Вы находитесь на странице: 1из 3

GUIMARÃES, Manoel Salgado.

Do litoral para o interior: Capistrano de Abreu e a


escrita da história oitocentista. In: CARVALHO, José Murilo de e NEVES, Lucília
Maria (Orgs.) Repensando o oitocentos: cidadania, política e liberdade. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009. p. 268-292.

Objeto: O texto trata das aspirações de Capistrano de Abreu de se afirmar como


historiador no século XIX. Tal afirmação se faz por meio de sua escrita, processo pelo
qual o autor tenta marcar a diferença de sua obra em relação à escrita de Varnhagen, ao
buscar no interior (metáfora da viagem) e no papel dos personagens negligenciados por
Varnhagen (sobretudo os indígenas) uma verdadeira explicação para a História do
Brasil.

Objetivos:
-Investigar alguns dos procedimentos adotados por Capistrano e por seus
contemporâneos e sucessores (especialmente José Honório Rodrigues) para se constituir
como historiador num campo bastante flexível em suas regras de definição.
-Investigar, a partir de sua produção textual, o processo de construção para si de um
espaço como um autor de história.

Referencial teórico:
- Memória como elemento central para a constituição da história do Brasil como campo
de conhecimento. O autor busca “interrogar” tal memória para compreender o “lugar”
que Capistrano passa a ocupar na escrita da história nacional.
- Explora o contexto tal memória é produzida.
- Noção de clássico de Ítalo Calvino – Capistrano é uma referência que “estrutura” o
campo de trabalho da história no Brasil, constituindo sua história e uma memória
disciplinar.

Metodologia: O autor sugere uma abordagem que concebe a produção do texto


historiográfico em duas chaves de leitura:
1 – A exploração das “condições de inteligibilidade” que tornam tal texto significativo
em seu tempo.
2 – Procurando compreendê-lo em suas vinculações com uma “cultura histórica”, isto é,
o que os homens de determinada sociedade designam como parte de um passado digno

1
de ser lembrado em determinado momento. Essa designação sempre implica em
seleções e esquecimentos.
“O passado não decorre, portanto, da mera passagem do tempo, mas de sua significação
como passado, que pode ter diferentes conexões e sentidos para um tempo que se
denomina presente.” (p. 273)

Fontes: O autor se utiliza de alguns textos que considera centrais para o trabalho de
monumentalização da obra de Capistrano de Abreu. Esses trabalhos são textos dele ou
de outros autores que o localizam em um campo de problemas e constroem uma
genealogia para a sua obra, com o fim de torná-lo historiador.
- De todos esses textos, o que Guimarães considera o ponto de partida para o trabalho de
produção da identidade como autor de história do Brasil é o necrológio que Capistrano
prepara para Varnhagen, publicado no Jornal do Commercio em 1878.
- A escolha do autor pelo gênero necrológio parece ser expressivo de uma estratégia de
construção de uma imagem e de um lugar para si.
- O necrológio na Antiguidade tinha por finalidade exaltar a polis, a comunidade
política, mas no século XIX aparece como uma forma de lembrar mortos que merecem
ser lembrados por suas virtudes e qualidades únicas.
-Elogiar alguém, digno de ser lembrado para o campo, configura também o
estabelecimento de relações de filiação ou oposição em relação a quem é lembrado.
- Dois outros textos publicados no centenário de seu nascimento, o ano de 1953 são
relevantes param o processo de sacralização de Capistrano e sua obra:
1 – Conferência de Múcio Leão, intitulada “Capistrano de Abreu e a Cultura Nacional”,
que põe Capistrano como “fonte de inspiração e modelo de ação”. (p. 282)
2 – Texto de José Honório Rodrigues, que busca instituir o trabalho de Capistrano de
Abreu como uma ruptura, na medida em que esse se configura como um “verdadeiro”
historiador.

Hipóteses:
- Capistrano insere a si próprio na linhagem fundada por Varnhagen, a que funda a
escrita da história nacional em pesquisa documental, afirmando o papel de “pai
fundador” de Varnhagen

2
- Por outro lado, demarca o seu espaço de diferenciação que se configura na
“interiorização” da história do Brasil, em busca do papel desempenhado pelo povo
negligenciado por Varnhagen.
- O papel dos indígenas no empreendimento da colonização é exaltado pelo autor como
forma de “interiorizar” o processo da colonização. Assim, o autor reconhece o papel dos
anônimos, importantes, na sua concepção para o povoamento e “avanço da civilização”.
(p. 286)
- O autor aponta a necessidade de se desenvolverem monografias temáticas sobre vários
assuntos obscuros da História do Brasil, entretanto, a escrita da História do Brasil não
seria fruto da soma dessas monografias, mas do esforço de síntese de um historiador
capaz de empreender uma recriação da vida por meio da sua escrita.
- Ainda achando que faltara a Varnhagen a capacidade de insuflar a história de um
“espírito superior” capaz de lhe conferir unidade e inteligibilidade, Capistrano busca a
aceitação dos seus pares por meio da entrada no IHGB, onde é recebido como um
“cientista moderno da história”, um “anatomista”, que disseca, ao invés de buscar a
unidade, o todo.
-Capistrano, como um “cientista” que busca entender a história de um ponto de vista
mesológico, enfatiza as relações da história com a geografia e ressalta a necessidade de
um trabalho que traçasse um “quadro geral” da geografia nacional, no qual os elementos
físicos aparecessem em articulação com as realizações humanas. (p. 288)
- O trabalho de José Honório Rodrigues coloca o trabalho de crítica e interpretação
realizados por Capistrano como condições para que ganhe esse o estatuto de historiador.
Capistrano pode figurar assim em um patamar superior ao de Varnhagen em uma escala
evolutiva cumulativa.
- Ao voltar-se para o Rio de Janeiro, Capistrano mostra que o elemento aglutinador da
obra da nação brasileira é a presença do Estado, embora dessa cidade litorânea não
tenha se irradiado qualquer movimento de efetiva ocupação do território. Assim, retorna
a uma perspectiva que pouco o diferencia da de Varnhagen para a construção do seu
argumento.

Вам также может понравиться