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(1 GUIA DA ALFABETlZAÇÁO
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de que maneira os referenciais teóricos e os tipos de
pesquisa mudam ao longo do tempo. Relacionamos
isso com os movimentos histórico, social, educacio-
nal. Não é apenas um levantamento, é uma análise
sobre a produção do conhecimento sobre alfabeti-
zação ao longo das décadas.
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: ENTREVISTA: MAGDA BECKER SOARES
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De que maneira se daria esse processo na edu- A senhora tem alguma vivência nesse sentido?
(ação fundamental? Tenho feito essa experiência em Lagoa Santa
Aí há uma divisão grande em relação àqueles que (MG), onde oriento a alfabetização, e estamos co-
acham que não se deve alfabetizar na educação infantil meçando na creche. A criança de 2, 3 anos já está
- tem um grupo que fala até que devemos ter "letra- com livrinho na mão, já está vendo o próprio nome
rnento sem letras': Ou seja, significa que é proibido escrito em vários lugares. Já está com o lápis na mão.
trabalhar com a aprendizagem da língua escrita na a
tentando rabiscar. É frequente criança chegar aos
educação infantil. Isso não tem o menor sentido em 5,6 anos já praticamente alfabetizada, se a educação
nenhum país do mundo, pelo menos os países avan- infantil cria condições para isso. Caso contrário,
çados na área de educação. E, para nós, isso só tem essa pretensão de que a criança se alfabetize até os
funcionado nas escolas públicas, porque as escolas 8 anos é impossívei. bois anos é pouco tempo, é
privadas começam a trabalhar coma língua escritá " . preciso começàr 'antes.
quando as crianças têm 3 ou 4 anos. A criança de hoje
tem toda a condição para isso, pois nasce rodeada de
escrita. Mesmo nas camadas populares; a cada lado
que se olhe está a escrita. Toda criança tem cúriosi- ,
dade, quer aprender a ler. Não há sentido em marcar
uma data. Antes era aos 7 anos, agora é aos 6.
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.ENTREVISTA: MAGDA BECKER SOARES
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é dada de forma adequada para que saiba usar a Que aspectos do processo de alfabetização
língua escrita nas suas diferentes variantes; tem ainda necessitam de investimento por parte
de ter formação sociolinguística; psicolinguística; dos professores?
de fonologia - sem o que é impossível entender o Precisam investir em praticamente tudo. Precisa-
processo da criança para relacionar fonemas com mos, com urgência, reformar a formação inicial nos
grafemas; tem de conhecer literatura infantil, que cursos de pedagogia, e promover a atualização dos
é com o que se deve trabalhar para que a Criança professores em exercício. São duas ações enormes e
aprenda a língua escrita; gêneros textuais, teorias difíceis de serem feítas.Comrelaçâo à primeira, de
da leitura e diferentes estratégias exigidas por di- alterar a formação, isso vem sendo examinado pelo
ferentes gêneros textuais. Só isso mostra que não Conselho Técnico-Científico da Educação Básica da
é possível colocar essa formação, que é essencial Capes, onde a discussão sobrea mudança dos cur-
para trabalhar com o ensino da língua escrita, ao sos de pedagogia é recorrente. Mas a resistência é
lado de ciências, que exigirá conteúdos específicos muito grande, por parte das várias associações, dos
semelhantes. Ou seja, o professor teria de conhe- próprios cursos. Quanto à atualização para suprir
cer ciências, conceitos científicos, os processos de as deficiências da formação .recebidana graduação,
pensamento científico ete. E issos~ repete para vem sendo encarada deurna forma não muito ade-
geografia, história, matemática. quada. Apesar dealgunsprogramas oficiais.xomo
o Pró- Letramento, d0IvfEÇ~ as ações. são pontuais.
Faz-se com algumas professoras, de forma esparsa .
.Essas professoras se atualizam, masindividualmente,
quando o que precisamos é de uma atualização mais
ampla. Seria um trabalho mais articulado de 'atua-
lização de uma rede. Não é trabalho em rede, com •
universidades, municípios e estados; mas sim um
trabalho de rede, com oconjunto dás escolas de um
município, para que todas se atualizem e não haja
Deveríamos ter uma graduação específica para desperdício de recursos 'sem mudança efetiva.
o professor alfabetizador? . . .
Defendo isso. Ou que, se essa formação esti- A universalizaçã.o 'do -ensinofundamen-
vesse na pedagogia, que se fizesse um processo de tal, que trouxe para ae~cól~ muitos alunos
especialização.xorno uma residência médica. Os de ambientes não letrados.vafetou a prática
médicos estudam seis anos e depois têm de f~ze~ dos alfabetizadores? .; '. .
.uma residência ou mais para se especializar numa . A língua escrita está. amarrada na oralidade, pois .
determinada área. A professora pode entender de é a representação da língua falada. São correspon-
outras coisas, mas tem de ter uma especialização em dências entre fonemas e grafemas,' algumas vezes
determinada área. O argumento de que a criança arbitrárias, e há semelhanças e diferenças entre os
precisa ter uma referência, uma professora só, é do gêneros falados e orais. Isso é diferente em grupos
tempo que se pensava que professora era tia. Hoje sociais diferentes. Os nossos problemas se agrava-
em dia, as crianças convivem com uma multidão ram quando as camadas populares conquistaram o
de pessoas fora da escola. As famílias hoje têm uma direito à escola. Nesse momento, a clientela mudou, S .~~
estrutura completamente diferente, convivem com com um alunado bem diferente daquele que está na
tios, avós, madrasta, padrasto. Por que na escola cabeça de quem forma os professores. Na cabeça dos
teria de ser só urna pessoa? E ainda por cima tendo formadores de professores ainda está o aluno da-
de dar conta de conteúdos os mais diversos numa quela escola que servia à burguesia. A sociolinguís-
faixa etária - e isso é fundamental - em que é pre- tica, por exemplo, é fundamental. A criança que fala
ciso dominar muito bem o conteúdo, pois tem de um dialeto popular, terá uma transferência da língua
simplificar sem falsificar. E só faz isso quem tem oral para a escrita, em termos de representação, com
um domínio muito grande do conhecimento de peculiaridades. Afinal, o dialeto dela é um, e a língua
determinada área. escrita é outra. Além disso, há a própria convivên-
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cia com a língua escrita. Na periferia, a criança tem Qual a sua impressão sobre a Provinha Brasil?
contato com as promoções escritas no tabuleiro do Tenho grande entusiasmo pela Provinha Brasil.
bar da esquina, os rótulos de produtos, os jornais Onde tenho visto ser usada, como; por exemplo, em
populares. Ou seja, convive com a escrita, só que não Lagoa Santa, município em que venho trabalhando,
aquela que a escola quer desenvolver. Há um salto tem ajudado muito. Embora também façamos diag-
a ser feito aLÉ bastante comum que as crianças, ao nósticos da própria rede, importantes porque sabe-
chegar à ~scola: tenham pela primeira vez a chance mos o que estamosperseguindó.esseolhar externo
de escolher um livro. A professora tem de estar pre- é vital. Aliás, não só a Provinha Brasil, mas qualquer
parada para trabalhar com essas dúlrentes subcultu- avaliação externa seria importante se tivesse a ca-
ras, que lidam com outros materiais escritos. racterística que a Provinha Brasil tem.
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