
po de cDNA em 70 segun- banco de dados seguro.
dos. Assim, cerca de 10.000 Ao contrário de micro-
amostras podem ser im- arrays baseados em frag-
pressas em, aproximada- mentos de DNA, infor-
mente, 12 horas. Vários sis- Figura 7 - Identificação de mações de seqüências
temas robotizados mais rápidos e efi- interação proteína-proteína (in não são necessárias para a constru-
cientes para a impressão e processa- ção. Em comparação à dot blots de
vitro).
mento dos cDNA nas placas de vidro, clones arranjados em membranas de
A) A proteína de interesse é
além de metodologias cada vez mais filtro, microarrays são mais sensíveis,
clonada em um vetor de expres-
sensíveis e precisas para detecção e exibindo uma dinâmica mais ampla e
são em bactéria que permite a
análise dos resultados têm sido desen- permitindo uma análise simultânea de
sua purificação em uma coluna
volvidos e disponibilizados. No exem- duas sondas complexas. Assim, ape-
de afinidade. Um extrato de
plo anterior, apenas clones expressos sar dos dot blots poderem ser apropri-
proteínas produzido nas células
diferencialmente seriam seqüenciados. ados para pequena escala, apenas
vegetais é também submetido à
Portanto, mesmo que tenhamos clo- microarrays baseados em fragemen-
coluna que já contém fixada a
nes repetidos, estaremos com um nú- tos de DNA podem fornecer análises
proteína de interesse. A coluna é em escala genômica. Uma desvanta-
mero de clones para seqüenciamento
bastante reduzido em relação a um lavada e as proteínas que intera- gem do processo, similar em qualquer
seqüenciamento aleatório. Se na prá- girem com a proteína de interes- outro método de hibridação, é o fato
tica de microarrays pode, ou poderá se podem ser seqüenciadas ou de que hibridação cruzada entre mem-
em um futuro próximo, ser usado sem usadas para produzir anticorpos bros de uma família gênica pode ocor-
auxílio de “classificação” prévia dos que serão utilizados em uma rer, ocasionando uma análise confusa
clones, grupos que tenham, ou este- biblioteca de expressão de de expressão gênica de membros de
jam desenvolvendo, organismos con- cDNA. uma mesma família.
trastantes para diversas caraterísticas B) Proteínas “X” e “Y” produzi-
de interesse, estarão com excelentes das em E. coli são misturadas e SAGE (Serial Analysis
ferramentas para ajudar a identificar passadas através de uma coluna of Gene Expression)
os genes envolvidos em vários pro- de níquel. Se a proteína “Y”
cessos fisiológicos. Linhas recombi- interagir com a “X”, ambas SAGE é a extensão lógica do se-
nantes provinientes de cruzamentos ficarão retidas na coluna. O qüenciamento de EST. Um inventário
de indivíduos contrastantes e mutan- processo pode ser visualizado de mRNAs é feito com base no se-
tes são as melhores opções, atualmen- por anticorpos ou raio-X, caso a qüenciamento de cDNAs curtos, clo-
te, para as análises de microarrays. proteina “Y” esteja marcada com nados em tandem. O tamanho desses
radioatividade cDNAs é o suficiente para identificar
Vantagens e desvantagens do genes correspondentes no banco de
microarray baseado em dados. O padrão de restrição desses
fragmentos de DNA rays baseados em fragmentos de DNA. genes diferentes está relacionado com
O potencial de colocar clones em a abundância relativa de cada cDNA.
Existem basicamente dois proces- locais errados pode ser evitado no Os padrões gerados pelo SAGE
sos em que os microarrays podem ser método do oligo porque são sintetiza- têm sido estudados em humanos e em
confeccinados. Um é a impressão de dos in situ, baseado na seqüência do levedura, contudo têm sido pouco
oligos e o outro, os de framentos de gene obtido diretamente do banco de utilizados em plantas. Um pré-requisi-
DNA previamente isolados na lâmina dados. Além disso, devido à seqüên- to para a identificação dos ESTs é a
de vidro. O microarray baseado em cia que os hibridiza no microarray disponibilidade de um banco de da-
oligos, em particular aqueles produzi- baseado em oligo ser muito curta (20 dos grande para a espécie estudada.
dos por método de fotolitografia, tem a 25 nucleotídeos), as reações de Essa técnica é poderosa, mas não é
alta densidade (250.000 olinucleotide- hibridação são muito sensíveis na tro- conveniente para a comparação de
os/cm2) e são mais consistentes nos ca de um simples nucleotídeo, ao muitas amostras diferentes e para o
arrays comparados com os microar- contrário do método baseado no frag- estudo de transcritos raros.
56 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento
Proteomics – Estudo do Perfil proteína em estudo e identificar
Protéico de Um Organismo regiões dentro de uma proteína
que são importantes no processo
Cientistas têm utilizado o ter- de reconhecimento e da interação.
mo “proteomics” para descrever Existe um grande número de alter-
as análises do perfil protéico de nativas e variações para estudar as
um organismo. O comportamen- interações entre proteínas (Fig. 7).
to de muitas proteínas em um Apesar de bastante informativas,
proteoma pode ser monitorado as reações in vitro podem masca-
por meio de géis de eletroforese rar os resultados reais devido à
em duas dimensões. Nesse pro- impossibilidade de se reproduzir
cesso, proteínas provenientes de Figura 8 - Interação proteína- in vitro todas as condições exis-
células ou de tecidos em duas condi- proteína in vivo. A- O ativador de tentes nas células in vivo. Por esse
ções fisiológicas diferentes (por exem- transcrição GAL4 possui dois motivo, foram desenvolvidos proto-
plo, plantas resistentes e sensíveis a domínios: um que se liga ao DNA colos que estudam a interação entre
uma determinada doença ou condi- e outro que ativa a transcrição; B proteínas in vivo.
ção de estresse) são extraídas, aplica- e C - Os dois domínios foram Uma maneira eficiente para detec-
das em géis e comparadas qualitativa separados: o primeiro pode ser ção de interação in vivo é utilizar o
e quantitativamente. As proteínas pre- fundido à proteína de interesse sistema híbrido duplo de levedura.
sentes em apenas um dos géis ou que Esse processo constitui a construção
(B) e o segundo, à proteína
tenham a sua quantidade alterada são de duas proteínas de fusão, por enge-
desconhecida (C); D - As colônias
fortes candidatadas para atuarem no nharia genética. Uma delas gera um
de levedura contendo os dois
controle do processo em estudo. A híbrido entre seqüências para um do-
plasmídeos cujas proteínas intera-
partir da identificação das proteínas mínio que se liga ao DNA do fator de
gem serão azuis em meio conten-
de interesse, pode-se, utilizando-se as transcrição Gal4 (aminoácidos 1-147)
do X-GAL (substrato para a
técnicas de biologia molecular, isolar e a proteína de interesse. Um segundo
enzima), devido à resconstituição
sua seqüência gênica e caracterizá-la. plasmídeo de expressão contém uma
do fator de transcrição GAL4 e à
seqüência que ativa o fator de transcri-
ativação do gene da beta-galacto-
Localização Celular de um ção Gal4 (aminoácidos 768-881) fun-
sidase (lac Z)
mRNA ou Proteína para dida com cDNAs (Fig. 8). Os cDNAs
Inferir sobre sua Função são provenientes de bibliotecas de
onde existem genes candidatos. Des-
Os genes são transcritos em molé- sa forma, se as duas proteínas expres-
culas de RNAs mensageiros (mRNA), localização da molécula dentro de um sas na levedura são capazes de intera-
que são traduzidos em proteínas. Es- organismo podem ser programados gir, o complexo resultante ativará a
sas são transportadas para locais espe- experimentos mais refinados para a transcrição dos promotores contendo
cíficos dentro da célula de um deter- definição de sua função. Técnicas de sítios de ligação para o Gal4, gerando
minado tecido ou organismo. Enquan- hibridizações in situ têm sido ampla- uma colônia azul em meio contendo
to alguns genes codificam para prote- mente utilizadas para localizar genes e um substrato apropriado (X-GAL). O
ínas que são expressas em todas as os seus produtos em cromossomos, sucesso dessa metodologia foi primei-
células de um indivíduo durante toda tecidos e células de diversos organis- ramente demonstrado pela interação
a sua vida (genes constitutivos), ou- mos. Gal4-Gal80 (Fig. 8).
tros codificam para proteínas que são
expressas apenas em algumas células, Interação Proteína-Proteína Conclusão
ou em um determinado período de
desenvolvimento, ou em resposta a A caracterização da função gênica Desde a redescoberta das leis de
algum estímulo externo (genes teci- pode ser auxiliada por meio de estu- Gregor Mendel, cientistas começaram
do-específicos). A localização de uma dos de interação proteína-proteína in a questionar a natureza do gene. Que
proteína ou de seu mRNA nas células vitro e in vivo. A observação de que tipo de molécula seria o gene? Como
ou tecidos onde são produzidos é uma proteína, cuja função é desco- a informação contida em uma molé-
uma importante fonte de informação, nhecida, interage com uma que é cula poderia ser transmitida para as
que pode auxiliar na determinação da conhecida pode sugerir que as duas próximas gerações? Por que e como
função de um gene ou proteína. Um proteínas fazem parte do mesmo pro- apareceriam indivíduos mutantes?
dos princípios dessa metodologia é a cesso ou que podem estar localizadas Apenas em meados do século XX,
identificação do mRNA ou da proteína no mesmo compartimento celular. Os com a descoberta da estrutura do
de interesse por meio de sondas espe- dois tipos de testes (in vitro e in vivo) DNA por Watson e Crick, essas e
cíficas. As sondas após se ligarem à podem ser usados para verificar a muitas outras questões começaram a
proteína ou ao mRNA em estudo são existência de interação entre duas ser respondidas. Nas primeiras três
detectadas com o auxílio de técnicas proteínas conhecidas, identificar no- décadas após a compreensão da es-
de microscopia. Uma vez conhecida a vas proteínas que interagem com uma trutura do DNA, o conhecimento a
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 57
mente, um único laborató-
rio pode seqüenciar 1000
(ou mais) genes por dia.
Um pesquisador pode utili-
zar os dados gerados e che-
gar a conclusões muito mais
precisas sobre a função de
um gene em poucas sema-
nas de trabalho, do que
outro, em muitos meses de
trabalho, há alguns anos
atrás. Hipóteses podem ser
testadas muito mais rápida
e precisamente. Está haven-
do um redirecionamento na
maneira como os grupos
conduzem seus projetos de
pesquisas na área da biolo-
Figura 9 - Esquema dos plasmí- gia molecular. A primeira
dios usados no sistema de fase dos chamados projetos
levedura de híbrido duplo. Os genoma, seqüenciamento
plasmidios pAS2 e pACT2 de genes, está gerando uma
contêm as proteínas de fusão de grande quantidade de informações, as Figura 10 - Processo de seleção
ligação no DNA (DBD) e ativa- quais serão provavelmente, multipli-
de leveduras contendo os
ção de transcrição (DAD), cadas com a implementação da se-
plasmídios pAS2 e pACT2 e
respectivamente. Os genes Trp e gunda fase, ou seja, com a análise
seleção das leveduras contendo
Leu permitem que a levedura funcional do material seqüenciado.
interação entre as proteínas “X”
cresça em meio sem triptofano e Neste texto foram mencionadas meto-
e “Y”
leucina. O gene Ap seleciona os dologias que têm por objetivo auxiliar
plasmídios em Escherichia coli. na identificação da função gênica tan-
HA é a proteína hemoaglutinina to em âmbito bioquímico como bioló-
e pode ser usada como proteína gico. Entre elas, os microarrays têm aumento da qualidade nutricional,
repórter de leveduras transfor- revolucionado a análise funcional de entre outras características de interes-
madas seqüências gênicas em grande escala, se econômico.
uma vez que diferenças nos níveis de
expressão de milhares de genes po- Referências
respeito de sua biologia cresceu fan- dem ser detectados simultaneamente.
tasticamente. Dentro desse período, Desta forma, vários genes ainda des- BENSEN, R.J.; JOHAL, G.S.; CRA-
ficou conhecida a natureza química conhecidos poderão ter suas funções NE, V.C.; TOSSBERG, J.T.; SCHNA-
dos genes, como a informação gené- biológicas desvendadas utilizando esse BLE, P.S.; MEELEY, R.B.; BRIGGS, S.P.
tica era armazenada, como as células processo. Em um futuro não muito (1995). Cloning and characterization
respondiam a essa informação e como distante, ao invés de se comprarem of the maize An1 gene. Plant Cell 7:
ela era transmitida de uma geração “kits” para construção de bibliotecas, 75-84.
para outra. serão compradas bibliotecas já arran- FEDEROFF, N.V.; FURTEK, D.B.;
A partir dos anos 70, cientistas jadas em matrizes, e o pesquisador NELSON, O.E. (1984). Cloning of the
aprenderam a manipular a molécula testará sondas diferentes. Os resulta- bronze locus in maize by a simple and
de DNA utilizando as técnicas de bio- dos serão organizados não mais em generalized procedure using the trans-
logia molecular. Inaugurou-se a era da ESTs, mas em níveis de expressão posable element Activator (Ac). Proc.
tecnologia do DNA recombinante, tam- desses genes sob diferentes condi- Natl. Acad. Sci. USA 81: 3825-3829
bém denominada engenharia genéti- ções. As metodologias de análise gê- SHEEHY, E.R.; KRAMER, M.; HI-
ca. Desde então, a biologia molecular nica, tanto individuais quanto em lar- ATT, W.R. (1988). Reduction of poly-
tem experimentado grandes avanços ga escala, fornecerão um acesso a galacturonase activity in tomato fruit
tecnológicos que têm culminado em informações sem precedentes para by antisense RNA. Proc. Natl. Acad.
importantes fontes de conhecimento todas as áreas da biologia. Entre elas, Sci. USA 85: 8805-8809.
sobre a função, expressão e regulação a agropecuária será amplamente be- YANOFSKY, M.F.; MA, H.; BOW-
de genes em diferentes organismos. neficiada, uma vez que existe grande MAN, J.L.; DREWS, G.N.; FELDMANN,
Trabalhos de isolamento, seqüencia- necessidade de identificar e de estu- K.A.; MEYEROWITZ, E.M. (1990). The
mento e caracterização de um ou dar genes que sejam responsáveis por protein encoded by the Arabidopsis ho-
poucos genes eram comumente pu- conferir resistência a doenças, tole- meotic gene agamous resembles trans-
blicados até a década de 90. Atual- rância a estresses bióticos e abióticos, cription factors. Nature 346: 35-39.
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