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ARTIGO ARTICLE S69

Avaliação do Programa Saúde da Família em


municípios do Nordeste brasileiro:
velhos e novos desafios

An assessment of the Family Health Program


in municipalities of Northeast Brazil:
old and new challenges

Paulo de Medeiros Rocha 1


Alice da Costa Uchoa 1
Nadja de Sá Pinto Dantas Rocha 1
Elizabethe Cristina Fagundes de Souza 1
Marconi de Lima Rocha 1,2
Themis Xavier de Albuquerque Pinheiro 1,3

Abstract Introdução

1 Núcleo de Estudos em
This article presents part of the results from the O Sistema Único de Saúde (SUS) vem ampliando
Saúde Coletiva, Universidade
Federal do Rio Grande do
Baseline Studies, an evaluative research conduct- as responsabilidades municipais na garantia de
Norte, Natal, Brasil. ed in 21 municipalities with more than 100,000 acesso aos serviços de saúde com base na sua
2 Instituto Nacional do
inhabitants each, in three States of Northeast descentralização (regionalização) e reorganiza-
Seguro Social, Natal, Brasil.
3 Fundação Nacional de Brazil. The overall objective was to assess experi- ção funcional. Neste contexto, desde sua cria-
Saúde, Natal, Brasil. ences in the implementation of the Family Health ção em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF)
Program (FHP), with a focus on inductions in the possibilitou maior visibilidade às novas formas
Correspondência
P. M. Rocha PROESF. An implementation analysis was per- de se produzir saúde, particularmente, na Aten-
Departamento de Saúde formed, using the case study method. The analy- ção Básica. Nos últimos anos, tem sido conce-
Coletiva, Núcleo de
sis focused on these dimensions: political-institu- bido como estratégia aglutinadora de múltiplas
Estudos em Saúde Coletiva,
Universidade Federal do tional, health organization, and comprehensive iniciativas de mudanças do modelo de atenção
Rio Grande do Norte. care. Outstanding advances included: prioritize em saúde. O recente pacto pela saúde 1, com
Rua General Gustavo
the FHP in high-risk areas; institutional learn- novas diretrizes para as políticas de saúde bra-
Cordeiro de Farias s/n, Natal,
RN 59012-570, Brasil. ing, with qualification of managers and teams; sileiras, reafirma a centralidade da estratégia na
paulorocha@digi.com.br definition of institutional levels for regulating reorganização da Atenção Básica para a consoli-
nesc@nesc.ufrn.br
the FHP; and health team-user bonds and posi- dação do SUS.
tive perceptions concerning the program. Chal- A substituição do modelo tradicional pelo
lenges included: strengthening of local policy and PSF, com enfoque na integralidade do sistema e
decision-making capacity; allocation of primary práticas de saúde, implica custos e o enfretamen-
care resources; greater employment security for to de um conjunto de mudanças quantitativas e
human resources; effective implementation of the qualitativas marcadas pela tendência de extensão
health care network; strengthening of social par- das equipes aos grandes centros urbanos e des-
ticipation; upgrading of monitoring and evalu- centralização de responsabilidades com a média
ation for decision-making; receptivity; waiting e alta complexidade com vistas à integralidade
lines for tests, appointments, and hospital ad- do sistema e das práticas de atenção à saúde.
missions; implementation of teamwork; health Segundo Teixeira 2, numa concepção “amplia-
promotion and inter-sector activities. da” ou sistêmica, as mudanças do atual “modelo
de atenção” incluem três dimensões: gerencial
Primary Health Care; Family Health Program; ou político-institucional, relativa aos mecanis-
Health Evaluation mos de condução do processo de reorganização

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das ações e serviços; organizativa, que diz res- recendo bem mais os municípios de pequeno e
peito ao estabelecimento das relações entre as médio porte 8.
unidades de prestação de serviços levando em Para organizar, fortalecer a Atenção Básica
conta a hierarquização dos níveis de complexi- pautada na saúde da família em municípios aci-
dade tecnológica do processo de produção do ma de 100 mil habitantes, o Ministério da Saúde,
cuidado; e técnico-assistencial, ou do cuidado, apoiado pelo Banco Mundial (BIRD) propôs o
que diz respeito às relações estabelecidas en- Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde
tre o(s) sujeito(s) das práticas e seus objetos de da Família (PROESF). Além do seu componen-
trabalho, relações estas mediadas pelo saber e te de implementação e melhoria da qualidade
tecnologia que operam no processo de trabalho da assistência à saúde, destaca-se os Estudos de
em saúde, em vários planos (promoção da saúde, Linha de Base (ELB) cujo foco é a avaliação dos
prevenção de riscos e agravos, e recuperação e contextos iniciais (2004) com vistas à avaliação
reabilitação). Nessa perspectiva, a transforma- posterior de impacto (2008) e à institucionaliza-
ção do modelo de atenção para ser concretizada, ção dos processos avaliativos.
exige a conjunção de propostas e estratégias com Bodstein 9 afirma que a importância do for-
atuação sinérgica nas três dimensões. Mudanças talecimento da reorganização da Atenção Básica
parciais, entretanto, podem acontecer em cada para o aprimoramento SUS traz desafios meto-
uma das dimensões assinaladas, constituindo dológicos representados pela necessidade de
processos que podem facilitar transformações avaliação das mudanças provocadas pela dinâ-
mais amplas. mica entre as iniciativas de indução por parte do
Algumas iniciativas tratam de ir além dos as- gestor federal do SUS e a capacidade de resposta
pectos técnicos e organizacionais envolvidos na evidenciada pelos municípios em diferentes con-
prestação de serviços, introduzindo mudanças textos específicos. Uma gama de diferentes au-
na formação e capacitação dos sujeitos das prá- tores nacionais e internacionais 9,10,11,12,13,14,15,16
ticas e nas relações de trabalho. Destacam-se as reafirma a necessidade de avaliação de progra-
experiências que tomam como foco a melhoria mas e políticas públicas bem como de investir na
da qualidade e a humanização do atendimen- institucionalização da avaliação.
to que requerem novas concepções de “porta de Nesta direção, o Estudo da Implantação do
entrada” dos serviços, expressas no acolhimento PROESF, realizado pelo Núcleo de Estudos em
e vínculo 3,4,5. Saúde Coletiva (NESC), Universidade Federal do
Muitas destas mudanças estão vinculadas ao Rio Grande do Norte (UFRN), teve como objetivo
PSF, que, embora sob mesma orientação macro- avaliar a Atenção Básica nas dimensões político-
política, vem produzindo experiências qualitati- institucional, atenção à saúde e cuidado, toman-
vamente diferentes 4,6. Ayres 7 considera que os do como objetivo a expansão e consolidação do
vários PSF(s) constituem nova base para articu- PSF.
lações intersetoriais e promovem a entrada de Entende-se que para apreender a dimensão
novos cenários, sujeitos e linguagens da assistên- política de um programa precisa-se articular pro-
cia, assim como a sensibilidade para os distintos jeto e capacidade do governo além de governabi-
aspectos do processo saúde-doença e ênfase à lidade do sistema. O projeto do governo (capital
promoção da saúde. político) é referente ao conteúdo propositivo do
Um dos maiores desafios à elevação mais sig- plano (propostas e ações) para atingir os obje-
nificativa de sua cobertura populacional tanto tivos; a capacidade do governo (capital teórico)
para conversão do modelo está na reorganização refere-se principalmente à experiência acumu-
da Atenção Básica nos grandes centros urbanos lada para conduzir, gerenciar, administrar, exer-
que concentram maior parte da população bra- cer controle do processo, bem como conceber,
sileira e apresentam um quadro de “acumulação executar estratégias e táticas eficazes; a gover-
epidemiológica” com todos os problemas típicos nabilidade relaciona-se à liberdade de ação em
de aglomerados urbanos e doenças da pobreza, situações controladas e não controladas no go-
exclusão social, violência e doenças crônico-de- verno requerendo habilidades de conduzir um
genarativas. processo com definição clara de objetivos que,
Outro aspecto determinante do enfoque é no entanto, poderão ser reformulados ou até
existência prévia de uma grande e complexa re- abandonados a depender dos resultados 17.
de de serviços tradicionais de saúde públicos e A dimensão da organização da atenção téc-
privados que acabam mobilizando grandes volu- nica focaliza sua adequação às necessidades dos
mes de recursos e pressionando a demanda por usuários e a qualidade dos serviços; a dimensão
consumo de tecnologia. Uma dificuldade adicio- organizacional do processo diz respeito à acessi-
nal na vinculação do valor transferido do nível bilidade e à extensão de cobertura dos serviços
central à cobertura do programa que acaba favo- oferecidos, enquanto a dimensão das relações

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AVALIAÇÃO DO PSF NO NORDESTE BRASILEIRO S71

interpessoais observa a interação psicológica e Metodologia


social entre os profissionais e usuários na satisfa-
ção dos mesmos 6. O estudo de implantação faz parte dos estudos
O cuidado é concebido como uma tecnologia de linha de base e foi desenvolvido, no período
de saúde complexa, presente em todos os níveis de março a julho de 2005, em 21 municípios dos
do sistema. É apreendido por seu aspecto rela- Estados da Bahia, Ceará e Sergipe (lote 1 do Nor-
cional, uma interação entre sujeitos (equipe de deste) indicados pelo Ministério da Saúde.
saúde da família/usuários/gestor) no processo Em relação à dinâmica da investigação, ado-
de atenção à saúde seja individualizado, seja na tou-se a perspectiva de avaliação por triangula-
relação com a comunidade. Reflexões sobre aco- ção de métodos 17. Significou integrar a análise
lhimento, vínculo/responsabilização, qualidade das estruturas, processos, percepções de dife-
da atenção e trabalho em equipe traduzem a in- rentes atores e resultados na reorganização da
tegralidade adotada 6. Atenção Básica, com vistas à ampliação e conso-
O acolhimento é compreendido como uma lidação do PSF.
ferramenta que estrutura a relação entre a equipe O primeiro passo foi acordar a escolha dos
e a população e é definido por sua capacidade de indicadores, instrumentos e técnicas entre pes-
solidariedade de uma equipe com as demandas quisadores, municípios e Ministério da Saúde em
do usuário, o que resulta numa relação ética e duas oficinas (nacional e local/regional).
humanizada. Portanto não se limita apenas ao A pesquisa trabalhou as seguintes dimensões:
ato de receber, mas se compõe de uma seqüência político-institucional, organização da atenção
de atos e modos que fazem parte do processo de e cuidado integral. Cada dimensão agrupou di-
trabalho, sendo um momento de escuta e pro- versas sub-dimensões (categorias) e indicadores.
moção do direito à saúde como um direito de ci- As técnicas de pesquisa foram: entrevista semi-
dadania. Nesta linha de argumentação o vínculo estruturada com gestores (secretário de saúde
estabelece condições para uma maior responsa- e coordenadores da Atenção Básica ou do PSF);
bilização e compromisso 3,4,5,6. entrevistas estruturadas (usuários e profissionais
O cuidado também inclui a qualidade da das equipes de saúde da família) e análise do-
atenção e o trabalho em equipe. A primeira re- cumental (PROESF, Relatório de Gestão da Se-
fere-se ao processo saúde-doença, aos cuidados cretaria Municipal de Saúde, Atas do Conselho
técnicos (adequação entre diagnóstico e tera- Municipal de Saúde, entre outros). Utilizou-se a
pêutico); aos fatores sócio-ambientais (fatores triangulação dessas diversas técnicas, fontes e
de risco social, trabalho, família entre outros) e indicadores 21.
psicológicos. É necessário avaliar o acesso aos A amostra dos informantes foi intencional, no
serviços, a disponibilidade da atenção e a capaci- sentido da escolha de atores considerados estra-
dade de resolver ou contribuir para a solução de tégicos na implantação do PSF: gestores, profis-
um amplo leque de problemas, numa perspecti- sionais da equipe de saúde da família e usuários.
va integral da saúde 18. Foram incluídos todos os gestores munici-
O trabalho em equipe consiste numa modali- pais e coordenadores de Atenção Básica/PSF
dade de trabalho coletivo que se configura numa (total de 42 entrevistas). Para os profissionais das
relação de reciprocidade entre as intervenções equipes de saúde da família utilizou-se amos-
técnicas e a interação dos seus agentes 19. tra não probabilística. O primeiro critério de in-
Como esclarece Minayo et al. 20 é indispensá- clusão na amostra foi o tempo de implantação
vel compreender o sentido de mudança, por ser das equipes (antes e pós PROESF) e o segundo
ele o “pano de fundo” e a “imagem-objetivo” da foi referente à localização dessas equipes nas
gestão das políticas sociais no intuito de desvelar unidades de saúde (áreas geográficas – rurais e
cenários para intervenções positivas. Na identifi- urbanas). Do total de equipes incluídas e estra-
cação das mudanças em curso, Bodstein 9 chama tificadas, foi realizada uma segunda delimitação
atenção que mudanças na cultura e no compro- amostral de 10%, utilizando-se o procedimento
misso com a gestão pública são indicadores im- de sorteio. O total de equipes entrevistadas foi
portantes e promovem novas institucionalidades de 89, o que correspondeu ao montante de 407
e maior responsabilidade pública com maior profissionais de saúde.
participação e controle social e co-responsabili- Com relação aos usuários, utilizou-se o cri-
zação da população. tério do número de famílias cobertas pela equi-
O presente texto tem como propósito apre- pes, conforme padrão utilizado pelo Ministério
sentar o desenho metodológico do estudo, dis- da Saúde (até mil por equipe). Observar que nos
cutir seus principais resultados e compartilhar as municípios pesquisados selecionou-se um nú-
lições apreendidas. mero de equipes que redundaria num elevado
número de usuários/famílias a serem entrevis-

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tados. Aplicou-se, então, uma delimitação amos- ção Básica foi a tônica observada no conjunto
tral de 1% que resultou em dez usuários/famílias dos municípios, através das falas dos gestores e
por equipe, extraindo-se assim o universo total documentos institucionais. Esse movimento, na
de 890 usuários. Houve perda de cinco entrevis- agenda política da saúde municipal, foi consi-
tados. Os critérios de inclusão foram: pertencer a derado extremamente reforçado pela indução
famílias com residência em distintas micro-áreas do financiamento do Ministério da Saúde, asso-
(evitando-se o vício amostral de concentração), ciado à exigência ao cumprimento de metas e
cadastro concluído e ser usuário de ações pro- resultados pactuados ente municípios, estados
gramáticas como saúde da mulher, hipertensos, e União.
diabéticos, idosos, entre outros. No entanto, a análise da alocação de recursos
Os dados primários, obtidos nas entrevistas através do Sistema de Informações sobre Orça-
estruturadas e nas observações diretas, foram mento Público em Saúde (SIOPS), demonstrou
codificados, computados no programa Epi Info que ao se combinar gastos públicos per capita
versão 2003 (Centers for Disease Control and Pre- em saúde com o percentual das despesas refe-
vention, Atlanta, Estados Unidos) e distribuídos rentes à Atenção Básica, e recursos próprios do
em freqüências simples, por tipo de informan- município aplicados à saúde (Emenda Constitu-
te, dimensões e categorias, para consolidação cional nº. 29) havia uma correlação entre a in-
e análise dos mesmos. Realizou-se a crítica da tenção explicitada e o financiamento da Atenção
consistência dos dados codificados em relação Básica em apenas cinco municípios. Outra pes-
aos coletados. quisa 17, dentro dos ELB(s), encontrou resultados
Os dados das entrevistas semi-estruturadas, semelhantes, chamando atenção à relevância do
depois de gravados, assim como aqueles resul- indicador financiamento nas análises de susten-
tantes da análise documental, foram transcritos tabilidade, necessárias à conversão do modelo de
e agrupados por categoria e indicadores. atenção integral à saúde.
Para todos os resultados, utilizou-se o méto- Os resultados encontrados apontam a inclu-
do de análise de conteúdo 15 com leitura vertical são dos municípios nos seguintes padrões: avan-
detalhada por dimensão e categorias, e em segui- çado (5); regular (3); e incipiente (13).
da por tipo de informante (gestores, profissionais No que diz respeito à Capacidade de Gover-
e usuários). Logo a seguir, realizou-se uma leitura no, um ponto forte para a consolidação do PSF
horizontal do conjunto dos relatos que permitiu – revelado nos documentos e nas entrevistas
estabelecer relações e correlações entre os distin- (gestores e equipes) – foi a avançada qualificação
tos depoimentos, respostas e opiniões. técnica tanto dos primeiros (capacitação avan-
Após a categorização e análise, ocorreram çada em saúde pública e experiências anteriores
duas oficinas internas entre a equipe multidisci- de gestão) quanto das equipes (treinamentos em
plinar dos pesquisadores com objetivo de elabo- ciclos de vida e atualizações em áreas programá-
rar, por consenso (votação da maioria), padrões ticas da Atenção Básica; treinamentos introdu-
ou estágios evolutivos dos municípios quanto tórios ao PSF, especializações e residências em
ao processo de implantação e consolidação do saúde da família). Evidenciaram-se investimen-
PSF. Tomou-se como referência a Avaliação para tos consideráveis na área de formação (escolas
Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da regional-municipais para formação em saúde
Família 22 e os clássicos estudos de Donabedian pública/família, parcerias com órgãos formado-
23,24. Os padrões corresponderam às descrições res e integração ensino-serviço).
sem utilização de escalas numéricas e ou testes Apesar destes avanços, persistia na área de
estatísticos. Em cada dimensão, escolheram-se recursos humanos, uma gama de questões rela-
dois critérios para definição de estágios avança- cionadas ao mundo do trabalho com destaque
do, regular e incipiente 21. para algum grau de precarização nos contratos
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética (cooperativas, prestação de serviço por tempo
em Pesquisa da UFRN, tendo cumprido todas determinado, cargo comissão, acordo verbal) dos
as exigências estabelecidos pela Resolução nº. profissionais de saúde. Ao se articular as duas
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. questões, formação/capacitação e superação da
precarização, o padrão dos municípios foi: avan-
çado (4); regular (6); e incipiente (11).
Resultados Em referência à governabilidade, a regula-
ção institucional e social (apoio parlamentar,
Dimensão político-institucional conselhos locais e outros mecanismos partici-
pativos) foi valorizada (entrevista dos gestores e
A intenção de ampliar e consolidar o PSF como documentos) em apenas alguns contextos mu-
estratégia prioritária de reorganização da Aten- nicipais. No estadiamento, os municípios foram

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AVALIAÇÃO DO PSF NO NORDESTE BRASILEIRO S73

caracterizados nos seguintes padrões: avançado Quanto à existência de instrumentos de pla-


(4); regular (6); e incipiente (11). nejamento e programação, com uso regular dos
Na prioridade da Atenção Básica levou-se sistemas de informação em saúde e unidades
em consideração o aprendizado institucional, o informatizadas, houve confirmação em quatro
conhecimento sobre os processos de pactuação municípios pela maioria dos profissionais. Pa-
e as mudanças administrativas. No aspecto do ra os gestores e os coordenadores da Atenção
“aprendizado institucional” 25 ou trajetória insti- Básica/PSF, em apenas três municípios, identi-
tucional verificou-se que a grande parte dos mu- ficaram-se o monitoramento e a avaliação co-
nicípios (19) encontrava-se na gestão plena do mo práticas consolidadas. Nos demais, as en-
sistema de saúde. Foram observadas variações trevistas apontaram para processos iniciais de
de tempo nessas habilitações destacando-se, institucionalização, necessidade de suporte e
em quatro municípios, a maior experiência ins- infra-estrutura, falta de definições relativas ao
titucional nessa trajetória, enquanto os demais pessoal e pouca capacitação para análise de
avançaram nessas habilitações somente nos úl- desempenho.
timos três anos. Em nenhum município foram encontradas
Em dezessete municípios cerca de 80% dos unidades de saúde da família com algum meca-
profissionais entrevistados (nível superior e mé- nismo de autonomia financeira como fundo de
dio) desconheciam o que significava o processo caixa para pagamento de pequenas despesas.
de pactuação, seus objetivos, indicadores e me- Em 15 municípios, a autonomia técnico-opera-
tas. Naqueles que referiram conhecê-lo, apenas a cional foi referida pela maioria dos profissionais.
gestão e mais especificamente os coordenadores Contudo, ao se investigar as inovações na gestão
da Atenção Básica e/ou do PSF tinham este tipo municipal com a implantação do PSF foram re-
de conhecimento. latadas experiências singulares em cinco muni-
Quanto à reorganização administrativa das cípios, destacando-se entre outros, o chamado
Secretarias Municipais de Saúde, a análise do- co-gestão de coletivos, baseado no “método da
cumental, as entrevistas (gestores) e observa- roda”, de Campos 26.
ção (unidade e Secretaria Municipal de Saúde) Com referência às práticas de oferta, nos 21
mostraram que a maioria dos municípios (11) municípios, predominaram os critérios de áreas
promoveu algum tipo de mudança na estrutura críticas de risco sócio-epidemiológico e cober-
administrativa com a implantação do PSF. Nes- tura assistencial para a expansão de cobertura
tes, os gestores tinham a concepção de saúde da do PSF. Quanto à cobertura do PSF, em 14 mu-
família como um programa a mais a ser desen- nicípios variaram entre 15% e 70%. Os outros,
volvido junto à Atenção Básica. Houve reformas e entre 70% e 100%. Os municípios de médio porte
melhorias nas unidades com a lógica de “simples tiveram as maiores coberturas, enquanto as me-
expansão de cobertura” ou “porta de entrada” do trópoles tiveram as menores.
sistema local de saúde. Por outro lado, nos outros Na integração do PSF à rede de atenção, cons-
dez municípios ocorreram reformas político- tatou-se na análise documental, a existência de
administrativas substantivas que destacaram a central de exames e de consultas especializadas
equipe de saúde da família no organograma ins- em cerca de 19 municípios. Entretanto, depoi-
titucional, com criação de novos espaços admi- mentos de todos os entrevistados (gestores, pro-
nistrativos, maior poder decisório (autonomia) e fissionais e usuários) no conjunto dos municípios
valorização na estrutura de poder existente. revelaram que, em graus variados, havia dificul-
Considerando os critérios descritos acima, dades de referência e contra-referência.
os municípios foram incluídos nos seguintes pa- Metade dos municípios havia implantado
drões de desenvolvimento: avançado (4); regular o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(12); e incipiente (5). (SAMU) e/ou Central de Urgência e Emergência.
Nos demais, permanecia o atendimento por am-
Dimensão da organização da atenção bulância. Em 15 municípios, os usuários e pro-
fissionais referiram dificuldades ao utilizarem os
Em relação aos mecanismos de participação so- serviços de urgência. Nove informaram possuir
cial, nos Planos Municipais e entrevistas com ges- central de marcação de internação, mas a maio-
tores, sete municípios registraram a existência de ria dos usuários e profissionais entrevistados re-
conselhos locais de saúde em mais de uma uni- feriu dificuldades para acessá-las.
dade de saúde da família. Entretanto, a maioria Em 12 municípios, em pelo menos uma das
dos entrevistados (profissionais e usuários) em 16 equipes de saúde da família identificou-se pre-
municípios afirmou ser pouco freqüente a “reali- sença da equipe de saúde bucal. Ressalta-se que
zação de reuniões com participação da comuni- alguns municípios estavam buscando inserir
dade sobre temas de saúde ou de cidadania”. assistência odontológica em algumas unidades,

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mas ainda não se constituía equipe integrada à na zona rural); excessiva priorização de grupos
equipe de saúde da família. específicos (quase exclusividade dos crônicos);
Na assistência farmacêutica, a observação re- protocolos incipientes; predomínio de práticas
velou que 19 municípios registraram existência curativo-individuais.
de setor formal na Secretaria Municipal de Saú- As dificuldades apareceram como associadas
de. Dentre estes, 15, apresentavam esta atividade a quantitativos altos de atendimento por equipe
na maioria das unidades, contando com espaço (acima de mil famílias); excesso de demanda; so-
físico adequado e técnico responsável. No entan- brecarga de trabalho profissional; limitadas prá-
to, a maioria referiu problemas relevantes de es- ticas de promoção da saúde.
trutura e organização. Apenas cinco municípios No que diz respeito à acessibilidade às con-
produziam ou utilizavam medicamentos ligados sultas na unidade e aos encaminhamentos, os
a práticas naturais e ou complementares. usuários referiram existir grande demanda para
Considerando a sustentabilidade, foram atendimento, com permanência de filas nas pró-
observados três tipos de questão. Um primeiro prias unidades de saúde da família. O tempo de
ponto relacionado ao processo de licitação pa- espera, de um modo geral, variou entre 1 a 7 dias,
ra compras e constituía, na visão dos gestores, sendo que em uma das capitais identificou-se o
importante obstáculo a ser superado, visto que maior tempo de espera, entre 8 e 15 dias. Tal pro-
comprometia a regularidade de estoques das blema torna-se maior em relação a exames labo-
unidades. ratoriais, consultas especializadas e internações.
Um segundo ponto refere-se à estrutura das Com as centrais informatizadas aparecem filas
unidades. A observação mostrou que, em ape- eletrônicas que levam até meses para atender as
nas quatro municípios, as estruturas físicas eram demandas de atendimento.
adequadas, resultados de construção e ou refor- Destacaram-se formas criativas de imple-
mas das unidades dentro dos padrões preconi- mentação do acolhimento com destaque para as
zados pelo Ministério da Saúde. Nos demais, a rodas de conversa (espaços de reuniões coletivas
grande parte das unidades de saúde da família envolvendo profissionais e usuários) e institu-
eram alugadas e com estrutura física inadequada cionalização do monitoramento e avaliação pela
ao trabalho das equipes. gestão municipal.
Os resultados acima foram sistematizados A grande maioria das unidades de saúde da
para classificar os estágios de desenvolvimento família funcionava em dois turnos e não dispu-
da organização da atenção em: avançado (4); re- nham de horário especial (noturno, final de se-
gular (9); e incipiente (8). mana ou feriado). Em um dos municípios ob-
servou-se que algumas unidades de saúde da
Dimensão do cuidado integral família funcionavam até 19 horas. Percebeu-se
certa inflexibilidade no acesso ao atendimen-
O vínculo que expressa as relações de confiança to à clientela quando esta vinculava-se a outra
e de satisfação entre usuários e profissionais foi equipe, denotando insatisfações por parte dos
o critério de maior evidência positiva e identifi- usuários.
cado como consensual em 15 municípios, mes- O trabalho em equipe avançou em três mu-
mo nas áreas com estrutura organizacional in- nicípios em sua organização com a integração
cipiente, como zonas rurais e ou de periferia das e cooperação entre os profissionais, associada à
metrópoles. ocorrência de reuniões coletivas para planeja-
Há reconhecimento das unidades de saúde mento e construção de plano comum de traba-
da família como “porta de entrada, valorização lho. As dificuldades foram visíveis nas atividades
do território, horário integral e atuação do agente de visitas domiciliares e promocionais, especial-
comunitário de saúde”. Sinaliza para mudanças mente, entre os profissionais médicos, quando se
na organização do sistema de saúde e das práti- vêem diante de grande demanda por atendimen-
cas de cuidado, quando comparadas ao modelo to clínico. A sobrecarga de trabalho e a pressão
anterior de atenção, mais tradicionais e curati- por assistência em locais com pouca cobertura e/
vos, de grande custo e que levam à insatisfação ou áreas contíguas foram apontadas como obstá-
dos envolvidos. culo a ser superado na organização do trabalho.
Alguns municípios vêm efetuando práticas Para muitos entrevistados o agendamento de
acolhedoras em consonância com a política de grupos prioritários introduz segmentação com
humanização do SUS. Na maior parte dos mu- repressão de demanda para os não incluídos nos
nicípios, enfrenta questões como falta de estru- agrupamentos. A adoção de protocolos assisten-
turação e pessoal (ambiência e atitude), mais ciais mostrou-se incipiente.
acentuada na zona rural. Foram apontados ain- Quanto ao processo saúde-doença, há re-
da: precariedades nas unidades (notadamente conhecimento entre os atores sobre o valor do

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AVALIAÇÃO DO PSF NO NORDESTE BRASILEIRO S75

PSF no estabelecimento de práticas integrais e na tentativa de conversão de 100% da rede bási-


participativas, e de mudanças no cuidado: visita ca, em direção mais universalista. Esses mesmos
domiciliar; promoção e prevenção; trabalho em municípios são, com uma ou outra variação, os
equipe; ampliação do acesso; vigilância em saú- que também estão experimentando alterações
de; maior informação; vínculo equipe-comuni- mais expressivas na dimensão político-institu-
dade; impacto; qualificação; expansão para áre- cional. Os demais apresentavam uma cobertu-
as rurais; vacinas; valorização do usuário; maior ra populacional em torno de 70% e alguns bem
cobertura; compromisso dos profissionais; ou- abaixo desse percentual, tendo como exemplo
vidoria; busca ativa atuante; visão ampliada de maior as metrópoles. Nestas, a expansão do PSF
saúde; humanização do atendimento; e geração exige, necessariamente, esforços específicos de
de emprego. reorganização da atenção, em virtude da exis-
Dentro das percepções positivas os usuários tência prévia de uma rede de serviços atuando
destacaram: o bom atendimento (trato) da equi- em outra lógica de organização. Além de apre-
pe; a unidade de saúde da família localizar-se sentar níveis de iniqüidade social bem mais
próximo a sua casa; prioridades no atendimento; acentuados.
acesso; disponibilidade de vacina e exames; visi- Um achado bastante expressivo diz respeito
ta domiciliar; trabalho do agente comunitário de às limitações na acessibilidade aos outros níveis
saúde; qualidade; ações educativas, e resolutivi- de atenção dos usuários referenciados a partir
dade, valorizando práticas voltadas ao modelo do nível da Atenção Básica (os denominados
centrado nas ações básicas (cuidados) de enfer- “estrangulamentos assistenciais”). Em todos os
magem e atendimento médico: “antes era pior, municípios pesquisados foram observadas difi-
agora tem mais médico e consulta”. culdades para se conseguir consultas especiali-
Foram identificadas em três municípios ex- zadas, serviços de apoio diagnóstico e terapêu-
periências inovadoras como farmácia viva (fito- tico na média e alta complexidade da atenção.
terapia), caravana do sorriso (atividade educati- Longos tempos de espera, filas (também virtu-
va de prevenção de cárie dentária), academia da ais), demora no recebimento dos exames, entre
cidade (espaço de práticas corporais em praças outros, foram encontrados no conjunto desses
públicas), terapia comunitária (reuniões de pro- municípios como um dos grandes desafios, na
moção da saúde mental envolvendo profissio- busca da integralidade da atenção, com que se
nais e usuários), PSF ampliado (equipe integrada depara a implementação da equipe de saúde da
a especialistas), dentre outras, demonstrando família. Essa situação recebeu fortes críticas dos
maior leque de ações na perspectiva do cuidado profissionais e, principalmente, dos usuários co-
integral. mo os principais prejudicados por esse funcio-
Considerando os aspectos descritos acima, namento do sistema. Apareceu também como
os municípios foram incluídos nos seguintes pa- uma das maiores dificuldades para os gestores
drões de desenvolvimento, segundo os critérios: da saúde. Corroboram esses achados algumas
avançado (3); regular (3); e incipiente (15). pesquisas anteriores 8,25 e investigações atuais
dos ELB 27.
De modo amplo, verificou-se grande hetero-
Discussão geneidade de práticas no cuidado, ora com avan-
ços de integralidade na atenção, com experiên-
Na dimensão político-institucional constatou-se cias inovadoras singulares em alguns municípios,
predomínio de estágios incipientes e regulares ora com a permanência de padrões tradicionais
entre os municípios analisados, notadamente (biomédico, clínico) na maioria dos municípios
nos aspectos do financiamento, da governabili- pesquisados, ou situações também freqüentes
dade e prioridade da Atenção Básica. Por outro de coexistência desses padrões num mesmo mu-
lado, um grupo de municípios (quatro) avança de nicípio. Essa realidade indica o próprio estágio
forma consolidada e simultânea nas várias sub- de desenvolvimento da Estratégia Saúde da Fa-
dimensões analisadas. Revelaram-se, nesses mu- mília: situações mais consolidadas e avançadas
nicípios, resultados importantes na sua trajetória apresentam práticas de cuidado mais integrais,
institucional, com níveis altos de “aprendizado articulando práticas clínicas e promocionais, en-
institucional”, na priorização da Atenção Básica quanto que nos estágios mais incipientes e re-
e financiamento, nas reformas administrativas gulares predominam práticas medicalizantes e
com valorização da equipe de saúde da família e clínico-tradicionais.
nas práticas de governabilidade com maior par- As unidades de saúde da família avançam
ticipação social. no reconhecimento da população/usuários (dos
No que diz respeito às práticas de oferta, par- profissionais e gestores) como “porta de entra-
te importante dos municípios (7) tem avançado da” do sistema municipal de saúde. Tem valor

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especial o trabalho que vem sendo desenvolvido cada município ao mesmo tempo em que iden-
pelos agentes comunitários de saúde assim co- tificou questões em comum além de descortinar
mo o funcionamento das unidades em horário cenários para seu enfrentamento.
integral observado na grande maioria dos muni- Sugerem-se alguns direcionamentos à ação
cípios. Estão adiantados os trabalhos de territo- política com vistas à expansão e consolidação
rialização em todas as unidades de saúde da fa- do PSF: correlação entre o financiamento da
mília, na grande maioria dos municípios, o que Atenção Básica e os recursos aplicados priorita-
tem favorecido o estabelecimento de vínculos riamente na Atenção Básica, investimentos na
equipes/população. Ainda permanecem quan- adequação da estrutura dos serviços, processo
titativos altos de atendimento familiar por equi- de trabalho diversificado levando em conta risco
pes (em alguns municípios bem acima das mil social diferenciado, estímulo à promoção da saú-
famílias preconizadas pelo Ministério da Saúde, de experiências inovadoras de gestão e cuidado,
até março de 2006), trazendo uma sobrecarga de perfis de equipe compatíveis com conceitos am-
trabalho para os profissionais e grandes recla- pliados de saúde.
mações por parte dos usuários. Observou-se uma premência na necessida-
Simultaneamente, aos avanços menciona- de de regulação da referência e contra-referência
dos, permanecem desafios para consolidar a entre os setores públicos, privados e filantrópi-
equipe de saúde da família, nos grandes centros cos; de enfrentamento da desprecarização não
urbanos. Ou seja, soluções têm de ser buscadas de apenas do vínculo, mas, do trabalho; de recortes
forma abrangente para melhoria do atendimen- territoriais que se harmonizem com a construção
to dessas populações, até mesmo nos seus as- de processos identitários.
pectos clínico-tradicionais (contratação de mais Os resultados apontam para construção de
profissionais, suprimento de medicamentos nas uma racionalidade técnica que amplie as contri-
unidades, resolutividade nas consultas/exames, buições das ferramentas epidemiológicas ofere-
entre outros) ao mesmo tempo em que deverão cendo a complementaridade de outros suportes
ser impulsionadas experiências (alguns municí- como as ciências humanas e sociais de modo a
pios já apresentam êxitos) que direcionam a re- abarcar a ampliação da própria ampliação do
organização da Atenção Básica na perspectiva da conceito de saúde.
integralidade e de promoção da saúde. O estudo contribuiu para institucionalização
Nos municípios estudados, percebe-se que, de avaliação na medida em que a construção de
mesmo naqueles que se encontram em estágio padrões avaliativos das diferentes dimensões
mais avançado, permanece o desafio de vir a se abriu possibilidades de reaplicabilidade de me-
constituir enquanto sistema em rede integrada todologias e revisão contínua dos seus resulta-
de serviços para efetivar a integralidade da aten- dos. Neste sentido, favorece processos avaliativos
ção à saúde. Na compreensão de Hartz & Contan- de natureza interna (auto-avaliação) e externa
driopoulos 28 é indispensável buscar uma dupla que subsidiem a gestão nas tomadas de decisão.
leitura do objeto da “rede”, como estrutura orga- Os padrões, apresentados como passíveis de mu-
nizacional, voltada para produção de serviços, danças, podem revelar ganhos e retrocessos e,
e como dinâmica de seus atores em constante assim, reforçar situações desejáveis e correções
renegociação de seus papéis, para obter soluções de rotas na conversão do modelo.
de antigos problemas num contexto de mudan- Por fim, é imperioso que se constituam, mais
ças e compromissos mútuos. e novos processos investigativos que estimem
com mais precisão os impactos do PROESF e en-
volvam atores locais. Estes devem ser voltados
Conclusões para o aprofundamento de questões, problemas,
e singularidades detectadas nessa etapa de mo-
O espaço do estudo da implantação propiciou do a subsidiar a adequação, o redirecionamento,
interação entre os sujeitos pesquisador e pes- a formulação de políticas, planos, programas e
quisados, ou seja, academia e serviços de saúde processos inovadores que viabilizem aos siste-
– favorecendo a democratização desta relação. mas locais de saúde a possibilidade de se torna-
Esta dimensão, mais participativa da avaliação rem mais autônomos, efetivos e equânimes para
com ênfase nos momentos vivenciais dos ato- consolidação do SUS.
res, desvelou a especificidade, singularidades de

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AVALIAÇÃO DO PSF NO NORDESTE BRASILEIRO S77

Resumo Colaboradores

Este artigo apresenta parte dos resultados referentes à P. M. Rocha, A. C. Uchoa, N. S. P. D. Rocha, E. C. F. Souza,
pesquisa avaliativa Estudos de Linha de Base, desen- M. L. Rocha e T. X. A. Pinheiro contribuíram para dese-
volvida em 21 municípios com mais de 100 mil habi- nho do estudo, coleta de dados, análise e interpretação
tantes em três estados do Nordeste do Brasil. O obje- dos dados. P. M. Rocha, A. C. Uchoa, N. S. P. D. Rocha, E.
tivo geral foi avaliar experiências de implementação C. F. Souza contribuíram também para a redação final
do Programa Saúde da Família (PSF), com foco nas do texto.
induções do PROESF. Foi realizada Análise de Implan-
tação utilizando-se como método o estudo de caso.
Na análise utilizaram-se as dimensões: político-insti- Agradecimentos
tucional, organização da atenção e cuidado integral.
Como avanços destacam-se: priorização do PSF em Este artigo faz parte de pesquisa financiada pelo
áreas de risco; aprendizado institucional, qualificação Acordo de Empréstimo nº. 7105-BR, firmado entre o
dos gestores e equipes; centrais de regulação, vínculo e governo brasileiro e o Banco Mundial (Projeto de Ex-
percepção positiva sobre PSF. Em relação aos desafios pansão e Consolidação do Saúde da Família – PROESF)
observaram-se: fortalecimento da capacidade formu- e realizada pelo Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva,
ladora local, alocação dos recursos na Atenção Bási- Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NESC/
ca, desprecarização do trabalho, efetivação de rede de UFRN), através do contrato nº. 5003/2004, entre o Mi-
atenção, fortalecimento da participação social, quali- nistério da Saúde e a UFRN. Agradecemos aos pesqui-
ficação do monitoramento e avaliação para tomada sadores locais que participaram da coleta de dados em
de decisão; acolhimento; filas para exames, consultas alguns municípios; aos outros pesquisadores do NESC
e internação; implementação do trabalho em equipe e que contribuíram compartilhando conosco os vários
atividades promocionais e intersetoriais. momentos e estudos da pesquisa: Ana Tânia Lopes
Sampaio, Grácia Maria de Miranda Gondim, Janete Li-
Atenção Primária à Saúde; Programa Saúde da Famí- ma de Castro, Marize Barros de Souza Araújo, Márcia
lia; Avaliação em Saúde Araújo Barreto e Rosana Lúcia Alves de Vilar. A Sônia
Maria Teixeira e Souza e Iranilton Costa pela contri-
buição no apoio administrativo; aos alunos bolsistas
do curso médico da UFRN: João Paulo Fernandes Lira
de Holanda, Manoel Artur Nóbrega da Silva e Ubiratan
Wagner de Sousa.

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