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Jairo José de Oliveira Andrade (1); Thiago Ricardo Santos Nobre (2)
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo principal avaliar a penetração de cloretos em concretos moldados
com o cimento Portland branco (CPB) e o cimento de alta resistência inicial (CP V ARI) através de ensaios
de longa duração. Para tanto, foram moldadas vigas de concreto (10 x 20 x 50 cm), através do método
IPT/EPUSP com 3 relações a/c (0.4, 0.5 e 0.6). O perímetro das mesmas foi impermeabilizado com resina
epóxi para permitir apenas o fluxo unidimensional de cloretos. Os corpos-de-prova foram colocados em
soluções de NaCl com concentração de 3,5 % durante 6 meses, onde passado esse período foram retiradas
amostras de concreto a cada 5 mm de profundidade, sendo determinados os teores de cloretos totais em
laboratório. Os resultados mostraram a influência do tipo de cimento e da relação a/c na penetração de
cloretos no concreto.
Palavras-Chave: cimento branco; cloretos; durabilidade; ensaios não acelerados.
Abstract
The present work had as main objective to evaluate the chloride penetration in concretes made with the
white cement (CPB) and the early-age resistance cement (CP V ARI) through non-accelerated tests.
Concrete beams (10 x 20 x 50 cm) were made through the IPT/EPUSP mix design with 3 w/c ratios (0.4, 0.5
and 0.6). The perimeter of the test specimens was recovered with epoxi resin to just allow the chloride flow in
one direction and after they were placed in NaCl solutions (3,5%) for 6 months. After were retired concrete
samples to each 5 mm depth, for the measurement of total chloride in laboratory. The results showed the
influence of the cement type and the w/c ratio in chloride penetration in concrete.
1 Introdução
Hoje em dia a grande maioria das investigações realizadas para a previsão da vida útil
das estruturas são conduzidas sob condições aceleradas em laboratório. Tal
procedimento é, às vezes, necessário, pois a realização de experimentos de longa
duração consome muito tempo e recursos para a obtenção dos resultados. Geralmente
dois tipos de ensaios acelerados são empregados para avaliar a penetração de cloretos
através do concreto. O primeiro deles é o ensaio de migração apresentado por ANDRADE
(1993). O outro é o ensaio de penetração acelerada de cloretos, regido pela ASTM 1202
(1992). Para ambos os ensaios, uma diferença de potencial é aplicada entre duas faces
de um corpo-de-prova de concreto com formato de disco inserido entre duas câmaras,
onde uma contém geralmente NaCl e a outra NaOH. Em seguida é aplicada a diferença
de potencial, sendo da ordem de 12 V para o caso do ensaio de migração e de 60 V para
o ensaio de penetração acelerada de cloretos, de acordo com PEREIRA (2001). Tais
ensaios são bastante criticados por alguns pesquisadores, pois modificam
significativamente o comportamento do sistema pela elevada tensão imposta aos corpos-
de-prova, além de aumentar a temperatura dos espécimes ensaiados. Os mesmos se
mostram adequados para a realização de comparações de desempenho entre tipos
diferentes de materiais, mas não fornecem subsídios adequados para prever a vida útil de
uma estrutura em condições normais de utilização.
Sendo assim, é de fundamental importância que sejam conduzidos ensaios de longa
duração para que a penetração de cloretos ocorra normalmente, representando o
fenômeno que acontece em uma estrutura real. Dentro desse contexto, THOMAS e
BAMFORTH (1999) realizaram um estudo onde foram inseridos blocos de concreto na
costa da Inglaterra e foram medidos os teores de cloretos por um período de 8 anos, onde
os autores verificaram a influência da cinza volante e da escória de alto-forno na
penetração de cloretos. ASRAR et al. (1999) avaliaram o efeito da incorporação da sílica
ativa em concretos expostos em uma solução de 5% de NaCl e na água do mar do Golfo
Pérsico por 24 meses. Além disso, os autores realizaram ensaios de potencial de
corrosão e através do ensaio rápido de penetração de cloretos prescrito pela AASTHO
T227 na idade de 28 dias. Os resultados mostraram que a incorporação da sílica ativa
diminui sensivelmente a penetração de cloretos no concreto, fazendo com que o processo
corrosivo minimize sensivelmente. SURYAVANSHI et al. (2002) realizaram uma
investigação em vigas de concreto para determinar o coeficiente de difusão de cloretos.
Tais vigas foram submetidas a ciclos de imersão em uma solução com 4% de NaCl
durante 2 anos e meio, e os dados de penetração de cloretos ao longo do tempo foram
obtidos através da coleta e análise de amostras de concreto a várias profundidades. Os
resultados mostraram que a relação a/c e o tipo de adição empregada (escória granulada
de alto forno, cinza volante e sílica ativa) exercem influência na penetração de cloretos no
concreto.
No Brasil são poucos os trabalhos experimentais realizados de forma não acelerada para
determinação dos perfis de penetração de cloretos no concreto, onde a grande maioria
das investigações são realizadas em estruturas acabadas. ANDRADE (1997) realizou um
estudo de caso em uma obra localizada na cidade de Recife (PE), mostrando que a
degradação da estrutura ocorreu principalmente em função da contaminação dos
agregados por cloretos no momento da confecção do concreto. Um trabalho bastante
interessante foi conduzido por GUIMARÃES (2000), que avaliou o processo corrosivo em
uma estrutura localizada em Rio Grande (RS) que apresentava 22 anos de construída. O
autor coletou amostras de concreto de 4 pontos diferentes de um cais e realizou análises
considerando o perfil de cloretos encontrado para prever a vida útil da estrutura.
.
Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005. © 2005 IBRACON. VIII.379
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2 Materiais e Método
2.1 Materiais
Para a realização da presente pesquisa foram empregados os seguintes materiais:
• Tipos de cimento: cimento Portland branco (CPB) estrutural (classe 40), com
adição de material carbonático em quantidade não especificada pelo fabricante, e
CP V ARI, cujas características encontram-se apresentadas na Tabela 1 e na
Tabela 2.
2.2 Método
Após a dosagem, execução e moldagem – de acordo com a NBR 5738 (ABNT, 1994) –
todos os exemplares foram mantidos em cura saturada, sendo retirados aos 28 dias para
a realização dos seguintes ensaios:
• Abatimento do tronco de cone segundo a NBR 7223 (ABNT, 1982);
• resistência à compressão axial conforme a NBR 5739 (ABNT, 1994) aos 28 dias (2
corpos-de-prova cilíndricos por traço);
• absorção por imersão como especificado na NBR 9778 (ABNT, 1987) (2 corpos-de-
prova cilíndricos por traço);
• moldagem das vigas e imersão em solução de cloretos
Foram confeccionadas 3 vigas de concreto para cada tipo de cimento (uma para cada
relação a/c), nas dimensões de 10 x 20 x 50 cm. Após a moldagem, as mesmas
permaneceram 7 dias em cura cobertas por sacos umedecidos, a fim de simular o
procedimento que deveria ser realizado em obra para tais materiais. Logo após este
período, as mesmas foram deixadas expostas em ambiente de laboratório por mais 21
dias. Posteriormente as vigas foram revestidas nas faces superior e inferior, bem como
nas suas laterais com uma camada impermeabilizante constituída por resina epóxi,
deixando apenas as laterais maiores (20 x 50 cm) sem nenhum tipo de tratamento, a fim
de permitir apenas o fluxo unidirecional de cloretos (Figura 1). Após tal procedimento, as
mesmas foram imersas em uma solução de cloreto de sódio (NaCl) com uma
concentração igual a 3,5%, a qual corresponde à salinidade média observada nos
oceanos.
Direção de concretagem
Após 6 meses de imersão nas soluções, foram coletadas amostras de concreto para a
determinação dos perfis de penetração de cloretos nas vigas. O material foi retirado com
uma furadeira de impacto a cada 5 mm da superfície dos espécimes, onde as amostras
de concreto foram coletadas sob a forma pulverulenta. Enviou-se tal material para a
determinação dos teores de cloretos totais nas amostras em laboratório, através de
titulometria.
3 Resultados e Discussão
CPB 40
CP V ARI
30
20
10
C(kg/m³) a/c
600 500 400 300 3 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70
5
Abatimento = 80 ± 10 mm
8
m(kg/kg)
Figura 2 – Diagrama de dosagem para os concretos avaliados na idade de 28 dias
5
Absorção por imersão (%)
CP V ARI
3
CPB
0
0,4 0,5 0,6
Relação a/c
Pode-se verificar que, quanto menor a relação a/c, menor a passagem de água para o
interior do concreto, em função da minimização da conexão existente entre os capilares.
Constata-se que o tipo de cimento e a relação a/c, bem como a interação entre estes
fatores são significativos para a absorção. A menor taxa de absorção apresentada pelos
concretos moldados com o CPB, deve-se à presença de fíler de origem calcária neste
cimento. Este material além de preencher os vazios existentes, tornando a estrutura da
pasta de cimento hidratada mais densa e homogênea, resulta também numa estrutura de
poros mais refinada e descontínua, conforme citado por NEVILLE (1997). Constatações
semelhantes foram apresentadas por IRASSAR et al. (2000), citados por MATTOS e DAL
MOLIN (2003), que, ao analisarem os resultados de ensaios de absortividade, concluíram
que a absorção de água é menor para os concretos fabricados com cimento com fíler
calcário comparados aos demais tipos de cimento.
4,5
3,5
3,0
a/c = 0,4
cimento (%)
1,0
0,5
0,0
Superficial 2,5 7,5 12,5 17,5 22,5
Profundidade (mm)
Pode-se observar que a quantidade de cloretos que penetrou foi elevada, atingindo o teor
limite para despassivação (0,4%) para todas as relações a/c avaliadas. Não se observou
a presença de um perfil típico de penetração, onde há um teor maior de cloretos na
superfície do elemento estrutural, decrescendo à medida que a profundidade aumenta.
Através de uma simples análise visual da verifica-se que a difusão de cloretos para o
concreto é contínua, não havendo nenhum impedimento – seja químico ou físico – à
penetração dos cloretos. Ao se tentar ajustar os perfis encontrados através da Segunda
Lei de Fick, verificou-se que os valores da difusividade encontrados estavam
excessivamente altos, ratificando matematicamente a hipótese apresentada sobre a
difusão dos íons cloreto no material.
Existem algumas teorias que tentam explicar esse comportamento relacionado ao CPB.
Conforme apresentado por MATTOS e DAL MOLIN (2003), a presença de fíler calcário
nesse tipo de cimento leva à ocorrência do chamado efeito diluição. Tal fenômeno é
decorrente da existência de um volume menor de material cimentício no concreto com o
CPB para combinar com os íons cloreto, conforme apresentado por IRASSAR et al.
(1999), embora os resultados dos ensaios de resistência à compressão (Figura 2) e de
absorção por imersão (Figura 3) mostraram o melhor desempenho do CPB em relação ao
CP V ARI.
MATTOS e DAL MOLIN (2003) citam que as diferenças de composição química dos
cimentos também podem influenciar no comportamento observado, onde a quantidade de
aluminatos disponível para combinar quimicamente com os íons cloreto, mesmo
apresentando um teor maior de C3A, pode não ter sido suficiente para impedir a fixação
de cloretos, devido ao teor de fíler calcário presente no CPB. ZIELINSKA (1972), citado
por NEVILLE (1997), constatou que o carbonato de cálcio presente no fíler calcário reage
com o C3A e o C4AF, formando os chamados monocarboaluminatos de cálcio. Além disso,
a conversão da etringita em monosulfoaluminato pode não ocorrer, dependendo da
quantidade de carbonato na pasta hidratada.
Desta forma, os concretos moldados com tal tipo de cimento apresentam uma menor
resistência à penetração de cloretos. Resultados de ensaios de penetração acelerada de
cloretos realizados por MATTOS e DAL MOLIN (2003), de acordo com a ASTM C 102
(1992) em concretos moldados com CP I e o CPB, mostraram que o CPB apresentou
maiores resultados de carga passante (22%, 9% e 1%) para as 3 relações a/c avaliadas
(0,4, 0,5 e 0,6), conforme mostrado na Figura 5.
5000 4597,2
Carga passante (Coulombs) 4547,3
3000 2753,6
CP I
2000 CP B
1000
0
0,4 0,5 0,6
Relações a/c
Figura 5 – Carga total passante nos concretos em função da relação a/c (MATTOS e DAL MOLIN, 2003)
4,5
Teores de cloretos em relação à massa de
4,0
3,5
3,0
a/c = 0,4
cimento (%)
1,0
0,5
0,0
Superficial 2,5 7,5 12,5 17,5 22,5
Profundidade (mm)
Figura 6 – Perfis de penetração de cloretos para os concretos moldados com CP V ARI (t = 6 meses)
Concentração de
cloretos
(C)
Precipitação
I ABSORÇÃO
Evaporação
II DIFUSÃO
+
+ +
(A) + +
+ +
+ ++
++
+ I + II
+ ++
+ +
+ ++
Profundidade
(B)
Teor de Cl na camada superficial do
concreto ( 0 e 5 mm)
4 Considerações finais
5 Agradecimentos
6 Referências
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. Standard Test Method for
Electrical Indication of Concrete’s Ability to Resist Chloride Ion Penetration. ASTM C 1202.
Philadelphia, 1992.
ASRAR, N.; MALIK, A. U.; AHMAD, S.; MUJAHID, F. S. Corrosion protection performance
of microsilica added concretes in NaCl and seawater environments. Construction and
Building Materials. 13, 1999. p. 213-219.