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Petrópolis
2008
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
CENTRO DE TEOLGIA E HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE TEOLOGIA
Petrópolis
2008
INTRODUÇÃO
O ato de crer
daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem. Pelo
contexto podemos dizer que a fé é uma chave para entendermos a vida preenchendo de
conhecimentos são marcados pelas mais variadas mediações em que usamos como
método a fé.
Podemos considerar que Crer se opõe à razão, mas não ao saber, pois ambas
que a razão diz respeito à “ciência certa”, e a fé diz respeito à “convicção íntima” (à
convicção pessoal). No nosso ambiente cultural temos uma grande confiança no saber,
sobretudo quando se trata das ciências, mas temos fortes reservas em relação ao crer,
considerado inferior.
Este é um dado elementar: não podemos viver sem acreditar nos outros. Esta
confiança é a base da sociedade e, por isso, é tão grave a mentira na vida social.
Crer não é uma atitude somente religiosa, mas uma realidade humana.
Passemos, agora, do terreno objetivo das coisas, para um outro campo: o das
relações humanas. Não podemos viver em sociedade sem confiar, ou seja, sem um
mínimo de fé nos outros. Não é possível amar e ter amizade, sem crer no outros. O sim
conjugal trocado entre os noivos é resultado do amor mútuo, que se apóia numa fé
mútua. Não é possível amar sem apelar para uma forma de fé.
Crer em valores
fizesse tornar-me-iam diante de mim mesmo menos digno (mais longe do ideal de
homem). Note-se que nossa vida social e pública se fundamenta em um certo número de
valores que são objeto de consumo (p. ex.: liberdade, igualdade, fraternidade).
O valor não é uma coisa. É uma espécie de utopia sobre a maneira como
devemos viver. Pois bem, todo valor ao qual uma pessoa se obriga se converte em
objeto de um ato de fé. O campo do saber continua inoperante. O homem é muito mais
do que uma soma de conhecimentos. Ele é quem discerne os valores, ele é quem os
Daí, uma conclusão: o ato de crer é um ato essencial de nossa condição humana,
nossa existência: devemos tomar decisões, mesmo quando nosso saber é incompleto.
Não decidir é uma forma de decisão, talvez a mais negativa, porque nos impede de fazer
sabemos. Nós teremos sempre razões pró e contra, mas somos condenados a decidir.
O crer religioso
apresentam hoje nas piores e melhores formas. Quantas crenças têm propostas imorais
promovendo verdadeiras lavagens cerebrais dos fiéis, abusando sexualmente deles e, até
como a intolerância, pois também sabemos que ao longo do tempo o crer religioso tem
obtido numerosos títulos de nobreza (S. Francisco de Assis, Maximiliano Kolbe, Madre
G. Van der Leeuw (in La religion dans son essénce et ses manifestations,
Payot, Paris 1970, p. 620) afirma que a fé religiosa é “a confiança total do homem em
um Deus com quem se encontrou pessoalmente”. Entende ele que a fé religiosa nasceu
no povo hebreu e o primeiro grande testemunho dela na Bíblia é a figura de Abraão que
magia.
Abraão aceitou uma relação pessoal com um único Deus. Tal relação começou
com um ato de confiança na palavra, no chamado que ele escuta. Abraão acreditou
totalmente na promessa de Deus de fazer dele o pai de um grande povo. A sua fé se
A verdadeira fé não é aquela que afirma crer que Deus existe, mas de crer que
o homem existe pra Deus, ou, falando de outro modo: Deus se interessa pelo homem?
Ele pode intervir na história para o seu bem? Desde Abraão, a fé responde que Sim. Tal
foi a experiência fundamental que deu origem à tradição espiritual judia, na qual se
traduz as atitudes fundamentais: confiar em Deus, encontrar n’Ele apoio no meio das
contradições da vida, apoiar-se n’Ele como em algo sólido. Deus é solidez da nossa
existência (“Rocha de Israel” Sl 61, 4). Abraão tomou tais atitudes apoiando-se e
divina, pois Deus é sempre fiel à sua promessa. Mas também exige a fidelidade do
homem.
A fé é uma forte relação entre Deus e seu povo que se inscreve na Aliança. A
princípio esta é unilateral, depois ela é bilateral, em que o povo de Deus é chamado a
Também os termos “crer” e “fé” aparecem inúmeras vezes no N.T. (umas 300
disposição e põe n’Ele toda a confiança. Este ato de fé pleno em Jesus só será legítimo
→”crer que”- Aqui a fé exige de nós crer no que disse Jesus e crer que ele é quem
∗∗
pretende ser. Crer aqui teria mais o sentido de “ter por verdadeiro”
crer que Deus existe; crer, acreditar naquilo que Deus diz e, finalmente crer em Deus,
vida.
Certeza e liberdade da fé
contradição nesta afirmação, pois quanto mais certa é uma realidade, menos livre parece
ser. De outro lado, quanto mais se proclama a fé como livre mais incerta ela me parece,
O que ocorre neste caso são soluções que se baseiam numa atitude voluntarista:
“creia cegamente primeiro, e logo você verá”, ou, numa atitude intelectualista:
medida que me comprometo numa vida de fé, acresce em mim a certeza; e, quanto mais
Temos razões para crer na existência de Deus. Lembremo-nos que Ele é puro
Espírito e não pode ser objeto de experiência sensível, não pode ser captado diretamente
por nossa inteligência. Mas podemos conhece-Lo mediante as coisas, isto é, mediante as
nos atesta que as coisas existem por uma Causa, por um Existente. Assim, se Deus não
existisse, não existiria o universo, nós não existiríamos, porque do nada, nada se cria. Se
não existisse um ser necessário, não causado que tivesse dado início a tudo o que existe,
nada jamais existiria; assim como de uma série infinita de zeros não se tem nada. Será
Poderíamos objetar que foi o homem quem “criou” Deus para dar explicação
cabal, plena dos fenômenos do universo. Ora, na verdade a razão, por meio da dedução,
ciência tem outra tendência, uma vez que a cada dia ela reconhece a perfeição, a ordem
significa algo de imprevisto; no sentido filosófico, porém, é algo contingente – algo que
ocorre, mas poderia não ocorrer, antes normalmente não ocorre – é pré-intencional.
Inconstância e irregularidade caracterizam o acaso. Poderíamos afirmar que um belo
dicionário de 1.500 páginas seja fruto do acaso? Poderíamos afirmar que a organização
de cada célula com 53 bilhões de moléculas protéicas, 166 bilhões de lipídios, 2.900
unitário, ele não tem plano de unificação e de coordenação de partes. Quanto mais se
que tenham sido unidas pelo acaso; c) o acaso é necessariamente inconstante; d) o acaso
Concluamos sem mais com três parágrafos do prêmio Nobel de física de 1966,
Alfred Kastler, que, perguntado sobre o finalismo dos seres vivo, respondia:
lua, isto é, aquela que está do outro lado, que não podemos
Deveriam talvez concluir que o acaso criou tal fábrica ou, então,
alcançaremos.
Conclusão
reconhecê-la em sua vida, acaba por passar pelo mundo com uma visão muito restrita
nossa existência.
Bibliografia