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10 de julho de 2010

A INTEGRAÇÃO REGIONAL
NA AMÉRICA LATINA E A
NOVA DINÂMICA DAS
RELAÇÕES COM OS
ESTADOS UNIDOS

Prof. Luiz Dr. Augusto


Estrella Faria
Apoio institucional: Apoio logístico:
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
INTEGRAÇÃO REGIONAL NA AMÉRICA LATINA E A NOVA DINÂMICA DAS RELAÇÕES

COM OS ESTADOS UNIDOS

Apoio

logístico:

A INTEGRAÇÃO REGIONAL NA AMÉRICA LATINA E


A NOVA DINÂMICA DAS RELAÇÕES COM OS
ESTADOS UNIDOS1
Luiz Augusto Estrella Faria

O desafio que se coloca atualmente para os formuladores de


políticas públicas no continente latino-americano é o de unir forças para
criar um ambiente mais saudável, que seja de harmonia para as
relações entre os vizinhos e competitivo economicamente em relação a
terceiros. O processo de integração por que passa o continente latino-
americano está em um momento de decisão, e é necessário
compreender as forças que estão em jogo. O Brasil, na condição de
maior economia da América Latina, tem exercido um papel de liderança
neste processo, chamando os povos vizinhos para as necessidades de
uma nova conjuntura internacional. Este papel preponderante deve ser
entendido como uma grande responsabilidade no que tange à condução
de todo um continente na direção de um cenário político mais estável,
através da convergência política necessária para a cooperação mútua.
Entende-se, assim, a necessidade da integração como o esforço
conjunto para o desenvolvimento, objetivando, de um lado, a
solidariedade entre os povos, e de outro, o fortalecimento de cada uma
das economias envolvidas.
Na América Latina, a integração institucional começou em 1960,
com a ALALC. Desde então, o processo se viu norteado por relações
bilaterais – notadamente entre Brasil e Argentina -, relações regionais –
formação do MERCOSUL e Comunidade Andina -, e, mais recentemente,
por toda a América do Sul – com as Cúpulas Presidenciais e a UNASUL.
Em seus interstícios, presenciamos alternativas ousadas à integração,
1
Preparado por Natália Dutra, aluna do curso de Relações Internacionais da UFRGS.
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como a ALBA e a ALCA. Analisando não só estas iniciativas em


particular, mas também as suas conjunturas internacionais, tem-se o
mapa da integração latino-americana, proporcionando as ferramentas
necessárias para o estudo da atual fase do processo e de suas
perspectivas.
Este material discorrerá sobre a integração latino-americana
desde suas origens, passando pela formação dos blocos econômicos
assim como pelas diversas alternativas que surgiram na década de
1990. Mais adiante, serão abordados os desdobramentos mais recentes
da integração, marcando a nova dinâmica dos países latino-americanos,
principalmente do Brasil, com seus vizinhos e com os Estados Unidos.

ORIGENS DA INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA

Para compreender a natureza da integração latino-americana, é


necessário retomar conceitos importantes para o entendimento da
dinâmica econômica no sistema internacional desde início do século XX.
Deve-se considerar que a lógica da integração advém da
tendência do capitalismo para a acumulação de capital. O rápido avanço
das tecnologias desde o fim do século XIX fez com que a dificuldade em
comunicar-se e transportar-se diminuísse bruscamente. Assim,
diminuem-se as restrições de tempo e espaço em todo o globo,
configurando o que conhecemos por globalização.
Apesar dos avanços em tecnologia e da inserção no contexto da
globalização, o continente latino-americano apresenta a herança
institucional que nos deixaram os portugueses e espanhóis à época do
colonialismo. Também o forte apelo nacionalista nascido a partir das
independências, assim como pela base econômica primário-
exportadora, criou uma individualização definida pelas fronteiras e fez
com que as economias nacionais crescessem de forma independente
em relação aos seus vizinhos, intensificando laços principalmente com
as grandes potências europeias e com os Estados Unidos. Não havendo
um desenvolvimento econômico integrado entre as economias latino-
americanas e seus parceiros comerciais desenvolvidos do Norte2, a
2
As relações dos países latino-americanos com os países desenvolvidos,
principalmente até a década de 1930 e 1940, foram marcadas pela exportação de
produtos agrícolas – as commodities -, e matérias-primas para a indústria norte-
americana e européia. Neste sentido, a agregação de valor e o avanço das
tecnologias ficavam limitados às economias do centro, enquanto a periferia sul-
americana mantinha sua economia dependente e com grandes déficits em função
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acumulação de capital que se dava em território nacional encontrou


limites: tanto em relação à escala de produção (insuficiência do
mercado nacional e da demanda interna para as necessidades de uma
indústria mais desenvolvida) quanto em relação aos níveis de regulação
puramente nacionais, sem instituições políticas, econômicas ou sociais
que tivessem poder de induzir os países ao caminho da integração e da
interdependência.
Entre o início do século XX até a década de 1930, mudanças
significativas no âmbito das instituições de poder ocorreram para
confirmar a mudança do modo de acumulação que se daria na região
desde então até a década de 1970. Se a economia se via limitada em
seu processo de expansão, e se o mundo se via em um surto de
crescimento, as instituições políticas e jurídicas nacionais também
tenderiam a adequar os mecanismos necessários para seguir crescendo.
Foi em tal contexto que se deu a industrialização das economias latino-
americanas: com o uso tanto do capital acumulado a partir da
exportação de produtos primários, quanto do capital externo – e ainda
em função do boom de demanda no mercado mundial ocorrido com a I
Guerra Mundial -, as economias da região puderam dar impulso às
políticas industrializantes em seus países.
As nações latino-americanas, entrando em uma nova fase de
acumulação de capital, empenharam-se na industrialização nacional. De
acordo com o padrão fordista, o crescimento voltava-se para dentro,
implicando também políticas nacionais protecionistas (aduaneiro,
câmbio, regulamentação) que seguiram a tradição de isolar as
estruturas produtivas e de manter a regulação nada além do nível
nacional, prezando pela proteção às indústrias nascentes e contra a
entrada de produtos desde os países mais desenvolvidos. (FARIA, 1999).
O resultado foi, ao longo deste período, que não houve qualquer
evolução na interdependência das estruturas produtivas entre os países
latino-americanos3, fator que se tornaria mais um limitante a este modo
de acumulação em sua crise, nos anos 1980. Ademais, o excesso de
“proteção” também inibiu propostas para a integração econômica do
continente.
A integração latino-americana foi fortemente incentivada pela

da necessidade de importar bens industrializados.


3
Apesar de semelhantes entre si, as economias latino-americanas, sendo pouco
desenvolvidas internamente, e fortemente voltadas para a exportação de produtos
agrícolas para o centro desenvolvido (Estados Unidos e Europa), não lograram criar
estruturas integradas de produção, limitando-se aos seus mercados nacionais e às
relações com o centro.
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Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - CEPAL 4, que via


neste processo uma alternativa para superar as limitações de escala à
substituição de importações5 - que gerou vários mercados internos de
proporções reduzidas. (FARIA, 1999). Entre as décadas de 1960 e 1970 a
CEPAL defendia que o desenvolvimento das economias do terceiro
mundo (denominadas periferias) passava pela adoção da política de
substituição de importações, a qual permitiria a acumulação de capitais
internos que poderiam gerar um processo de desenvolvimento auto-
sustentável e duradouro. Assim,

"... em vez de procurar implantar toda a sorte de indústrias


substitutivas, cada país poderá especializar-se naquelas que
julgar mais convenientes, de acordo com seus recursos naturais,
com as aptidões de sua população e com as possibilidades de
seu próprio mercado; e recorrerá a importações provenientes
dos demais países latino-americanos para satisfazer outras
necessidades de produtos industrializados que não tenham
podido ser atendidas por importações do resto do mundo"
(CEPAL, 1959, p.362.)

Foi no ano de 1957, através do Grupo de Trabalho do Mercado


Regional Sul-Americano, no âmbito da CEPAL, que a integração passou a
ser tratada como necessidade e prioridade econômica. Com base nas
diretrizes traçadas pela CEPAL para a industrialização da América Latina
de forma interdependente, o chamado “desenvolvimento para dentro”,
os países lançaram, em 1960, a Associação Latino-Americana de Livre
Comércio – ALALC, através do Tratado de Montevideo. A ALALC, serviria
para amenizar os problemas decorrentes das disparidades entre os
níveis de desenvolvimento dos países latino-americanos, através do
princípio da reciprocidade6 (SILVA, 2008). A ALALC constituiu-se em uma
tentativa de integração comercial cujos membros eram Argentina,
Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai. À época, já se pretendia

4
A CEPAL foi criada em 25 de fevereiro de 1948, sendo uma das cinco comissões
regionais das Nações Unidas. Sua função era de monitorar, assessorar e contribuir
para o desenvolvimento da região latino-americana. Hoje, a CEPAL promove estudos
para retomar o caminho do crescimento sustentado, assim como a consolidação de
sociedades plurais e democráticas. Disponível em www.eclac.cl, último acesso em
01/06/2010.
5
A idéia básica deste processo de crescimento econômico é substituir gradualmente
os produtos importados por produtos produzidos no país, dos mais simples aos mais
complexos. No Brasil, este processo teve início com Getúlio Vargas, com a
substituição das importações de bens intermediários; nos anos 1950, com Juscelino
Kubitscheck, o processo acelerou-se até culminar, ao longo dos governos militares,
com a substituição das importações de bens de capital e de base.
6
Segundo o Direito Internacional, a reciprocidade implica o direito de igualdade e de
respeito mútuo entre os Estados.
5
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criar uma área de livre comércio na América Latina. A partir da década


de 70, outros países vieram juntar-se à Associação: Bolívia, Colômbia,
Equador e Venezuela. Em 1980, a ALALC tornou-se Associação Latino-
Americana de Integração – ALADI, cuja composição manteve-se
inalterada até o ano de 1999, com a entrada de Cuba.
Ainda que não apresentasse grandes resultados concretos, a
ALALC foi importante no sentido de dar início ao trabalho de
coordenação. Faltava, no entanto, instrumentos reais de harmonização
das economias, além de uma visão mais completa das capacidades e
limitações de cada país. A ALADI surgiu com este objetivo: traçar metas
para harmonizar os instrumentos de comércio entre países; estipular
tratamentos diferenciados para os países com menor grau de
desenvolvimento, como Bolívia, Equador e Paraguai; e ainda servir de
instituição representante e facilitadora nos movimentos de cooperação
com países em desenvolvimento, mesmo que de fora do continente
latino-americano. A ênfase da integração, a partir da ALADI, volta-se
para os acordos sub-regionais, como o MERCOSUL e a Comunidade
Andina.
Os anos 1980, no entanto, trouxeram o esgotamento das
oportunidades de investimento via substituição de importações, devido
a fatores como a perda do ritmo do processo de urbanização e a brusca
queda das taxas de lucro. A crise da indústria latino-americana estaria
em um contexto maior, como parte da mesma crise do fordismo dos
países centrais, o processo de esgotamento do regime de acumulação
intensiva. (FARIA,1996). Uma vez que o processo de integração baseado
na ampliação dos mercados nacionais se fazia em função do processo
de substituição de importações, e que este processo cessou na década
de 1980, também “o modelo de integração foi substituído nos anos
1990 por uma busca de maior visibilidade internacional dos acordos
sub-regionais e superação da crise econômica” (SILVA, 2006. p.149).
Aproximaçao Brasil-Argentina
Sabe-se que o movimento de aproximação entre os países do
Cone-Sul deu-se já na década de 1960, em função da necessidade de
cooperação sobre os recursos hídricos do continente. Em 1969, firmou-
se o Tratado da Bacia do Prata7, resultando na Declaração de Assunção
de 1971, a qual versava sobre o aproveitamento de águas
internacionais. Igualmente importante foi a diplomacia sobre a questão
de Itaipu, a qual estabeleceu uma ligação energética permanente entre
Brasil e Paraguai (Itaipu Binacional, em 1973), e entre Paraguai e
7
Assinado por: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai.
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Argentina (Tratado de Yaciretá, 1973). Seis anos após, os três países


viriam a assinar o Tratado Tripartite, possibilitando a construção das
hidrelétricas de Corpus e Yaciretá, todas se utilizando das águas do Rio
Paraná.
Apesar do contexto de crise que vivenciaram os países latino-
americanos na década perdida, algumas conquistas foram alcançadas
no que tange ao processo de integração neste ínterim. Se pouco havia
sido feito no âmbito político para gerar aproximações mais efetivas
entre os países sul-americanos, nota-se que a aproximação ocorrida
entre Argentina e Brasil foi o impulso necessário para que os governos
dessem mais atenção aos seus vizinhos, e que pudessem vislumbrar um
horizonte comum.
A redemocratização de ambos os países convinha para uma
convergência de interesses, assim como a situação de crise e dívida
externa que assombrava a ambos. Afinal, se os esforços da integração
iniciaram-se a partir de Brasil e Argentina, muito foi em questão das
dificuldades comuns pelas quais passavam estes dois governos recém
democratizados (FARIA, 2004, p.122). Foi com o então governo de José
Sarney (1985-1990) que os diálogos começaram a adensar-se, a
começar pela Declaração de Iguaçu, em 30 de novembro de 1985. Esta
declaração visava à cooperação pacífica no âmbito da energia nuclear,
aproximando os dois países. Os cinco anos do governo Sarney foram
frutíferos para as relações internacionais do Cone-Sul, configurando uma
base para o processo que viria a ocorrer na década de 1990. Em 29 de
julho do ano seguinte, Sarney visita a Argentina e assina a Ata de
Integração Brasileiro-Argentina, estabelecendo o Programa de
Integração e Cooperação Econômica (PICE), “esse programa previa um
processo de integração setorial via incremento do comércio intra-
industrial, com base em protocolos nos segmentos nuclear, transporte,
bens de capital, energia, trigo, siderurgia e finanças” (FARIA, 2004,
p.128). A mesma visita também serviu para continuar os esforços na
área nuclear, sendo firmado o Protocolo de Cooperação Nuclear.
Aos poucos, o Uruguai passa a buscar um lugar nas conversações
de integração e coordenação. Em agosto de 1986, Brasil e Uruguai
assinam a Ata de Cooperação Econômica, que daria caminho à Ata da
Amizade, em dezembro daquele ano. Em relação aos seguintes passos
para o estreitamento das relações bilaterais entre Brasil e Argentina, o
Uruguai participava sempre como convidado.
O contexto político estava em plena mutação, e aos poucos os
países retomavam sua auto-estima e força política. O ano de 1986 é
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marcado notadamente pela vitória inédita do Brasil em relação aos


Estados Unidos sobre a questão da Lei de Informática8 – a qual se
arrastava desde 1984. Ainda em 1986, Argentina, Brasil, Colômbia,
México, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela criam o Grupo do Rio, que
consistiria em um mecanismo de consulta e concertação política para a
América Latina. O Grupo do Rio, apesar da pequena atuação efetiva nas
decisões políticas internacionais, serviu de precedente para outras
políticas que viriam a existir entre países de toda a América Latina,
assim como marca iniciativas políticas autônomas em relação ao centro
de poder estadunidense. A primeira cúpula do Grupo, que se daria em
1987, já apontava objetivos comuns baseados na paz, no
desenvolvimento e na democracia, como expresso no Compromisso de
Acapulco.
Sarney seguiu dialogando com o governo argentino no sentido de
criar as bases para a cooperação no cone-sul. Em 1988, é assinado o
Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, o qual
estabelecia mecanismos para a criação de um sonhado espaço
econômico comum em um prazo de 10 anos. Bem se sabe que não
haveria demoras em colocá-lo em prática: foi com Fernando Collor, no
primeiro ano de seu curto governo, que se assinou a Ata de Buenos
Aires, dando formas a um mercado comum bilateral.
Concomitantemente à Ata de Buenos Aires, criou-se o Estatuto das
Empresas Binacionais Brasileiro-Argentinas, consolidando os esforços
políticos em realidades econômicas, ainda que de forma incipiente. De
acordo com AMORIM (2010, p.9), os tratados anteriores ao MERCOSUL
constituíram em um

“processo dinâmico e irreversível, apesar da impossibilidade de


cumprimento de todos os objetivos. “O ACE 14 [Acordo de
Complementação Econômica 14] é essencialmente um acordo
de livre comércio. Quando o Paraguai e o Uruguai se juntam – e
isso coincide com o lançamento da Iniciativa para as Américas,
pelo Presidente Bush, o pai – há a percepção de que é preciso
haver uma posição conjunta, não só de Brasil e Argentina, mas
também, de Uruguai e Paraguai, já nessa época envolvidos na
8
A Lei de Informática visava estabelecer uma reserva de mercado para as empresas
de capital nacional na área da informática. A Lei trouxe aspectos positivos para o
setor, o qual se encontrava estagnado até então. Entre seus resultados, temos o
crescimento rápido da indústria de informática, a valorização das empresas
nacionais neste processo, a criação maciça de empregos diretos, e ainda o aumento
substantivo do investimento em Pesquisa e Desenvolvimento. De outro lado, o ritmo
do desenvolvimento das tecnologias em informática, e a incapacidade da indústria
brasileira de acompanhar as tendências internacionais, forçaram o Brasil, ainda em
1991, a rever o conceito de empresa nacional para conseguir atrair capital
estrangeiro.
8
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negociação para liberar o comércio entre os quatro.”

O ano de 1991 é marcado pela assinatura do Tratado de Assunção


– acordo marco do MERCOSUL -, uma resposta rápida para os diálogos
entre Brasil e Argentina, e contando ainda com a cooperação de Uruguai
e Paraguai. É interessante situar a posição do Paraguai neste processo,
pois até então ele não havia sido sequer citado. De acordo com AMORIM
(2010, p.11):

“inicialmente, seria o Chile a integrar este esforço para


integração, e não o Paraguai, recém saído de uma “ditadura”.
No entanto, a política econômica chilena, já com baixas taxas de
juros, não vinha ao encontro dos ideais de política econômica do
bloco que se iniciava. A redemocratização do Paraguai,
concomitante, foi decisiva para sua incorporação.”

O MERCOSUL E SUA EVOLUÇÃO

Não havia dúvidas de que o MERCOSUL, quando criado, contava


com uma estrutura forte e coesa. O surgimento de uma frente
coordenada, composta por países sul-americanos, surpreendeu inclusive
os Estados Unidos, que traçavam as suas próprias estratégias de
integração através de negociações diretas com os governos de cada
país (AMORIM, 2010). Por essa razão, o encontro entre os países do
MERCOSUL e os Estados Unidos denominou-se Acordo 4+1, ressaltando
a união dos quatro países.
Para a análise do MERCOSUL, é possível seccionar a história do
bloco em quatro fases com distintas características.

Período de Formação Institucional e Adaptação:


Assim que firmado o Tratado de Assunção, em 1991, os países
passaram por uma fase de adaptação das suas políticas nacionais com
vistas à implantação da Tarifa Externa Comum, prevista para 1995. Esse
movimento era, de fato, a convergência do padrão comercial das quatro
economias para sua nova orientação de cunho livre-cambista, marcada
pela adesão às regras da OMC. Essa realidade desmistifica o MERCOSUL
e o insere na tendência neoliberal dos anos 1990 sobre as políticas
econômicas nacionais. De acordo com estas tendências, o mercado
ganharia cada vez mais espaço sobre o Estado, através do movimento
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de privatizações das empresas nacionais, da diminuição dos tributos e


da minimalização das funções do Estado.
O período foi marcado pelo cronograma de convergência e
equalização de alíquotas, assim como pela manutenção das listas
nacionais de exclusão, concedendo garantias para os dois países
menores. Em função destes esforços de harmonização, o fluxo de
comércio apresentou forte crescimento no período.
Também as instituições que comporiam o bloco foram
consolidadas neste período.

Período de Maturação
A adesão dos quatro países à Tarifa Externa Comum (TEC)9 marca
uma nova fase para o bloco e para a integração como um todo. A TEC é,
sem dúvida, o aspecto mais desenvolvido do processo de integração,
ainda que seja necessário alguns ajustes (como a manutenção de
algumas listas de exclusão por prazos maiores) em razão da instável
conjuntura internacional do momento. Foi necessário repactuar a TEC
em 1997 devido às pendências que permaneceram sem solução ao
longo da fase de adaptação.
O período, apesar das dificuldades, foi de grandes avanços para
as relações com os países vizinhos, a começar pela adesão de Chile e
Bolívia, ainda que sob um estatuto diverso10. Também foi firmado acordo
com a Comunidade Andina de Nações, tendo em vista uma possível
área de livre comércio decorrente das relações entre os dois maiores
blocos econômicos da América do Sul.

Fig. 2: Acordos do MERCOSUL com outros blocos econômicos ou


países.
MERCOSUL-Israel dez/07
MERCOSUL-Perú (ACE 58) nov/05
MERCOSUL-Colombia, Equador e Venezuela(ACE 59) out/04
MERCOSUL-Índia jan/04
MERCOSUL-Comunidade Andina (ACE 56) dez/02
MERCOSUL-México -Setor Automotivo (ACE 55) set/02
9
A TEC, que caracteriza a União Aduaneira, faz com que todos os países membros
possam cobrar as mesmas taxas para importação de bens advindos de terceiros
países, reduzindo as diferenças competitivas entre si.
10
Estes países não fazem parte da União Aduaneira do MERCOSUL, mas participam
das demais atividades do bloco, principalmente de cunho político, dando maior peso
ao mesmo.
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MERCOSUL-México (ACE 54) jul/02


MERCOSUL- SACU dez/00
MERCOSUL-Bolívia (ACE 36) dez/96
MERCOSUL-Chile (ACE 35) jun/96
Fonte: Elaboração própria com base em: SICE – Sistema de Informação sobre Comércio
Exterior. Acordos

Período de Crise Econômica Conjuntural


Os anos de 1997 a 2002 foram marcados pela instabilidade
financeira mundial, “responsável pela desvalorização cambial da moeda
brasileira em 1999, a qual desfez a ainda precária acomodação
cambial11 entre os países” (FARIA, 2004, p.139). A Argentina foi o
primeiro país a reagir, adotando medidas protecionistas devido ao forte
apelo dos produtores agrícolas e industriários nacionais. Sob a
possibilidade de uma intervenção da OMC a favor do Brasil na questão
do protecionismo argentino, o presidente Menem ameaçou dolarizar a
economia Argentina, e lançou a tese da moeda única no MERCOSUL, o
que motivou a discussão sobre a harmonização das políticas monetárias
e cambiais.
Alguns êxitos políticos foram alcançados à revelia das dificuldades
econômicas. Avançou-se com a criação da Comissão Sociolaboral, em
1999, avanços no reconhecimento de títulos e graus universitários,
coordenação e cooperação em segurança pública e coordenação
econômica.
Os anos pós-crise foram decisivos para o futuro do bloco, pois só
então puderam ser balanceadas as forças centrífugas, que davam
condições para a continuação do processo de integração, e as forças
centrípetas, que tensionavam à ruptura do bloco. Se, de um lado,
arraigou-se o movimento político e cultural que insere o MERCOSUL na
cultura dos povos membros, por outro lado, a fragilidade externa dos
membros ,a pressão internacional contra a imposição da TEC (um dos
pontos de negociação da ALCA) e os interesses conflitantes dos diversos
setores econômicos de cada país contribuíam para o estancamento do
processo de integração. A fragilidade se dá principalmente pela
natureza da pauta de exportações e importações dos países do Cone
11
A acomodação cambial diz respeito à relativa segurança que deveria existir entre os
países membros de um bloco econômico. Basicamente, não haveria especulações
cambiais predatórias sobre países vizinhos, uma vez que estas economias nacionais
devem desenvolver-se interdependentemente.
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Sul, que os torna vulneráveis às eventuais mudanças na demanda


internacional, ou às oscilações dos preços das commodities no mercado
mundial; a pressão internacional contra a TEC está relacionada ao
aumento da proteção dos nossos mercados, contrário às tendências
neoliberais de aberturas econômicas desmedidas; já internamente, a
competição direta (sem proteções nacionais) entre setores concorrentes
também figurou como um entrave à integração, fazendo-se necessária a
manutenção de cláusulas de salvaguardas e listas de exceções.

Período de Retomada do Bloco


O período que se inicia em torno do ano de 2002 representa a
retomada do processo de integração, ainda que sob novos governos,
com visões e objetivos diferentes daqueles que criaram o MERCOSUL no
início dos anos 1990.
Se a onda de governos esquerdistas, ocorrida nos primeiros anos
da década de 200012, deve ser considerada para a análise da política
regional sul-americana, também se deve ressaltar que houve
continuidade das políticas neoliberais também por estes governos.
A partir de uma visão brasileira, constata-se que a integração
manteve-se como uma questão estratégica para a política externa e
para a política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Considerando que as relações entre Brasil e Estados Unidos tenham sido
pendulares13 ao longo da história, pode-se inferir que o momento é de
relativa autonomia, e que a estratégia de integração reflete esta
postura brasileira. O fortalecimento do MERCOSUL tornou-se prioridade
para o governo brasileiro na medida em que dele depende suas
estratégias de integração continental (com a União das Nações Sul-
Americanas - UNASUL), e de relações Sul-Sul (como o IBAS 14). Neste

12
Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil; Evo Morález, na Bolívia; Rafael Corrêa, no
Equador; Nestor Kirschner, na Argentina, seguido de sua esposa, Cristina Kirschner;
Fernando Lugo, no Paraguai; Hugo Chávez, na Venezuela; Michelle Bachelet, no
Chile; Alan García no Peru.
13
De acordo com Faria (2004), as relações do Brasil com os Estados Unidos podem ser
consideradas pendulares, pois oscilam entre o alinhamento automático da política
externa brasileira com as diretrizes norte-americanas, em alguns momentos, e uma
posição mais autônoma por parte dos governantes brasileiros, voltando-se para as
questões “terceiro mundistas” (ou, mais recentemente, para as relações Sul-Sul),
em outros momentos. O governo de Fernando Henrique Cardoso caracterizaria um
momento de alinhamento, enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva ilustra
bem o momento atual de busca por maiores autonomia e iniciativa, desvinculada
dos interesses norte-americanos.
14
O IBAS ou G-3 é um Fórum de Diálogo composto por Índia, Brasil e África do Sul. Foi
criado em 06 de junho de 2003 sob a Declaração de Brasília, e tem importância
12
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sentido, o aspecto político do bloco vem sendo valorizado em função


dos interesses nacionais, não só brasileiros, mas de todos os membros
em vistas à inserção econômica e política internacional. No âmbito da
integração continental, destaca-se a convergência política entre Brasil,
Argentina, Venezuela e Uruguai, resultando em uma possível adesão da
Venezuela no bloco do Cone-Sul.
De acordo com FARIA (2005), ainda falta, por parte dos membros,
desvincularem-se das políticas ortodoxas que ainda guiam as políticas
internas, como a obsessão brasileira em controlar a inflação em
detrimento de taxas de juros a níveis mais razoáveis, tornando-as
incompatíveis com um mercado comum. Ademais, julga-se
indispensável o avanço da institucionalização do bloco na direção da
supranacionalização15 do bloco para que este se sustente
autonomamente, independente das variações bruscas de diretrizes dos
países membros.
Dentre as novidades que surgiram no bloco nos últimos anos, a
entrada da Venezuela parece ser a mais emblemática. O vizinho do
norte, que conta com Hugo Chávez no governo, saiu da Comunidade
Andina para fazer parte do MERCOSUL. A entrada do país foi aprovada
por Argentina, Uruguai e Brasil (nesta ordem); o Paraguai adiou a
discussão para este ano, pois o presidente Fernando Lugo não conta
com o apoio do Congresso para a questão. Com a entrada da Venezuela,
somar-se-ia ao MERCOSUL um PIB de 223,430 milhões de dólares americanos, ou
seja, o terceiro maior PIB do bloco, atrás apenas de Brasil (2.013.893 milhões de dólares
americanos) e da Argentina (391.054 milhões de dólares americanos). Se, por um lado, o
MERCOSUL pode se fortalecer economicamente e geoestrategicamente (em função da
expansão para fora do Cone Sul), por outro lado, as medidas de harmonização
macroeconômicas podem ser freadas em função das grandes diferenças que ostenta a
estrutura econômica venezuelana, além da questão de o governo de Chávez trazer
instabilidade e, no pior dos casos, diminuição da legitimidade de todo o bloco.
A questão energética também é um importante fator a se considerar no caso de

política e estratégica para esses países tanto no âmbito das relações Sul-Sul,
quanto para obter maior poder político nas arenas multilaterais em relação aos
países desenvolvidos.
15
A supranacionalização do MERCOSUL consiste na criação ou remodelagem de
estruturas institucionais do bloco para que atuem fora do âmbito nacional, ou seja,
que funcionem acima das soberanias nacionais. O melhor exemplo do processo de
supranacionalização atualmente é a União Europeia, cujos órgãos atendem ao bloco
independentemente das instituições nacionais. No momento, a estrutura do
MERCOSUL se dá de forma intergovernamental, o que significa que todas as
decisões concernentes ao bloco são negociadas diretamente entre os Estados, e
não através de um órgão permanente e com representações fixas responsável por
mediar os interesses de cada membro.
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integração com a Venezuela. A chamada equação energética da América Latina poderia ser
alterada neste contexto, uma vez que a Argentina sofre com a falta de energia (e disputa
com o Brasil o mercado boliviano), a Venezuela poderia ser uma fonte importante, a menos
que o Brasil coloque seus interesses energéticos imediatamente à frente de seu vizinho
argentino, o que poderia trazer ainda mais conflitos. Atualmente, o Brasil melhorou a
infraestrutura energética integrada com a Argentina, e compromete-se em ajudar a
abastecer o país nos momentos de maior demanda (BERNAL-MEZA, 2008).
A retomada do bloco na atual década, portanto, traduz as
estratégias brasileiras de expansão econômica e de integração, usando
o MERCOSUL e, em menor escala, - mas não com menor importância –,
a Comunidade Andina como pilares de sustentação para uma nova
instância de integração, englobando todo o continente sul-americano.
A COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES

Este bloco econômico nasceu em 1969 através do Acordo de


Cartagena, fruto da insatisfação de alguns países em relação à
distribuição desigual de benefícios ocorrida no seio da ALALC.
Inicialmente chamado de Pacto Andino – nome mantido até 1996,
quando tornou-se Comunidade Andina –, era composto por Bolívia,
Colômbia, Equador, Peru e Chile. Logo em 1977, o Chile desistiu do
bloco em razão de suas necessidades em abrir a sua economia,
inviabilizando qualquer esforço em direção à harmonização
macroeconômica (motivo pelo qual o Chile tampouco aderiu ao
MERCOSUL, duas décadas depois). O Peru suspendeu sua associação em
1992, voltando apenas em 1997 através de uma inserção gradual.
A definição da estrutura ocorreu ao longo dos anos, mas foi
apenas em 1993 que foi possível criar uma zona de livre comércio entre
os membros, muito em função das recentes redemocratizações
ocorridas na região e da conjuntura favorável à construção destes
blocos econômicos. Por um lado, a integração através da área de livre
comércio rendeu bons frutos, principalmente em função da possibilidade
de acordar uma grande área de livre comércio entre a Comunidade
Andina e o MERCOSUL. As negociações para o acordo, no entanto,
demoraram anos desde sua aprovação, em 1998, até sua ratificação em
dezembro de 2002. Por outro lado, as iniciativas dos governos membros
em intensificarem as relações comerciais com os Estados Unidos,
através do Tratado de Livre Comércio CAN-EUA, fizeram com que as
políticas fossem revistas para adequar-se à nova condição. Em razão
disso, a Venezuela, no ano de 2006, anuncia sua saída do bloco,

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alegando que o TLC não condizia com as premissas da CAN. Nesse


mesmo ano, a Venezuela dá início às negociações para a entrada no
MERCOSUL.
Os objetivos da CAN se baseavam em cinco critérios:
desenvolvimento conjunto do setor industrial (de acordo com as
premissas da CEPAL para o desenvolvimento através da substituição de
importações); a melhor distribuição dos benefícios e dos custos da
integração (considerando as necessidades das economias menores –
Bolívia e Equador); ao processo de integração com planejamento
estruturado (nos moldes do MERCOSUL, por exemplo, iniciando-se com
a área de livre comércio e evoluindo para uma união aduaneira); a
atração de empresas multinacionais, possibilitando a irradiação dos
benefícios para as empresas nacionais; e ainda a distribuição equitativa
dos efeitos positivos da integração através de uma ordem supranacional
responsável por alocar tais resultados. A partir destes critérios, conclui-
se que a CAN diferencia-se dos demais blocos latino-americanos por
apresentar elementos institucionais que remetem a uma ordem
supranacional dentro do bloco, aspecto de muitas reivindicações
atualmente voltadas ao MERCOSUL.
Considerando as inovações trazidas pelo Acordo de Cartagena,
explica-se o aparente malogro da CAN através da instabilidade de seus
membros, e não de sua estrutura institucional, ou dos objetivos do
bloco. Ao longo dos anos, os membros viram-se defronte a crises
conjunturais, crises fronteiriças, governos ditatoriais e diversos golpes, o
que impulsionou a negociação de acordos bilaterais entre membros e
com terceiros países, transgredindo as normas do Acordo de Cartagena.
O principal exemplo é o Tratado de Livre Comércio Peru - Estados
Unidos, ainda em vias de implementação.
Ainda que abarcando todas estas fraquezas, a Comunidade Andina
“foi uma ação de coragem do ponto de vista político, mas, do ponto de
vista prático, acho que o núcleo dinâmico para a integração da América
do Sul está no MERCOSUL porque foi o núcleo que criou maior
densidade.” (AMORIM, 2008, p.13). Apesar da implantação da Tarifa
Externa Comum na CAN, a união Aduaneira do MERCOSUL mostra-se
muito mais organizada e legitimada pela ação de seus membros.
Atualmente, os países da CAN estão engajados no
desenvolvimento da UNASUL e na consolidação da integração sul-
americana.

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AS ALTERNATIVAS PARA A INTEGRAÇÃO

Muitas tentativas de integração, de diferentes origens e


naturezas, foram lançadas ao longo das últimas décadas para a América
Latina; algumas revolucionárias, como a Associação Latino-Bolivariana
para as Américas – ALBA, lançada pelo presidente boliviano Evo
Moralez; outras, remetendo ao alinhamento com o centro econômico
estadunidense, como a Iniciativa para as Américas, lançada por George
Bush pai, e a Associação de Livre Comércio das Américas - ALCA,
lançada por Bill Clinton. Além destas tentativas, o Brasil também lançou
sua idéia para o continente: a Associação de Livre Comércio Sul-
Americana – ALCSA. Vejamos com mais detalhes, a seguir, cada uma
destas iniciativas.

Iniciativa para as Américas, ou Plano Bush (1991)


Mais conhecida como Iniciativa para as Américas, lançada pelo
presidente norte-americano George Bush “pai” em 27 de junho de 1991,
era uma continuação das políticas estadunidenses para renegociação da
dívida externa latino-americana (problema grave advindo das décadas
de 1970 e 1980). Consoante as premissas do Consenso de
Washington16, a Iniciativa visava ao aumento dos fluxos de comércio via
liberalização econômica, amparada por um fundo de investimento e
pela possibilidade de redução da dívida externa. Concomitantemente ao
lançamento da Iniciativa para as Américas, o governo norte-americano
negociava com Canadá e México a Área de Livre Comércio da América
do Norte – NAFTA, através do qual se gerou um forte desvio de comércio
em função do deslocamento da economia mexicana para o norte,
afetando principalmente os países da América Central.

Área de Livre Comércio para as Américas – ALCA (1994)


A ALCA foi uma iniciativa norte-americana lançada em 1994, na
Cúpula de Miami, para a criação da maior Área de Livre Comércio do
planeta (maior até que a União Européia em termos de PIB – cerca de 8

16
Consenso de Washington foi o nome dado para o conjunto de dez regras
estabelecidas em 1989 para promover o ajustamento econômico dos países em
desenvolvimento que passavam por dificuldades. Dentre as principais diretrizes,
figuram a abertura comercial, a privatização das estatais e a desregulamentação
das leis econômicas e trabalhistas. O Consenso de Washington ficou conhecido
como símbolo das medidas neoliberais dos anos 1990.
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trilhões de dólares), e abarcando 34 países (toda a América, com


exceção de Cuba). A principal meta consistia na livre circulação de bens,
serviços e investimentos dentro do grande bloco a partir de 2005.
O processo negociador deu-se através de reuniões ministeriais,
além de reuniões vice-ministeriais mantidas nos interstícios das
reuniões ministeriais. A questão da ALCA teve continuidade com as
Cúpulas das Américas, evento anual - de iniciativa brasileira -que reunia
os presidentes dos países latino-americanos para tratar de temas chave
para a política regional.
As primeiras reuniões ministeriais já definiam as dificuldades que
as relações Brasil-Estados Unidos passariam ao longo da negociação da
ALCA. A princípio, decidiu-se que a integração se daria via blocos
comerciais, como o MERCOSUL, sendo esta uma das principais
bandeiras de Brasil e Argentina nas negociações. Não demorou para que
começassem os atritos entre Brasil e Estados Unidos: enquanto o Brasil
prezava pela manutenção dos blocos econômicos dentro da ALCA, assim
como o prazo largo para as negociações, os Estados Unidos tentavam
apressar as decisões, atraindo cada país individualmente para sua área
de influência.
Já nos primórdios da negociação, o MERCOSUL passou a discutir
conjuntamente o tema a fim de apresentar uma postura única frente
aos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito a evitar a
proposta americana de negociar de imediato o acesso aos mercados,
deixando por último a questão da proteção comercial e das soluções de
controvérsias.
A estratégia traçada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso
para lidar com as negociações da ALCA foi composta de três princípios:
fortalecer a posição brasileira por meio da construção de posições
semelhantes com outros participantes; postergar o início das
negociações; e conduzir simultaneamente as negociações da ALCA e a
liberalização entre MERCOSUL e União Européia, com vistas a aumentar
o poder de barganha brasileiro (BECCARD, 2009).
O Brasil foi seguramente o principal “alvo” dos Estados Unidos em
meio a todo o grupo de países que pertenceriam à ALCA, tendo em vista
que os norte-americanos já tem acesso aos demais mercados com certa
facilidade (SILVA, 2008). No entanto, viu-se ao longo das negociações
que todos os pontos que poderiam interessar ao Brasil na ALCA não
interessavam aos Estados Unidos, e vice-versa. Sendo assim, a ALCA
tornou-se um fórum de discussões que acabou por consolidar a

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condição do Brasil como porta-voz do continente17.


Não cabe aqui explicar todas as consequências que a
implementação da ALCA poderia trazer para os países latino-
americanos, mas basta saber que, em relação tanto ao MERCOSUL,
quanto à Comunidade Andina de Nações (CAN), a ALCA diverge por
serem concepções estratégicas que concorrem entre si: os blocos
econômicos, visando guardar autonomia para as suas regiões, a ALCA,
visando integrar todo o continente, tendo os EUA como centro
hegemônico. Na prática, a concretização da ALCA seria o fim do
MERCOSUL como União Aduaneira, pois seria impossível manter a TEC
em um contexto de livre comércio. Considerando-se a fragilidade do
MERCOSUL, e a crise por que passava na virada do século,
concomitantemente às negociações da ALCA, seria o fim, de fato, do
MERCOSUL.
Como se pode constatar com o tempo, o protagonismo brasileiro
nas negociações da ALCA “encobria uma disputa política que vinha
ocorrendo no contexto hemisférico”. De acordo com SILVA, (2008), o
Brasil já teria uma estratégia direcionada à inserção internacional
através de uma economia forte e com vínculos diversos, o que vinha de
encontro às estratégias norte-americanas. Dentre as ações propostas
pelo Brasil nesse sentido, encontram-se as tentativas de fortalecimento
do MERCOSUL, o interesse em aprofundar a ALCSA, e ainda o
incremento das relações com a União Europeia. Mais adiante,
majoritariamente com o governo de Lula, é possível perceber melhor
tais diretrizes de relações hemisféricas ou Sul-Sul.

Área de Livre Comércio Sul-Americana - ALCSA (1993)


Foi durante a sétima cúpula do Grupo do Rio, em outubro de 1993,
que Itamar Franco, então presidente do Brasil, lançou uma proposta
própria para o estabelecimento de uma Área de Livre Comércio. A
ALCSA serviria para unir os blocos econômicos regionais (MERCOSUL e
Grupo Andino), mais o Chile. Consistindo em uma resposta imediata ao
NAFTA e às intenções norte-americanas de incitar adesões individuais
dos países latino-americanos às suas iniciativas de integração, a ALCSA
foi bem aceita pelos demais países, demonstrando que o Brasil já tinha
17
Apesar de países como Colômbia e Chile (em alguns momentos, também
Argentina) demonstrarem interesse pela ALCA ao longo da negociação, a maioria
dos países sul-americanos, assim como quase a totalidade dos países caribenhos
definiram uma postura crítica frente aos Estados Unidos e à ALCA, tendo o Brasil
como o principal defensor dos blocos comerciais já existentes e da proteção às
economias nacionais.
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voz ativa e poder de influência sobre os vizinhos no início dos anos


1990. Em função do lançamento das negociações para a ALCA, no
entanto, essa iniciativa brasileira foi escanteada. É possível considerar,
no entanto, que a evolução do MERCOSUL supriu a necessidade de um
acordo de livre-comércio para a região, uma vez que foram criados
diversos acordos entre o MERCOSUL e os demais países da região, além
de acordos inter-blocos.
Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de
Comércio dos Povos (2004)
A ALBA-TCP nasceu da cooperação entre Venezuela e Cuba,
assinada em dezembro de 2004 por Hugo Chavez e Fidel Castro. A então
Alternativa Bolivariana para as Américas responde às tentativas de
integração econômica lançadas até então: ao passo que o cerne dos
demais processos mantém-se sobre o aspecto econômico da integração,
a ALBA concentraria os esforços a partir da visão do bem-estar social,
troca e mútuo auxílio econômico. Em 2006, a Bolívia uniu-se à ALBA e
acrescentou ao nome oficial do bloco: Aliança Bolivariana para as
Américas – Tratado de Comércio dos Povos. O bloco, apesar de vigente,
não apresenta significativa evolução econômica, uma vez que seus
países apresentam realidades distintas, além de participarem de
diferentes blocos econômicos. Ademais, a identidade expressamente
esquerdista (com origem no sonho de integração de Bolívar) faz com
que a aceitação e a legitimidade do bloco fiquem sujeitas à dúvidas,
pois depende de governos como o de Hugo Chávez e Evo Moralez, que
são marcados por instabilidades políticas e sociais. No entanto, a ALBA
recebeu novos membros entre 2006 e 2009, elencando nove países ao
todo: Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Dominica, Equador, Antigua e
Barbuda, e São Vicente e Granadinas. O ano de 2009 foi marcado pela
última modificação no nome do bloco, inserindo menção direta aos
“Povos da Nossa América”.
Mais que mudanças em sua nomenclatura, a ALBA-TCP tem
evoluído na questão organizacional-institucional, tentando atender aos
objetivos ousados de seus membros. A cada três meses, os presidentes
se encontram para discutir a evolução do processo e as metas a
alcançar; atualmente, os debates estão voltados para a criação de uma
moeda regional, denominada Sucre.

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OS PASSOS MAIS RECENTES

A América Latina, a partir das anos 2000, foi palco de uma nova
etapa para a integração; desta vez, buscando abranger todos os países
sul-americanos. Para este novo momento, os blocos econômicos
regionais deparam-se com desafios que vão além de suas realidades
regionais. Exemplos de tais desafios são a IIRSA, nascida em 2000, e a
UNASUL, em 2006.

Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-


Americana (IIRSA)
A IIRSA foi concebida no ano de 2000 durante a Reunião dos
Presidentes Sul-Americanos, em Brasília. Seu objetivo é produzir a
integração infraestrutural – com foco em energia, transporte e
comunicações – para promover a competitividade das economias sul-
americanas de forma sustentável. Na prática, a IIRSA recorta o
continente em eixos, tendo em vista o potencial exportador de cada
região. Em outras palavras, é um projeto que visa à conexão dos
principais centros produtivos sul-americanos aos principais portos do
continente, em detrimento da integração das estruturas produtivas
entre os países sul-americanos – que é, este sim, um dos grandes
objetivos do MERCOSUL e da CAN.
A figura a seguir expressa com êxito a natureza da IIRSA no que
tange à criação de vias de escoação facilitadas para os produtos sul-
americanos em direção ao mercado externo. Eduardo Gudynas ainda
esboça o que seria a IIRSA ideal, ou seja, aquela que realmente induziria
a uma integração sul-americana, intensificando as relações produtivas
entre os países sul-americanos.

Fig. 3: Esboços da Integração Sul-Americana

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À esquerda, um esboço do projeto da IIRSA para a integração regional,


visando basicamente ao abastecimento do mercado internacional; à
direita, um esboço das relações que se fazem necessárias para uma
efetiva integração produtiva entre os países sul-americanos, sem deixar
de lado as relações com o mercado externo.Fonte: GUDYNAS, E. El Map
entre la Integración Regional y las zonas de frontera en la nueva
globalización. CLAES – Centro Latino-Americano de Ecología Social.
2007. p.4.18

A IIRSA é uma resposta dos países sul-americanos ao rearranjo da


economia global dos anos de 1990, caracterizada por políticas de ajuste
fiscal e pela ideia da ALCA. Apesar de os novos governos serem
compostos majoritariamente por representações da esquerda, as
políticas neoliberais no âmbito da IIRSA não cessaram, sendo o Brasil
um dos grandes apoiadores e financiadores (através de instrumentos
como o BNDES) das principais obras de infraestrutura na América do
Sul. Na figura abaixo, as principais obras da IIRSA para os anos de 2005-
2010:

Fig.4: Agenda da IIRSA para o período 2005-2010

18
Disponível em: www.integracionsur.com. Último acesso em 28 de junho de 2010.
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Fonte: site oficial da IIRSA <www.iirsa.org>


É importante considerar que a IIRSA encontra-se atualmente em
um estágio diferente daquele que estava em seu nascimento.
Primeiramente, a força da sigla viu-se debilitada em razão das diversas
críticas sociais, ambientais, econômicas e políticas geradas ao longo
destes anos. A sociedade civil tem sido notavelmente excluída do
processo de infraestrutura (MCELHINNY, 2009), assim como os apelos
de ambientalistas, indigenistas e civis têm sido dispensados, quando
não silenciados, pelas entidades governamentais. Em segundo lugar, a
dinâmica dos financiamentos para os projetos determinados pela IIRSA
sofreram grandes modificações nestes dez anos. É possível notar a
gradual diminuição de importância de fontes de financiamento como o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário
Internacional (FMI), concomitante ao ascenso de instituições de
financiamento nacionais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), do Brasil, e o Banco de Desenvolvimento
Econômico e Social (BANDES), da Venezuela. Também os bancos e
fundos regionais e sub-regionais ganharam importância nestes
empreendimentos. Assim, se em seu início, a IIRSA caracterizava um
grupo de países com 80% de todos os empréstimos não liquidados do
FMI (MCELHINNY, 2009, p.51), hoje estes países apresentam suas contas

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mais estáveis, além de contarem com bancos e instituições próprias


para o financiamento de seus investimentos.
As críticas massivas contra a IIRSA conseguiram diminuir a euforia
inicial sobre o planejamento infraestrutural no continente, mas não
puderam conter as numerosas obras de estradas, hidrelétricas e pontes,
muitas vezes cortando territórios indígenas e regiões de florestas nunca
tocadas, em prol do “desenvolvimento regional”.
O governo brasileiro beneficiou-se da IIRSA por dois motivos:
primeiramente, o próprio movimento de grandes obras tornou-se um
nicho propício para a expansão de suas grandes empresas prestadoras
de serviços; em um segundo momento, os resultados alcançados em
conectividades facilitou o acesso de produtos e empresas brasileiras aos
territórios vizinhos, assim como a maior geração de energia em outros
países acelerou estas economias, favorecendo as interações comerciais
com seus vizinhos – principalmente com o Brasil, que é a maior
economia do continente.
De acordo com Gudynas (2009), a IIRSA está perdendo relevância
nas estratégias dos novos governos para a integração sul-americana. A
avaliação do próprio BID (instituição responsável por gerenciar a IIRSA
durante seus 10 primeiros anos) sobre os resultados da IIRSA em seus
primeiros 8 anos é negativa, pois não há como afirmar que houve maior
integração no continente a partir das obras já feitas, tampouco que haja
possibilidade de envolver a sociedade civil neste processo, ou ainda que
tenha aumentado a competitividade regional frente aos novos desafios
do comércio internacional.
Se a IIRSA foi a tentativa neoliberal para a integração sul-
americana, presenciamos anos depois uma nova possibilidade: a
UNASUL. A IIRSA segue sendo implementada ao longo de toda a
América do Sul, seja através da continuidade dos seus projetos iniciais,
seja através de novos projetos e acordos incentivados pela ideia da
expansão econômica com vistas ao mercado internacional. Um exemplo
de novos projetos nos moldes neoliberais da IIRSA, temos os grandes
empreendimentos previstos pelo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC I e II), no Brasil, como o aumento de mega-portos e a
construção de super-estradas que cruzam o país.

União das Nações Sul-Americanas – UNASUL


A UNASUL foi criada a partir da união entre os dois grandes blocos
econômicos regionais – CAN e MERCOSUL –, em 2004. Na ocasião, o
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grupo foi chamado de Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA),


nome que foi modificado a pedidos de Hugo Chávez, em um intento de
chamar a atenção para a causa da integração. Soma-se ao grupo o
Chile, a Guiana e o Suriname. Conforme a Declaração de Cuzco, a
intenção é de seguir os moldes da União Europeia para, dentro de
alguns anos, constituir um continente integrado politicamente e, se
possível, com a implementação de uma moeda própria. A intenção foi
aprovada e criou-se a UNASUL em 2008, quando assinou-se o Tratado
Constitutivo.
Dentro destes parâmetros, é possível perceber a UNASUL como
uma iniciativa ousada e sem precedentes no continente. Apesar disso, a
UNASUL ainda possui uma série de de limitações políticas que devem
ser revistas. A integração sul-americana que é buscada com a UNASUL
não condiz com os interesses norte-americanos no continente; sendo
assim, há um movimento de escolha, em que os países acabam por
eleger suas “preferências”, optando por relações bilaterais mais
intensas com os Estados Unidos, ou pela adoção de políticas
integracionistas multilaterais, aos moldes da UNASUL.
A UNASUL conta com uma estrutura que visa à rotação de
poderes, permitindo que cada país presida a União ao longo de um ano.
A primeira presidência foi do Peru (2004), seguida pelo Brasil (2005) e
Bolívia (2006).
O andamento da União é lento e silencioso e pouco se encontra na
mídia sobre os atuais desdobramentos, As decisões concretas são
escassas, e a ênfase das relações sul-americanas, principalmente nas
áreas estratégicas de energia e transporte, tem encontrado maior
respaldo nas vias bilaterais, ou através dos blocos regionais (CAN e
MERCOSUL).
Apesar desta lentidão, apontamos a criação do Conselho de
Defesa Sul-Americano como um grande avanço na integração
estratégica através da UNASUL. O Conselho visa à coordenação das
políticas para a defesa no continente, além da análise conjunto do
cenário de defesa internacional e da cooperação militar em missões de
paz. A ideia proposta pelo governo brasileiro não surgiu livre de
obstáculos: países como o Equador e a Colômbia, os quais mantêm
relações estreitas19 de cunho militar com os Estados Unidos,
19
Foi assinado um acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos em outubro de
2009, em razão do intenso narcotráfico na região; também as bases norte-
americanas também têm-se multiplicado na América do Sul, em razão de uma forte
política norte-americana para a militarização das Américas. O Plano Colômbia e o
Plan Puebla Panamá são os principais nomes para as políticas norte-americanas de
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demonstraram dúvidas em aderir à proposta.


O Brasil, os Estados Unidos e o continente americano
A relação dos Estados Unidos com a América Latina vêm desde o
fim da hegemonia britânica no globo, marcada pelo fim da I Guerra
Mundial. Desde então, os países latino-americanos experimentam um
alinhamento que às vezes é automático e visível e, outras vezes, é
camuflado por barganhas políticas e pinceladas de autonomia. É
inegável, no entanto, que a hegemonia norte-americana foi
predominante em todo o continente ao longo de toda o período da
Guerra Fria, e também no imediato pós-Guerra Fria. Neste ínterim,
nunca houve uma real disputa pela hegemonia sobre os Estados latino-
americanos.
O pós-Guerra Fria, no entanto, vem produzindo alterações na
estrutura do poder mundial que são perceptíveis. Do lado dos Estados
Unidos, temos a desestabilização do seu poder político, com os
atentados de 11 de setembro de 2001, e os problemas econômicos
advindos da crise de 2008. Do lado dos Estados Latino Americanos,
temos a atuação de forças políticas nacionalistas e desenvolvimentistas
que conflita com a posição hegemônica norte-americana. Segundo Fiori
(In DEP, 2009, p.39),

“está chegando ao fim a longa ‘adolescência assistida’ da


América do Sul, mas o preço dessa mudança no médio prazo
deve ser o aumento dos conflitos dentro da própria região e o
aumento da competição hegemônica entre o Brasil e os Estados
Unidos pela supremacia na América do Sul”.

Apesar da existência da já conhecida estratégia brasileira de


expandir-se economicamente e políticamente sobre o continente sul-
americano, há de se considerar o processo de realinhamento da
estratégica internacional norte-americana a partir de 2008, com a
subida ao governo do Presidente Barack Obama. Torna-se clara a ação
norte-americana sobre o continente através de suas críticas diretas aos
chamados populistas latino-americanos, retomando a necessidade da
democracia em seu sentido pleno. Os Estados Unidos não abrirão mão
da hegemonia até então intocada sobre o continente, mas precisarão
recorrer ao diálogo com as novas forças em jogo, advindas do próprio
continente. Seguindo as premissas criadas por Kissinger (In FIORI, In.
DEP 2009, p.44),

cunho militar no continente.


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“a América do Sul segue sendo essencial para os interesses


americanos e deve ser mantida sob a hegemonia dos Estados
Unidos. Só que hoje a ameaça a essa hegemonia já não vem da
Alemanha nem da União Soviética, vem de dentro do próprio
continente. No plano econômico, a ameaça vem dos projetos de
integração regional que excluam ou se oponham à ALCA, e no
plano político, dos populismos e nacionalismos que estão
renascendo no continente.”

Trazendo esta afirmação para os recentes acontecimentos, temos


que a criação da UNASUL e as tentativas para o fortalecimento dos
blocos regionais vão de encontro à estratégia norte-americana, pois
visam ao fortalecimento regional interdependente entre os Estados sul-
americanos, mas cada vez mais independentes das grandes
economias,. Importante atentar para o fato de que, já na citação de
Kissinger, as políticas norte-americanas se referem à América do Sul, e
não à América Latina como um todo, pois já há o entendimento de que
o “perigo” para a hegemonia norte-americana na região vem do Brasil,
o qual prega uma integração limitada ao nível sul-americano.
Conclui-se, portanto, que as relações internacionais no continente
sul-americano dependerão, nos próximos anos, dos êxitos alcançados
pelas tentativas de integração das nações, considerando a
preponderância brasileira nas iniciativas políticas e no jogo de poder, da
dinâmica com os Estados Unidos, que segue como potência
hegemônica e maior influência sobre a região, e ainda da maturidade
dos governos sul-americanos em coordenar suas políticas e economias
no sentido de um crescimento conjunto.

LEITURAS COMPLEMENTARES20
Leitura obrigatória
FARIA, Luiz Augusto Estrella. La Política Exterior de Brasil: ¿dónde
queda el sur?
<http://www.integracionsur.com/actividades/FariaDondeQuedaSur.pdf>
FARIA, Luiz Augusto Estrella. Integração Regional e Desenvolvimento no
Cone Sul. Ensaios FEE, Porto Alegre, v.20, n.2, p-129-158. 1999.
<http://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/1953/>
VIZENTINI, Paulo Fagundes. A ALCA e seu sentido estratégico: desafio ao
Brasil e ao MERCOSUL. Indic. Econ. FEE, v.29, n.3, 2001. p.127-146.
20
Disponível no site do Projeto “Relações Internacionais para Professores”:
http://www.cursoripe.blogspot.com/.
26
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
INTEGRAÇÃO REGIONAL NA AMÉRICA LATINA E A NOVA DINÂMICA DAS RELAÇÕES

COM OS ESTADOS UNIDOS

Leitura complementar
FARIA, Luiz Augusto Estrella. As negociações comerciais do Brasil:
arenas, agendas e interesses. Indic. Econ. FEE, Porto Aegre, v.33, n.3.
p.7-14. 2005.
<www.fee.tche.br/sitefee/download/indicadores/rie3303.pdf>
SILVA, André Luiz Reis da. A américa do sul na política externa do
governo fernando henrique cardoso: um legado para o governo lula?
NERINT, 2009. Disponível em:
http://www6.ufrgs.br/nerint/folder/artigos/artigo3169.pdf

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. O movimento para a integração latino-americana seria, de fato,


latino-americano?

2. Assistencialismo ou cooperação? Qual o papel do Brasil na


integração latino-americana?

3. A ALCA foi negociada por mais de 10 anos, e não se concretizou.


Por que houve críticas tão ferrenhas? O Brasil teria algo a ganhar
com a ALCA?

4. O MERCOSUL está vivo? Qual sua importância para o Brasil? Qual


sua importância para os demais membros (Argentina, Paraguai,
Uruguai)?

5. A IIRSA, apesar de haver sido implementada por governos


majoritariamente esquerdistas, apresenta características
marcadamente neoliberais. Para você, para que e para quem
serve a IIRSA?

LINKS ÚTEIS

1)Site Oficial do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL


http://www.mercosur.org.uy/show?contentid=10&channel=secretaria
2)Portal da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe –
CEPAL
http://www.cepal.org/default.asp?idioma=PR
3)Site da Associação Latino-Americana de Integração – ALADI
http://www.aladi.org/nsfweb/sitioport/
4)Site do Instituto para a Integração da América Latina e do Caribe –
INTAL
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Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
INTEGRAÇÃO REGIONAL NA AMÉRICA LATINA E A NOVA DINÂMICA DAS RELAÇÕES

COM OS ESTADOS UNIDOS

http://www.iadb.org/intal/index.asp?idioma=POR
5)Site da Iniciativa para a Infraestrutura Regional da América do Sul –
IIRSA
http://www.iirsa.org/index_POR.asp?CodIdioma=POR
6)Site do Centro Latino-americano de Ecologia Social – CLAES
http://www.integracionsur.com
7)Site da CLAES para a União de Nações Sul-Americanas – UNASUL
http://www.uniondenacionessuramericanas.com/
8) Observatório Político Sul-Americano – OPSA
http://observatorio.iuperj.br

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Celso (2009). A integração Sul-Americana. DEP: Diplomacia,
Estratégia e Política. n.10. pg. 6-27. Brasília, Projeto Raúl Prebisch.
BECARD, Danielly Silva Ramos. Relações Exteriores do Brasil
Contemporâneo. Ed. Vozes. Porto Alegre, 2009.
CERVO, Amado Luiz. Política exterior e relações internacionais do Brasil:
enfoque paradigmático. Rev. bras. polít. int., Brasília, v.46, n.2, dez.
2003 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0034-
73292003000200001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 13.jun.2010.
CERVO, Amado Luiz. Relações internacionais da América Latina:
velhos e novos paradigmas. Brasília: IBRI, 2001.
FARIA, Luiz Augusto Estrella. A Chave do Tamanho:
desenvolvimento econômico e perspectivas do MERCOSUL.
Editora da UFRGS. Porto Alegre, 2004.
FARIA, Luiz Augusto Estrella. A Nova Política Exterior do Brasil. Nueva
Sociedad (especial em português). Disponível em:
<www.nuso.org/upload/portugues/2009/4Faria.pdf> dez.2009. Acesso
em: 13.jun.2010.
FIORI, José Luís. (2009). Estados Unidos, América do Sul e Brasil: seis
tópicos para uma discussão. In. DEP: Diplomacia, Estratégia e
Política. n.9. pg. 35-44. Brasília, Projeto Raúl Prebisch.
SILVA, André Luiz Reis da. Do otimismo liberal à globalização
assimétrica: A política Externa do Governo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002). Ed. ABDR. Porto Alegre, 2008.

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Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
INTEGRAÇÃO REGIONAL NA AMÉRICA LATINA E A NOVA DINÂMICA DAS RELAÇÕES

COM OS ESTADOS UNIDOS

McELHINNY, Vince. A IIRSA em uma encruzilhada: indicativos de


mudança e implicações para o advocacy. In: Financiamento e
Megaprojetos: uma interpretação da dinâmica regional sul-americana.
INESC, Brasília, 2008. p.49-78.
GUDYNAS, Eduardo. As instituições financeiras e a integração na
América do Sul. In: Financiamento e Megaprojetos: uma interpretação
da dinâmica regional sul-americana. INESC, Brasília, 2008. p.21-47.

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