A palavra teledramaturgia tem em sua origem a junção de
duas palavras gregas, a saber tele τηλε (distante) e drama δράμα, (ação) ensejando assim todo ato de representar ou compor um drama, seja no teatro, televisão ou qualquer outro meio que represente a possibilidade de dramatização. Segundo Pallottini 1 não se deve apressadamente conceber o termo drama como uma “peça de teatro com final infeliz, de tom sério, ou que leve a um desfecho pessimista”, mas tentar apreender o drama enquanto um espetáculo teatral dentro de um texto que foi produzido para ser representado. Resumindo, a teledramaturgia seria a “técnica da arte dramática que busca estabelecer os princípios de construção de uma obra do gênero mencionado” A história da teledramaturgia no Brasil se mistura bastante com a chegada do primeiro canal de televisão (na extinta tevê Tupi). Por volta dos anos 50, estreia a primeira novela brasileira na tevê Tupi: Sua vida me pertence. Nesse contexto, podemos observar que o termo “TELEDRAMATURGIA” no Brasil gravitava entre o núcleo de produção das novelas e séries e o ‘cast’ dos primeiros programas de auditório, que tinham bastante audiência à época. Embora ainda influenciada pelo “Teatro de revista”, assim como pelas “novelas radiofônicas”, a formação de uma cultura televisiva foi definida principalmente pelo avanço e a disseminação dos canais de televisão, recheados por programas formatados nos moldes mexicanos ou mesmo influenciados pelo cinema americano. Nesse contexto, e tomando como ponto de partida a palavra teledramaturgia inserida na matéria: “Formação de Plateias” - veiculada pelo Jornal Correio da Paraíba no dia 9 de setembro de 2009 na coluna Cinema, assinada por Walter Galvão, propomos uma análise do contexto crítico em que se apresenta o termo bem como outras possibilidades discursivas presentes na matéria como um todo. O colunista começa discorrendo sobre “a necessidade que tem o cinema brasileiro de atrair o público jovem” para suas salas de cinema. Em seguida, observa-se que existe uma referência ao termo “Cultura de massa” que adequa-se à ideia de “Industria cultural” adotada por Adorno. Para este autor, os meios de comunicação de massa (MCM) ao estandardizarem os seus produtos, submetem a audiência à completa idiotização, alienando-a e controlando-a a partir de mecanismos específicos de controle e dominação, como é o caso dos gêneros televisivos. O leitor desavisado percorre, no texto, o caminho entre o discurso da tevê como veículo totalizador e depara-se, embora que de forma breve e pouco aprofundada, com a crítica à indústria cinematográfica. Acredito que misturar a influência que a linguagem televisiva tem sobre os expectadores, com a linguagem cinematográfica – que por si só representa uma expressão artística sólida e que dá espaço às múltiplas propostas que a própria arte institui – pode nos levar ao modelo da crítica inocente, ou quando muito utópica, sem realmente notar que toda e qualquer representação midiática está relativamente, em maior ou menor grau, atrelada à indústria e ao poder econômico, como. Ainda assim, a tentativa do colunista de sugerir uma política de formação de plateias oriunda das escolas trás consigo o perigo de transformar escolas em “fábricas de ideologias” 2 – Quem não lembra do documentário “A arquitetura da destruição” de Peter Cohen, que nos mostra claramente que a gênese do Nazi-fascismo Alemão estava nas escolas que começaram a semear em suas plateias juvenis o embrião antissemita e as ideias higienistas? É claro que levantar uma discursão sobre os aspectos predatórios da indústria do cinema é de extrema relevância, principalmente quando através desta lança-se um olhar crítico sob o rolo compressor do capital. Porém, acredito ser essencial um certo cuidado ao abordar e misturar temas tão complexos quanto política, mídia e comércio, pois pode soar como uma censura disfarçada, quando menos, ou pior, como um instrumento de controle imposto pela sociedade. Apesar disso, não observo na matéria uma discussão negativa ou mesmo uma crítica engajada do tipo ideológica, (Marxista, pós- moderna...) vejo que o colunista nos conta um pouco do que está enraizado em nosso cotidiano, os discursos em prol da família, da escola e da comunidade algo que de certa forma contempla de maneira paradoxal o próprio modismo do qual este condena.
REFERÊNCIAS:
ADORNO, Theodor. A Industria Cultural. In: COHN, Gabriel (org.).
Comunicação e Industria Cultural. São Paulo: T.A. Queiroz, 1987. CAIO N. TOLEDO. ‘Iseb, fábrica de ideologias’, Ed. Ática, 1977. In: TRAGTENBERG MAURÍCIO. O nacionalismo como ideologia da desconversa, Folha de S. Paulo, de 19.11.1983
COHEN Peter. ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO, Suécia 1992
PALLOTTINI, Renata. O que é dramaturgia. São Paulo: Brasiliense,