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Pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE mostra que o mito de que o Brasil é um país de
jovens é coisa do passado: 15% da sua população é hoje constituída por idosos – são cerca de 32
milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, que colocam o País como o sexto mais
envelhecido do mundo.
Entre os diversos fatores que contribuíram para isto, economistas apontam a Constituição de 1988
e o Estatuto do Idoso como os mais importantes – o primeiro, pelas mudanças que trouxe nas
aposentadorias, e o segundo, pelas conquistas alcançadas.
Também vale ressaltar que a melhoria das condições de saneamento básico e dos avanços da
medicina nos últimos anos foram pontos preponderantes nessa mudança de cenário populacional
no País.
2. MUDANÇA DE POSTURA
É certo que os dois últimos fatores apontados acima não apenas contribuíram
para o aumento da expectativa de vida da população brasileira e seu
acelerado ritmo de envelhecimento. Foi preponderante também para uma
mudança nos hábitos, no comportamento e nas atitudes dos que possuem
mais do que 60 anos de idade.
Aliando a isso o fato de que as rendas da aposentadoria e dos fundos de pensão tiveram um
crescimento de 54% (enquanto a renda do trabalhador caiu 8,5% ao ano, em média), entende-se o
porque de só agora o mercado resolver pesquisar e entender as expectativas e os anseios deste
segmento da população – e, com isso, conhecer dados dos mais relevantes que ajudam a traçar
um perfil minucioso sobre a terceira idade. Entre os principais, têm-se que:
• a maioria das pessoas acima de 60 anos de idade no Brasil é mulher;
• a renda desta faixa etária totaliza R$ 60 bilhões ao ano (o dobro da média nacional);
• a renda média desta população é de cerca de R$ 600,00;
• a proporção de pessoas que pertencem às classes AB é maior do que a média
nacional (38% dos idosos estão nesta classe, contra 29% do total nas regiões
metropolitanas);
• 68% das pessoas neste segmento influenciam as compras em seus lares;
• 47% dos idosos auxiliam com contribuições esporádicas, mas que ajudam a melhorar o
padrão de consumo da família.
Fonte: IBGE
Por tudo apontado acima, e também pelo fato de representarem 15% da população – e ainda por
serem responsáveis por manter a renda de cerca de 10 milhões de lares brasileiros – as pessoas
com mais de 60 anos de idade já começam a ser vistas por boa parte da classe empresarial
nacional, mesmo que de forma incipiente, como uma nova oportunidade de negócios.
Esse novo conceito que surge sobre a terceira idade (de que aposentadoria e velhice deixam de
ser uma idade de recolhimento e descanso para se transformar num período de atividade, lazer e
recreação pessoal) não só contamina o mercado em geral como ajuda a derrubar vários ícones do
preconceito contra os idosos – apesar de ainda ser longo o caminho a se percorrer.
O idoso de hoje não pode ser comparado, de forma alguma, a maioria dos avós de anos atrás.
Primeiro, porque tratam-se de indivíduos com dinheiro suficiente para consumir, com nível de
exigência e instrução alto, que acompanham a moda e desejam lazer com qualidade. E, segundo,
porque, como conseqüência disso, a cada ano que passa, essas pessoas já são vistas como um
mercado consumidor solidificado (e crescente, diga-se de passagem).
O problema é que, na maioria das situações, não encontram o que procuram com
facilidade – o que não significa dizer que façam questão de lojas especializadas na
terceira idade. Pelo menos é o que aponta a pesquisa do IBGE, que mostra, entre
outras coisas, que senhoras com mais de 60 anos de idade, por exemplo, querem as
cores da moda, o modelo usado pelas mais jovens, mas adaptado ao seu corpo (e
querem encontrar esse produto em uma loja de departamentos ou no comércio da esquina).
3.1) Vestuário
No que diz respeito a esse tema, os dados mostram que 36% dos entrevistados não encontram
roupas com facilidade – e desses, 42% têm dificuldade em comprar roupas sociais (e quando
encontra, os modelos não agradam). A pesquisa indica ainda que, para os mais idosos, as roupas
não apresentam numeração de acordo e os modelos estão dissociados da moda. Também faltam
roupas adequadas para pessoas hospitalizadas.
3.2) Alimentação
Ainda de acordo com a pesquisa, os idosos brasileiros gastam, em média, 24% do que recebem
com alimentação. Em relação a restaurantes, 75% informaram que freqüentam estes
estabelecimentos, em média, três vezes por mês – mas reclamam que a grande maioria deveria ter
rampa na entrada e barras de apoio, bem como piso antiderrapante. Além disso, carecem de
lugares reservados para cadeira de rodas, pessoas especializadas para orientar na escolha da
alimentação e atendimento especial.
Quando o assunto é compras em supermercados, dos 93% que os freqüentam, 62% escolhem os
produtos de acordo com a qualidade e a marca e apenas 27% são influenciados pelo preço. Entre
as reclamações, estão a dificuldade em encontrar uma variedade de opções de produtos naturais e
diet, cosméticos específicos, material de limpeza, arroz e macarrão integral. Também se queixaram
do atendimento dos caixas, dos carrinhos de compra não apropriados e das filas grandes (mesmo
para idosos).
Quem planeja trabalhar com este target, no momento de montar um pacote, por exemplo, deve
observar cuidados especiais na hospedagem, na alimentação e no transporte (principalmente por
se tratar de um público altamente exigente).
Os hotéis devem ter piso antiderrapante, rampas, corrimões e banheiros com apoio. O serviço de
check-in deve ser rápido e o estabelecimento deve ter funcionários para auxiliar no carregamento
das bagagens. O cardápio deve ser leve e o hotel deve servir as três refeições. Na questão do
transporte, o motorista deve estar preparado para atender esses turistas e o ônibus precisa
apresentar poltronas mais confortáveis e espaçosas, banheiros adequados e escadas adaptadas
para diminuir a altura do chão ao primeiro degrau na hora do embarque e desembarque dos
idosos.
3.5) Finanças
Desde que o governo permitiu a concessão de empréstimos atrelados aos pagamentos dos
benefícios do INSS, essa modalidade de crédito para os aposentados não parou de crescer no
Brasil: já são mais de 2 milhões de beneficiados que, juntos, contrataram R$ 4,3 bilhões até o
momento. Para se ter uma idéia do quanto a terceira idade caiu nas graças do sistema financeiro,
hoje, até farmácias estão intermediando estas concessões para esse público.
O que mais atrai os bancos para este tipo de financiamento é o baixo risco de calote – afinal, por
ser uma operação de crédito consignado (o tomador autoriza o banco a debitar parte da dívida do
crédito que ele recebe mensalmente do INSS), a inadimplência é praticamente zero (mesmo em
caso de morte, há um seguro que cobre o prejuízo).
Por tudo isso, e mais o fato de ganharem ainda mais tempo para pagarem suas despesas (uma
vez que o prazo entre a data da compra e o vencimento da fatura pode chegar a 40 dias), esse é
um produto que está ganhando, a cada dia que passa, mais adeptos entre as pessoas da terceira
idade.
Enfim, dentro de todo esse contexto apresentado aqui, não fica difícil entender os
motivos que levam este segmento da população a afetar o crescimento, os
investimentos, o consumo, a saúde pública e até o mercado de trabalho tanto dos
países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento – embora, nestes últimos, ainda o
faça de maneira um tanto acanhada.
O próximo passo agora é se fazer uso de tais informações a favor dos negócios e, a partir de
então, se dirigir mais e mais a esse novo mercado que surge: a terceira idade (ou, como muitos
preferem chamar: a melhor idade).