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FORTALEZA
2008
AMANDA OLIVEIRA CAVALCANTI
FORTALEZA
2008
AMANDA OLIVEIRA CAVALCANTI
Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Economia, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Desenvolvimento Econômico,
outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se à disposição dos
interessados na Biblioteca da referida Universidade.
A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo
com as normas de ética científica.
Data da aprovação ____/____/____
___________________________________
Prof. Carlos Américo Leite Moreira
Prof. Orientador
___________________________________
Prof. Agamenon Tavares de Almeida
Membro da Banca Examinadora
___________________________________
Prof. Keuler Hissa Teixeira
Membro da Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
A Deus, que em seu amor, me deu vida e inteligência, e que me dá força para
continuar a buscar os meus objetivos.
Aos meus pais José Arimatéa e Poliana, por todo o esforço e dedicação, no sentido de
terem me proporcionado uma boa educação que serve de base para as realizações de minha
vida.
Ao professor Carlos Américo pela sua disposição, dedicação e orientação na
realização deste trabalho.
Aos professores Agamenon e Keuler, por fazerem parte da banca examinadora.
Ao meu esposo que acompanhou e incentivou o desenvolvimento desta pesquisa
sempre de maneira solícita e amorosa.
E aos demais que, de alguma forma, contribuíram na elaboração desta monografia.
RESUMO
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 07
CONCLUSÃO..................................................................................................................... 67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 72
7
INTRODUÇÃO
Desde o primeiro governo FHC até os dias de hoje têm-se consolidado no Brasil o
contexto de globalização financeira, de maneira que a relação entre o regime cambial e o
comportamento dos fluxos comerciais e financeiros tornou-se ainda mais complexa. Segundo
Prates (2006), nos países que adotaram um grau elevado de abertura financeira, a dinâmica
8
dos fluxos de capitais sobrepõe-se, em geral, àquela dos fluxos comerciais, exercendo
influência decisiva sobre a trajetória dos balanços de pagamentos e o comportamento da taxa
de câmbio. Nesse cenário, a escolha do regime cambial constitui uma decisão estratégica (e
não trivial) de política econômica. Os regimes de câmbio administrado (fixo ou bandas
cambiais), que prevaleceram nos países periféricos na década de 90, tem o mérito de garantir
a estabilidade da taxa de câmbio nominal, mas que se revelavam extremamente suscetíveis à
apreciação da taxa de câmbio real e a ataques especulativos, que culminaram em sucessivas
crises cambiais na segunda metade daquela década, dentre as quais a crise brasileira de 1998-
1999. Após essas crises, as políticas de câmbio fixo ou semifixo cederam lugar aos regimes de
flutuação seja na maioria desses países, incluindo o Brasil. Todavia, no contexto de alta
mobilidade de capitais, esses regimes podem resultar em volatilidade excessiva da taxa de
câmbio, com implicações negativas sobre as decisões de investimento e de exportação.
Diante disso, fica evidente o quanto é arriscado definir a política econômica nacional
com base na premissa de uma abundante e duradoura oferta de capital estrangeiro, dado a
natureza volátil dos fluxos de capitais em decorrência de sua própria lógica especulativa de
atuação.
Para responder aos objetivos propostos, este trabalho científico foi realizado através de
uma pesquisa bibliográfica, documental e análise tabular descritiva, além de se considerar
relevante os boletins e indicadores de sustentabilidade informados periodicamente pelo Banco
Central do Brasil. Esta pesquisa será suplementada pela apresentação de dados de modo a
9
Conforme afirma Filgueiras (2000), essa nova realidade permitiu aos países periféricos
montarem suas estratégias de estabilização apoiadas precariamente nos fluxos internacionais
de capitais, o que também enfraqueceu a capacidade de seus governos em fazer políticas
macroeconômicas.
Com relação aos investimentos diretos externos, estes foram considerados como
complementares à poupança nacional e também possíveis condutores de transferência de
tecnologia. Diante disso, o Consenso preconizava que tais investimentos deveriam ter um
tratamento, no mínimo, igual ao capital nacional.
12
Em consonância com as reformas liberais, o Plano Real foi implementado baseado nos
pilares da abertura econômica, atração de capitais estrangeiros e redução da atuação do
Estado, além de ter como objetivo central a estabilização de preços internos ou o controle da
inflação.
1
Esse cenário de grande liquidez internacional foi determinado, especificamente, pelo ciclo econômico do
período, pela política monetária dos países centrais e pelas decisões de aplicações e resgates dos investidores
globais, subordinados à lógica especulativa (realização de ganhos de capital em função de variação do valor de
mercado dos preços dos ativos no curto prazo).Ou seja, os investidores estrangeiros buscavam avidamente
14
oportunidades de ganho em praças consideradas de maior risco, principalmente após a redução da taxa básica de
juros dos Estados Unidos nos anos 90.
15
capitais entre o país e o exterior, ao reduzir as barreiras até então existentes aos investimentos
estrangeiros de portfólio no mercado financeiro doméstico e viabilizar o acesso dos residentes
às novas modalidades de financiamento externo como emissão de títulos e ações no mercado
internacional de capitais. Já as transações monetárias e financeiras em moeda estrangeira
permaneceram muito restritas no mercado doméstico. (CINTRA e PRATES, 2004).
O regresso dos fluxos de capitais para a economia brasileira e para América Latina a
partir do final de 1991 esteve associado a fatores externos de natureza conjuntural e estrutural,
quais sejam: a retração do crescimento nos países centrais e a nova dinâmica do mercado
financeiro internacional. (PRATES, 1997).
captações em 1994. Com isso, houve uma alteração dos portfólios dos investidores
estrangeiros que migravam em direção as aplicações em dólares, diminuindo assim a demanda
por títulos emitidos por instituições latino-americanas.
Como pode ser observado na Tabela 1, no período de 1994 a 1996 grande parte dos
fluxos de capitais para o Brasil eram vinculados aos investimentos em carteira, que possuem
um viés mais especulativo, buscando alta lucratividade. Esses investimentos de portfólio em
geral têm prazo mais curto, maior liquidez e, por isso, são potencialmente mais voláteis.
Dentro desse cenário de abertura externa, surgiu o primeiro sinal de risco para a
economia brasileira que foi a crise do México2 em dezembro de 1994. As conseqüências dessa
crise, que pode ser considerada como sendo a primeira manifestação do chamado “Efeito
Contágio”, provocaram uma mudança no cenário em que se processava o ajuste das
economias latino-americanas, ao elevar o risco cambial dos investimentos. Os investidores,
movidos pelas finanças de mercado, passaram a vender seus ativos dos países latino-
2
A crise econômica do México em 1994 teve repercussões mundiais. Foi provocada pela falta de reservas
internacionais, causando desvalorização do peso, durante os primeiros dias da presidência de Ernesto Zedillo.O
país tinha um déficit de 27 bilhões de dólares na balança comercial, queda das reservas e desvalorização do
peso, fazendo com que em todo o mundo caíssem as cotações dos títulos dos países emergentes. Mais de 200 mil
mexicanos perderam seus empregos e milhares de empresas fecharam as portas.
18
No mês de maio de 1997 teve início uma crise mais aguda que a crise mexicana,
através de um movimento fuga de capitais e do ataque especulativo a moeda tailandesa. Pouco
depois, outros países da região asiática também sofreram ataques especulativos. Através do
“efeito contágio” essa crise se propagou na direção de vários países em desenvolvimento,
atingindo fortemente inclusive países da América Latina como o Brasil. Este foi o início do
fim da fase de alta liquidez para as economias emergentes.
Desta forma, a grande fase de liquidez que marcou a década de 90 teve seu fim a partir
da crise asiática que foi seguida da crise da Rússia (1998), da crise cambial do Brasil (1999) e
finalmente da crise da Argentina em 2001. Além disso, a retração dos fluxos de capitais para
19
os países em desenvolvimento foi acentuada pelo desinflar da bolha especulativa nas bolsas
de valores americanas, pelos ataques de 11 de setembro e pela revelação de escândalos
contábeis em corporações americanas de capital aberto.
35.000,00
30.000,00
25.000,00
20.000,00
15.000,00
10.000,00
5.000,00
0,00
3
Notas explicativas sobre a metodologia do BACEN para o cálculo do fluxo de IDE para o Brasil: I - No período
de 1996 a 2000, são considerados os ingressos de investimentos para empresas receptoras de US$ 10 milhões ou
mais ao ano; II - A partir de 2001, são considerados todos os ingressos de investimentos; III - Conversões em
dólares às paridades históricas.
21
das estatais brasileiras que começava a desacelerar e da crise na economia mundial que retraiu
os investimentos externos.
Outro ponto importante a ser discutido é o fato de parte expressiva do IDE ter sido
destinado ao longo dos anos 90 a fusões, aquisições e privatizações. No ano 2000, por
exemplo, conforme dados da WIR-2004, 70% do IDE foi destinado à fusões e aquisições, ou
seja, dos quase US$ 33 bilhões de IDE que ingressaram no Brasil, aproximadamente US$ 23
bilhões foram destinados à capacidade produtiva previamente existente na economia. Desta
forma, esta modalidade de investimento não cria nova capacidade produtiva, conforme
explica Laplane e Sarti (2003), diferentemente do IDE destinado à construção de novos
ativos, aquele orientado a compra de ativos existentes, públicos ou privados, não podem ser
caracterizados como investimentos no sentido macroeconômico. Nesses casos, a relação do
IDE com o crescimento do produto é, na melhor das hipóteses, indireta. Depende basicamente
de que o novo proprietário estrangeiro realize investimentos adicionais na modernização e/ou
na ampliação da capacidade de produção do ativo recém adquirido e dos aumentos de
produtividade resultante.
Com relação ao financiamento líquido apenas nos anos de 1995, 1996 e 2001
apresentou sinais positivos. Em termos médios houve saída líquida de capital durante toda a
década, com destaque para o saldo negativo de US$ 43,6 bilhões em 1994. Diante disso,
pode-se observar que no período como um todo, o financiamento líquido médio em operações
de bônus, commercial paper e empréstimos bancários pouco cooperaram para consolidar as
contas externas brasileiras.
Prates (2006) ainda destaca que a ampliação do grau de abertura financeira no segundo
mandato do presidente FHC seguidas pelas medidas adotadas no governo Lula foram
condicionantes do desempenho da conta financeira do Balanço de Pagamentos do período
2003- 2006. Ou seja, a evolução da conta financeira reflete a interação da dinâmica da
economia internacional no período com o marco institucional referente à abertura financeira,
o regime de câmbio flutuante e a gestão cambial e monetária. A autora ainda salienta o ponto
de vista de que existe uma hierarquia entre esses fatores: a dinâmica dos fluxos de capitais
constituem o determinante, em última instância desta inserção, enquanto os demais fatores
internos - estruturais e macroeconomias - constituem mediações dos impactos dessa dinâmica
sobre a composição dos fluxos de capitais.
Segundo Munhoz e Correa (2006) este novo ciclo de liquidez possui algumas
especificidades próprias que o diferencia dos ciclos anteriores. Acontece nesse período uma
contração de empréstimos bancários e há um predomínio de lançamentos de títulos da dívida
externa e, por fim, um menor volume de Investimento Direto Estrangeiro.
24
O ano de 2003 foi caracterizado por uma evolução dos títulos da dívida dos países
emergentes devido às baixas taxas de juros nos países centrais. Associado a isso, havia um
contexto de ampla liquidez internacional e aumento do apetite ao risco dos investidores
globais.
No período que corresponde aos três primeiros anos do governo Lula, as condições
internacionais mais favoráveis, tanto no aspecto liquidez como no aspecto de crescimento,
resultaram na retomada dos fluxos de capitais voluntários e permitiram o pagamento de
operações de regularização com o FMI, como pode ser visualizado no gráfico 2. É
interessante observar que a partir de 2004 há uma inversão do fluxo de operações de
regularização, nos anos anteriores essa modalidade recebia sucessivos ingressos de capital do
FMI, cumprindo o papel de suprir liquidez em moeda estrangeira. Entre 2004 e 2005 essa
conta de operações de regularização registra valores negativos que chega a 2005 em US$ -
23.271 milhões, o que representa o pagamento das operações de regularização nesses anos
através de saídas de capital sob a forma de amortizações.
25
60000
50000 Investimento estrangeiro
direto
40000
30000 Investimento estrangeiro em
carteira
20000
10000
Outros investimentos
0 estrangeiros (líquido)
-10000 2003 2004 2005 2006 2007
Operações de regularização
-20000 (líquido)
-30000
Na visão de Prates (2006), o crescimento dos fluxos de IDE após 2004 se insere num
movimento de retomada dos fluxos de investimento externo direto para os países periféricos.
Já a modalidade de fluxos financeiros dos investimentos estrangeiro em carteira têm um
movimento mais instável, apresentando uma trajetória de recuperação consistente a partir de
2005, atingindo em 2007 o montante de US$ 48.104 milhões, como pede ser visto através do
gráfico 2.
0
JAN ABR JUL OUT JAN ABR JUL OUT JAN ABR JUL OUT JAN ABR JUL OUT JAN ABR JUL OUT
-5000
-10000 2003 2004 2005 2006 2007
-15000
Ações negociadas no país
Ações negociadas no exterior (Depositary Receipts)
Títulos de renda fixa negociados no país LP e CP (líquido)
Títulos de renda fixa negociados no exterior LP e CP (líquido)
Como pode ser observado no gráfico acima, somente as aquisições de ações na Bolsa
de Valores de São Paulo (BOVESPA) apresentaram uma recuperação significativa e
persistente que se torna mais intensa a partir de 2005. Nesse ano, segundo Prates (2006), além
do “rally” praticamente generalizado nos mercados acionários dos países centrais e
emergentes, tanto da Ásia como da América Latina, fomentado pelo contexto de ampla
liquidez, esses investimentos foram atraídos pelas perspectivas de lucro com ações negociadas
no mercado acionário doméstico e com a apreciação da taxa de câmbio real. A autora ainda
conclui que apesar do crescimento do seu valor de mercado em dólares nos últimos meses, a
bolsa brasileira é ainda a mais barata entre as bolsas dos países emergentes, reflexos do
patamar reduzido da razão Preço / Lucro da média dos papéis negociados.
É importante observar que esta trajetória crescente mantém-se até o ano de 2007,
quando atinge-se o montante de US$ 24.613 milhões em ações de companhias brasileiras
negociadas no país. Esse incremento no mercado acionário brasileiro também pode ser
visualizado na tabela 3, que apresenta as ofertas primárias e secundárias de ações registradas
na CVM.
Desta forma, como conclui a Carta da SOBEET (2008), a significativa elevação das
ofertas de capital, sejam primárias ou secundárias, está intimamente relacionada à
consolidação da estabilidade da economia brasileira (iniciada em meados da década de 90), ao
aprimoramento da regulamentação do mercado financeiro, além das condições favoráveis da
economia global.
Com relação aos títulos renda fixa negociados no exterior, pode-se notar no
comportamento bem inconstante e fluxos negativos na maior parte do período. Prates (2006)
atribui esse comportamento ao regime de cambio flutuante, que desestimulou a demanda por
endividamento externo ao implicar maior risco cambial e custo de hedge potencialmente mais
elevado.
4
Emissão de certificados, por bancos norte-americanos, representativo de ações de empresas sediadas fora dos
EUA. Na medida em que tais são negociados no mercado de valores mobiliários internacional, cria-se na prática
a possibilidade de esse mercado de títulos estar negociando ações de empresas de outros países.
28
Duas foram as principais causas assinaladas por Moreira & Scherer (2002) para o
retorno dos novos países industrializados latino-americanos aos mercados financeiros
internacionais. De um lado, as políticas baseadas na liberalização/desregulamentação dos
mercados, bem como o sucesso dos planos de estabilização relativamente ao controle
inflacionário, garantiram um ambiente favorável à retomada do crédito. De outro lado, as
reformas ocorridas no setor financeiro e o maior interesse de parte dos agentes da finança
desintermediada permitiram, em conjunto com os fatores anteriormente citados, a extensão de
um regime de acumulação sob dominância financeira5 aos países dessa região.
É válido ressaltar que na medida em que o poder da finança crescia nas economias
emergentes da América Latina, eram postas de lado as políticas comerciais protecionistas
nacionais, reduzindo significativamente as barreiras comerciais, lançando a indústria nacional
5
Expressão usada para designar uma configuração nova do capitalismo, na qual o movimento da acumulação e
seu conteúdo econômico e social concreto seriam moldados pelas posições econômicas e sociais, concedidas e
conquistadas por formas muito concentradas de determinado tipo de capital, aquele designado por capital
portador de juros ou ainda forma moderna do capital dinheiro.
30
Com a retomada dos fluxos de capitais para os países da América Latina nos anos 90,
criou-se uma esperança de que fossem retomados também os níveis de crescimento das
economias. Porém, isto não se constatou na prática. Ao contrário, o que verificou-se foram
sucessivas crises desencadeadas nos países latino-americanos e que têm em sua origem ligada
à própria lógica do regime de acumulação sob dominância financeira, revelando a
instabilidade escondida atrás das boas performances obtidas no combate à inflação.
(MOREIRA e SCHERER, 2002).
O volume expressivo de reservas era importante, tanto para ancorar a nova moeda
brasileira como para garantir com razoável segurança o impacto do aumento do consumo e
das importações, quando ocorresse o lançamento do plano de estabilização econômica.
A fase preparatória para o lançamento do Plano Real se caracterizou como uma fase de
equilíbrio das contas externas do país associada a um contexto de liquidez internacional.
O combate efetivo à inflação foi desencadeado com o Plano Real, que teve por
objetivo estabilizar a moeda e recuperar-lhe a confiança. Foi um plano anunciado com
antecedência e amplamente divulgado, chegando até ser discutido no Congresso Nacional
com os principais agentes econômicos e os meios de comunicação. Esse amplo debate inicial
foi uma forma de contribuir para aumentar a credibilidade do plano perante uma sociedade já
incrédula, tendo em vista os sucessivos fracassos dos planos anteriores de combate à inflação
durante as décadas de 80 e 90.
Sua execução deu-se em três fases consecutivas. A primeira delas foi a fase de ajuste
fiscal, na qual o governo empreendeu um forte combate ao déficit público, buscando o
equilíbrio entre a receita e a despesa pública. Desta forma, o governo agiu em dois sentidos,
reduzindo os gastos públicos e aumentando a arrecadação. O equilíbrio nas contas públicas
em todas as esferas do governo – municipal, estadual e federal – era considerado essencial
para o êxito do novo plano.
A terceira fase foi a implantação do Real propriamente dita, que aconteceu a partir de
1◦ de julho de 1994 quando o governo lançou a nova moeda chamada Real, suprimindo a
URV. Nesta fase, também foram eliminados quase todos os índices de indexação da economia
32
de modo que preços, salários e contratos não fossem mais reajustados com base na inflação
passada. Deste modo, pretendia-se descontaminar o Real da inflação passada da moeda
anterior e também minimizar ou apagar a memória inflacionária da sociedade como um todo.
O Plano Real atingiu seu objetivo primordial e mais imediato que era o controle da
inflação. Contudo, a jornada percorrida para conseguir a estabilização dos preços aprofundou
desequilíbrios estruturais pré-existentes e também criou novos, contribuindo assim, para o
aprofundamento da instabilidade macroeconômica do país.
Nessa perspectiva, Filgueiras (2000), avalia que essa instabilidade sistêmica, produto
da inconsistência interna do plano e de sua condução, ficou explícita, claramente, a partir da
crise do México (dezembro de 1994), foi reiterada com a crise dos países asiáticos (junho de
1997) e novamente com a crise da Rússia (agosto de 1998). Essa inconsistência evidenciou-
se, mês a mês, no aparecimento e depois explosivo crescimento de déficits na balança
comercial do Brasil. A abertura da economia e a sobrevalorização do Real escancararam o
país às importações e tirou a competitividade das exportações, que cresceram num ritmo bem
inferior ao das importações.
9
8
8,34 8,25
7 7,84 7,88
6 6,83
5 6,14
5,8
5,43
4 4,96
3
2
1
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Taxa Média de Desemprego
Fonte: IPEADATA
Filgueiras (2000) explica que a bem sucedida transição da velha para a nova moeda,
com o uso da URV, extinguiu o componente inercial da inflação, e a combinação da abertura
comercial, com a sobrevalorização cambial, impediu o seu retorno, num primeiro momento, e
forçou sua queda posteriormente. A diminuição do ritmo da atividade econômica,
particularmente a partir do último trimestre de 1997, teve impacto decisivo para reduzi-la
ainda mais, levando-a a aproximar-se de 2% ao ano.
É bastante válido salientar que a inflação foi a única variável macroeconômica que
reagiu positivamente no cenário de abertura econômica e sobrevalorização cambial
promovida pelo Plano Real, sustentados por elevados níveis de reservas e altíssimas taxas de
juros. Todas as outras variáveis macroeconômicas foram deterioradas nesse período. Segundo
Filgueiras (2000) esse impacto negativo se fez sentir, ano a ano, numa taxa de crescimento do
produto medíocre, com períodos de estagnação e recessão aberta, que levou ao aumento das
taxas de desemprego, em virtude do fechamento de postos de trabalho na indústria ou do
crescimento insuficiente da ocupação no comércio e nos serviços, tendo em vista o aumento
de 2,7% ao ano da população economicamente ativa do país, com a entrada de 1,5 milhões de
35
novas pessoas, todo ano, no mercado de trabalho, cuja absorção demandaria um crescimento
do PIB a uma taxa média entre 6% e 7% ao ano.
A veloz e intensa degeneração das contas externas do país, na década de 90, pode ser
comprovada quando se compara o desempenho do seu saldo em transações correntes antes do
Real (1990/1994) e depois do Real (1995/1998). De acordo com os dados da tabela 5, no
primeiro período o saldo positivo da balança comercial (US$ 60,3 bilhões) compensava em
cerca de 85% o déficit da balança de serviços, contribuindo assim para minorar o déficit em
transações correntes.
33,1
10,5 13,1
-0,7 2,7
-3,5 -1,2
-5,6 -6,8 -6,6
Por outro lado, as exportações obtiveram fraco incremento após implantação do Plano
Real em razão de alguns fatores, são eles: o próprio incremento do consumo interno no
período inicial, diminuindo assim a produção orientada às exportações; a sobrevalorização da
moeda nacional em relação ao dólar que trouxe desvantagens e prejuízos enfraquecendo os
produtores de bens e serviços exportáveis; a perda de competitividade no mercado mundial
em razão da defasagem da estrutura produtiva nacional e da própria natureza da pauta de
exportações que era pouco diversificada.
Prates (2006) ainda afirma que nos dois primeiros anos após a mudança do regime
cambial, a resposta das exportações e das importações à taxa de câmbio desvalorizada foi
tímida. No biênio 2001-2002, o novo patamar da taxa de câmbio num contexto de
desaceleração da demanda doméstica surtiu efeito mais expressivo sobre a balança comercial
devido, sobretudo, à redução das importações.
-14692
-18541
-20350 -23148
-25825 -25048
-25522
-28299 -27503
Segundo analisa Filgueiras (2000), essa piora se deveu principalmente aos gastos com
viagens internacionais, que mais que triplicaram entre 1994 e 1998, passando de um pouco
menos de US$ 1,2 bilhão para mais de 4,2 bilhões, à remessa de lucros e dividendos, que
cresceu 148%, evoluindo de próximo a US$ 2,5 bilhões para um montante de quase US$ 6,9
bilhões; e, por último, ao pagamento de juros, que aumentou em quase 100%, ao passar de um
valor próximo a US$ 6,3 bilhões para mais de US$ 12 bilhões.
-7637
-18384
-25335 -23215
-23502
-24225
-30452
-33416
Batista Jr. (2005), ainda analisa que, embora tenha diminuído de forma considerável
depois da depreciação do Real, o déficit no balanço de pagamentos em conta corrente
continuou alto demais em 1999-2001, situando-se na faixa de US$ 23 a US$ 25 bilhões. Dada
a pesada carga de pagamentos ao capital estrangeiro, uma diminuição mais acentuada do
desequilíbrio em transações correntes dependeria basicamente da geração de grandes
superávits na balança comercial.
É evidente que estes déficits sucessivos em conta corrente elevaram a dívida externa
brasileira de US$ 148 bilhões em 1994 para aproximadamente US$ 228 bilhões em 2002,
chegando a um pico de US$ 241,6 bilhões em 1998 (tabela 6).
40
Dívida Externa 148.295,20 159.256,20 179.934,50 199.997,50 241.644,10 241.468,20 236.156,30 226.067,30 227.689,40
Inv. Direto
Estrangeiro 2.149,90 4.405,10 10.791,70 18.992,90 28.855,60 28.578,40 32.779,20 22.457,40 16.590,20
Inv. Direto em
Carteira 54.046,80 10.372,20 22.021,70 10.907,90 18.582,20 3.542,40 8.650,80 872,10 -4.797,40
Reservas
Internacionais 38.806,20 51.840,30 60.110,10 52.172,70 44.556,40 36.342,00 33.011,00 35.866,00 37.823,00
Passivo Externo
Líquido 165.685,70 122.193,20 152.637,80 177.725,70 244.525,50 237.247,00 244.575,40 213.530,70 201.659,20
O passivo externo líquido do Brasil que em 1994 era de US$ 165 bilhões, chegou a
US$ 244 bilhões (tabela 6), em 1998, após a eclosão da crise asiática em 1997. Segundo
Scherer e Pudwell (2004), naquele ano, dada a instabilidade financeira mundial, o volume de
amortizações pagas pelo país passou de US$ 14 bilhões em 1996 para cerca de US$ 29
bilhões em 1997, o que dado um déficit em conta corrente na ordem de US$ 31 bilhões e uma
saída de capitais de curto prazo de US$ 19 bilhões, levaram a uma perda de reservas próximas
a US$ 8 bilhões. Porém, no final deste mesmo ano, com a finalidade de evitar uma crise ainda
maior no balanço de pagamentos, o país conseguiu um acordo de ajuda do FMI que aportou
quase US$ 10 bilhões (operações de regularização).
Outro fator que muito contribuiu para o aumento da fragilidade externa da economia
brasileira no período foi o controle inadequado dos fluxos de capitais internacionais. Como
pode ser visto no capítulo da análise dos fluxos de capitais para o país, desde o governo
41
Collor, o Brasil diminuía os controles na conta de capitais, ficando mais vulnerável aos
movimentos especulativos e às incertezas associadas aos fluxos internacionais de capital.
Batista Jr. (2005) ainda explica que a liberalização da conta de capitais facilitou o pré-
pagamento de dívidas externas. Assim, empresas e bancos com dívidas ou títulos emitidos no
exterior passaram a poder enviar recursos para liquidar obrigações antecipadamente. Quando
isso acontece, as amortizações acabam superando os valores previstos nos cronogramas de
vencimento da dívida externa. É o que também ocorre quando credores externos recorrem a
cláusulas de pré-pagamento previstas em muitos contratos. Ao permitir que esse tipo de
cláusula se generalize, o Banco Central perde a possibilidade de controlar a distribuição
temporal dos vencimentos e aumenta a vulnerabilidade da economia.
De igual maneira, a análise da dívida externa total enquanto percentual do PIB situou-
se num patamar elevado, saltando de 27,3% no início do período do Plano Real para 41,2%
em 1999 e aproximadamente 45% em 2002. A trajetória desse indicador, conforme mostra o
gráfico 8, corrobora o argumento da elevação da insustentabilidade externa da economia
brasileira naquele momento.
43
50
45
41,2 45,1
40 40,8
35 36,6
30
27,3 22,9 28,6
25 21,4
20,7
20
15
10
5
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
40
32,6 33,4
35
30 26,2 26,1
25
18,4
20 15,9 16,6
15,1 14,0
15
10
5
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Um aspecto curioso a ser observado, é que a grande força que proporcionou a política
de estabilização foi a atração do fluxo de capitais. O excesso de liquidez na conta de capital
servia de base para uma nova política de estabilização. A entrada de capital era fundamental
para garantir a estabilidade monetária, entretanto, contraditoriamente, era também fonte de
instabilidade na medida em que ocorreram aumentos de remessas de lucros e dividendos;
movimentos bruscos de capitais voláteis; elevação da dívida externa; queda no nível de
reservas. Em resumo, esse caráter paradoxal do movimento de capitais para o país, serviu de
base para o Plano Real, porém aumentou sem dúvida a dependência externa brasileira.
O aumento da dependência face aos fluxos internacionais pode ser visto como o
corolário de um processo que, ao estabilizar relativamente os preços nessas economias,
contribui para acentuar a fragilidade histórica do equilíbrio externo dos países da região. Em
um primeiro momento, os elevados déficits comerciais foram suportados apenas em razão da
entrada de capital externo, em sua maior parte volátil e imbuído de uma perspectiva de
valorização de curto prazo. Entretanto o recurso ao capital externo para o financiamento dos
déficits em conta corrente apresentou limites que não se restringem à volatilidade do capital,
mas que são atingidos pela própria elevação da dívida externa. (MOREIRA e SCHERER,
2002).
Este tópico procura tratar da política econômica adotada pelo governo do presidente
Luís Inácio Lula da Silva e seus impactos sobre a vulnerabilidade externa da economia
brasileira a partir de 2003.
implicava afirmar que a defesa da estabilidade e, a partir do final dos anos 90, a austeridade
fiscal, seriam transformações permanentes, que cristalizariam ambições nacionais, e não do
partido A ou B. Esse discurso, porém, tinha dificuldades em convencer muitos analistas, tanto
no mercado doméstico como no internacional. Havia dúvidas, porém, sobre até que ponto esse
compromissos seriam mantidos pelo governo seguinte. (GIAMBIAGI, 2005).
Não é demais afirmar que o partido dos trabalhadores passou por um processo de
moderação, no qual o seu discurso político começou a modificar o tom no meio da disputa
eleitoral de 2002. Questões veementemente rebatidas como a elevada meta de superávit
primário, altas taxas de juros e submissão as regras do FMI, passaram a figurar no discurso e
no cotidiano do governo administrado pelo PT.
Duas prováveis razões são citadas para a transformação do núcleo superior do partido
em favor de se ter um governo moderado. A primeira delas seria a dramática crise argentina
em 2001-2002 que expôs claramente os problemas a serem enfrentados pelo país diante de
uma situação completa falta de crédito internacional. Outro fator foi a própria gravidade da
situação externa do Brasil no final de 2002, apontando que, sem a recuperação do crédito
externo e o acesso aos recursos do FMI, corria sérios riscos de Lula assumir a presidência em
meio a uma situação gravíssima de dólar em alta, inflação crescente e um iminente risco de
insolvência que poderia afetar o país. A desvalorização cambial e a pressão inflacionária
fizeram com que a eleição e a posse transcorressem em um panorama econômico dos mais
amargos.
De acordo com Sampaio Jr. (2005), para os cinqüenta e três milhões de eleitores que
votaram no partido dos trabalhadores, o slogan que empolgou o final da campanha “a
esperança venceu o medo” tinha um único significado: as pessoas estavam cansadas do
“status quo” e manifestavam-se dispostas a pagar o preço da transformação social. A escolha
de um líder sindical, com extensa lista de serviços prestados a classe operária, apoiado por
uma coalizão liderada por uma organização de esquerda forjada no calor das lutas sociais e
políticas contra a ditadura militar, parecia indicar que havia chegado o momento de buscar
novos rumos para a sociedade brasileira.
Para Paulani (2003), a “credibilidade”, em cujo nome são exigidos tão pesados
sacrifícios, é necessária para manter a vulnerabilidade do país, não sua estabilidade e a
sustentabilidade de seu crescimento, incansavelmente reinvidicadas pelo PT ao longo dos oito
anos de governo FHC. É claramente falacioso, pois, o argumento da credibilidade, como
falaciosa é a tese de que só há uma macroeconomia. Esta última só se sustenta, se a
manutenção desse tipo de credibilidade é o que está no horizonte. E a
credibilidade/vulnerabilidade de economias como a brasileira é necessária para a valorização
de capitais especulativos que hoje dominam o processo de acumulação, como necessárias são
as crises, as turbulências, os súbitos movimentos de preços das moedas fracas, as elevadas
taxas reais de juros. É precisamente isto que produz a engorda do capital especulativo no
mundo e o torna cada vez mais poderoso.
A política econômica do início do novo governo mostra que a área da fazenda queria
na verdade evitar manobras bruscas. Antonio Palocci, então ministro da Fazenda expressava
através de uma metáfora o quanto era arriscado e inconveniente dar “cavalo de pau” em
transatlântico. E assim, considerava-se que o melhor caminho para retomar o crescimento
com inclusão social era aprofundar as linhas principais da política econômica de FHC-Malan,
revelando o caráter claramente continuísta da administração recente.
Conforme Sicsú (2003) o plano A de FHC estava baseado no seguinte tripé da teoria
econômica ortodoxa-liberal: a) câmbio flutuante com mobilidade de capitais (isto é,
liberalização financeira externa), b) regime de metas de inflação comum Banco Central
autônomo e c) regime de metas para os superávits fiscais primários. O tripé ortodoxo-liberal
49
busca, então, retirar do governo a sua capacidade de intervir na economia mediante o uso de
políticas monetária, fiscal e cambial. A política monetária é delegada a um Banco Central que
deve tornar-se independente. A política fiscal é quase anulada, já que as metas de superávits
primários retiram do governo a sua capacidade de realizar gastos em investimentos e
programas sociais. A liberalização financeira, ao permitir um número ilimitado de transações
com o exterior, retira a força política cambial na medida em que as reservas do Banco Central
serão sempre insuficientes diante do poder de ataque dos mercados financeiros doméstico e
internacional.
Sicsú ainda acrescenta que um plano B deveria ser concebido sob a idéia de que o
crescimento com estabilidade de preços e reduzidas vulnerabilidade externa e volatilidade
cambial depende necessariamente de políticas econômicas governamentais ativas e potentes -
seria um plano de inspiração nitidamente Keynesiana. Entretanto, o presidente Lula optou por
seguir o caminho apontado plano A, ou seja, implementar o plano de FHC com muito mais
intensidade e amplitude, que é o plano A +. Portanto, não há plano B, e, se existir, jamais será
colocado em prática exatamente porque o plano A+ tem como objetivo impedir qualquer
mudança do modelo de política econômica.
160,6
137,8
118,3
96,5 120,6
73,1
91,4
73,6
62,8
48,3
44,7 46,5 40,0
33,6
24,8
2003 2004 2005 2006 2007
Fonte: Bacen
Os excedentes comerciais verificados em 2003 US$ 24,8 bilhões refletem não somente
aumentos das exportações, mas, principalmente baixas taxas de crescimento das importações
em função da conjuntura recessiva daquele ano. O desempenho da balança comercial
brasileira em 2004 foi marcado por cifras de grande magnitude, com saldo de US$ 33,6
bilhões (gráfico 10). Isso aconteceu devido principalmente a excelente performance das
exportações brasileiras, cuja pauta continuou concentrada em commodities agrícolas e
industriais, produtos de baixa intensidade tecnológica e bens intensivos em trabalho e recursos
naturais, e que apresentaram crescimento de aproximadamente 30% em relação ao ano
anterior, beneficiada pelo cenário internacional favorável e pela relativa estabilidade cambial
nos primeiros oito meses de 2004.
Em 2005 as exportações somaram US$ 118,3 bilhões com crescimento de 22,6% sobre
2004 e as importações totalizaram US$ 73,6 bilhões com aumento de 17,1%. Ambos os
52
valores contribuíram para o saldo comercial US$ 44,7 bilhões, com evolução de 32,8% sobre
o superávit de 2004. Conforme análise do IEDI (2006) vem exclusivamente daí o retorno do
equilíbrio na conta de transações correntes brasileira, a menor dívida externa e a acumulação
de reservas, fatores que já se traduzem em melhor avaliação de risco e independência do país
com relação aos recursos de última instância do FMI.
Prates (2006) ainda salienta que a pauta exportadora brasileira continua concentrada
em commodities agrícolas e industriais, produtos de baixa intensidade tecnológica e bens
intensivos em trabalho e recursos naturais. Como as elevadas taxas de crescimento das vendas
externas de bens de média e alta intensidade tecnológica no biênio 2004-2005 não foram
suficientes para alterar sua participação relativa no total das exportações, o perfil dessa pauta
em termos de conteúdo tecnológico manteve-se praticamente constante entre 2002 e 2005.
exemplo do setor têxtil, que apresenta queda da produção industrial e diminuição das
exportações em 2006.
6
O crescimento do montante de juros pagos e da remessa de lucros, juntamente com as viagens internacionais
explicam a tendência de desequilíbrio histórico e estrutural da balança de serviços.
54
-23483
-25198
-34276
-37120
-42597
13643
13985
11679
4177
1461
Por outro lado, SICSÚ (2008) alerta que a defesa do equilíbrio externo requer atenção
não somente com a balança comercial ou com a conta de transações correntes, mas também
com a conta de investimentos financeiros internacionais. Capitais financeiros que tem por
finalidade financiar o investimento e a produção são bem- vindos, sejam eles domésticos ou
estrangeiros. Capitais financeiros que têm o mero objetivo de sua capitalização, sem que este
processo traga benefícios à produção ou ao investimento, não são bem-vindos. Estes capitais
provocam pressão valorizativa sobre o câmbio no momento de sua entrada e pressão
desvalorizativa no momento da sua saída: nada mais! A corrente de capitais financeiros que
buscam apenas a sua capitalização via movimentos especulativos e de arbitragem deve ser
desestimulada.
seja na costumeira pressão para queda das despesas correntes, ou mesmo nas tentativas de
reestruturação das vinculações orçamentárias.
O triênio que se encerra em 2005 foi marcado por uma menor taxa de crescimento do
consumo do governo relativamente ao governo anterior (1999 a 2002), assim como um ritmo
maior de expansão do consumo das famílias. No primeiro caso, as elevações sistemáticas de
superávit fiscal contribuíram para o resultado. No segundo, o controle da inflação, associado à
modesta expansão do emprego e dos salários nominais e ao incremento do volume de crédito
para pessoa física, garantiu este resultado. (AMITRANO, 2006).
Uma questão relevante a salientar é que a evolução do produto no governo Lula tem
sido comandado pelo setor externo, mas também pelo impacto do crédito que levou um
crescimento do consumo das famílias. Ainda faz-se necessário mencionar que no período
recente da administração atual (2006-2007) têm-se através do aumento do investimento
público (PAC) e do aquecimento da demanda interna um crescimento baseado no mercado
58
Inserido neste contexto de expansão cíclica da liquidez, Plihon (1995) citado por
Caruso e Amado (2008), ao tratar a ascensão das finanças especulativas, destaca o processo
de financeirização da economia e a tendência de a conta capital cada vez mais ganhar terreno
sobre as transações correntes. Essa afirmação só vem confirmar o pensamento de Chesnais
(1996) que a abertura generalizada no mundo todo levou ao que se costuma chamar de
financeirização das economias ou o predomínio das transações financeiras sobre as transações
produtivas. Nesse processo, há um crescimento da esfera financeira em ritmo maior que os
investimentos, os PIBs e as trocas em geral.
O serviço da dívida que no ano 2000 representava 88,3% das receitas de exportações
atualmente limita-se a 22,5%, com valor médio de 68,9% no período de 1990 a 2002. Em
relação ao PIB, o serviço da dívida externa que hoje equivale a 2,9%, fora de 9,9% em 2002.
A dívida externa total, que já significou 41,8% do PIB, em 2002, e que alcançou
29,9% na média dos anos analisados, no ano de 2007, manteve-se em 15%, a dívida externa
líquida total, quando se deduzem da dívida externa bruta os ativos do país no exterior,
constituídos fundamentalmente pelas reservas internacionais, apresentou trajetória de redução
ainda mais favorável passando de 32,7% do PIB, em 2002, para a posição credora de 0,9% do
PIB em 2007.
Carneiro (2006) explica que o movimento de redução da dívida externa ocorreu devido
ao contexto de que após as sucessivas crises cambiais as empresas endividadas em dólar
decidiram reduzir sua exposição, principalmente aquelas sem hedge natural, as não
exportadoras. Contribuiu também para isso a decisão do governo após 2003, de reduzir a
parcela da dívida pública indexada ao câmbio, cujo efeito prático foi um maior encarecimento
do hedge. Quanto à dívida pública, o superávit global do balanço de pagamentos permitiu ir
ao longo do tempo, adquirindo volumes significativos de reservas e, portanto, reduzir o
endividamento líquido. No início de 2006, o Banco Central iniciou a compra dos títulos da
dívida externa de vencimento mais curto, originários da renegociação do Plano Brady,
lançando mão de reservas disponíveis.
60
Com relação ao setor público o relatório FOCUS (2008) afirma que as novas
condições de liquidez e acesso aos mercados internacionais também possibilitaram ao
governo a implementação de política de redução do passivo externo do setor público,
mediante diversas ações de antecipação de pagamentos externos. Em 2005, foram antecipadas
amortizações de US$ 20,7 bilhões ao FMI, liquidando o passivo com aquele organismo. No
mesmo ano, foram resgatados antecipadamente os C-Bonds em mercado, US$ 1,1 bilhão,
movimento que se completou em abril de 2006, com exercício da opção de call dos demais
bônus Bradies, US$ 5,8 bilhões eliminando da dívida externa do setor público todos os títulos
vinculados à reestruturação. A partir de 2006, o tesouro Nacional implementou um programa
de recompras de papéis da dívida externa pública secundário, que retirou do mercado US$ 6
bilhões em 2006, e US$ 5,4 bilhões, em 2007, em valores de face.
Como conseqüência das ações acima citadas a dívida externa reduziu-se 43,3% em
relação ao seu maior valor em setembro de 2003, atingindo 70,1 bilhões em 2007. Neste
cenário, a redução da dívida externa total líquida tem sido a mais expressiva, seu estoque
passou de US$ 165 bilhões ao final de 2002, o que representava 32,7% do PIB para US$ -
10,8 bilhões em 2007. No entanto, no primeiro trimestre de 2008 este montante tornou-se
negativo em US$ 16,4 bilhões, significando que, em termos líquidos o país passou a ser
credor externo, ou seja, se tornou credor líquido internacional, com os ativos nacionais
superando a nossa dívida externa, o que foi acontecimento inédito na história econômica
brasileira.
Desde 2006, o nível de reservas tem batido recordes sucessivos. Desta forma, a
evolução dos indicadores que medem a capacidade dessas reservas cobrirem a capacidade da
dívida tem sido extremamente favorável. De acordo com o relatório FOCUS (2008), as
reservas internacionais chegaram a cobrir pouco mais da metade das amortizações da dívida
vincendas em 12 meses, em 1999, e 77,5% desse serviço na média entre 1995 e 2002.
61
aumento no nível de reservas internacionais, que passaram de US$ 36 bilhões em 2001 para
US$ 54 bilhões em 2005, e finalmente US$ 180 bilhões ao final de 2007.
Memo:
Dívida externa total 210 211 215 201 169 173 193
Dívida externa total / Passivo (%) 56,4 61,4 52,8 45,1 33,9 27,7 20,6
Dívida externa total / PIB (%) 37,9 41,8 38,8 30,3 19,2 16,1 14,7
Fonte: Relatório Focus Banco Central
Outro fato que contribui para o crescimento da posição dos ativos externos foi o IDB
(investimento direto brasileiro) que praticamente triplicou no período compreendido entre
2002 e 2007. Ainda que esses investimentos sejam concentrados em algumas empresas e
setores, com destaque para os investimentos da Companhia Vale do Rio Doce seu aumento
constitui um importante avanço do ponto de vista das contas externas, ao contribuir para a
redução do passivo externo e das remessas de lucros e dividendos em termos líquidos, e do
ponto de vista da competitividade dos grupos nacionais. Mas sem dúvida alguma, a elevação
das reservas internacionais foi a causa principal do crescimento do ativo externo do Brasil,
chegando a representar 13,7% do PIB em 2007.
63
para US$ 510 bilhões, o que significa 38,8% do PIB. Notadamente os investimentos em ações
foram os grandes responsáveis pela evolução dos investimentos em carteira, já que os mesmo
foram praticamente multiplicados por dez no período 2001 a 2007, atingindo um valor de US$
364 bilhões, o que constitui o elemento mais representativo do passivo externo com a
participação de 38,7% em 2007.
Muito relevante é a análise defendida pela Carta IEDI (2008) na qual expõe que o
aumento de estoque de ações e títulos de renda fixa detidos por investidores estrangeiros
amplia a vulnerabilidade do mercado financeiro doméstico e do mercado de câmbio a uma
saída súbita de captais. Mesmo no regime atual de câmbio flutuante, o Banco Central seria
obrigado a vender reservas para atenuar a desvalorização cambial, devido aos seus efeitos
sobre a inflação. Vale ressaltar que as reservas cambiais, apesar de terem atingido atualmente
seu recorde histórico, já superando US$ 200 bilhões, ainda são bastante inferiores ao estoque
de investimento estrangeiro de portfólio. Mais precisamente, esse estoque era 2,8 vezes
superior às reservas em dezembro de 2007; considerando somente os investimentos no país,
1,18 vezes (ou seja, superavam em 18% as reservas).
68%, contra a taxa de crescimento de +20,7% em 2006 – atingindo US$ 328 bilhões,
estimulados, certamente, pelo maior dinamismo do mercado interno.
A partir dos dados da tabela 9 pode-se notar que houve uma redução do passivo
externo líquido em termos de PIB, de pouco mais de 4 pontos percentuais, passando de 47,8%
em 2001 para 43,7% em 2007. Porém, um passivo externo líquido de 44% do PIB não é ideal
por ser ainda considerado elevado, remetendo a uma situação potencial de déficit na conta de
serviços e conseqüentemente agravando a trajetória deficitária da conta corrente que
necessitará de crescentes volumes de capitais estrangeiros para equilibrar o balanço de
pagamentos, aumentando com isso a vulnerabilidade e a dependência externa da economia
brasileira.
Em resumo, é inegável que ainda há uma vulnerabilidade do país a fatos externos fora
do seu controle, que aumenta com o peso dos capitais voláteis, fortemente influenciados pelo
que acontece nos mercados financeiros internacionais e com movimentos especulativos,
mesmo tendo o país aprofundado o cumprimento do receituário liberal e melhorado
sensivelmente os indicadores tradicionais de capacidade de pagamento de dívidas.
67
CONCLUSÃO
O Plano Real foi um plano de estabilização que esteve baseado na política cambial e a
moeda norte-americana, após uma desvalorização inicial, passou a flutuar dentro de um
sistema de bandas cambiais, que na prática operava quase como um câmbio fixo. É
extremamente válido salientar que um plano de estabilização com âncora cambial só é
sustentável enquanto houver fluxo de capital disposto a financiar o déficit em conta corrente
decorrente da valorização cambial.
Dessa maneira, Scherer e Pudwell (2005) afirmam que ocorre então o paradoxal
processo de “estabilização desestabilizadora”, uma vez que, no momento em que os chamados
fundamentos estão relativamente bem (estabilização), o influxo de capitais deteriora esses
mesmos fundamentos (desestabilização), conduzindo, no futuro, à crise cambial.
A análise da dívida externa total enquanto percentual do PIB revela uma trajetória
predominantemente crescente deste indicador no período do governo FHC, especialmente
entre os anos 1998 e 2002. Enquanto no período do governo Lula, esse indicador apresenta
resultados decrescentes, situando-se, ao final de 2007, no menor patamar de toda a série
histórica (tabela 10).
Da mesma forma, a relação entre a dívida externa bruta total e o total exportado pelo
país tem declinado acentuadamente após 1999. Quando se relaciona a dívida às exportações
de bens, esse indicador havia alcançado a razão de cinco vezes naquele ano, como informa a
tabela 10. Ao final de 2007, essa razão era de apenas 1,2, indicando que ambas as magnitudes
eram praticamente iguais.
Outro aspecto a respeito da inserção comercial brasileira é que os saldos positivos com
o comércio exterior, todavia, foram registrados com base na ampliação da participação dos
produtos primários na pauta de exportações, o que pode mostrar um reforço da posição
69
Desta forma, conforme analisa Correa, Mollo e Biagi (2008) a volatilidade de capitais
conduz à vulnerabilidade, explicitando que ficamos à mercê do que ocorre no exterior, fora do
nosso controle, tanto no que se refere a instabilidades comprometedoras do investimento
privado, quanto pela perda de independência da política econômica, em particular a
monetária, já que observa-se a resistência da taxa básica à queda, temerosa que fica a
Autoridade Monetária, com a possibilidade de fuga abruptas de capitais ou desvalorização
cambial com pressão sobre os preços se os capitais reduzirem a entrada.
Com relação à política cambial vemos que o governo a partir de 2005 pecou pela
imprudência ao deixar a taxa de câmbio se apreciar numa intensidade considerável, com o
objetivo implícito de reduzir a inflação. Para a redução da fragilidade externa é especialmente
importante manter uma taxa de câmbio competitiva, orientada para estimular as exportações e
a substituição de importação de bens e serviços.
O Brasil vem ampliando graus de liberdade para os fluxos de capitais há vários anos.
Porém, foi a partir da década de 90 que o pouco controle de capitais que havia deixou de
existir, expondo o país a movimentos especulativos e às oscilações dos mercados financeiros
internacionais. Com isso, é clara a necessidade de que o Brasil precisa retroceder no grau de
sua abertura financeira, adotando controles de movimentos de capitais no país.
Buscou-se através desse trabalho, mostrar que a despeito dos superávits comerciais e
em conta corrente e da significativa melhora dos indicadores de sustentabilidade externa no
governo Lula, o problema da vulnerabilidade externa ainda existe, representando assim uma
ameaça para a estabilidade e para o desenvolvimento econômico brasileiro. Para superá-lo é
indispensável a promoção de uma política cambial ativa, buscando constantemente assegurar
uma taxa de câmbio mais competitiva e razoavelmente estável. De igual importância é a
regulação dos movimentos de capital e a administração cautelosa do passivo externo do país.
72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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73
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Mudança – os desafios e equívocos do início do governo Lula. Belo Horizonte: Autêntica,
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