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Então temos:
Crime vago: é o que tem por sujeito passivo entidades sem personalidade
jurídica, como a família, o público ou a sociedade; ex.: 233 do CP.
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PARTE ESPECIAL DO CP
1) INTRODUÇÃO
OBS.: Quando dolosos são julgados pelo Tribunal do Júri (art. 5.º, XXXVIII, d,
da CF/88).
1) CONCEITO
É a eliminação da vida humana extra-uterina praticada por outra pessoa. (dif. de
abortamento).
2) OBJETIVIDADE JURÍDICA
Vida extra-uterina. A lei protege a vida desde o início do processo da
existência do ser humano, com a formação do ovo, e estende-se até seu final quando ela se
extingue. Mas o crime de homicídio limita-se à supressão da vida somente a partir do início
do parto (que ocorre com o rompimento do saco amniótico), ou seja, quando um novo ser
começa a tornar-se independente do organismo materno. A eliminação da vida, antes desse
momento, será crime de aborto.
O bem jurídico vida é público e indisponível. Portanto, é irrelevante o
consentimento do sujeito passivo (mesmo que esteja acometido de uma doença terminal, isto
porque a lei protege a vida da pessoa e não a vitalidade ou capacidade de sobreviver;
Eutanásia é crime de homicídio). A pessoa tem direito à vida e não sobre a vida.
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4) QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
É crime comum, simples, de dano, ação livre, instantâneo, material;
Observar o conflito aparente de normas entre os arts. 121 e 157, § 3.º, in fine, do CP,
solucionado pelo princípio da especialidade. A norma especial (art. 157, § 3.º, in fine), fasta o
norma geral (art. 121).
A conduta pode assumir as mais variadas formas. Como já foi observado acima, o
homicídio é crime de ação livre, podendo ser praticado através de quaisquer meios.
6) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Consuma-se com a morte (cessação da atividade encefálica – art. 3.º da Lei 9334/97)
da vítima. É diferente da cessação da atividade cerebral, respiratória ou cardíaca.
Admite-se a tentativa, pois sua execução pode ser fracionada (crime plurissubsistente).
Iniciada a execução, não se consumando o crime por circunstâncias alheias à vontade do
agente, teremos a tentativa (art. 14, II, do CP). Percebam que é importante fixarmos o
momento em que se inicia a execução do crime, pois somente a partir daí teremos a punição
do agente. O início da execução do crime de homicídio deve ser analisado em cada caso.
Vejam alguns exemplos: ARMA DE FOGO: inicia-se a execução com o puxar do gatilho;
ARMA BRANCA: inicia-se a execução quando o agente desfere o primeiro golpe.
PEDRADA: com o arremesso; etc.
9) HOMICÍDIO SIMPLES
Será homicídio simples se não houver circunstâncias que o torne privilegiado ou
qualificado. Por exclusão.
OBS.: difere da atenuante genérica prevista no art. 65, III, c, do CP (§ 1.º - domínio;
reação imediata; art. 65 – influência, não exige que seja imediato).
OBS.: O § 1.º do art. 121 do CP trata de circunstâncias subjetivas (que são aquelas
circunstâncias que só dizem respeito com a pessoa do participante, como os motivos
determinantes, suas condições ou qualidades pessoais e relações com a vítima ou com os
outros concorrentes). Desta forma, por força do art. 30 do CP, não se comunicam ao co-autor
ou partícipe.
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OBS.: Ver Lei de tortura (Lei 9455/97). Na Lei de Tortura, o crime é preterdoloso;
dolo no antecedente – tortura – e culpa no conseqüente - resultado morte. Diferença:
aqui, no art. 121, § 2.º, do CP, o agente tem a vontade de matar, usando a tortura como
meio. Portanto, na Lei de Tortura a morte é a título de culpa. Veja que a pena
cominada, inclusive, é menor.
OBS.: Observar o conflito aparente de normas entre os arts. 121, § 2.º, V, e 157, § 3.º,
in fine, do CP, solucionado pelo princípio da especialidade. A norma especial (art.
157, § 3.º, in fine), fasta o norma geral (art. 121, § 2.º, V).
MODALIDADES CULPOSAS:
a) Imprudência – consiste na violação das regras de conduta ensinadas pela
experiência. Ex: manifesta é a imprudência de quem, não sabendo lidar com arma, provoca
disparo da mesma matando pessoa que se achava próxima.
b) Negligência – consiste na ausência de cautela ou revela indiferença em relação ao
comportamento realizado. Ex: age negligentemente a mãe que não retira da mesa, ao redor da
qual brincam crianças, o inseticida, vindo uma delas a ingeri-lo e falecer.
c) Imperícia – consiste na falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Ex:
engenheiro constrói casa sem alicerces suficientes.
A doutrina ainda apresenta outra classificação de culpa em: culpa própria: é aquela em que o
agente não quer nem assume o risco de produzir o resultado; culpa imprópria (também
conhecida como culpa por extensão, assimilação, equiparação): é aquela em que o resultado é
previsto e desejado pelo agente, que age em erro de tipo vencível (inescusável). OBS.: a culpa
imprópria, na verdade, é um comportamento doloso que o legislador pune a título de culpa,
porque a pessoa incidiu em erro de tipo permissivo vencível. Art. 20, § 1.º, in fine, do CP.
qualquer inobservância de dever de cuidado por parte do agente que atuou. Exemplo:
condutor que trafega normalmente pela avenida Brasil (velocidade compatível para o local,
veículo em perfeitas condições, atento às condições do trânsito) atropela e mata pessoa que
tentava atravessar a via de forma repentina.
OBS.: É possível concorrência de culpas. Duas ou mais pessoas inobservaram o dever
de cuidado, vindo, com suas condutas, a dar causa a morte de alguém. Responderão (todas)
por homicídio culposo. Ex.: Dois motoristas que agem imprudentemente (um em alta
velocidade e outro mudou de faixa sem observar o trânsito e sem sinalizar) causam a morte da
vítima. Ambos respondem pelo homicídio culposo da Lei 9503/97, pois ambos inobservaram
um dever de cuidado.
Ver art. 122 do CP. Denominado pela doutrina de participação em suicídio. A lei não
pune aquele que tenta o suicídio e não obtém sucesso. A lei pune apenas aquele que participa
do suicídio alheio, seja induzindo, instigando ou auxiliando. Embora o suicídio seja conduta
contrária ao direito (ilícita) não tem relevância para o direito penal, ou seja, não é típica. Diz
que o suicídio é ilícito, pois o próprio art. 146, § 3.º, II, do CP, prevê que não configura crime
de constrangimento ilegal a coação exercida para impedir suicídio. Se neste caso a conduta de
quem impediu outrem de suicidar-se é legal, é porque a conduta daquele que suicida (ou
tenta) é ilegítima.
SUJEITO ATIVO: é crime comum, pois pode ser qualquer pessoa, exceto o suicida.
OBS.: O verbos do tipo penal são incompatíveis com a forma omissiva. Não há participação
em suicídio por omissão, mesmo aquele quem tem o dever de impedir. Poderá neste último
caso, haver crime de omissão de socorro. Porém, há autores que no caso do garantidor
entendem haver participação em suicídio por omissão.
OBS.: É preciso que o ato material seja praticado pelo próprio suicida. Do contrário, se ato
material de matar for realizado pelo agente que induziu, instigou ou auxiliou, este estará
cometendo homicídio e não participação em suicídio. Segurar a faca para a vítima se projetar
sobre ela, puxar a corda para a vítima se enforcar, puxar o gatilho a pedido da vítima, são
exemplos de homicídio. Não são casos de participação em suicídio.
QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
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Crime material (o tipo penal descreve a conduta e resultado, exigindo este último para
consumação do crime), de dano (pressupõe uma efetiva lesão ao bem jurídico tutelado),
instantâneo (a consumação ocorre em só instante – morte ou lesão corporal grave da vítima -,
sem continuidade temporal), comissivo (praticado através de uma ação), de ação livre
(admite-se qualquer forma de execução, gestos, palavras, escritos, menos omissiva), de
conteúdo variado (a lei descreve várias condutas), comum (pode ser praticado por qualquer
pessoa), simples (protege apenas um bem jurídico) e plurissubsistente (a ação é representada
por vários atos, formando um processo executivo que pode ser fracionado).
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
O tipo do art. 122 exige lesão corporal de natureza grave ou morte como resultado da
participação. Induzida a vítima, esta vem a tentar o suicídio, mas não sofre lesões corporais
graves ou morte, não haverá crime de participação em suicídio. Lesões corporais de natureza
grave são aquelas previstas no art. 129, §§ 1.º e 2.º, do CP. Da mesma forma, se a vítima
sofrer apenas lesão leve, o fato será atípico. É crime condicionado ao resultado morte ou lesão
corporal grave.
Tentativa: não se admite. Se não houver a ocorrência de morte ou lesão corporal grave, não é
fato típico. Ou ocorre a lesão corporal grave ou a morte e o crime se consuma, ou então não
ocorre nenhum dos resultados descritos, e o fato será atípico.
OBS.: a lesão corporal grave e a morte são elementares do tipo.
Os dois sobrevivem: se ambos abriram a torneira responderão pelo homicídio tentado (art.
121, c/c art. 14,II)
FIGURAS TÍPICAS:
Simples, é a figura descrita no art. 122, caput; e qualificada, quando estiverem
presentes as causas de aumento de pena previstas no parágrafo único.
Causas de aumento:
• motivo egoístico: visa tirar proveito, de qualquer modo, do suicídio. Ex:
recebimento da herança.
• Vítima menor: para Damásio, compreende a faixa que vai dos 14 ao 18 anos.
Na hipótese de vítima portadora de insanidade mental e menor de 14 anos, seu
consentimento é irrelevante, e o crime é o de homicídio.
• Resistência diminuída: poder haver qualquer tipo de diminuição da
resistência, como embriaguez, idade avançada, enfermidade física ou mental,
etc. É evidente que essa capacidade de resistência deve ser relativa, pois se for
absoluta, anulando por completo a capacidade de resistência, pratica-se
homicídio.
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INFANTICÍDIO
Previsto no art. 123 do CP.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Visa proteger o direito à vida.
SUJEITO ATIVO
É crime próprio, pois somente a mãe da vítima pode ser sujeito ativo, conforme exigência do
próprio tipo penal. Pode haver co-autoria ou participação, pois o fato de ser mãe (...o próprio
filho...), juntamente com demais elementos previstos no art.123, são elementares,
comunicando aos demais participantes, consoante prevê o art. 30 do CP.
SUJEITO PASSIVO
É filho nascente ou neonato do sujeito ativo.
ELEMENTOS DO TIPO
A ação do núcleo do tipo penal é matar o próprio filho durante ou logo após o parto
sob a influência do estado puerperal.
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O infanticídio poder ser praticado por qualquer meio de execução; meios diretos e
indiretos; comissão ou por omissão; Neste último caso, se a mãe deixa de alimentar o filho, de
cortar o cordão umbilical ou o abandona em lugar ermo, querendo a morte do próprio filho,
que vem a morrer.
É necessário que o filho nasça com vida, caso contrário faltaria o objeto material, o
bem jurídico tutelado, configurando crime impossível por impropriedade absoluta do objeto.
A prova da vida é ter o recém-nascido respirado, o que se comprovará através de exames
periciais, podendo citar, como exemplo, a docimásia hidrostática pulmonar de Galeno.
O tipo penal faz referência ao momento da realização da conduta, exigindo para sua
configuração que ocorra durante o parto ou logo após o parto. Se a morte for produzida antes
deste período, será a hipótese de aborto; se depois, homicídio. O parto se inicia com o
período de dilatação (dores e dilatação do colo do útero) e termina com a eliminação da
placenta. Há entendimento, entretanto, que o parto se inicia com a expulsão do nascente. O
período “logo após” tem em consideração a duração do estado puerperal, não importando o
tempo que durar. Será analisado o caso concreto.
O tipo penal ainda exige que seja a conduta cometida “sob a influência do estado puerperal”.
O que se deve entender por influência do Estado puerperal ? É o conjunto das perturbações
psicológicas e físicas sofridas pela mulher em face do fenômeno do parto (convulsão, emoção
causada pelo choque físico, etc).
QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
O infanticídio é crime próprio, pois somente a mãe pode praticá-lo, material, de dano,
comissivo ou omissivo impróprio, simples, de forma livre.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Consuma-se com a morte do nascente ou neonato. Trata-se de crime plurissubsistente,
admitindo a tentativa. Nascendo a criança morta, será crime impossível, por impropriedade
absoluta do objeto (art. 17 do CP).
OBSERVAÇÕES:
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• Se a mãe matar filho de outra mãe, acreditando seu, sob a influência do estado
puerperal, haverá infanticídio putativo, por estar a mãe incidindo em erro de tipo por
falsa noção da realidade sobre os elementos do tipo.
• Se a mãe matar um adulto, sob a influência do estado puerperal, responderá por
homicídio.
• Não incidirão as agravantes previstas no inciso II, alíneas “e” e “h”, do art. 61 (crime
cometido contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do delito
de infanticídio. Se incidissem, haveria bis in idem.
• Não há infanticídio culposo, por ausência de previsão (art. 18, parágrafo único, do
CP). Ante está ausência de previsão do crime de infanticídio culposo, questiona-se se
o fato não configuraria homicídio culposo (art. 121, § 3.º, do CP), pois ocorreu uma
morte. Ocorre que não haverá o homicídio culposo, pois a culpa é incompatível com
estar a mãe agindo sob influência do estado puerperal. Se não houver a influência do
estado puerperal, mas apenas existência de culpa, o sujeito ativo responderá por
homicídio culposo.
ABORTO
Previsto no art. 124 e segs. do CP.
CONCEITO
É a interrupção da gravidez com a conseqüente morte do produto da concepção.
O aborto pode ser natural, acidental, criminoso e legal. No primeiro há interrupção
espontânea da gravidez. O segundo normalmente se dá em razão de traumatismo (ex.: queda e
acidentes em geral). Não constituem crime de acordo com nossa legislação. Criminoso está
previsto nos arts. 124 a 127. Os abortos legais estão previstos no art. 128 do CP.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
No auto-aborto só há um bem jurídico tutelado, que é o direito à vida do feto. É, desta
forma, a preservação da vida humana intra-uterina. No abortamento provocado por terceiro,
além do direito à vida do produto da concepção, também é protegido o direito à vida e à
incolumidade física e psíquica da própria gestante.
FIGURAS TÍPICAS
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – art. 124 do CP.
Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante – art. 125 do CP.
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Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante – art. 126 do CP.
Aborto qualificado – art. 127 do CP.
Aborto legal – art. 128 do CP.
SUJEITO ATIVO
O auto-aborto ou com consentimento (art. 124 do CP) é crime próprio, pois exige uma
condição especial do sujeito ativo (gestante). Nas demais formas, o sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa. É crime comum.
SUJEITO PASSIVO
No auto-aborto ou com consentimento o sujeito passivo é o feto. No aborto provocado
por terceiro, os sujeitos passivos são o feto e a gestante.
A proteção penal começa desde o momento em que células germinativas se fundem, com
conseqüente constituição do óvulo, até o início do processo de parto. Há, entretanto,
entendimento de que a tutela penal se inicia desde a implantação do óvulo (nidação).
ELEMENTOS DO TIPO
O núcleo dos tipos é o verbo provocar, que significa dar causa, produzir, promover.
Crime de forma livre, pois pode ser cometido por meio de qualquer conduta que cause o
resultado. Pode ser assim praticado por meio comissivo ou omissivo, material ou psíquico.
Pode ser através de meios químicos (substâncias não propriamente abortivas, mas que atuam
por via de intoxicação, como o arsênio, mercúrio, quinina, etc.); psíquicos (são o susto, terror,
etc.); físicos (são mecânicos, como por exemplo, curetagem), térmicos (ex: bolsas de água
quente e fria no ventre) e elétricos (ex: emprego de corrente galvânica ou farádica).
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
O crime de aborto atinge a consumação com morte do feto. Pouco importa que a morte
corra no ventre materno ou depois da prematura expulsão provocada.
É possível a tentativa.
Estando morto o feto por ocasião da provocação, ou não havendo gravidez, ocorrerá
crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto (art. 17 do CP).
Nosso CP adota como regra a teoria Monista (art. 29 do CP - quem de qualquer forma
concorre para o crime, incide nas penas a este cominada – todos respondem pelo mesmo
crime). Porém, prevê exceções. Uma delas está nos arts. 124/126. A gestante que permite que
terceiro lhe provoque o aborto comete o crime previsto no art. 124 do CP; já o terceiro que
provocou o aborto consentido pela gestante responde pelo crime previsto no art. 126 do CP.
Entretanto é admissível apenas a participação, na hipótese em que o terceiro apenas induz,
instiga ou auxilia de maneira secundária (não provocando o aborto e sim pagando o serviço,
por exemplo) a gestante a provocar o aborto em si mesma, respondendo pelo art. 124 do CP.
Como já vimos, é uma exceção a teoria Monista adotada pelo CP como regra. O CP
criou um delito autônomo com pena diferenciada, dada a maior gravidade da conduta do
terceiro que, com consentimento, provoca aborto na gestante. Veja que pena cominada neste
caso (art. 126 do CP) é maior que a prevista no art. 124 do CP.
É crime comum, pois o tipo não exige qualquer condição especial do sujeito ativo.
Aquele que tem conduta acessória ao terceiro que provoca o aborto será partícipe do
crime previsto no art. 126 do CP. Exemplo: recepcionistas e enfermeiras da clínica abortiva
etc.
É necessário que a vítima tenha capacidade para consentir. Não tem valor o
consentimento quando a gestante não é maior de 14 anos, é alienada mental, ou quando o
consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Neste caso de
consentimento inválido, responde o agente pelo art. 125 do CP.
No caso da gestante não ser maior de 14 anos ou ser alienada mental, necessariamente
haverá crime de estupro com violência presumida (art. 213 c.c art. 224, a e b, do CP). Nestes
casos, havendo consentimento do representante legal da gestante, o aborto será lícito,
conforme autoriza o art. 128, II, do CP. Portanto, quando se tratar gestante não maior de 14
anos ou alienada mental, só será crime previsto no art. 126 do CP, se não houver o
consentimento da representante legal.
ABORTO QUALIFICADO
Previsto no art. 127.
Tem natureza de causa de aumento de pena.
Ocorrerá sempre que a gestante vier a sofrer lesão corporal de natureza grave ou
morte. Como já foi registrado, trata-se de crime qualificado pelo resultado, do tipo
preterdoloso. Dolo no antecedente (aborto) e culpa no conseqüente (lesão grave ou morte).
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Se o agente quer o aborto e a morte (ou lesão corporal grave) da gestante, responde
pelo crime de aborto e homicídio (ou lesão corporal grave) em concurso material ou formal
imperfeito conforme o caso.
O aumento de pena independerá da consumação ou não do aborto. Prevê o aumento
quando as lesões graves ou morte constituem conseqüência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo.
A causa de aumento de pena prevista no art. 127 do CP só é aplicada às formas
tipificadas nos arts. 125 e 126, ficando excluídos o auto-aborto e o aborto consentido tratados
no art. 124 do CP. Desta forma, se existiu participação (indução, instigação ou auxílio) para a
realização do auto-aborto, e a gestante veio a sofrer lesão corporal de natureza grave ou
morte, o partícipe do auto-aborto (o indutor, instigador, e auxiliador) além de responder por
este delito (art. 124, na forma do art. 29, todos do CP), responderá também por lesão corporal
culposa ou homicídio culposo, conforme o caso, isto, frise-se, porque a figura qualificada
exclui os casos do art. 124 do CP.
ABORTO LEGAL
Está previsto no art. 128, comportando as seguintes espécies (normas penais permissivas):
1. Necessário ou terapêutico: (art. 128, I) somente pode ser realizado por médico, quando
a gestante correr perigo de vida e inexistir outro meio para salvar sua vida. Não exige
risco atual. Basta que o prosseguimento da gravidez possa colocar em risco a vida da
mulher, mesmo que o perigo seja no futuro. Se o aborto for realizado por outra pessoa
que não seja médico, será ilícito. Porém, se presentes os requisitos do estado de
necessidade de terceiro (art. 24 do CP) deixará de ser crime por incidência da
excludente de ilicitude. Então, podemos concluir que se presente o requisito do perigo
atual, poderá legalmente outra pessoa (enfermeira por exemplo) realizar o aborto. Não
sendo o perigo atual, mas futuro, somente médico poderá realizar o aborto permitido
pelo art. 128, I, do CP. É dispensável a concordância da gestante ou do representante
legal, se o perigo de vida for iminente (art. 146, § 3º, I, do CP).
2. Sentimental, humanitário ou ético: (art. 128, II) somente pode ser realizado por
médico com consentimento da gestante (ou seu representante legal) no caso da
gravidez resultar de estupro. Neste caso, não há risco atual para a gestante, não poderá
em hipótese alguma outra pessoa (enfermeira, a própria gestante, por exemplo)
realizar o aborto, pois do contrário responderá pelo crime de aborto. OBS.: Não é
necessário haver condenação do pelo crime de estupro. É necessário apenas que o
médico tenha provas do crime (RO, IP, testemunhas, ECD etc.); OBS.: a lei só fala
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LESÕES CORPORAIS
Ver art. 129 do CP.
1) CONCEITO
É a ofensa à integridade física ou à saúde da vítima.
2) OBJETIVIDADE JURÍDICA
Incolumidade da pessoa em sua integridade física e psíquica.
3) SUJEITO ATIVO
Qualquer pessoa (crime comum).
4) SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa.
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5) QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
a. É crime de forma livre;
b. consuntivo (no conflito aparente de normas – crime progressivo);
c. subsidiário (no conflito aparente de normas) em todos os crimes que têm
violência física como meio de execução; ex.: 146, 157, 158, 213, 214 etc.;
d. material;
e. de dano;
f. plurissubsistente;
g. comum;
h. instantâneo;
i. simples;
j. comissivo ou omissivo;
Relembrando: preterdolo é uma espécie de crime qualificado pelo resultado, que ocorre
quando o legislador, após descrever uma figura típica fundamental, acrescenta-lhe um
resultado que tem por finalidade aumentar a pena. O crime preterdoloso ocorre quando o
agente age com dolo no antecedente e culpa no conseqüente (DOLO + CULPA).
7) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação do crime de leões corporais ocorre com a ofensa à integridade física ou
corporal da vítima.
Admite-se a tentativa (art. 14, II, do CP).
INCISO I
É qualquer ocupação lícita de rotina, do dia-a-dia da vítima, como o trabalho, asseio
corporal, recreação etc.
Não configura esta qualificadora, se a vítima deixar de realizar as ocupações habituais
por vergonha (olho roxo por exemplo).
Pode ser física ou mental.
Admite-se dolo ou culpa.
INCISO II
É a possibilidade grave e imediata de morte. Deve ser um perigo efetivo, concreto e
comprovado por perícia médica, que deve especificar qual o perigo de vida sofrido pela
vítima (por exemplo, grande perda de sangue, ferimento em órgão vital, necessidade de
cirurgia de emergência etc.).
Só se admite o resultado por culpa (preterdolo), pois se agiu com dolo no tocante ao
perigo de vida, responde o agente por tentativa de homicídio.
Se a vítima morre, responde o agente por lesões corporais seguidas de morte (§ 3.º).
INCISO III
Membros superiores – braço, antebraço, e mãos.
Membros inferiores – coxa, perna e pé.
OBS.: perda de um só dente: depende do caso concreto, pois pode não haver
debilidade da função mastigatória.
INCISO IV
É a antecipação do parto (nascimento prematuro). É necessário que o agente tenha
conhecimento do estado de gravidez da vítima. Se desconhece, será lesão corporal leve
(responsabilidade subjetiva).
INCISO I
Permanência não é perpétuo. É o duradouro. Que não se pode fixar o limite temporal
da incapacidade.
INCISO II
Enfermidade incurável é a alteração permanente da saúde por processo patológico, a
transmissão intencional de uma doença para o qual não existe cura no estágio atual da
medicina.
A vítima não está obrigada a submeter-se a intervenção cirúrgica arriscada a fim de
curar-se da enfermidade. Neste caso, ainda que haja justa recusa, subsiste a qualificadora.
INCISO III
Perda - pode se dar por mutilação ou por amputação. A mutilação é provocada no
momento da ação criminosa diretamente pelo agente. Ex.: machadada que corta (desliga do
corpo) o braço. A amputação apresenta-se na intervenção cirúrgica imposta pela necessidade
de salvar a vida da vítima ou impedir conseqüências mais graves.
Inutilização – é a inaptidão do órgão para sua função específica, embora, ainda que
parcialmente, no caso de membro, continua ligado ao corpo da vítima.
Ex.: paralisia total do braço; perda da mão ou do braço; perda do pênis (função
reprodutora).
A correção por meio ortopédicos não exclui. Mas o reimplante total, com êxito,
implicará a desclassificação da natureza da lesão.
INCISO IV
É o dano estético, de certa monta, permanente, visível e capaz de provocar impressão
vexatória.
OBS.: permanente, aqui, significa irreparável pela própria força da natureza com o
passar do tempo.
INCISO V
Só admite-se a forma culposa (preterdolo), pois se deseja o aborto, responde por crime
de aborto. Aqui (lesão corporal com resultado aborto) temos dolo na lesão e culpa no aborto.
OBS.: o agente deve saber que a vítima está grávida (responsabilidade subjetiva).
OBS.: Aplica-se somente nas lesões corporais dolosas, leve, grave, gravíssima ou
seguida de morte. Porém, DAMÁSIO entende que não se aplica a lesão corporal leve, pois,
neste caso, incidirá o § 5.º do art. 129 do CP.
9) SUBSTITUIÇÃO DA PENA
Ver § 5.º do art. 129.
OBS.: O agente que agiu em legítima defesa será absolvido. O agente que iniciou a
agressão não será beneficiado pela substituição. A substituição prevista no § 5.º só será
aplicada quando uma pessoa agride outra e, cessada a agressão, ocorre a retorsão. DAMÁSIO
entende que mesmo o agente que iniciou a agressão poderá ser beneficiado pela substituição.
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OBS.: Nas lesões corporais culposas, ao contrário do que ocorre com as dolosas, não
há distinção de gravidade do resultado. A gravidade, na culposa, só será levada em
consideração por ocasião da fixação da pena-base (art. 59 do CP).
O § 8.º remete-se ao § 5.º do art. 121 do CP. Por isso, ver conceito e requisitos tratados
no art. 121, § 5.º, do CP.
Aplica-se também à lesão corporal culposa do CTB, pelos motivos já expostos nos
comentários sobre o perdão judicial no homicídio.
OBS.: a lesão corporal do CTB é só a culposa. Sendo dolosa, não terá aplicação o
CTB, mas o CP. Se o agente, com intenção de ferir, projeta o veículo contra a vítima que
sofre lesões corporais, não se aplica o CTB, mas o CP (poderá configurar lesões leves, graves,
gravíssimas ou seguidas de morte), pois o veículo é mero instrumento do crime.
OBS.: o art. 303 do CTB é especial em relação ao art. 129, § 6.º, do CP. Desta forma,
se a lesão corporal culposa é praticada na direção de veículo automotor, incide o art. 303 do
CTB (que é especial) e não o art. 129, § 6.º, do CP (que é geral).
doméstica teria sido alterada para pública incondicionada, em razão do que dispõe o art. 41 da
citada lei.
17) COMPETÊNCIA
Compete ao JECRIM (Juizado Especial Criminal – ver art. 61 da Lei 9099/95) julgar
os crimes de lesão corporal dolosa leve e lesão corporal culposa, em razão da pena máxima
cominada para tais crimes. As demais situações seriam de competência do Juízo Criminal
comum (Vara criminal).
Quando se tratar de lesão corporal leve praticada em situação de violência doméstica
(§ 9.º), em razão da pena máxima ultrapassar os dois anos, , independentemente do sexo da
vítima, cabera à Vara Criminal o julgamento. Sendo mulher a vítima, em situação de violência
doméstica, a lesão corporal de qualquer natureza (contra mulher), enquanto não criado nos
Estados o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, será de competência da
Vara Criminal.