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Liberdade

em Debate
Democracia e Liberdade de Expressão

Seminário discute como o excesso de


regulação pode afetar a livre expressão,
a vida dos cidadãos e até a economia
QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 1
O seminário Liberdade em
ALEXANDRE BARROS PAULO UEBEL
Ph.D. em Ciência Política pela Universidade de Chicago. Debate – Democracia e Diretor Executivo do Instituto Millenium. Advogado,
Sócio gerente da Early Warning, consultoria que presta graduado pela Pontifícia Universidade Católica do
serviços a empresas brasileiras e estrangeiras. Foi Liberdade de Expressão, Rio Grande do Sul (PUC-RS). Especialista em Direito
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação do Centro iniciativa do Instituto Tributário pela Universidade Federal do Rio Grande do
Universitário Euro Americano (UNIEURO), em Brasília, e Sul (UFRGS).
Presidente do Fórum Empresarial Brasil. Millenium, fez parte de amplo
programa desenvolvido pela
DAVID HARSANYI entidade para debater as PAULO TONET CAMARGO
Escritor e jornalista, é colunista do jornal Denver Post diversas formas de liberdade. Promotor e procurador de Justiça, Vice-Presidente
e colaborador do Wall Street Journal, Washington institucional e jurídico do Grupo RBS, conselheiro da
Post, Weekly Standard, National Review, Razão, A palestra de abertura foi feita ABERT, diretor do Comitê de Relações Governamentais
Christian Science Monitor, Jerusalem Post, Toronto por David Harsanyi, autor do da ANJ, membro titular do Conselho de Comunicação
Globe & Mail, The Hill e O Globo. Social do Congresso Nacional, do Conselho Consultivo
livro “O Estado Babá – Como da Telebrasil e do Conselho Superior do CONAR.
radicais, bons samaritanos,
GUSTAVO BINENBOJM moralistas e outros burocratas PEDRO PAULO
Doutor e mestre em Direito Público pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Professor adjunto de
cabeças-duras tentam CRISTOFARO
Professor de Direito Empresarial da PUC e diretor jurídico
Direito Constitucional e Administrativo da Faculdade infantilizar a sociedade”. da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Fundação
de Direito da UERJ, da Escola de Direito da FGV e da
EMERJ. Especialista em Direito Constitucional, Direito
Em seguida ocorreram três Getúlio Vargas. Foi assistente do consultor jurídico do
Ministério da Indústria e do Comércio (1963/1965) e
Administrativo e regulação econômica. painéis, mediados pela procurador do Estado do Rio de Janeiro (1965/1993).
jornalista Mônica Waldvogel.
LEANDRO NARLOCH O primeiro reuniu Ricardo REINALDO AZEVEDO
Jornalista, foi repórter de Ciência e História da Jornalista, colunista da revista Veja. Foi editor e
Gandour, Paulo Tonet
revista Veja e editor de Aventuras na História e colunista em jornais como Folha de S. Paulo, O
Superinteressante. Seu primeiro livro, o “Guia Camargo, Marcos Troyjo Globo, O Estado de S. Paulo e nas revistas República,
Politicamente Incorreto da História do Brasil”, está há Primeira Leitura e Bravo!.
60 semanas nas listas dos mais vendidos do país. e Alexandre Barros, que
debateram o tema Cultura
da Intervenção X Soberania
MARCELO TAS Popular. Do segundo painel, RICARDO GANDOUR
Jornalista, diretor, apresentador e roteirista de Jornalista e engenheiro civil com cursos de extensão
TV. Participou de alguns programas inovadores da sobre Liberdade X Regulação, em Administração de Empresas (FGV-SP), Publishing
televisão brasileira, entre eles o Programa Legal, da participaram Patrícia Blanco, (Stanford University-EUA) e Gestão (Insead-França). É
TV Globo. É âncora do CQC - Custe o Que Custar - diretor de conteúdo do Grupo Estado, responsável pelo
show ao vivo que mistura humor e jornalismo. Gustavo Binenbojm e Pedro conteúdo de O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde,
estadao.com.br, Agência Estado e Rádio Eldorado.
Paulo Cristofaro. O painel
de encerramento tratou do
MARCOS TROYJO tema Politicamente Correto e RODRIGO CONSTANTINO
Diplomata, graduado em Ciência Política e Economia Economista, com MBA em Finanças pelo IBMEC. É
(USP) e doutor em Sociologia das Relações Liberdade de Expressão e teve colunista da revista Voto, do caderno Eu&Investimentos
Internacionais (USP). É pesquisador do Centre como palestrantes Marcelo Tas, do jornal Valor Econômico, do jornal O Globo e do
d’Études sur l’ Actuel et le Quotidien (CEAQ) da site OrdemLivre.org. É membro-fundador do Instituto
Universidade Paris-Descartes (Sorbonne). Rodrigo Constantino, Reinaldo Millenium e diretor do Instituto Liberal.
Azevedo e Leandro Narloch.

PATRÍCIA BLANCO
Relações Públicas, pós-graduada em Marketing pela Síntese dos debates que aconteceram no Seminário Liberdade em Debate - Democracia
ESPM; atua na área de Comunicação - Planejamento e Liberdade de Expressão, realizado em 16 de março de 2011
Estratégico, Comunicação Integrada, Assessoria Produção: Link Comunicação Integrada Edição: Cláudia Bensimon Editor Assistente: Maurício Schleder
de Imprensa e Relações Públicas. É presidente do Desenho: João Carlos Guedes Fotografia: Marcelo de Jesus e Instituto Millenium
Instituto Palavra Aberta. Reportagem: Márcia Gomes, Rosane de Souza e Verônica Couto
A apuração das informações deste suplemento é de responsabilidade da Link Comunicação Integrada

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O seminário reafirmou a importância da qualidade da educação, da
liberdade de imprensa, da transparência das informações, bem como da
vigilância e participação da sociedade para que as decisões individuais
sejam mais conscientes e qualificadas

Convite à reflexão
O
seminário Liberdade em Debate teve namente capazes e autônomos, com direitos fundamentais
como objetivo analisar e discutir o tema inalienáveis. Essa premissa sustenta o conceito de soberania
“Democracia e liberdade de expressão” popular e não pode ser mitigada.
sob diferentes aspectos que afetam a O seminário reafirmou a importância da qualidade
vida do cidadão no seu dia-a-dia. da educação, da liberdade de imprensa, da transpa-
Embora muitas vezes não seja perceptível, quando so- rência das informações, bem como da participação da
mamos todas as pequenas intromissões e restrições que nós sociedade para que as decisões individuais sejam mais
cidadãos sofremos, fica claro que a sociedade é vista pelos conscientes e qualificadas. Entretanto, foram rechaçadas
nossos legisladores e dirigentes públicos, em sua maioria, as ideias de dirigismo estatal e de infantilização da
como incapaz de fazer escolhas cons- sociedade, que são, muitas vezes,
cientes e ponderadas. O excesso de colocadas em prática sob os mais
tutela do Estado parte da premissa de nobres motivos.
que a população é incapaz de resolver Após os debates, as iniciativas de
questões e não sabe proteger seus impor uma visão de mundo ideal
interesses de forma racional e efetiva. por um pequeno grupo de “escla-
A palestra de abertura do escritor recidos”, por meio de regulações e
americano David Harsanyi, autor medidas restritivas de direitos, como
do recém-lançado livro “O Estado a Anvisa tenta fazer, não parecem ser
Babá”, serviu como diretriz para os a forma mais democrática e eficaz
debates realizados ao longo do dia. para melhorar, por exemplo, a saúde
Afinal, até que ponto o excesso de pública. Campanhas de conscienti-
regulação pode ser benéfico para a zação, informação em abundância e
sociedade? Com exemplos dos Es- fiscalização ainda são os meios mais
tados Unidos, Harsanyi mostrou que desejáveis de melhorar indicadores
a infantilização dos cidadãos afeta a de saúde pública em um país com
capacidade de discernimento e acomoda a sociedade, valores democráticos.
tornando as pessoas mais passivas e despreparadas para O politicamente correto e a adoção de rótulos simplistas,
enfrentar problemas simples do dia-a-dia. A recorrente muitas vezes, impedem um debate mais profundo e honesto,
demanda da própria sociedade por restrições pontuais que pode contribuir para o desenvolvimento do Brasil. A
cria um arcabouço pesado e ineficiente, que prejudica produção intelectual e científica não pode ser contaminada
o bom funcionamento das instituições públicas em suas por preconceitos existentes na sociedade, como fruto do
atividades básicas e gera um grande mercado negro. politicamente correto.
O excelente grupo de painelistas permitiu que os Por todas as razões acima expostas, entendo que o semi-
temas Cultura da intervenção x soberania popular, Li- nário Liberdade em Debate cumpriu seu objetivo, lançando
berdade x regulação e Politicamente correto e liberdade reflexões importantes para que o debate continue. Certa-
de expressão fossem aprofundados sob diferentes mente, sem o envolvimento de todos, não conseguiremos
perspectivas. A conclusão unânime é que o excesso de aprimorar a sociedade e suas instituições públicas.
regulação é prejudicial para a sociedade e incompatível
com o regime democrático, que pressupõe cidadãos ple- l Paulo Uebel, Diretor Executivo do Instituto Millenium

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O papel
do Estado
R
esoluções governamentais
que interferem em ações in-
dividuais, projetos de lei que
regulam atividades profissio-
nais, propostas de controle
dos meios de comunicação, entre outras
iniciativas, configuram movimento cres-
cente de ameaça aos fundamentos da
democracia, na opinião de Paulo Uebel,
Diretor Executivo do Instituto Millenium,
que abriu o seminário Liberdade em
Debate - Democracia e Liberdade de Ex-
pressão, realizado na última quarta-feira,
dia 16, no Rio de Janeiro. De acordo com
o acadêmico e escritor norte-americano
David Harsanyi, presente ao evento, o fe-
nômeno pode ser sintetizado no conceito
de Estado Babá, nome de sua principal
obra sobre o tema, e que traduz o que ele
considera perigoso paternalismo em curso,
mesmo nos EUA, considerado a maior
democracia do mundo.
“Temos que enfrentar essa visão elitista,
de que um grupo de sábios define como
nós devemos nos portar”, afirma Uebel.
Nos últimos anos, segundo ele, “observa-se
um avanço nessa tendência e no número de
projetos de lei que restringem a liberdade.
Só para tratar de liberdade de expressão co-
mercial, tramitam no Congresso Nacional
cerca de 200 projetos, segundo a Tendência
Consultoria Integrada, que desenvolveu a
pesquisa sobre os “Efeitos econômicos de
restrições impostas à informação publici-
tária”, para o Instituto Palavra Aberta. Para
regulamentar profissões, são outros 69
PLs, além das propostas de controle social
da mídia, feitas durante a Conferência

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Temos que enfrentar essa visão elitista, de
que um grupo de sábios define como nós
devemos nos portar

em foco l Paulo Uebel, Diretor Executivo do Instituto Millenium

Nacional de Comunicação (Cofecom), de


2009, e também no Programa Nacional de
Direitos Humanos (PNDH-3). Todos esses
movimentos inseridos num contexto do
“politicamente correto”, que impõe limites
diretos à expressão e à produção cultural.
“Precisamos ter cuidado com a pre-
missa da incapacidade popular”, alerta
Uebel. Para o Diretor Executivo do Ins-
tituto Millenium, apenas um ambiente
participativo, de imprensa livre, pode
qualificar a democracia. “Não há atalhos.”
Uebel defende maior debate sobre as
regras que vêm sendo propostas pelas agên-
cias regulatórias, como a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Acredito
que algumas medidas das agências trazem
mais malefícios do que benefícios”, diz. Ele
considera que essas medidas extrapolam
as atribuições originais das agências, e,
entre outras consequências, “fomentam
um mercado ilegal, corrupção e desvios”.
O evento, promovido pelo Instituto Mil-
lenium, reuniu 233 participantes, e teve
o apoio do Instituto Palavra Aberta, da
Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e TV (Abert), da Associação Brasi-
leira de Propaganda (ABP), da Associação
Nacional dos Editores de Revistas (Aner),
da Associação Brasileira das Agências
de Publicidade (Abap) e o patrocínio da
Souza Cruz. Contou com apresentações
de cientistas políticos, advogados, espe-
cialistas em Direito Regulatório, jornalistas
e economistas para debater os limites e os
impactos do que se poderia denominar
uma cultura da intervenção sobre a eco-
nomia e o regime democrático.

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O ESTADO BABÁ

Assalto à liberdade
individual
O
texano John Reader com- Nessa parafernália de leis, houve espaço para relato do autor de “O Estado Babá”, já não
partilhou com os clientes a criação das chamadas zonas de saúde ou se pode compartilhar esse hábito lícito
da Amazon, empresa de preservadas em Los Angeles - de onde foram de fumar em estabelecimento privado,
comércio eletrônico dos banidos os restaurantes de comidas conside- mesmo quando o proprietário, todos os
Estados Unidos, sua per- radas pouco saudáveis -; para a proibição seus empregados e clientes concordem.
plexidade com o nível de intolerância da das brincadeiras de pique das crianças; e até O movimento para mandar na casa dos
sociedade norte-americana, ao divulgar na mesmo para regulamentar a quantidade de outros já existe: recentemente, a rica Bel-
Internet sua resenha sobre o livro “O Estado água colocada nas vasilhas dos cachorros. mont, na Califórnia, incluiu a proibição
Babá” (“The Nanny State”), do jornalista e ao fumo nos prédios de vários andares
escritor norte-americano David Harsanyi. Ideologia destrutiva ou muitas unidades residenciais. “Na
Ele leu o livro ao voltar à terra natal, após Califórnia até em algumas ruas o fumo
longa temporada na Alemanha, e, usando as Segundo o autor do livro “O Estado é proibido”, contou. Outras cidades têm
mesmas lentes de aumento do conterrâneo, Babá”, lançado no Brasil pela Editora tentado fazer o mesmo, tornando o que
detectou a mão da igreja conservadora dos Litteris, esses pequenos ataques à liberdade começou com a proibição de fumar nos
EUA nessa onda de proibição a tudo o que os individual criam um precedente após o locais de trabalho um ataque direto à
“incomodados” consideram perigoso. outro para ampliar o comportamento pa- propriedade individual e à liberdade de
Esse foi o tema da palestra de David Har- ternalista do Estado. reunião e criando precedentes para coibir
sanyi no seminário Liberdade em Debate O jornalista está convicto de que al- outros “maus hábitos”.
- Democracia e Liberdade de Expressão, gumas pessoas consideram a liberdade A maioria dos norte-americanos está
realizado no Hotel Windsor Atlântica, no corrosiva e destrutiva, e que o Estado Babá ciente das constantes agressões às liber-
Rio de Janeiro. Segundo ele, as leis restritivas, alimenta essa crença por meio da coerção. dades individuais, mas parece não en-
que caracterizam o Estado Babá, impostas Na verdade, o governo, sob pressão da tender o seu alcance. Todos riram muito
por diversos governos no mundo limitam a minoria Babá, está forçando todos à obedi- quando um parlamentar falou em abolir
liberdade de escolha e prestam um desser- ência. “Nos EUA, por causa de um garoto a palmada, ou em criar documento auto-
viço à cidadania. que se afogou, foi feita uma lei que cria rizando as crianças a saírem às ruas no
Para David Harsanyi, há hoje nos EUA um sistema de fiscalização em todas as Dia das Bruxas. “Vemos isso como surtos
um conjunto de proibições consideradas piscinas. O custo é impressionante. Seria a isolados e absurdos, mas não deveria ser
tolas, mas disseminadas a ponto de se mesma coisa que criar fiscais para ver como assim”, comentou. Poucos reclamaram
constituírem em agressão à liberdade de as crianças brincam nas praças, proibir as quando a cidade de Nova York baniu as
escolha dos cidadãos. “Em um ano, Nova crianças de correr, e eu não quero viver em gorduras trans. “Ninguém acha que elas
York proibiu as gorduras trans, o foie gras, a um país assim”, disse ele. são saudáveis, mas qual é o parâmetro
ida ao McDonalds e a competição entre os para banir este ou aquele ingrediente?”,
postos de gasolina. Em São Francisco, leis Maus hábitos dos patetas questionou o jornalista.
disciplinam o uso do quintal. No Colorado, Na visão do escritor, os “proibicio-
o jogo de esconde-esconde das crianças foi Outra iniciativa nos Estados Unidos é a nistas” ganharam espaço quando desco-
banido. Em Chicago, o uso de microchips cruzada contra o tabagismo. Na maioria briram como impor as suas leis pessoais
nos animais tornou-se obrigatório”, relatou. das cidades americanas, de acordo com ao conjunto da sociedade. A estratégia de

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TRECHOS DO LIVRO l Em um ano, Nova York proibiu
(...) Chandler Goff, proprietário do Mulligan´s, certa vez afirmou
as gorduras trans, o foie
que não havia forma prática de calcular o conteúdo calórico ou
de gordura dos deliciosos pratos de seu restaurante. Acredito nele. gras, a ida ao McDonalds e a
Eu sou grato. Como serviço público, no entanto, Goff acrescenta competição entre os postos
uma observação em todos os cardápios, avi-
de gasolina. Em São Francisco,
sando aos usuários para “terem o bom senso
de perceber que, embora seja uma delícia, leis disciplinam o uso do
não recomendamos comer frituras todos os quintal e, no Colorado, o jogo
dias”. Goff também incentiva seus clientes
de esconde-esconde das
a se exercitarem regularmente e a fazerem
um check up anual. (...) crianças foi banido

(...) Como ocorre com praticamente todo atuação é simplista, porém convincente:
babysitterismo, a defesa antifumo começou “dê dois passos paternalistas para diante e
com a noção ideológica de que o Estado deve estar disponível um para trás. Argumente que o assunto tem
para ajudar. Mas, em algum momento, as advertências de saúde a ver com as crianças ou com os pobres.
pública e outras ajudas razoáveis e justificáveis se transformaram Converta o tema em questão de segurança,
em algo excessivo e invasivo. Uma advertência superficial se moralidade e vício. Afinal, quem acredita
tornou uma cutucada e depois um empurrão duro, e agora temos que um pateta seja capaz de resistir à
intimidação do Estado, castigos de leis que prejudicam os direito intoxicante sedução de um cheeseburger,
sde propriedade e a liberdade básica de escolha. (...) de um refrigerante ou de um maço de
cigarros?”, perguntou ele.

QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 7


CULTURA DA INTERVENÇÃO X SOBERANIA POPULAR

O difícil equilíbrio
A tradição de estabelecer limites sociais a partir de uma
ideia pré-definida de felicidade bate de frente com as novas
tecnologias, que ampliam o poder de expressão dos cidadãos

“A
s tecnologias di- namentais da Associação Nacional de Os três participaram do painel Cultura
gitais aumentam Jornais (ANJ). “Assistimos a um fenômeno da Intervenção x Soberania Popular, no
a democratização fantástico no mundo, das revoluções sem seminário Liberdade em Debate - De-
infinitamente, e vão líder”, diz ele. “As pessoas querem viver mocracia e Liberdade de Expressão, pro-
em caminho con- de acordo com sua própria consciência, movido pelo Instituto Millenium, ao lado
trário ao da intervenção do Estado”, afirma o dar opinião, exercer seu livre arbítrio. do jornalista Ricardo Gandour, diretor de
cientista político Alexandre Barros. Exemplo Esse é o novo modelo.” Para o diplomata, conteúdo do Grupo Estado, que destacou,
das mudanças em curso, “o governo do Egito economista e sociólogo Marcos Troyjo, o nessa virada de paradigma, a necessidade
caiu em uma revolta sem líder”, aponta mundo vive o momento de fundação de de fortalecer as instituições para a me-
Paulo Tonet Camargo, vice-presidente do algo novo, em plena construção e ainda diação equilibrada do exercício do poder
Grupo RBS e diretor de Relações Gover- desconhecido. em suas diferentes esferas. Para Troyjo, o

8 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011


As tecnologias O Brasil tem leis severas
digitais aumentam contra preconceito, e é
a democratização assim que tem ser. Mas
infinitamente, e vão em sem patrulhamento,
caminho contrário ao da sem perder o humor e
intervenção do Estado sem ameaçar a criação
l Alexandre Barros artística l Tonet Camargo

Precisamos fortalecer
nossa democracia,
resgatando e
restaurando, com força
máxima, esses cânones
básicos: equilíbrio e
representatividade
dos poderes; o
poder mediador das
instituições l Ricardo Gandour

novo ambiente político e social em for- a intervenção do Estado na sociedade por máxima, esses cânones básicos: equilíbrio
mação vai se basear em alguns parâmetros meio de veículos públicos de comunicação. e representatividade dos poderes; o poder
principais, entre eles a dinâmica altamente “A tecnologia torna a justificativa moral para mediador das instituições”, diz Gandour.
acelerada das tecnologias, crucial para a intervenções nessa área menos crível.” Mas “E é nesse cenário que se deve entender
liberdade de expressão e um desafio para é preciso que a rede seja neutra e livre. “Por a imprensa, o jornalismo, também como
as empresas de comunicação. “Para se ter isso, a grande batalha para não controlar a ente mediador.” Desse modo, assegurar a
uma ideia, o jornal New York Times tem, Internet; por enquanto, dá para termos o diversidade de anunciantes e a liberdade
atualmente, 20% do número de assinantes Julian Assange no Wikileaks; daqui a pouco, comercial de expressão das empresas pode
de dez anos atrás; e o Google, uma das não se pode mais”, afirma, numa referência representar, argumenta o jornalista, a inde-
maiores empresas de mídia da atualidade, ao diretor do site colaborativo que surpre- pendência e a liberdade de ação da mídia.
não produz um grama de conteúdo.” endeu a mídia e os governos ao começar a Na avaliação dele, a Internet multiplica os
Ao permitir que cada vez mais gente divulgar, no ano passado, correspondências canais de repercussão e interatividade e
tenha seu próprio canal de expressão, seja constrangedoras e secretas entre diplomatas realimenta a produção de notícias, mas a
uma rádio online ou um blog, a Internet, americanos e de vários países. maior parte do que se gera de informação
segundo Barros, tornaria obsoletas as tra- “Precisamos fortalecer nossa demo- primária na rede ainda nasce em redações
dicionais alegações éticas e morais para cracia, resgatando e restaurando, com força tradicionais. Para Troyjo, passo importante
èèè
QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 9
para deixar o modelo de Estado Babá (o rências do Estado na decisão das pessoas
padrão paternalista descrito pelo escritor sobre seu destino. O Brasil tem leis severas
americano David Harsanyi) é a sociedade contra preconceito, e é assim que tem ser.
recusar a tutela, ou, no caso da mídia, o ex- Mas sem patrulhamento, sem perder o
cesso de investimento publicitário estatal. Defendo um “Estado humor e sem ameaçar a criação artística.”
Na análise de Alexandre Barros, os es- “O excesso de regulamentação e a
farol”, que permite a
tados são quase sempre arbitrários e desme- censura matam o progresso. Todo mundo
didos quando tentam intervir nas ações da autorregulação, que que inventa é um excêntrico. O Henry
sociedade ou do indivíduo. O especialista induz e estimula o bem Ford, quando inventou o carro, colocou um
é cético mesmo em relação a regras defen- motor numa carruagem. Ele disse que não
comum, mas também
sivas, que visem a garantir a não regulação. fez pesquisa antes do projeto, porque, se
Como exemplo, cita o filme “O povo contra coíbe l Marcos Troyjo fossem consultadas sobre o que preferiam
Larry Flint”, em que o editor da Hustler para melhorar o transporte, muitas pessoas
recorre à primeira emenda da Constituição iam querer um cavalo que andasse mais
americana, mas precisa lutar nos tribunais rápido”, afirma Alexandre Barros.
para assegurar a circulação da revista. “O A ausência total de regulação, contudo,
governo dos EUA, como todos, escorrega. também pode colocar em risco o próprio
Quando Assange diz que está havendo pa- ideal de liberdade, na análise de Troyjo,
tifaria ali, o governo o ameaça.” Na opiniäo por exemplo, devido ao alto alcance da
do cientista político, “é fundamental que Internet para disseminação de conteúdos
exista liberdade tanto de pensamento como de ódio, pornográficos, etc. Nesse sentido,
de circulação de ideias, de associação e de ele defende um “Estado farol”, que permite
dissociação - quando alguém pode deixar a autorregulação, que induz e estimula o
uma religião, por exemplo, mesmo tendo bem comum, mas também coíbe. Man-
sido batizado.” tendo, contudo, sua prática distante dos
Atualmente, qualquer esforço de con- dois extremos: do Estado Babá definido
trolar conteúdos na sociedade “é ridículo“, pelo escritor norte-americano David Har-
na opinião do diretor da ANJ. “Antiga- sanyi para conceituar modelos muito
mente, o que não saía no Repórter Esso, paternalistas; e do que chama de “Estado
ninguém ficava sabendo. Hoje, se algum babão”, que deixa de agir, quando deveria.
telejornal não der uma notícia, milhares “É preciso resgatar a verdadeira agenda do
de sites vão furá-lo em dois segundos”. Ou Estado”, completa Gandour.
seja, diz Tonet, “o poder de decisão sobre “Cada um de nós busca a própria fe-
a liberação ou não de uma informação licidade. Mas há um momento em que a
não existe mais, embora alguns setores minha felicidade conflita com a sua”, ar-
continuem discursando como se houvesse gumenta Barros. O problema das interven-
monopólio”. Na avaliação do executivo, ções de cima para baixo para administrar
ninguém está formulando no país uma esses contraditórios, afirma, “é que são
teoria de comunicação para um Estado exageradas, e o Estado se dá o direito de
democrático de direito, no novo contexto intervir sem perguntar ao cidadão”. Para
tecnológico. “As universidades deveriam Tonet, na base dessas iniciativas desequi-
estar refletindo sobre isso”, sustenta. libradas está a ideia de que as pessoas são
Educação (CNE) recomendou vetar, sob “hiposuficientes para decidir seu destino.”
Carnaval e inovação acusação de racismo, a distribuição do Um pouco, diz ele, como fazia Jean-Paul
livro às escolas públicas - medida rejeitada Marat, um dos líderes da Revolução Fran-
Tonet também critica a censura em pelo Ministério. “Não sei como ainda não cesa. “No jornal ‘O Amigo do Povo’, ele
nome do politicamente correto, como proibiram as marchinhas de carnaval, por mostrava quem eram os inimigos do povo,
quase ocorreu, no ano passado, com “Ca- veicularem mensagens de discriminação: os que não tinham virtude, que eram contra
çadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato. Amélia, O teu cabelo não nega, Cabeleira os ideais da revolução e tinham que ser
Em outubro, o Conselho Nacional de do Zezé. É preciso rejeitar essas interfe- perseguidos”.

10 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011


LIBERDADE X REGULAÇÃO

Especialistas
denunciam
ressurgimento
da censura
Ações de vigilância sanitária são abusivas e
inconstitucionais, na opinião de juristas. Estudo
mostra que, além disso, provocam aumento do
contrabando e piora na qualidade dos produtos

A
intervenção estatal na O trabalho da Tendências foi realizado
atividade econômica é a pedido do Instituto Palavra Aberta e apre-
inconstitucional e fre- sentado pela presidente da ONG, Patrícia
quentemente abusiva, na Blanco, durante o painel Liberdade x Regu-
avaliação dos professores lação, no seminário Liberdade em Debate
Pedro Paulo Cristofaro e Gustavo Binen- -Democracia e Liberdade de Expressão,
bojm, dois dos maiores conhecedores de do qual participaram os dois especialistas
Direito Regulatório no país. Além disso, em Direito. “A regulação de vigilância
estudo da Tendências Consultoria Inte- sanitária é um polvo de muitos tentáculos,
grada sobre os “Efeitos econômicos de que espraia seu poder por diversos setores
restrições impostas à informação publici- da economia”, diz Binenbojm. Para ele, a
tária”, que analisou possíveis impactos da vigilância vem extrapolando suas atribui- Existe uma onda regulatória
resolução RDC 24, da Agência Nacional ções, para tentar fazer as escolhas no lugar
de Vigilância Sanitária (Anvisa), voltada dos consumidores - “como se não fossem crescente, que vem
a determinados alimentos e bebidas, adultos que pudessem escolher as formas asfixiando o setor produtivo
concluiu que a medida favorece a oferta de ser e de viver, e sobretudo os riscos que e fazendo com que empresas
de produtos de pior qualidade e o desin- desejam correr”. Na base desse modelo,
vestimento em melhorias e inovação nas explica, está o pressuposto de que o Estado legalmente estabelecidas não
empresas. tem maior capacidade de julgamento do possam atuar l Patrícia Blanco
èèè
QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 11
Todas as constituições que o Brasil
teve definiram a livre iniciativa como
regime econômico. Mas a de 1988,
além de consagrar o regime no capítulo
próprio, elevou a livre iniciativa a um dos
fundamentos da República, expresso no
artigo primeiro da Constituição, ao lado
da soberania e do respeito à dignidade
humana l Pedro Paulo Cristofaro

que o cidadão. A regulação de vigilância resoluções e leis que interveem na ativi- “No fundo, não divergem muito da orien-
sanitária constitui um dos três exemplos dade empresarial. “Todas as constituições tação intervencionista da administração
“paradigmáticos” do que Binenbojm con- que o Brasil teve – sete, mais duas grandes pública direta. Vemos que, efetivamente,
sidera “formas redivivas de censura” à reformas – definiram a livre iniciativa como a livre iniciativa, regime consagrado na
liberdade de imprensa e à liberdade de regime econômico. Mas a de 1988, além Constituição, não é tão livre assim.”
escolha dos indivíduos. Os outros seriam de consagrar o regime no capítulo próprio, O excesso de regras, avalia Binenbojm,
a tentativa de proibir a crítica de humor no elevou a livre iniciativa a um dos funda- produz o que os especialistas chamam
período eleitoral, suspensa pelo Supremo mentos da República, expresso no artigo de “externalidades negativas”, ou seja,
Tribunal Federal; e a classificação indica- primeiro da Constituição, ao lado da so- redução da livre concorrência, aumento
tiva nos cinemas, que, em vez de entendida berania e do respeito à dignidade humana. do contrabando, fortalecimento de oli-
como “indicação”, teria tomado caráter Esse é o quadro legal brasileiro.” Mesmo gopólios, etc. Foram basicamente esses
impositivo. assim, o especialista lamenta que existam, efeitos que o estudo da Tendências sobre a
Cristofaro adverte, ainda, para a in- no país, dez agências reguladoras federais, RDC 24 identificou. “Constatou-se que os
constitucionalidade de grande parte das 31 estaduais e seis municipais, 47 ao todo. efeitos da resolução seriam mais danosos
do que benéficos. E que, do ponto de vista
do objetivo de coibir o consumo, ela seria
inócua”, resume Patrícia.
A RDC 24, de 15 de junho de 2010, exigia
que as propagandas de alimentos com muito
açúcar, gordura saturada, trans ou sódio e be-
bidas - consideradas pela agência de baixo
O excesso de regras produz teor nutricional - tivessem mensagem de
o que os especialistas alerta sobre os males que o produto poderia
causar. Está atualmente suspensa por liminar.
chamam de “externalidades
O primeiro impacto, diz a presidente do Pa-
negativas”, ou seja, redução lavra Aberta, seria o desestímulo aos gastos
da livre concorrência, com publicidade: “Com isso, a empresa deixa
de informar o consumidor, que, por sua vez,
aumento do contrabando,
fica sem referencial para escolher e julgar a
fortalecimento de qualidade das diferentes ofertas.” Outra con-
oligopólios, etc sequência é a piora na qualidade do produto.
Sem poderem divulgar os ganhos e benefícios
l Gustavo Binenbojm
de suas marcas, as empresas tendem a reduzir

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também os investimentos em tecnologia, em razão para deixar de circular a informação desdobramento adicional e indireto, que seria
inovação e melhoria. sobre os produtos. comprometer gradativamente a liberdade de
Patrícia acredita que exista uma “onda No caso da RDC 24, diz Binenbojm, “a imprensa e a liberdade de escolha.
regulatória crescente, que vem asfixiando cada efeito silenciador da regulação, você Esse efeito colateral “perverso e perigoso”,
o setor produtivo e fazendo com que em- aumenta o grau de ignorância e piora a escolha explica, acontece quando se restringe a pu-
presas legalmente estabelecidas não possam do consumidor”. Ele lamenta que existam, blicidade privada e os veículos de comuni-
atuar”. O resultado, afirma, é o aumento do atualmente, cerca de 200 projetos de lei no cação passam a depender cada vez mais da
contrabando. A consultoria também analisou Congresso Nacional voltados à proibição de propaganda governamental. “Por trás dessas
a projeção dos efeitos de restrições à infor- propaganda comercial, cujo fundamento “é propostas, podem haver outras intenções, de
mação publicitária para outros setores, como controlar o que consumidor pode saber para controle”, afirma, lembrando as propostas de
cigarros, medicamentos e produtos infantis protegê-lo contra si mesmo”. Por exemplo, controle social da mídia feitas pelo Governo
(mamadeiras, chupetas, etc.). “Há sempre uma dessas propostas quer proibir propaganda Federal. Este ano, em apenas um mês e dez
uma justificativa muito boa”, diz a presidente de microcrédito para evitar o superendivi- dias de funcionamento do Congresso Na-
do Instituto Palavra Aberta. “Por exemplo, no damento das pessoas. Além de contrário ao cional, já surgiram quatro novos projetos de
caso das mamadeiras, que desestimulam o argumento de base de ações desse tipo, o lei que restringem a liberdade de expressão
aleitamento materno. Quem vai ser contra? doutor em Direito Público alerta para um comercial, informa Patrícia.
Mas as mulheres que não podem amamentar
não sabem mais como diferenciar o produto
de qualidade”.

Autorregulamentação
Perdas de R$ 5,2 bilhões
As regras, tanto quanto possível, se-
gundo Patrícia, devem obedecer a três Enquanto a resolução RDC 24, que os produtos regulares vendidos em 420
princípios: neutralidade, respeito ao fun- trata de informações nos rótulos dos pro- mil pontos comerciais no país perderiam
cionamento do mercado e simplicidade. dutos alimentícios, foi temporariamente os atributos buscados pelo consumidor,
Como o modelo do Conselho de Autorre- suspensa por medida liminar, outras que continuariam sendo oferecidos no
gulamentação Publicitária (Conar), cita. “O duas propostas de regulação da Agência mercado negro.
pressuposto básico tem que ser a liberdade, Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) A resolução 117 veda a exibição dos
tanto do mercado, de as empresas se reu- estão em consulta pública até o dia 31 de maços de cigarro no comércio e amplia
nirem em códigos de autorregulamentação, março, com novas restrições, dessa vez as advertências contra o consumo nas
quanto do indivíduo, de escolher o que vai ao mercado de cigarro. Se aprovadas, embalagens. Além de também contribuir
consumir.” as CPs 112 e 117 podem representar para a expansão do contrabando, pela
Os casos de má conduta, como a venda perdas com evasão fiscal da ordem de dificuldade de acesso ao produto lícito,
de alimentos podres ou a fabricação de R$ 5,2 bilhões, entre IPI, PIS, Cofins e levantamentos feitos no Canadá e na
fogos de artifício que explodem e ferem ICMS não recolhidos. Os dados são de Islândia, onde as mesmas determinações
os consumidores, devem ser tratados pela um trabalho da Fundação Getúlio Vargas, entraram em vigor em 2001, mostraram
Justiça, sem normas setoriais, diz Cristofaro. que detectou, como principal efeito das que elas não surtiram resultado, ou seja,
”São práticas proibidas para todos. Não há novas regras, a perda de consumidores não alteraram em nada os hábitos dos
necessidade de regulação específica. O no mercado legal, atraídos por cigarros fumantes.
comportamento antissocial que possa ter o vendidos no contrabando. Outros impactos identificados pela
empresário é tão ilegal quanto o daqueles O fortalecimento dos similares ile- FGV das medidas em consulta pública
que não são empresários.” gais seria resultado direto, de acordo seriam a redução de 140 mil postos for-
Para o especialista em Direito Regula- com a análise, da resolução 112, que mais de trabalho na cadeia produtiva de
tório, a liberdade é o principal valor a ser quer proibir o uso de determinados tabaco e de cigarros; prejuízos a 2 mil
preservado. E se há falta de esclarecimento ingredientes - flavorizantes, umectantes, fornecedores, dos quais 500 sob risco
na sociedade, diz o professor, combata-se ameliorantes, açúcares, responsáveis de fechar as portas; redução de US$ 300
a ignorância. A hipótese de o consumidor pelo sabor e aroma próprios de cada milhões/ano nas exportações (atualmente
ter um nível de analfabetismo funcional não marca de cigarro. Basicamente porque da ordem de US$ 3 bilhões).
pode, também na avaliação de Patrícia, ser

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POLITICAMENTE CORRETO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A arte de ser minoria


Palestrantes apontam a necessidade de cultivar o princípio
da tolerância e a capacidade de conviver com as diferenças
e contradições, sem imposição de modelos

A
s dificuldades para fazer de imposição de felicidade pública. Mas porco, o defendeu do extremismo, muito
rir, escrever artigos ou admite ser uma farsa como militante do comum em sua profissão: “Os jornalistas
mesmo um livro de his- politicamente incorreto: “Eu sou um ati- são os grandes responsáveis pela onda
tória que passe longe do vista da faixa de pedestre”, afirmou. Ele do politicamente certo. É a raça que mais
É um peso consenso foi o tema do acredita que a máscara do cara errado acredita que é correta. Se acham os porta-
muito grande painel Politicamente Correto e Liberdade fica melhor nos defensores do socialismo, vozes de Deus”, disse ele.
de Expressão, reunindo o historiador pa- por ser a melhor opção de manter o povo O jornalista e blogueiro Reinaldo Aze-
ser correto em ranaense Leandro Narloch, o apresentador na pobreza: “só o cristianismo foi melhor vedo contou que, hoje, aprecia mais a
tudo, o humor do CQC Marcelo Tas, o colunista da Veja para os pobres do que o capitalismo”. democracia pelo seu valor negativo; ou
é uma forma Reinaldo Azevedo, e o economista e arti- Marcelo Tas admite que desafia o coro seja, pela possibilidade de as minorias
culista de O Globo Rodrigo Constantino. do consenso por uma questão de saúde dizerem o que pensam. “Nas ditaduras,
de vacina Autor do “Guia politicamente incorreto mental. “É um peso muito grande ser também é permitido concordar. Pode-se
contra isso da história do Brasil”, Narloch já pensa correto em tudo, o humor é uma forma dizer “sim” em Nova York, em Trípoli e
em criar a Associação das Pessoas em de vacina contra isso”. Segundo ele, um em Pequim. A segurança para dizer “não”
l Marcelo Tas Geral para se defender do que chama defeito de fabricação, o de espírito de é que distingue os regimes”, afirmou. Na
sua opinião, o teste da capacidade de
conviver com a diferença é aceitar que o
outro exponha a sua “verdade”, por mais
estúpida que pareça. ”É preciso dizer
com clareza e destemor o que se pensa,
e não com o intuito de destruir o outro,
de eliminar a contradição, de extirpar o
adversário”, enfatizou.
Rodrigo Constantino também defende
uma sociedade aberta, em que todos podem
se expressar, mas obedecendo aos princípios
da tolerância. “Os socialistas podem até
criar, se desejarem, uma comunidade do
jeito deles. Só não podem impor seu modelo
aos demais”, assinalou. Mas, na sua visão,
há hoje no Brasil e no mundo uma ditadura
velada do politicamente correto. “É parte
inexorável da liberdade de expressão escutar
o que não se gosta. Cabe ao governo garantir
a todos se expressarem, com segurança,
inclusive, através de veículos de imprensa

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apropriados”. Azevedo acha que ninguém a torneira ao lavar as mãos, para economizar
deve deixar se pautar, “senão enlouquece”: água e salvar a humanidade. Ora, 75% de
“No meu blog, eu apanho bastante, mas toda a água do mundo vão para a lavoura,
não escondo que ele tem um ponto de subsidiada. Dizer a uma criança para fazer isso
vista e é escrito para as pessoas com visões é ecoterrorismo, e uma medida que só servirá
semelhantes”. para deseducá-la e mantê-la de mãos sujas”.
Para o humorista, três regras claras
Os limites da perfeição adotadas em seu blog impõem limites ao
arbítrio: a proibição de xingamentos, de-
Ao mediar o painel, a jornalista Mônica núncias vazias e propaganda de si mesmo.
Waldvogel tentou estabelecer os limites de “No caso de dúvida, aconselho a observar
atuação ideal do politicamente correto, lem- o comportamento das crianças”, finalizou
brando aos quatro participantes os avanços Marcelo Tas, lembrando que é a favor das Penso
conquistados pelos seus militantes em re- cotas raciais, “um avanço inegável, em em criar a
lação às raças, mulheres e crianças. “Qual face da criminosa escravidão”. Azevedo
Associação
é a fronteira de sua atuação, já que sabemos discorda da tese. Segundo ele, a patrulha
Existe atualmente uma que também existem iniciativas que beiram politicamente correta, orientada pela es- das Pessoas
compulsão à higienização e a área do atraso civilizatório?”, questionou. pírito da reparação e da correção das de- em Geral para
Marcelo Tas concorda que é preciso ter sigualdades e das injustiças, constitui-se,
à saúde. Ninguém é contra me defender
cuidado com a demonização do Estado e hoje, numa verdadeira polícia do pensa-
ser saudável, mas é preciso das ONGs. “Acho que o mais importante, na mento. “Agride a liberdade de expressão da imposição
equilíbrio para garantir o defesa da liberdade de expressão, é deixar e, muitas vezes, agride os fatos, impedindo de felicidade
as nossas almas se friccionarem livremente até mesmo a avaliação da eficiência de
direito de escolha pública
nos debates, para tentar salvar o que há de determinadas políticas públicas, como no
l Reinaldo Azevedo melhor no mundo”, assinalou. caso das cotas”, assinalou. l Leandro Narloch
Na visão de Reinaldo Azevedo, deve ser
garantido incondicionalmente o direito de
escolha, inclusive das más escolhas, desde
que elas não violem o direito dos outros.
“Mas existe atualmente uma compulsão à
higienização e à saúde. Ninguém é contra
ser saudável, mas é preciso equilíbrio para
garantir o direito de escolha”. O humorista
do CQC também acredita que a pessoa tem
o direito de beber e fumar, e o “Estado de
proibir que dirijam embriagados”. “Calar a
expressão de alguém é presunção de infali-
bilidade”, enfatizou Azevedo.
Narloch lembrou que seu livro, apesar
de criticado, ajudou a retirar a carga de
vitimologia dos negros. Um deles escreveu
elogiando a iniciativa. “Ele disse que, a partir
dele, não precisou mais pensar nos seus ante-
passados só como vítimas ou rebeldes”. Para
Há hoje, no Brasil e no Rodrigo Constantino, o cerceamento social e
mundo, uma ditadura governamental é uma marca divisória clara
do tolerável. Na sua opinião, a seita religiosa
velada do politicamente
mais influente hoje é o ambientalismo, com
correto seu monopólio de virtudes. “Minha filha
l Rodrigo Constantino chegou em casa com instruções para fechar

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