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SÃO LEOPOLDO
2010
Resenha da obra RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 2001. 118 p.
Na primeira parte, Ridenti trata, primeiramente, sobre o fato de que entre os marxistas
não há uma unidade de conceito do que vem a ser classes sociais, passando, por
conseqüência, à apresentação das diversas conceituações. Salienta, antes de tudo, que nem
sempre Marx utiliza o temo classe em sentidos equivalentes, empregando-o tanto num sentido
genérico-abstrato, quanto num específico-particular. “No primeiro, são realçadas as
1
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 7.
2
Ibid.
determinações comuns e gerais pertencentes a todas as épocas, no segundo o fenômeno
específico „determinado pela produção capitalista moderna‟”. 3 Evidencia, além disso, que
num sentido específico e estrito, caberia falar em classes sociais, na teoria de Marx, tão-
somente nas sociedades industriais capitalistas, ou seja, quando surge a classe burguesa.
Evidencia, além disso, que na realidade, em Marx a teoria das classes está pressuposta,
mas não posta. Além disso, que “a separação entre „classes em si‟ e „classes para si‟ só é posta
para efeitos analíticos”, como também que para ele seriam três as grandes classes: a dos
capitalistas, a dos proprietários fundiários e a dos trabalhadores assalariados. Estas são as
chamadas de classes em sentido pleno, existindo, portanto, outras, denominadas
intermediárias e de transição, mas que não foram contempladas na obra O Capital.
Por outro lado, ensinando que diferente de Fausto, Giannotti ultrapassa o estudo das
classes em si, “ao observar que só a participação nas três grandes formas de rendimento não
3
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 13.
4
Ibid., p. 16.
5
Ibid.
6
Ibid., p. 20.
chega a integrar capitalistas, assalariados e proprietários fundiários em todos conflitantes”, 7
mas que as três classes virtualmente transformam-se em duas. Essas duas últimas, contudo, só
se evidenciam com clareza no momento revolucionário, “quando toda a sociedade se polariza
em torno de seus respectivos projetos”.8 Assim, no momento do em si ao para si, “as classes
fundamentais multiplicam-se em várias, pois a contradição fundamental entre capital e
trabalho seria realizada pelas inúmeras polarizações determinadas pela concorrência”. 9
Desse modo, segue o autor ensinando a partir de Giannotti, que as classes não existem
apenas por um agrupamento de indivíduos, ou seja,
Após essa tomada geral, Ridenti especifica o debate e focaliza a questão das classes
sociais em três autores: Poulantzas, Thompson e Anderson. Para o primeiro, “as classes
constituem o efeito [...] de certos níveis de estruturas, das quais o Estado faz parte”; 12 para o
segundo, “todo o peso na abordagem das classes está na livre disposição dos homens para agir
7
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 21.
8
Ibid., p. 22.
9
Ibid.
10
Ibid., p. 24.
11
Ibid., p. 26.
12
Ibid., p. 35.
numa dada situação histórica”, 13 ou seja, classe não é nem estrutura, nem categoria, mas fruto
das relações humanas; e, para o terceiro, “as classes são constituídas por modos de produção,
e não vice-versa”,14 ou seja, “o modo de produção capitalista [...] e as classes sociais que o
constituem, estão totalmente imbricados, não como dados estanques e preestbelecidos, mas
como um dar-se em movimento (des)contínuo”.15
De outra banda, tratando da questão das classes, Ridenti trata do trabalho produtivo, da
classe trabalhadora e das classes médias, sustentando, de início, que “abordar o tema das
classes de uma perspectiva marxista implica a discussão [...] de relação entre classes sociais e
trabalho produtivo”.18 Assim, citando Giannotti, o autor sustenta que “[...] é produtivo o
trabalho que acarreta mais-valia”. 19
13
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 41.
14
Ibid., p. 53.
15
Ibid., p. 54.
16
Ibid., p. 59.
17
Ibid.
18
Ibid., p. 63.
19
Ibid.
20
Ibid., p. 64.
Entretanto, apresentando a visão de Braverman, ensina que ele “desenvolve a idéia de
que no capitalismo de hoje já não haveria sentido em distinguir trabalho produtivo de trabalho
improdutivo”,21 visto que “a massa dos trabalhadores assalariados, nas fábricas ou escritórios,
nos bancos ou no comércio, estaria submetida à lógica do capital”. 22 E assim continua,
sustentando que “Villalobos vê um lugar na produção de riquezas para uma „classe média‟
[...] que exerce trabalho produtivo, fundamental para o modo de produção capitalista, mas
desenvolve „uma racionalidade funcional instrumental para o capital‟”,23 ocupando, portanto,
um sobreposto operativo em relação à classe operária e diferente das antigas classes médias. E
assim, no dizer de Lúcio Kowarick, “essa classe seria responsável pelo trabalho científico e
tecnológico, que é o alicerce do processo de produção de riquezas, e pelas funções técnico-
administrativas, fundamentais para a criação do excedente e para a expansão do
capitalismo”.24
Desse modo, essas novas classes médias estariam estreitamente ligadas ao surgimento
do chamado antivalor, visto que numa concepção marxista, “o valor é „estruturador da
sociabilidade, portanto, produtor também das classes sociais”. 25 Destarte, o
Em fecho à primeira parte, enfim, sustenta-se que “as classes têm um sentido coletivo
próprio, que elas não se confundem com agregados de indivíduos ou de vontades pessoais”. 27
São construídas, portanto, por pessoas “dotadas de vontade e capacidade de ação e
transformação”.28
21
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 70.
22
Ibid.
23
Ibid., p. 70.
24
Ibid., p. 74.
25
Ibid., p. 75.
26
Ibid., p. 81.
27
Ibid., p. 83.
28
Ibid.
Na segunda parte da obra ora resenhada, Ridenti o tema representação de classe,
dando início ao debate falando da representação das relações sociais pela troca de
mercadorias. Para tanto, sustenta que “a representação „não consiste numa duplicação mental
da coisa, pelo contrário, gera-se um relacionamento com outrem em que essa coisa cumpre
uma função mediadora‟”.29
Desse modo, as relações sociais que se travam pelo modo de produção capitalista se
evidenciam sob a forma de relações naturais entre coisas. Assim, a mercadoria passa a
fundamentar as relações sociais, representando, enfim, aquilo que Marx chamou de fetichismo
da mercadoria: as relações sociais no mundo capitalista necessariamente são representadas por
meio da troca de mercadorias, que são medidas pelo dinheiro. Esse tipo de representação
social, portanto, mascara o conflito entre capital e trabalho, aparecendo como forma de
concorrência mercantil, que por si só não é capaz de conciliar os interesses de classe.
29
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 86.
30
Ibid., p. 93.
31
Ibid.
com ela”. 32 Além disso, “também pode se dar fora do Estado, apesar dele, e mesmo contra ele,
subvertendo-lhe o papel de mediador supostamente neutro dos conflitos sociais”. 33
Dessa forma, por fim, se meu objetivo com esta resenha chegar próximo de ser
atingido, o leitor terminará agora a leitura destas linhas e buscará a obra original. Certamente
se deleitará com uma narrativa envolvente, e, por fim, poderá compreender o que são e como
se relacionam as classes sociais a partir de uma perspectiva marxista, num texto leve e
didático.
32
RIDENTI, Marcelo Siqueira. Classes sociais e representação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 95.
33
Ibid.
34
Ibid., p. 96.