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Reunião Cultural de Maio

Inteligências Múltiplas – Howard Gardner


Permitam-me transportar a nós todos para Paris de 1900 – La Belle Epóque – quando
os pais da cidade procuraram um psicólogo chamado Alfred Binet com um pedido incomum:
Seria possível ele desenvolver algum tipo de medida que predissesse quais crianças iriam ter
sucesso e quais iriam fracassar nas séries primárias das escolas parisienses? Como todos
sabem, Binet conseguiu. Rapidamente, sua descoberta veio a ser chamada de “teste de
inteligência”; sua medida, o “QI”. Como outras modas parisienses, o QI logo chegou aos
Estados Unidos, onde teve um modesto sucesso até a Primeira Guerra Mundial. Então, foi
utilizado para testar mais de um milhão de recrutas americanos, e tornou-se verdadeiramente
célebre. A partir deste momento, o teste de QI pareceu o maior sucesso da psicologia – um
instrumento científico genuinamente útil.
Agora, a inteligência parecia ser quantificável. Você podia medir a altura real ou
potencial de alguém, e agora, parecia, você também podia medir a inteligência real ou
potencial da pessoa. Nós tínhamos uma dimensão de capacidade mental ao longo da qual
poderíamos ordenar todas as pessoas. A busca da medida perfeita da inteligência prosseguiu a
passo acelerado.
Existem, é claro, versões mais sofisticadas do teste de QI. Uma delas é chamada de
Teste de Aptidão Escolar (SAT – Scholastic Aptitude Test). Ele pretende ser um tipo
semelhante de medida, e se você acrescentar os resultados verbais e matemáticos da pessoa,
como freqüentemente é feito, você pode classificá-la ao longo de uma única dimensão
intelectual. Os programas para os superdotados, por exemplo, muitas vezes utilizam esse tipo
de medida; se seu QI é superior a 130, você é admitido ao programa.
Eu gostaria de sugerir que juntamente com esta visão unidimensional de como avaliar
as mentes das pessoas vem uma visão de escola correspondente que chamarei de “visão
uniforme”. Na escola uniforme, existe um currículo essencial, uma série de fatos que todos
devem conhecer. Os melhores alunos, talvez aqueles com QI mais altos, podem fazer cursos
em que precisam utilizar leitura crítica, cálculo e habilidades de pensamento. Na “escola
uniforme” existem avaliações regulares, com o uso de instrumentos tipo papel e lápis, da
variedade QI ou SAT. Elas conseguem classificações confiáveis de pessoas; os melhores e
mais brilhantes vão para as melhores universidades, e talvez – mas apenas talvez – também
obtenham melhores classificações na vida.
Mas existe uma visão alternativa que eu gostaria de apresentar – baseada numa visão
da mente radicalmente diferente, que produz um tipo de escola muito diferente. É uma visão
pluralista da mente, reconhecendo muitas facetas diferentes e separadas da cognição,
reconhecendo que as pessoas têm forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos
contrastantes. Eu também gostaria de introduzir o conceito de uma escola centrada no
indivíduo, que considera seriamente esta visão multifacetada de inteligência. Este modelo de
escola baseia-se, em parte, nos achados científicos que ainda não existiam no tempo de Binet:
a ciência cognitiva (o estudo de mente) e a neurociência (o estudo do cérebro). É uma
abordagem assim que chamei minha “teoria de inteligências múltiplas”.
A insatisfação com o conceito de QI e com as visões unitárias de inteligência é
bastante ampla. Eu acredito que devemos nos afastar totalmente dos testes e das correlações
entre os testes e, ao invés disso, observar as fontes de informações mais naturalistas a respeito
de como as pessoas, no mundo todo, desenvolvem capacidades importantes para seu modo de
vida.
Pensem, por exemplo, nos marinheiros dos mares do sul, que encontraram seu caminho
em torno de centenas de ilhas olhando para as constelações de estrelas no céu, sentindo a
maneira pela qual um barco passa pela água e observando alguns marcos dispersos. Uma
palavra para a inteligência nessa sociedade de marinheiros provavelmente se referiria a esse
tipo de habilidade para navegar. Isto ajuda a entender a maneira pela qual eu defino a
inteligência, isto é, como a capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que
sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários.
Meu grupo de pesquisa conseguiu, após análises da cognição em diferentes grupos de
culturas dramaticamente diferentes, considerar dois tipos de evidência psicológica: as
correlações entre testes psicológicos e os resultados das tentativas de treinamento de
capacidades (por exemplo, o treinamento em matemática aumenta as capacidades musicais de
alguém, ou vice-versa?). Nós simplesmente estudamos os resultados da melhor forma que
pudemos, e tentamos organizá-los de uma maneira que fizesse sentido para nós e,
esperançosamente, também para leitores críticos. Minha lista resultante de sete inteligências é
uma tentativa preliminar de organizar esta massa de informações.
Inteligência Lingüística: é o tipo de capacidade exibida em sua forma mais completa,
talvez, pelos poetas.
Inteligência Lógico-Matemática: como o nome implica, é a capacidade lógica e
matemática, assim como a capacidade científica.
Embora eu cite primeiro essas duas inteligências, não é porque as julgue mais
importantes, pois estou convencido de que todas as sete inteligências têm igual direito à
prioridade. Entretanto, em nossa sociedade nós as colocamos, figurativamente falando, num
pedestal. Grande parte da nossa testagem está baseada nessa alta valorização das capacidades
verbais e matemáticas, sendo provável que o fato de sair-se bem depois de concluir uma
faculdade dependerá igualmente da extensão em que possuir e utilizar as outras inteligências, e
é a essas que desejo dar igual atenção.
Inteligência Espacial: é a capacidade de formar um modelo mental de um mundo
espacial e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo. Os marinheiros,
engenheiros, cirurgiões, escultores e pintores são apenas alguns exemplos.
Inteligência Musical: Mozart, presumivelmente, a possuía em altíssimo grau.
Inteligência Corporal-Cinestésica: é a capacidade de resolver problemas ou de
elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do corpo. Dançarinos, atletas e artistas
apresentam esta capacidade altamente desenvolvida.
Finalmente, eu proponho duas formas de inteligência pessoal, não muito bem
compreendidas, difíceis de estudar, mas imensamente importantes.
Inteligência Interpessoal: é a capacidade de compreender outras pessoas – o que as
motiva, como elas trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas. Os vendedores,
políticos, professores, terapeutas e líderes religiosos bem-sucedidos são indivíduos com altos
graus desta inteligência.
Inteligência Intrapessoal: é uma capacidade correlativa, voltada para dentro. É a
capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de utilizar esse modelo
para operar efetivamente na vida.
Obviamente, cada forma de inteligência pode ser subdividida, ou a lista pode ser
reorganizada. O ponto importante aqui é deixar clara a pluralidade do intelecto.
Em minha opinião, o propósito da escola deveria ser o de desenvolver as inteligências
e ajudar as pessoas a atingirem objetivos de ocupação e passa-tempo adequados ao seu
espectro particular de inteligências. As pessoas que são ajudadas a fazer isso, acredito, se
sentem mais engajadas e competentes e, portanto, mais inclinadas a servirem à sociedade de
uma maneira construtiva.
Estas idéias, e a crítica de uma visão universalista de mente com a qual eu comecei,
conduziram à noção de uma escola centrada no indivíduo, voltada para um entendimento e
desenvolvimento ótimos do perfil cognitivo de cada aluno. Esta visão contrasta diretamente
com a da escola uniforme que descrevi anteriormente.
O planejamento de minha escola ideal do futuro baseia-se em duas suposições. A
primeira delas é a de que nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades, nem
todos aprendem da mesma maneira; a segunda é a de que, atualmente, ninguém pode aprender
tudo o que há para ser aprendido. Uma escola centrada no indivíduo seria rica na avaliação das
capacidades e tendências individuais. Ela procuraria adequar os indivíduos não apenas a áreas
curriculares, mas também a maneiras particulares de ensinar esses assuntos.
Nesta escola do futuro existiria um novo conjunto de papéis para os educadores, como
os “especialistas em avaliação” (responsáveis por compreender as capacidades e interesses de
cada aluno), o “agente do currículo para o aluno” (cuja tarefa seria a de combinar os perfis,
objetivos e interesses dos alunos a determinados currículos e determinados estilos de
aprendizagem) e um “agente da escola-comunidade” (que encontraria situações na
comunidade, determinadas opções não disponíveis na escola, para os que apresentam perfis
cognitivos incomuns).
Certamente, o que estou descrevendo é uma tarefa difícil; poderia inclusive ser
chamado de utópico. Porém, é da máxima importância reconhecer e estimular todas as
variadas inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Nós todos somos tão
diferentes em grande parte porque possuímos diferentes combinações de inteligências. Se
reconhecermos isso, penso que teremos pelo menos uma chance melhor de lidar
adequadamente com os muitos problemas que enfrentamos neste mundo. Se pudermos
mobilizar o espectro das capacidades humanas, as pessoas não apenas se sentirão melhores em
relação a si mesmas e mais competentes; é possível, inclusive, que elas também se sintam
mais comprometidas e mais capazes de reunir-se ao restante da comunidade mundial para
trabalhar pelo bem comum. Se pudermos mobilizar toda a gama das inteligências humanas e
aliá-las a um sentido ético, talvez possamos ajudar a aumentar a probabilidade de nossa
sobrevivência neste planeta, e talvez inclusive contribuir para nossa prosperidade.

Fichamento do livro de Howard Gardner,


por Marlísio Oliveira Cecílio Junior.

Referência Bibliográfica:

GARDNER, Howard Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Howard Gardner;


tradução de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

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